terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Domingo,01/03/2020

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QUEM ESTÁ E ANDA COM O SENHOR É TENTADO
I DOMINGO DA QUARESMA Ano A

I Leitura: Gn 2,7-9; 3,1-7
7O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. 9E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 3,1A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’” 2E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim nós podemos comer. 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele, nem sequer o toqueis, do contrário, morrereis’”. 4A serpente disse à mulher: “Não, vós não morrereis. 5Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”. 6A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar o conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. 7Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira.

II Leitura: Rm 5,12.17-19
Irmãos: 12 Consideremos o seguinte: O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram...17 Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. 18 Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. 19 Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.

Evangelho: Mt 4,1-11
Naquele tempo, 1o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. 3Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” 4Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. 5Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, 6e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. 7Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’” 8Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, 9e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. 10Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto’”. 11Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.
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Neste Primeiro Domingo da Quaresma, a Igreja nos apresenta duas grandes figuras que centram toda a história humana: Adão e Jesus Cristo. Adão é o primeiro homem no plano do tempo, inclusive na realidade tanto para o varão como para a mulher. Jesus é o Filho de Deus em forma de homem varão, se associa também a sua missão uma mulher, Maria de Nazaré, Sua mãe.

Adão Na Encruzilhada

Nas leituras de hoje aparecem enfrentados e, ao mesmo tempo, relacionados entre si estes dois “homens” (Adão e Jesus). Na Primeira Leitura, o primeiro homem, Adão, é tentado, posto na encruzilhada de dois caminhos diferentes e opostos, que hoje poderíamos denominar como o princípio do prazer e o princípio do dever. Todavia, significam algo mais profundo: se o homem conhecesse e reconhecesse que não vem de si mesmo, e sim que é “doado”, agraciado, que vem de Alguém, ele escolheria os caminhos de Deus de Quem o criou.

Portanto, se o homem/se você vem de Alguém (Deus o criou) a questão fundamental de sua existência é esta: você tem total e absoluta confiança nos caminhos de Deus que o criou? Você se deixará guiar e conduzir por Ele? Você se jogará nos braços de Deus com confiança amorosa e abandono filial? Mas Adão, o homem e a mulher, não confia em Deus; eles duvidam e desconfiam de Seus projetos e caminhos; eles se decidem por conta própria. Perdida a comunhão com Deus e abandonados os caminhos de Deus, os únicos onde o homem poderia encontrar a vida, a alegria e a paz, o homem perdido encontra apenas caminhos de amargura, dor e morte.

Na Segunda Leitura (Rm 5,12.17-19), São Paulo constata esta triste experiência e esta herança de desgraça que os primeiros pais nos deixaram: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram...”. Todos nós caímos, tropeçamos, cedemos diante do princípio do prazer, diante do orgulho e da autossuficiência. Desde que existimos, temos a tendência de nos rebelar, de querer ser independente, de nos afastar de Deus e de Seus caminhos.

Jesus Na Encruzilhada

Jesus também está na encruzilhada entre seguir a vontade própria e obedecer à vontade de Deus. A mesma leitura de São Paulo (Segunda Leitura) e o Evangelho de são Mateus nos apresentam a figura do Homem Novo, do Novo Adão, Jesus de Nazaré. Ele é posto também na encruzilhada entre dois caminhos. Ele é o Filho de Deus; Ele é o Messias. Ele não saberia encontrar seus caminhos, e escolher esses caminhos por conta própria? E ele não teria o direito, na terra, para o sucesso, a honra, o poder e a riqueza?

E, no entanto, se o Pai permitiu que, no jogo das circunstâncias da história, Jesus há que escolher o caminho não apenas da humildade, mas também da humilhação; não apenas de esforço, mas da dor; não apenas a inevitável ambiguidade da encarnação, onde o divino deve se expressar nos limites do humano, mas o óbvio escândalo do fracasso; não apenas da responsabilidade e autonomia da condição humana, mas do abandono nos braços da morte, então Ele aceita com confiança e com amor o desígnio do Pai, o caminho do Pai, de Belém ao Calvário, e sempre diz ao tentador, seja para Satanás ou seja para Pedro: "Afaste-se de mim!". Ao longo de sua vida  diz ao Pai, e mais especialmente nos momentos cruciais como nas tentações do deserto, do Getsêmani ou da Cruz: "Pai, em tuas mãos encomendo meu espírito, minha vida, meu trabalho, minha esperança. Quero que meus caminhos sejam seus caminhos".

