terça-feira, 31 de março de 2020

02/04/2020
Yahvéh El Shaddai y las Heridas Ancestrales – David Nesher BlogGênesis 17:3-9 - BíbliaEvangelho de hoje (Jo 8,51-59) - Egídio Serpa | Egídio Serpa ...

A FÉ EM DEUS E NA SUA PALAVRA TORNA NOSSA VIDA FECUNDA  PARA SEMPRE
Quinta-Feira da V Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Gn 17,3-9
Naqueles dias, 3 Abrão prostrou-se com o rosto por terra. 4 E Deus lhe disse: “Eis a minha aliança contigo: tu serás pai de uma multidão de nações. 5 Já não te chamarás Abrão, mas o teu nome será Abraão, porque farei de ti o pai de uma multidão de nações. 6 Farei crescer tua descendência infinitamente. Farei nascer de ti nações, e reis sairão de ti. 7 Estabelecerei minha aliança entre mim e ti e teus descendentes para sempre; uma aliança eterna, para que eu seja teu Deus e o Deus de teus descendentes. 8 A ti e aos teus descendentes darei a terra em que vives como estrangeiro, todo o país de Canaã como propriedade para sempre. E eu serei o Deus dos teus descendentes”. 9 Deus disse a Abraão: “Guarda a minha aliança, tu e a tua descendência para sempre”.


Evangelho: Jo 8,51-59
Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: 51Em verdade, em verdade eu vos digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”. 52Disseram então os judeus: “Agora sabemos que tens um demônio. Abraão morreu e os profetas também, e tu dizes: ‘Se alguém guardar a minha palavra jamais verá a morte’. 53Acaso és maior do que nosso pai Abraão, que morreu, como também os profetas? Quem pretendes ser?” 54Jesus respondeu: “Se me glorifico a mim mesmo, minha glória não vale nada. Quem me glorifica é o meu Pai, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus. 55No entanto, não o conheceis. Mas eu o conheço e, se dissesse que não o conheço, seria um mentiroso, como vós! Mas eu o conheço e guardo a sua palavra. 56Vosso pai Abraão exultou, por ver o meu dia; ele o viu, e alegrou-se”. 57Os judeus disseram-lhe então: “Nem sequer cinquenta anos tens, e viste Abraão!” 58Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão existisse, eu sou”. 59Então eles pegaram em pedras para apedrejar Jesus, mas ele escondeu-se e saiu do Templo.
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Fazer Pacto Eterno Com Deus É Permanecer Na Sua Palavra e Na Sua Promessa


Estabelecerei minha aliança entre mim e ti e teus descendentes para sempre; uma aliança eterna, para que eu seja teu Deus e o Deus de teus descendentes... Guarda a minha aliança, tu e a tua descendência para sempre”.


O texto da Primeira Leitura é tirado do capítulo 17 do livro de Gênesis. Esta capítulo pertence à tradição sacerdotal. Quando tinha 99 anos de idade Deus apareceu a Abraão como “El Sadhai” (Gn 17,1) que os LXX traduzem por “Pantocrator” (todo poderoso) ou a Vulgata por “Onipotente”. Hoje em dia os autores preferem a tradução do “El Shadai” por o “Deus montanhoso” ou o “Deus das montanhas” que justificaria a associação de Javé com o monte Sinai onde Moisés recebeu o decálogo. Este epíteto obedeceria à crença popular de que Deus habitava numa zona montanhosa como o Olimpo dos gregos ou o monte Nisir dos mesopotâmicos.


Depois do anúncio solene em que se declara a divindade, Deus intima Abraão a ser perfeito/íntegro e a caminhar na presença de Deus: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro” (Gn 17,1). Não se determina nenhuma prescrição positiva e sim a intimação de ser reto e íntegro em seus costumes, isento de todo pecado (cf. Gn 6,9). E se anuncia o estabelecimento de uma aliança solene e uma promessa de multiplicar a descendência.


E Deus muda o nome de Abrão em Abraão, dizendo “porque farei de ti o pai de uma multidão de nações”. Aqui o autor faz um jogo de palavra com uma etimologia popular de “Abram”: “Ab” (pai) e “hamon” (multidão). Na realidade, “Abram” significa “pai ama” ou “pai elevado”. Desde agora Abraão é como uma nova pessoa diante de Deus e assim seu nome se muda para simbolizar a paternidade sobre “multidão de povos”. E se estabelece um pacto eterno entre Deus e a patriarca e sua descendência. São Paulo vê o cumprimento desta profecia no “Israel de Deus” que pela fé se incorpora às promessas de Abraão: “É pela fé que alguém se torna herdeiro. Portanto, gratuitamente; e a promessa é assegurada a toda a posteridade de Abraão, não somente aos que procedem da lei, mas também aos que possuem a fé de Abraão, que é pai de todos nós” (Rom 4,16 cf. Rm 9:8).


Farei nascer de ti nações, e reis sairão de ti. Estabelecerei minha aliança entre mim e ti e teus descendentes para sempre; uma aliança eterna, para que eu seja teu Deus e o Deus de teus descendentes. A ti e aos teus descendentes darei a terra em que vives como estrangeiro, todo o país de Canaã como propriedade para sempre”, disse Deus a Abraão.


Esta promessa de Deus para Abraão reflete, na verdade, o sonho do povo, na época, de ter uma vida segura protegida por Deus, de uma terra fértil para a sobrevivência, especialmente para os nômades, de uma família numerosa, pois era sinal da bênção de Deus. Tendo tudo isso, todos enfrentariam os problemas da vida com segurança. Nesta promessa se encontram a presença divina e a esperança humana. Deus e o homem, quando estiverem em sintonia, especialmente da parte do homem, tudo será resolvido apesar dos problemas e obstáculos encontrados na caminhada deste vida.


A Primeira Leitura, portanto, nos apresenta uma aliança perpétua que Deus estabelece com Abraão. Os verdadeiros descendentes de Abraão são aqueles que, pela fé, confiam nas promessas de Deus. A mudança do nome de Abraão indica uma mudança de missão: ele será pai de uma multidão de povos e sua fé será referência constante para seus filhos.


A este homem (Abraão) que estava desejando um filho, desde tanto tempo, Deus anuncia uma fecundidade sobre-humana (sobrenatural). A verdadeira “fecundidade” de Abraão não é sua descendência biológica através de Isaac, seu filho, e sim é sua imensa fecundidade espiritual: Abraão é o “pai dos crentes”, pois ele é o primeiro que acreditou em Deus apesar dos pesares de sua vida. Sua fé em Deus alcançou a maior aventura espiritual de todos os tempos renunciando a apoiar-se em suas próprias luzes e em suas próprias forças para unicamente apoiar-se em Deus. Ele abandona seus pais que é sua segurança humana e renuncia a suas aparentes certezas naturais para confiar-se na Palavra e na Promessa de Deus. É uma verdadeira aventura de fé!


