sexta-feira, 28 de agosto de 2020

SÁBADO FOI FEITO PARA O HOMEM

                                                                    05/09/2020

VIVER CONFORME O ESPIRITO DE DEUS É VIVER EM FUNÇÃO DO BEM DO HOMEM

Sábado da XXII Semana Comum

                                                                                                PARÓQUIA DIVINO ESPÍRITO SANTO: Evangelho de hoje, sábado, 09/09/2017

Primeira Leitura: 1Cor 4,6b-15

6b Irmãos, apliquei essa doutrina a mim e a Apolo, por causa de vós, para que o nosso exemplo vos ensine a não vos inchar de orgulho, tomando o partido de um contra outro, e a “não ir além daquilo que está escrito”. 7 Com efeito, quem é que te faz melhor que os outros? Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido? 8 Vós já estais saciados! Já vos enriquecestes! Sem nós, já começastes a reinar! Oxalá estivésseis mesmo reinando, para nós também reinarmos convosco! 9 Na verdade, parece-me que Deus nos apresentou, a nós apóstolos, em último lugar, como pessoas condenadas à morte. Tornamo-nos um espetáculo para o mundo, para os anjos e os homens. 10 Nós somos os tolos por causa de Cristo, vós, porém, os sábios nas coisas de Cristo. Nós somos os fracos; vós, os fortes. Vós sois tratados com toda a estima e atenção, e nós, com todo o desprezo. 11 Até a presente hora, padecemos fome, sede e nudez; somos esbofeteados e vivemos errantes; 12 fadigamo-nos, trabalhando com as nossas mãos; somos injuriados, e abençoamos; somos perseguidos, e suportamos; 13 somos caluniados, e exortamos. Tornamo-nos como que o lixo do mundo, a escória do universo, até o presente. 14 Escrevo-vos tudo isto, não com a intenção de vos envergonhar, mas para vos admoestar como meus filhos queridos. 15 De fato, mesmo que tivésseis dez mil educadores na vida em Cristo, não tendes muitos pais. Pois fui eu que, pelo anúncio do Evangelho, vos gerei em Jesus Cristo.

Evangelho: Lc 6,1-5

1 Num sábado, Jesus estava passando através de plantações de trigo. Seus discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. 2 Então alguns fariseus disseram: 'Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?' 3 Jesus respondeu-lhes: 'Acaso vós não lestes o que Davi e seus companheiros fizeram, quando estavam sentindo fome? 4 Davi entrou na casa de Deus, pegou dos pães oferecidos a Deus e os comeu, e ainda por cima os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães.' 5 E Jesus acrescentou: 'O Filho do Homem é senhor também do sábado.'

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Enraizados Em Cristo Na Nossa Missão De Evangelização

“Nós somos os tolos por causa de Cristo, vós, porém, os sábios nas coisas de Cristo. Nós somos os fracos; vós, os fortes. Vós sois tratados com toda a estima e atenção, e nós, com todo o desprezo. ... somos perseguidos, e suportamos; 13 somos caluniados, e exortamos”, escreveu são Paulo aos Coríntios que lemos na Primeira Leitura de hoje.

Em 2Cor 4,7 São Paulo escreveu: “Trazemos este tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus e não de nós”. Praticamente são Paulo repetirá neste capítulo aquilo que lemos hoje na Primeira Leitura (1Cor 4,6-15). O “tesouro” ao qual esta passagem alude é o conhecimento, a experiencia de Jesus Ressuscitado. Este é o incomparável dom que são Paulo leva em “vasos de argila”, expressão que pode fazer referência à debilidade pessoal do próprio São Paulo (Cf. 2Cor 12,7-10) ou talvez ao próprio corpo do homem feito de barro segundo a tradição de Gn 2,7. A pregação da fé se faz a partir da própria limitação do ser do homem. Dentro desse contexto é que podemos entender a mensagem do texto da Primeira Leitura de hoje.

Para São Paulo a debilidade da qual crê ter não é sintoma de fracasso e sim lugar da manifestação de Deus, pois “Quando me sinto fraco, então é que sou forte. ... Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo” (2Cor 12,10). Se na debilidade de Jesus se manifestou a glória do Pai, na pobreza e limitação do crente a verdade da mensagem sem dúvida aparecerá.

A partir dessa limitação é que são Paulo continua a falar da difícil relação dos Coríntios com ministros e pastores, e talvez também com eles próprios em sua compreensão de seu papel na comunidade, como lemos no texto da Primeira Leitura.

Na missão de evangelização, São Paulo (e Apolo) se coloca como modelo, porque eles não se buscam a si mesmos, mas serviram humildemente à comunidade, com suas limitações e capacidades. Para os Coríntios que se vangloriam, São Paulo emprega uma série de antíteses, cheias de ironia, muitas vezes, sobre seu lugar na comunidade: os coríntios são ricos, têm tudo, enquanto os apóstolos são os últimos, condenados à morte; eles são muito sensatos, e ele um louco; eles são fortes e são Paul fraco; eles são famosos, e ele é desprezado, aquele que passa fome e até tem sede e falta roupa, e sem casa fixa.

São Paulo trabalha duro mas mesmo assim os Coríntios o insultam e caluniam e o tratam como o lixo do mundo. Mas são Paulo os tratam com amor: “Escrevo-vos tudo isto, não com a intenção de vos envergonhar, mas para vos admoestar como meus filhos queridos”. São Paulo considera os membros da comunidade de Corinto como “filhos queridos”, pois “De fato, mesmo que tivésseis dez mil educadores na vida em Cristo, não tendes muitos pais. Pois fui eu que, pelo anúncio do Evangelho, vos gerei em Jesus Cristo”, escreveu são Paulo.

Em bom espelho no qual devem espelhar-se todos os que receberam algum tipo de responsabilidade na comunidade. O princípio para todos, e de modo particular para os responsáveis pela comunidade (líderes), deve ser a humildade, a exemplo de são Paulo. Santo Agostinho dizia: “O primeiro passo na busca da verdade é a humildade. O segundo passo é a humildade. O terceiro passo é a humildade. E o último passo é a verdade”. No texto da Primeira Leitura do dia anterior são Paulo nos diz que somos servidores e não donos. Hoje ele chama atenção  daqueles que acreditam ser alguma coisa ou dono da verdade: "Quem é que te faz melhor que os outros? Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido?”.

Será que nós nos buscamos a nós mesmos ou o poder em nosso serviço aos demais? Será que reagimos com a humildade de são Paulo diante das críticas e dos comentários maldosos pelos quais sofremos bastante em nosso trabalho? Aquele que está cheio de si é que perturba a convivência harmoniosa. O humilde reage com mais serenidade, como são Paulo.

Em sintonia com o texto da Primeira Leitura, o Salmo Responsorial (Sl 144) nos orienta para o juízo de Deus e nos convida a pôr em Deus a confiança, não em nossos méritos nem no nosso prestígio que possamos ter: “É justo o Senhor em seus caminhos, é santo em toda obra que ele faz. Ele está perto da pessoa que o invoca, de todo aquele que o invoca lealmente”.

O Amor Fraterno É o Cumprimento Da Vontade De Deus

O Filho do Homem é senhor também do sábado

A controvérsia entre Jesus e os fariseus continua. No evangelho anterior era sobre o jejum. Hoje é sobre o Sábado. Guardar o sábado para um judeu era algo importantíssimo; estava entre os principais mandamentos. Transgredir o sábado podia levar o acusado à condenação de acordo com a gravidade do ato. A punição prevista chegava à pena de morte (cf. Ex 31,12-17; 35,1-3).