Quaresma: Renovação Batismal

Graças a essa entrega de Jesus aos caminhos de seu Pai, Jesus triunfou da morte e nos deu a vida, essa vida e esse triunfo que a Igreja nos aplica em sua pregação, sua oração, seus sacramentos, suas atenções ou cuidados pastorais.

Se no nascimento, como filhos de homens, fomos inseridos no velho Adão, o tronco do pecado e da morte, pelo batismo, fomos inseridos no novo Adão, para sermos filhos no Filho: filhos de Deus. A Igreja nos convida a nos preparar para renovar nosso batismo na próxima Páscoa, meta principal da Quaresma.

A quaresma é tempo de conversão, de renovação e de aprofundamento de nossa vida cristã. Tempo de intensificar nossa oração e de revisar nossos caminhos, para adaptá-los cada vez mais aos caminhos de Deus, ao seguimento de Jesus Cristo.

Em cada Eucaristia, o Senhor renova sua Aliança: uma Aliança Nova e Eterna. Jesus Cristo sempre foi fiel, tanto ao Pai como a nós, para nos salvar. Renovemos também neste tempo nossa entrega ao Pai, com Cristo e com a comunidade. Por meio da comunhão na Eucaristia, deixemo-nos penetrar e plenificar de Sua Presença, para que, com seu amor e com sua força, com sua sabedoria e com sua companhia, possamos caminhar pelos caminhos do Senhor.

Estendamos nossa reflexão a partir do texto do Evangelho deste Primeiro Domingo da Quaresma que fala das tentações de Jesus!

O Evangelho deste primeiro domingo da quaresma fala das tentações de Jesus. Toda a vida de Jesus foi uma luta formidável, uma tomada de posição decidida, no grande combate contra o adversário (o número “três” nas suas tentações indica o completo e o definitivo. A tríplice negação de Pedro significa, por exemplo, sua renúncia total a ser discípulo, cf. Mc 14,30).
         
O trabalho do Tentador às vezes é discreto, mas nenhum campo lhe escapa. A tentação sempre começa com uma falsa ideia de Deus que entra na mente do homem. O homem quer substituir o lugar de Deus na sua vida. Quando o homem se esquece que é uma criatura e quer se tornar como Deus, então, ele se destrói porque não sabe fazer as escolhas certas e ele se deixa guiar pelas suas paixões: pelo orgulho/arrogância, pela ira, pela inveja, pela luxúria e consequência disto, ele acaba chamando bem o que é mal e achando o amargo é doce e o que é doce é amargo. Esta tentação de se tornar independente de Deus é representada pela serpente (na primeira leitura). Serpente não faz barulho, ninguém a percebe, mas é muito perigosa porque provoca a morte.           

As tentações são pecado, não quando as sentimos (Jesus as sentiu também), mas somente quando voluntariamente as consentimos. As tentações só podem estimular a pecar, mas nunca obriga nossa vontade. Como dizia Santo Agostinho: “As tentações são como o cão acorrentado que pode latir muito, mas não morde ninguém”. Ele morde quem fica perto dele. Nenhuma força interna ou externa pode obrigar o homem a pecar.          

As consequências de substituir lugar de Deus são trágicas na vida do homem. Quando abre os olhos, o homem percebe que o recusar-se a depender de Deus o conduz muito para baixo, envergonha-se de si mesmo, sente-se nu, um não-homem. Viver nu é a condição dos animais (com muito respeito para o movimento nudista ou naturalista). Quando o homem não respeita o projeto de Deus, quando não respeita a sua lei e quer substitui-la por uma lei moral própria, então tudo fica estragado e desarrumado. Por isso, a negação do absoluto primado de Deus é a raiz profunda de uma cultura incapaz de defender os valores mais substanciais da honestidade e de promover a vida nos lugares onde ela está sendo ameaçada.           

A Bíblia diz que como consequência de tudo isto, o homem recebe a maldição de Deus. Não é que Deus castigue o homem. Deus não faz isto, ele somente salva, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16). Fomos criados para viver com tranquilidade, na intimidade com Deus, cuidando do mundo como se cuida de um jardim. Por isso, não é à toa que, depois de cada obra da criação, o texto bíblico repete como um refrão:” E Deus viu que tudo era bom”. Por isso, quando a Bíblia fala de maldição quer somente alertar a respeito das consequências do pecado. Não é Deus, é próprio homem que, praticando o mal, se castiga e cria sofrimento para si e para os outros: acaba com o seu casamento, com o seu emprego, com suas amizades, destrói a criação e acaba se tornar infeliz. Deus é Pai que quer o nosso bem. Desconfiar do seu amor é o início de nossa infelicidade.           

