quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Domingo,11/08/2019
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É PRECISO PÔR O CORAÇÃO EM DEUS
XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM “C”


Primeira Leitura: Sb 18,6-9
6 A noite da libertação fora predita a nossos pais, para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos. 7 Ela foi esperada por teu povo, como salvação para os justos e como perdição para os inimigos. 8 Com efeito, aquilo com que punistes nossos adversários serviu também para glorificar-nos, chamando-nos a ti. 9 Os piedosos filhos dos bons ofereceram sacrifícios secretamente e, de comum acordo, fizeram este pacto divino: que os santos participariam solidariamente dos mesmos bens e dos mesmos perigos. Isso, enquanto entoavam antecipadamente os cânticos de seus pais.

Segunda Leitura: Hb 11,1-2.8-19
Irmãos: 1 A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem. 2 Foi a fé que valeu aos antepassados um bom testemunho. 8 Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e partiu, sem saber para onde ia. 9 Foi pela fé que ele residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas com Isaac e Jacó, os coerdeiros da mesma promessa. 10 Pois esperava a cidade alicerçada que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor. 11 Foi pela fé também que Sara, embora estéril e já de idade avançada, se tornou capaz de ter filhos, porque considerou fidedigno o autor da promessa. 12 É por isso também que de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão “comparável às estrelas do céu e inumerável como a areia das praias do mar”.

Evangelho: Lc 12,32-48       
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 32 “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. 33 Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. 34 Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. 35 Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. 36 Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. 37 Felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar à mesa e, passando, os servirá. 38 E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar. 39 Mas ficai certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. 40 Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes”. 41 Então Pedro disse: “Senhor, tu contas esta parábola para nós ou para todos?” 42 E o Senhor respondeu: “Quem é o administrador fiel e prudente, que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa, para dar comida a todos na hora certa? 43 Feliz o empregado que o patrão, ao chegar, encontrar agindo assim! 44 Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens. 45 Porém, se aquele empregado pensar: ‘Meu patrão está demorando’, e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, 46 o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis. 47 Aquele empregado que, conhecendo a vontade do Senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. 48 Porém, o empregado que não conhecia essa vontade e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”


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Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”, diz o Senhor para todos nós hoje.


Geralmente, o medo nos força a reduzirmos a realidade à irrealidade do passado. Nós pretendemos levar as coisas como elas são, assumindo as coisas como elas foram. Sem novidade nem renovação e inovação.


Só vivemos de verdade, com alegria, quando fazemos isso recriando no tempo o que criamos na ilusão antecipatória. Primeiro inventamos a vida, depois a vivemos. Viver a vida que os outros inventam é viver uma vida emprestada, alugada e hipotecada. Não é viver, não ser sujeitos na vida, mas objetos da vida. É ir puxando. É morrer. E é surpreendente como o medo, que é o medo da morte, nos faz antecipar a morte, porque nos faz viver mortos de medo.


O medo é certamente uma paixão humana, mas inútil quando não é mais que uma projeção fantasmal do passado. Somente é possível viver de esperança, pois toda a vida é projeção, é para frente. Viver é sempre derrubar fronteiras, inventar horizontes, arriscar-se.


A vida por mais que seja azarosa, mas não é um azar. A ilusão, quando nasce alegremente da esperança, diferencia-se das ilusões nas quais se confiam ao azar. As ilusões deste tipo nos fazem cruzar os braços e perder o olhar no vazio; a ilusão com o olhar para frente nos faz pôr as mãos na massa.


A liturgia deste Domingo nos dá algumas dicas para vivermos na esperança e da esperança.


Em primeiro lugar, na coleta (oração inicial) rezamos: “Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai...”. Conhecer e invocar a Deus como Pai é a grande revelação cristã. Por isso, a vida cristã é comportar-nos como filhos, deixar que o espirito de filhos arraigue em nossos corações e oriente nossas vidas. Este espirito não é compatível com o apego ao dinheiro: nosso tesouro é a herança prometida, a herança dos filhos. Por isso, o cristão, como Abraão, se sabe numa situação provisional e vive como estrangeiro e forasteiro com a esperança posta no Pai, o único Tesouro na medida de seu coração de filho.