E tirar espigas (com foice) era uma das trinta e nove formas de violar o sábado, segundo as interpretações exageradas que algumas escolas dos fariseus faziam da lei na época. Por isso, se escandalizam quando percebem que os discípulos de Jesus arrancam as espigas para matar a fome no dia de sábado. Na verdade Dt 23,25 determina: “Quando entrares na seara de trigo do teu próximo, poderás colher espigas com a mão, mas não usarás a foice”. Era permitido, então, colher espigas com a mão. Só não era permitido passar a foice.

Os fariseus ficam presos com suas próprias idéias e usam os textos da Sagrada Escritura em função de suas idéias. Ler e meditar a Palavra de Deus é para descobrir a vontade de Deus. Precisamos rezar, a exemplo de Samuel, quando lemos e meditamos a Palavra de Deus: “Fale, Senhor; vosso servo escuta!” (1Sm 3,10). A Bíblia é inspirada por Deus e por isso, precisamos pedir ao Espírito Santo que nos inspire na hora de ler e de meditá-la. Em outras palavras, quando lermos e meditarmos a Palavra de Deus temos que ter uma mente aberta e um coração necessitado da graça de Deus.

Jesus veio ao mundo para salvar a humanidade por amor (cf. Jo 3,16). Por isso, Jesus aplica um princípio fundamental para todas as leis, em função dos homens: “O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. O homem está sempre no centro da doutrina de Jesus. Sua preocupação é fazer o bem para o homem, mesmo no dia de Sábado, mesmo transgredindo a lei religiosa. A lei do Sábado foi dada precisamente a favor da liberdade, do bem e da alegria do homem (Dt 5,12-15).

Para Jesus, o espírito da lei deve estar sempre ao serviço de Deus para glorificá-Lo, e ao serviço do ser humano para dignificá-lo. A glória de Deus é a vida e a felicidade de seus filhos, os seres humanos. Para Jesus, as leis, ainda que pareçam ser sagradas, não podem estar por cima da vida, das necessidades vitais, da felicidade, da plena realização dos seres humanos. Por isso Jesus tem coragem de afirmar: “O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. A lei civil é uma afirmação dupla: a existência dos maus e a dos bons. Para que os bons sejam protegidos é necessário ter lei. Se todos fossem bom, se todos tivessem capacidade de amar, a existência da lei não teria sentido. “Ama e faze o que quiseres. Por esse caminho não existe outro”, dizia Santo Agostinho.

A lei é boa e necessária. A lei é, na verdade, o caminho para levar à prática o amor. Somente o mandamento do amor rompe fronteiras, divisões, prejuízos e escravidões (Jo 13,34-35; 15,12). Por isso mesmo a lei não pode ser absolutizada. O Sábado, (para nós o domingo), está pensado para o bem do homem. É um dia em que nos encontramos com Deus, com a comunidade, com os irmãos, com a natureza e com nós mesmos. O descanso é um gesto profético que nos faz bem a todos para fugir ou escapar da escravidão do trabalho ou da carreira consumista. O dia do Senhor é também dia do homem, com a Eucaristia como momento privilegiado.

O sagrado do sábado”, comenta o rabino Nilton Bonder, “não é o descanso em si, mas o ritmo mágico do trabalho ao descanso e ao trabalho novamente. É essa entrada e saída que é sagrada. (...) Sem as pausas há apenas ilusão; sem os silêncios há apenas ilusão da música; sem a luz-transparência há apenas ilusão da cor” (Código Penal Celeste).

“Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?”, perguntaram alguns fariseus a Jesus. O homem sempre tem uma tendência fastidiosa em dar uma importância aos meios, esquecendo-se muitas vezes do fim. Na minha fé, nos costumes religiosos, nos ritos há de ver primeiro sua finalidade, seu objetivo profundo, e os modos de expressão podem mudar. O legalismo religioso pode matar o espírito cristão. Toda comunidade em que os interesses particulares, as desigualdades, o monopólio têm espaço, deixa de ser campo para o triunfo do Espírito Santo. Jesus nos pede que acima de tudo deve ficar a misericórdia, o amor: “A caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,10b). Nascemos do Amor criador e devemos levar essa marca divina para toda a nossa vida. Somos filhos de Deus em Jesus Cristo e não estranhos, e, portanto, devemos atuar e viver como tais. Somos membros do Corpo de Cristo unidos pela fé, amor e esperança. Somos chamados a viver em comunhão da fé, amor, esperança, vida e solidariedade. Temos que nos salvar juntos. Todos nós temos que chegar juntos à casa do Pai (cf. Jo 14,1-6). Mas diante da responsabilidade não podemos pretender que os outros realizem a parte que a cada um corresponde. Cada um é insubstituível na sua responsabilidade.

Jesus nos convida, então, a fazer da Palavra de Deus um instrumento de libertação. Sua Palavra é a constituição para os cristãos, o novo povo de pessoas livres.

Precisamos nos perguntar: “Não somos, às vezes, demasiados legalistas? Não julgamos nossos irmãos quando cremos que eles não cumprem as leis ou as regras, sejam as leis humanas, as leis da Igreja ou as leis consideradas como divinas? Se para Jesus o homem está sempre no centro de seu ensinamento, será que colocamos o ser humano como centro de nossas atividades?”. A denúncia da escravidão ao sábado nos convida a nos libertarmos da religião da observância formal e segui-la pelos caminhos do amor libertador. Quando as coisas materiais ou rituais mandam, e não a lei do amor, o homem se faz escravo.

“O Filho do Homem é senhor também do sábado”. Deus entrou na história do homem fazendo-se palavra de homem. Com sua encarnação, a vida dos homens se torna o único lugar onde Deus fala. Praticamente, Jesus é acausado como “ateu”, pois não respeita o Sábado. Através de sua encarnação, Deus não levanta uma barreira entre o mundo da terra e o mundo de Deus. Deus santifica a condição mundana do homem.

Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?”, perguntaram os fariseus. O homem tem uma tendência de dar uma importância desmedida aos “meios”, esquecendo-se, muitas vezes, do “fim”. O homem, frequentemente, dedica seu tempo para discutir coisas secundárias, e não sobra tempo para tratar dos essências da vida. Disto aprendemos que em nossa fé, em nossos costumes religiosos, nos ritos, temos que ver primeiro sua finalidade, seu objetivo profundo e pensar que os meios de expressão podem mudar.

P. Vitus Gustama,svd

VINHOS NOVOS, ODRES NOVOS

                                                                     04/09/2020

SER SERVIDOR DE CRISTO E PRÁTICA DO JEJUM QUE MUDAM NOSSA MENTALIDADE

Sexta-Feira da XXII Semana Comum

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Primeira Leitura: 1Cor 4,1-5

Irmãos, 1 que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. 2 A este respeito, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis. 3 Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por algum tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. 4 É verdade que a minha consciência não me acusa de nada. Mas não é por isso que eu posso ser considerado justo. 5 Quem me julga é o Senhor. Portanto, não queirais julgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha. Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o louvor que tiver merecido.

