quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019


02/03/2019
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TERNURA DIVINA NOS FAZ MAIS HUMANOS E IRMÃOS
Sábado da VII Semana Comum


Primeira Leitura: Eclo 17,1-13
1 Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. 2 E à terra o faz voltar novamente, embora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu. 3 Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado, deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra. 4 Em todo ser vivo infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros. 5 Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria. 6 Deu-lhes ainda a ciência do espírito, encheu o seu coração de bom senso e mostrou-lhes o bem e o mal. 7 Infundiu o seu temor em seus corações, mostrando-lhes as grandezas de suas obras. 8 Concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu Nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras. 9 Concedeu-lhes ainda a instrução e entregou-lhes por herança a lei da vida. 10 Firmou com eles uma aliança eterna e mostrou-lhes sua justiça e seus julgamentos. 11 Seus olhos viram as grandezas da sua glória e seus ouvidos ouviram a glória da sua voz. Ele lhes disse: “Tomai cuidado com tudo o que é injusto!” 12 E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo. 13 Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos.


Evangelho: Mc 10,13-16
Naquele tempo, 13 traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.
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O Papel Do Homem Sobre a Natureza


Continuamos a acompanhar a leitura do Eclesiástico. O texto da Primeira Leitura de hoje é a meditação de Ben Sirac sobre os primeiros capítulos do Gênesis. Ele é o primeiro entre os autores bíblicos a pôr em destaque. Ben Sirac que medita os primeiros capítulos do Gênesis põe em evidencia o papel do homem na criação.


Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. E à terra o faz voltar novamente, embora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu. Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado, deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra. Em todo ser vivo infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros”.


A ideia principal de Ben Sirac está em torno da unidade do cosmos em torno do homem. Para Bem Sirac o homem tem seu papel sobre a natureza em três níveis.


Em primeiro lugar, o homem é o organizador da natureza sobre a qual tem todo o poder, pois ele é a imagem de Deus (Eclo 17,3). O homem foi encarregado por Deus de transformar a natureza mediante a ciência.Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria” (Eclo 17,5). Assim, a companhia do homem sobre a natureza, a técnica que permite ao homem dominar as coisas, é como uma presença de Deus que está terminando sua criação.


Em segundo lugar, o papel do homem na criação é também de ordem ética. Não basta dominar a natureza e ter avanços técnicos. Não basta encurtar as distâncias materiais, se o homem continua sendo separado de seus irmãos, se a violência domina seu coração e guia sua mão para praticar a violência, se não há o respeito mútuo. É preciso civilizar o amor fraterno. Tomai cuidado com tudo o que é injusto! E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo. Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos” (Eclo 17,12-13).


Em terceiro lugar, Ben Sirac afirma que o homem tem o papel da religião. A função do homem é “religar” a criação a Deus pelo louvor e pela ação de graças: “Deus concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu Nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras” (Eclo 17,8).


Quando o homem se concentrar apenas na primeira função ou papel, esquecendo outros dois papeis, ele acaba destruindo a natureza e o próprio homem. Nos últimos anos, o segundo e o terceiro papel estão em plena crise.


Por isso, a ciência e a tecnologia por si só não são suficientes para promover o bem da humanidade e da criação. Os problemas da "poluição da natureza", a "rarefação das matérias-primas", mostram que a ciência também pode contribuir para a destruição. Não basta chegar à Lua, domesticar o átomo, distribuir eletricidade ao mundo inteiro ... é também necessário ao homem distinguir o "bem do mal", dominar sua violência e seus instintos, abrir-se ao amor do próximo.


A vitória sobre a natureza pode trazer consigo novas e temíveis alienações, se não for acompanhada da vitória do homem sobre si mesmo. O universo técnico carece de um suplemento espiritual, isto é, uma "alma". Sem ética, a ciência pode se tornar mortal. A inteligência sem amor pode ser mais prejudicial do que falta de inteligência.


Viver e Conviver Na Ternura


No texto do evangelho de hoje Jesus é apresentado cheio de ternura: “Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”. Ternura é um sentimento de afeto doce e delicado, de atenção carinhosa. É suave comoção. A ternura é sinal de maturidade e vigor interior. A característica de uma ternura é desejar amar e saber que é amado. Por isso, a ternura supõe a capacidade de participar na vida de si e dos outros, tanto nas suas alegrias como nas suas dores, vivendo uma relação de cordialidade (Latim: cor/cordis: coração). Deixar escapar a ternura é deixar escapar a vida. A ternura impede à caridade de reduzir-se a uma moral do dever fornecendo um coração palpitante, acolhedor capaz de afeto compassivo.


Mais uma vez Jesus insiste na importância de ter a ternura e de acolher ternamente na comunidade os que não contam, representados, desta vez pelas crianças, símbolo da total indefesa. As crianças eram sinônimas dos últimos, dos que não contam.


Antes Jesus nos convidou a acolhermos as crianças (Mc 9,37). No evangelho de hoje Jesus nos convida a fazermos como elas para acolher o Reino de Deus (Mc 10,15), isto é, a vontade de Deus no mundo.


