sexta-feira, 31 de julho de 2020

Domingo,02/08/2020
A Multiplicação dos Pães: milagre ou simples partilha ...Jesus Alimenta 5.000Evangelho de hoje (Mt 14,13-21) - Egídio Serpa | Egídio Serpa ...

VIVER NA COMPAIXÃO E NA PARTILHA  COMO JESUS
XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM “A”


Primeira Leitura: Is 55,1-3
Assim diz o Senhor: 1“Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. 2Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento do vosso corpo. 3Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida; farei convosco um pacto eterno, manterei fielmente as graças concedidas a Davi”.


Segunda Leitura: Rm 8,35.37-39
Irmãos: 35Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? 37Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou! 38Tenho a certeza de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente, nem o futuro, nem as forças cósmicas, 39nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.


Evangelho: Mt 14,13-21
Naquele tempo, 13 quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. 14 Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. 15 Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!” 16 Jesus, porém, lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!” 17 Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. 18 Jesus disse: “Trazei-os aqui”. 19 Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida, partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. 20 Todos comeram e ficaram satisfeitos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. 21 E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo


Nós nos encontramos diante de uma das verdades mais consoladoras da Sagrada Escritura: o amor misericordioso e compassivo de Deus que se revela no rosto e no agir de Jesus Cristo.


A Primeira Leitura tirada do Segundo Isaías (Is 55,1-3) nos fala do grande banquete dos tempos messiânicos para o qual todos são convidados. Basta que qualquer um tenha “fome e sede”, e já é candidato apropriado para aproximar-se do amor de Deus. É a pobreza humana que comove o coração de Deus: “Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga” (Is 55,1). A fome e a sede expressam adequadamente essa necessidade vital e profunda que o homem experimenta de Deus e de seu amor.


Todo o poema do texto da Primeira Leitura intenta levantar os ânimos dos desterrados (na Babilônia-contexto do texto) com a esperança da iminente volta do desterro para Jerusalém. Diante da teimosia da  incredulidade de seu povo, o poeta é obrigado a recorrer à Palavra de Deus (Is 55): o Senhor sempre cumpre suas promessas (Is 40,8), sua palavra é cumprida (Is 55,4), ela nunca volta vazia (Is 45,23). A imagem dos vv 1-3 do texto é extremamente simples. Um vendedor ambulante oferece suas mercadorias: trigo, água, vinho aos homens famintos e sedentos (v.1). Esses produtos alimentares não são reservados aos ricos e poderosos, mas a todos os seres humanos, pois são absolutamente gratuitos. O único requisito é sentir vontade de comer e beber.


E esta imagem tão simples está carregada de um profundo significado. Em primeiro lugar, o vendedor é o profeta que fala em nome de Deus. O produto que oferece é de tal qualidade que não se pode colocar preço. Por isso, é gratuito. Em segundo lugar, os famintos e sedentos são os exilados/desterrados. Todos eles estão privados do alimento primordial da liberdade. onde encontrar esse alimento? Os exilados/desterrados andam um tanto despistados/desorientados e nesta desorientação eles comem e bebem algo que nunca pode acalmar sua fome e sua sede: “Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa?” (Is 55,2; cf. Is 41,17; 48,21; 49,10...). Em terceiro lugar, o trigo evoca não um pão qualquer e sim o Pão da Palavra divina: “O homem não vive somente de pão e sim de tudo que sai da boca de Deus” (Dt 8,3; Mt 4,4). Por ter desprezado tantas vezes este Pão da Palavra, o profeta Amós nos recriminará: “Virão dias em que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão, nem uma sede de água, mas de ouvir a Palavra do Senhor” (Amós 8,11). Em quarto lugar, vinho e leite, alimentos com os quais a Palavra de Deus é comparada, são listados com muita frequência na Bíblia como bens elementares e, ao mesmo tempo, insuperáveis (Is 60,16; 66,11 ...; Ct 5,1...). O profeta nos convida a participarmos no banquete desta Palavra, fonte de vida, em recorrer ao Senhor (cf. paralelismo entre "vinde por água": versículo 1, e "vinde a mim": versículo 3a). O bem oferecido é gratuito, a libertação do povo (Is 52,3). Se o ser humano se abrir ouvindo a Palavra (v. 3a), obterá a vida (uma idéia muito frequente em todo o Dt, cf. também Ez 20,11/21 ...).


E no Evangelho proclamado neste Domingo também aparece um grupo de homens sem pão, sem sustento. Assim como no desterro Deus multiplicou os meios de sustento do ovo faminto, assim Jesus hoje dará de comer a uma multidão que não tem com que satisfazer suas necessidades básicas. O alimento material nos leva à consideração de um alimento de caráter espiritual e que responde à necessidade mais essencial do homem: seu desejo de experimentar Deus, seu anseio de sentir-se eternamente amado por Deus. O amor esponsal está escrito na alma humana com selo ou carimbo indelével (difícil de apagar ou arrancar).


Deste amor são Paulo teve experiência e o proclama com franqueza e simplicidade, que lemos no texto da Segunda Leitura de hoje: Quem poderá nos separar do amor de Cristo? não há potência alguma capaz de nos afastar do amor de Cristo. em Cristo se revela o rosto amoroso e misericordioso, cheio de compaixão do Pai do céu.


Podemos dizer que o banquete na Bíblia é uma imagem do amor de Deus. Quando falamos do banquete escatológico, falamos do amor de Deus que será manifestado no final dos tempos. É “lugar” e ocasião de felicidade e regozijo. As viandas (alimento e bebida) são símbolos dessa felicidade que superou as tristezas da vida: água que refresca e sacia a sede; o vinho que alegra o coração do homem; leite e mel que expressam a abundância, suavidade e beleza da terra prometida. O homem tem uma sede profunda, como ficou evidente no diálogo entre Jesus e a mulher samaritana. "Quem beber desta água terá sede novamente. Mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ele se tornará uma fonte que saltará para a vida eterna" (cf. Jo 4).


O homem é um eterno viajante e peregrino que conhece a sede e a fome da estrada. É um ser que busca, anseia, ansioso por encontrar sua paz e descanso. No entanto, ele nem sempre consegue encontrar o que sacia a sede de sua alma. A contemplação do mundo nos diz que sua situação é dramática. Ele desc. Ele se abandona ao mal e se torna extremamente cruel para si mesmo.


Portanto, a linguagem do profeta Isaías é muito atual, é um convite para não gastar no que não nos dá comida, no que nos deixa igualmente famintos.


A condição que Deus nos pede para encontrar esta água, este vinho, este leite e mel é a de escutar atentamente a Palavra de Deus e refletir sobre ela para descobrirmos a verdade de nossa vida de cada dia. trata-se de “inclinar o ouvido”, de inclinar a alma, de inclinar a arrogância, de inclinar a vida inteira para contemplar o Pão de Deus, a Aliança que Deus estabeleceu com seu povo, todos nós. a fonte da vida se encontra na Palavra de Deus que se faz preceito, que se faz orientação, que se faz aliança e que se faz carne em Jesus Cristo (Jo 1,14). Deus fala a seu povo e o povo deve escutar atentamente a Deus, pois Ele ama seu povo eternamente. E o amor de Deus é tão poderoso que ninguém é capaz de nos separar do próprio Deus. Este Deus não permite que adoremos a outros deuses para não nos tornarmos desterrados de nossa própria vida.


Portanto, cabe a nós escutarmos a voz de Deus. escutar é uma atitude bíblica. Não é simplesmente ouvir como transeunte distraído e desmemoriado.  Escutar é acolher, é ponderar na alma, como Maria. Escutar é prestar ouvido, prestar a aqiescência (consentimento) da inteligência e vontade. Escutar é prostrar-se diante de um Deus que fala e se revela. Escutar é tirar-se as sandálias para entrar no lugar santo. Escutar é recolher a alma e o espirito, e dizer com humildade: “Eis-me aqui, Senhor”. Diante de Deus que se revela o homem deve prestar a humilde submissão. Com efeito, o drama do homem consiste em “não escutar” a voz de Deus, não querer confiar na veracidade e no amor de Quem se revela.