Evangelho: Lc 5,33-39

Naquele tempo, 33 os fariseus e os mestres da Lei disseram a Jesus: “Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus, jejuam com frequência e fazem orações. Mas os teus discípulos comem e bebem”. 34 Jesus, porém, lhes disse: “Os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles? 35 Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, naqueles dias, eles jejuarão”. 36 Jesus contou-lhes ainda uma parábola: “Ninguém tira retalho de roupa nova para fazer remendo em roupa velha; senão vai rasgar a roupa nova, e o retalho novo não combinará com a roupa velha. 37 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque, senão, o vinho novo arrebenta os odres velhos e se derrama; e os odres se perdem. 38 Vinho novo deve ser posto em odres novos. 39 E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo; porque diz: o velho é melhor”.

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As leituras de hoje nos oferecem a oportunidade de refletir sobre a maneira de ser servidor de Cristo: “... que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”, escreveu são Paulo aos Coríntios que lemos na Primeira Leitura. É difícil falar sobre o ser servidor de Cristo porque o mais fácil é cair na crítica barata e na desclassificação superficial, assumindo assim o papel de moralista barato dentro da Igreja. O mais difícil é ser um servidor fiel do Senhor. Criticar nossa Igreja cuja cabeça é o próprio Cristo (Cl 1,18), de dentro e de fora, é muito fácil, mas com pena, e parece ser uma prática muito antiga já na Carta aos Coríntios são Paulo escreveu: “Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por algum tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. ... Quem me julga é o Senhor”. Em outras palavras, como servidores do Senhor não podemos viver em função dos comentários maldosos ou críticas infundadas e sim devemos viver de acordo com os ensinamentos do Senhor que se resume no amor fraterno, pois “a caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10b).

Da mesma forma, o Evangelho de hoje se abre com uma crítica, quase um murmúrio do povo: “Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus, jejuam com frequência e fazem orações. Mas os teus discípulos comem e bebem”. Criticar sem entender as razões de um ato é uma precipitação pouco inteligente. Criticar sempre supõe o domínio do assunto em questão para poder ver tanto seus pontos positivos como seus pontos negativos. De uma crítica verdadeira sempre sai uma sugestão como possível solução. Criticar sem apresentar solução não deixa de ser manifestação de um tipo de ódio.

São Paulo, em sua Carta, e Jesus, no Evangelho, nos dão a entender que servir a Deus nos leva sempre, antes ou depois, a enfrentarmos o juízo e as críticas dos demais e que, muitas vezes, esse enfrentamento  pode chegar a ser muito duro, pode chegar a ser uma revolução segundo os parâmetros do pensamento comum. São Paulo, na Carta aos Coríntios, nos convida a nos ficar em jejum das críticas: “Não queirais julgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha”. Aqui São Paulo reconhece a competência do Senhor como o verdadeiro Juiz que separa o trigo do joio, mas sem nenhuma precipitação, pois o Senhor sempre vê a possibilidade de o homem se converter. Ao mesmo tempo, são Paulo nos dá o seguinte conselho: “... que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. Sendo verdadeiro servidor do Senhor, as críticas infundadas se tornam inúteis, e ouvir essas críticas é uma perda de tempo.  “... que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”.  De certa forma são Paulo quer nos dizer que uma das identificações de ser cristão é ser servidor dos irmãos. No sentido cristão a palavra servir sempre com o intuito de salvar. Trata-se do serviço redentor: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Se alguém não tivesse essa confiança, da parte dos irmãos da comunidade, sobre quem tem alguma responsabilidade na comunidade,  seria muito melhor que deixasse de exercer seu cargo ou sua responsabilidade: melhor para ele e melhor para seus irmãos da comunidade. Servir na comunidade para alguma vantagem, seja social seja financeira, é um grande escândalo, isto é, uma pedra de tropeço para os irmãos da comunidade.

No Evangelho Jesus não duvida em romper os esquemas do pensamento comum e nos prepara ao que será a sua mensagem  no texto seguinte do Evangelho deste dia: se há que transgredir as regras para demonstrar ao mundo inteiro que nos sentimos felizes de estar com o Noivo, isto é, com Cristo, e de viver de acordo com seus ensinamentos, temos que ser muito valentes sem nos preocupar com tudo que os demais pensam, das instituições, da sociedade e assim por diante.

Aprofundemos um pouco mais sobre as leituras de hoje!

Somos Chamados a Ser Servidores De Cristo e Não a Ser Chefes

“... que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”.

Percebemos nesta Carta que o problema dos ministros e sua compreensão dentro da comunidade de Corinto era grave, porque são Paulo continua tratando deste assunto. Nos dias anteriores lemos na mesma Carta a divisão entre os partidários de Apolo ou de Paulo.

Para são Paulo, os apóstolos e todos os que de alguma maneira exercem um ministério pastoral na comunidade são “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. Por isso, devem ser “fieis” àquilo que se pede de um administrador com forme sua função. Eles não são donos nem são protagonistas. Eles pregam a Palavra que não é sua e sim de Deus.

As palavras “servidores” e “administradores” dos dons de Deus são muito belas ou formosas e necessitam de proteção e de vivência em todos os âmbitos. Ser “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” nos encantarão, se tivermos uma consciência plena e da profundidade desta missão. Jesus, muitas vezes se dá a si mesmo este título de “servidor”: “O Filho do Homem não veio para ser servido e sim para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10,45).

E ser “administradores dos mistérios de Deus”! Quão grandes e temíveis estas palavras! Os ministros na Igreja têm entre suas mãos esta responsabilidade: todos os meios da graça, a doutrina de Jesus, os sacramentos...., os mistérios de Deus! Eles os receberam para dispensá-los aos demais.

Mas temos de reconhecer, ao mesmo tempo, que cada um de nós, leva dentro de si uma raiz de egoísmo ou de prepotência, que se não a tratamos com rigor, acabaremos prejudicando o Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, cuja cabeça é Ele próprio.

Por isso, é uma boa ocasião para que os encarregados de uma comunidade, ou de uma pastoral, ou de um ministério... se examinem a si mesmos: será que eles são administradores e servidores de uns bens que pertencem a Deus e à comunidade? Sua atuação deve ser séria, responsável, como olhar posto no juízo de Deus que é profundo, pois “iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações”. É o juízo de Deus, que sonda nosso coração, com que devemos nos preocupar.

O Sentido Do Jejum Para a Vida De Um Cristão

Pela terceira vez em Lc 5 Jesus entra em controvérsias com os fariseus (cf. Lc 5,12-16; 5,27-32; 5,33-39). O tema da controvérsia desta vez é o do jejum.

O jejum é algo antigo escrito na Lei de Moisés (Lv 23,26-32; Nm 29,7-11). O jejum era praticado dentro do contexto de expectativa ou de preparação. Os fariseus e os discípulos de João Batista necessitavam fazer jejuns, pois estavam no tempo de espera. Os discípulos de Jesus não precisam fazer o jejum, nesta perspectiva, pois o Messias esperado está com eles: Jesus Cristo. Nesse sentido perdeu a razão de fazer o jejum.

Em qualquer controvérsia, Jesus sempre se apresenta como um independente diante das regras e das observâncias legais conforme as tradições. A independência de Jesus choca os que estão apegados ao pé da letra todas as leis. Jesus entra no espírito da lei, naquilo que possa edificar o ser humano, pois a pessoa humana é o foco de todo trabalho de Jesus (cf. Jo 3,16; 10,10). Por isso, em outra ocasião ele diz: “O sábado existe para o homem e não o contrário”.