Estabelecerei minha aliança entre mim e ti e teus descendentes para sempre; uma aliança eterna, para que eu seja teu Deus e o Deus de teus descendentes.... E eu serei o Deus dos teus descendentes. Guarda a minha aliança, tu e a tua descendência para sempre”, disse Deus a Abraão. E Jesus dirá no Evangelho: “Em verdade, em verdade eu vos digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”.


Se não quisermos morrer para sempre, temos somente um meio à nossa disposição: aceitar um contrato eterno com Deus, fazer “Aliança com Ele”, permanecer na Palavra de Deus e guardar a Palavra de Deus na vida cotidiana.


Será que apostamos tudo em Deus? Será que confiamos realmente na Palavra de Deus? Será que contamos com Deus nos nossos planos e nas nossas decisões de cada dia?


O texto do evangelho deste dia é a continuação do evangelho do dia anterior. No evangelho de hoje a chave para entender o texto é a vida: os que creem em Jesus, além de ser livres (evangelho do dia anterior), têm vida em plenitude e jamais verão a morte:” Se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte” (Jo 8,51). Quem guarda a Palavra de Jesus com fé e a converte em algo determinante para sua vida, jamais verá a morte. A morte física não interrompe a vida nem é uma experiência de destruição para quem guardar a Palavra de Deus. A vida que Jesus comunica não conhece fim (cf. Jo 3,16; 5,21; 11,25).


Acreditar em Jesus e viver de acordo com sua Palavra significa não parar de existir. Jesus oferece a vida eterna àqueles que escutam e põem em prática sua Palavra, tal como ele a ofereceu a Nicodemos (Jo 3,6); à Samaritana (Jo 4,14); aos judeus de Jerusalém (Jo 5,24); aos galileus (Jo 6,40. 47). Para o evangelista João, manter-se fiel à Palavra de Jesus dá a vida, tal como Jesus recebe a plenitude da vida gloriosa do Pai, porque se mantém obediente e guarda sua Palavra.


O maior exemplo de quem tem a fé inabalável é Abraão como relatou a primeira leitura (Gn 17,3-9): “Eis a minha aliança contigo: tu serás pai de uma multidão de nações... Farei crescer tua descendência infinitamente... Guarda a minha aliança, tu e a tua descendência para sempre”, disse Deus a Abraão. Abraão é o “pai dos crentes”: “Tu serás pai de uma multidão de nações”, pois ele é o primeiro que põe sua fé em Deus mesmo que ele tenha que enfrentar uma situação impossível humanamente, por exemplo: sacrificar o filho único por ordem de Deus embora não chegue a acontecer, pois o próprio Deus intervém (cf. Gn 22,1-18).  Sobre a fé firme de Abraão São Paulo comentou: “Esperando, contra toda a esperança, Abraão teve fé e se tornou pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência... Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4,18.21).


Estabelecerei minha aliança entre mim e ti e teus descendentes para sempre; uma aliança eterna, para que eu seja teu Deus e o Deus de teus descendentes”, acrescentou Deus a Abraão. De outra forma Jesus nos diz: “Em verdade, em verdade eu vos digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”. Trata-se de uma aliança eterna entre Deus e o homem, uma aliança que jamais termina com a morte física. Mas, será que confiamos realmente na Palavra de Deus?


É Preciso Guardar a Palavra Do Senhor Para Viver Uma Vida Eterna


“Em verdade, em verdade eu vos digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”.


Há morte física e há morte que procede da opção pelo pecado. A morte física põe em evidência a debilidade radical da carne e a transitoriedade da vida humana. É a condição biológica de qualquer ser humano neste mundo. Por isso, todos são sujeitos à morte física. Trata-se de um acontecimento normal para quem vive neste mundo mesmo que esta normalidade ainda esteja fora do cálculo da maioria. A morte definitiva (apollymai) a que corresponde ao pecado é oposta à ressurreição, à vida eterna. Para os que participam do pecado do mundo sem se converter, a morte física assinala o fim da sua existência, o fim de sua comunhão plena com Deus. Mas quem possui a vida definitiva, isto é, aquele que guarda a Palavra de Deus passa pela morte física sem ter experiência dela, pois a morte física é superada pela potência da vida que é a ressurreição. Cristo é o fundamento desta vida, pois Ele a tem em plenitude e pode dá-la ao homem que acredita nele. A vida divina trazida por Cristo se manifesta e se comunica através de suas palavras (Jo 6,38.68) e se revela e se transmite através dos “sinais” (em Jo há sete sinais).


O texto do evangelho de hoje termina com as mais escandalosas afirmações que o homem algum jamais pode fazer de si mesmo: “Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão existisse, eu sou”. Na verdade, no prólogo do seu evangelho João já tinha afirmado isso:” No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). Jesus como o Verbo de Deus quer nos dizer: “Eu existo desde sempre. Eu sempre existo”. Deus não tem passado nem futuro. Está sempre em eterno presente. Está fora do cálculo do tempo humano. Jesus foi apresentado pelo João Batista da mesma maneira: Depois de mim, vem um homem que passou adiante de mim, porque existia antes de mim” (Jo 1,30).


Se Cristo está sempre em eterno presente, temos que experimentar e sentir Sua presença em cada momento. A consciência de saber da presença eterna de Jesus diariamente na nossa vida (cf. Mt 28,20) nos ajuda a renovarmos nossas forças e nosso ânimo de continuar nossa caminhada apesar das dificuldades e dos desafios no caminho.


Se nossa fé em Jesus Cristo for profunda, se não somente soubermos das coisas sobre ele, se estivermos em plena comunhão com ele, no modo de viver e de agir, teremos vida de Jesus já, como os ramos que recebem a seiva do tronco principal (Jo 15,1-5). A vida que Jesus comunica não conhece fim (Jo 3,16; 4,34; 5,21). A morte física não interrompe a vida nem é uma experiência de destruição. Ter a vida eterna é saber que nosso destino se realiza plenamente na vida imortal de Deus. Em Deus se realizam nossos sonhos, anseios, afetos e utopias mais queridos. Deus supera todos os nossos males e todos os nossos limites. Mas muitas vezes para nós é difícil acreditar na ressurreição porque não aceitamos ainda a morte física. O pior é que ficamos revoltados diante da morte de nosso ente querido, embora ele tenha morrido naturalmente. A fé na ressurreição vem nos dizer que o homem não vive para morrer e sim morre para viver. Morrer não é o fim da caminhada e sim atravessar o túnel para a Luz plena. O homem, para ressuscitar, tem que morrer, como Jesus morreu e ressuscitou.


Nós cristãos guardamos a Palavra de Jesus e esperamos por ela a vida eterna. Guardar essa Palavra significa vivê-la cada dia, fazê-la realidade em nosso trato com os demais, realizar o mandato de Jesus de amar aos irmãos com o amor com que nos amou até o fim. Ter vida eterna é saber que nosso destino se realiza plenamente na vida imortal de Deus. Em Deus chegaremos à perfeição para os nossos sonhos, nossos afetos e assim por diante.


