domingo, 25 de maio de 2025

Ascensão Do Senhor, Domingo 01/06/2025

ASCENSÃO DO SENHOR, ANO “C”

I Leitura: At 1,1-11

1 No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, 2 até o dia em que foi levado para o céu, depois de ter dado instruções, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido. 3 Foi a eles que Jesus se mostrou vivo, depois de sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus. 4 Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: 5 ‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias’”. 6 Então os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?” 7 Jesus respondeu: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. 8 Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra”. 9 Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. 10 Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, 11 que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

II Leitura: Ef 1,17-23

Irmãos: 17 O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai, a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. 18 Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, 19 e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente. 20 Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, 21 bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear, não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. 22 Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, 23 que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal.

Evangelho: Lc 24,46-53

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 46 “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47 e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48 Vós sereis testemunhas de tudo isso. 49 Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”. 50 Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. 51 Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. 52 Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. 53E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.

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     Ascenção Do Senhor Do Ponto De Vista Teológico

Certos teólogos e Padres da Igreja (Tertuliano, Hipólito, Eusébio, Atanásio, Ambrósio e Jerônimo) concordam que a ascensão de Jesus acontece simultaneamente com a ressurreição. O dia da Páscoa, por isso, não é somente o dia da ressurreição, mas também o dia da ascensão. Esta ideia durou até o fim do século IV. Celebrava-se no assim chamado “Pentecostes”, que durava desde a Páscoa até o dia de Pentecostes, num período festivo de cinquenta dias, a ressurreição, a ascensão e a missão do Espírito Santo como um único mistério festivo. A Igreja primitiva tinha bastante consciência da unidade íntima da ressurreição, ascensão e missão do Espírito Santo (cf. Jo 20,21-23). Só a partir do século V (ou no fim do século IV), baseia-se sobre o relato lucano (cf. At 1,3), é que começou a existir uma festa da ascensão no quadragésimo dia, após a Páscoa e Pentecostes, separadamente como hoje temos costume de celebrar. É claro que, de ponto de vista teológico, esta separação se considera como uma perda (para ter uma visão maior sobre esse assunto veja Gerhard Lohfink, A Ascensão de Jesus, Paulinas,1977).

A ressurreição, a Ascensão e Pentecostes são aspectos diversos do mistério pascal. São apresentados como momentos distintos e são celebrados como tais na liturgia para pôr em destaque o rico conteúdo do mistério pascal.  A ressurreição sublinha a vitória de Cristo sobre a morte, a Ascensão seu retorno ao Pai e tomada de posse do Reino e Pentecostes, sua nova forma de presença na história.         

Por isso, afirmar que Jesus “subiu ao céu” (1Pd 3,22) ou “foi levado ao céu” (At 1,9) ou “foi exaltado na glória” (1Tm 3,16) é exatamente a mesma coisa que afirmar que ele “ressuscitou”, que foi glorificado, que entrou na glória de Deus. Não foi uma viagem interplanetária. Não houve nenhum deslocamento no espaço. A ascensão significa a caminhada de Jesus que vai da morte à glória do Pai, caminhada que para nós é invisível e incompreensível. Não é uma caminhada como as que conhecemos pela nossa experiência aqui na terra. Não se pode fixá-lo no tempo, nem medir sua distância, nem se pode dizer se vai nesta ou naquela direção. Tempo, distância, direção, tudo isso vale para as nossas caminhadas terrenas. A caminhada de Jesus até a glória do Pai realiza-se na ressurreição. A ascensão é um evento pascal.           

Ficando independente de tempo e espaço, Jesus está totalmente liberto. Ninguém mais pode retê-lo para si, ninguém pode ser dono de Jesus, ninguém tem a última palavra para interpretá-lo. Nesse novo modo de presença, Jesus ultrapassa tudo que quisermos usar para defini-lo. A narrativa de Lucas nos Atos dos Apóstolos (a primeira leitura) é uma página de teologia, não uma informação sobre fatos. Neste relato Lucas quer nos dizer que a ressurreição de Jesus não significa que a história agora já chegou a seu termo e que a volta de Jesus na glória esteja imediatamente às portas (isso se discutia muito na época). Ao contrário, a Páscoa significa que Deus concede agora à Igreja espaço e tempo para se desenvolver: para uma missão sem fronteiras. Além disso, neste livro nos é ensinado que tudo o que acontece aqui na terra: sucesso ou fracasso, injustiças, sofrimentos e até mesmo os fatos mais absurdos, como uma morte ignominiosa, não estão excluídos do projeto e do olhar amoroso de Deus.

Subir ao céu” expressa a chegada definitiva à presença de Deus. Assim, a Ascensão do Senhor fecha o ciclo da presença pública de Jesus no mundo e abre um novo modo de presença: a partir de agora ele terá o mesmo modo de presença do mistério de Deus. É por isso que a Ascensão não é interpretada como distância ou ausência, nem é vivida por seus discípulos como uma triste despedida. Agora Sua presença é mais profunda, constante, intensa, íntima. São Paulo afirma em sua carta aos Efésios que o que celebramos de Jesus é o que esperamos para toda a Igreja, Seu Corpo, porque estamos unidos a Ele.     

A festa da Ascensão nos dá a oportunidade de reacender cada dia com nova luz a maior das certezas de nossa vida: Jesus está vivo e está conosco todos os dias com seu poder (Mt 28,20). Jesus não foi para um outro lugar, mas permanece na companhia de cada um de nós. Com a Ascensão a sua presença não ficou limitada, mas se multiplicou. Por isso, a nossa esperança não está perdida no espaço, mas baseia-se na confiança depositada na lealdade de um Deus, “o qual faz viver os mortos e chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4,17). O Deus da vida é fiel aos homens. Se este é o destino de todo o homem, a morte já não inspira medo. Jesus a transformou num nascimento para a vida com Deus. Todo aquele que tem essa esperança não se deixa ficar olhando para o céu, como fizeram os apóstolos naquele dia, mas ao contrário, traduz esta esperança em empenho e testemunho. 

Ascensão Do Senhor E O Início Da Missão Da Igreja Segundo Lucas 

O evangelista Lucas, depois de seu evangelho, escreve outro livro (Atos dos Apóstolos) que documenta o nascimento e o desenvolvimento da primeira comunidade cristã. Pode-se dizer que Lucas conta a primaveira da Igreja.

Ponto de partida dos Atos dos Apóstolos é a Igreja-mãe de Jerusalém, apresentada em suas origens e em sua expansão. Lucas nos oferece dois rostos da mesma realidade: Primeiro, a vida interna da comunidade: oração, fraternidade, união, participação de bens. Segundo, o dinamismo missionário: sustentado pela força do Espírito, e pela eficácia da Palavra, proclamada com coragem. 