O jejum sempre tem sentido de “privação” ou de “renúncia”. Jejuar consiste essencialmente em nos privar de alimento pelo sentido da palavra, mas em geral é referido a qualquer tipo de privação. Ao se controlar diante de um alimento ou da bebida, o homem é disciplinado para se controlar diante de outras provações ou desafios da vida. através do jejum o homem faz uma passagem significativa do autocontrole físico para o autocontrole psicológico, mental e espiritual. Pode-se também fazer uma passagem contrária: a força espiritual faz com que o homem seja capaz de se controlar diante do alimento ou bebida ou as demais coisas. O verdadeiro jejum sempre beneficia ao homem para seu bem (físico e espiritual simultaneamente: Mens sana in corpore sano- Mente sã em corpo são).

A prática do jejum está ligada, no AT, à espera da vinda do Messias. A prática do jejum aceleraria a chegada do Messias. Os fariseus e os discípulos de João Batista praticam o jejum. Por isso, questionam o comportamento dos discípulos de Jesus que não o praticam. A resposta de Jesus aqui é bem clara: se seus discípulos não praticam o jejum é porque não tem nada que esperar porque o Messias já chegou e está com eles. Eles estão vivendo esta intimidade. Esta intimidade será rompida no momento da paixão e da morte de seu Mestre.

Estamos em outro contexto. Por isso, o jejum ganha seu novo significado. Quando soubermos dar ou preparar o espaço para Deus na nossa vida, este espaço não será ocupado por outra coisa. Ao darmos esse espaço para Deus o resto ganha seu justo valor e sua justa perspectiva. Por isso, ao praticarmos o jejum estamos manifestando nossa vontade de não deixar nenhuma coisa material dominar nossa vida ou mandar na nossa vida. Podemos possuir as coisas, mas as coisas jamais podem nos possuir para não perdermos nossa liberdade. Mesmo não querendo, um dia largaremos tudo. É preciso que aprendamos a ser livres todos os dias, desde já. Sou livre quando a graça pesa mais do que as regras e não o contrario. Sou livre quando o amor e a humanidade pesam mais do que a religião. Sou livre quando eu estou no coração de Deus de Amor (1Jo 4,8.16) para eu ser capaz de amar com total liberdade e amar para libertar o outro da escravidão de uma vida sem sentido apesar de tratar-se de uma crença.

Tanto cristã como humanamente o jejum faz bem a todos. Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo aos demais; é saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com liberdade interior das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é purificador. Jejuar não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo, isto é, ser sóbrios. Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de olhos, de mente e da imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas quais se obscurecem e se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um cristão. A sobriedade é certamente uma garantia da capacidade de orar e de apreciar o Espírito Santo. Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria, a uma alegria profunda, nascida da paz da alma. Fazer jejum é renunciar a algo para dá-lo aos necessitados. O jejum com uma dimensão de solidariedade nos tira do egoísmo, nos tira de uma vida vazia. Paradoxalmente a vida vazia é pesada para quem a tem. Sou livre quando a graça pesa mais do que as regras e não o contrario.

Por isso, o jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador e o encontro com irmão, especialmente com irmão carente do básico para viver e sobreviver como um ser humano. Jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres, dos necessitados e dos carentes do essencial e básico.

O profeta Isaias descreve qual é o verdadeiro jejum que agrada a Deus (Is 58,6-9).  Deus não quer o jejum formalista que não tem em conta a vida do outro, e muito menos a justiça. Nada valem as ações que excluem o amor do próximo. O verdadeiro jejum, no pensamento do profeta, remete ao comportamento capaz de renunciar à ganância, à avareza para começar a ser generoso; capaz de renunciar ao tempo pessoal para ir ao encontro do necessitado (doente, prisioneiro, idoso etc.) para estar com ele a fim de aliviar uma parte de sua dor. O jejum verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com o faminto. Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver. O verdadeiro jejum é um verdadeiro compromisso com os irmãos necessitados e empobrecidos ou injustamente são presos.

Por isso, pode-se dizer que o que importa no jejum não é somente a privação de alimento e sim a seriedade da fé nas tarefas da vida para que sejam a expressão mais viva do serviço de Deus e dos homens ao mesmo tempo. O jejum não se concebe sem caridade e sem uma mudança de vida para uma vida mais fraterna. O jejum que Deus quer é o cumprimento dos deveres morais e humanos com o próximo.  

Além disso, no evangelho de hoje Jesus faz uma declaração que tem o mesmo conteúdo: “Ninguém põe o vinho novo em odres velhos”. Aceitar Jesus em nossa vida comporta mudanças importantes. Não se trata somente de “saber” de quantas verdades a respeito de Jesus, mas trata-se de mudar nosso estilo de vida segundo o estilo de vida de Jesus. Significa viver com alegria interior. Significa também novidade radical. Jesus rompe moldes. É aquilo que São Paulo chama de “revestir-se de Cristo Jesus”. Quais são nossos “odres velhos” que não servem mais para “guardar” os tesouros de Deus? Quais são nossos “odres velhos” que precisamos abandonar?

Uma mentalidade velha, caduca nunca nos aproximará do novo e do avançado. A mentalidade velha é sinônimo  de mediocridade, de estancamento e de pobreza. “A maior descoberta de uma geração é que os seres humanos podem mudar sua vida modificando suas atitudes mentais” (Albert Schweitzer). Precisamos abandonar uma mente de escravo porque ela é nostálgica, isto é, acredita que o passado foi melhor. Um homem com mentalidade de escravo é briguento, gozador, fanfarrão e vive criticando a tudo e a todos. Uma pessoa com uma mente de escravo se conforma com a mediocridade e não se permite aprender. A mente de escravo utiliza mecanismos de defesa que não nos permitem visualizar onde está a falha para saber em que devemos melhorar. Quem for capaz de fazer uma observação inteligente dos fatos, ele alcançará os melhores resultados. Quem tem mente de escravo usa a gentileza e a cortesia com os que estão acima (superiores), mas agride, maltrata e abusa emocionalmente dos que estão abaixo (inferiores).

Todos temos forças para mudar. Basta praticar a vontade de mudar. Dizia Victor Hugo: “A ninguém faltam forças; o que falta a muitos é vontade”. A vida é uma questão de decisão, e você se faz a cada decisão que toma. Decidir supõe sempre escolher, preferir e abandonar. “Quando um homem não sabe para onde navega, nenhum vento lhe é favorável” (Sêneca).

Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque, senão, o vinho novo arrebenta os odres velhos e se derrama; e os odres se perdem “, disse-nos o Senhor hoje.

 P.Vitus Gustama,svd

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

 03/09/2020

TRABALHAR E COLABORAR COM O SENHOR RESULTA NOS FRUTOS ABUNDANTES

Quinta-Feira da XXII Semana Comum

                                                                                                                            1 Coríntios 3,18-23 Irmãos, ninguém se iluda: Se algum de vós pensa que é  sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar  sábio. - ppt carregar

                                               Egídio Serpa | Egídio Serpa - Diário do Nordeste

Primeira Leitura: 1Cor 13,18-23

Irmãos, 18 ninguém se iluda: Se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; 19 pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus. Com efeito, está escrito: “Ele apanha os sábios em sua própria astúcia”, 20 e ainda: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios; sabe que são vãos”. 21 Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum. Com efeito, tudo vos pertence: 22 Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, 23 mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.

Evangelho: Lc 5,1-11

Naquele tempo, 1 Jesus estava na margem do lago de Ge­nesaré, e a multidão apertava-se a seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2 Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3 Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. 5 Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. 6 Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. 7 Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8 Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9 É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10 Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. 11 Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.