Por que Jesus valoriza tanto as crianças, os que não contam?
  1. Por causa de sua humildade. Nenhuma criança é exibicionista. Ela ainda não aprendeu a ser orgulhoso e a ter privilégio. Ela também ainda não aprendeu a colocar a importância em si mesma.
  2. Por causa da sua obediência. Paradoxalmente a criança tem instinto natural para obedecer. Ela ainda não aprendeu o orgulho e a falsa independência que separa o homem do seu próximo.
  3. Por causa da sua confiança. É bastante claro ver que uma criança aceita a autoridade. Ela pensa que seu pai sabe de tudo e por isso, acha que o Pai está certo. A criança confia nas outras pessoas. Ela não pensa que outros sejam ruins, pois ela é pura de coração.
  4. Por causa de sua memória curta. Ela ainda não aprendeu a guardar rancor ou ressentimento. Ela é capaz de brincar novamente logo depois de uma briga. Embora ela tenha sido tratada injustamente, uma criança esquece logo tudo.
     
    “Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”.
     
    Esta afirmação tem uma grande profundidade. É um convite para pormo-nos em relação com Deus em uma total “dependência” d’Ele. O verdadeiro discípulo não tem malícia no coração, confia totalmente em Deus e a ele se entrega à vontade de Deus, como as crianças fazem com seus pais.  Os principais beneficiários do Reino são os que sabem desapegar-se de si mesmos (Mc 10,23-31). Aqui a criança é símbolo da disponibilidade, da dependência, da obediência. A criança não calcula (não é calculista), não faz comentários nem discutir como os adultos. Ela depende vitalmente do amor de seus pais que para ela é uma questão de vida ou de morte.
     
    Quando os discípulos repreendiam as crianças de se aproximarem de Jesus, pronunciou Jesus a seguinte frase: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas... Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”.
     
    Jesus não quer uma comunidade na qual haja uns que contam e outros não; onde haja dominadores e dominados, senhores e escravos. Seus discípulos, no entanto, não estavam na linha da vida de Jesus. Jesus se indignou pela atitude discriminatória dos discípulos. O gesto de Jesus de tomar as crianças em seus braços, abençoá-las e impor-lhes as mãos é um gesto profético: Jesus quebra as estruturas rígidas da sociedade de sua época em que reina a desigualdade. Acolher e abraças as crianças significa que todos são iguais diante de Deus e recebam a mesma ternura de Deus.
     
    Através do símbolo de crianças Marcos quer nos transmitir também a ternura de Deus para todos os homens, seus filhos. Somos todos filhos e filhas de Deus independentemente de nosso modo de viver. Como um pai sente ternura por seus filhos, assim sente o Senhor ternura por seus fieis, todos nós. Deus fala, através do Livro do profeta Isaías, as palavras de muita ternura: “Pode a mãe esquecer-se do seu filhinho, pode ela deixar de ter amor pelo filho das suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, Eu não Me esquecerei de ti. Eis que Eu te gravei nas palmas das minhas mãos; as tuas muralhas estão sempre diante de Mim” (Is 49,15-16). Estas palavras, com certeza, devolvem nossas confiança em Deus e nosso amor por Deus. De fato, somos amados. Somos crianças de Deus. Como tais precisamos manter nossa inocência e nossa infância espiritual: cheia de fé e de entrega total a fim de que possamos entrar no Reino de Deus. Se nao, Jesus terá que repetir as mesmas palavras para nós: : “Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”.
     
    Para Meditar:
     
  • Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido” (Charles Chaplin).
     
  • O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ato de firmeza, não de fraqueza... é propriamente dar, e não receber” (Erich Fromm).
     
  • "As feridas da alma são curadas com carinho, atenção e paz" (Machado de Assis).
     
  • As palavras sem afeto nunca chegarão aos ouvidos de Deus (William Shakespeare).

    P. Vitus Gustama,svd
01/03/2019
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MATRIMÔNIO NA SUA BELEZA E PROFUNDIDADE
Sexta-Feira da VII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 6,5-17
5 Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações. 6 Sejam numerosos os que te saúdam, mas teus conselheiros, um entre mil. 7 Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; e não te apresses em confiar nele. 8 Porque há amigo de ocasião, que não persevera no dia da aflição. 9 Há amigo que passa para a inimizade, e que revela as desavenças para te envergonhar. 10 amigo que é companheiro de mesa e que não persevera no dia da necessidade. 11 Quando fores bem-sucedido, ele será como teu igual e, sem cerimônia, dará ordens a teus criados. 12 Mas, se fores humilhado, ele estará contra ti e se esconderá da tua presença. 13 Afasta-te dos teus inimigos e toma cuidado com os amigos. 14 Um amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. 15 Ao amigo fiel não há nada que se compare, é um bem inestimável. 16 Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. 17 Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo.


Evangelho: Mc 10,1-12        
Naquele tempo, 1 Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2 Alguns fari­seus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4 Os fari­seus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”.
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Ser Amigo É Ser Pessoa Virtuosa


“Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações”.