Ao contrário de Adão, Jesus Cristo reconhece sua própria dependência de Deus, sempre é fiel e obediente ao Pai e se torna Senhor da Vida. Lembre-se que no Batismo uma voz do céu declarou Jesus como Filho amado (Mt 3,17). E Jesus vive a identidade como Filho amado. Certamente as tentações de Jesus, principalmente as duas primeiras, partem da própria identidade de Jesus como Filho de Deus: “Se és Filho de Deus...” (vv.3.6). Pelo fato de ser amado, ele não precisa mais de outra segurança, pois Deus é a sua segurança, sua garantia. E todos os que o seguem e o imitam na obediência à lei de Deus, serão transformados em justos e solidários. Por isso, dentro deste contexto a tentação é um momento de verificação a respeito da solidez de nossa identidade e de nossas escolhas, como aconteceu com Jesus Cristo.          
As tentações de Jesus, que também são nossas, partem frequentemente das necessidades humanas fundamentais, como pão em abundância, o prestígio e o poder e apelam para o uso das capacidades que são também reais. Falemos um pouco de cada uma delas.

Diabo, Satanás, Demônio

Jesus foi levado ao deserto e lá ele é incomodado pelo tentador. O tentador, por excelência, nos é apresentado com vários nomes na Bíblia. Segundo Mateus e Lucas, Jesus foi tentado pelo Diabo (Mt 4,1-11; Lc 4,1-13). A palavra “diabo” vem do grego “diábolos”, uma forma substantiva do verbo “diabállo”, que significa jogar um obstáculo entre duas coisas para provocar a sua divisão. Portanto, Diabo é aquele que provoca divisão e desunião tanto dentro da pessoa como entre as pessoas. Qualquer um de nós pode ser diabo quando provoca a desunião e divisão dentro das pessoas e entre as pessoas.

O evangelista Marcos usa o termo “Satanás” para caracterizar o tentador de Jesus nas suas tentações (Mc 1,12-13). A palavra “satanás” vem do grego “satanás”, que, por sua vez, é uma tradução do hebraico “satan”, que deu o nosso “Satã”. A palavra “Satã” só aparece em três livros do AT: Jó, Zacarias e 1 Crônicas. O verbo hebraico “satan” significa “incomodar”. Como substantivo, “satan” é o nome de tudo aquilo que contraria alguma coisa, e por isso, é traduzido para o português por “adversário”, tanto o adversário geral, como a função jurídica do promotor público no tribunal com seu papel de acusar e contradizer o réu, tentando comprovar a sua culpabilidade (cf. Jó 1-2). Originariamente, “Satanás” ou “Satã” significa “estorvo”, “interferência”, “oposição”. Satã equivale a oponente, “adversário”, “inimigo” no campo de batalha.

“Satanás é, portanto, tudo aquilo que procura incomodar e contrariar uma determinada realidade ou disposição; pode ser uma pessoa adversária ou inimiga, ou uma estrutura, uma instituição etc.... Ao dar ao tentador de Jesus o nome “Satanás”, o evangelista Marcos quer nos dizer que Jesus teve que enfrentar muitos adversários para realizar seu projeto de anunciar e tornar próximo o Reino de Deus, o Reino de amor fraterno, de igualdade, de comunhão fraterna e assim por diante. Que são “Satanás” hoje em dia?

Na Bíblia edição Ave Maria (edição Claretiana 1993- 75ª Edição) usa-se o termo “Demônio” (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). O termo “demônio” aparece 19 vezes no AT em grego das quais nove vezes se encontram no livro de Tobias. No livro de Tobias, trata-se do demônio Asmodeu, que enamorado de Sara, vai matando sucessivamente os sete maridos dela nas sucessivas noites de núpcias. A chegada de Tobias acompanhado pelo anjo Rafael (Deus cura), proporcionará um final feliz.

Em outros seis textos, o termo “demônio” serve para designar os ídolos (Dt 32,17; Sl 96,5; 106,37; Is 65,3.11; Br 4,7; veja também Is 13,21; 34,14; Br 4,35; Sl 91,6). Nenhum desses textos dá margem para pensarmos que nos encontramos diante de um ser pessoal.