Um Olhar Especifico Sobre o Evangelho Deste Domingo


A alimentação da multidão (multiplicação de pães) é o único milagre narrado em todos os quatro evangelhos (Mc 6,32-44; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15), e o único narrado duas vezes (em duas versões variantes) em Mc (Mc 8,1-10) e em Mt (Mt 15,29-39). Obviamente o relato da multiplicação tem sua alusão a Ex 16, história do maná no deserto (aqui se diz no lugar deserto) e a 2Rs 4,42-44 (Eliseu alimentou 100 pessoas com 20 pães e ainda sobraram) para dizer que a atividade de Jesus é uma atividade de êxodo, isto é, libertar o povo de todo tipo de escravidão, inclusive da escravidão da fome ensinando os cristãos a partilharem o que se tem com os que nada têm. Por isso, no evangelho de hoje se lê a seguinte frase: “Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama”.  “Sentar-se” ou “Recostar-se” durante a refeição era próprio dos homens livres e era a posição adotada para a refeição pascal, em recordação da libertação do Egito sob o comando de Moisés (Cf. Ex 12).


Jesus é um novo Moisés, cuja missão é libertar o seu Povo da escravidão (do pecado), a fim de conduzi-lo à terra da liberdade e da vida plena. Cada cristão é chamado a exercer a mesma missão.


Ao relatar esse episódio Mt segue a tradição de Mc, embora ele omita vários detalhes. Mc (e Lc) situa a cena da primeira multiplicação logo depois do relato da volta dos discípulos de sua missão apostólica (cf. Mc 6,30s; Lc 9,10). Mt coloca a cena logo depois que Jesus recebeu a notícia da morte de João Batista (cf. Mt 14,12). A referência ao rebanho sem pastor (Mc 6,34) não se menciona em Mt (somente em Mt 9,36, mas em outro contexto).


Vamos estender nossa meditação sobre algumas de tantas mensagens do texto do evangelho lido neste dia.


1. Retirar-Se Para O Deserto Para Aprender A Despojar-Se


Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto” (Mt 14,13).


No seu relato Mt diz que Jesus se retirou para o deserto depois que soube da morte de São João Batista. Joao Batita era um grande líder popular em quem a população depositava sua confiança. Com sua morte, o povo, em geral, fica desnorteado. Jesus ficou sabendo da morte de João Batista por ordem do rei Herodes Antipas (Mt 14,1-11). Ao saber da morte de João Batista, Jesus se retirou para o deserto para entrar na intimidade com Deus a fim de refletir sobre o acontecimento dentro do plano de Deus. Na oração ele se fortificou. Tanto que quando saiu do barco ele viu a multidão miserável e começou a curar todo mundo, até saciou a fome da multidão. Esta multidão encontrou em Jesus um grande líder.


O deserto é o tempo e o espaço do encontro com Deus onde cada cristão aprende a despojar-se das suas seguranças humanas, das suas certezas, da sua auto-suficiência, para viver na liberdade. O deserto como lugar de carência de tudo; é o lugar e o tempo onde as pessoas aprendem a partilhar, e por isso é o lugar onde se vive a igualdade, pois cada membro do Povo conta com a solidariedade do resto da comunidade. Por isso, o deserto é o lugar onde não há egoísmo, injustiça, prepotência. Não é por acaso que Jesus leva seus discípulos para o deserto e é seguido pela multidão. No deserto é que Jesus vai ensinar a viver a vida de partilha, pois onde há partilha as coisas sobram suficientemente. Na ausência da partilha, porque muitos agarram as coisas só para si, a grande maioria fica sem nada nem para sua necessidade básica. A partilha é uma maneira de se libertar da escravidão do egoísmo que mata, pois o egoísmo deixa o homem no isolamento e na solidão. A partilha é um caminho que nos leva de volta para o amor motivo pelo qual fomos criados. Ao ensiná-los a partilhar Jesus quer lhes dizer que tudo é um dom de Deus para os homens. E os dons de Deus são para ser partilhados, colocados ao serviço dos irmãos. É deste processo libertador – que conduz do egoísmo ao amor – que vai nascer a comunidade do Reino.


Somos convidados a retirar-nos diariamente. O principal objetivo de retirar-se é fazer com que, quando avançarmos, avancemos na direção que Deus quer. Retirar-se é essencial para tomarmos as decisões e fazermos as escolhas certas: as que realmente queremos e as que estimulam a vida. Retirar-se pode nos trazer tanto uma resposta quanto uma solução ou podem surgir novas perguntas. Mesmo que não obtenhamos respostas claras para muitas das grandes perguntas da vida, é vital continuar a recordar quais são as nossas perguntas. Perder as perguntas é certamente perder-se no caminho.


2. Viver E Conviver Como Compassivos


Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles...” (Mt 14,14).


A multidão faminta do sentido da vida foi atrás de Jesus. Isto significa que essa multidão encontrou em Jesus aquilo que ela estava procurando. Em outras palavras, Jesus tinha algo a oferecer para saciar a fome da multidão.


Será que a Igreja tem algo a oferecer que faça a multidão procurá-la? Ou será que ela vive preocupada apenas com os preceitos que a multidão deve cumpri-las? Os cristãos de hoje têm algo a oferecer ao mundo que talvez esteja vivendo o cansaço existencial?


Diante da multidão faminta do sentido da vida Jesus se mostrou compassivo. Compaixão é muito mais do que um sentimento. Compadecer-se significa sair de si mesmo levando consigo o que tem, por pouco que seja, para compartilhá-lo com o que não o tem e por isso mesmo sofre. A compaixão é uma atitude primordial de Deus. Por isso, quando se fala da compaixão, não se trata de um vago sentimento de comoção. O verbo usado por Mateus neste Evangelho é muito forte e quer dizer sentir-se perturbado nas entranhas. A compaixão, por isso, nos pede que vamos até onde existem feridas, que entremos em lugares onde existe o sofrimento, que compartilhemos os desânimos, os temores, as angústias dos nossos semelhantes. No Evangelho este verbo é usado exclusivamente em relação a Jesus ou a Deus. Por isso, quem tem compaixão, ele tem algo de Deus dentro de si.


Esta profunda compaixão diante das necessidades dos nossos semelhantes é a primeira condição para nos sentirmos motivados para a ação. Quem permanece impassível, quem não alimenta os sentimentos de Cristo, muito dificilmente será induzido a fazer qualquer coisa pelos semelhantes. Por isso, quando der alguma ajuda, ele dá somente para obedecer a alguma imposição externa, a uma convenção social, e não por uma premente necessidade interior.


3. Temos Responsabilidade Diante Da Fome Da Maioria


Despede as multidões para que possam ir aos povoados comprar comida”, diz os discípulos a Jesus (Mt 14,15b). Mas recebem a resposta de Jesus: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).


Os discípulos têm pena da multidão que está com fome, por um lado. Mas por outro lado, eles reconhecem a incapacidade de saciá-la com cinco pães apenas. Como resolver o problema? Eles aproximam-se de Jesus não para lhe perguntar que planos Jesus tem, mas para oferecer-lhe uma “solução”: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida” (v.15). A solução oferecida pelos discípulos, então, é despedir para comprar. Em outras palavras, cada um tem que prover para si mesmo, por meio de dinheiro. Mas vem a pergunta: “Será que toda esta multidão tem dinheiro?”