Ben Sirac trata com predileção do tema da amizade. Sem dúvida, sua cultura e riqueza ajudaram Bem Sirac a conhecer muitos amigos, sejam amigos interesseiros (colegas), sejam amigos fieis (verdadeiros amigos). O anseio por amizade atravessa toda a história da humanidade.


Hoje na Primeira Leitura lemos um pequeno tratado sobre a amizade: como se conseguem amigos, quem é o verdadeiro amigo, como devemos tratar nossos amigos.


Ben Sirac sabe pela experiência (a experiência é a mãe da ciência, diz o ditado. A experiência é a mãe da sabedoria, diz o Eclesiastico) que a riqueza atrai os “amigos”. Por isso, ele aprendeu a selecioná-los e afastar os interesseiros (Eclo 6,5-13; 8,18-19; 37,1-5). Para ele há dois critérios da verdadeira amizade: o primeiro critério é a fidelidade na prova: “Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; e não te apresses em confiar nele” (Eclo 6,7; cf. 9,10; 22,23-26). Por isso é que Cícero produziu a seguinte frase célebre: “Amicus certus in re incerta cernitur”, “Conhece-se o verdadeiro amigo na adversidade”. O amigo é o melhor terapeuta nas experiências de abandono e humilhação. Nossa fraquezas que expomos a nossos amigos não debilitam nossa vida, mas nos tornam mais vivos e animados para seguir adiante. Onde há amigos, sentimos em casa.


O segundo critério da verdadeira amizade é, sobretudo, o amor comum a Deus: “Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo” (Eclo 6,16-17). Santo Agostinho dizia: “No céu nosso coração não estará apenas com Deus, mas na comunidade de todos aqueles que, como nós, procuraram a Deus”. Para Santo Agostinho, a amizade entre as pessoas se aprofunda quando elas ultrapassam a si mesmas e aspiram a Deus como verdadeiro objetivo de suas vidas: “Ama verdadeiramente seu amigo aquele que ama a Deus no amigo, seja porque ele está nele, seja para que ele esteja nele”.


O próprio Jesus nos revela que não existe amizade, quando não é capaz de morrer para si mesmo e para a vida em benefício dos amigos: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando”, disse Jesus a seus discípulos (Jo 15,13-14).


Para os filósofos gregos a amizade era sempre expressão da virtude. A virtude (disposição para o bem) é a base da amizade. Dois amigos, por exemplo, são duas pessoas virtuosas. Por isso, o Platão diz que somente pode ser amigo do outro quem é amigo de si mesmo, isto é, ser pessoa virtuosa consigo mesma. Um amigo é uma pessoa que me ajuda a viver para o bem. Não posso ter amigo se eu mesmo não sou virtuoso comigo mesmo.  Pessoas más não podem realmente se tornar amigas de outras pessoas. A amizade pressupõe a existência da bondade na pessoa. A verdadeira amizade sempre oferece segurança e por ser companheiro (aquele que partilha o pão), o medo fica afastado.


Por isso, os psicólogos afirmam que pessoas sem amigos sofrem muito mais de fatalidade e crise do que as que têm amigos. Não é por acaso que santo Agostinho dizia: “Sine amico nihil amicum”, “Sem amigo nada é amigável”.


Matrimônio Que Deus Quer


Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne.  Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”


O texto do evangelho deste dia nos apresenta a discussão sobre o matrimônio entre Jesus e os fariseus. O foco da discussão é o divórcio. A doutrina do evangelista Marcos é bem clara: o casamento não é somente um contrato entre o homem (marido) e a mulher (esposa), mas ele engaja a vontade de Deus. A vontade dos esposos (em contrair o matrimônio) não é suficiente para explicar o casamento e sua unidade, mas a vontade de Deus é parte integrante: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”.  Consequentemente, o divorcio não é apenas uma injustiça em relação ao cônjuge humano abandonado, mas também uma injustiça em relação ao próprio Deus que quer sempre a comunhão.


“É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher?”. É a pergunta de alguns fariseus a Jesus com o intuito de apanhá-lo. Jesus seria acusado de traidor às exigências da Lei, se respondesse “não”, e poderia estar em contradição com sua pregação e com suas obras de caridade caso respondesse “sim”. O resultado seria o mesmo: desacreditar Jesus.


Jesus percebeu a maldade dos fariseus, mas não reagiu de maneira violenta. Jesus não discutiu. Ao contrário, Jesus se argumentou ao retroceder até as origens: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”


Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”. Como conseqüência de um coração duro e insensível é a desobediência contínua às diretivas divinas. Um coração duro e insensível provoca a desordem nas relações humanas. 


O que Deus uniu, o homem não separe!”. Ater-se somente à lei e às regras é esquecer o impulso da vida. Jesus quer que o ser humano se aproxime da ambição de Deus: o amor é mais exigente do que qualquer lei.


Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne”. Para conhecer a grande intuição de Deus é preciso retroceder aos começos, às origens, ao princípio, quando, por ternura, Deus tirou da terra o homem e a mulher e soprou neles Seu hálito para que eles correspondessem ao Seu amor. Para Deus, amar foi em primeiro lugar falar nossa linguagem. Para Deus amar é manter a única palavra que nós podemos entender. Todos entendem a linguagem de amor. Amor é a única palavra que Deus quer manter para o homem e a mulher e quer, ao mesmo tempo, que o homem e a mulher permaneçam no amor. Quando há amor, tudo tem jeito. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a descobrir que necessitamos falar a linguagem do Outro: de Deus. E a linguagem que Deus usa é amor.


Para Deus amar também significa fazer-se vulnerável. Ele não permaneceu no céu de Sua indiferença. Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Regressar às nossas origens para voltar a descobrirmos a regra ou o princípio de nossa vida é fazer-nos vulneráveis. Quem ama, aceita desejar, esperar, pedir e sofrer.


Para Deus, amar foi também crer e esperar. Deus nos deixou livres e não se arrependeu pela liberdade que nos foi dada. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a aprendermos a viver na esperança. O amor é fecundo, suscita e ressuscita, perdoa e reconcilia. O amor espera com o outro na esperança, pois Deus nos espera no amor e por amor.


Não separe o homem o que Deus uniu”, diz Jesus. Romper um vínculo selado por Deus é ir contra Deus. Deus chama à comunhão. Toda ruptura de comunhão significa estar contra o Deus-Comunhão. Os discípulos, os cristãos devem buscar sempre uma vida que reflete esta comunhão com Cristo e com o Pai, e por este mistério de comunhão é inconcebível falar de desunião, de divórcios, de divisão entre os cristãos. Todos os cristãos devem ser testemunhas de comunhão e não de ruptura.


O matrimônio é sacramento por ser imagem mais perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom, participação e amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus (cf. 1Jo 4,19). Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a sua imagem.


As pessoas se casam para formar uma família onde cada membro é preparado para entrar na sociedade maior. A família é o ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida senão através da família. No inicio da vida cada um recebe da família, a vida e as verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente.


Que em cada Eucaristia ou em cada celebração litúrgica seja fortalecido o amor dos casais presentes, o amor que eles consagraram um para o outro no dia de seu casamento. O casamento indissolúvel é um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer: Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16).
P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

28/02/2019
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SER AUTÊNTICO CRISTÃO É SER CONVERTIDO PERMANENTEMENTE
Quinta-Feira da VII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 5,1-10
1 Não confies nas tuas riquezas e não digas: “Basta-me viver!” 2 Não deixes que tua força te leve a seguir as paixões do coração. 3 Não digas: “Quem terá poder sobre mim?” ou: “Quem me fará prestar contas das minhas ações?”, pois o Senhor, com certeza, te castigará. 4 Não digas: “Pequei, e que de mal me aconteceu?”, pois o Altíssimo é paciente. 5 Não percas o temor por causa do perdão, cometendo pecado sobre pecado. 6 Não digas: “A misericórdia do Senhor é grande, ele me perdoará a multidão dos meus pecados!”, 7 pois dele procedem misericórdia e cólera, e sua ira se abate sobre os pecadores. 8 Não demores em voltar para o Senhor, e não adies de um dia para outro, 9 pois a sua cólera vem de repente e, no dia do castigo, serás aniquilado. 10 Não te apoies em riquezas injustas, pois elas de nada te valerão no dia da desgraça.


Evangelho: Mc 9, 41-50
Naquele tempo, 41 disse Jesus aos seus discípulos: “Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42 E se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43 Se tua mão te leva a pecar, corta-a! 44 É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! 46 É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47 Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’. 49 Pois todos hão de ser salgados pelo fogo. 50 Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.
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Todos Somos Chamados à Conversão Permanente e Diariamente


O sábio do Eclesiástico dá a todos nos hoje, aos ricos e aos não ricos, aos pecadores endurecidos e aos pecadores arrependidos, alguns avisos sérios que necessitamos levar a sério. Porque uns se sentem demasiado seguros porque se confiam nas suas próprias riquezas materiais. Outros se sentem “poderosos” porque se protegem falsamente na bondade e na paciência de Deus. Deus tem muita paciência, mas Ele também é justo.


Nós cristãos podemos ter a tentação da excessiva confiança que nos leva à indolência. O fato de estarmos na Igreja e de frequentarmos as celebrações litúrgicas, não nos garantem que sejamos salvos, se tudo isso não é acompanhado pela conversão permanente. Ninguém é convertido definitivamente. A conversão é um trabalho silencioso de cada dia. A fé não aposenta ninguém. Confiados demasiadamente em Deus, podemos deixar para amanhã nossa decisão firme de seguir seus caminhos, que talvez seja tarde demais. “Não demores em voltar para o Senhor, e não adies de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente e, no dia do castigo, serás aniquilado”. Jamais podemos abusar da misericórdia divina deixando sempre para mais tarde nossa conversão.


Não confies nas tuas riquezas e não digas: ‘Basta-me viver!’ Não deixes que tua força te leve a seguir as paixões do coração.  Não digas: ‘Quem terá poder sobre mim?’ ou: ‘Quem me fará prestar contas das minhas ações?’, pois o Senhor, com certeza, te castigará”.


