sábado, 25 de abril de 2020

27/04/2020
É PRECISO CAMINHAREvangelho de hoje (Jo 6,22-29) - Egídio Serpa | Egídio Serpa ...
SOMENTE EM DEUS SE ENCONTRA O SENTIDO DE NOSSA EXISTÊNCIA
Segunda-Feira da III Semana da Páscoa


Primeira Leitura: At 6,8-15
Naqueles dias, 8 Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. 9 Mas alguns membros da chamada Sinagoga de Libertos, junto com cirenenses e alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a discutir com Estêvão. 10 Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 11 Então subornaram alguns indivíduos, que disseram: “Ouvimos este homem dizendo blasfêmias contra Moisés e contra Deus”. 12 Desse modo, incitaram o povo, os anciãos e os doutores da Lei, que prenderam Estêvão e o conduziram ao Sinédrio. 13 Aí apresentaram falsas testemunhas, que diziam: “Este homem não cessa de falar contra este lugar santo e contra a Lei. 14 E nós o ouvimos afirmar que Jesus Nazareno ia destruir este lugar e ia mudar os costumes que Moisés nos transmitiu”. 15 Todos os que estavam sentados no Sinédrio tinham os olhos fixos sobre Estêvão, e viram seu rosto como o rosto de um anjo.


Evangelho: Jo 6,22-29
Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. 22No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos. 23Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum. 25Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” 26Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. 27Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. 28Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” 29Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.
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Diácono Estêvão é O Homem Que Se Deixa Guiar Pelo Espírito Do Senhor Ressuscitado


Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo” (At 6,8).


Estêvão é um dos sete primeiros diáconos, eleitos pelos Apóstolos para o serviço da mesa (Cf. At 6,1-6).


Em grego, “Diácono” significa “servidor”. A palavra grega que a Bíblia geralmente traduz como “servir” é DIAKONEIN, que significa o serviço à mesa. Isto significa que quem serve à mesa serve à vida, nutre o outro com vida.


O Concílio Vaticano II restabeleceu essa tradição que se havia perdido: o diaconato é, de novo, um sacramento permanente dado a cristãos para significar que a Igreja inteira é “serviço” (cf. SC 86; LG 20, 28, 29, 41; OE 17; CD 15; DV 25; AG 15, 16).


O serviço não é somente um conjunto de pequenas boas obras de ajuda aos demais. Para Jesus e, portanto, para a Igreja, Servir é um estilo de vida, e não é apenas uma atividade em determinado momento da vida diante dos demais: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,45). Ao servir o outro, o cristão estará participando da vida e da missão de Jesus. Cristo-Servo deseja viver e estar em meio de uma comunidade de servos/servidores.


O texto da Primeira Leitura destaca a figura e obra do diácono Estêvão no desenvolvimento do cristianismo primitivo. “Graça e fortaleza” são as virtudes que ornam Estêvão. Estêvão é um homem fogoso e enfrenta seus adversários. Por conhecer bem o mundo grego, cuja língua fala, ele sabe que o universo não se reduz a Jerusalém (Lei e Templo): em toda parte há homens que esperam a salvação. Ele entende que a Igreja não deve ser reduzida a um gueto no meio do mundo judaico.


O discurso de Estêvão diante do Sinédrio é um resumo da história da salvação. Mais que discurso é uma oração, uma confissão gozosa, um canto de ação de graças quase extático: “Todos os que estavam sentados no Sinédrio tinham os olhos fixos sobre Estêvão, e viram seu rosto como o rosto de um anjo” (At 6,15).


Convém dizer, antes de tudo, que dentro da dinâmica redacional dos Atos dos Apóstolos, o diácono Estêvão surge aqui como o iniciador formal da ruptura e da libertação da Igreja dos moldes do judaísmo. Alguns judeus de diáspora, convertidos ao cristianismo, queriam viver um cristianismo dentro do marco da Lei e do Templo (que é o pano de fundo do discurso de Estêvão). Estêvão toma, ao contrário, atitudes mais liberais a respeito da Lei e do Templo. Por isso, os judeus da diáspora helenista, que seria a área normal da missão de Estêvão, reagem com fanática hostilidade contra Estêvão: “Aí apresentaram falsas testemunhas, que diziam: ‘Este homem não cessa de falar contra este lugar santo e contra a Lei’” (At 6,13). É sempre assim a atitude das pessoas fracas na argumentação ou pessoas que têm interesses pessoais para serem defendidos/protegidos: atacam as pessoas que argumentam com fundamentos, em vez de aceitar a verdade, com humildade. Temos que aprender a distinguir quem fala e do que se fala. Podemos não gostar de uma pessoa, mas temos que aceitar a verdade da qual ela fala (cf. Mt 23,3). Um pouco de humildade nunca faz mal a ninguém!