Precisamente, para a festa da Ascensão é escolhido o texto inicial do livro (Atos) onde se encontram e se recolhem sinteticamente os acontecimentos do período de transição entre a aventura terrena de Jesus e o tempo da Igreja. Com a Ascensão de Jesus ao Céu começa o tempo da Igreja, um tempo de testemunho público e valente que progressivamente tem que alcançar todos os homens. É a linha divisória entre a história de Jesus e a da comunidade pós-pascal. A partir do momento em que Jesus subiu ao Céu, a comunidade dos discípulos pode iniciar seu próprio caminho histórico sem nostalgias e sem fugas apocalípticas. A comunidade cristã tem diante de si o mundo e a história onde amadurece a experiência cristã graças à força do Espírito prometido pelo Senhor.

As “instruções” de Jesus se referem ao Reino de Deus, ou seja, a seu projeto salvífico. Já era a pregação do Mestre. A Igreja tem uma missão recebida de Jesus para salvar os homens. 

A narração da Ascensão nos Atos dos Apóstolo, insistindo sobre a “partida” de Cristo, serve para pontualizar a responsabilidade dos Apóstolos que se expressa através das palavras dos anjos: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”. 

Porém, Lucas enfatiza que a missão dos Apóstolos poderá ser animada somente pelo Espírito, e por isso, não começará antes de Sua vinda. Logo a Igreja, reunida por Cristo, bem estruturada, tem necessidade do sopro vital, que lhe será dado pelo Espírito. Sem imersão no Espírito, a Igreja não pode submergir-se no mundo. Por outro lado, o próprio Cristo iniciou sua própria missão terrena depois da investidura por parte do Espírito, com ocasião do batismo no Jordão. Sem o Espírtio, não hpa vida, não há força de expansão, não há capacidade de testemunho para a Igreja. 

Uma Presença Múltipla e Misteriosa

Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu” (Lc 24,50-51).

A Ascensão é um dia de glória para o Filho de Deus feito homem e para todo o gênero humano. Hoje o homem alcança sua realização suprema. Um dos nossos, o Irmão mais velho (Jesus Cristo), entrou no Céu e está sentado à direita de Deus. Nossa frágil natureza, alma e corpo, elevada à dignidade mais sublime, foi introduzida na vida íntima de Deus. O pecado e a morte foram vencidos em Cristo, nossa Cabeça. Em nós, seus membros, a luta continua, mas com garantia de vitória em virtude das energias que nos dotou. Está expresso na oração da missa de hoje como resumo, que é tirada de uma frase de São Leão Magno: "A Ascensão do Vosso Filho já é nossa vitória. Como membros de Seu Corpo somos chamados na esperança a participar da Sua glória" (Coleta- Oração inicial da Missa).

A Ressurreição é o triunfo estupendo e soberano de Jesus. Para tratar de entender o imenso mistério, é preciso “dividi-lo” pedagogicamente em três fases: a Ressurreição, que é a vitória sobre a morte; a Ascensão, que é a exaltação de sua humanidade ressuscitada; e a missão do Espírito Santo, que é a culminação do mistério da Encarnação.

Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo.Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia” (At 1,9-10).

Jesus entrou em uma nova maneira de existir. Quando os discipulos estão esperando contemplar sua presença física e visivel “dois homens vestidos de branco, lhes disseram: ‘Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu’” (At 1,10-11).

A partir de então a presença de Jesus Ressuscitado no mundo será distinta.Não se foi, mas ficou; ficou e a sua presença, a partir de hoje, é múltipla e misteriosa. Ele mesmo nos disse que vai embora, mas volta (Jo 14,28). "Não vos deixarei órfãos: voltarei para vós. Em breve o mundo não me verá mais, mas vós me vereis. Naquele dia compreendereis que estou no Pai e vós em mim e eu em vós" (Jo 14:18). A sua presença entre nós deixou de ser física e visível, mas tornou-se uma presença real, muito ativa e formidável, como prometeu: "Estarei convosco todos os dias" (Mt 28,20). "Isto é o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue" (Mc 14,22.24). "Tudo o que você faz com um desses pequeninos, você faz comigo" (Mt 25,40) "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18,20). Todas realidades misteriosas. Tesouros que devem ser ativados na tela do nosso dia a dia. Moeda que deve ser manuseada constantemente se não queremos que ela se desvalorize.

Começou já a presença do amor. Os que se amam, ainda que estejam distantes, podem, ao mesmo tempo, levar em si uma presença dos amados, muito real e unitiva. Vivem compenetrados e participam dos sucessos, dolorosos ou gozosos, que acontecem a cada um deles, interior ou exteriormente, e estão seguros da fidelidade mútua, dentro de sua própria liberdade. Esta presença enamorada pode nos explicar a presença de Cristo conosco.

Sobre A Bênção E Adoração De Jesus (Lc 24,50-52)        

O motivo da bênção e da adoração foi tomado do AT, especialmente do Eclo 50,20-23 (os mesmos elementos e na mesma ordem encontram-se no texto lucano, menos a frase no v. 51). Nestes versículos narra-se a conclusão de uma liturgia no templo onde o Sumo Sacerdote ergueu as mãos e abençoou o povo. Depois disso, o povo se prostrou em adoração.        

“Jesus, erguendo as mãos, os abençoou” (v.50). “Erguer as mãos” caracteriza o ressuscitado que se despede como sacerdote: a despedida em forma de bênção é fim da liturgia de sua vida, mas essa bênção há de ficar sobre eles: “Enquanto os abençoava, Jesus afastou-se deles” (v.51). Ao se despedir, Jesus abrange a comunidade dos discípulos com sua bênção, subtraindo-se, mas permanecendo próximo e presente de uma nova maneira.          

Os discípulos, abençoados com toda a bênção espiritual, recebem a missão de comunicar a bênção da fé, da conversão e da salvação a todas as nações (v.47). Todo cristão, abençoado, é também enviado. Em cada missa/eucaristia todos nós somos abençoados pela experiência da comunhão fraterna, pela Palavra de Deus, pelo Pão da vida, o Pão eucarístico. Por isso nós recebemos também uma missão: transformarmo-nos em fonte de bênção para o próximo. Isso é explicitado no rito final da Missa. Dá-se a bênção e realiza-se o envio: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!” respondemos: “Graças a Deus!” Também minha vida será uma ação de graças e uma bênção e uma paz para os outros. A eucaristia/missa nos consagra em cada domingo a esta missão. Voltemos para casa na expectativa de ser “revestidos da força do alto” (Lc 24,49), da paz e da bênção do Senhor.       