O sábio aqui estigmatiza a arrogância e a autossuficiência do homem que, seguro de si, se acredita invulnerável. A riqueza freqüentemente acentua essa pretensão. O otimismo de Ben Sirac não o cega: ele sabe que o homem é frágil.


Tampouco Jesus tardará em chamar de "tolo" ou “insensato” a esse homem que se acreditava seguro, porque suas colheitas haviam sido excepcionais e ele estava pensando em ampliar seus celeiros (cf. Lc 12,13-21).


“Não digas: ‘Pequei, e que de mal me aconteceu?’, pois o Altíssimo é paciente”.


A pior arrogância é, certamente, a arrogância do pecador desvergonhado que se endurece em sua ridícula pretensão. Para o autor do Eclesiástico, se Deus não intervem constantemente para castigar o pecado é porque Deus concede um prazo e espera pacientemente a conversão do pecador. Seria perigoso interpretar esta demora como uma fraqueza de Deus e aproveitar-se dessa discrição divina para pecar mais.


Por isso, o autor acrescenta: “Não demores em voltar para o Senhor, e não adies de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente e, no dia do castigo, serás aniquilado”.


O fracasso faz parte de toda vida humana. O pecado faz parte de vida humana. Mais condenável do que o pecado é endurecer-se no pecado, recusar reconhecer o pecado e remitir diariamente a confissão desse mal. Com feito, o presunçoso que não quer reconhecer seu fracasso o transforma em mal definitivo, fazendo quase impossível a conversão. Ao contrário, o pecador que reconhece sua pobreza e confessa sua falta abre com isso a possibilidade de uma nova partida pelo caminho reto.


Em consequência disso, o autor do livro disse: “Não digas: ‘A misericórdia do Senhor é grande, ele me perdoará a multidão dos meus pecados!’”. Porque no Senhor há misericórdia, mas também cólera. Para o autor, a compaixão e a misericórdia de Deus são uma chamada à conversão. Da mesma forma, a justiça e a condenação da parte do Senhor são uma chamada à conversão.


Não demores em voltar para o Senhor, e não adies de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente e, no dia do castigo, serás aniquilado”.


Evidentemente, há que contar aqui com o “antropomorfismo”, que presta a Deus sentimentos humanos, como é o caso da “ira”. Sabemos que não dispomos de outra linguagem para expressar a vontade e os sentimentos de Deus.


São Paulo também fala da “ira” de Deus que “A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a verdade” (Rm 1,18). E o próprio João Batista utiliza essa linguagem cheia de veemência para despertar, no possível, aos Saduceos e Fariseus de seu tempo: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?” (Mt 3,7-10). Notemos de novo que essa ira somente é dirigida ao endurecimento que abusa da paciência de da misericórdia de Deus.


Dignidade de Ser Discípulo de Jesus


Em Mc 9,38-41 encontramos algumas sentenças ligadas ao tema sobre “Em nome de Jesus” ou “por causa do nome de Jesus”.  Este tema foi preparado já em Mc 9,37 quando Jesus disse: “Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. Para Jesus se uma criança é acolhida “em meu nome” ou se alguém cura “em meu nome” é porque “é meu nome”. Se uma ação é feita “em meu nome” ou “por causa do meu nome”, então não pode ser proibida. Ao contrário, ele recebe sua recompensa.


Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. “Em meu nome” (“porque sois de Cristo”), isto é, porque movidas pelo anúncio dos discípulos as pessoas começam a amar Cristo e sentem simpatia por Ele e sentem que nasce nelas a fé que lhes faz pressentirem a recompensa da salvação. “Em meu nome” porque ao dar qualquer coisa, como um copo de água, aos discípulos, querem agradar Cristo, identificando-os com Cristo. Ao realizar um gesto de acolhimento/acolhida para os discípulos, as pessoas querem acolher o próprio Cristo. “Porque sois de Cristo” expressa a convicção profunda dos primeiros cristãos. Os primeiros cristãos sabiam que já não podiam viver para si mesmos porque seu verdadeiro viver era Cristo (veja Fl 1,21: “Para mim o viver é Cristo...”). Quantas vezes São Paulo recorda esta verdade: “Vós sois de Cristo...” (1Cor 3,23; Rm 8,9; 2 Cor 10,7; etc.). No entanto, Jesus não somente quer nos dizer que somos seus, mas também como devemos tratar os irmãos na fé. Jesus Cristo não esquecerá nem sequer o menor gesto de caridade como dar um copo de água. Mas “ser de Cristo” não significa necessariamente ser do grupo que segue Cristo de perto, mas também significa estar em sintonia com Cristo na prática de levar a Boa Nova aos demais homens, especialmente aos excluídos e marginalizados.


“Um copo de água”. ...  quase nada. É símbolo do menor serviço que pode ser prestado para alguém: tão somente um copo de água em razão de pertencer a Cristo. Jesus sublinha a dignidade extraordinária do “discípulo”: pertencer a Cristo. O menor dos crentes, o mais humilde discípulo de Jesus representa Jesus Cristo. Jesus se identifica com o menor dos cristãos na medida em que o próprio cristão se identifica com Cristo.


