domingo, 31 de agosto de 2025

01/09/2025- Segundaf Da XXII Semana Comum- Ano Ímpar

SOMOS LIBERTADOS POR JESUS PARA CONSTRUIR UMA HUMANIDADE MAIS FRATERNA A FIM DE PODERMOS ESTAR COM DEUS NA ETERNIDADE

Segunda-Feira da XXII Semana Comum

Primeira Leitura: 1Ts 4,13-18

13 Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. 14 Se Jesus morreu e ressuscitou — e esta é nossa fé —, de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte. 15 Isto vos declaramos, segundo a palavra do Senhor: nós que fomos deixados com vida para a vinda do Senhor não levaremos vantagem em relação aos que morreram. 16 Pois o Senhor mesmo, quando for dada a ordem, à voz do arcanjo e ao som da trombeta, descerá do céu e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. 17 Em seguida, nós que fomos deixados com vida seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor, nos ares. E assim estaremos sempre com o Senhor. 18 Exortai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras.

Evangelho: Lc 4,16-30

Naquele tempo, 16 veio Jesus à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado, e levantou-se para fazer a leitura. 17 Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: 18 “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos 19 e para proclamar um ano da graça do Senhor”. 20 Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21 Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. 22 Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: “Não é este o filho de José?” 23 Jesus, porém, disse: “Sem dúvida, vós me repetireis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum”. 24 E acrescentou: “Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25 De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26 No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27 E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o Sírio”. 28 Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29 Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30 Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

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Viver Preparado Para a Segunda Vinda Do Senhor Que Nos Levará Para a Eternidade

Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou — e esta é nossa fé —, de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte”, disse São Paulo aos tessalonicenses no texto da Primeira Leitura.

Estamos na segunda parte (parte final) da Primeira Carta de São Paulo à comunidade cristã de Tessalônica (1Ts 4,1-5,22). O que se enfatiza nesta parte é a questão da Parusia. Portanto a acentuação é o presente e o futuro. As expressões que aparecem frequentemente nesta parte são “Nós vos rogamos”, “Nós vos exortamos(1Ts 4,1-2.10; 5,4-6.12-14). São Paulo pede para que haja uma vida consagrada a Deus entre os tessalonicenses. O pano de fundo dessa exortação é a vinda iminente do Senhor (Parusia). Para são Paulo não pode haver uma vida dupla em que se dizem cristãos, mas vivem como pagãos; pensar como cristãos e viver como pagãos. E são Paulo enfatiza que não é a palavra dele mais importante e sim a exigência da própria Palavra de Deus que são Paulo e seus colaboradores transmitem aos tessalonicenses.

Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança”. A morte de alguns amigos e cristãos de Tessalônica afetou profundamente os outros fieis. São Paulo, através de sua carta, quer consolá-los revivendo neles a fé que são Paulo e seus colaboradores ensinaram a respeito da ressurreição dos mortos. Enquanto os filósofos pagãos ignoraram a ressurreição dos mortos e somente alguns chegaram a conhecer a imortalidade da alma, os cristãos creem que em Jesus Cristo a morte foi vencida e esperam ser ressuscitados como o próprio Jesus Cristo foi ressuscitado. Consequentemente, a fé na ressurreição da carne e na vida eterna, como professamos no Credo, constitui para os cristãos uma verdade central e muito querida.

A esperança na ressurreição se funda no fato de que Jesus Cristo ressuscitou e na convicção de que todos os crentes vivem e morrem em Jesus e como Jesus, isto é, viver e morrer para a vida eterna. Cristo é “o Primegenito dos mortos” (Cl 1,18), o Primeiro nascido e ressuscitado para a verdadeira vida. Jesus Cristo é também Nossa Cabeça, Princípio de unidade e solidariedade de todos os mebros para formar um mesmo corpo. Se Cristo Jesus, a cabeça, ressuscitou, também seus membros ressuscitarão: “Se Jesus morreu e ressuscitou — e esta é nossa fé —, de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte”. Para a morte São Paulo usa a palavra “sono” ou descansar. É descansar para acordar a fim de viver uma felicidade sem fim na vida eterna. Não é por acaso que dizemos para qualquer pessoa que morreu: “Descanse em paz” (RIP- Requiescat In Pace- Rest In Peace).

A ressurreição de Jesus Cristo e dos que são de Cristo é obra de Deus, o Pai (1Cor 6,14; 2Cor 4,14). Deus ressuscitará os que morrem “em Jesus” porque são de Jesus (Rm 14,8). Não somente a Cabeça (Cristo) que ressuscita, mas também o Corpo inteiro (os fieis). Dai a importância da afirmação da vida sobre a morte e a comunhão de todos com o Senhor que há de voltar na Sua Segunda Vinda (Parusia). 

Sabemos que o Senhor, virá, mas não sabemos do quando desta vinda. Por isso, estejamos preparados. O modo melhor para se preparar para esta vinda é viver de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo. Crer é viver segundo os ensinamentos evangélicos. A ignorância desta certeza faz com que o cristão tenha a impressão de que a vida cristã é um caminho sem um fim claro. 

Além disso, a fé na ressurreição dos mortos é uma garantia da dignidade dos vivos. Esta fé proíbe os cristãos de sacrificar os homens de hoje em beneficio exclusivo dos homens de amanhã. A fé na ressurreição tem como consequência a proteção da vida no seu início, na sua duração e nos seu fim aqui neste mundo.

Não podemos viver sem a esperança. A morte não é a última palavra. Deus nos destina para a vida. A morte é de certa forma, um mistério. Não conhecemos o que é a morte enquanto não a experimentarmos. E quem a experimentou não pode falar sobre ela. Mas por causa da ressurreição do Senhor temos certeza de que não vivemos mais para morrer e sim morremos para viver. A vida não pertence mais à morte e sim a morte pertence à vida. Vivamos profundamente para continuarmos viver com sentido. 