Na véspera da Páscoa, a festa da vida para Jesus, ainda que seja através de sua morte, também sentimos a chamada à vida. A Páscoa é a festa da vida para os cristãos. A Páscoa é o dia de nossa salvação. Na Páscoa os cristãos querem renovar e reafirmar seu sim à vida. A Páscoa deve ser, por isso, uma sintonia sacramental e profunda com Cristo que atravessa a morte para a vida.


A participação na Eucaristia e o que a Eucaristia nos compromete na nossa vida diária nos faz entrarmos em intimidade com o Senhor, Pão da Vida eterna. O mistério Pascal de Cristo não nos conduz à morte e sim à vida. Através da Eucaristia o Senhor nos comunica sua própria vida para que nós sejamos sinais de vida no mundo. A Eucaristia faz a Igreja esforçar-se em fazer chegar a vida de Deus a todos os homens, muitas vezes deteriorados por causa do pecado. A partir desse esforço, fortalecidos pelo Espírito Santo que atua em nós e a partir de nós, poderemos fazer que o mundo seja fecundo em homens novos, capazes de chegar a ser filhos e filhas de Deus e de manifestar-se como tais através de suas obras e não somente por suas palavras. Como dizia São Francisco de Assis que temos que evangelizar se for necessário até com nossas palavras.


A Eucaristia diária é a Páscoa diária. E para os que celebram e participam da Eucaristia Jesus assegura: “Quem comer meu Corpo e beber meu Sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). A Eucaristia, memória sacramental da primeira Páscoa de Jesus é também uma antecipação da Páscoa eterna para a qual somos convidados. Tudo de Jesus na terra é uma antecipação daquilo que é eterno. Vivemos na terra aquilo que é do céu por causa de Jesus Cristo. Será que temos consciência disso tudo que não é pouca coisa: a vida eterna na terra?!
P. Vitus Gustama,svd

segunda-feira, 30 de março de 2020

01/04/2020

Dispute Over Whose Children Jesus' Opponents Are -Jn | Listen to ...Evangelho do dia: 4ª feira da 5ª Semana da Quaresma - 21.03.18 ...PORTAL - GNA - GRUPO DE NATUREZA ALIENÍGENA - GNA (www ...
PERMANECER NA PALAVRA DE JESUS QUE LIBERTA PARA SER SALVO DEFINITIVAMENTE
Quarta-Feira da V Semana da Quaresma
Primeira Leitura: Dn 3, 14-24.49.91-92.95
Naqueles dias, 14 o rei Nabucodonosor tomou a palavra e disse: “É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que não prestais culto a meus deuses e não adorais a estátua de ouro que mandei erguer? 15 E agora, quando ouvirdes tocar trombeta, flauta, cítara, harpa, saltério e gaitas, e toda espécie de instrumentos, estais prontos a prostrar-vos e adorar a estátua que mandei fazer? Mas, se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?” 16 Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor: “Não há necessidade de respondermos sobre isto: 17 se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei. 18 Mas, se ele não quiser libertar-nos, fica sabendo, ó rei, que não prestaremos culto a teus deuses e tampouco adoraremos a estátua de ouro que mandaste fazer”. 19 A estas palavras, Nabucodonosor encheu-se de cólera contra Sidrac, Misac e Abdênago, a ponto de se alterar a expressão do rosto; deu ordem para acender a fornalha com sete vezes mais fogo que de costume; 20 e encarregou os soldados mais fortes do exército para amarrarem Sidrac, Misac e Abdênago e os lançarem na fornalha de fogo ardente. 24 Os três jovens andavam de cá para lá no meio das chamas, entoando hinos a Deus e bendizendo ao Senhor. 49ª Mas o anjo do Senhor tinha descido simultaneamente na fornalha para junto de Azarias e seus companheiros. 91 O rei Nabucodonosor, tomado de pasmo, levantou-se apressadamente, e perguntou a seus ministros: “Porventura, não lançamos três homens bem amarrados no meio fogo?” Responderam ao rei: “É verdade, ó rei”. 92 Disse este: “Mas eu estou vendo quatro homens andando livremente no meio do fogo, sem sofrerem nenhum mal, e o aspecto do quarto homem é semelhante ao de um filho de Deus”. 95 Exclamou Nabucodonosor: “Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago que enviou seu anjo e libertou seus servos, que puseram nele sua confiança e transgrediram o decreto do rei, preferindo entregar suas vidas a servir e adorar qualquer outro Deus que não fosse o seu Deus”.


Evangelho: Jo 8, 31-42
Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.  33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?”  34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”.  39Eles responderam então: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”.  Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”. (Jo 8,31-42)
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Os Justos De Deus São Valentes Em Qualquer Situação de Vida


Nos tempos do rei Antíoco IV Epifânio, os judeus eram obrigados a adorar os deuses pagãos e a seguir as leis ou prescrições que Antíoco lhes dava.


O rei manda erguer em sua honra uma estátua colossal de 30 metros de altura e 3 metros de largura para ser adorada por todos os povos.


Os babilônios notaram a ausência dos judeus no ato de adoração da estátua aceito por todos os povos. Foram ao rei para denunciar os judeus. Na sua presença, Nabucodonosor ordena os judeus a catarem a ordem que de outro modo serão castigados: “Se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?”. Esta frase soa nos ouvidos dos fieis judeus a blasfêmia e por isso, com toda integridade proclamam que têm fé em seu Deus que poderá livrá-los do fogo ardente: “Se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei”. Notamos nesta narração que Nabucodonosor não reconhece a superioridade do Deus dos judeus.


Os mais piedosos judeus não obedeceram à ordem do rei. Consequentemente, alguns foram torturados, inclusive os três jovens. Os “três jovens” do livro de Daniel são extraordinariamente valentes. Eles encontram o sentido de sua vida em Deus, e por isso, não aceitam a ordem para adorar os deuses pagãos, pois eles encontraram em Deus sua razão de viver.


O que quer se enfatizar na narração dos três jovens que se encontram no fogo ardente e são salvos é ressaltar a providência, proteção e a justiça divinas. Os três jovens representam os justos de Deus. Os justos são aqueles que em meio do fogo das provas e perseguições mantêm a fidelidade e a confiança em Deus, que os faz livres. Os três jovens são imagem do povo fiel que persevera na alegria apesar das dificuldades porque sabem em quem acreditam e se apoiam: em Deus.  


Nisto aprendemos que em nome de nada nem em nome de ninguém podemos abrir mão de nossos valores e de nossa fé no Deus da vida. Tem valores, que apesar dos problemas e dificuldades, dos quais não podemos abrir mão. Precisamos depositar nossa confiança em Deus em qualquer situação. Sempre há providencia divina, como o anjo que Deus mandou libertar os três jovens, seus justos. “É preciso obedecer a Deus (viver conforme os valores) antes de obedecer aos homens” (At 5,29). O Deus que libertou os três jovens do fogo de um forno, também nos libertará de qualquer sufoco. Deus nunca abandona quem Lhe é fiel. Basta crer n’Ele. É preciso crer n’Ele. Não tenha medo nem dúvida de crer n’Ele. É preciso continuar a vivermos de acordo com a bondade de Deus. “Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura” (Papa Francisco). É preciso nos manter justos, como os três jovens do livro de Daniel.