Em segundo lugar, no Salmo Responsorial (Sl 32/33) rezamos: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça/misericórdia”. Este versículo tem forma de desejo, de oração. Mas o desejo e a oração arraigam em uma certeza, a certeza da fé. O que esperamos de Deus é que sua misericórdia/graça venha a nós. Esta é a Rocha firme sobre a qual edificamos nossa vida. Assim o expressa o Evangelho deste Domingo: Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. E recordemos com que força o proclama são Paulo: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós? Quem nos separará do amor de Cristo? Pois estou convencido de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem presente, nem futuro, nem potências, nem altura, nem profundidade, nem criatura alguma, poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,31b-39).


Em terceiro lugar, o Evangelho de hoje nos diz: “Onde está o vosso tesouro, ai estará também o vosso coração”. Nosso coração é dúctil, flexível, maleável: vai se amassando ao longo da vida a imagem e semelhança de nosso tesouro. Vamos nos perguntar de verdade onde está nosso tesouro que é o que na realidade desejamos, aquilo que para onde orientamos nossa vida. Se pusermos o coração no dinheiro, sremos pessoas frias, materialistas, interesseiras. Nosso coração será frio e sem entranhas, um coração de pedra ou de metal. Porque o dinheiro não tem entranhas. Isto quer dizer que aquele que põe o coração no dinheiro não tem entranhas. Se nosso coração se acostumar, de verdade, a amar, seremos ardentes, sensíveis, capazes de sacrifício, de sair de nós mesmos: temos um coração de carne e não de pedra ou de metal. A Bíblia diz que Deus tem entranhas de mãe (misericórdia: rahamim, rachamim: útero, ventre materno), que seu coração é terno. O Evangelho deste Domingo nos recomenda que não ponhamos o coração no dinheiro, que sejamos dono dele, que saibamos ser despojados/desprendidos, que façamos um tesouro no céu, que tenhamos o coração posto em Deus.


Examinemos onde está de verdade nosso desejo que nos move, que nos empurra. Então, conheceremos onde está e como é de verdade nosso coração!


Em quarto lugar, a Segunda Leitura nos relembra a experiência de Abraão e Sara que saíram sem saber para onde, por ordem de Deus. Estas palavra descrevem o desenraizamento do crente que abandona as seguranças tangíveis (seus pais), confiado na chamada de Deus, na sua Palavra. Mas também descrevem a vida de todo homem. O caminho, que é a vida de cada um, está sempre aberto e é incerto. E não sabemos as voltas que o caminho dará nem aonde, ao fim e ao cabo, nos conduzirá. A vida dá muitas voltas. Nem sempre somos capazes de controlar o curso de nossa vida com segurança e precisao. O crente renunciou a este último controle: se abandona em Deus, o Pai, sabendo que está em boas mãos, como Abraão. Nas mãos daquele que está acima, inclusive do último e definitivo fracasso: a morte. Seu amor misericordioso está sempre conosco: na vida e na morte. É preciso manter nossa fé em Deus que é nosso Pai, apesar dos pesares, e apesar das circunstâncias não favoráveis e apesar de não ver com clareza o resultado, pois “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1). Sabemos que Deus nos ama e cremos no seu amor. O amor de Deus nos dá muita segurança e serenidade para enfrentar tudo na vida. Ponhamos nosso coração no coração de Deus!


Aprofundemos um pouco mais nossa reflexão sobre o texto do Evangelho deste Domingo!


O texto do Evangelho lido deste domingo, como também o do domingo anterior, se encontra na parte do evangelho de Lucas chamada “Lições do Caminho” (Lc 9,51-19,28). Jesus saiu da Galileia e vai caminhando até Jerusalém onde será crucificado, morto e ressuscitado. Trata-se, por isso, de uma viagem sem volta. O evangelista Lucas não tem pressa em narrar a chegada de Jesus em Jerusalém. Durante o caminho Lucas dedica esta parte para falar das últimas lições de Jesus para seus discípulos que vão levar adiante a missão dada pelo Senhor.