Portanto, o demônio, diabo, satanás são figuras míticas que simbolizam a rebeldia do mundo diante de Deus ou os poderes que escravizam o homem. Estas figuras nos servem para dar nome ao mal. Satanás, demônio, diabo não podem servir de desculpa para o mal que nós mesmos perpetramos ou produzimos. Satanás, demônio, diabo não são culpados pelas catástrofes naturais. Eles não servem de bode expiatório para a culpa humana. Quem se se desculpa dizendo que Satanás o tentou está na realidade fazendo uma autoacusação. “Não culpes o demônio por tudo que vai mal. Muitas vezes o homem é seu próprio demônio” (Santo Agostinho: Serm. Frangipane 5,5).

Precisamos Criar Deserto Para Nos Encontrarmos, Para Encontrarmos Deus e o Próximo
         
No deserto, Jesus começou a fazer um jejum de quarenta dias, que recordam a experiência de Moisés (Ex 34,28), a de Elias (2Rs1 19,8) e a marcha heroica, extenuante, do povo de Israel pelo deserto, que foi até o limite das próprias forças. O deserto é o lugar da solidão, da secura, da fome, como também do silêncio e da oração. O deserto também é o lugar das escolhas, porque o homem tem condições ideais para, nele, fazer a si mesmo as perguntas existenciais mais fundamentais e dramáticas. Deserto é o momento para ver o invisível. Somente quem é capaz de perceber o Invisível, pode fazer o impossível, a exemplo de Jesus. É momento para silenciar para começar a escutar com atenção. É o momento de retirar-se para se encontrar, para encontrar Deus e para encontrar o próximo. O momento de deserto me faz desistir das minhas fugas e procurar ser quem sou: meus desejos, minhas reais necessidades, meu caos interior, meus medos, e assim por diante, para saborear a misericórdia de Deus no momento. Deus mora também na nossa ferida. Nossa ferida é também o santuário de Deus. Esta ferida está em cada um de nós.
           
Jesus estava para começar sua vida pública e, aproveitando deste longo retiro no silêncio e na solidão, ele quer decidir-se sobre seu programa: ele não pensa em si, ele não preocupa com o próprio corpo, ele não tirará proveito do seu poder de fazer milagres, como mostram as tentações, mas será o Messias humilde, obediente, que escuta a Palavra de Deus.           

As Três Tentações de Jesus          

A 1ª Tentação: A Do Pão 

O alimento é muito importante, sem pão não se pode viver. Por mais altos que forem os voos do espírito e por mais profundos os mergulhos da mística, o ser humano sempre depende de um pouco de pão, de um copo de água, enfim de uma pequena porção de matéria. Ele é a base de tudo que se pensar, projetar e fizer. O pão sempre faz parte de preocupação de cada pessoa e de cada família. Até o próprio Jesus nos ensina a pedir o pão cotidiano ao Pai Celeste. Nós mesmos, disse Jesus, seremos julgados pelo pão distribuído ou negado a quem tinha fome (Mt 25,31-46).
          
Todavia, a vida do homem não depende somente do pão ou dos bens que possui. Alguém pode ser rico, possuir casas, carros, roupas, mas afinal, se não há a paz na família, se não sabe educar os filhos, se é tão corrupto a ponto de roubar o pão do irmão, beberrão, perguntamos: este conduz a vida realmente feliz? É claro que não.
          
O pão que comemos fruto da exploração do irmão, fruto de corrupção, resultado da desonestidade e da injustiça, fruto da roubalheira não é o pão abençoado por Deus, por isso não vale a pena comê-lo pois não tem nenhum sabor. É pão que apenas nutre mas não alimenta a vida humana que é somente humana enquanto vive na reta ordem da justiça e da fraternidade. O pão injusto não é nosso; ele pertence ao outro. O pão para ser nosso exige que transformemos o mundo e libertemos a sociedade de seus mecanismos de riqueza feita à custa do pão tirado da boca do outro.
           
O pão, por isso, nos convoca para a conversa coletiva e comunitária. Entra aqui a campanha da fraternidade, campanha de ser irmão para os outros que estão passando necessidade. A comunidade tem que unir as forças, pelo menos, para dar um pouco do pão que tem, formando cestas básicas para os irmãos que estão sem trabalho. Ser cristão é ser pessoa que vive em atitude de esmola: ser esmola, ser generoso, ser dom para o próximo, a exemplo de Deus criador e de Jesus Cristo dando sua vida por todos. A oração verdadeira e profunda transforma cada um de nós em pão que é repartido. Feito pão, somos distribuídos não uma vez, mas muitas vezes e sempre de novo.
      