Para Estêvão, o cristianismo é um “vinho novo” que deve ser colocado em “odres novos” (Mc 2,22). Para Estêvão o que salva não é a Lei de Moisés ou o Templo e sim a fé em Jesus Ressuscitado. Na ruptura do cristianismo do judaísmo, uma atitude que deve ser levada em conta, uma segunda característica seria traçar um paralelo entre Jesus e Estêvão: Lucas silencia no processo da condenação de Jesus a acusação de querer destruir e reconstruir o templo (Mc 14, 57-58 e par.) e movê-lo para Estêvão (At 6,14). Lucas é o único que na hora da morte apresenta Jesus e Estêvão com palavras de perdão para os inimigos (Lc 23,34 e At 7,60). Um recurso literário para colocar um junto ao outro, o Mestre e o discípulo, também a liturgia faz no ciclo de Natal, em 25 (Nascimento de Jesus) e 26 de Dezembro (martírio de Estêvão): colocar um junto ao outro. Estêvão é o primeiro a selar com o sangue a mudança libertadora que Jesus introduz no mundo.


O mundo continua mudando, a tecnologia continua avançando, o tempo continua fluindo ou fugindo e a idade continua subindo. Temos que ter coragem de fazer determinadas rupturas com determinadas coisas que nos impedem de avançar e de crescer para não infantilizarmos nossa vida. É preciso ter muito discernimento do Espírito, isto é, a capacidade de descobrir o que vale a pena e o que não vale a pena segurar. Não vale a pena o esforço de segurar o tempo e o vento, pois escapam de nosso controle. Quem não tem coragem de renunciar a muita coisa, atrasa o crescimento a ponto de se tornar estéril (cf. Jo 15,1-5).


Procuramos Jesus Porque Ele É Nosso Salvador


Continuamos a acompanhar a consequência ou a reação da multidão diante da multiplicação dos pães e peixes. A multidão saciada pelos pães multiplicados quer fazer Jesus de rei. Mas Jesus se afastou da multidão. Jesus não se deixa cair nas garras do poder mundano. Ele quer manter ser Filho de Deus até o fim.


O texto do evangelho deste dia quer enfatizar, precisamente, o problema da pessoa de Jesus e da capacidade da fé para descobrir o mistério que está por trás dos sinais operados por Jesus. João convida os ouvintes a estarem sempre em estado de busca autêntica da pessoa de Jesus para entender suas palavras e obras.


Quando revela sua própria pessoa Jesus emprega uma fórmula nova: Pão da vida, que era algo desconhecido no AT. Assim como outras fórmulas tais como “Luz da vida” (Jo 8,12), “Palavra de vida” (1Jo 1,1), “água de vida” (Ap 21,6;22,1), Bom Pastor (Jo 10), Videira (Jo 15) e assim por diante. A expressão “Pão da vida” quer nos transmitir que Jesus é a verdadeira vida imortal. Quem crê em Jesus, no sentido de viver de acordo com seus ensinamentos já está com a vida imortal porque está com Jesus e Jesus está nele.


“Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”.


Jesus alerta à multidão que o que ela busca é apenas algum benefício imediato, um puro consumismo. No imediatismo, na superficialidade, no consumismo procura-se um Deus utilizável; um Deus que sirva para nossos pequenos interesses e caprichos; um Deus comerciante que distribua seus benefícios para os homens; um Deus padeiro que multiplica os pães de maneira mágica sem nenhum esforço da parte do homem; um Deus à nossa pequena medida para satisfazer nossos pequenos desejos e prazeres. O Deus que nos tira do comodismo e da passividade afastamos imediatamente. O imediatismo, o consumismo nos deixa vazios por dentro. O consumismo nos leva a buscarmos o nosso próprio bem-estar e abandonarmos o bem que deveríamos fazer. O consumismo nos leva a corrermos atrás de nossos próprios interesses para, depois, cairmos na indiferença e sermos alheios para o apelo de quem necessita do básico para viver. O consumismo nos faz esquecermo-nos do amor. Quem se alimenta só do efêmero vive sem raiz profunda e fácil de ser derrubado em qualquer momento por um pequeno sopro do vento da vida.