Se soubermos em quem acreditamos e que Aquele em quem acreditamos está acima de tudo, as tribulações, as angústias, as provas perderão suas forças contra nós ou diante de nós. Deus ajuda os fiéis e lhes dá força de que necessitam na luta contra o mal. Por isso, os três irmãos são livres de tudo. Com Deus venceremos apesar das provações e de todo tipo de dificuldades.


Permanecer Em Jesus Nos Faz Conhecer a Vontade de Deus Sobre nós


Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 


No evangelho lido neste dia destacam-se três temas fundamentais: a fidelidade, a liberdade e a filiação. Seguir Jesus implica manter-se fiel à Sua Palavra, de modo que o verdadeiro cristão já não é somente aquele que crê, mas, sobretudo, aquele que escuta, vive e dá testemunho da Palavra. A Palavra de Deus leva o cristão a conhecer a verdade.


“Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”.


“Se permanecerdes...”. O verbo “permanecer” se encontra frequentemente no evangelho de João (especialmente no discurso da despedida) e nas cartas de Joao, especialmente na Primeira Carta de são João. A formulação em Jo 8,31-32 considera a Palavra de Jesus como o espaço vital no qual o homem deve manter-se sempre para se manter vivo diante de Deus. Por ser o espaço vital, a ligação com Jesus deve ser definitiva, pois fora d´Ele não há a verdadeira vida (cf. Jo 15,1-5). Não se deve abandonar esta ligação, pois esta ligação significa a salvação escatológica. Por isso, aqui “permanecer” tem um significado escatológico e decisivo. Quando essa ligação (permanência) é cortada (por apostasia, abandono, deserção etc.) abandona-se também o âmbito salvífico, isto é, fica fora da salvação. Este “permanecer na palavra de Jesus” é o distintivo do verdadeiro seguidor de Jesus. Para o evangelista Joao ser discípulo consiste essencialmente no fato de que o seguidor se orienta pela palavra de Jesus como única e definitiva norma.


Quais serão as consequências dessa permanência em Jesus Cristo? “... Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Mas do que se trata desta verdade nesta afirmação?


A verdade aqui não é só no sentido de um saber prático e útil, ou de um puro conhecimento intelectual da verdade, mas também de uma necessidade da máxima verdade concreta na pessoa de Jesus. Para são João a verdade é vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus. Por isso, Jesus não é somente o Mestre de uns princípios verdadeiros, nem é somente o Portador de uma verdade de revelação que pode expor-se como uma doutrina, e sim, Jesus é, pessoalmente “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Por isso, aqui se trata daquela verdade que proporciona ao homem o sentido último, a claridade suprema acerca de si mesmo que possibilita um conhecimento salvífico. E esse conhecimento leva o homem a direcionar sua maneira de viver e de conviver com os demais.


Para o homem a única verdade é a plenitude de vida; trata-se de ter uma vida de qualidade humana e divina, ao mesmo tempo, que contém no projeto de Deus realizado em e por Jesus. Por isso, aqui a verdade não é somente no sentido de um saber prático e útil, ou de um puro conhecimento intelectual da verdade, mas aqui trata-se da claridade suprema daquela verdade que proporciona ao homem o sentido último sobre si mesmo que, por conseguinte, possibilita um conhecimento salvífico. E essa verdade está orientada para a ética, a vida e o amor.


O feito dessa verdade é a liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Deus e em Jesus Cristo: “... e a verdade vos libertará”. A experiência de salvação e a experiência de libertação. Uma tal libertação é efeito imediato da experiência da verdade da fé. Por isso, não se trata de uma libertação política e social e sim de uma libertação escatológica diante do poder da morte, do pecado, das trevas cujas garras o homem sucumbe. Trata-se, por isso, da libertação do homem de si mesmo. O poder da morte em todas as suas manifestações já não pode dominar o homem que permanece em Jesus Cristo.


A Palavra de Jesus é como um espaço vital em que o homem há de manter-se sempre. A Palavra de Jesus é como um sinal para a vida dos cristãos: o sinal único e definitivo. É a norma suprema na qual o cristão aposta sua vida e sua salvação, pois a Palavra de Deus será a última palavra para o homem. 


Para o cristão fiel Jesus promete o conhecimento da verdade e da liberdade: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.  Para João a verdade está vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus, pois ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O efeito imediato da experiência do cristão da verdade é a libertação e a liberdade.  Mas não se trata de uma libertação política ou social, mas trata-se da libertação definitiva diante das potências da morte, do pecado, das trevas às quais o homem sucumbe. Trata-se da libertação do homem de si mesmo. Esta é a liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Jesus. No fundo se identificam experiência de salvação e experiência de liberdade. Por isso, a liberdade que Jesus comunica ultrapassa a mera possibilidade de opção, mas situa o homem na sua verdadeira dignidade: o faz partícipe da liberdade do Pai.                                                                                      


Jesus é perfeitamente livre, porque é perfeitamente Filho. Ama seu Pai. Fala dele sem cessar. É livre porque ama: não está apegado a si mesmo. Jesus é livre diante de sua família, dos seus discípulos, das autoridades. É livre para anunciar e denunciar. Segue seu caminho com fidelidade, com alegria, com liberdade interior. Quando estava no meio do julgamento, Jesus era muito mais livre do que o próprio Pilatos. Nada lhe detém. Não há nenhum egoísmo, nenhum obstáculo ao amor. Isto significa que o amor de Deus vivido profundamente faz o cristão livre de tudo, como Jesus Cristo. É o único meio de não estar submetido a nada. Ser livres significa ser filhos, não escravos, na família de Deus. Para João, pecar é converter-se em escravo: ter por pai o “pai da mentira”. Jesus é a Verdade (Jo 14,6), e por isso, só ele pode dar a verdadeira liberdade.


Celebrar a Páscoa é celebrar a liberdade dada pelo Senhor ressuscitado. A Páscoa de Jesus quer ser para nós um crescimento na liberdade interior, pois a Páscoa é a festa da libertação, a festa do êxodo. Em meio de um mundo que nos oferece muitos “valores”, mas também nos tenta com contra-valores que nos levam irremediavelmente à escravidão, Jesus nos convida a sermos livres. Para viver em Deus, como filhos e filhas, não basta querer, pedir e buscar liberdade econômica, política, cultural, religiosa; é indispensável a libertação do pecado. É preciso parar de fazer o outro sofrer e a si mesmo. É preciso saber se cuidar para poder cuidar dos demais. “Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!” (Papa Francisco). 