Deus Vem Para Nos Libertar a Fim De Estar Com Ele Eternamente

O texto do evangelho de hoje nos fala do início da pregação pública de Jesus segundo Lucas. A pregação inaugural (discurso programático em Nazaré) tem como lugar numa sinagoga em Nazaré, por ocasião de um culto sinagogal no Sábado. E a leitura que Jesus fez e sobre o qual comentou é o texto do Trito-Isaias (cf. Is 61,1-2) que fala da missão do Messias. E a missão do Messias, do Ungido de Deus, é proclamar a Boa Notícia que consiste na libertação dos prisioneiros do sofrimento, da opressão, da injustiça e proclamar a Boa Notícia, preferencialmente, para os pobres, os escravos, os marginalizados: os leprosos, os doentes, os publicanos, as mulheres. E Jesus se apresenta como o Ungido, o Messias (cf. Lc 3,21-22). Em outras palavras, o que o livro de Isaias anunciava se cumpriu em Jesus: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Os ouvintes de Jesus se encontram diante d´Aquele que que cumpre toda a promessa do Antigo Testamento.  Toda a promessa se cumpre exatemente “hoje” e “nos ouvidos” de quem a escuta.  Todo o Evangelho de Lucas será um ouvir de sua Palavra que nos torna contemporâneos a Ele: na oediência da fé, entramos na salvação. O próprio Jesus é o Ouvinte perfeito que cumpre a vontade do Pai: a Palavra do Pai nele se faz realidade e vida, seu hoje. Como Libertador,  Quem escuta Jesus e pratica a sua Palavra encontra-se vivendo no próprio hoje e torna-se membro de sua família (cf. Lc 8,21). Jesus veio ao encontro do homem para devolver sua dignidade como pessoa humana e filho (filha) de Deus.

Trata-se de uma cena bem significativa, programática que se pode dizer que dá sentido a todo ministério messiânico de Jesus: sua primeira pregação na sinagoga de seu povo de Nazaré. Trata-se de uma cena densa, muito bem narrada por Lucas com uma série de detalhes significativos: o costume de ir à sinagoga todos os sábados; o convite para que leia a Palavra de Deus; o comentário de Jesus sobre a leitura do Livro de Isaias cujo conteúdo é o programa do ministério de Jesus: “Hoje se cumpriu a Escritura...”; as primeiras reações e aprovação por parte dos seus conterrâneos que ficam bloqueados em seu caminho de fé, pois conhecem demais Jesus: “Não é este o filho de José?”; a queixa de Jesus sobre essa falta de fé; a reação de ira.

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Jesus veio para libertar, para unir e reunir, para salvar. A idéia de libertação, de liberdade, está subjacente em todo o Evangelho de Lucas (e outros evangelhos). Toda vez que Deus visita e se aproxima do homem, Ele o faz para libertá-lo: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo...” (Lc 1,68). E toda vez que o homem se aproxima de Deus, ele ganha a libertação e a liberdade. A aproximação de Deus em Jesus Cristo tem como objetivo libertar o homem: libertar para ser livre.

Jesus vem ao encontro do homem para que este se torne mais humano e mais irmão dos outros, e para fazer que o homem seja capaz de se levantar contra si próprio, isto é, contra àquilo que não é humano dentro de si, penetrando até o intimo de seu ser para destruir o que é caduco e podre dentro de si próprio a fim de fazer florescer o que tem de esplêndido e admirável dentro de si. Jesus vem ao encontro do homem para que este seja capaz de jogar para longe as cadeias de seu egoísmo que prejudica a convivência fraterna. Jesus vem ao encontro do homem para que este seja capaz de sentir-se, com todas as suas conseqüências, filho de Deus e irmão dos demais homens. Jesus vem para libertar o homem em sua totalidade a fim de fazê-lo apto para construir o hoje e o aqui do Reino de Deus que Ele anuncia e quer construir como tarefa prioritária de sua vida e missão. Jesus vem para libertar o homem daquilo que se chama “pecado” e que consiste em subverter a escala de valores e no lugar de buscar o Reino de Deus e sua justiça (cf. Mt 6,33), buscar a própria e direta satisfação acima de qualquer valor. Jesus vem para que, ao libertar o homem, desaparecem da terra o ódio, a guerra, a violência, a extorsão, a exploração, a injustiça, a miséria, a opressão, a intolerância, e assim por diante. Jesus vem para construir o homem novo capaz de colaborar na realização da nova terra e do novo céu (cf. Ap 21,1-8). 

Jesus veio como o verdadeiro Libertador dos homens. Convém pensar serenamente na passagem do Evangelho deste dia e saborear a cena num momento no qual vivemos na atualidade com proliferação dos que se dizem “libertadores” ou “os liberais” e que pregam tantas “liberdades” ou “libertinagem”. Estamos rodeados dos libertadores oficiais que nos querem liberar para gozar do sexo, da vida, de cada momento que se escapa de nossas mãos como rapidez. No entanto, nunca o homem está tão prisioneiro de si próprio, prisioneiro, precisamente, daquilo por onde dizem que vem a libertação ou uma simples liberação de tudo. Trata-se de uma liberação ou libertinagem que arranca um sorriso limpo e estimulante de tantos lábios, a violência mortal ao impor os próprios modos de conceber a vida a ponta de uma pistola ou de um revolver, a fome que é possível morrer em nossas civilizadas e estupendas cidades, uma solidão que enche de vazio nossas populosas cidades, a injustiça que se traduz em pobreza institucionalizada. Esses são os frutos da liberação ou da libertinagem que nos anunciam os messias de turno. Diante deles se levanta Jesus, com a Escritura na mão, anunciando que real e verdadeiramente libertação consiste em romper as cadeias pessoais para conseguir ser o que se deve ser: filhos de Deus e irmãos dos demais homens. Para um cristão o que deve ser é ser um sincero e verdadeiro filho de Deus, com toda a amplitude e a exigência que essa realidade traz consigo. É preciso escutar a Palavra anunciada por Jesus, a Palavra do Pai. 

Na sinagoga Jesus leu uma passagem da Escritura e fez o comentário sobre ela. Os nazarenos ficaram admirados com a explicação de Jesus, mas, ao mesmo tempo, se escandalizaram porque para eles Jesus é o filho de um simples carpinteiro. Jesus que anuncia é tão “humano” e por isso, ele é uma presença de Deus. O anúncio tão humano de Jesus não se trata de filantropia ou de ação social, mas trata-se, precisamente do projeto de Deus e da ação do Espírito Santo: “O Espírito do Senhor está sobre mim para...”. A presença de Jesus é uma chuva de benefícios para todos: para os pobres, para os cativos, para os cegos, para os oprimidos...    