Comprar e vender (pães) supõem orientar as relações sociais pelas leis da economia, onde impera a concentração de bens e a exploração; supõem submeter-se às leis econômicas que mantém essa multidão na miséria. Sabemos que onde há concentração de bens e alimentos, lá há sempre fome. Neste contexto, quem tem dinheiro, tem direito de comer; quem não o tem, torna-se vítima da fome. O que tem por trás disso é o egoísmo. E as pessoas contaminadas pelo egoísmo acabam virando as costas para o semelhante em dificuldade.


A atitude que Jesus tem com a multidão faminta do pão e da palavra contrasta com a sugestão dos discípulos. A “comprar” Jesus opõe “dar” e ”repartir”: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” (v.16). Jesus ensina-lhes, dessa forma, que eles têm uma responsabilidade diante desse desafio que o mundo dos pobres diariamente grita. Todos os cristãos jamais poderão dizer que não têm nada a ver com a fome, com a miséria, com as necessidades dos mais desfavorecidos. Qualquer irmão necessitado, seja de pão, de alegria, de apoio, ou de esperança, é da responsabilidade de todos os que se declaram cristãos ou pessoas de boa vontade.


4. A Partilha É O Caminho De Multiplicação De Dons Recebidos


Só temos aqui cinco pães e dois peixes” (Mt 14,17)


Que adianta ter cinco pães e dois peixes para alimentar a fome da multidão?! É muito pouco! Mas Jesus pede que lhe entreguem o pouco que se tem: “Trazei-os aqui!” (Mt 14,18). Precisamos colocar nas mãos de Deus nossos pobres recursos humanos. A lição é bem clara: diante do apelo dos necessitados, os cristãos precisam aprender a partilhar. Para Jesus, o eterno problema da vida não é a falta do pão, e sim as causas que geram a falta do mesmo na mesa da grande maioria. O que se revela mais não é a ausência do pão, e sim a presença do egoísmo, do individualismo, da ganância e da total ausência do amor fraterno. Não agarre aquilo que não vale a pena ser agarrado, pois ao agarrá-lo, perde seu valor. É o agarrar em vão, pois um dia cada um será obrigado a largar tudo. Ao partilhá-lo, ao contrário, ganha seu valor.


“Cinco pães e dois peixes” significam totalidade (“sete” é a soma dos 5+2). É na partilha da totalidade do que se tem que se responde à carência dos irmãos. Quem partilha, vence a escravidão do egoísmo. Ao partilhar, em vez de perder, o cristão ganha muito mais. É o paradoxo do Reino de Deus: aquilo que se dá para o bem do próximo é aquilo que se ganha. O amor dado é o amor recebido. O perdão dado é o perdão recebido. A vida oferecida para salvar o outro é a vida recebida, a vida ressuscitada. Compartilhar ou partilhar é multiplicar. Se quisermos ser verdadeiros cristãos capazes de convencer o mundo, devemos aprender a viver este paradoxo. É preciso que cada cristão quebre a lógica egoísta do lucro e substituí-la pela lógica do dom, da partilha, do amor. Sem a partilha, não haverá um mundo mais justo e mais fraterno.


Quem possui algo para comer, deixa-se tocar por quem não o tem e abre mão, generosamente, do que lhe pertence para saciar a fome do semelhante. Esta atitude funda-se na pura gratuidade e exclui qualquer desejo de recompensa. Nessa direção é que os cristãos, todos nós, devemos caminhar. Tudo parte do amor ao semelhante cuja penúria ou miséria torna-se um apelo para a solidariedade e a partilha.


Se a partilha e a compaixão são a atitude primordial de Deus, portanto repartir o pão significa prolongar a generosidade de Deus- criador: Ele criou tudo por amor e gratuitamente sem nenhum mérito de um ser humano. Por isso, quando se libera a criação ou um ser humano do egoísmo, sobra para cobrir a necessidade de todos. Libertar-se um ser humano do egoísmo significa estar vazio de toda criatura. E “estar vazio de toda criatura é estar cheio de Deus. Ao contrário, estar cheio de toda criatura significa estar vazio de Deus” (Mestre Eckhart).


5. Um Banquete Da Libertação E Da Dignidade Humana Prefigura O Banquete Eterno: O Gesto Aponta Para A Eucaristia


Então, Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães e os deu aos discípulos” (Mt 14,19). São as palavras que apontam para a Eucaristia (Mt 26,26-29).


Jesus pede que as multidões se sentem na grama (Mt 14,19). No primeiro êxodo Deus alimentou Israel no deserto (Ex 16); no êxodo definitivo Jesus vai alimentar a multidão no lugar deserto. Comer sentado ou “recostar-se” para comer era próprio dos homens livres e era a posição adotada para a refeição pascal (“grama verde” só existe durante a primavera, supõe que seja o tempo de Páscoa. Cf. Jo 6,4), em recordação da libertação do Egito. O gesto de sentar indica a tomada de consciência da própria dignidade e liberdade. E Jesus quer que a multidão esteja consciente disso. Jesus veio certamente para devolver ao homem a dignidade perdida para fazê-lo livre de todo tipo de prisão.


O que centraliza o acontecimento é o modo como Jesus procede. Ele toma os pães e peixes, ergue os olhos ao céu, pronuncia a bênção, parte os pães e os dá aos discípulos para distribuí-los à multidão (v.19).


Os gestos de Jesus prefiguram a futura ceia que Jesus instituirá na Última Ceia (cf. Mt 26,26-29). A nota cronológica “já é tarde” (v.13) retoma literalmente, o começo do relato da Última Ceia (Mt 26,20). A cena prepara a eucaristia, que será a expressão do dom total de Jesus e dos seus. Ao erguer os olhos ao céu Jesus expressa sua confiança que tem no Pai celeste. Jesus vincula o alimento com Deus. Pronunciar uma bênção significa louvar a Deus e dar-lhe graças por esse alimento, reconhecendo que é dom dele aos homens. Isto quer dizer que tudo que o homem tem, o tem por causa da generosidade de Deus. Por isso, a generosidade de Deus deve alcançar todos, sem ser bloqueada pelo egoísmo ou pela ganância.


Depois da bênção, Jesus encarrega os discípulos de servir os pães e peixes para a multidão. Jesus não lhes confere um poder, mas lhes confia um serviço. Na comunidade, todos os seguidores de Cristo devem ser servidores e não chefes ou mandantes poderosos. O Espírito que Jesus nos infunde que o seguem leva a dar-se aos outros para comunicar vida (alimento). O serviço prestado transmite a generosidade e o amor de Deus criador e doador de vida. Não somos donos dos dons, mas simplesmente distribuidores ou partilhadores dos mesmos. Aquele que recebeu esse dom não é o seu dono; mas é apenas um administrador a quem Deus confiou determinado dom, para que o pusesse ao serviço dos irmãos com a mesma gratuidade com que o recebeu. Na verdade, sentar-se à mesa com Jesus e receber o pão que Ele oferece (Eucaristia), é assumir uma vida de partilha, de amor, e de serviço. Celebrar a Eucaristia obriga-nos a lutar contra as desigualdades, o egoísmo, os sistemas de exploração, a ganância e assim por diante.
P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 29 de julho de 2020

01/08/2020
SÉRIE- Conheça: O Profeta Jeremias – Nosso JornalEvangelho (Mt 14,1-12) — O Senhor... - Paróquia Cristo Operário e ...