O texto do evangelho se encontra no conjunto de Lc 12,1-52. Lc 12,1-53 fala da situação e do modo de proceder dos discípulos na comunidade. Encontram-se nesse texto várias unidades literárias menores que podem ser divididas nas seguintes unidades: vv.22-32 falam da superação das preocupações temporais através da fé na providência divina; vv.33-34 falam da exortação de Jesus ao desprendimento dos bens materiais; vv.35-40: a exortação sobre a vigilância com uma parábola;  vv.41-48: a explicação da parábola através de outra parábola que ao mesmo tempo fala da responsabilidade; e vv.49-53: a prioridade do Reino.


1. O Senhor Não Abandona Seu Rebanho


A sentença do v.32 é exclusiva de Lucas: “Não tenhais medo, pequeno rebanho, porque o Pai achou por bem dar-vos o Reino”. No AT era o povo eleito que constituía o “rebanho” de Deus (Sl 78,52;Ez 34,3-22); agora é o pequeno grupo dos discípulos, “pequeno” tanto em número como em importância aos olhos dos homens. Os discípulos são poucos e fracos diante de um mundo hostil, mas importantes aos olhos de Deus que houve por bem confiar-lhe o Reino.


Não tenhais medo, pequeno rebanho”. É uma fórmula que garante a proteção e segurança e com o apelativo de “pequeno rebanho” para imediatamente passar a formular o motivo da confiança e do carinho: “o Pai achou por bem dar-vos o Reino”.


As palavras de Jesus são confortadoras. A despeito das ameaças e das perseguições sofridas pelo “rebanho” (cf. At 20,29), os seguidores deveriam saber que Deus lhes deu o Reino (cf. Lc 22,29). Tendo essa certeza, os discípulos devem ter a coragem de seguir o exemplo de seu Mestre.


Lucas manda o mesmo recado para nós hoje. Naquele tempo, como hoje, ser cristão poderia significar remar contra a maré dos valores de grande parte da sociedade em nossa volta. Mas nem por isso, devemos perder a paz interior, pois a segurança do rebanho (Igreja) não está no seu poder nem no seu prestígio e sim na graça e no Espírito do Senhor que cuidam dele. A cabeça da Igreja é o próprio Senhor. Jesus garante que tudo o que se constrói em Deus está seguro contra todo tipo de ameaça. A segurança da vida está no beneplácito do Pai. O pior inimigo do cristão é, por isso, o medo.


2. Somos Chamados a Viver No Despojamento


Depois do consolo, vem a exortação de Jesus ao desprendimento dos bens materiais: “Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.


Esta exortação liga-se ao tema do evangelho do domingo anterior. É certo que precisamos possuir alguns bens materiais para viver, mas não são a fonte da vida nem está neles a chave e o segredo para ser pessoa e para ser salvo. Aquele que somente acredita no que possui, fecha o caminho à esperança e à partilha com os outros. É preciso estarmos conscientes de que, neste mundo, temos apenas o direito de usufruto e não de possuir para sempre, e este direito cessará assim que partirmos deste mundo. A confiança nas riquezas impede a confiança em Deus e a caridade para com os outros. Quando isto acontece, as posses se tornam uma barreira fatal à vida, “Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (v.34).


O coração e o tesouro vão juntos. O coração do homem está sempre com seu tesouro, isto é, as coisas às quais dá mais valor. Uma sociedade de consumo que favorece o ter sobre o ser, aliena as pessoas e mata a caridade e a solidariedade. Agir dessa maneira é confundir o ter coisas com ser pessoa. No final de nossa vida, o que podemos levar a não ser o que investimos no amor a Deus e ao próximo? É preciso fazer dos bens um meio de viver melhor e de servir melhor aos outros. Quem coloca seu coração nos bens vive em função dos mesmos. Somente quem ama e vive em solidariedade e abertura aos outros, dando-se a Deus e ao próximo, tem uma vida autêntica e feliz porque descobriu a alma do projeto de Deus. Amar em profundidade, como Cristo nos amou, é essa a base da solidariedade e da partilha; nisso se nota o ser ou não cristão, o ser ou não ser feliz. A felicidade humana não consiste mais do que na nossa plenitude enquanto pessoas, como filhos de Deus e como irmãos dos outros homens. O sem-sentido da vida surge quando o homem se fecha a Deus e aos irmãos, pois sem relação com os valores perenes que Deus, Cristo e o próximo representam, as coisas e os bens carecem de sentido e em si mesmos não possuem valor para causar a felicidade autêntica para um ser humano. O ser humano precisa de dinheiro, ninguém pode negar, mas ele não vai conversar com seu dinheiro. Ele precisa de outro homem com quem possa desabafar e partilhar suas alegrias e tristezas. Essencialmente, ele é sociável; sozinho não pode nem ao menos satisfazer suas necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais elevadas; ele pode obter tudo isso apenas em companhia dos outros.