Quando escutamos a Palavra de Deus, temos que recebê-la não como um discurso humano e sim como uma Palavra que tem um poder transformador em nós, pois tudo o que diz está profundamente cheio de sentido e de amor. Deus não fala para nossos ouvidos e sim para nosso coração. A Palavra de Deus é uma fonte inextinguível de vida. A Palavra de Deus sai do próprio coração de Deus. Desse Coração, do seio da Trindade veio Jesus, a Palavra do Pai, para os homens (cf. Jo 1,1-4.14). 

Por isso, cada dia, quando lemos ou escutamos o Evangelho, nós temos que dizer, como Maria: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38). Ao que Deus nos responderá: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabastes de ouvir”. Os nazarenos não compreenderam as palavras de Jesus, pois olhavam somente com os olhos humanos: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22). Viam a humanidade de Jesus, mas se escondia a Sua divindade aos olhos dos nazarenos. Toda vez que escutamos a Palavra de Deus, além de seu estilo literário, da beleza das expressões ou da singularidade da situação, temos que saber e estar conscientes de que é Deus Quem nos fala. 

O Senhor “me enviou para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos”. A vida de Jesus é nossa vida. A missão de Jesus é nossa missão. Temos missão de libertar as pessoas de suas “ataduras” de vida; de fazer as pessoas enxergarem sua vida e a realidade ao redor para tomar posição como cristão, de viver na alegria do Senhor apesar dos contra-tempos. Mas para podermos libertar os outros temos ser, primeiro, livres, pois somente quem é livre pode libertar.

P. Vitus Gustama,svd

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

XXII Domingo Comum, Ano "C", 31/08/2025

A GRANDEZA DO CRISTÃO ESTÁ NA HUMILDADE E NA GRATUIDADE POR AMOR

XXII Domingo Do Tempo Comum “C”

Primeira Leitura: Eclo 3,19-21.30-31 (gr: 17-18.20.28-29))

19 Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. 20 Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios. 21 Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes. 30 Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende. 31 O homem inteligente reflete sobre as palavras dos sábios, e com ouvido atento deseja a sabedoria.

Segunda Leitura: Hb 12,18-19.22-24a

Irmãos: 18 Vós não vos aproximastes de uma realidade palpável: "fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, 19 som da trombeta e voz poderosa", que os ouvintes suplicaram não continuasse. 22 Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; 23 da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; 24a de Jesus, mediador da nova aliança.

Evangelho: Lc 14,1.7-14

1 Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10 Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado.' 12 E disse também a quem o tinha convidado: 'Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos.'

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Lições Do Caminho

Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho para Jerusalém, sua ultima viagem para Jerusalém, pois lá ele será crucificado, morto e ressuscitado. Jesus continua com suas últimas lições/instruções dadas aos seus discípulos no seu Caminho para Jerusalém. Trata-se das lições do caminho (Lc 9,51-19,58). A intenção de Jesus ao dar tais lições é preparar os discípulos para a futura missão na Sua ausência física nesta terra. E estas lições servem também como instrução catequética-catecumenal para todos os cristãos de todos os tempos e épocas. Por ser tratarem de lições importantes Lucas não tem pressa de relatar a chegada de Jesus em Jerusalém.               

As lições que Lc nos apresenta através da passagem do evangelho deste dia são a humildade (vv. 7-11) e a gratuidade baseada sobre o amor desinteressado (vv.12-14). O que une estas lições é o tema do Reino considerado como banquete eterno. Humildade e gratuidade baseada sobre o amor desinteressado são fundamentais para participar do banquete do Reino.        

Para falar destes temas/lições Lc parte de uma refeição preparada por um fariseu para Jesus como seu convidado especial. No evangelho de Lucas os fariseus estão bastante próximos de Jesus em comparação com outros dois sinóticos (Mt e Mc). Lc nos relata que Jesus é convidado três vezes para uma refeição na casa dos fariseus (cf. Lc 7,36-50; 11,37-53; 14,7-14).      

No mundo semita o banquete ou a refeição é o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo pão/ alimento (companheiro). E o pão/alimento é fruto dos processos do trabalho humano e é distribuído a cada membro da família para sua subsistência. A refeição é o espaço onde se manifestam e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade e de fraternidade. Em qualquer povo, o primeiro gesto de hospitalidade e de fraternidade é o convite para a mesma mesa, a partilha daquele alimento que transforma estranhos em amigos. Sob o aspecto físico, a refeição é indispensável para a sobrevivência; no aspecto social, ela sela uma boa relação, uma aliança. Todas as alianças no mundo semita sempre se finalizam com uma refeição.        

A partir da refeição ou do banquete humano Jesus entra no tema do Reino, que ele vai antecipar através da instituição da Eucaristia. E o Reino é o banquete eterno, e por isso, é um espaço de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço por amor. Por esta razão, do Reino são excluídas qualquer atitude de superioridade, de orgulho/arrogância/prepotência, de ambição, de domínio sobre os demais e outras atitudes semelhantes. Para poder participar do banquete do Reino cada um deve fazer-se pequeno, humilde, simples e sem nenhuma pretensão de ser considerado melhor, mais justo/santo ou mais importante do que os outros. O próprio Jesus serve de exemplo para todos, quando, na véspera da sua morte, lavou os pés dos discípulos (cf. Jo 13,1-17). Por isso, Jesus fala da humildade e da generosidade.        

Aprofundemos um pouco mais nossa reflexão sobre alguns pontos da passagem do evangelho deste dia.

1. A Humildade Nos Faz Ocupar Nosso Lugar E Atrai A Bênção De Deus E A Simpatia Humana        

Filho, na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que Ele revela seus mistérios(Eclo 3,20).        

O texto nos relatou que Jesus foi convidado por um fariseu para uma refeição. Os fariseus formavam um dos principais grupos religiosos-políticos na época de Jesus. Seu trabalho (trabalho dos fariseus) era transmitir a todos o amor pela Lei de Moisés (Torah), porque eles se preocupavam com a santificação do povo. Mas cada exagero gera sempre novo problema. Assim aconteceu com os fariseus. Eles absolutizavam tanto a Lei a ponto de abandonarem o essencial: o amor e a misericórdia para com o próximo (cf. Mt 9,13; Tg 2,13). Por viverem de acordo com a Lei, eles se consideravam “puros”, superiores e desprezavam os demais que não cumpriam a Lei (os analfabetos, os pobres etc.).