A celebração da Ascensão do Senhor urge-nos a passar da comodidade (comodismo), dos bons sentimentos à realidade dos fatos, mesmo chegando a complicar nossa vida por amor de Cristo e dos irmãos mais necessitados. Somente assim cumpriremos como discípulos de Jesus a tarefa de tornar real em nosso mundo Cristo, nossa esperança e salvação.

Sobre A Alegria (Lc 24,52)        

Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria” (v.52). É uma alegria estranha numa despedida! Certamente, no dia da Ascensão do Senhor aconteceu uma transformação maravilhosa nos discípulos. Os discípulos compreenderam claramente, apesar de todas as tendências humanas, que deviam procurar a alegria para além do visível, no reino do invisível, e que poderiam encontrá-la porque Cristo está presente por toda a parte. E assim os discípulos começaram a experimentar vivamente que o invisível e o inefável se ocultam no visível. A partir daí, o homem não tem mais que olhar extasiado para o céu, para encontrar a alegria, mas para se desempenhar nas tarefas terrenas. O Senhor habita no coração que sabe amar. E o amor nos alegra.         

O Evangelho de Lucas é, além de outros títulos, conhecido também como “o Evangelho de alegria”. O verbo ”alegrar-se” se encontra sete vezes em Lc e nenhum em outros evangelhos. O substantivo “alegria” ocorre 12 vezes em Lucas e 16 vezes em outros evangelhos. Em Lucas, a alegria é um mandamento de Jesus: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão escritos nos céus” (Lc 10,20).          

A alegria é sinal da salvação que se aproxima e que já se realiza em Jesus Cristo. Ela é a característica do cristão na esperança, na expectativa e na certeza da ressurreição. Por isso, a tristeza e o desânimo não são apenas sintomas de um profundo cansaço, mas são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de fé.          

A autêntica alegria constitui sempre um presente para nós. Ela procede de Deus. A alegria humana é uma participação graciosa na alegria divina, na essência de Deus, que constitui um único espaço de sublime alegria. As fontes da autêntica alegria estão, portanto, lá onde o homem sai ao encontro de Deus. 

Um coração feliz e um caráter alegre são um dom precioso não só para aquele que os possui, mas também para aqueles que vivem à sua volta. A Bíblia fala da dança e da salmodia como expressões de júbilo. E a Bíblia fala frequentes vezes das muitas e boas razões que temos para estarmos alegres. A revelação divina é, do princípio ao fim, uma mensagem de alegria contagiosa. São Paulo, por exemplo, grita: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4). Se interiorizarmos esta rica mensagem de alegria, nada deverá perturbar ou mesmo destruir a nossa paz interior. Toda a nossa existência, qualquer gesto da nossa parte, deveria manifestar ao mundo que temos origem na transbordante bem-aventurança de Deus que nos chamou a concelebrar o festim eterno da Sua felicidade e da Sua alegria.

A alegria cristã é independente de qualquer coisa no mundo porque tem sua fonte na contínua presença de Cristo (cf. Mt 28,20). O cristão pode perder todas as coisas e todas as pessoas, mas ele jamais perderá Cristo Jesus (Rm 8,35-39). Embora se encontre numa circunstância em que a alegria se tornaria impossível, a alegria cristã permanece. Para São Paulo, nenhum obstáculo ou dificuldade é capaz de impedir a verdadeira alegria, pois ela é um dos frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5,22). Trata-se da origem superior, e por isso, está acima de tudo que é passageiro. Tudo pode passar, inclusive o sofrimento, mas a alegria permanece, pois é o fruto da aceitação de Deus na vida do homem, fruto do Espírito Santo. O mistério de alegria nasce de Deus, é um dom, e por isso não se compra em nossos mercados nem se encontra em nossas salas de festa. A alegria brota de dentro e tem sua origem no Espírito Deus. Dois amores, quando estiverem juntos, são sempre felizes, onde quer que eles estejam. Seria blasfêmia apresentar Deus como inimigo da vida e da alegria. O homem foi criado para expandir-se na alegria e é, por isso, chamado por Deus para expandir a alegria.  Não é por acaso que para o evangelista Lucas a alegria é um mandamento: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10,20). O verdadeiro cristão jamais perderá sua alegria porque jamais perderá Jesus Cristo.          

Quando fizermos o tão necessário da alegria, não pensemos só em nós. O nosso próximo necessita do nosso rosto alegre e, às vezes, também de uma palavra que o faça sorrir. A firme intenção de sermos portadores de alegria e o empenho em contagiar os outros com uma alegria santa, são uma defesa muito eficaz contra a perda da mesma. Na medida em que nós distribuímos alegria, a experimentamos também.  Podemos e devemos, por isso, rezar para alcançarmos um coração alegre e aprendermos a arte de alegrar os outros. é preciso nos manter em união plena com o Espirito Divino para nos manter na verdadeira alegria.

Ascensão É Uma Festa De Compromisso Cristão          

O livro dos Atos dos Apóstolos nos relata que durante quarenta dias depois da ressurreição Jesus apareceu aos discípulos falando-lhes do Reino de Deus (At 1,3b). O número quarenta é um número simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.        

Além disso, o mesmo livro nos relata que dois homens vestidos de branco chamam atenção dos discípulos ao dizer: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,10b.11).        

Tudo isto quer nos dizer que o cristão é chamado a não ficar parado num espiritualismo alienado da realidade, e sim a transformar o mundo através da vivência e do anúncio dos valores que Cristo lhes ensinou que se resumem no mandamento do amor fraterno. Os cristãos recebem de Jesus o encargo de anunciar a Boa Notícia para todos. Anunciar Jesus Cristo significa dar testemunho de um fato, de um acontecimento. O anúncio tem de ser acompanhado por sinais que dão credibilidade que serão por si mesmos Boa Notícia. A mensagem deve ser um anúncio de libertação para todos, libertação daquelas ideologias que propõem ao homem um modo de vida contrário ao que Deus quer.        

Portanto, a prova de que alguém fala em nome de Jesus são estes: quando as suas palavras saem do coração livre, as palavras que têm a marca do coração; quando se compromete com a libertação dos homens; quando sua vida mostra que o amor é muito mais importante do que o poder, o prestígio e o dinheiro; Quando ele é apaixonado pela vida e pela defesa da vida em todas as suas etapas: no seu início, na sua duração e no seu fim. Estes sinais: a libertação, o amor e a vida são os sinais que devem identificar aos seguidores de Jesus, os sinais que garantem que a mensagem anunciada é a mensagem de Cristo.        