3. Somos Chamados a Estar Vigilantes Permanentemente


A exortação ao desprendimento aos bens materiais é seguida pela exortação à vigilância (vv.35-40). O tema da vigilância cristã é objeto da nossa atenção nos primeiros domingos do Advento e nos últimos do ano litúrgico em cada um dos três ciclos. “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas”, disse Jesus (v.35).


Esta exortação talvez seja uma alusão aos israelitas na celebração da primeira Páscoa para estarem prontos para um êxodo do Egito e para a chegada do anjo destruidor (Ex 12,11.22-23). Mas, na verdade, a expressão era uma instrução comum, no AT, para sublinhar a importância de prontidão ou de serviço (cf. 1Rs 18,46;2Rs 4,29;9,1; Jó 38,3;40,2;Jr 1,17; veja também no NT, Lc 17,8; Ef 6,14;1Pd 1,13).


Os rins representavam a parte frágil do corpo, a parte mais suscetível a golpes e ferimentos. Em épocas onde tudo era disputado pelo gládio, o ventre era parte mais fraca e mais visada para desferir lançadas, golpes de espada e ataques com objetos cortantes. Ter os rins cingidos era estar em posição de prontidão, com o ventre enfaixado ou coberto por proteção de metal.


A lâmpada acesa quer acentuar vigilância; estar em condições de atuar independentemente da situação (cf. Ex 27,20;Lv 24,2; veja também Lc 8,16;11,33). Sobre a vigília, dividia-se a noite em quatro vigílias, e cada vigília durava três horas: a primeira aconteceu das 18 às 21 horas; a segunda, das 21 às 24 horas; a terceira, do “O” às 03 horas de madrugada; a quarta, das 03 às 06 horas da manhã.


Todo o tempo é um tempo de vigilância. Lucas aponta para seus leitores estimulando-os a vigiarem sempre. A Parusia ou o tempo do Reino é sempre um tempo presente. Não há um tempo determinado para fazer o bem. Para um cristão verdadeiro, qualquer momento pode-se transformar em momento da graça (kairós). Ele tem consciência de estar inserido na história da salvação como receptor e como cooperador. Ele vive profundamente imerso na história da salvação, isto é, no aqui-e-agora, descobrindo tudo o que lhe oferece e o que lhe exige o momento presente. Quem está vigilante, vê nos momentos mais espinhosos não só fadigas e perigos, mas até descobre, com surpresa, oportunidades preciosas (como os americanos dizem: “Watch for big problems! They disguise big opportunities), enquanto os demais só encontram razões para se lamentarem. A vigilância também significa, naturalmente, atenção. Aquele que está atento não tropeça nos obstáculos. E se evita as pedras de tropeço.


Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes”. É uma chamada para a vigilância.


Vigiar significa não distrair-se, não instalar-se, satisfeito com o que já foi conseguido. Em meio de uma sociedade que parece muito contente com o que se alcança com seus avanços, o cristão é convidado a viver na esperança vigilante e ativa. Vigiar é ter as lâmpadas acesas para o encontro com o Senhor que pode chegar em qualquer momento. Vigiar significa ter o olhar posto nos “bens de cima” onde se encontra Jesus Cristo. Vigiar significa não deixar-se seduzir pelas atrações do mundo. Vigiar significa viver despertados em tensão, pois não sabemos o momento da chegada do Senhor para nos buscar. Vigiar significa não ficar na angústia, mas viver em cada momento com seriedade dando a importância para a fraternidade universal, pois Deus é o Pai de toda a humanidade. O cristão há de esforçar-se por buscar sempre as “coisas de cima”, isto é, a fraternidade, o amor, a solidariedade, o projeto de Deus pela salvação da humanidade através da vivência do amor fraterno. Vigiar é para os cristãos significa desarraigado. Vigiar é um êxodo permanente até o Reino de Deus. Vigiar faz o homem olhar para o futuro do homem e o advento de Deus. Por isso, a vigilância é fecunda e renovadora e infatigável. Devemos vigiar não para conservar o que temos e sim para receber o que esperamos. Se o medo nos põe em guarda, a esperança cristã há de nos pôr em caminho.