SER CRISTÃO É SER PROFETA E MÁRTIR DA VERDADE
Sábado da XVII Semana Comum


Primeira Leitura: Jr 26,11-16.24
Naqueles dias, 11 os sacedotes e profetas dirigiram-se aos chefes e a todo o povo, dizendo: “Este homem foi julgado réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com vossos ouvidos”. 12 Disse Jeremias aos dignitários e a todo o povo: “O Senhor incumbiu-me de profetizar para esta casa e para esta cidade através de todas as palavras que ouvistes. 13 Agora, portanto, tratai de emendar a vossa vida e as obras, ouvi a voz do Senhor, vosso Deus, que ele voltará atrás da decisão que tomou contra vós. 14 Eu estou aqui, em vossas mãos, fazei de mim o que vos parecer conveniente e justo, 15 mas ficai sabendo que, se me derdes a morte, tereis derramado sangue inocente contra vós mesmos e contra esta cidade e seus habitantes, pois em verdade o Senhor enviou-me a vós para falar tudo isso a vossos ouvidos”. 16 Os chefes e o povo em geral disseram aos sacerdotes e profetas: “Este homem não merece ser condenado à morte; ele falou-nos em nome do Senhor, nosso Deus”. 24 Jeremias passou a ter proteção de Aicam, filho de Safã, para não cair nas mãos do povo e evitar ser morto.


Evangelho: Mt 14,1-12
1 Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do governador Herodes. 2 Ele disse a seus servidores: “É João Batista, que ressuscitou dos mortos; e, por isso, os poderes mira­culosos atuam nele”. 3 De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. 4 Pois João tinha dito a Herodes: “Não te é permitido tê-la como esposa”. 5 Herodes queria matar João, mas tinha medo do povo, que o considerava como profeta. 6 Por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou tanto a He­ro­des 7 que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse. 8 Instigada pela mãe, ela disse: “Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista”. 9 O rei ficou triste, mas, por causa do juramento diante dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela. 10 E mandou cortar a cabeça de João, no cárcere. 11 Depois a cabeça foi trazida num prato, entregue à moça e esta a levou a sua mãe. 12 Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois foram contar tudo a Jesus.
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Viver Conforme a Palavra De Deus


Os sacerdotes e profetas dirigiram-se aos chefes e a todo o povo, dizendo: ‘Este homem foi julgado réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com vossos ouvidos’. Os chefes e o povo em geral disseram aos sacerdotes e profetas: ‘Este homem não merece ser condenado à morte; ele falou-nos em nome do Senhor, nosso Deus’”. É a condenação e a proteção do profeta Jeremias ao mesmo tempo.


Este homem foi julgado réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com vossos ouvidos”.


É surpreendente a correspondência dessa cena e o processo da condenação de Jesus. Jeremias é figura de Jesus Cristo. A Paixão de Jesus ocupa tanto lugar nos evangelhos, como parte mais importante de sua vida, que , no entanto, parecia tão contrária à espera messiânica e à ideia que um grupo ou um conjunto de homens que se fazem Deus. A Paixao de Jesus foi preparada desde muito antes. Deus, mistério de amor absoluto, se deixa julgar pelo homem que necessita de salvação, mas precisamente, nesse excesso de amor está seu triunfo final.


Se Jeremias é figura de Cristo, há que dizer que todo homem, todo cristão que sofre pela justiça participa, em certa maneira desse mesmo mistério. A Paixão de Jesus continua naqueles que sofrem pela justiça vivida e anunciada. São Paulo escreveu: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24).


“Este homem não merece ser condenado à morte; ele falou-nos em nome do Senhor, nosso Deus’” é a defesa que os verdadeiros chefes e o povo em geral fazem em favor do profeta Jeremias. São representantes dos que defendem a verdade e vivem na sinceridade de coração. Para Jeremias, quando tudo parece perdido, a defesa consegue salvá-lo da condenação à morte.


Jeremias havia convidado o povo de Deus à conversão. Ele havia indicado que um culto dado a Deus com as mãos manchadas pelos crimes e maldades era um culto vazio, do qual Deus retirava seu olhar. Ele havia indicado a necessidade de voltar para Deus antes que a cidade e o templo fossem destruídos a causa da maldade de seus habitantes, de suas autoridades e dos sacerdotes. Sem a conversão sincera do povo todo o que se espera é apenas a desgraça, segundo o profeta Jeremias. E a tentativa de assassinar o profeta que anuncia a Palavra de Deus significa estar contra o próprio Deus. E o sangue do inocente (profeta) clamará diante de Deus como aconteceu com o sangue do inocente Abel assassinado pelo próprio irmão, Caim (Gn 4,10-11).


O Senhor nos convida a abrirmos nosso coração, através de uma conversão sincera, para que Aquele que é a Palavra encarnada, Jesus Cristo, realmente possa habitar em nós. Quem recusa o convite para uma sincera conversão, prepara a própria desgraça, isto é, uma vida sem a graça de Deus e põe em risco a própria salvação. No sangue de Cristo encontramos a salvação.


Somos Convidados a Ser Testemunhas Da Verdade a Exemplo de João Batista


Na passagem do Evangelho deste dia fala-se da identidade de Jesus, relacionada à de João Batista. O motivo dessa colocação é sempre o mesmo: para entender Jesus há que entender antes quem é João Batista, pois João Batista é o Precursor de Jesus. O destino de João Batista preanuncia o de Jesus.


O evangelho nos relatou que a fama de Jesus estava cada vez mais espalhada ao seu redor. Por isso chegou também aos ouvidos de Herodes Antipas que já tinha mandado decapitar João Batista. A presença e a fama de Jesus incomodam a consciência de Herodes Antipas: “É João Batista, que ressuscitou dos mortos; e, por isso, os poderes miraculosos atuam nele”, pensou Herodes Antipas. Herodes Antipas que já tinha mandado decapitar João Batista, por instigação de Herodiades, ficou sem a consciência tranquila.


A partir da reação de Herodes Antipas é que se conta o drama da vida de João Batista que denunciou Herodes por ter se casada com Herodíades, ex-mulher de seu irmão, pois era proibido pela Lei (cf. Lv 18,16).


A adúltera Herodíades não gostou da denúncia de João Batista em nome de seu prazer e interesse pessoal, e procurava algum meio para surpreender João Batista e esperava momento certo para vingar-se. Quando chegou o momento oportuno ela pediu, através de sua filha (como meio), a cabeça de João Batista (vingança).


Herodes Antipas ouve com agrado João Batista, mas não lhe obedece. Seu coração está dividido. Herodes ouve João Batista, e sua consciência desperta em lucidez. Mas Herodes Antipas também ouve Herodíades, sua amante, e se embriaga em paixão. Herodes Antipas vive entre a lucidez e a paixão. O coração de Herodes Antipas é dividido. Do coração dividido de Herodes Antipas nasce a morte de João Batista. De seu coração dividido sai a divisão entre a cabeça e o corpo de João Batista numa degolação. Incapaz de obedecer à verdade, Herodes Antipas mata um inocente, o profeta de Deus. Incapaz de escutar o homem de Deus, Herodes Antipas silencia para sempre a voz de João Batista. Incapaz de segui-lo, Herodes Antipas detém João Batista na cadeia para depois encerrar sua vida com uma espada. Quando não se respeita a verdade, quando não se vive a caridade fraterna, o número de vítimas de violência e de agressão aumentarão cada vez mais. Os inocentes são , na maioria, sempre vítimas disso tudo.


João Batista é o último profeta do Antigo Testamento. Ele enfrenta abertamente os governantes da nação para chamá-los à mudança e para exigir um comportamento ético. O deserto, lugar de sua pregação, é símbolo de sua oposição à cidade e ao templo. Ele quer reviver a experiência do êxodo e recordar seu povo que o destino depende completamente da fidelidade a Deus. No entanto, como qualquer profeta, João Batista pagou o preço alto de sua denúncia: a própria vida. Herodes, ainda que tivesse respeito pelo João Batista, se submeteu diante das pressões da adúltera Herodíades que pediu a cabeça de João Batista.


A morte de João Batista antecipa a morte de Jesus como mártir. Ambos são encarcerados injustamente, ambos rubricam com seu sangue a verdade de Deus. Jesus espera o mesmo destino de João Batista. Um profeta autêntico não é somente recusado em sua própria pátria (cf. Mt 13,57), mas também essa recusa termina, muitas vezes, com sua morte.