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Viver Conforme o Espírito De Deus Para Viver Na Sabedoria De Deus e Para Viver Com Sentido

Na Primeira Leitura do dia anterior, são Paulo acusava os Coríntios de imaturos e infantis pelas divisões que se suscitavam entre eles. Hoje ele volta ao tema da perspectiva da “sabedoria”. Se eles são “sábios do mundo”, então está explicada a razão das divisões entre os Coríntios.

 Se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus”.

A força e a vontade de defender as próprias ideias leva a pessoa a contemplar somente a si mesma, a ouvir a si mesma. Com isso ela não presta a atenção aos pontos de vista dos outros. Essa pessoa se encerra em sua própria dialética. Há que estar muito “louco” e “insensato” para absolutizar um sistema humano, seja qual for, segundo são Paulo. Tudo que é humano é ambíguo, frágil e provisional/passageiro. Um dia tudo terá o fim. Apoiar-se somente sobre análises humanas, sobre critérios puramente “deste mundo”, é insuficiente para um cristão ser salvo.

É próprio dos sistemas filosóficos ou políticos pretender encerrar toda a realidade no observável. Do âmbito da fé, o mundo não está encerrado em si mesmo. Alguém tem que se vestir do Espirito de Deus para ver além do aparente a fim de descobrir seu sentido. A história não pode reduzir-se pura e simplesmente a mecanismos quase materiais. Quem podia prever a Encarnação de Deus, a Crucificação de Jesus? Mas tudo isso sucedeu. Era uma loucura imaginar coisas semelhantes. Foi a obra da sabedoria imprevisível de Deus! Somente Deus é verdadeiramente Sábio. E seu projeto se cumprirá apesar de todas as aparências contrárias, pois a Palavra de Deus é a última palavra para a humanidade.

Por isso, nada é absoluto a não ser Cristo e Deus. Os demais, incluído os ministros da comunidade, são relativos. Morreu Apolo e morreu são Paulo, e morrerá o Papa atual e o seguinte. Mas Cristo é sempre o mesmo: ontem, hoje e sempre (Hb 13,8). E que através desta Igreja frágil e caduca levamos Deus a todos. Esta é a chave da sabedoria espiritual, a sabedoria do grupo que busca o Senhor do qual fala o Salmo Responsorial de hoje.

Para são Paulo é preciso julgar as coisas e as pessoas a partir da mentalidade espiritual e madura. São Paulo expressa este olhar com uma profunda e lúcida gradação: “Com efeito, tudo vos pertence: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”.

Não nos esqueçamos que pertencemos ao Senhor. Somos de Cristo. Por isso, nosso falar e nosso agir deve refletir o próprio Cristo. A consciência de pertencer a Cristo e de estar ligados ao tronco que Cristo, torna nossa vida frutífera (Cf. Jo 15,1-5). “Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. Onde estivermos e por onde andarmos os outros devem perceber que somos diferentes, pois somos de Cristo. O sinal mais evidente de que somos de Cristo é o amor mútuo (Cf. Jo 13,34-35). Onde houver amor, não há divisão. O amor une e reúne, o amor perdoa, o amor humaniza, o amor torna alguém gentil, educado, solidário, compassivo. Onde houver o amor, nuca falta espaço para alguém viver e conviver dignamente.

Em nossa vida de comunidade se estabelecem, às vezes, uma série de divisões, mais ou menos sutis, baseadas no que Paulo chama claramente “necessidades”. Damos importância ao que não tem nenhuma importância. Os ministros da comunidade: o Papa, o bispo, os pastores mais próximos, não são os protagonistas nem os donos. Sua eloquência ou seus carismas pessoais não são o fator determinante. Estão ao serviço da comunidade (“são vossos”). São colaboradores de Deus. e todos nós somos chamados, a partir de seu carisma, a colaborar na edificação da Igreja do Senhor.

Trabalhar Com o Senhor Sempre Rende Frutos Abundantes

É narrada no evangelho de hoje a história da pesca milagrosa, ressaltando o papel de Jesus e o dos pescadores. Pedro que é especialista na pescaria se torna um pescador frustrado pelo insucesso da noite inteira, pois nada pescou. Por isso, quando Jesus lhe disse: “Avança para águas mais profundas e lança redes para a pesca” (v.4) veio aquela resposta de desconfiança da parte de Pedro: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos” (v.5). “Deus precisou de apenas uma palavra para criar-nos, mas de seu sangue para redimir-nos. Se às vezes te sentes frustrado por tuas misérias, recorda quanto custaste”, dizia Santo Agostinho (Serm. 36,8).

Espelhando-nos em Pedro frustrado, podemos também citar muitas das nossas situações frustrantes de cada dia: cansei-me muito, gastei muita energia e tempo, empenhei-me a fundo, rezei muito e não aconteceu nada. É aquela sensação de derrotismo, de desânimo, de desespero. Dá vontade de desistir de tudo, de fugir, de abandonar tudo. Em outras palavras, quantas vezes experimentamos o cansaço, isto é, aquele estado de esgotamento físico ou emocional que se manifesta como um constante sentimento negativo cujos sintomas são sensação de incapacidade, raiva e aversão, sentimento de culpa, desânimo e indiferença, negativismo, isolamento e retraimento, constante sensação de cansaço e esgotamento.

Apesar dessa sensação negativa, o cansaço nos desafia a perguntarmos a nós mesmos: para onde, na verdade, caminha minha vida? Para onde meu cansaço vai me levar? O que espero da minha vida (de mim mesmo), dos outros e de Deus? Por acaso, tenho humildade de escutar os bons conselhos? Por acaso tenho tempo para escutar a Palavra de Deus mesmo que seja contrária ao bom senso? A partir dessas perguntas e outras perguntas relacionadas à questão, o cansaço nos leva a encontrarmos nosso verdadeiro ser e consequentemente, é também um momento transcendente de nossa vida.          

Experimentando a frustração e o cansaço físico e mental, Pedro põe em jogo a própria pessoa, a própria vida e o próprio futuro. Ele e seus companheiros haviam trabalhado durante a noite inteira sem conseguir apanhar um só peixe, e agora, em plena luz do dia, Jesus manda-lhes que lancem as redes para a pesca. Eles conhecem Jesus, mas apenas como Mestre: “Mestre nós trabalhamos...”. Apesar de todas as objeções que um profissional poderia levantar contra ela, a palavra de Jesus tem mais força para Simão do que sua longa experiência de pescador: “Avança para águas mais profundas e lança redes para a pesca”, ordenou Jesus. Pedro tenta superar a própria desconfiança: “Na tua palavra lançarei a rede”. 

A palavra de Deus é poderosa, mas é preciso que seja posta em prática para que desenvolva sua força. E Pedro cumpre a palavra de Jesus imediatamente: “Na tua palavra lançarei a rede” (v.5). Notemos quanto há de profundo neste “na tua palavra” porque é a expressão que, na Bíblia, especialmente nos Salmos, designa a atitude do homem diante de Deus. “Confio na Tua Palavra, é Tua Palavra que me dá vida, Senhor; Tu me afligiste. Tu permitiste tantos sofrimentos na minha vida, mas na Tua Palavra confio”. Em outra ocasião, no discurso sobre o Pão da vida, Pedro dirá a Jesus: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que Tu és Santo de Deus” (Jo 6,68-69). Certamente, na força da Palavra de Deus, os apóstolos encontram a vida ali onde tudo parecia morto; messe abundante onde tudo parecia vazio; abertura onde tudo parecia fechado. Quando for colocada em prática, a Palavra de Deus sempre dá fruto.          