Reflitamos:
Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor” (Papa Francisco).
P. Vitus Gustama,svd

domingo, 29 de março de 2020

31/03/2020
A Serpente de Bronze por Siegfried Detler Bendixen (1786-1864 ...Evangelho de hoje (Jo 8,21-30) - Egídio Serpa | Egídio Serpa ...Lê-se em João 8,23: "Vós sois daqui de baixo; eu Sou lá de cima ...
ELEVAR A DEUS UM CORAÇÃO ARREPENDIDO PARA ALCANÇAR A SALVAÇÃO
Terça-Feira da V Semana da Quaresma

Primeira Leitura: Nm 21,4-9
Naqueles dias, 4 os filhos de Israel partiram do monte Hor, pelo caminho que leva ao Mar Vermelho, para contornarem o país de Edom. Durante a viagem, o povo começou a impacientar-se, 5 e se pôs a falar contra Deus e contra Moisés, dizendo: “Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável. 6 Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu muita gente em Israel. 7 O povo foi ter com Moisés e disse: “Pecamos, falando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós as serpentes”. Moisés intercedeu pelo povo, 8 e o Senhor respondeu: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá. 9 Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente, e olhava para a serpente de bronze, ficava curado.


Evangelho: Jo 8,21-30
Naquele tempo disse Jesus aos fariseus: 21“Eu parto, e vós me procurareis, mas morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”. 22Os judeus comentavam: “Por acaso, vai-se matar? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’?” 23Jesus continuou: Vós sois daqui debaixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24Disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados”. 25Perguntaram-lhe pois: “Quem és tu, então?” Jesus respondeu: “O que vos digo, desde o começo. 26Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito, e a julgar, também. Mas aquele que me enviou é fidedigno, e o que ouvi da parte dele é o que falo para o mundo”.27Eles não compreenderam que lhes estava falando do Pai. 28Por isso, Jesus continuou: Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é de seu agrado”. 30Enquanto Jesus assim falava, muitos acreditaram nele.
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É Preciso Olhar Para Deus a Fim De Entendermos o Sentido Do Que Se Passa No Mundo e Na Nossa Vida Diária


Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá, disse Deus a Moisés.


 Na travessia do deserto rumo à Terra prometida os hebreus, fatigados e insatisfeitos com o maná de pouco valor nutritivo, protestaram contra Deus dizendo a Moisés: “Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável”.


No deserto abundavam as serpentes, que constituíam um perigo para o povo peregrino. Uma praga especialmente mortal foi interpretada como castigo de Deus pelos pecados do povo, e assim olhar a essa serpente, mandada levantar por Moisés, se podia entender como um voltar para Deus, reconhecer o próprio pecado e invocar a ajuda de Deus. O Livro da Sabedoria valoriza esta serpente não em si mesma e sim como recordação da bondade de Deus, quando o povo olhar para ela (Sb 16,5-7). O povo não é salvo magicamente e sim pela fé.


 Ao longo de toda a Bíblia, o deserto é o lugar da tentação e das provas. A grande prova é a de duvidar de Deus. Este estado de dúvida em nossas relações com Deus geralmente aparece quando nos sentimos excessivamente esmagados pelo peso de nossas preocupações. E isso acontece também para os cristãos mais generosos e aos apóstolos mais ardentes. Com maior razão isto pode explicar, em parte, o ateísmo e a incredulidade. No desânimo Deus não tem seu lugar na vida homem.


Deus, em “castigo”, enviou-lhes serpentes venenosas: “Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu muita gente em Israel”. Reconhecendo nas serpentes venenosas um castigo, os hebreus pedem a Moisés que lhes livre desta praga. Deus dá, então, a seguinte ordem a Moisés: Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá.


O que podemos ver neste relato é um vestígio da ofiolatria (do grego: ophis + latrea), isto é, a adoração das serpentes ou o culto às serpentes entre os orientais. Em Gezer foi encontrada uma serpente metálica, e em Susa e na Babilônia foram descobertos diversos amuletos em forma de serpente. A serpente sempre foi relacionada à medicina, porque a ela se atribuíam determinadas virtudes curativas. Daí se deduz que o hagiógrafo ou o autor sagrado associa estes restos metálicos daquela região com um milagre de Moisés relacionado com as mordidas das serpentes.


Mas o autor sagrado não atribui um valor mágico à serpente de bronze levantada por Moisés e sim que vê nela (serpente de bronze) um símbolo do poder curativo e salvífico de Deus. O autor do Livro da Sabedoria fez a exegese desta passagem bíblica ao dizer: “Efetivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa cólera não durou até o fim. Foram por pouco tempo atormentados, para sua correção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava o preceito de vossa lei. E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do objeto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o Salvador de todos” (Sb 16,5-7). E Jesus Cristo alude ao fato do deserto e vê na serpente levantada por Moisés um tipo de Sua elevação na Cruz: “Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15). Em todo caso, Moisés, ao levantar a serpente, quer destacar e simbolizar a onipotência de Deus que cura e salva os hebreus e não um procedimento mágico. É preciso olhar para o céu, para Deus, para poder saber o que deve-se fazer aqui na Terra a fim de alcançarmos a salvação.


A serpente foi sempre símbolo de espanto. É um animal sinuoso e deslizante e por isso é difícil de pegar, mas que ataca por surpresa e cuja mordida é venenosa e fatal. É assim a “mordida” do pecado na nossa vida: mortal, e exclusão eterna da salvação se não voltarmos para Deus. O pecado não se chama fraqueza e sim resistência, contundência, rebelião contra o que há de mais profundo e determinante em nós. O pecado nos violenta na própria raiz de nosso ser feito por e para Deus em Jesus Cristo. Em todo pecado há sempre dois aspectos: a conversão indevida a uma criatura e a aversão diante de Deus. A serpente de bronze levantada para ser olhada pelos hebreus para não serem mordidos pelas serpentes pode ser entendida como uma volta para Deus ao reconhecer o próprio pecado e invocar a ajuda de Deus, com reza o Salmista: “Ouvi, Senhor, e escutai minha oração, e chegue até vós o meu clamor! De mim não oculteis a vossa face no dia em que estou angustiado! Inclinai o vosso ouvido para mim, ao invocar-vos atendei-me sem demora!” (Salmo Responsorial de hoje). Ninguém se salva magicamente e sim pela fé que se traduz nas obras boas pelo bem da humanidade. O próprio Jesus afirma no evangelho de hoje: “Vós morrereis no vosso pecado”. Esta afirmação se refere à perda da salvação. O pecado é a incredulidade e este é identificado pelo evangelista João com a perda da salvação, com a própria morte. A salvação está na comunhão de vida com Jesus. A desgraça ou a condenação está na separação definitiva de Jesus. A incredulidade como atitude básica e permanente exclui o homem da salvação, da vida eterna.


Eu Sou


Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, disse Jesus


A controvérsia entre Jesus e seus adversários que começou em Jo 7 continua. Os adversários continuam a não aceitar Jesus como o Enviado de Deus para salvar o mundo.


No texto do evangelho de hoje Jesus usa a expressão “Eu sou”. Para o Povo eleito ou para a tradição judaica a expressão “Eu sou” evoca o nome divino revelado a Moisés na sarça ardente: “EU SOU Aquele que é” (Ex 3,14).  Para os fariseus ao usar a expressão “EU SOU” Jesus se iguala a Deus e isso é uma verdadeira blasfêmia para eles. Eles não aceitam que Jesus se iguale a Deus e por isso, eles perguntam a Jesus: “Quem és tu?”. E eles sabem que Jesus é nazareno.