Um cristão não pode ser nem estar alienado. Ele deve estar em alerta constante, sempre pronto para a ação, e preparado para servir dia e noite. Servir para o cristão não é opcional, é lei constitutiva da vida cristã. O Senhor voltará com toda segurança no nosso encontro derradeiro. O discípulo não pode ficar adormecido. Ele deve permanecer alerta, sempre em tensão e em atenção. Somente assim ele assegurará a comunhão com o Senhor no gozo e no amor.


4. A Responsabilidade Está de Acordo Com Os Dons Recebidos ou Com O Privilégio


É para nós que tu estás dizendo isso?” (vv.41-48) É a pergunta de Pedro. A quem se aplica esta parábola?


Os Apóstolos gozam de posição privilegiada na comunidade de Jesus. Mas também pesa sobre eles particular responsabilidade. Jesus, então, responde a continuação da parábola transformando o que poderia ser privilégio em responsabilidade. Considera-se exatamente a posição de responsabilidade dos Apóstolos sob o prisma da volta do Senhor para o julgamento (cf. 1Pd 5,1-4 sobre a responsabilidade pastoral).


A pergunta surpreendente de Pedro (v.41) é pergunta de todo o cristão praticante. A prática de alguns ritos, orações e devoções podem não ser tudo o que se espera de alguém pronto para dar a vida pelo Reino.


Depois Jesus conclui toda essa seção dizendo: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (v.48b). Em outras palavras: Deus chega para todos, mas os que se intitulam cristãos e líderes têm a responsabilidade maior de serem sinais visíveis desse estado de alerta que capacita para realizar boas obras sempre que a vida apresenta um desafio do que os outros. A responsabilidade sobre o que cada um recebeu é como uma semente colocada com muito cuidado na terra. Dela se espera um fruto correspondente. A responsabilidade recai sobre aqueles que muito receberam (cf. Am 3,2). Nota-se nesse último versículo que os homens são castigados não simplesmente por praticarem o mal, mas também por deixarem de praticar o bem, como diz São Tiago: “Aquele que souber fazer o bem, e não o faz, peca” (Tg 4,17). Os cristãos devem fazer todos os esforços possíveis para descobrir qual é a vontade de Deus, e cumpri-la. Todos somos responsáveis.


Podemos resumir tudo que foi dito de outra forma: entre o tempo da ação salvadora de Jesus e o tempo de sua volta decorre o tempo da Igreja. Os cristãos, que vivem neste tempo da Igreja, olham para trás, vendo a atuação de Jesus; olham para a frente, prevendo a volta de Jesus. As atitudes exigidas de cada cristão e líder são: fidelidade, pois o cristão e o líder devem agir de acordo com a vontade do Senhor ou os ensinamentos do Senhor; prudência e vigilância porque o Senhor pode voltar repentinamente e pedir contas. Fidelidade e prudência/vigilância protegerão os cristãos, se eles tiverem em mente a volta do Senhor; se eles contarem com a volta do Senhor a qualquer momento; se refletirem que têm de prestar contas diante do Senhor. Para qualquer “cargo” ou tarefa/responsabilidade na comunidade requerem-se fidelidade e sensatez. Fidelidade porque cada um é apenas um administrador pelo qual deve trabalhar conforme a vontade do Senhor. Sensatez porque não deve perder de vista que o Senhor pode vir repentinamente e pedir-lhe contas.


Este evangelho é um convite para todos os dirigentes de nossas comunidades para fazerem um sério exame de consciência e para verificar se eles agem como bons administradores/coordenadores ou não, como servos ou como senhores que só sabem mandar e impor, são vigilantes ou estão dormitando?
P. Vitus Gustama,svd

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