A ascensão de Jesus nos recorda que Ele foi elevado para junto do Pai e nos encarregou de continuar a tornar realidade o seu projeto libertador no meio dos homens, nossos irmãos. Jesus não está aqui fisicamente, mas podemos lhe emprestar nosso corpo para fazer Jesus presente no mundo. Jesus não tem aqui Suas mãos, mas as nossas lhe servem para continuarmos a abençoar, a libertar e a construir a fraternidade. Jesus não pode mais, fisicamente, percorrer nossos caminhos, mas podemos emprestar nossos pés para ir ao encontro dos necessitados (Igreja em saída), como Jesus fazia. Jesus não pode repetir Suas bem-aventuranças nem proclamar o Ano da graça nem pronunciar Suas palavras de vida eterna, mas podemos lhe emprestar nossos lábios para continuar a anunciar a Boa Notícia aos pobres/necessitados e a salvação a todas as pessoas. Jesus não pode acariciar as crianças, curar os enfermos, perdoar aos pecadores, mas podemos emprestar-lhe nosso coração para continuar a estar próximos de todos os que sofrem e a mostrar e anunciar-lhes a misericórdia de Deus.

É relativamente frequente ouvirmos dizer que muitos seguidores de Jesus gostam mais de olhar para o céu, do que comprometerem-se na transformação da terra. Estamos, efetivamente, atentos aos problemas e às angústias dos homens, ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado? Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com todos os homens, particularmente com aqueles que sofrem? 

A esperança cristã do céu não é uma esperança míope, é certamente ambiciosa: é a esperança última e radical da felicidade eterna. Um Paulo entusiasmado nos fala de uma “plenitude daquele que completa tudo em todos”. Essa esperança não se baseia em nosso desejo de onipotência, mas na promessa de Deus cumprida e revelada em Jesus Cristo. Sabemos bem o quão frágeis e fracos somos nós, humanos, não podemos esperar alcançar apenas os frutos de nossos esforços, por mais que sejam necessários para alimentar a esperança. Esperamos a gratuidade de Deus, seu amor além de nossos esforços e conquistas, o cumprimento de sua promessa final que supera nossa imaginação. 

Tudo isso quer nos dizer que não existe lugar definitivo aqui neste mundo. O lugar definitivo não está aqui. Também nossos bens, tudo o que possuímos é provisional. Não poderemos levar nada conosco. Tudo o que não partilhamos com os outros perdemos. Tudo o que guardamos para nós somente, tudo o que intentamos conservar com nossas próprias forças, se desfazer em nossas mãos. Tudo o que conservamos com carinho, tudo o que consideramos mais valioso de nossa vida, o perderemos se não pusermos ao serviço dos irmãos: bens materiais, tempo, conhecimento.

Nossa vida sobre a terra deve ser uma constante Ascensão, isto é, deve ser uma constante superação, um progresso, uma maduração. Viver é dar passos adiante, alcançar novas metas, aproximar-se da plenitude. As imagens que indicam as possibilidades da vida humana são a semente que cresce, o caminho a percorrer, a meta a ser alcançada. A vida é um projeto que se vai perfilando, mas que nunca se acaba. Para manter a esperança temos ter sempre presente a meta que queremos alcançar. Ao dizer que Jesus subiu aos céus ou foi levado ao céu, o texto bíblico quer nos dizer que a vida de Jesus alcançou a plenitude, pois ele sempre a viveu em função do bem, da bondade, do amor, da compaixão. A vida de Jesus foi uma vivida em Deus que se traduziu no amor sem limite ao ser humano, especialmente aos necessitados.

P. Vitus Gustama,svd

Visitação Da Bem-aventurada Virgem Maria-Festa, 31/05/2025

VISITAÇÃO DE MARIA A ISABEL

Primeira Leitura: Sofonias 3,14-18

14 Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! 15 O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o rei de Israel é o Senhor, ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal. 16 Naquele dia, se dirá a Jerusalém: “Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! 17 O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido pelo amor; exultará por ti, entre louvores, 18 como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação”.

Evangelho: Lc 1, 39-56

39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!” 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

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Celebramos no dia 31 de Maio a festa da Visitação de Nossa Senhora. Através de Maria, Mãe do Senhor, que com sua Fiat obedece à Palavra de Deus, Deus visita o seu povo e o seu povo O reconhece. Esse reconhecimento é a finalidade de seu plano, de seu esforço (Lc 19,44; 13,34), cumprimento da salvação (Rm 11,25-36): o encontro entre Israel e Igreja, entre o povo de Deus e o seu Messias.

Este mistério da visita é, na verdade, uma antecipação do acontecimento escatológico, no qual será usado a misericórdia para todos aqueles que estavam incluidos na desobediência (Rm 11,32). Na visita do Senhor para dar a alegria e a salvação  aos homens consiste o sentido da história pessoal e universal.

As duas mulheres benditas (Isabel e Maria) estão grávidas do dom de Deus na sua velhice e esterilidade (Isabel) e do Salvador (Maria) na sua virigindade (sem mácula). Isabel está grávida de dois milênios de espera. Maria está grávida do Eterno esperado. O encontro das duas benditas é o abraço entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Um, profecia (AT); outro, cumprimento (NT). Em sua recíproca acolhida é reconhecido Aquele que é a Acolhida. Maria, visitando Isabel, reconhece a verdade daquilo que acontece nela; a Igreja, recorrendo ao AT, compreende Aquilo que concebeu.

Maria, Filha de Sião

Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido pelo amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação” (Sofonias 3,17-18).

Com o profeta Sofonias, cujo texto da Primeira Leitura tiramos do seu livro, nos encontramos no século VI a.C, nos tempos do Rei Josias. É um período marcado pelas contínuas infidelidades a Deus por parte de Israel, pois esta faz alianças com o poder estrangeiro com seus cultos pagãos (idolatria). O profeta Sofonias tem diante de seus olhos esta situação amarga. Consequentemente, o profeta proclama “O Dia terrível de Javé” sobre todas as nações, inclusive Judá. Porém, atrás desta proclamação está o convite à conversão para que “O Dia terrível de Javé” se transforme em “O Dia messiânico”. Com a conversão do povo, já não terá mais o dia de ira do Senhor e sim será o Dia da misericórdia, o Dia do novo amor entre Deus e seu povo. Não existirá mais medo. Tudo motivo de alegria: serão vencidos os inimigos, Deus voltará a ser o único rei de Israel que é o Deus salvador.