Ao afirmar para si próprio como “EU SOU” Jesus quer revelar aos seus adversários sua radical e profunda comunhão com o Pai (cf. Jo 17,21-23). Jesus está tão unido ao Pai a ponto de dizer que não poderia viver sem fazer a vontade do Pai: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra” (Jo 4,34; cf.). Sinal da profunda comunhão com o Pai é o trabalho de Jesus em salvar ou em fazer o bem para todos os homens, especialmente para os excluídos e abandonados. Jesus passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38).


Quando nossa única preocupação é fazer o bem para todos em qualquer lugar e momento é sinal de que estamos em comunhão plena com Jesus. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus. Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo, acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca.  


Mundo Com Deus e Mundo Sem Deus


Se não acreditais que eu sou morrereis nos vossos pecados”, diz nos Jesus hoje.


Esta afirmação de Jesus se refere à perda da salvação. O pecado é a incredulidade e o pecado para o evangelista se identifica com a perda da salvação, igual à própria morte. Assim como a salvação está na comunhão de vida com Jesus, assim a desgraça ou condenação está na separação definitiva de Jesus. Por isso, Jesus diz: “Para onde eu vou, vós não podes ir”. Para a incredulidade não há consumação alguma da comunhão com Jesus. Esta consumação da comunhão acontecerá somente para os que creem em Jesus. Para estes é que Jesus promete: “Vou preparar um lugar para vós e assim que estiver preparado um lugar para vós voltarei e vos levarei comigo a fim de que onde estiver estejais vós também” (Jo 14,3). A incredulidade como atitude básica e permanente exclui o homem da salvação, da vida eterna.


Vós sois daqui de baixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”, diz Jesus aos seus inimigos. Estas palavras confirmam a diferença essencial que há entre Jesus e o mundo, precisamente na origem diferente. O mundo ao qual Jesus se opõe é o mundo sem referência a Deus, que se opõe a Deus. Este tipo de mundo pode estar presente tanto no interior da Igreja como fora dela. Assim como o mundo de Deus pode estar presente tanto na Igreja como fora dela. A fronteira dos dois mundos não coincide com as fronteiras do cristianismo, pois um cristão pode ser um pagão a partir de seu modo de viver e um pagão pode ser um cristão por causa de seu modo de viver com os demais (cf. Mt 8,5-10).   Jesus, o revelador do Pai, pertence por completo à esfera divina. A esfera divina pertence também aos que acreditam em Jesus Cristo. Enquanto que os incrédulos ficam excluídos da mesma. Além disso, por si mesma, a incredulidade não pode superar sua origem de “baixo”.


Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então, sabereis que eu sou”, diz Jesus. Este elevar do Filho do Homem é a exaltação de Jesus mediante sua morte na cruz. Com esta conexão estabelecida entre a cruz e a afirmação “Eu Sou” fica definitivamente claro onde há que buscar e encontrar o lugar da presença salvadora de Deus: em Cristo crucificado. Atrás da Cruz há vida e salvação. Jesus se torna o novo lugar da presença de Deus em quem Deus sai ao encontro do homem dando-lhe a salvação e a vida. Trata-se aqui da fé: do reconhecimento ou do não reconhecimento dessa presença de Deus em Jesus. Por isso, a pergunta dos judeus da época “quem és tu?” leva consigo a renunciar a crer. Rejeitar Cristo que é a vida, luz e salvação, supõe optar pela morte, as trevas e a ruína eterna.


Vós sois daqui de baixo”. Os que daqui de baixo, os do mundo se deixam levar pelas paixões desordenadas e pelo espírito mesquinho de intolerância, mostrando-se insensíveis em relação aos mais pequeninos, e não suportando quem lhes aponta os pecados, não se dão conta do desígnio divino. São Paulo nos relembra muito bem ao dizer aos filipenses: “Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Apreciam só as coisas terrenas! Nós, ao contrário, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos como salvador o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso pobre corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, graças ao poder que o torna capaz também de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,18-21).  Que não sejamos inimigos da Cruz de Jesus.


“Ser elevado” (Jo 8,28) tem um duplo sentido de morte e de exaltação. O Filho do Homem (Jesus) aprendeu do Pai sua oposição à injustiça; sua morte demonstrou sua plena coerência, a morte de um amor que chega a dar a vida e com ela, sua missão divina. Jesus nunca se acovarda (Jo 8,29) porque o Pai o acompanha e apoia. Como você se avalia a partir de Jesus Cristo a Quem você segue?


Por fim, a multiplicação de serpentes venenosas que matam é como a multiplicação dos pecados que matam (excluir da salvação). Na vida as infidelidades são como mordidas de serpentes, delas há que se curar. Elevar o olhar para Jesus é um símbolo da elevação do coração arrependido para Deus por via da fé e por mudança de conduta mais ética e fraterna, pois por este caminho se chega a nova vida de amor.
P. Vitus Gustama,svd
30/03/2020
Pale Ideas - Tradição Católica!: A história de Susana, filha de ...Aquele que nao tiver pecado atire a primeira pedra- Jo 8:1-11 | O ...É PRECISO CAMINHAR
MISERICÓRDIA DIVINA DIANTE DA MISÉRIA HUMANA
Segunda-Feira Da V Semana Da Quaresma