Não ficará sem receber a sua recompensa”, promete Jesus. É uma verdade surpreendente que Jesus repetirá e desenvolverá ao longo do discurso sobre o Juízo final (Mt 25,31-45). “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. E todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer” dirá o Senhor nesse discurso (Mt 25,40.45). Jesus leva a sério até os pequenos gestos que fazemos para o bem do outro. Nada é pequeno para Jesus. O menor gesto de acolhida ou da caridade não ficará escondido aos olhos de Deus. “Não ficará sem receber a sua recompensa”. “Recompensa” não é algo que alcançamos por nossos próprios esforços, mas é sempre o dom de um Deus generoso. Deus dá seu dom independentemente de nossos esforços. Deus está livre diante dos esforços humanos. O que fazemos é o mínimo que podemos e devemos fazer: “Somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17,10).


Ficamos pensando e perguntando: quantos gestos pequenos do dia a dia que deixamos de fazer para os outros! Quantas recompensas divinas que deixamos de receber por não termos prestado esses pequenos gestos fraternos! Um copo da água fresca oferecida ao irmão sedento não será esquecido por Deus.


Um Aviso Para Não Escandalizar


Depois do conselho positivo- “dar um copo de água” – Jesus nos dá um conselho de forma negativa: “E se alguém escandalizar um desses pequeninos que crêem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.


Na verdade é a mesma conduta: a atenção aos demais. Descobrimos aqui um novo aspecto de Jesus: sua capacidade de veemência. Ele usa palavras duríssimas para quem escandaliza os outros, isto é, aquele que leva os outros a pecar: “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.


“Se alguém escandalizar...”. Escandalizar significa obstaculizar alguém na fé, impedir alguém de continuar a crer em Jesus. Quem atua assim, faz-se dano imenso para si mesmo: “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. Jesus enfatiza, assim, sobre o grande dano para quem escandaliza os outros. Ao escandalizar os outros, a pessoa se mata a si mesma no sentido de privar-se da salvação.


Para Jesus pior que morrer é causar danos aos pequeninos, aos que não têm ambição de honra, aos que adotam uma atitude de serviço que é a condição para ser seguidor de Jesus Cristo (Mc 9,35). Aqui Jesus considera como escândalo quem pretende ser maior, ou quem pretende se colocar acima dos outros, que pretende ser servido em vez de servir.


Um Autêntico Cristão Evita O Mal E Saber Podar o Desnecessário Para Ser Salvo


“Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” (leia os vv. 43-47).


Há que fazer opções, por dolorosas que sejam, pois são opções entre o êxito e o fracasso da existência: toda atividade (simbolizada pela mão), toda conduta (simbolizada pelo pé) ou toda aspiração (simbolizada pelo olho), que busca prestigio e superioridade, está viciada e por isso, há que suprimi-la, pois põe em perigo a fidelidade à mensagem salvadora de Cristo e bloqueia o desenvolvimento pessoal.


A palavra do Senhor nos exige para renunciarmos radicalmente às insinuações do pecado e para cortarmos com rapidez, mesmo que seja muito doloroso (cortar mão e pé, arrancar olho), tudo que possa pôr em perigo a nossa salvação e a salvação dos demais (escândalo).


As imagens que Jesus usa são fortes: há que arrancar ou extirpar tudo que num homem, especialmente num cristão que se oponha à mensagem de Cristo e cause dano aos que querem ser fieis a Cristo. Somente esse tipo de decisão é que leva à vida, a opção contrária, à morte. “A vida” (Mc 9,43. 45) está em paralelo com “o Reino de Deus” (Mc 9,47). Por isso, trata-se de assegurar a plenitude de vida tanto no mundo presente como no futuro.


Portanto que saibamos levar em consideração nossos pequenos gestos de cada dia prestados aos outros não somente por motivos humanos e sim por ver no próximo o próprio Cristo. E que tenhamos sumo cuidado em não escandalizar, ou seja, em levar alguém a pecar, principalmente levar os inocentes e débeis a pecar, pois o próprio Cristo ficará também escandalizado. Para nos manter como autênticos cristãos nós necessitamos renunciar ao próprio egoísmo, à ambição de poder e à vontade desenfreada de domínio (superioridade). É preciso que haja o esquecimento de si para poder repartir com os outros tudo que temos e somos para que a fraternidade e a paz possam reinar a convivência. E que saibamos romper com toda a ocasião de pecado.
P. Vitus Gustama,svd

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

27/02/2019
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PRATICAR O BEM E A BONDADE É UMA FORMA DE VIVER NA SABEDORIA DE DEUS
Quarta-feira da VII Semana Comum


Primeira Leitura: Eclo 4,12-22
12 A sabedoria comunica a vida a seus filhos e acolhe os que a procuram. 13 Os que a amam, amam a vida; os que a procuram desde manhã cedo serão repletos de alegria pelo Senhor. 14 Quem a ela se apega herdará a glória; para onde for, Deus o abençoará. 15 Os que a veneram prestam culto ao Santo; pois Deus ama os que a amam. 16 Quem a escutar julgará as nações; quem a ela se dedicar viverá em segurança. 17 Se alguém confiar nela, vai recebê-la em herança; e na sua posse continuarão seus descendentes. 18 No começo, ela o acompanha por caminhos contrários, 19 trazendo-lhe temor e tremor; começa a prová-lo com a sua disciplina, até que ele a tenha em seus pensamentos e nela deponha sua confiança. 20 Então voltará a ele em linha reta, o confirmará e lhe dará alegria, 21 lhe revelará os seus segredos e lhe dará o tesouro da ciência e da compreensão da justiça. 22 Se, porém, se desviar, ela o abandonará e o entregará às mãos de seu inimigo.