A Filha de Sião da qual fala o profeta Sofonias é figura de Maria, pois através de seu sim incondicional nasceu para a humanidade o Salvador, Jesus Cristo. Ele é a encarnação do amor misericordioso do Pai do céu. Por isso, ele pede para que todos sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36).

Aprendemos que toda conversão sempre resulta na alegria e na salvação. Não há a verdadeira conversão que não traga a alegria a quem é beneficiada. Sejamos facilitadores da concretização da misericórdia divina a exemplo de Maria, Mãe do Senhor, para que a alegria volte a reinar no meio de nós.

Maria Serve Com Dignidade Como Uma Irmã                      

Terminamos o mês de maio com a festa da Visitação da Virgem a Isabel. Sobre este episódio, narrado sobriamente no Evangelho de Lucas, foram feitas todas as espécies de considerações. As Bíblias costumam traduzir  a expressão grega "metà spoudés" por "à pressa", "prontamente". A palavra grega "spoudé" tem muitos outros significados: zelo, diligência, compromisso, cuidado, seriedade, dignidade. Ela não faz isso para satisfazer uma necessidade pessoal (sentir-se útil, parecer bem, ser elogiada), mas para responder a uma necessidade que, de certa forma, quebra seus planos. E ela o faz com dignidade (não como escrava, mas como irmã), com cuidado (não de forma alguma, mas com atenção aos detalhes), prontamente (não com relutância, mas com um espírito feliz e bem disposto).

Maria tinha motivos poderosos para cuidar de si mesma, para manter a calma em Nazaré. Ela precisava de tempo para assimilar sua inesperada maternidade. Ninguém poderia exigir que, depois do susto, ela não pensasse em si mesma por um tempo.

Ela, no entanto, deixou a aldeia de Nazaré e, sem pensar duas vezes (“prontamente”, diz Lucas), partiu para Ain Karim, a cidade de sua parente Isabel. Não havia se recuperado do espanto produzido pelo anúncio do anjo e já pensava na maneira concreta de ajudar. Os 160 quilómetros que separam Nazaré de Ain Karim testemunharam o passo decisivo de uma menina solidária.

Não entrou na casa de Isabel fingindo ser importante, reclamando da quantidade de coisas que teve que deixar em Nazaré para vir servi-la, fazendo cara de sofrimento, exigindo sutilmente reconhecimento. Ela entrou saudando; isto é, presenteando de mãos cheias graça e paz. Tanta alegria transbordou que até o pequeno João foi afetado por aquelas misteriosas ondas de entusiasmo.

A festa da Visitação está cheia de encantos e de uma ternura inigualável. Duas mulheres, que se encontram, que se saúdam, estão cheias de Deus e por isso, cheias de alegria para fazer o ambiente mais humano, mais leve e mais fraterno e por isso, mais divino.

Santo Ambrósio comentou a expressão “dirigindo-se apressadamente” com as seguintes palavras: “A graça do Espírito Santo não admite demora” (“Nescit tarda molimina Spiritus Sancti gratia”). É preciso fazer ou cumprir aquilo que é importante e essencial, pois, caso contrário, acaba morrendo tudo. Jamais podemos adiar o que é essencial para não nos lamentar mais tarde: uma visita para um doente ou um idoso, um perdão que precisa ser dado ou recebido, uma ajuda oferecida sem muita discusão, um trabalho importante que decidimos fazer, e assim por diante. Os adiantamentos, os atrasos podem nos desgastar e nos consomem interiormente. Precisamos trabalhar permanentemente sobre nossa capacidade de intuir o que deve ser feito agora e aqui na graça de Deus.

Maria é uma mulher que se põe em caminho com dignidade, com cuidado, com prontidão. Não o faz para satisfazer uma necessidade pessoal: ela faz para servir sua parenta, Isabel, que está grávida e que necessita de uma ajuda. Ela faz tudo com dignidade como uma irmã. Maria é de Deus e por isso, ela é do povo e para o povo. Maria é mulher de nossa história, aberta a Deus e aos seres humanos. Viveu sempre em atitude de gratuidade e de doação. Será que fazemos tudo, a exemplo de Maria, com dignidade, com cuidado e com prontidão?

Contemplando Maria dessa maneira, compreendemos até que ponto a graça de Deus pode florescer nos seres humanos, que tipo de humanidade surge quando Deus "agrada" uma pessoa disposta a aceitar seu dom?

Encontro De Duas Pessoas Benditas

Na Anunciação o Anjo do Senhor “entrou” na casa de Maria e a “saudou”. Nessa visita Maria fez a mesma coisa: ela “entrou” na casa de Zacarias e saudou a Isabel. É a saudação da Mãe do Senhor para a mãe do Precursor do Senhor. A saudação de Maria comunica o Espírito a Isabel e ao menino no seu ventre. A presença do Espírito Santo em Isabel se traduz em um grito poderoso e profético: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,42-45). Aqui Isabel fala como profetisa: se sente pequena e indigna diante da visita daquela que leva em seu seio o Senhor do universo. Sobram as palavras e explicações quando alguém entra na sintonia com o Espírito. Maria leva no seu seio o Filho de Deus concebido pela obra do Espírito Santo. E a presença do Espírito Santo em Isabel faz com que Isabel glorifique a Deus. Por isso, o encontro entre Maria e sua prima Isabel é uma espécie de “pequeno Pentecostes”. Onde entra o Espírito Santo, ai entra também paz, alegria e vida divina.

A Mãe de Deus que leva Jesus em seu seio é a causa de alegria. Quando estivermos cheios de Jesus Cristo em nosso coração, a nossa presença traz alegria e a paz para a convivência. A ausência de Cristo em nosso coração produz problemas e discórdias na convivência. O encontro de duas pessoas benditas sempre causa alegria: Maria causa alegria em Isabel e Jesus em pequeno João Batista. Ao contrário, o encontro de duas pessoas não benditas sempre causa angústia e mal-estar na convivência. Cada cristão deve fazer os encontros felizes e alegres com os outros. E isso só pode acontecer se houver lugar para Cristo em nosso coração. Precisamos engravidar Jesus Cristo para fazê-lo nascer para os outros. Por isso, vale a pena cada um se perguntar: Que tipo de encontro que fazemos diariamente: de pessoas benditas ou de pessoas não benditas?

