quarta-feira, 26 de agosto de 2020

 01/09/2020

TER AUTORIDADE É AQUELE QUE FAZ O OUTRO CRESCER E LEVÁ-LO PARA A COMUNHÃO PLENA COM DEUS

Terça-Feira da XXII Semana Comum

                                           Evangelho de hoje (Lc 4, 31-37) - Egídio Serpa | Egídio Serpa ...

Primeira Leitura: 1Cor 2,10b-16

Irmãos, 10b o Espírito esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus. 11 Quem dentre os homens conhece o que se passa no homem senão o espírito do homem que está nele? Assim também, ninguém conhece o que existe em Deus, a não ser o Espírito de Deus. 12 Nós não recebemos o espírito do mundo, mas recebemos o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos os dons da graça que Deus nos concedeu. 13 Desses dons também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com a sabedoria aprendida do Espírito: assim, ajustamos uma linguagem espiritual às realidades espirituais. 14 O homem psíquico – o que fica no nível de suas capacidades naturais – não aceita o que é do Espírito de Deus: pois isso lhe parece uma insensatez. Ele não é capaz de conhecer o que vem do Espírito, porque tudo isso só pode ser julgado com a ajuda do mesmo Espírito. 15 Ao contrário, o homem espiritual – enriquecido com o dom do Espírito – julga tudo, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. 16 Com efeito, quem conheceu o pensamento do Senhor, de maneira a poder aconselhá-lo? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo.

Evangelho: Lc 4,31-37

Naquele tempo, 31 Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e aí os ensinava aos sábados. 32 As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade. 33 Na sinagoga, havia um homem possuído pelo espírito de um demônio impuro, que gritou em alta voz: 34 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” 35 Jesus o ameaçou, dizendo: “Cala-te, e sai dele!” Então o demônio lançou o homem no chão, saiu dele, e não lhe fez mal nenhum. 36 O espanto se apossou de todos e eles comentavam entre si: “Que palavra é essa? Ele manda nos espíritos impuros, com autoridade e poder, e eles saem”. 37 E a fama de Jesus se espalhava em todos os lugares da redondeza.

___________________

Entre o Homem Psíquico e o Homem Espiritual

Ninguém conhece o que existe em Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós não recebemos o espírito do mundo, mas recebemos o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos os dons da graça que Deus nos concedeu”.

Em 1Cor 2,6-3,4 são Paulo fala da verdadeira sabedoria sobrenatural que é reservada aos que fizeram progresso na fé ou aos que se deixam guiar pelo Espirito de Deus.

Com efeito, quem é o verdadeiro sábio? Quem pode chegar a conhecer em profundidade as pessoas, as coisas e os acontecimentos?

Paulo insiste: o Espírito sonda tudo, inclusive, a profundidade de Deus: “Ninguém conhece o que existe em Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós não recebemos o espírito do mundo, mas recebemos o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos os dons da graça que Deus nos concedeu”. Para são Paulo tudo procede do Espirito de Deus, tanto o correto conhecimento das coisas de Deus como as palavras adequadas para expressar este conhecimento. Dai  há uma grande importância de ser possuído pelo Espirito de Deus. Por isso, quando nos deixarmos iluminare guiar por este Espírito que não é o espirito do mundo, entenderemos o sentido de tudo em profundidade.

Para São Paulo há dois tipos de homens. Uns se movem ao “nível humano” que em grego chama-se “physikos anthropos” ou o homem físico. Estes não são capazes de captar nem perceber o que é o próprio do Espirito de Deus. Há também “o homem de espírito” (pneumatikós), isto é, aquele que se deixa guiar pelo Espirito de Deus. E este é capaz de julgar tudo, pois é iluminado e guiado pelo Espirito de Deus. Se todas as coisas foram criadas por Deus, isto significa que para entender o sentido de cada criatura (coisa criada), o homem deve se aproximar de Deus e permanecer nele. É como o homem que conhece a própria consciência e por isso, sabe muito bem de tudo o que fez, mesmo aquilo que ele fez no segredo.

O Espirito de Deus nos leva à profundidade das coisas, da vida, dos acontecimentos. Quem de deixa guiar pelo Espírito de Deus jamais ficará na superficialidade. Se nós ficarmos apenas no aparente e no superficial, não chegaremos nunca a conhecer bem nem a história, nem as pessoas e nem a nós mesmos na sua essência. Se julgarmos a partir do “critério do Espirito” ou se tivermos a mente de Cristo, sua mentalidade, sua maneira de pensar e hierarquizar os valores, então estaremos no bom caminho: conheceremos o mais profundo do humano e do divino.

O segredo da vida em plenitude e com sentido é contemplar e meditar as coisas e os acontecimentos a partir do olhar de Deus. O olhar do Espirito, simples e penetrante que podem também gozar as pessoas menos cultas é mais importante do que nossas filosofias eruditas. Um cristão simples, com fé e disponibilidade diante do Espirito, sabe mais do que todos os sábios da Grécia.

A Verdadeira Autoridade Faz o Outro Crescer

Estamos nos primeiros dias da pregação publica de Jesus segundo o evangelho de Lucas. Recusado pelo seu povo em Nazaré, Jesus vai a Cafarnaum cuja população era uma mistura de várias nacionalidades. Em Cafarnaum Ele fala com autoridade para as pessoas e desperta a admiração de todos, pois Ele prega e liberta.