É melhor um pecador humilde do que um beato orgulhoso”, dizia Santo Agostinho. O homem que se deixa dominar pela arrogância ou superioridade torna-se egoísta, injusto, auto-suficiente, e despreza os outros. Ele até deixa de precisar de Deus e dos outros homens. Ele olha todos com superioridade e pratica com freqüência gestos de prepotência que o tornam temido, mas nunca admirado ou amado. Um chefe temido não é respeitado. Um chefe que ama, é respeitado. Daí nasceu a lição de Jesus sobre a importância da humildade na vida do cristão (vv.7-11).        

O vocábulo “humildade” deriva do latim humilis, que por sua vez, deriva de húmus: chão, terra. E o húmus é a parte nutritiva da terra. É o lugar em que, recebendo os cuidados adequados, calor e umidade, germina a semente saudavelmente.        

A humildade consiste em saber ocupar o próprio lugar de criatura; em reconhecer que o que somos e temos é um dom de Deus por causa de seu amor. Humilde é saber ser o que cada um é e saber lutar por ser o que Deus espera que sejamos.  O olhar simples de uma fé humilde permite-nos recordar a nossa criação do nada, como pura graça, e participar na comunhão d’Aquele que é a origem de toda a vida e de toda a felicidade. Quanto mais somos como pessoas, criaturas, menos precisamos provar isso aos outros. Quando o homem ocupa seu próprio lugar como criatura, ele tem condições e disposições para se encontrar com Deus, seu Criador. A revelação de Deus somente se dirige aos humildes porque eles estão abertos a receber a dádiva de Deus: “... é aos humildes que Deus revela seus mistérios” (Eclo 3,20. cf. Mt 11,25). Humilde é aquele que se encontra bem consubstanciado com a terra. É aquele que está com os pés bem firmes no chão, é aquele que pisa firme, com segurança, e confiança. Ele não se despreza nem se teme ninguém. Ser humilde significa assumir com simplicidade o nosso lugar, colocar/pôr os próprios dons ao serviço de todos com simplicidade e com amor sem nunca humilhar os outros com a própria superioridade. Por isso, a humildade é refúgio e alimento do ser. Nunca se aprende bastante da humildade, pois é na humildade que germinam nossos autênticos valores. A prática da humildade mostra que respeitamos os outros e que ainda temos muito a aprender dos outros. Em outras palavras, a humildade é uma forma de ser por dentro. Por isso, Santo Agostinho nos alerta: “Simular humildade é a maior das soberbas”.                 

A humildade, que constitui o alicerce de outras virtudes, é uma virtude tão importante que Jesus sempre aproveita qualquer circunstância para pô-la em destaque. A encarnação de Deus em Jesus Cristo é um mistério da humildade na sua própria essência. A humildade de Jesus, Deus feito homem, nos enobrece e nos oferece a incomparável dignidade de filhos de Deus. Todo o drama da redenção é o caminho vitorioso da humildade magnânima de Jesus que nos convida e nos torna aptos para o Seu seguimento. A humildade é o fundamento sobre o qual Cristo construiu a salvação dos homens e o caminho que Ele indica aos que querem entrar no Reino do Céu. Portanto, a humildade é a virtude que atrai a simpatia dos homens e as bênçãos de Deus: “Filho, na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim, encontrarás graça diante do Senhor... pois é aos humildes que Ele revela seus mistérios e... é glorificado pelos humildes” (Eclo 3,20s).

2. Generosidade É Sinal Da Gratidão        

Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa”. 

Para Jesus, por esta lógica simétrica (hoje convido-te eu a ti; amanhã convidas-me tu a mim) os pobres ficam sempre fora.

A assimetria do Reino de Deus vira tudo do avesso e ao contrário: “Quando tu deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos(Lc 14,13-14). Como se vê, aos quatro grupos de pessoas (amigos, irmãos, parentes e vizinhos) que dão lustro ao nosso “ego”, Jesus contrapõe outros quatro grupos de pessoas habitualmente excluídas, não só por não trazerem nenhum lustro ao nosso “ego”, mas até por criarem algum embaraço. Mas para Jesus é por esta brecha de Graça aberta no nosso cotidiano, que entra Deus e o mundo novo de Deus. 

Não nos esqueçamos que “dar esmola” (elêmosýnê) é “fazer Graça(eleêô). Portanto, é imitar o Deus da generosidade que tudo criou gratuitamente. Para este Deus é que rezamos ou cantamos: Kýrie eléêson  que significa “Senhor, faz-nos Graça”, isto é, embala-nos nos teus braços maternais e olha para nós com um olhar maternal. A Graça tem tempo e jeito maternal. A Graça só sabe dizer SIM. A Graça é Deus a olhar por Mim. 

Em Jesus, a Graça é acessível a todos, pois Ele olha com olhos de Graça para todos: ricos e pobres, justos e pecadores, sãos e doentes. Inclusive os fariseus. Note-se que o Evangelho de Lucas, que é o Evangelho da Graça de Deus aberto para todos, é o único a colocar Jesus por três vezes à mesa com fariseus (Lc 7,36; 11,37; 14,1).        

Os fariseus, como as pessoas em qualquer época e cultura, escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa. Eles não convidavam pessoas de nível menos elevado. Os fariseus também convidavam aqueles que podiam retribuir da mesma forma. Com isso, tudo se tornava um intercâmbio de interesse e um jogo de favores.        

Ao saber desse jogo de interesse Jesus dá a lição sobre a gratuidade e o amor desinteressado: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14).  A festa de que Jesus fala é a partilha do que há de bom na vida, pois a partilha é a alma do projeto de Deus. Jesus nos convida a uma atitude de gratuidade ou generosidade, uma atitude que é o exato contrário do cálculo interesseiro de quem vive se perguntando: “Quanto é que eu levo nisso? Que vantagem isso me dá? Será que tem retorno em fazer isso?”.        

Ao falar da festa Jesus está apontando para além da festa humana. Ele aponta para o Reino como um banquete eterno onde os convidados estão unidos pelos laços de familiaridade, de fraternidade e de comunhão. No céu todos são irmãos e vivem na fraternidade diante do Pai de todos que é Deus. As relações entre os que querem participar da alegria eterna por tratar-se de um banquete não serão marcadas pelos jogos de interesse e de intercâmbio de favores, mas pela gratuidade e pelo amor desinteressado. Por viverem orientados pela gratuidade e pelo amor desinteressado, os participantes do Reino estão bem distantes de qualquer atitude de superioridade, de arrogância, de ambição para estarem numa atitude de humildade, de simplicidade, de serviço por amor desinteressado. A arrogância ou a prepotência e o complexo de superioridade não encontram porta para entrar no céu e acabam ficando fora dele (cf. Lc 13,27-28).                  