A denúncia de João Batista nos mostra que o Evangelho não é neutro. Diante de certos grandes problemas, o Evangelho toma posição com o risco de conduzir os crentes para o martírio pelo fato de defender a verdade, a justiça, a honestidade e assim por diante.


A figura de João Batista é admirável em sua coerência, na lucidez de sua pregação e de suas denúncias. João Batista é valente e comprometido. Diz a verdade ainda que desagrade. É figura também de tantos cristãos que morreram vítimas da intolerância pelo testemunho que davam contra situações injustas e insuportáveis do ponto de vista da justiça e da honestidade. Os “profetas mudos” prosperam, mas os autênticos terminam pagando tudo com a própria vida.


A verdade continua sendo a verdade, embora o pregador da verdade possa ser eliminado por aqueles que vivem na mentira e na falsidade. E por isso é que a verdade não pode ser eliminada ou enterrada. O tempo vai mostrar que a verdade vencerá tudo e todos.


Toda vez que celebramos o martírio de um discípulo de Cristo tocamos o próprio núcleo de nossa fé. A Igreja de Cristo é a Igreja dos profetas e dos mártires. Por ser profeta o cristão se torna mártir, isto é, aquele que testemunha a verdade e paga com seu sangue a verdade proclamada. A função profética é uma das funções de qualquer batizado. No dia em que é ungido com o óleo de crisma no momento de seu batismo, o cristão recebe as três funções: profética, sacerdotal e real. Ele é batizado para proclamar a verdade, praticar o bem e não para compactuar o mal e a maldade. O cristão se santifica vivendo de acordo com a verdade e o bem. Ele vive e prega os valores do Evangelho como a verdade, a honestidade, a justiça, a caridade, a solidariedade, partilha, igualdade e assim por diante.


Mas o que acontece é que estamos tão acostumados com o comodismo. Muitas vezes nos sentimos instalados comodamente no acampamento capitalista ou nas avenidas do hedonismo. Ninguém vai nos perseguir se não vivermos nosso martírio, nosso verdadeiro testemunho dos valores ensinados por Jesus Cristo.


A vida do cristão deve ser iluminada e conduzida pela verdade. A vida iluminada pela verdade ameaça quem está na sombra da desonestidade, da corrupção e da falsidade, e este reage violentamente diante da verdade em nome da defesa dos seus interesses e prazeres individuais. Toda vez que os cristãos se arriscarem para adentrar-se nos territórios obscuros, eles vão pagar o preço com sua própria vida, como João Batista. Toda vez que a Igreja abrir a boca contra a injustiça, a desonestidade, a corrupção, a exploração do ser humano, ela será perseguida. Mas dar a vida é a única maneira de dar vida. Ser verdadeira Igreja de Cristo não dá para parar de sofrer enquanto ela viver seu verdadeiro martírio, seu profundo testemunho de valores. A verdadeira Igreja de Cristo é a Igreja dos mártires, das testemunhas de Cristo.


Jesus nos diz que devemos ser luz, sal e fermento deste mundo (cf. Mt 5,13-14). Ou seja, profetas. Ser cristão é estar disposto a tudo. Profetas são os que interpretam e vivem as realidades deste mundo a partir da perspectiva de Deus e denunciam quando há injustiça ou desonestidade nelas. Ele faz tudo isso não para eliminar os pecadores e sim o pecado, pois o próprio Deus ama o pecador e odeia o pecado. Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta (Ez 18,19-32).


Geralmente não gostamos de escutar as críticas que nos recordam o lado escuro de nossa vida. Sempre temos dificuldade para escutar um profeta. Mas mesmo que não gostemos de ouvir o profeta, suas palavras continuam a conter a verdade e a verdade nos liberta (cf. Jo 8,31-32), e torna nossa vida mais leve e nosso sono mais sadio. Mesmo que eliminemos o profeta, mas suas palavras continuam a ressoar ou a incomodar nossa consciência, como aconteceu com Herodes. Viver na verdade ou de acordo com a verdade, com a justiça, com a desonestidade, etc. é viver na serenidade.


O Senhor nos reúne em torno d’Ele nas nossas celebrações não para celebrar alguns ritos mágicos e sim para que renovemos diante d’Ele nossa aliança de amor, aliança com a verdade e voltemos a fazer nosso o compromisso de viver e de proclamar Seu Evangelho e construir Seu Reino de amor e de fraternidade entre nós.


Mais uma vez, Herodes ouvia com agrado João Batista, mas não lhe obedecia. Seu coração estava dividido. Herodes ouvia João Batista que despertava sua consciência, mas, ao mesmo tempo, ouvia Herodíades, sua amante e se embriagava em paixão por ela. Herodes estava entre na encruzilhada entre a lucidez e a paixão cega; entre o prazer mortal e a paz da consciência; entre a verdade e a vontade de agradar mesmo pisando sobre a verdade. Ele estava totalmente dividido. Da divisão de seu coração nasce morte. De sua divisão saiu a divisão entre o corpo e a cabeça de João Batista. Herodes foi incapaz de obedecer ao que pregava a verdade e a salvação, mas o matou; incapaz de escutá-lo, o silenciou para sempre neste mundo; incapaz de segui-lo, mas o deteve na prisão para depois eliminá-lo em nome do prazer passageiro.


Acontecerá a divisão dentro de nós mesmos e entre nós toda vez que estivermos desunidos de Cristo. E essa divisão pode produzir morte nosso próximo como aconteceu com Herodes. Estamos divididos toda vez que aplaudimos um corrupto, pois fazemos parte da corrupção. Estamos divididos toda vez que admiramos Cristo e seus ensinamentos, no entanto não fazemos caso de tudo isso. Estamos divididos se pregamos uma moral para o uso próprio em nome de nossos prazeres. O caso de Herodes nos chama a sermos vigilantes. Em qualquer momento podemos perder a razão para agir em nome do prazer e da emoção. O espírito de Herodes não morre.
P. Vitus Gustama,svd


31/07/2020
Jeremias 26:2 - NTLHSeja corajoso como Jeremias — BIBLIOTECA ON-LINE da Torre de VigiaJesus teaching in the temple | Paixão de jesus, Imagens de cristo ...Silêncio ppt carregar
É PRECISO FICAR ATENTO DIARIAMENTE, POIS DEUS SE MANIFESTA NO COTIDIANO
Sexta-Feira da XVII Semana Comum


Primeira Leitura: Jr 26,1-9
1 No início do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, foi comunicada da parte do Senhor esta palavra, que dizia: 2 “Assim fala o Senhor: Põe-te de pé no átrio da casa do Senhor e fala a todos os que vêm das cidades de Judá, para adorar o Senhor no templo, todas as palavras que eu te mandei dizer. Não retires uma só palavra; 3 talvez eles as ouçam e voltem do mau caminho, e eu me arrependa da decisão de castigá-los por suas más obras. 4 A eles então dirás: Isto diz o Senhor: Se não vos dispuserdes a viver segundo a lei que vos dei, 5 a escutar as palavras dos meus servos, os profetas, que eu vos tenho enviado com solicitude e para vossa orientação, e que vós não tendes escutado, 6 farei desta casa uma segunda Silo e farei desta uma cidade amaldiçoada por todos os povos da terra”. 7 Os sacerdotes e profetas, e todo o povo presente ouviram Jeremias dizer estas palavras na casa do Senhor. 8 Quando Jeremias acabou de dizer tudo e que o Senhor lhe ordenara falasse a todo o povo, prenderam-no os sacerdotes, os profetas e o povo, dizendo: “Este homem tem que morrer! 9 Por que dizes, em nome do Senhor, a profecia: ‘Esta casa será como Silo, e esta cidade será devastada e vazia de habitantes?’” Todo o povo juntou-se contra Jeremias na casa do Senhor.