A raiz desta fraternidade (irmandade) é o Pai celeste. A descoberta de Deus como Pai transforma cada um de nós em irmão(ã) e transforma nossa vida em compromisso, ajudando os irmãos que vivem sem pão.
           
A 2ª Tentação: A Do Prestígio

A 2ªtentação não parte mais de uma necessidade biológica, mas do messianismo espetacular: o prestígio. Em relação ao prestígio, não há quem que não goste de ser conhecido, famoso, elogiado e glorificado.   Esta tentação é um esforço de transformar a religião num exibicionismo de “milagres inúteis”. Seria brincar com o poder de Deus, transformando-o em magia teatral, numa espécie de consagração da vitória sem guerra, do triunfo sem luta, de ganhar dinheiro sem estudar e trabalhar, de ganhar diploma sem frequentar nenhuma escola.           

A confiança de Jesus no Pai não depende de “milagres”. Ele não precisa de provas para acreditar que o Pai o ama, porque o próprio Deus chama Jesus de o Filho amado no batismo (Mt 3,17), e que está permanentemente ao seu lado. Por isso, Jesus diz ao diabo: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.          

Tenta Deus hoje em dia quem espera que ele faça aquilo que nos compete fazer, quem se omite e deixa tudo por conta de Deus. Não podemos pedir a Deus que nos livre (na base de milagre) de todas as dificuldades. Temos que pedir-lhe, isto sim, que em qualquer situação, agradável ou triste, nos conceda a luz e a força para sairmos sempre vencedores e mais amadurecidos, mais homens.           

A 3ª Tentação: A Do Poder  

Infelizmente tem sido muito comum em toda a história humana a saber, que a felicidade está mesmo no poder, na glória, nos prazeres e nas riquezas. Jesus recusa a proposta do tentador, pois é contrária ao projeto do Pai. Na sua fidelidade ao Deus – Amor, que não se impõe pela força nem por qualquer tipo de dominação, ele confirma a vocação de serviço. Por isso, é diabólica qualquer forma de autoridade que se traduz em domínio, opressão, imposição das próprias ideias.          

Tanto nossa comunidade, quanto nós pessoalmente sempre estamos sujeitos de escolher o deus poderoso, o deus que concede o domínio sobre os demais, o deus que nos dá muita fama, muitos títulos, muitos que nos beijem a mão, muitos que nos reverenciam. O Pai de Jesus oferece aos seus filhos somente serviço a prestar, com humildade, aos irmãos. Este é o caminho verdadeiramente cristão.          

Jesus venceu as tentações por nós. E logo depois “os anjos o serviram” (v.11). É uma afirmação que enfatiza a plenitude de comunicação entre o céu e a terra, e no centro está a pessoa de Jesus. Ele é servido pelos anjos como aquele que é reconhecido como o Filho amado de Deus. Ele restabelece a harmonia no cosmos e por causa disto os anjos o servem.           

Nesta situação, Jesus é o símbolo de toda pessoa que, depois de ter atravessado as provações fortes, é reconhecida como filho e readquire o domínio sobre si, sobre as forças obscuras da própria psique, sobre as forças destrutivas que se agitam nela, e passa a conviver harmoniosamente com elas, em familiaridade com Deus, com as outras pessoas e com os anjos.
         
Se Jesus, nosso Senhor, venceu as tentações por nós, venceremos também as mesmas se estivermos sempre unidos a Ele. Porque sem ele nada podemos fazer (Jo 15,5). Mas com Cristo não há nada que possa nos separar do seu amor por nós (cf. Rm 8,31-39).       

As tentações nos fazem mais próximos de Jesus. Elas são paradigmáticas para o nosso discernimento e a nossa conduta. Não estamos a sós nas nossas tentações. Se Jesus, nosso Senhor, venceu as tentações por nós, venceremos também as mesmas se estivermos sempre unidos com ele. Porque sem ele nada podemos fazer (Jo 15,5).

Prova-se alguém para se saber se está pronto para praticar o bem... Se estiveres pronto para o bem, há indício de que é grande tua virtude..... Deus prova alguém, não porque se Lhe esteja oculta sua virtude, mas para que todos a conheçam e que sirva de exemplo... Deus tenta incitando ao bem... e prova-se alguém incitando-se ao mal. Quem resistir bem à tentação, a ela não consentindo, dará um bom indício de virtude; se a ela sucumbir, mostra que ainda é fraco” (Sto. Tomás de Aquino: Comentário ao Pai Nosso, “Pater Noster” Expositio).
P. Vitus Gustama,svd

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