Evangelho: Mc 9,38-40
Naquele tempo, 38 João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. 39 Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. 40 Quem não é contra nós é a nosso favor”.
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Viver Com Sabedoria, Pois a Sabedoria É a Mestre Para o Homem


Em Eclo 1,1-10 o autor do Eclesiástico fala da origem da sabedoria: que a sabedoria foi criada antes de todas as coisas.


No texto de hoje a sabedoria é apresentada como mestra do homem. Como mestra, a sabedoria tem seu papel de doutrinar, de bendizer e de cuidar do homem.


A sabedoria aparece, então, personificada: é como uma mãe que instrui seus filhos, uma mestra que busca o bem de seus discípulos, que lhes sai ao encontro, que lhes guia dissimuladamente e lhes revela seus segredos. A sabedoria atua como mediador entre Deus e os crentes.


O autor do Eclesiásticos enumera a série de vantagens para os que amam a sabedoria e a conseguem: terão vida, gozarão do favor e da glória e da bênção de Deus, aprenderão a julgar retamente, serão acompanhados pela sabedoria diariamente, a sabedoria lhes irá instruindo e educando.


Mas o autor vai além, pois ele não somente personafica a sabedoria com uma mulher ou uma mestre. Isso sabemos através da resposta do homem.


A resposta do homem diante da sabedoria se expressa através do uso de vários verbos que E a resposta do homem se expressa através do uso de vários verbos que lemos no texto da Primeira Leitura de hoje: buscar, escutar, amar, servir, prestar culto, julgar as nações, viver seguro; quem confia na sabedoria vai herdar a sabedoria e herdarára a glória. E lemos no texto da Primeira Leitura de hoje: buscar, escutar, amar, servir, prestar culto, julgar as nações, viver seguro; quem confia na sabedoria vai herdar a sabedoria e herdarára a glória.


Especialmente, o verbo “servir” e “buscar”, muitas vezes, tem como objeto o próprio Deus (cf. Dt 4,29; 10,8; 17,12; 21,5; Is 61,6; Jr 33,21; Sf 1,6; 2,3; Os 3,5; 5,6 e assim por diante). Existencialmente, quem deve ser buscado e servido é Deus.


Consequentemente, o verbo “escutar” que se usa no texto se transforma em sinônimo de atitude de obediência, de disponibilidade absoluta do homem à ação de Deus.


Logo, no texto da Primeira Leitura de hoje, a sabedoria está se identificando com o Senhor (Deus). Dentro deste contexto, procurar a sabedoria significa procurar Deus. A sabedoria comunica a vida”. Quem pode comunicar a vida é somente Deus exclusivamente.


Ao ouvri esta descrição sobre a sabedoria, não podemos deixar de pensar que para nós cristãos, a sabedoria de Deus nos está bem próximo e continuamente presente em Jesus Cristo, o Mestre, a Palavra vivente de Deus, que nos convida a segui-Lo, que nos acompanha em nosso caminho (cf. Mt 28,20), que nos ajuda a discernirmos a a vermos as coisas e os acontecimentos a partir dos olhos de Deus.


Se o autor do Eclesiástico intentava despertar entusiasmo pela sabedoria no Antigo Testamento e queria que amassem, buscassem, seguissem e possuíssem a sabedoria, quanto mais nós que reconhecemos em Jesus a Palavra definitiva e vivente de Deus para todos os tempos que nos disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).


Como Jesus Cristo, Nós Seus Seguidores Temos Que Viver Fazendo o Bem e a Bondade
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Faça todo o bem que puder.
Por todos os meios que puder
De todas as maneiras que puder
Em todos os lugares que puder
Em todas as ocasiões que puder
Por todas as pessoas que puder
Por tanto tempo que puder
A bondade é o único investimento que nunca falha.


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Jesus continua ensinando seus discípulos. Desta vez Ele lhes ensina que não têm que ser pessoas zelosas nem cair na tentação do ponopólio de nada. Os discípulos pecam muitas vezes na impaciência e no zelo. Queriam arrancar logo o joio do campo. Desejam que caia a chuva de fogo do céu sobre o povo que não quer acolhê-los. Com muita paciência e com um coração generoso Jesus vais instruindo seus discípulos.


Mestre, vimos um homem que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”, são palavras de João, um dos discípulos de Jesus, no texto do evangelho de hoje.