Evangelho: Mt 13, 54-58
Naquele tempo, 54 dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? 55 Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? 56 E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?” 57 E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!” 58 E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.
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Os Maus Caminhos Terminam Na Desgraça, Os Bons Caminhos Estão Cheios Da Graça e Bênção Do Senhor


“Se não vos dispuserdes a viver segundo a lei que vos dei, a escutar as palavras dos meus servos, os profetas, que eu vos tenho enviado com solicitude e para vossa orientação, e que vós não tendes escutado, farei desta casa uma segunda Silo e farei desta uma cidade amaldiçoada por todos os povos da terra”, são Palavras de Deus através do profeta Jeremias, que lemos na Primeira Leitura.


O texto da Primeira Leitura se encontra no conjunto de Jr 26,1-35,19. Este conjunto de textos (Jr 26,1-35,19) se situa durante o reinado de Joaquim, rei de Judá (609-597 a.C). Mas a parte central deste conjunto, isto é, Jr 27-29 acontece na época de Sedecias, rei de Judá (597-586 a.C. Cf. 2Rs 24,17ss) e já ocorrida a primeira deportação. Neste conjunto, o profeta Jeremias lança suas denúncias contra as autoridades e o povo em geral. Com Jr 26 iniciam-se as reações bem violentas diante do discurso do profeta Jeremias contra o templo, como lemos no texto da Primeira Leitura.Apesar de tudo isso, este conjunto termina com uma benção aos Recabitas em Jr 35.


A cena da Primeira Leitura representa um dos momentos culminantes da vida do profeta Jeremias no início do reinado de Joaquim. Jeremias profere um discurso contra o próprio templo. Para Jeremias o templo não tem valor de talismã, isto é, não haverá um resultado mágico de toda a tividade no templo. O uso do templo deve ser uma expressão e consagração da obediência aos mandamentos de Deus e da vivência cotidiana da justiça. Sem isso, o culto praticado no templo carece de sentido ou se torna vão.


A reação diante do discurso do profeta Jeremias é violenta. A reação violenta tanto das autoridades como do povo em geral demonstra o grave escândalo praticado no templo e fora do templo. Para se esconder da maldade praticada, eles acusam o profeta Jeremias de blasfemo. Eles consideram o discurso de Jeremias como um gesto injurioso contra Deus em quem eles acreditam. Mas precisamente o profeta Jeremias fala em nome de Deus: “Assim fala o Senhor: Põe-te de pé no átrio da casa do Senhor e fala a todos os que vêm das cidades de Judá, para adorar o Senhor no templo, todas as palavras que eu te mandei dizer. Não retires uma só palavra”. Logo, são eles mesmos que estão praticando a blasfêmia contra Deus, pois praticam a injustiça e outros delitos. Por isso, no discurso Jeremias anuncia em nome de Deus que eles devem abandonar seus maus caminhos. Se não o fizerem, Deus permitirá desgraça total, e o Templo será destruído, como o de Silo, séculos antes (o templo onde o jovem Samuel havia crescido). Para Jeremias a infidelidade das autoridades e do povo em geral diante do Deus da Aliança foi longe demais.


Como sempre, diante da voz de um profeta autêntico, que não anuncia coisas agradáveis ​​aos ouvidos do povo ou dos líderes, mas o que Deus lhe impõe sempre tem a reação violenta em nome dos interesses e privilégios. Os autênticos profetas sempre pagam o preço com a própria vida. É por isso que houve e continua a haver tantos mártires.


Para ser profeta, é preciso coragem, como a de Jeremias, que não se calou, apesar das ameaças. Como são Pedro diante do Sinédrio ou são Paulo diante de seus inimigos. Acima de tudo, como o de Jesus diante de seus acusadores, que o levaram à morte. A Boa Nova, como justiça, igualdade, verdade, amor e assim por diante é exigente.


Além disso, para nós cristãos, a liturgia é a ação sagrada por excelência da Igreja. Mediante a liturgia Deus entra em uma relação pessoal e íntima conosco, e nós com Ele. No entanto, o lugar do culto não é algo mágico ou um talismã. Não podemos pensar que todos os problemas apresentados serão solucionados sem nossa colaboração e sem nossas próprias responsabilidades. O culto ou a liturgia em geral não pode ficar vazio de amor, da verdade e da justiça que é nosso compromisso como crentes.


O Senhor nos reúne na Eucaristia não para celebrarmos um rito mágico e sim para que renovemos diante d´Ele nossa Aliança de amor a fim de que possamos voltar para a realidade cotidiana para viver e proclamar a Boa Nova do Senhor. devemos estar conscientes de que quem dá a eficácia para a nossa ação pastoral é opróprio Cristo, pois é Cristo quem nos dá sua Vida e  seu Espírito.


Deus Está No Nosso Cotidiano: Prestemos bem a Atenção Sobre Esta Presença Misteriosa


“‘Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria... Então, de onde lhe vem tudo isso?’. E ficaram escandalizados por causa dele”.


Os conterrâneos de Jesus, os nazarenos, acham conhecer Jesus, mas na verdade eles não O conhecem na sua profundidade. Não há nada que seja tão perigoso do que a pretensão de saber de tudo. Uma pessoa que tem essa pretensão se fecha em si mesma e deixa de aprender. A humildade sempre nos move a aprender mais para poder partilhar com os demais. “Você sabe? Então, ensine. Você não sabe, então, aprenda”, dizia Confúcio que viver quinhentos anos antes de Cristo. Para ter resultados extraordinários precisamos ter humildade para aprender. A falta da humildade impede alguém de aprender mais e de continuar a crescer e impede alguém de ser irmão do outro. A pessoa que se fecha em si se torna conservadora. Todo conservador não tem futuro, pois não aceita qualquer novidade. Ela acha que não tenha mais nada para aprender. Certamente essas pessoas são os familiares de Jesus; são os mais próximos de Jesus.


Tenho medo de que essas pessoas sejamos nós também. Nós que achamos seguidores de Jesus, frequentadores de cultos ou celebrações, mas não queremos andar ou caminhar atrás de Jesus para segui-Lo. A palavra “seguir” supõe movimento, dinâmica, peregrinação. O verdadeiro seguidor é aquele que sempre olha para aquilo que seu Mestre faz, e escuta aquilo que o Mestre diz e ensina. O verdadeiro seguidor é aquele que mantém a mente e coração abertos, disponíveis, e prestes a renunciar tudo para aprender além do que já sabe ou supostamente sabe. Só seguindo atrás de Jesus é que poderemos ver muito mais coisas na vida e entenderemos o significado de cada coisa e acontecimento. Quem vive dentro de quatro paredes vê sempre as mesmas coisas e por isso, não há surpresa nem novidade. Ao sair do quatro para ir à rua, começam as surpresas para sua vida.


Não é ele o filho do carpinteiro?”.


Os nazarenos reprovam a origem humilde de Jesus. Para eles, Jesus é nada mais do que um simples filho de um carpinteiro. Por ser filho de um carpinteiro, as palavras de Jesus não valem para eles embora nelas se encontrem toda a verdade. É preciso sabermos distinguir quem fala e o que se fala. Se na fala de alguém, mesmo que não gostamos dele, contém verdade, temos que aceitar essa verdade. Jesus nos deu o seguinte critério: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23,3). Não podemos estar do lado de ninguém e sim do lado da verdade e do amor. Os nazarenos esperam um Messias cheio de glória e poder; um messias misterioso, celestial e transcendente. Mas Deus não encaixa em nossas ideias estereotipadas. Deus cabe no nosso coração, mas não cabe na nossa cabeça, pois o coração sente aquilo que os olhos não veem. O coração compreende quando a mente se tranquiliza. Além disso, é preciso que ouçamos aquilo que alguém diz e não para aquele que o diz.