Todos os evangelhos sinóticos (Mt, Mc, Lc) colocaram em destaque a autoridade extraordinária, o prestigio que emanava da pessoa e da palavra de Jesus (Mt 7,29; Mc 1,22; Lc 4,32). Naquela época tinha bastante “escolas”, grupos de escribas ou de letrados que faziam comentários sobre a Sagrada Escritura. Agora Jesus faz seus próprios comentários que totalmente são novos (sem nenhuma influência de alguma escola). Do fundo de si mesmo surgem pensamentos magistrais revestidos de autoridade que causa a admiração no povo. O evangelista Marcos registrou a admiração do povo diante do ensinamento de Jesus com as seguintes palavras: “Estavam espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade e não como escribas” (Mc 1,22). No seu ensinamento, Jesus não se apóia nas tradições de escolas rabínicas, pois Ele é enviado de Deus, o Filho de Deus em quem repousa o Espírito de Deus (Mc 1,9-11); Ele a própria Palavra de Deus (Jo 1,1-3.14). Jesus apela diretamente para a consciência de seus interlocutores.

A autoridade de Jesus não está a serviço de uma instituição, mas está a serviço do ser humano para que este reconheça sua própria dignidade, seu valor e sua vocação à vida comunitária de irmãos. A nova forma de Jesus ensinar “com autoridade” apela para valores e atitudes fundamentais do ser humano: apela à capacidade de convivência como irmãos do mesmo Pai do céu, apela ao reconhecimento respeitoso e tolerante do outro, apela ao desenvolvimento da autoestima como condições para uma autêntica libertação da situação de marginalização em que vive a grande maioria. Onde não houver um mútuo respeito, não haverá espaço para a mútua admiração. O Pai que está no céu nos faz irmãos aqui na terra. Ao aceitar o Espírito de Deus o homem se liberta de suas escravidões e se torna irmão do outro.

Por esta razão, Lucas nos relatou também um homem endemoninhado que se encontrou dentro do templo. Um endemoninhado é um homem possuído por uma ideologia que aliena completamente a liberdade e o faz falar como instrumento de outro. Este personagem representa uma parte do público (ele fala em plural: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir?”), que se alarma diante do messianismo que Jesus pretende expor. Esta parte do público tem medo de que o patriotismo nacionalista perca terreno. Se Jesus continuar falando assim (com autoridade), a libertação de Israel vai fracassar. Assim pensa esse grupo.

Jesus não se deixa instrumentalizar. Ele liberta com conjuração o homem possuído por aquela ideologia de morte e lhe devolve sua condição de um homem livre, que pensa por si próprio. Com a Palavra ungida com o Espírito criador de Deus Jesus humaniza o homem no meio de tantos oportunistas que se arrogam o poder de Deus em beneficio de seus interesses mesquinhos. “Todo aquele que, ocupando uma posição de autoridade, aproveita para divertir-se, para aumentar seu patrimônio, ou para conseguir lucros pessoais, não é um servidor dos demais, mas um escravo de si mesmo”, dizia Santo Agostinho (Serm. 46,2). Jesus não quer que o cérebro desse homem vire um arquivo para pensamentos alheios. Jesus quer que ele tenha coragem de criar os seus próprios pensamentos e não apenas memorizar os pensamentos alheios.

Por isso, o episódio do homem possuído por um espírito impuro, mais do que demonstrar autoridade de Jesus sobre as forças do mal, quer mostrar como Jesus integra ao seio da comunidade aquele que era excluído e recusado como muitos outros em nome de um poder que desumaniza ou em nome de uma instituição desumanizante.

Se você quer saber quanta autoridade tem, não se pergunte a quantos você submete, mas a quantos você ajudou a crescer. O medo que os outros têm de você não mede sua autoridade, mas seu poder autoritário. A autoridade põe respeito, o autoritarismo põe medo nas pessoas. Quando alguém acredita que a força de sua autoridade está em seu poder e não em seu amor, ele desautoriza a si mesmo como pessoa. Se ou quando alguém precisa apelar para a força e para o poder para ser autoritário é porque como pessoa já não tem mais autoridade. Os títulos e os cargos podem até confirmar a autoridade que cada um tem, mas não lhe dão a que não tem.    

Jesus fala como quem tem autoridade, assim o evangelista Marcos registrou. O que significa para nós falar com autoridade? Há palavras ou ações que nos aproximam de Jesus. Quais são estas palavras?

Sempre que pronunciarmos uma palavra viva, aquela que não é fingida, aquela que sabe detectar em cada momento aquilo do qual o outro está necessitando, aquela palavra que faz o outro melhorar e crescer, aquela que não semeia a discórdia, a palavra que humaniza, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra compassiva, aquela que consola nos momentos de dificuldade, a palavra que anima quem está desesperado, a palavra sincera de querer ajudar, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra solidária, aquela que coloca as coisas no seu devido lugar, aquela que sai do coração para aliviar a dor do outro, aquela que serena, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra de esperança que diz que nem tudo está perdido, que o melhor está para vir porque Deus está conosco (Mt 28,20) e que “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37), estaremos falando com autoridade.        

É bom cada um de nós fazer um exame de consciência para saber se fala com autoridade como Jesus ou não? É bom cada um se perguntar se está próximo de Jesus no modo de viver e de tratar os demais ou não? Hoje em dia precisamos muito mais das pessoas com autoridade e carisma do que das pessoas com o poder.

P. Vitus Gustama,svd

Nenhum comentário:

Solenidade De Cristo, Rei Do Universo, XXXIV Domingo Comum Ano "B", 24/11/2024

CRISTO, REI DO UNIVERSO XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM “B” I Leitura: Dn 7,13-14 13 “Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, e...