A generosidade é um sinal de gratidão e de liberdade interior. Tudo o que somos, tudo o que podemos e temos é precioso e libertador, se o reconhecermos e apreciarmos como um dom do amor de Deus. Se percebermos e apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que temos e daquilo que possuímos vem de Deus, o Doador de todos os bens, então não nos agarremos às nossas riquezas e capacidades, nem as utilizaremos para nos exibirmos, mas procuraremos ser cada vez mais generosos, irmãos, humanos e livres, quer dando, quer recebendo.          

Para o generoso, todos os seus bens, todas as suas capacidades e dons se transformam num tesouro que se acumula no céu e que, entretanto, vai aliviando e tornando felizes os outros. E o próprio Jesus anuncia que tudo que aqui gratuitamente fazemos, nos será recompensado na vida eterna: “Tu serás recompensado na ressurreição dos justos” (Lc 14,14). Para ser feliz aqui nesta terra e na vida eterna é necessário fazer algo de bom pelos outros, gratuitamente, sem esperar uma troca. E para ser infeliz, basta ser egoísta ou ser avaro. O avaro é o protótipo dos sem-coração. O avaro é a pessoa mais pobre que existe. O egoísmo nos torna cegos diante da nossa soberba e nos impede de vermos os que são mais dignos. 

Quem é humilde é generoso, repartindo o que tem para os que nada têm, pois ele é capaz de receber, não só de Deus, mas também dos outros.  Porém, repartirá não para chamar a atenção para si, e sim, porque agradecido, gosta de tornar seus irmãos partícipes dos dons que recebeu. A pessoa humilde é que estabelece relações que trazem a felicidade, que acabam com o egoísmo, com a competição, com a ostentação, e fazem reinar no mundo as atitudes de intercâmbio generoso dos dons de Deus. O generoso é livre na medida em que não procura o seu próprio proveito, mas o daqueles a quem favorece. E a alegria que brota da generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e permanentes dons.      

Para nosso exame de consciência        

Provavelmente muitos de nós ficaríamos bastante desconcertados e não saberíamos responder, se alguém nos perguntasse se somos humildes, ou, se nos perguntasse se valorizamos a virtude da humildade? Qual será sua resposta a respeito? Santa Teresa de Jesus dizia que “a humildade é andar com verdade”. Trata-se de não querermos aparecer superiores ou melhores que os demais, pois a verdade é que vai nos dizer o que somos e o que não somos.        

Em segundo lugar, por vezes, assistimos ou participamos de uma corrida desenfreada na comunidade pelos primeiros lugares. Há pessoas cuja ambição se sobrepõe à vontade de servir. Elas querem os títulos honoríficos, as honras, as homenagens, os lugares privilegiados e não o amor desinteressado. Muitas vezes querem os primeiros lugares para manter os privilégios, quem sabe para manter escondidas as podridões. Por isso, há a intriga, a exibição, a humilhação de quem faz sombra ou incomoda e o jogo sujo. A nossa própria consciência vai responder a seguinte pergunta: Assistimos ou participamos de tal corrida desenfreada? Por outro lado, a Palavra de Deus nos alerta que quem vive segundo esquemas de superioridade, de prepotência, de humilhação dos outros, de ambição sem medida, de arrogância corre o perigo de se excluir do Banquete eterno. Por acaso, eu faço parte desse esquema?     

P. Vitus Gustama,svd

30/08/2025-Sábado Da XXI Semana Comum- Ano Ímpar

TALENTOS RECEBIDOS SÃO DADOS PARA SEREM MULTIPLICADOS PARA O BEM DE TODOS

Sábado da XXI Semana Comum

Primeira Leitura: 1Ts 4,9-11

Irmãos, 9 não é preciso escrever-vos a respeito do amor fraterno, pois já aprendestes de Deus mesmo a amar-vos uns aos outros. 10 É o que já estais fazendo com todos os irmãos, em toda a Macedônia. Só podemos exortar-vos, irmãos, a progredirdes sempre mais. 11 Procurai viver, com tranquilidade, dedicando-vos aos vossos afazeres e trabalhando com as próprias mãos, como recomendamos.

Evangelho: Mt 25,14-30

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 14 ”Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. 15 A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou. 16 O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. 17 Do mesmo modo, o que havia recebido dois lu­crou outros dois. 18 Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão. 19 Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados. 20 O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. 21 O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’ 22 Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. 23 O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’ 24 Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. 25 Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. 26 O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo onde não semeei? 27 Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. 28 Em seguida, o patrão ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! 29 Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30 Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes!”

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Mudar Para Crescer Cada Vez Mais Faz Parte De Um Sucesso

Irmãos, não é preciso escrever-vos a respeito do amor fraterno, pois já aprendestes de Deus mesmo a amar-vos uns aos outros... Só podemos exortar-vos, irmãos, a progredirdes sempre mais”, escreveu São Paulo para a comunidade cristâ de Tessalônica.

Só podemos exortar-vos, irmãos, a progredirdes sempre mais!”, disse São Paulo.

Nas sociedades mais avançadas não há indivíduos presos ao destino determinado pela sorte, pois eles são capazes de projetar a própria vida, e de aprender coisas novas para crescer mais e ampliar o horizonte. Mudar para crescer cada vez mais faz parte da vida diária e da caminhada humana. O mundo, em termos de tecnologia, cresce cada vez mais, e nunca sabemos até onde! Cada tecnologia avançada impõe um novo estilo de vida nunca antes vivido ou antes simplesmente recusado. O mundo está cada vez mais conectado. A tecnologia que uma mão segura domina a vida de quem a segura. A tecnologia aproxima quem está distante e distancia quem está próximo.

Pessoas eficientes e realizadas não passam tempo fazendo o que é mais conveniente ou cômodo; elas têm coragem de aprender coisas novas para crescer, de ouvir o próprio coração sem medo, e de fazer coisas certas e precisas. Isso é que as torna grandes. As pessoas bem-sucedidas têm o hábito de fazer as coisas que os fracassados não gostam de fazer. Quando você deixa de crescer, estará envelhecido. Enquanto estiver aberto ao crescimento, você é jovem. O seu medo de crescer é o seu medo de tomar conta de si mesmo ou da sua responsabilidade como adulto” (René Juan Trossero, psicólogo e escritor argentino). “Os homens só envelhecem quando os lamentos substituem os sonhos” (John Barrymore, era um ator americano).