Os nazarenos preferem a imagem de Deus que eles têm na cabeça ao próprio Deus. Para eles, Jesus é cotidiano demais para ser Deus. Este é o maior perigo para qualquer adepto de qualquer religião ou Igreja: identificar a imagem que tem de Deus com o próprio Deus. Por isso, vale a pena cada um fazer esta pergunta: “A imagem de Deus que você tem será que é o próprio Deus?”. Muitas vezes abandonamos o próprio Deus para ficar com a imagem que achamos que seja Deus. Muitas vezes condenamos os outros a partir da imagem de Deus que temos. Quem sabe que os que se acham crédulos são muito mais incrédulos como os próprios conterrâneos de Jesus.


 “’Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!’.  E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé”.


As pessoas da cidade de Jesus (vilarejo de Nazaré), do lugar de seu trabalho não se dispõem de tempo para meditar se ali há um Profeta ou mais que um Profeta. Basta-lhes a vida rotineira. Falta-lhes a fome da verdade. Falta-lhes o discernimento. Falta-lhes a reflexão sobre a realidade. Deus se manifesta no nosso cotidiano sem espetáculo, como o vento que ao vemos, mas sentimos o efeito de sua presença ou de sua passagem. E a novidade do Reino trazida por Jesus suscita neles apenas dúvidas, suspeitas e gozação. É o grande desafio da própria encarnação. É o grande mistério da fé. A fé somente floresce em campos fecundos que se deixam regar com chuva do céu. Os mistérios de Deus somente são compreendidos com coração, pois o coração sente aquilo que a inteligência desconhece.


Ao longo da história tem tido muitas pessoas inspiradas por Deus para denunciar situações injustas e más condutas. Algumas são conhecidas. Mas há muitíssimos profetas anônimos, gente que se atreve a denunciar o que é injusto e desonesto. Muitos desses profetas pagam com a própria vida pela denúncia feita, pois os que defendem os próprios interesses, e não os interesses comuns não têm piedade de eliminar quem os denuncia.


Uma das funções como batizados é a função profética: anunciar o bem e denunciar o mal. Um batizado não pode ficar em silêncio diante da desonestidade e da injustiça. O silêncio nos faz cúmplices. Somos chamados a ser profetas na nossa atualidade.


Não somente somos chamados a denunciar, mas também a ouvir os que denunciam. Quem sabe que dentro dessa denúncia estamos nós também, pois muitas vezes nos sentimos tão cômodos em nossa vidinha tão perfeitamente organizada, em nossas próprias ideias tão formadas e preestabelecidas, em nossa maneira inflexível de entender as coisas, em nossa imagem estática de Deus que nos fazem surdos diante do apelo do Espírito de Deus para fazer e seguir o bem. Se há verdade na denúncia, temos que agradecer a Deus, pois é um chamado para voltarmos a trilhar o caminho do bem. Fé é caminhada. Quando ficamos incomodados, paramos de ter fé. É mais cômodo crer em um Deus todo-poderoso que controla tudo o que ocorre do que em um Deus que sofre com seus filhos, que é crucificado para salvar os outros filhos de Deus, e em um Deus que nos criou para que resolvamos as injustiças do mundo. No ritmo da velocidade do avanço tecnológico precisamos estar atentos para ver e ouvir o que Deus quer nisto tudo. Não tapemos nossos ouvidos nem fechemos nossos olhos nem paralisemos nossa mente. Precisamos tempo todo estar atentos ao que ocorre para que possamos nos posicionar como filhos e filhas de Deus, luz do mundo e sal da terra. Precisamos ter muita flexibilidade e disponibilidade para acolher aquilo que Deus nos quer dizer, inclusive através de quem menos esperamos, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer e por quem quer.


Pare e verifique, Deus se manifesta na nossa vida cotidiana. Pergunte-se: “De que maneira Deus se manifesta a mim hoje? O que Ele quer me manifestar? Para que Ele se manifesta?”. Estejamos todos atentos. Em cada momento Deus se manifesta a nós.
P. Vitus Gustama,svd

domingo, 26 de julho de 2020

30/07/2020
Primeira Leitura (Jr 18,1-6) Leitura do... - Paróquia Santa Cruz ...Soul Cristo - Em Jeremias 18:1-6 Deus mandou o profeta... | Facebook🙏17ªSEMANA DO TEMPO COMUM🙏*... - Evangelizar, nossa missão ...Palavra Fraterna: Apanham para os cestos os bons; os ruins, porém ...

ESFORÇAR-SE PARA SER SELECIONADO POR DEUS NO FIM DA HISTÓRIA
Quinta-Feira da XVII Semana Comum


Primeira Leitura: Jr 18,1-6
1 Palavra dirigida a Jeremias, da parte do Senhor: 2 “Levanta-te e vai à casa do oleiro, e ali te farei ouvir minhas palavras”. 3 Fui à casa do oleiro, e eis que ele estava trabalhando ao torno; 4 quando o vaso que moldava com barro se avariava em suas mãos, ei-lo de novo a fazer com esse material um outro vaso, conforme melhor lhe parecesse aos olhos. 5 Fez-se em mim a palavra do Senhor: 6 “Acaso não posso fazer convosco como este oleiro, casa de Israel? diz o Senhor. Como é o barro na mão do oleiro, assim sois vós em minha mão, casa de Israel”.


Evangelho: Mt 13, 47-53
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47 “O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes. 51 Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52 Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
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É Preciso Voltarmos Para Quem Nos Criou e Para Quem Nos Inspirou


Acaso não posso fazer convosco como este oleiro, casa de Israel? Como é o barro na mão do oleiro, assim sois vós em minha mão, casa de Israel”, assim disse o Senhor para o profeta Jeremias que lemos na Primeira Leitura.


A narração é breve que conta o episódio da vida de Jeremias a partir dos acontecimentos triviais da vida cotidiana (Jr 18,1-12). Deus pede que Jeremias preste atenção para o trabalho de um oleiro. Em Gn 2,7 Deus formou Adão com barro. Em Is 29,16, o profeta Isaias insiste na dependência absoluta do homem com seu Criador. São Paulo dirá também em Rm 9,21: “O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?”. Esta imagem mostra a iniciativa absoluta de Deus. Enquanto Jeremias observa como o oleiro trabalha com o barro na mão: moldar e dar forma até onde o barro permite, assim também faz Deus com Judá (Casa de Israel). O Deus de Israel reconhece a liberdade do povo para escolher o bem ou o mal. O Criador (“Oleiro divino”) está limitado pelas propriedades de sua matéria prima chamada o ser humano.


A liberdade é algo dado por Deus ao ser humano para seu bem ou para seu mal. Mas no universo criado por Ele há as próprias leis embutidas nele que o ser humano deve observar. Para chegar até outros planetas, o ser humano deve obedecer às leis da natureza. Pelo fato de ter criado da terra (barro) percebemos que homem é parte da criação. Ele foi tirado da terra (Gn 2,7) e por isso está vinculado a todo o criado; é um ser transitório, pois para a terra ele vai voltar (Gn 3,19). No AT, morrer é voltar à terra de onde o homem veio. O homem é todo terra e, por isso, é mortal. Mas por ser vida da vida de Deus (sopro), o homem é transcendente e não apenas transitório. O sopro divino é que coloca o homem no âmbito humano e o distingue dos animais.


Pela sua incoerência, pelo abuso da liberdade, o ser humano peca. Assim como não somos o que deveríamos ser, também fazemos coisas que não quereríamos (Cf. Rm 7,15.19). O pecado do ser humano consiste na impossibilidade de amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todas as forças e assim amar aos demais. Por isso, o ser humano se encontra em oposição consigo mesmo, com Deus, com os outros e com o mundo. Em tudo ele necessita de Deus.