Na narração da visitação, Isabel, “cheio do Espírito Santo” acolhendo Maria em sua casa, exclama: ”Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Esta bem-aventurança, a primeira que se encontra no evangelho de Lucas, apresenta Maria como a mulher que com sua fé precede à Igreja na realização do espírito das bem-aventuranças. Maria, crendo na possibilidade do cumprimento do anúncio, interpela ao Mensageiro divino somente a modalidade de sua realização para corresponder melhor à vontade de Deus a que quer aderir-se e entregar-se com total disponibilidade. “Buscou o modo; não duvidou da onipotência de Deus”, comentou Santo Agostinho (Serm. 291). Maria se adere plenamente ao projeto de Deus sem subordinar seu consentimento à concessão de um sinal visível. É uma entrega total ao projeto de Deus. É uma confiança sem reservas à vontade de Deus: “Faça-se em mim segundo Vossa palavra!”. Maria tem muito a dizer sobre a vivência de nossa fé na nossa vida cotidiana.

Maria "entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel", continua São Lucas. Seria uma saudação respeitosa, pelos anos de Isabel e pelo afeto, a velha tradicional saudação palestina: "A paz esteja com você, Isabel". Mas já, aqui, neste momento, o prodígio. Isabel sente algo. Algo que nem sangue nem carne lhe dizem, mas sim Aquele que está no céu e para quem nada é impossível. Pela primeira vez o Messias será reconhecido. Isabel sente que o filho que está no sexto mês e que, segundo a profecia do anjo a Zacarias, está cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe, pula em seu ventre, como uma criança pulando de alegria. E "ela mesma", diz São Lucas, "sentiu-se cheia do Espírito Santo". Isabel vê Maria, olha-se em seus olhos arregalados e prodigiosos, entra-se por eles no mistério que a Donzela traz escondido. E grita alto "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre! De onde é concedido que a Mãe do meu Senhor venha a mim? Eis que logo que a vossa voz ressoou nos meus ouvidos, saltou a criança no meu Bem-aventurados sois vós, que crestes que se cumpriria o que vos foi dito pelo Senhor!”.

Os saltos de João Batista no ventre de sua mãe são o primeiro sinal de uma expectativa humana diante do Messias que já está vindo, que precisará que seus caminhos sejam pavimentados para que a Verdade caminhe com facilidade e encontre eco nos corações endurecidos dos homens.

Anunciação-Visita A Isabel E Ação Pastoral

Na anunciação Maria faz perguntas para ter certeza sobre sua missão de ser Mãe do Salvador (cf. Lc 1,26-37). Quando tudo se torna certo, Maria diz seu Sim a Deus radicalmente. Maria deixa a Palavra de Deus entrar em sua vida e ela é fecundada pelo Salvador. Jesus, o Salvador, que está no seio de Maria já empurra Maria para a ação pastoral, isto é, ir ao encontro de Isabel que está precisando da presença de Maria. Maria poderia pensar em si mesma, na sua gravidez. Mas ela pensa no outro e vai ao encontro do outro.

Quem permitir e viver o mistério da Anunciação, será fecundado como Maria. Quem não é fecundado, não é feliz. Com a fecundação e a fecundidade na vivência do mistério da Anunciação, eu serei capaz de sair de mim mesmo para a ação pastoral como Maria visitou Isabel na sua necessidade. Se permitirmos a entrada da Palavra de Deus na nossa vida, ficaremos fecundados e seremos capazes de fazer Jesus nascer para o mundo.

É preciso fazer uma ligação entre a Anunciação e a Ação Pastoral. Sem a Anunciação, isto é, sem ser fecundado pela Palavra de Deus, a ação pastoral se torna estéril. A Anunciação sem a Ação Pastoral se torna um isolamento estéril e mortal.

Palavras De Alguns Padres Da Igreja (Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea, Exposição Contínua Sobre Os Evangelhos vol.3, Evangelho de São Lucas, Ed. Ecclesiae, Campinas/SP,2020 pp.67-68):

1.   Jesus que estava no seu ventre (ventre de Maria), tinha pressa para santificar João, encerrado ainda no ventre de sua mãe. Por isso segue: com pressa. (Orígenes).

2.   A graça do Espírito Santo não conhece delongas. Aprendei, ó virgens, a não vos deterdes nas praças, a não misturardes com o povo em conversas. (Santo Ambrósio de Milão).

3.   Não havia, pois, ficado cheio do Espírito até ter estado diante daquela que levava o Cristo em seu ventre. Foi então que ficou cheio do Espírito e exultava dentro de sua mãe. Por isso segue: e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Não se deve, portanto, duvidar que aquela que então ficou cheia do Espírito Santo, ficou cheia por causa de seu filho (Orígenes).

4.   Maria é abençoada por Isabel com as mesmas palavras proferidas pelo anjo, a fim de mostrar que seria venerada pelos anjos e pelos homens (São Beda).

5.   “... bendito é o fruto de teu ventre!”. “Somente esse fruto é bendito, porque sem varão e sem pecado” (Expositor grego).

P. Vitus Gustama,svd

30/05/2025-Sextaf Da VI Semana Da Páscoa

A TRISTEZA SE TRANSFORMA EM ALEGRIA NA COMPONHIA DO SENHOR

Sexta-Feira da VI Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 18,9-18

Estando Paulo em Corinto, 9 uma noite, o Senhor disse-lhe em visão: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, 10 porque eu estou contigo. Ninguém te porá a mão para fazer mal. Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence”. 11 Assim Paulo ficou um ano e meio entre eles, ensinando-lhes a Palavra de Deus. 12 Na época em que Galião era procônsul na Acaia, os judeus insurgiram-se em massa contra Paulo e levaram-no diante do tribunal, 13 dizendo: “Este homem induz o povo a adorar a Deus de modo contrário à Lei”. 14 Paulo ia tomar a palavra, quando Galião falou aos judeus, dizendo: “Judeus, se fosse por causa de um delito ou de uma ação criminosa, seria justo que eu atendesse a vossa queixa. 15 Mas, como é questão de palavras, de nomes e da vossa Lei, tratai disso vós mesmos. Eu não quero ser juiz nessas coisas”. 16 E Galião mandou-os sair do tribunal. 17 Então todos agarraram Sóstenes, o chefe da sinagoga, e espancaram-no diante do tribunal. E Galião nem se incomodou com isso. 18 Paulo permaneceu ainda vários dias em Corinto. Despedindo-se dos irmãos, embarcou para a Síria, em companhia de Priscila e Áquila. Em Cencréia, Paulo rapou a cabeça (cortou os cabelos), pois tinha feito uma promessa.

Evangelho: Jo 16,20-23

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20“Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. 21A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo. 22Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. 23aNaquele dia, não me perguntareis mais nada”.