Se no dia anterior as recomendações de São Paulo para os tessalonicenses se referiam à vida de santidade afastando-se da impureza (refere-se à vida sexual), hoje se tratam da caridade fraterna que necessita melhorar.

Toda comunidade cristã, seja familiar ou religiosa, seja paroquial ou diocesano pode sentir-se hoje interpelada: “Só podemos exortar-vos, irmãos, a progredirdes sempre mais!”. Concretamente, é progredir na vida fraterna baseada no amor.

O amor é o eixo sobre o qual giram todas as virtudes e doutrinas do NT. Todas as virtudes lhe servem de alimento e nenhuma virtude subsiste sem o amor.

Estar no caminho de Jesus é estar no caminho de amor. O amor opera grandes transformações. A escuridão se transforma em luz, a solidão em comunhão, o Eu em Nós, o Éros em Ágape, o humano em divino.

O ensinamento que mais vezes nos põe diante da Palavra de Deus é o mandamento principal: amar a Deus e amar ao próximo. Infelizemente, é o campo em que mais faltamos e, portanto, o que mais necessita de nosso esforço de conversão contínua e de crescimento.

Além disso, é preciso levarmos em conta as recomendações concretas de São Paulo: “Procurai viver, com tranquilidade”, isto é, manter a calma e a paz na comunidade sabendo resolver as tensões existentes ou surgidas temporariamente. A tranquilidade da alma e da mente é uma conquista de cada dia.

Os Talentos São Dados a Cada Um De Nós Para Multiplicá-los Para o Bem De Todos

O texto do evangelho de hoje fala sobre os talentos. Mateus os coloca dentro do discurso de Jesus sobre o julgamento final. Se pensarmos no fim de nossa vida para prestar contas diante de Deus sobre nossos talentos, não tem como não faremos algo para multiplicá-los para o bem de todos.

Tanto em inglês como em português contemporâneos, talento refere-se exclusivamente à aptidão natural e à capacidade inata de certas pessoas para certas funções. O evangelho nos relata que um proprietário, antes de viajar, deixa seus bens (talentos) aos empregados. E o que ele confia a cada um deles não é pouco: é talento. Um talento equivalia a 34,272 quilos de peso ou aproximadamente a seis mil denários e tendo-se em vista que o salário mínimo de um trabalhador rural era um denário por dia (cf. Mt 20,1-16). Por isso, um talento correspondia, mais ou menos, a dezesseis anos e 160 dias de trabalho de um operário rural na época. Isto quer nos dizer que Deus confia para cada uma enorme capacidade e que somos capaz de transformar o bom em algo melhor (multiplicar).

Na parábola dos talentos o amo (patrão) distribui para seus empregados suas riquezas (isto é, os interesses do Reino) tendo em conta as possibilidades de cada um, ainda que seja um só talento dado, e não quer exigir mais do que os empregados podem fazer. E o interessante é que o proprietário não diz o que ou como os servos devem fazer com os talentos recebidos (modo de multiplicar), porque ele sabe que cada um deles é capaz, pois ele confia a cada um de acordo com a própria capacidade e responsabilidade (v.15). “Faze o que podes. Deus não te pede mais”, dizia Santo Agostinho (Serm. 128, 10,12). “Deus não leva em conta teus talentos, mas tua disponibilidade. Sabe que fazes o que podes, mesmo que fracasses no resultado, e contabiliza em teu favor o que tentaste fazer e não pudeste, como se o tivesses conseguido”, acrescentou Santo Agostinho (Serm. 18,5).

O texto fala também do momento de prestar contas, ou seja, do momento de juízo e da recompensa. Neste ponto, o relato usa as mesmas palavras para os dois primeiros empregados: “servo bom e fiel”: estes empregados falam o que fizeram com os talentos e o dono não toma os talentos que multiplicaram e sim que a eles o dono dá muito mais e os associa ao gozo de sua vida. 

O que acontece com aquele que recebeu só um talento? Aqui o texto se detém longamente e de forma antitética do que o texto precedente. Isto significa que o ponto alto da parábola se encontra aqui e se centra na sorte daquele que, tendo capacidade, não fez nada com o talento. Ao contrário, se preocupa em conservar intacto o talento recebido. Como qualquer que se sente culpável ou culpado, esse empregado intenta justificar-se e o faz atacando seu dono: “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence”. Percebemos que o empregado não conhecia o seu dono, pois o que diz sobre seu amo não está certo. Ele acusa o dono de “um homem severo”, mas não foi com os outros dois empregados.

Além disso, o próprio empregado é dominado pelo medo: “... fiquei com medo e escondi o teu talento no chão”.  Sua atitude era realmente uma atitude de escravo, nunca chegou a conhecer o dono. Ele parece como certos cristãos que vivem com medo do Senhor (Deus), pois O veem como “juiz” e não como “Amor” (cf. 1Jo 4,8.16); não se sente como “filhos” e por isso, não se encontram sob a ação do Espírito Santo que ajuda a dizer: Abba, Papaizinho (Rm 8,15). “Deus não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que pode”, dizia Santo Agostinho 

Trata-se dos interesses do Reino, das riquezas do Senhor quando se fala dos talentos neste evangelho. Cada um tem obrigação de fazer frutificar os bens do Reino durante o tempo que a cada um foi concedido para administrá-lo (talento). Para Mateus este tempo é o tempo da Igreja, tempo de cada um de nós. 

Deus confiou seus tesouros a todos os homens para serem administrados. Tudo o que temos é um bem que nos foi confiado. Deus tem confiança em nós ao nos dar “seus bens”. Eu sou “propriedade privada” de Deus. Todos os dons, todos os valores e riquezas que estão em mim, pertencem a Deus. Deus põe em jogo Sua Palavra como o faz um financista com seu capital. O empregado que recebeu um só talento, recusando mesquinhamente todo tipo de riscos, se decide por escolher uma segurança falsa, já que uma riqueza morta, sem investir, se desvaloriza. Quem não multiplica o que tem, o dilapida/ desperdiça. Quem “enterra” seu talento por medo a perdê-lo, se enterra a si mesmo e opta pela morte.