Para se tornar o pó vivente novamente, o ser humano deve estar vinculado permanentemente ao seu Criador pois foi  Deus quem soprou seu hálito no homem (Gn 2,7), ou renovar este vínculo permanentemente. O ser humano é um ser inspirado por Deus porque traz em si a inspiração criadora. Mesmo praticando o mal, para o ser humano é dada oportunidade para estar vinculado outra vez com Aquele que o criou, para ser novamente o sopro divino. O homem-barro, o homem-carne precisa do poder de Deus para transcender sua condição de simples ser carnal, ser barro. O Deus vivo é como a estrutura que mantém a vida do homem. “Acaso não posso fazer convosco como este oleiro, casa de Israel? Como é o barro na mão do oleiro, assim sois vós em minha mão, casa de Israel”. É preciso que nós, barro, voltemos para a mão do Oleiro divino. Assumir s responsabilidade pelas nossas culpas e nossas ações em geral é o primeiro passo para nos tornar dignos do amor misericordioso de Deus.


Esforçar-se Para Ser Contado Entre Os Escolhidos


No fim dos tempos os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo”.


Estamos ainda no discurso de Jesus sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Desta vez Jesus conta uma parábola sobre a rede na pescaria em que no fim haverá a seleção entre os peixes bons e os peixes que não prestam: “Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam”.


Nossa vida é uma série de escolhas. Na vida cotidiana sempre selecionamos e escolhemos o que é bom ou o que é melhor.  Selecionamos boas amizades. Selecionamos algo de bom ou de melhor para nos vestir, para comer, para morar, e assim por diante. Vivemos selecionando o que é bom ou o que é melhor. O bom ou o melhor é sempre o objeto do apetite ou do desejo do homem, qualquer que seja esse objeto. O ruim é, ao contrário, o objeto de ódio ou de aversão do homem. Mas nem tudo o que desejamos é bom, mas tudo o que é bom sempre desejamos. A bondade atrai, pois ela agrada e edifica. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Por possuir a bondade, um ser que a tem é capaz de dar a outro a perfeição que lhe falta. Ser cristão não é somente aquele que escolhe entre o bom e o mau; ele é aquele que escolher entre o bom e o melhor. Ele sempre faz um passo adiante.


Quando Jesus compara o Reino de Deus a uma rede que é lançada sobre todos, mas que só os peixes bons são selecionados, ele está dizendo que se trata de uma coisa seletiva, em que a bondade é que tem valor e permanece para sempre. A bondade é sinal de amabilidade. Quem ama porque é bom. Quem é bom, ama.  A bondade é algo que em si tem algo divino, pois Deus é a Bondade por excelência. Por isso, a bondade tem uma marca de eternidade.


Os maus, ao contrário, vão fazer parte de outro reino, onde as pessoas somente vão odiar-se, segundo Jesus. A expressão: “Chorar e ranger os dentes” mostra bem como é a pessoa que odeia: vive como que rangendo os dentes. Eternamente infeliz. A frustração definitiva do homem (pranto e ranger de dentes) é perder a vida para sempre. A grande frustração do homem é sua incapacidade de viver na bondade, no bem, na compaixão, na simplicidade, na solidariedade. A bondade atrai. A simplicidade atrai. A arrogância, a prepotência, o orgulho, o complexo de superioridade afasta as pessoas e mata a caridade e a igualdade, elimina a comunhão fraterna e afasta os demais. Qualquer arrogante, prepotente, orgulhoso, ambicioso vive na tremenda solidão. Viver é conviver. Através da convivência saudável é que podemos crescer como seres humanos. Até a própria vulnerabilidade da convivência nos ajuda a crescermos como pessoas saudáveis.


A parábola da rede lida neste dia se refere ao julgamento final. A imagem da pesca ilustra a dinâmica do Reino de Deus feita de perdas e ganhos. Uma vez a rede lançada ao mar, a pescaria já não depende da vontade do pescador. Cada lançada de rede é uma surpresa. A seleção será feita somente no final da pescaria, quando os peixes bons são colocados em cestas, enquanto os maus são jogados fora.


A parábola propõe a todos nós a sorte final, para orientar-nos na decisão presente. Quando soubermos para onde vamos, saberemos também escolher por onde devemos caminhar (saber escolher o caminho). Os únicos que chegam à vida em plenitude, pela misericórdia de Deus, são os que produzem fruto bom nesta vida; são os que em si tem a marca de eternidade como a bondade, o amor, a compaixão, a solidariedade e assim por diante. Tudo que tem algo divino em mim e na minha vivência será reconhecido por Deus (cf. Mt 25,31-46). A sabedoria cristã consiste no discernimento dos verdadeiros valores do Evangelho como amor, partilha, solidariedade, compaixão, perdão, honestidade, justiça, paz etc., e em sua aplicação para as circunstâncias atuais. Há que estabelecer uma escala de valores para que cada cristão possa orientar sua maneira de viver no presente. Os outros valores devem estar subordinados em função dos valores superiores do Reino de Deus.


Mas ao mesmo tempo, esta parábola quer nos recordar que somente Deus tem a competência na seleção entre os bons e os maus no fim de cada história. Cristão nenhum tem condições para classificar quem vai para o céu e quem não vai para lá, pois sua própria salvação ainda não está garantida, pois ele continua sendo pessoa capaz de pecar em qualquer momento. É preciso olharmos para cada ser humano como filho(a) de Deus e nosso irmão. Como dizia Santo Agostinho: “Amando ao próximo tu limpas os olhos para ver a Deus” (In Joan. 17,8). Quanto mais santo for o homem, mais se reconhecerá como pecador. A conversão não é uma carreira acabada. A conversão é diária, pois somos capazes de optar por outros valores em nome de algum interesse não-cristão. Deixemos Deus determinar a qualidade de cada um e não nos arroguemos pelas qualidades que temos, pois tudo de bom em nós tem sua origem no Supremo Bem que é Deus. Tudo de bom em nós deve ser partilhado para com os outros. Fazemos tudo de bom, porque Deus da bondade faz isso. “Faze o que deves fazer. E faze-o bem. Esta é a única norma para alcançar a perfeição”, dizia Santo Agostinho (In ps. 34,2,16). Somos prolongamento da generosidade do Deus-Criador que criou tudo para o bem da humanidade gratuitamente. Temos apenas o direito de usufruto. Esse direito cessará neste mundo cessará quando terminar nossa caminhada na história.


Deus não castigará o homem por ter cometido a violência ou criminalidade; Ele também não salva o homem por não ter cometido algum crime. Mas Deus “castiga” (o homem que se castiga) por não ter feito bondade ou caridade. Se formos castigados um dia, não pelo mal que deixamos de cometer, e sim pelo bem que não praticamos.


Apesar de sermos pecadores, Deus tem paciência para esperar os frutos bons de cada um de nós. A história de nossa vida é o tempo para crescermos no bem e na bondade e para nos amadurecermos no amor como filhos e filhas de Deus.  Primordialmente, somos bons porque tudo o que Deus criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Deus aguarda a colheita, não diminuída por prematuras intervenções de escolha. Só então, no fim, haverá a colheita, com base na realidade de ser grão ou joio/cizânia, peixe bom ou mau, de ser caridoso ou egoísta. É uma advertência eficaz, embora tácita: Deus é paciente com todos e deixa aos pecadores, cada um de nós, tempo para amadurecer sua conversão; Deus sabe esperar a livre decisão do homem, cabe a cada um escolher ser bom grão e bom peixe e não peixe imprestável.


Portanto, é prudente premunir-se, pensar enquanto é tempo, decidir-se a fazer o bem, ser útil aos outros, ser peixe bom, ser selecionado por Deus no fim de nossa história, pois “No fim dos tempos os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo”.
P. Vitus Gustama, SVD

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