É um tema muito atual e sempre atual. Este tema nos convida a olharmos para além dos confins da comunidade cristã, da Igreja e perceberemos que há muita gente que faz o bem independentemente de pertencer ou não a uma crença, a uma Igreja ou a uma religião. Fazer o bem não é exclusividade dos que pertencem a uma religião. Quem sabe, os que não pertencem a uma Igreja ou a uma religião fazem muito mais o bem do que os que se dizem crentes. Precisamos tomar parte dos que praticam o bem, pois eles são reflexos do Bem Maior que é o próprio Deus (cf. Mt 25,40.45). Quando está em jogo o bem, o primeiro dever daqueles que têm “poder” na comunidade ou dos que simplesmente pertencem à comunidade é não impedir o bem, mas ser parceiro do bem ou dos que o praticam. Ninguém pode ficar alheio do bem ou aleijado do bem, muito menos ser inimigo do bem. Não podemos odiar quem pratica o bem nem os que não o praticam. É preciso sermos parceiros do bem, da verdade, da solidariedade, da bondade, da compaixão, da caridade e dos demais valores semelhantes. Temos que ser educados ou instruídos no bem e temos que desistir da inveja diante de quem pratica o bem.


A reação de João, que é um dos discípulos de Jesus, é uma reação de domínio, uma vontade de poder, uma preocupação de conservar um monopólio. Anteriormente, os discípulos foram enviados por Jesus a pregar e a expulsar demônios (Mc 6,7-13).  João quer guardar para si só, monopolizar para o grupo dos Doze o poder de Cristo. É uma das tentações “dos bons”: monopolizar Deus, monopolizar seus dons e seus bens, sentir ciúmes porque os outros fazem algo melhor. João quer ver a atuação do Espírito de Deus enquadrado em um grupo definido para evitar a perda de prestigio, de poder e de influência.


Jesus rejeita esta tendência de monopólio ou a de exclusivismo: Não o impeçais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós”, responde Jesus a João. Para Jesus o bem não tem fronteiras, nem religiosas nem sagradas nem denominacionais nem ideológicas.


Quem não atua como inimigo da comunidade na qual vive Jesus já é, em certo sentido, parte da comunidade. Se alguém, que não é cristão, faz o bem invocando o nome de Jesus, isto significa que Jesus já está atuando nele e que um dia o unirá também visivelmente à sua comunidade (cf. Mt 25,34-40). Jesus não é monopólio da comunidade e sim construtor da comunidade mediante o Espírito e para fazer isto tem que atuar também fora dela. Temos que descobrir a presença de Jesus também fora da Igreja através do bem que as pessoas praticam.


“Ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim”, disse Jesus. Homem nenhum tem o direito de encurtar a mão de Deus e de projetar como instrumento exclusivo dele. Não somos os únicos bons. Não somos donos do Espírito de Deus. Quem é de Deus reconhece o que é divino no outro. Todos os homens de boa vontade, os que querem salvar a humanidade, embora não pisem nossos templos ou igrejas, são de Deus porque eles fazem aquilo que tem a marca divina: a bondade e o amor. Todos aqueles que amam seu próximo e lutam por um mundo melhor e mais fraterno e pelos direitos dos homens, especialmente pelos menos favorecidos fazem parte da família de Deus embora não pertençam a nenhuma Igreja e religião. Quem é de Deus é identificado não pela sua pertença religiosa, mas pelo modo de viver, pelas suas opções diárias. Mas quem pertence a uma Igreja ou a uma religião tem obrigação maior de fazer o bem. Se não fizer o bem, estará contra a própria Igreja ou a própria religião.


Quem de nós não teve alguma vez o sectarismo de grupo ou monopólio de grupo? Muitas vezes usamos a capa da solidariedade, da defesa pelo bem comum, mas escondemos nossos próprios interesses? Quem de nós não teve alguma resistência diante de uma capacidade dos outros, só porque não gostou deles? Não exageramos algumas vezes nossa tendência de monopolizar a verdade, o poder ou a razão?


A partir do ensinamento de Jesus no evangelho de hoje, nós devemos saber aceitar a parte ou a total razão dos outros, reconhecer seus valores, admitir que os outros possam e podem atuar de acordo com o Espírito de Deus. O Espírito de Deus não é propriedade de nenhum grupo, de nenhuma estrutura. Ele sopra para onde e por quem quer. Precisamos ter discernimento para ler as marcas onde o Espírito de Deus passa. Hoje em dia convivemos como vizinhos próximos de outras religiões e crenças. O Espírito ecumênico de Jesus deve nos levar a aceitarmos e reconhecermos com gozo a presença de Deus que atua em todos os povos. Quem não é contra nós é a nosso favor”. O bem praticado nos faz mais humanos, mais irmãos, mais próximos, mais solidários e consequentemente, mais divinos, pois praticar o bem nos identifica com o Bem Maior que é o próprio Deus. “O defeito moral não se define pelo mal que se isenta, mas pelo bem que se abandona” (Santo Agostinho: De civ. Dei. 2,8). "Todo homem é culpado por todo bem que ele não fez” dizia o filósofo Voltaire.
 
P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...