Para quem não viver uma espera ativa (as duas parábolas falam da demora da chegada do noivo [Mt 25,5] e do dono [Mt 25,19]), para quem não viver como terreno bom e fértil que dá como fruto trinta, sessenta ou cem por um (Mt 13,8.23), segundo sua situação, haverá somente condenação. Condenação é viver afastado do próprio Senhor; é viver fora de Sua casa; é viver atormentado. Por seis vezes, estes se descrevem com a imagem: “Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8,12; 13,42.50; 22,13; 24,51; 25,30). “Ninguém está tão só do que aquele que vivem sem Deus”, dizia Santo Agostinho. 

O bom cristão não esconde o seu talento, mas aplica. Não enterra, mas planta; não guarda, mas multiplica; não se apropria, mas tudo coloca à disposição de todos para o bem de todos. Nenhum cristão pode ficar feliz enquanto outro irmão está passando por alguma necessidade. Podemos dizer que para o cristão, o bom negócio mesmo nessa passagem de vida é “partilhar”. Levaremos uma vida melhor, mais saudável e mais longa trabalhando juntos. A completa auto-suficiência é uma ilusão egoísta. Há muito mais força e felicidade na cooperação e na partilha. Você tem realizado e multiplicado os talentos que Deus depositou em você?

P. Vitus Gustama,svd

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Martírio De São João Batista, 29 de Agosto

JOÃO BATIST É DECAPITADO COMO MÁRTIR

29 de Agosto

Primeira Leitura: Jr 1,17-19

Naqueles dias, a Palavra do Senhor foi-me dirigida: 17“Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer. Não tenhas medo, senão, eu te farei tremer na presença deles. 18Com efeito, eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze contra todo o mundo, frente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra; 19eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”, diz o Senhor.

Evangelho: Mc 6,17-29

Naquele tempo, 17 Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Hero­díades, mulher de seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. 18 João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. 19 Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. 20 Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. 21 Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galileia. 22 A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres e eu to darei”. 23 E lhe jurou dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. 24 Ela saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. 25 E, voltando depressa para junto do rei, pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. 26 O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. 27 Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, 28 trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. 29 Ao saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o sepultaram.

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São João Batista é o único santo de quem a Igreja comemora o nascimento e a morte, pois ele é o Precursor do Senhor. No dia 24 de Junho, a Igreja celebra o seu nascimento, e no dia 29 de agosto comera o dia de sua morte como mártir, decapitado por ordem de Herodes.

Como observação inicial vamos lançar a seguinte pergunta: Por que é introduzido o episodio sobre a morte de João Batista num evangelho cujo tema fundamental é dizer quem é Jesus? A resposta é simples: para continuar explicando quem é Jesus, na realidade que é o objetivo principal do evangelho de Marcos. Aqui o evangelista Marcos toma posição a respeito das opiniões do povo e diz que Jesus não é Elias, enquanto que João Batista o é, como profeta. Já havia insinuado ao descrever João Batista com a vestimenta do profeta Elias (Mc 1,4). Agora, o faz apresentando João Batista que se enfrenta a um rei e sua cônjuge, Herodíades, que intenta eliminar o incômodo profeta, João Batista. Não aconteceu também com o temível profeta Elias contra o rei Acab e Jezabel, sua esposa? (cf. 1Rs 18-19).

No texto do evangelho lido na festa do martírio de João Batista se encontram três personagens principais: Herodes Antipas, Herodíades (e sua filha) e João Batista.

Herodes Antipas era o filho de Herodes chamado o Grande, aquele perseguidor de Jesus-menino que havia mandado degolar os inocentes (Mt 2,13-23). Herodes Antipas reinava, como tetrarca, na Galiléia e em Perea desde a morte de seu pai. Ele é descrito como um homem rico e poderoso. Abusa da riqueza e do poder e é arrogante. Ele se entregou totalmente aos prazeres. Enganado por uma bailarina e por sua vingativa mãe, Herodíades, ele se converteu em um assassino de um inocente, João Batista. Desde que a moça dançarina entra na sala, tudo é um crescendo de horror e de pecado, até que o ódio da pecadora, Herodíades, se desafoga vendo numa bandeja a cabeça de João Batista, um homem justo e santo (Mc 6,20). Herodes priva João Batista de sua liberdade, impedindo sua atividade ao coloca-lo na prisão. O povo vê em João Batista um enviado divino, mas Herodes não quer saber disso. Mesmo que Herodes dê a ordem de encarcerar João Batista, outra pessoa o instiga a fazê-lo, mulher de seu irmão, Filipe, a quem Herodes tomou por esposa.

Herodíades é descrita como assassina sem compaixão. Injustamente se tornou esposa de Herodes Antipas. Herodíades era a mulher de Filipe, irmão de Herodes. Herodes tomou Herodíades por esposa que era proibido pela Lei (Ex 20,17; Lv 18,16;20,21). João Batista não era parcial com os poderosos e denunciou essa injustiça. A mais sensível a essa denúncia é Herodíades, a adúltera. Para Herodíades a denúncia de João Batista feriu seu orgulho e sua soberba. Ela não quer saber da verdade na denúncia de João Batista. Por isso, ela se propõe a acabar com a vida de João Batista. O ódio e a vingança levam essa mulher a procurar todos os meios, utilizando até a própria filha, para eliminar João Batista do seu mundo. Herodíades quer tirar a vida de João, mas há um obstáculo a seu intento: o temor que Herodes sente por João, por ele considerado um homem justo, de conduta agradável a Deus e santo ou consagrado por Deus, profeta.

Perguntamos para nós mesmos: Por que você vira meu inimigo só porque eu falo a verdade sobre você? Por que vergonha? Por que essa reação violenta? A verdade continua sendo verdade mesmo que as pessoas tentem manipulá-la.        

O dia oportuno é a ocasião propícia para que Herodíades cumpra seu desígnio de matar João Batista. Celebra-se a vida de Herodes, o poder absoluto e com ele a celebram os representantes de todos os possuidores do poder.        

Aparece outra personagem, a filha de Herodíades, sem nome, que se define por sua mãe. Sem nome significa não tem personalidade própria. Por isso, ela representa o povo sem vontade própria (o povo submisso) e a mãe representa a classe dirigente ou classe dominante. A moça não tem vontade própria; mostrando sua total dependência, vai perguntar à mãe o que quer que a filha faça. Herodes faz promessa à filha de Herodíades: “Pede-me o que quiseres e eu to darei. Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. Mas quem decide é a mãe, que busca só seu próprio interesse: eliminar João (quer a cabeça de João Batista). A maldade só pode produzir a maldade. Mas a maldade não é capaz de enterrar a bondade. O sangue de um mártir é a semente para a Igreja.        