Na tua palavra lançarei a rede”. Aqui Pedro sai dos cálculos e se atira, confiando na Palavra do Senhor. De fato, à fé, à obediência incondicional de Simão Pedro segue-se o milagre, a manifestação do poder da Palavra criadora de Deus. O poder da Palavra de Deus manifestada em Jesus domina toda esta cena. Toda força, todo poder vem de Deus. Nesta perspectiva devemos situar-nos para compreender o que segue. Mas antes disso, vamos tirar alguma lição.          

Jesus nunca permite o aborrecimento pelo insucesso no nosso trabalho. Não cabe a cada um de nós calcular o último resultado. Cada um deve trabalhar, empenhar-se todo, confiando unicamente na Palavra do Senhor. Empenhar-se significa dar tudo, experimentar tudo, estudar, corrigir, mudar e recomeçar. A eficácia de nossa ação está na obediência à Palavra de Deus. Se agirmos em nome próprio, nossos esforços serão estéreis. A Palavra de Deus é a semente que tem em si uma força criadora, uma potência enorme. Então, por que ainda duvidamos dela? Por que não levamos a sério a Palavra de Deus? Por que não a lemos e meditamos? Com Deus podemos pescar onde parece que não há peixe, podemos plantar justiça ou amor onde outros dizem que não adianta tentar; podemos levar fraternidade onde parece que a competição é a única lei que funciona.     

Vendo a pesca milagrosa, Pedro descobre a manifestação do poder de Deus em Jesus e se lança aos pés dele, dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, pois sou um pecador” (v.8). Ele não chama mais Jesus de “Mestre”, mas de “Senhor”. O poder de Jesus faz sobressair a pecaminosidade de Pedro: Pedro não estava entre os maiores pecadores, mas também ele era um homem que, colocado diante do poder, da santidade de Deus, sentia que muitas coisas de sua vida não funcionavam. Com clarividência instantânea, Pedro percebe a distância entre seu pecado e a santidade de Deus, entre sua pequenez e sua fragilidade e a grandeza e poder de Deus. Pedro sente com uma clareza insuportável que não há lugar para ele, pecador, na presença do Deus santo. Esta experiência da sua indignidade diante da manifestação de Deus é o que causa em Pedro e em seus companheiros o “tremendo espanto” de que nos fala o texto. A Palavra de Deus nos ensina a não temer, mesmo que tenhamos medo, e a temer mesmo quando não temos medo. Temamos, pois, para não temer”, dizia Santo Agostinho (Serm. 65, 1,1).

Num fragmento de Votos Irlandês encontram-se as seguintes frases: “Deus está sobre mim para dar-me abrigo. Deus está diante de mim para indicar-me o caminho certo. Deus está junto de mim para proteger-me dos perigos à esquerda e à direita. Deus está à minha retaguarda para defender-me da malícia dos maus. Deus está sob mim para reerguer-me quando caio. Deus está em mim para consolar-me quando eu estou triste”. Basta ter fé e vivê-la em todos os momentos de nossa vida, então nossas forças serão renovadas na graça de Deus.          

Da experiência percebemos que enquanto vivemos no meio dos outros homens, fracos e frágeis como nós, não nos damos conta do nosso pecado, de nossa fragilidade, de nossas fraquezas; aliás, comparando-nos com os que estão ao nosso lado, podemos até pensar que sejamos justos, honestos, sinceros, caridosos, misericordiosos e irrepreensíveis. Mas ao entrarmos em contato com Deus, as coisas mudam: constatamos de forma dramática a nossa pobreza, a nossa indignidade, a nossa miséria. Só quem fica perto de uma luz percebe a sujeira da própria roupa. Esta experiência é vivida por todos aqueles que entram em contato com a Palavra de Deus, aquela palavra que é “viva e eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes” (Hb 4,12). É a experiência vivida por Paulo, quando toma consciência da própria indignidade de pregador do Evangelho: “Nós carregamos este tesouro em vasos de barro” (2Cor 4,7).                

A palavra de Deus se manifesta em Jesus Cristo como uma palavra que pacifica, que infunde ânimo, que dá segurança; como uma palavra que escolhe, que chama, que fortalece e que transforma a existência daquele que é chamado. A palavra de Jesus vai superar a distância: “Não temas!” São mesmas palavras que ecoam nas manifestações de Deus no AT (cf. Gn 15,1;21,17;26,24;28,13;Jz 6,23;1Sm 4,20).        

Às palavras de pacificação, de segurança e de coragem, seguem-se as da promessa- missão: “Doravante serás pescador de homens”. A palavra de Jesus tem esse poder de fazer começar uma história nova na vida de um homem.        

A nova missão de Pedro e de seus companheiros será a de “salvar vidas”: entrar mar adentro para tirar os homens das águas profundas, do abismo da morte; “pegar vivos ou para a vida” os homens, assim como eles mesmos foram colhidos- escolhidos. A resposta de Pedro e de seus companheiros às palavras de Jesus foi a disponibilidade absoluta, a da obediência incondicional: “...e deixando tudo, eles o seguiram” (v.11). A renúncia, o “deixar tudo”, é uma consequência, e não uma condição prévia, do chamamento de Jesus. A vocação é a vocação para uma missão.

Aprendemos que pecar- salvar sem Jesus é impossível. Todos os saberes e técnicas humanas, horas oportunas (a noite), não são capazes de salvar sem a ajuda de Jesus. O fruto abundante (pesca milagrosa) será constante na atividade missionária se cada cristão seguir as diretrizes de Jesus. Nossas próprias forças não são suficientes para superar tudo. Necessitamos da confiança na Palavra d’Aquele que nos prometeu que nunca nos deixaria sozinhos (cf. Mt 28,20). Quem, como Pedro, aceitar sua limitação, estará em condições de aceitar que os frutos de seu trabalho apostólico não são seus e sim d’Aquele que nos convidou para ser seu instrumento. Jesus chama os apóstolos a serem pescadores de homens, mas o verdadeiro pescador é Ele.         

Diante da força da Palavra de Deus posta em prática a exemplo de Pedro que resultou na pesca abundante, devemos, por acaso, desistir diante das dificuldades? Devemos recusar o convite do Senhor para ser pescadores de homens, para espalhar a Palavra do Senhor? Temos convicção de que a única força que possuímos é a da Palavra de Deus que nos foi confiada? Não nos sentimos, por vezes, inclinados a confiar em outras forças?

“Meu Senhor e meu Deus, despoja-me de tudo que me afaste de Ti. Meu Senhor e meu Deus, concede-me tudo que me conduz a Ti. Meu Deus e meu Senhor, despoja-me de mim mesmo e faz com que eu pertença totalmente a Ti” (Nicolau de Flüe [1407-1487]).