I Leitura: Dn 13,1-9. 15-17.19-30.33-62 (ou Dn 13,41c-62)
Naqueles dias: 1Na Babilônia vivia um homem chamado Joaquim. 2Estava casado com uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, que era muito bonita e temente a Deus. 3Também os pais dela eram pessoas justas e tinham educado a filha de acordo com a lei de Moisés. 4Joaquim era muito rico e possuía um pomar junto à sua casa. Muitos judeus costumavam visitá-lo, pois era o mais respeitado de todos. 5Ora, naquele ano, tinham sido nomeados juízes dois anciãos do povo, a respeito dos quais o Senhor havia dito: 'Da Babilônia brotou a maldade de anciãos-juízes, que passavam por condutores do povo.' 6Eles frequentavam a casa de Joaquim, e todos os que tinham alguma questão se dirigiam a eles. 7Ora, pelo meio-dia, quando o povo se dispersava, Susana costumava entrar e passear no pomar de seu marido. 8Os dois anciãos viam-na todos os dias entrar e passear, e acabaram por se apaixonar por ela. 9Ficaram desnorteados, a ponto de desviarem os olhos para não olharem para o céu, e se esqueceram dos seus justos julgamentos. 15Assim, enquanto os dois estavam à espera de uma ocasião favorável, certo dia, Susana entrou no pomar como de costume, acompanhada apenas por duas empregadas. E sentiu vontade de tomar banho, por causa do calor. 16Não havia ali ninguém, exceto os dois velhos que estavam escondidos, e a espreitavam. 17Então ela disse às empregadas: 'Por favor, ide buscar-me óleo e perfumes e trancai as portas do pomar, para que eu possa tomar banho'. 19Apenas as empregadas tinham saído, os dois velhos levantaram-se e correram para Susana, dizendo: 20'Olha, as portas do pomar estão trancadas e ninguém nos está vendo. Estamos apaixonados por ti: concorda conosco e entrega-te a nós! 21Caso contrário, deporemos contra ti, que um moço esteve aqui, e que foi por isso que mandaste embora as empregadas'. 22Gemeu Susana, dizendo: 'Estou cercada de todos os lados! Se eu fizer isto, espera-me a morte; e, se não o fizer, também não escaparei das vossas mãos; 23mas é melhor para mim, não o fazendo, cair nas vossas mãos do que pecar diante do Senhor!' 24Então ela pôs-se a gritar em alta voz, mas também os dois velhos gritaram contra ela. 25Um deles correu para as portas do pomar e as abriu. 26As pessoas da casa ouviram a gritaria no pomar e precipitaram-se pela porta do fundo, para ver o que estava acontecendo, 27Quando os velhos apresentaram sua versão dos fatos, os empregados ficaram muito constrangidos, porque jamais se dissera coisa semelhante a respeito de Susana. 28No dia seguinte, o povo veio reunir-se em casa de Joaquim, seu marido. Os dois anciãos vieram também, com a intenção criminosa de conseguir sua condenação à morte. Por isso, assim falaram ao povo reunido: 29'Mandai chamar Susana, filha de Helcias, mulher de Joaquim'! E foram chamá-la. 30Ela compareceu em companhia dos pais, dos filhos e de todos os seus parentes. 33Os que estavam com ela e todos os que a viam, choravam. 34Os dois velhos levantaram-se no meio do povo e puseram as mãos sobre a cabeça de Susana. 35Ela, entre lágrimas, olhou para o céu, pois seu coração tinha confiança no Senhor. 36Entretanto, os dois anciãos deram este depoimento: 'Enquanto estávamos passeando a sós no pomar, esta mulher entrou com duas empregadas. Depois, fechou as portas do pomar e mandou as servas embora. 37Então, veio ter com ela um moço que estava escondido, e com ela se deitou. 38Nós, que estávamos num canto do pomar, vimos esta infâmia. Corremos para eles e os surpreendemos juntos. 39Quanto ao jovem, não conseguimos agarrá-lo, porque era mais forte do que nós e, abrindo as portas, fugiu. 40A ela, porém, agarramos, e perguntamos quem era aquele moço. Ela, porém, não quis dizer. Disto nós somos testemunhas'. 41A assembleia acreditou neles, pois eram anciãos do povo e juízes. E condenaram Susana à morte. 42Susana, porém, chorando, disse em voz alta: 'Ó Deus eterno, que conheces as coisas escondidas e sabes tudo de antemão, antes que aconteça! 43Tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim! Estou condenada a morrer, quando nada fiz do que estes maldosamente inventaram a meu respeito!' 44O Senhor escutou sua voz. 45Enquanto a levavam para a execução, Deus excitou o santo espírito de um adolescente, de nome Daniel. 46E ele clamou em alta voz: 'Sou inocente do sangue desta mulher!' 47Todo o povo então voltou-se para ele e perguntou: 'Que palavra é esta, que acabas de dizer?' 48De pé, no meio deles, Daniel respondeu: 'Sois tão insensatos, filhos de Israel? Sem julgamento e sem conhecimento da causa verdadeira, vós condenais uma filha de Israel? 49Voltai a repetir o julgamento, pois é falso o testemunho que levantaram contra ela!' 50Todo o povo voltou apressadamente, e outros anciãos disseram ao jovem: 'Senta-te no meio de nós e dá-nos o teu parecer, pois Deus te deu a honra da velhice.' 51Falou então Daniel: 'Mantende os dois separados, longe um do outro, e eu os julgarei.' 52Tendo sido separados, Daniel chamou um deles e lhe disse: 'Velho encarquilhado no mal! Agora aparecem os pecados que estavas habituado a praticar. 53Fazias julgamentos injustos, condenando inocentes e absolvendo culpados, quando o Senhor ordena: 'Tu não farás morrer o inocente e o justo!' 54Pois bem, se é que viste, dize-me à sombra de que árvore os viste abraçados?'  Ele respondeu: 'É sombra de uma aroeira.' 55Daniel replicou 'Mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus, tendo recebido já a sentença divina, vai rachar-te pelo meio!' 56Mandando sair este, ordenou que trouxessem o outro: 'Raça de Canaã, e não de Judá, a beleza fascinou-te e a paixão perverteu o teu coração. 57Era assim que procedíeis com as filhas de Israel, e elas por medo sujeitavam-se a vós. Mas uma filha de Judá não se submeteu a essa iniquidade. 58Agora, pois, dize-me debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?' Ele respondeu: 'Debaixo de uma azinheira.' 59Daniel retrucou: 'Também tu mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus já está à espera, com a espada na mão, para cortar-te ao meio e para te exterminar!' 60Toda a assistência pôs-se a gritar com força, bendizendo a Deus, que salva os que nele esperam. 61E voltaram-se contra os dois velhos, pois Daniel os tinha convencido, por suas próprias palavras, de que eram falsas testemunhas. E, agindo segundo a lei de Moisés, fizeram com eles aquilo que haviam tramado perversamente contra o próximo. 62E assim os mataram, enquanto, naquele dia, era salva uma vida inocente.


Evangelho: Jo 8,1-11 (para o Ano “A” e “B”)
Naquele tempo, 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Levando-a para o meio deles, 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio, em pé. 10Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.
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As duas leituras de hoje nos apresentam um paralelismo. Trata-se de um juízo contra duas pessoas, isto é, contra duas mulheres: uma inocente (Suzana) outra pecadora, adúltera (sem nome). No evangelho de hoje Jesus salva uma mulher adúltera dos que a acusavam e queriam sua morte. O relato de Daniel, na primeira leitura, nos apresenta uma situação semelhante em que Daniel salvou não uma adúltera e sim uma mulher inocente, Suzana. As duas cenas têm muito em comum e nos ajudam a prepararmos a celebração da Páscoa que está próxima com o juízo misericordioso de Deus sobre nosso pecado. Somente Deus pode nos julgar retamente, pois Ele julga segundo o coração e não conforme as aparências. Deus sempre vê muito mais o nosso coração do que nossa aparência. Por isso, Deus, na sua infinita sabedoria, jamais erra no seu juízo.


Deus Sempre Está Do Lado Do Inocente


 
Na Babilônia vivia um homem chamado Joaquim. Estava casado com uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, que era muito bonita e temente a Deus. Também os pais dela eram pessoas justas e tinham educado a filha de acordo com a lei de Moisés”. Assim lemos na Primeira Leitura.


A Primeira Leitura é tirada do Livro de Daniel capitulo 13. Dn 13-14 pertence à parte deuterocanônica do livro e só se encontra na versão grega.


Os principais personagens no texto da Primeira Leitura de hoje são Susana que só aparece aqui no AT e dois anciãos. “Susana” significa “lírio” que é muito em consonância com sua pura conduta. Uma pessoa pura, como Susana, é uma pessoa absolutamente honesta e decente. Quem é puro é limpo de todas as manchas de sujeira interna e externa. Uma pessoa pura é aquela que é totalmente ela mesma, que é livre de todas as contaminações, de tudo que é artificial. Todas estas qualidades descrevem bem quem é Susana: uma pessoa pura.