Marcos sublinha a imaturidade da jovem: entra logo, a toda pressa, sem criticar nem julgar a decisão da mãe nem considerar se era ou não favorável para ela: ela é a escrava de sua mãe, é uma pessoa sem personalidade e sem valores vividos e por isso, sem posição certa na vida. Os valores vividos orientam nossa maneira de viver e nossas escolhas na vida. Sem os quais a vida se torna sem rumo e sem objetivos claros.        

No poder civil há um resto da humanidade: Herodes estimava João Batista e sabe que o que pedem não é só uma injustiça, mas também um desprezo a Deus. Mas um rei sem valores vividos não quer ficar em má situação, pois ele acha que perderia seu prestígio. Herodes Antipas, o covarde, mandou tirar, então, a cabeça de João Batista em nome da vaidade. Um vaidoso é uma pessoa frívola, presunçosa e incoerente. Sem juízo e sem bom senso, ele vive só para aparecer e ser admirado. Na prática, o prazer de um vaidoso não consiste em possuir méritos, mas em saber que os outros o elogiam. 

Além de ser vaidoso, Herodes é uma pessoa extremamente orgulhosa. O orgulhoso não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro e a norma. Ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio. Ele é prepotente, arrogante, insolente e violento. Seus atos não precisam respeitar moral alguma, mas impõe aos outros normas morais.

Os psicólogos dizem que soberbo, vaidoso, arrogante, presunçoso, endeusado, imodesto, pedante, petulante, narcisista, autossuficiente, envaidecido, presumido são todos sinônimos de uma mesma palavra: orgulhoso. Só de pensar que alguém reúne todos esses qualificativos, essa pessoa já tem ‘má reputação. Numa pessoa que tem uma personalidade narcisista e desvio de caráter não entra mudança nenhuma. A palavra “autossuficiente” já diz tudo. 

Da atitude de Herodes Antipas percebemos que no poder civil, muitas vezes, para não dizer sempre, os interesses do poder estão acima do humano. O evangelho nos relata que da parte dos convidados, não há nenhuma reação: tudo é permitido ao rei, dono da vida de seus súditos. Herodes mandou tirar a cabeça de João Batista. E a jovem dá a cabeça de João Batista à mãe, e ela mesma fica sem nada.        

De Herodes podemos tirar muitas outras lições. Em primeiro lugar, nunca façamos promessas quando formos dominados por uma grande emoção. Sejamos cautelosos, prudentes, sóbrios em tudo. “Quem não se controla no lícito está em perigo de sucumbir diante do ilícito. Por isso, o sóbrio se abstém da saciedade para não cair na embriaguez”, dizia Santo Agostinho (De ut. Jej. 5,6).  Herodes Antipas tem medo ao mesmo tempo ama João Batista: odeia a mensagem de João Batista, mas incapaz de se livrar da admiração por ele. Mas em nome da vaidade e do poder, Herodes não quer saber da verdade. Herodes não entende que aquele que conhece a verdade e vive de acordo com a verdade é um homem mais livre do mundo (cf. Jo 8,32). Herodes é também um homem que age por impulsos. Dele aprendemos que saibamos pensar antes de falar e de agir. Muitos acham que falar o que pensar seja uma virtude. Mas na verdade a verdadeira virtude é pensar bastante antes de falar. Se o mundo vive reagindo, o cristão deve viver refletindo. 

O caso de Herodes e Herodíades é um caso típico de como um pecado leva a cometer outro pecado. Herodes e Herodíades começaram sendo adúlteros e terminaram sendo assassinos. O pecado de adultério levou os dois ao crime, ao assassinato de um santo, de um inocente, de um João Batista. Herodes e Herodíades calaram a santa boca que recordava o dever; calaram a boca do pregador da virtude. Mas a boca que recorda o dever pode ser tirada, mas não o próprio dever tatuado em cada coração. A boca que prega a virtude pode ser calada, mas não a virtude que habita em cada coração que sempre grita diante da desonestidade. 

Com o seu exemplo cheio de fortaleza, João Batista nos ensina a cumprir, apesar de todos os obstáculos, a missão de viver de acordo com a justiça, a verdade, a retidão. É viver a função profética de anunciar o bem e de denunciar o mal e a maldade na convivência. Cada um recebeu de Deus essa missão profética através do sacramento do Batismo. João Batista foi um verdadeiro mártir, pois foi morto por cumprir seu dever de viver de acordo com a retidão e a verdade. 

Façamos uma pausa e consideremos quantas vezes na história, antes ou depois de João Batista, aconteceu o mesmo fato: que quem denuncia a mentira e defende a verdade, que quem condena o pecado e proclama a virtude, que quem fustiga a injustiça e prega a dignidade humana é a vítima ou o objeto de zombaria e é condenado diante do tribunal do ímpio, mas é glorificado e coroado diante do tribunal de Cristo (cf. Mt 7,21-23; 25,31-46).

Para Refletir:

·      Nunca prometa nada, quando você estiver alegre e feliz, pois a promessa pode ser fatal. A promessa de Herodes custou a cabeça de João Batista (cf. Mc 6,21-29). Não responda quando você estiver com raiva, pois a raiva permite a expressão, mas raramente permite a compreensão. Na raiva, quanto mais fortes as palavras forem, mais fechados ficarão os ouvidos. Não decida nada, quando você estiver triste. Dizem que as lágrimas vêm do coração e não do cérebro. Em toda decisão tomada deve levar em conta o coração e o cérebro. O elemento mais importante para cada decisão é a forma como devemos avaliar nossa vida em cada situação. Não mergulhe demais na sua dor ou tristeza. Um dia sua tristeza ou dor vai ser uma cura para sua vida e a vida das pessoas que necessitam de seu conselho.

  • O orgulho é o complemento da ignorância (Bernard de Fontenelle).
  • Se o homem orgulhoso soubesse como parece ridículo perante quem o conhece, por orgulho seria humilde (Mariano Aguiló).
  • A ciência é orgulhosa pelo muito que aprendeu; a sabedoria é humilde pelo que sabe (William Cowper).
  • O conhecimento aumenta nosso poder na mesma proporção em que diminui nosso orgulho (Paul Bernard, Tristão).

 

P. Vitus Gustama,svd

16/12/2025- Terçaf Da III Semana Do Advento

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