P. Vitus Gustama,svd

 02/09/2020

SER SALVO PARA SERVIR O PRÓXIMO E SER COLABORADOR DE DEUS

Quarta-Feira da XXII Semana Comum

                                                                                         Juntos Alcançamos Outros

                   Evangelho de hoje (Lc 4,38-44) - Egídio Serpa | Egídio Serpa - Diário do  Nordeste               

Primeira Leitura: 1Cor 3,1-9

1 Irmãos, não pude falar-vos como a pessoas espirituais. Tive de vos falar como a pessoas carnais, como a crianças na vida em Cristo. 2 Pude oferecer-vos somente leite, não alimento sólido, pois ainda não éreis capazes de tomá-lo. E nem atualmente sois capazes de receber alimento sólido, 3 visto que ainda sois carnais. As rivalidades e rixas que existem aí, no meio de vós, acaso não mostram que sois carnais e que procedeis de acordo com os impulsos naturais? 4 Quando um declara: “Eu sou de Paulo”, e outro: “Eu sou de Apolo”, não estais procedendo como pessoas simplesmente naturais? 5 Pois, que é Apolo? que é Paulo? Não passam de servidores, pelos quais chegastes à fé. E cada um deles exerce seu serviço segundo o dom recebido de Deus. 6 Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é que fazia crescer. 7 De modo que nem o que planta, nem o que rega são, propriamente, importantes. Quem é importante é aquele que faz crescer: Deus. 8 Aquele que planta e aquele que rega formam uma unidade, mas cada um receberá o seu próprio salário, proporcional ao seu trabalho. 9 Com efeito, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois lavoura de Deus, construção de Deus.

Evangelho: Lc 4,38-44

Naquele tempo, 38 Jesus saiu da sinagoga e entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava sofrendo com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39 Inclinando-se sobre ela, Jesus ameaçou a febre, e a febre a deixou. Imediatamente, ela se levantou e começou a servi-los. 40 Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levaram a Jesus. Jesus punha as mãos em cada um deles e os curava. 41 De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus”. Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Messias. 42 Ao raiar do dia, Jesus saiu e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam e, indo até ele, tentavam impedi-lo de as deixar. 43 Mas Jesus disse: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado”. 44 E pregava nas sinagogas da Judéia.

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Somos Chamados a Edificar a Comunidade e Não Para Criar Grupinhos Rivais Dentro Dela


“As rivalidades e rixas que existem aí, no meio de vós, acaso não mostram que sois carnais e que procedeis de acordo com os impulsos naturais?... Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é que fazia crescer. ... Quem é importante é aquele que faz crescer: Deus”.

Os cristãos de Corinto haviam saído do paganismo e do judaísmo. Haviam dado grande passo na caminhada da fé. Mas não tinham uma maturidade suficiente na fé. Eles viviam uma fé infantil que os levava para formar grupinhos rivais dentro da própria comunidade.  A “fé” que eles viviam era exclusivista, fechada e egoísta. Criar grupinhos como rivais para outros grupos na mesma comunidade, para são Paulo, é sinal de uma fé muito infantil. A verdadeira fé leva as pessoas para a salvação. Quem gosta de dividir as pessoas em grupinhos é o Diabo. A fé infantil torna nossas ações muito diabólicas na comunidade.

O que são Paulo escreveu no texto da Primeira leitura de hoje nos mostra que os Coríntios continuam fechados ao Espírito e não assimilaram a sabedoria de Deus, profunda e misteriosa. São Paulo os acusa de imaturos (infantis), incapazes de compreender a mensagem do Crucificado. Para são Paulo, a existência de divisão na comunidade de Corinto é um sinal claro da imaturidade, da falta da verdadeira sabedoria. Percebe-se no texto que formavam “bandos” dentro da comunidade: uns eram “fans” de Paulo e outro de Apolo. Para são Paulo estas divisões acontecem porque alguns seguem uns critérios humanos, “carnais” ou instintos naturais, e não se deixam guiar pelo Espírito de Deus.  Segundo são Paulo eles são crianças pequenas e por isso não podem alimentar-se mais que de leite, não de alimentos sólidos.

Se os Coríntios tivessem o olhar do Espírito, veriam Paulo e Apolo como “agentes de Deus”, servidores, ministros e pregadores da comunidade que somente prepararam o campo para que Deus operasse na vida de cada membro de acordo com os dons recebidos para edificar a comunidade. São Paulo e Apolo são colaboradores de Deus. O que ele s fazem é para salva, em nome do Senhor Jesus Cristo. Por isso é que são Paulo escreveu: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é que fazia crescer. ... Quem é importante é aquele que faz crescer: Deus. Deus é que mais importante, pois somente Ele pode salvar. E são Paulo tem consciência disso. Quando Deus se torna importante, ninguém se achará mais importante. Deus salva e cada um de nós colabora nesta obra de acordo com os dons que o mesmo Deus nos deu. Aliás, os dons de Deus são dados por Deus para a edificação da comunidade e não para a divisão da comunidade. O ato de dividir a comunidade é uma negação aos próprios dons.

Para os gregos, o sábio fala em seu próprio nome (o eu) e quem tem força decisiva e persuasiva são suas qualidades. Mas o olhar dos cristãos deveria estar posto mais em Deus do que em Paulo e Apolo. Como repete o Salmo da meditação de hoje (Sl 32/33): “Feliz o povo cujo Deus é o Senhor...”.

A sabedoria não se avalia pelos conhecimentos eruditos e sim pelas atitudes concretas do amor fraterno na vida comunitária. Um termômetro da maturidade para uma comunidade cristã é a existência ou não de cismas/divisões e zelos em seu seio. Por isso, a seguinte pergunta é válida a partir da experiência dos Coríntios: Fomentamos divisões em nossa comunidade, na nossa paróquia, na nossa Igreja, na vida religiosa ou na vida social?

O erro  dos Coríntios é repetido por tantos cristãos hoje em qualquer comunidade e por tantas comunidades em qualquer paróquia. É  o erro de permanecer criança na fé a vida inteira. Crescemos fisicamente, participamos de tantos estudos e nos tornamos adultos em tudo, menos na fé, no conhecimento e na vivência dos ensinamentos de Cristo a quem seguimos. Por isso, os pequenos e insignificantes problemas na comunidade são capazes de nos derrubar e de dividir a comunidade em grupinhos. E cada um é rei de seu pedaço. Às Vezes chegamos a perder a paz e o bom humor por pequenas coisas. E começamos a criar divisão ou desunião. Esta divisão já demonstra, sem querer querendo, nossa negação de nossa fé na existência da Santíssima Trindade, a Comunidade-modelo para todos os cristãos, pois nela o amor circula livremente. Aparentemente gostamos mais de “comes e bebes” do que qualquer tipo de formação. Consequentemente, fazemos coisas não pelo seu sentido e sim pelo interesse escondido atrás de cada coisa que fazemos. Nisso atuamos segundo critérios humanos, carnais e não espirituais.

Deus é o único Autor da salvação. A nós, seus colaboradores, é confiada Sua Palavra para que, como a melhor das sementes, a semeamos no coração de todas as pessoas. Nossa tarefa é semear. Quem faz crescer é o próprio Deus. Vamos semear o bem  e a bondade diariamente sem nos cansar, pois é o único investimento que nos leva até Deus que nos salva. Somos colaboradores do Evangelho. Cumpramos com amor a missão a nos confiada. Procuremos que o coração daquele a quem proclamamos a Boa Nova de salvação não vá atrás de nós e sim atrás de Cristo, até chegar junto com Ele à glória que Deus oferece à humanidade inteira.

Somos Salvos Para Servir e Salvar Os Outros

O que Jesus anunciou na sinagoga de Nazaré, no seu discurso programático (Lc 4,14-30), ele vai o cumprindo. Aplicando para si a profecia de Isaias, Jesus diz que vem anunciar a salvação aos pobres e curar os cegos e dar a liberdade aos oprimidos.