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O Senhor Jamais Abandona Seus Mensageiros

A meta da ação missionária de Paulo são sempre os centros mais importantes de uma cidade. Agora será Corinto, "a cidade dos mares", uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, capital da província romana da Acaia e um florescente centro comercial. Em um ano e meio, seguramente, Paulo fundou a Igreja, que seria a destinatária de duas de suas principais cartas. A história destaca o dramático rompimento com a sinagoga (At 18,5-7), as angústias do início e o extraordinário sucesso da missão (At 18,8-11) e a perseguição dos judeus, que conduzirão Paulo diante do procônsul Gálio (At 18,12-17). Este episódio permite datar os acontecimentos, quase com certeza, no ano 52 depois de Cristo. Na parte final da história (At 18,18-28) a ação muda de cenário. Paulo volta a Antioquia na Síria, onde conclui a segunda viagem (At 18,18-22) e inicia a terceira, que faria de Éfeso a base de suas operações missionárias (At 18,23-28).

Depois de Filipos e Atenas, São Paulo foi para a terceira cidade da Europa que recebeu o Evangelho: Corinto. Corinto era uma cidade mais importante da Grécia e sede do governador romano, o prôconsul e centro comercial de primeira ordem. Por isso, era um lugar muito estratégico para a evangelização. Corinto foi reconstruída por César em 44 a.C depois de sua destruição por obra de Lúcio Múmio em 146 a.C (Lucius Mummius Achaicus foi eleito cônsul em 146 a.C).

Conforme o texto da Primeira Leitura de hoje, em Corinto é que, numa visão noturna, o Senhor falou para São Paulo: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo”. “Eu estou contigo” é uma expressão vinda de Deus quando envia uma pessoa para uma missão.

Em cada Carta de são Paulo, para não dizer em cada capítulo de suas cartas é muito dificilmente não encontrar o nome de Jesus ou algo referente a Jesus. Não era simplesmente uma maneira de falar. A citação do nome de Jesus ou algo referente a Jesus quer nos mostrar que São Paulo e Jesus viviam juntos. Esta união era tão profunda que São Paulo chegou a escrever: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim(Gl 2,20). Jesus e São Paulo continuamente se comunicavam um ao outro. Como São Paulo, os primeiros cristãos estavam convencidos da presença de Cristo e esta convicção constituía sua força. Nas dificuldades cotidianas eles se agarravam nesta certeza. Esta certeza deve servir também a todos nós cristãos, pois o próprio Senhor nos promete uma presença permanente na nossa vida de cada dia (Mt 28,20).

Com a visão noturna de São Paulo, que lemos na Primeira Leitura, Lucas, o autor dos Atos, quer revelar a seus leitores a promessa ou projeto do Senhor: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo”.

As palavras que o Senhor disse a São Paulo, numa visão noturna, são palavras que mais vezes se escutam tanto no AT como no NT, dirigidas às pessoas das quais Deus escolheu para ser testemunhas no mundo: “Não temas!”. Ouviram o próprio Moisés (Dt 31,6), Josué (Js 1,9), Jeremias (Jr 1,8), Isaías (Is 41,10; 43,5) e a Virgem Maria (Lc 1,30), e agora São Paulo.

Sentir medo não é errado porque somos criaturas expostas a perigos e ameaças. Os nossos medos são um sinal de alarme que podem nos ajudar a evitarmos o perigo e nos criam prudência. O que se evita é o medo exagerado. Sabemos pela experiência que o resultado do medo (exagerado) é a imobilidade. Quando estamos envolvidos pelo medo (exagerado), não conseguimos avançar. O medo nos deixa de termos novos pensamentos, de vivermos novas experiências e de conhecermos novas personalidades, pois ficamos trancados no nosso isolamento.

Por que “Não tenha medo!”? Sabemos pela experiência que o resultado do medo é a imobilidade. Quando estamos envolvidos pelo medo, não conseguimos avançar. O medo nos deixa de termos novos pensamentos, de vivermos novas experiências e de conhecermos novas personalidades. Por causa do medo, tudo o que a vida está pronta a nos oferecer passa sem ser percebido. De fato, a vida é uma série de oportunidades para o crescimento emocional, espiritual e intelectual, e nenhuma oportunidade para ação está além de nossa capacidade.

Paulo como os antigos profetas escolhidos por Deus para efetuar uma missão no certo momento em que se encontravam os profetas, pode encarar as resistências e perseguições com coragem e liberdade porque o “Senhor está com ele”. Isto quer nos dizer que quando fizermos a vontade de Deus, quando vivermos de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo, podemos ter certeza de que não vamos lutar sozinhos e sim com Jesus Cristo. E “Se Deus é por nós, quem será contra nós? .... Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor”, escreveu São Paulo aos romanos (Rm 8,31.38-39).

Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo”. Temos direito de desconfiar na Palavra de Deus? Temos direito de ficar desanimados porque nos aparece que nossa sociedade está desordenada, sem justiça social e cheia de corrupção? Temos direito de ter medo diante das dificuldades onde nos encontramos no momento, enquanto Deus continua conosco?

Quem Acredita Em Deus Seu Sofrimento Será Transformado Em Alegria

Continuamos acompanhando o longo discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17). Como qualquer despedida, o tom é sempre melancólico. Mas em cada despedida há sempre as últimas recomendações ou lições dadas ou deixadas por aquele que vai partir para que os que ficam não vivam desamparados ou desorientados.

E o texto do evangelho de hoje nos fala da vida como ela é. O sofrimento e a dor, a alegria e a tristeza, o sucesso e o fracasso, o nascimento e a morte, o sorriso e o choro moram no mesmo homem. O famoso escritor libanês, Khalil Gibran, escreveu no seu livro O Profeta: Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria. E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite... A alegria e a tristeza vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama”.

Dentro dos sofrimentos e das alegrias ou com eles, nós crescemos ou avançamos na vida. Até se soubermos aproveitá-los o nosso crescimento fica acelerado e nossa maturidade nos aproxima bem cedo. Eles fazem parte de ingredientes para saborear a vida na sua plenitude, como cada rosa que tem seus espinhos, mas os espinhos não tiram a beleza de uma rosa. Todo sofrimento por amor nos faz crescer na nossa maturidade. O filósofo romano, Epicteto escreveu: “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças... Você possui forças que provavelmente desconhece” (Arte de Viver, p.37, Sextante: Rio de Janeiro,2000). E a Palavra de Deus veio certamente para despertar essa força misteriosa que temos dentro de nós para superar as nossas “paralisias”.