O autor do livro de Daniel, ironicamente, destaca o contraste entre a má conduta dos anciãos que deveriam dar exemplo de virtude por sua idade e sua qualidade de juízes, e a virtude heroica da bela Susana que não aceitou a vergonhosa proposta dos dois anciãos para fazer uma relação íntima com ela. Susana sabia que se ela aceitasse a proposta vergonhosa dos dois anciãos, ela seria condenada à morte (cf. Lv 20,10; Dt 22,21-22; Jo 8,4-5).  Quando Susana não aceitou a proposta vergonhosa deles, os dois anciãos denunciaram Susana falsamente.


Susana era conhecida por sua honestidade. Ela representa a alma pura, a fidelidade a Deus. Deus nunca deixa o inocente lutar sozinho. Por isso, no fim a inocência vencerá diante da mentira e da falsidade. Deus permite a prova e as provações para o justo até ao extremo que, às vezes, tem-se impressão de que Deus se esqueça do justo. Mas o bem sempre triunfa. De fato, Susana saiu vitoriosa pela sua inocência e os falsos anciãos são condenados pela sua mentira.


Da história de Susana aprendemos que por mais que os outros falem das calúnias contra você, é preciso prosseguir confiando no Bem Maior, Deus cuja palavra final será um julgamento para todos. Por mais que os odiosos lhe demonstrem rancores, prossiga perdoando, pois o perdão é a expressão máxima do amor divino. Por mais que lhe ameacem os aparentes fracassos, prossiga apostando na vitória final de Deus. Por mais que os outros tentem destruí-lo, prossiga na construção da humanidade mais humana e fraterna, pois pertencemos à família do Papai do céu. Por mais que os outros lhe demonstrem a arrogância, prossiga com sua humildade para se manter na simplicidade e na pureza. “A humildade é a única base sólida de todas as virtudes” (Confúcio). E “Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza” (Rabindranath Tagore).


Misericórdia Divina Diante Da Miséria Humana


No texto do evangelho de hoje os escribas e os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher que havia sido apanhada cometendo adultério. Eles a colocaram no meio e disseram: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na sua lei, manda apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”.


É surpreendente que não se fale do “parceiro” deste ato de adultério (porque é difícil cometer adultério sozinho). Por que o “parceiro” também não foi agarrado? É a história de sempre: a agressividade, a violência, as paixões sempre se descarregam sobre os mais fracos: os mais fortes sempre conseguem se safar ou se escapar por causa do poder social, cultural, político ou econômico. Os fracos sempre são vítimas porque eles não têm recursos em todos os sentidos. O único recurso dos fracos é o próprio Deus.


Diante da pressão da multidão, especialmente dos escribas e fariseus Jesus fica calado. Se Deus parece calar-se, acontece isso porque já nos disse tudo: não tem mais nada a acrescentar. Deus só deseja que escutemos com maior atenção a palavra que nunca chegamos a compreender perfeitamente. A Palavra de Deus não se gasta e é perpétua.  Se soubermos escutar atentamente a Palavra de Deus, jamais nos precipitaremos em nada. No ritmo acelerado de nossa sociedade habituamo-nos a um gasto colossal de palavras. Vivemos numa sociedade cada vez mais reacionária diante de tudo do que numa sociedade refletiva em que tudo precisa ser analisado calmamente. Estamos cada vez mais distante do valor de um silencia para escutar a ressonância de nossas palavras e atos. Quem é incapaz de entender o silêncio de um amigo, também nunca há de compreender suas palavras.


Por causa de tanta pressão da multidão Jesus abandona o silêncio para pronunciar a seguinte frase: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire-lhe a primeira pedra”.


O efeito destas palavras é marcante. Ao ouvirem isso, todos foram-se embora um após outro, a começar pelos mais velhos. Eles são acusados por sua própria consciência. O detalhe “a começar pelos mais velhos” poderia referir-se à sua mais ampla experiência da fraqueza humana. Quanto mais vivemos, mais possibilidades nós teremos para cometer erros na vida.


A palavra de Jesus inibiu esses homens de cometer um ato de violência, e eles renunciam livremente. O fato de eles irem embora já uma confissão implícita de seu pecado. Concretamente podemos dizer que Jesus é situado duplamente: em relação aos fariseus, a cilada é desfeita e em relação à mulher adúltera, a absolvição foi feita. Diante do pecado que é mais pesado que as pedras em que eles estão pegando, Jesus, vindo de fora, está só, enquanto a mulher está diante dele.


A cena do evangelho de hoje tem sua “ironia” divina. Aquele que é sem pecado (Is 8,46), Aquele que é a santidade participada sem limite e eternamente do Pai encontra-se com a pecadora numa atitude de perdão, de acolhimento. Aqueles, que vinham eles mesmos carregados de pecados, querem a condenação, sendo frustrados precisamente pelo choque com a inocência de Jesus, que os desafia. O rigor de nosso julgamento sobre o nosso próximo mostra que desconhecemos a nossa própria fragilidade e os nossos defeitos e a nossa condição de pecadores diante de Deus. Certas atitudes de rigor em relação ao irmão dificilmente conseguem encobrir alguma fraqueza ou miséria própria não aceita, não confessada. Aí está Jesus escrevendo no chão, seja revelando a cada um sua miséria, seja simplesmente desconversando uma acusação vinda de más intenções.


Também não te condeno. Vai em paz e de agora em diante não peques mais!”, disse Jesus à mulher pecadora. Trata-se, na verdade, de uma palavra poderosa de pleno perdão do pecado. Estas palavras finais de Jesus são dirigidas à mulher e aos pretensos juízes. Jesus fica ali para receber novamente a todos. Jesus não quer condenar, mas libertar. Com sua decisão, Jesus restitui a vida à mulher, dando-lhe uma nova coragem para viver, uma nova oportunidade para recomeçar. O que importa de verdade para a mulher é este novo começo.


Todos nós necessitamos que alguém nos diga: “Eu também não te condena: vai, e doravante não peques mais!” Tal é a palavra criadora de Jesus. Jesus nos torna capazes de aceitar nosso pecado para que iniciemos juntos uma existência reconciliada.


Há duas classes de homens: Uns, pecadores que se julgam justos e os outros, justos que se creem pecadores. Em que grupo você está? A raiz do mal e da injustiça está dentro de cada um de nós; dentro de mim.  Se não reconheço isto, nada melhorará dentro e fora de mim.


O texto permanece aberto, sem nada dizer sobre o que aconteceu depois com a mulher, como na parábola do filho pródigo/pai misericordioso, nada é dito sobre a decisão final do filho mais velho (Lc 15,32). O leitor é igualmente convidado a perder seu medo, a não se fechar em seu passado, às vezes um outro círculo mortal, e a andar na liberdade dos filhos de Deus (leia consecutivamente Sl 103,10-14 e Sl 32,1.13).
P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...