Hoje lemos o programa de uma jornada de Jesus “ao sair da sinagoga”: curar a febre da sogra de Pedro, impor as mãos e curar os enfermos que as pessoas trouxeram para Jesus, libertar os possuídos pelo demônio e não se cansar de ir ao encontro do povo para anunciar o Reino de Deus. Mas, no meio de suas atividades missionárias, Jesus nunca deixa de buscar momentos de paz para rezar pessoalmente num lugar solitário.

Depois de sair da Sinagoga, em Nazaré, Jesus e alguns discípulos foram para a casa de Simão Pedro. Jesus saiu de um lugar oficial (sinagoga é lugar de oração, de ensino e de catequese para os judeus) para um ambiente familiar: casa. Em casa todos tem seu espaço e cada um é chamado pelo nome e não pelo título (se é um doutor, deputado, presidente e assim por diante). Cada um é gente em casa. Em casa um se preocupa com o outro. Basta um membro sofrer, todos sofrerão. Basta um membro ter sucesso, todos experimentarão a felicidade. Ninguém fica feliz sozinho como também ninguém sofre sozinho, pois não somente vivemos, mas convivemos. Nossa vida é cercada por outras vidas. Oxalá possamos viver a espiritualidade familiar também fora de nossa família, como Jesus nos diz hoje: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado” (Lc 4,43). O cristão existe para os outros. Nisto consiste o sentido de sua vida de cristão.

Pedro encontra sua sogra com febre em sua casa. No pensamento daquela época, a febre era causada pelo demônio. Com um gesto familiar, Jesus se aproximou da mulher, tocou-a e a ajudou a se levantar e a febre desapareceu. A sogra de Pedro começou a servir a todos imediatamente.

A febre representa tudo que nos impede de servirmos aos outros. Cada um pode descobrir que tipo de “febre” que o impede de servir aos outros, “febre” que faz a vida perder seu sentido (ficar deitado todo tempo). O que é que me faz viver uma “vida deitada”, isto é, sem ação, sem ânimo, sem perspectivas. Eu preciso convidar Jesus para entrar na minha casa onde estou “deitado” para que ele se aproxime de mim, me toque e me ajude a me levantar. A palavra “levantar-se” no Novo Testamento, em outros contextos, também significa ressuscitar. Eu preciso me levantar de uma vida estéril (deitar) para uma vida fecunda (servir). Para isso, eu preciso segurar a mão de Jesus, mão que me potencia, mão que me levanta, mão que me cura e liberta, mão que me torna uma mão que ajuda os outros.

Um outro detalhe que chama nossa atenção no evangelho deste dia é que Jesus não deixava os demônios falarem, e os expulsou (Lc 4,41). Nesta marca comum nos antigos exorcismos se descobre que é preciso lutar contra o mal sem deter-se em discutir suas pretensões.

Todos nós sabemos que o mal pode vestir-se de uma aparência boa, enganando os que procuram escutar suas “orações” ou “pedidos”. Jesus não ficou parado nisto. Jesus sabe que tudo que destrói o homem é perverso e Jesus se esforça para vencê-lo, devolvendo assim a dignidade para as pessoas sofridas.

Outro detalhe que chama bastante nossa atenção é que diante da obra de Jesus surge uma reação bastante egoísta entre as pessoas: querem monopolizar o aspecto mais extenso da atividade de Jesus e utilizá-lo como um simples curandeiro: “As multidões o procuravam e, indo até ele, tentavam impedi-lo de as deixar”.

Podemos ter a tentação ou a tendência para este tipo de relacionamento com Jesus no sentido de que nós aceitamos Jesus simplesmente na medida em que ele nos ajuda a resolver nossos problemas para garantir tranqüilidade psicológica ou uma ordem na família, ou uma garantia na vida financeira. Santo Agostinho nos relembra que a razão de nossa existência neste mundo é a vida eterna. Temos que viver e conviver dentro desta dimensão. Conseqüentemente eu sou uma ocasião de salvação para o próximo e o próximo é uma ocasião de salvação para mim. Jesus nos salva na medida em que cada um se torna uma ocasião de salvação para o outro (cf. Mt 25,40.45; veja também Lc 22,31-32). Estando conscientes disso entenderemos que Jesus é muito maior do que um fazedor de milagres. Ele é a nossa Salvação (cf. Jo 6,68-69). Que Jesus Cristo é nosso Salvador é uma das afirmações mais sólidas e repetidas do Novo Testamento. É a primeira noticia do céu à terra através do anjo falando a uns pastores: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). A salvação alcança o que foi criado, pessoas humanas em umas condições concretas. Anunciar a salvação é anunciar a vida em todas as suas dimensões, inclusive em algo tão relativo como a saúde (a palavra “salus” [salvar/salvação] exige previamente uma cura. Para um cego, depois da recuperação de vista, Jesus disse: “Tua fé te salvou” [Mc 10,52]). Cada cristão existe para ajudar, proteger e salvar o outro. Se um cristão é egoísta é porque ele deixa de ser cristão. Se um cristão é desonesto, injusto, incoerente, etc., não ele não pode ser chamado mais de cristão, como dizia Santo Agostinho: “O nome de cristão traz em si a conotação de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade, inocência e piedade. Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?” (De vit. christ. 6).

A resposta de Jesus, para a tentação de monopólio, é clara: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado” (Lc 4,43). Sua exigência se traduz em um dom que fica aberto para todos os que O esperam. Certamente o Evangelho é um presente que enriquece a existência, porém um presente que não se pode encerrar e sim um presente que nos abre sem cessar para os outros. 

Podemos revisar alguns traços significativos do texto do evangelho lido neste dia. Em primeiro lugar, o texto diz que Jesus foi para casa de Pedro ao sair da sinagoga. Trata-se de um bom programa para qualquer cristão. “Ao sair da sinagoga...”. Ou seja, na nossa linguagem “ao sair de nossa missa ou de nossa oração”, nos espera uma jornada de trabalho, de pregação e evangelização, de serviço curativo para os demais traduzindo nossas orações em ações. É colocar a oração na vida e a vida na oração. Em segundo lugar, Jesus, em meio de uma jornada com um horário intensivo de trabalho e dedicação missionária, encontra momentos para rezar sozinho. Em terceiro lugar, Jesus não quer “se instalar” num lugar onde ele é bem acolhido: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado”. É preciso que nós evitemos dois perigos: o ativismo exagerado, descuidando da oração (espiritualidade) e a tentação de ficarmos no ambiente em que somos bem recebidos, descuidando da universalidade de nossa missão. É preciso que olhemos para Cristo para saber o que precisamos fazer: Jesus é evangelizador, libertador, orante.

Para Refletir Mais...

Uma das atitudes fundamentais de Jesus, que Lucas nos descreveu no seu evangelho, é a sua grande misericórdia. A misericórdia leva Jesus a ser disponível para os demais. Por causa da misericórdia, para Jesus não há momento determinado para ajudar, para curar e para atender aos que O procuram e necessitam dele. Todo tempo de Jesus é para os necessitados, para os quais ele foi enviado (cf. Lc 4,18-19). E todos encontram nele alívio, consolo e força para continuar a seguir adiante na vida. Servir é amar. E amar é viver para sempre, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Que “motor” que nos move a trabalharmos como cristãos tanto na Igreja como na sociedade em geral? Como está nossa disponibilidade como cristãos? Existe algum momento dedicado para os outros no nosso dia-a-dia para ajudar, consolar, aconselhar ou simplesmente para escutar o outro?

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...