 “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. “Eu gostaria de falar de Deus não nos limites e sim no centro; não na debilidade e sim na força; não a propósito da morte e da carência e sim da vida e da bondade do homem” (Bonhoeffer). Somente Deus fala bem do próprio Deus e somente Cristo é o verdadeiro interprete do Pai, pois Ele é a própria Palavra de Deus feita carne e por isso, devemos acreditar n’Ele: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”. Ninguém pode manejar Deus.


Esforçai-vos, não pelo alimento que perece, mas pelo que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará (Jo 6,27). 


Não somos somente animais de necessidades: comer, beber, dormir, respirar, vestir-nos e assim por diante. Não somos homens unidimensionais que sacrificamos nossa vida aos imperativos de ídolo do consumismo. Somente com o pão, o homem não se satisfaz. Somos homens multidimensionais. Somos homens de sentido. Somente encontrando o sentido de sua vida, o porquê e o para quê da vida é que o homem alcançará sua verdadeira felicidade, paz e serenidade. Sem o alimento interior o homem cairá no vazio. Necessitamos cuidar do Eterno dentro de nós.


O homem de hoje, ainda que não conscientemente, busca felicidade, segurança, vida, verdade e o sentido da vida. Há boa vontade em muita gente. O que essas pessoas necessitam é que alguém lhes ajude. Às vezes tem uma concepção pobre da fé cristã por temor ou por um sentido meramente de preceito ou por interesse. Alguns procuram Deus pelos favores que d’Ele esperam, sem buscar o próprio Deus. Se nós cristãos ajudarmos as pessoas que buscam Deus, com nossas palavras e obras, se formos sinais de Deus nesta terra, creio que muitas pessoas vão procurar não somente alimento que se perde, mas principalmente alimento que perdura para sempre que é Cristo que dá valor para o resto. A partir de Cristo tudo ganha seu próprio valor.


É importante recordar que nem tudo que você quer é o que você necessita e nem tudo que você necessita você vai conseguir no momento em que desejar. Mas apesar de tudo, nunca renuncie a suas metas e por isso, continue em frente! Não permita que as desilusões da vida abortem seu potencial e o afastem de seus sonhos de dignidade. Procure fazer as coisas e estar com as pessoas que acrescentam valor à sua vida. Não basta encontrar solução para a necessidade material; há que aspirar para a plenitude humana e isso requer a colaboração do homem: “Esforçai-vos”. O alimento que se acaba (o pão) dá somente uma vida que perece. O que não se acaba, que é o amor, dá vida definitiva. O pão há de ser expressão do amor. Precisamos ser sinais de amor para os demais. Na ausência desse amor, perdermos nossa autoridade de cristãos e não teremos nada para oferecer para as pessoas que buscam o sentido da vida.


A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”, disse Jesus à multidão que o procurou. É curiosa a escolha dos termos laborais (termos que tem a ver com o trabalho) no texto de hoje: a obra, o trabalho. Crer em Jesus para o evangelista João é considerado como trabalho, como esforço. Por que crer em Jesus é considerado como trabalho ou esforço? Porque a tradição, a mentalidade herdada, as ideias que se tem são algo complexo. O mundo em que vivemos pode nos dificultar muito a crer em Jesus Cristo. Em todos os momentos temos que renovar nossa fé em Deus com muita oração, muita reflexão e muita atenção ao que acontece ao nosso redor e no mundo. O que Deus quer de nós diante de tudo isso? O que Deus quer que façamos diante dos acontecimentos. Em cada acontecimento há sempre algum recado de Deus e há, ao mesmo tempo, uma chamada da parte de Deus para que façamos algo.


Esforçai-vos, não pelo alimento que perece, mas pelo que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27). Meditemos e reflitamos bem sobre esta frase! Necessitamos reconhecer nossa necessidade de Deus onde se encontra o sentido de nossa vida. Não deixemos que essa necessidade seja coberta por algo efêmero.


Portanto, que Deus abra nosso coração, ilumine nossa mente e aviva nosso amor para que possamos sentir ou experimentar Sua presença indispensável para nossa vida e salvação.
 
P. Vitus Gustama,svd

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