Jesus anuncia para os discípulos sua morte iminente como uma partida para o Pai (Jo 16,5). Consequentemente, os discípulos ficarão tristes por causa da ausência física de Jesus. “A tristeza é a passagem do homem de uma perfeição maior para uma perfeição menor”, dizia o filósofo Espinosa. Com a tristeza o homem reduz sua potência de agir. As trestezas e as alegrias vão e vêm na vida de cada ser humano. A tristeza é uma infelicidade que passa. A infelicidade é a tristeza que se instala.

Jesus afirma, no seu discruso de despedida, que a tristeza dos discípulos é apenas uma passagem. Ele evoca a imagem de uma mulher parturiente: “A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo”.Com essa comparação da mulher, Nosso Senhor mostra como é ele quem rompe as aflições da morte e, por meio de um segundo nascimento, faz novo o homem. E não disse que a mulher não terá nenhuma tribulação, mas que nem se lembrará dela, tamanho o gozo que seguirá, e que do mesmo modo acontecerá com os santos. Tampouco disse: ‘Nasceu um menino’, mas sim: Nasceu um homem, em referência velada à sua ressurreição” (São João Crisóstomo In Ioannem).

Na Bíblia as dores do parto caracterizam um “castigo” terrível (Gn 3,16; Jr 4,31; 6,24; 13,21). No entanto, são as únicas dores que têm um sentido porque trazem uma nova vida ao mundo. Para os discípulos os sofrimentos são de caráter passageiro, pois sofrem em nome de Jesus que é a vida de suas vidas (Jo 14,6; 11,25), como uma mãe parturiente que sofre em nome de uma vida que está para vir ao mundo. Trata-se, paradoxalmente, de um sofrimento que tem sabor de alegria ou uma dor fecunda.

Para quem está com o Senhor os sofrimentos desta vida não são sofrimentos de agonia e sim são sofrimentos de parto que conduzem à vida, são sofrimentos fecundos que fertilizam nossa vida de salvação. Com o Senhor e no Senhor todo sofrimento é fecundo. Com o Senhor cada sofrimento faz nascer uma nova visão cada vez maior sobre a vida que vivemos. Se o coração se alegra, se alegra todo o homem desde sua raiz mais profunda.

E Jesus promete aos discípulos: “Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”. Trata-se da alegria que nunca se acaba, pois é a alegria eterna vinda do Senhor. É a promessa daquele que venceu a morte. As tristezas de cada dia podem acontecer, as tribulações podem nos cercar, mas nada nem ninguém possa nos tirar do caminho da Vida e do amor de Cristo por nós. Deus é por nós (cf. Rm 8,35-39). Nossa alegria nasce da serena certeza de que somos queridos do Senhor infinitamente, amados em todas as nossas limitações e fraquezas. É a alegria de saber que nossa vida tem sentido e tem futuro. Por isso, a falta de alegria profunda, no fundo, é sinal da falta de fé, sinal da falta de profundidade na vida de fé. Um cristão triste é, verdadeiramente, um triste cristão.

De início, o sofrimento nos parece sempre grande demais. Porém, o sentido de qualquer sofrimento é levar-nos ao nosso limite para nos fazer descobrir novas forças.   Aprendamos da mulher-mãe da qual fala o evangelho de hoje. Nela concorrem sucessivamente tristeza-dor e triunfante alegria, porque o dom da maternidade é muito grande. Assim também nós, filhos e filhas de Deus, discípulos e discípulas de Cristo, caminharemos da provação-sofrimento-tristeza para a alegria-consolo, fecundidade do gozo no Espírito de Deus. A força de Deus é tal que é capaz de nos encher de serenidade e confiança, enquanto a provação, ao contrário, tenta nos impor um sentimento de fracasso e o desejo de perecer.

Tenhamos confiança; o Senhor sempre está conosco. O Senhor quer que através de cada um de nós surja uma nova humanidade onde haja menos dor, menos pobreza, menos tristeza, menos angústia, menos exploração dos menos favorecidos, menos injustiças sociais, menos vícios que minem a saúde das pessoas e a paz familiar. O Senhor continua nos enviando para que possamos gerar uma autêntica alegria cristã. Mas temos que estar conscientes de que para gerar um homem novo e renovado nos custará grandes sofrimentos, perseguições e incompreensões. Na vida o que é valioso custa muito. Não há nada que seja valioso que seja dado de graça. Ninguém cresce sem aprender a morrer de muitas coisas na vida. Mas o Senhor quer que sejamos fortes, valentes, seguros e que confiemos n’Ele e caminhemos atrás de suas pegadas. E quem crê em Jesus Cristo deve ser o primeiro em trabalhar pelo bem de todos.

Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” é a Palavra do Senhor hoje para todos nós. Para isso, temos que viver de acordo com os ensinamentos de Cristo que se resumem no amor fraterno, pois quem ama o próximo, não vai fazer mal contra ele. A vivência do amor fraterno nos traz uma alegria plena, pois trata-se de estar com o Deus de amor (cf. Jo 15,9-11). Além disso, o segredo desta alegria plena está na seguinte oração: “Inspirai, ó Deus, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em Vós comece e termine aquilo que fizermos” (Coleta/oração do dia da Quinta-Feira após as Cinzas).

Vamos tentar descobrir a seguinte verdade: O modo como você começa seu dia determina o modo como você passará o restante dele. Os seus primeiros trinta minutos depois de acordar são os minutos mais importantes e valiosos do dia porque têm uma enorme influência na qualidade de cada minuto que segue. Tenha apenas pensamentos puros e conceba apenas coisas boas para que seu dia tenha uma continuidade maravilhosa. Seja simples porque a simplicidade é a virtude dos sábios, e a sabedoria dos santos. Não pense no mal para que o mal não pense em você. Mas pense no bem para que o bem pense em você. “Contemple o bem, e persiga-o, como se não pudesse alcançá-lo; contemple o mal e evite-o, como evitaria colocar a mão em água fervente(Confúcio: Aforismos de Confúcio).

Então, comece bem seu dia e você nunca mais será o mesmo. Além disso, pela comunhão, Cristo morto e ressuscitado se faz nossa força para passar triunfalmente pelo sofrimento que encontramos na vida como ele próprio venceu a morte.

P.Vitus Gustama, SVD

16/12/2025- Terçaf Da III Semana Do Advento

O DIZER E O FAZER DO CRISTÃO DEVEM ESTAR EM SINTONIA Terça-feira da III Semana do Advento   Primeira Leitura: Sf 3,1-2.9-13 Ass...