quarta-feira, 31 de maio de 2023

03/06/2023-Sábado Da VIII Semana Comum

VIVER E LIDERAR COM SABEDORIA

SÁBADO DA VIII SEMANA COMUM

Primeira Leitura: Eclo 51,17-27

17Quero dar-te graças e louvar-te, e bendirei o nome do Senhor. 18 Na minha juventude, antes de andar errante, procurei abertamente a sabedoria em minhas orações; 19 diante do santuário eu suplicava por ela, e até o fim vou procurá-la; ela floresceu, como a uva temporã. 20 Meu coração nela pôs sua alegria; meu pé andou por um caminho reto, e desde a juventude segui suas pegadas. 21 Inclinei um pouco o ouvido e a acolhi, 22 e encontrei para mim abundante instrução, e por meio dela fiz grandes progressos: 23 por isso glorifico a quem me dá a sabedoria. 24 Porque resolvi pô-la em prática, procurei o bem e não serei confundido. 25 Minha alma aprendeu com ela a ser valente e na prática da Lei procurei ser cuidadoso. 26 Levantei minhas mãos para o alto e me arrependi por tê-la ignorado. 27 Para ela orientei a minha alma e na minha purificação a encontrei. 

Evangelho: Mc 11,27-33

Naquele tempo, 27 Jesus e os discípulos foram de novo a Jerusalém. Enquanto Jesus estava andando no Templo, os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos aproximaram-se dele e perguntaram: 28 “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” 29Jesus respondeu: “Vou fazer-vos uma só pergunta. Se me responderdes, eu vos direi com que autoridade faço isso. 30 O batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me”. 31Eles discutiam entre si: “Se respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ 32Devemos então dizer que vinha dos homens?” Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de profeta. 33Então eles responderam a Jesus: “Não sabemos”. E Jesus disse: “Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas”.

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Viver Na Sabedoria De Deus Até o Fim Da Vida

O texto da Primeira Leitura é tirado do último capítulo do livro de Eclesiástico. O livro termina com um cântico de louvor à sabedoria. “Quero dar-te graças e louvar-te, e bendirei o nome do Senhor. Na minha juventude, antes de andar errante, procurei abertamente a sabedoria em minhas orações; diante do santuário eu suplicava por ela, e até o fim vou procurá-la; ela floresceu, como a uva temporã” (Eclo 51,17-19). 

Jesus Ben Sirac, o autor do livro, mostra uma legítima satisfação porque desde sua juventude tem seguido e gozado dos frutos da sabedoria. Desde jovem Jesus Ben Sirac somente considerou como riqueza possuir a sabedoria de Deus, ver as coisas e os acontecimentos a partir dos olhos de Deus: “Meu coração nela pôs sua alegria; meu pé andou por um caminho reto, e desde a juventude segui suas pegadas. lnclinei um pouco o ouvido e a acolhi, e encontrei para mim abundante instrução, e por meio dela fiz grandes progressos: por isso glorifico a quem me dá a sabedoria. ...  Minha alma aprendeu com ela a ser valente e na prática da Lei procurei ser cuidadoso.” (Eclo 51,20-23.25). Bem Sirac se dedicou à sabedoria desde a mais tenra idade (cf. Sb 8,19-21), cultivou-a nas escolas (prestar antenção) e na oração porque ele considerava a sabedoria como um dom de Deus. A sabedoria é uma qualidade natural do homem que se desenvolve por educação e experiência. Sábio não é quem pensou a vida e sim quem deixa que a vida lhe diga, o que ele mesmo aprendeu vivendo a vida, quem deixa que a vida lhe entregue seu sabor e lhe revele seu sentido. Sabedoria  é como uma forma específico de lidar com a realidade, uma “escola que ensina a ver” ou a observar com atenção, a tomar a sério as experiências cotidianas a fim de decifrar seu sentido. Por isso, viver com sabediria é inseparável das perguntas sobre o porqê das coisas ou dos acontecimentos. Mas a sabedoria é também um atributo próprio da divindade. Por isso, para o homem a verdadeira sabedoria nasceu da fé. 

A partir da Bíblia a sabedoria é a arte do viver bem conforme os mandamentos de Deus. O verdadeiro sábio distingue o verdadeiro do falso, o justo do injusto. O sábio bíblico coloca como fundamento todas as grandes virtudes: prudência, moderação, trabalho, não-violência, humildade, sinceridade, justiça, solidariedade, compaixão, amor. A sabedoria bíblica é uma reflexão sobre a existência humana, mas não uma reflexão abstrata e sim concreta, a partir da própria experiência. A sabedoria é o conhecimento dos caminhos de Deus, de seu objetivo; indica ao homem a direção em que ele deve caminhar, as normas às quais deve adaptar seu viver para ser frutífero ou fecundo na vida. 

A sabedoria é o melhor dom que podemos apetecer. É uma sabedoria que não é somente uma sensatez humana que é muito, e sim também uma luz que impregna nossa visão das coisas e dos acontecimentos, vendo-os a partir de Deus. Essa sabedoria penetra tanto em nossa vida a ponto de termos facilidade de descobrir o sentido das coisas e dos acontecimentos. A sabedoria é como uma luz que ilumina a realidade que faz cada coisa se apresenta como ela é aos nossos olhos. 

A sabedoria é refinar o gosto pela vida. Com a sabedoria a existência se torna mais saborosa, pois a sabedoria se alimenta pelos valores. Com a sabedoria o homem é capaz de dar respostas adequadas e magníficas para as questões de cada dia. Segundo Confúcio, o sábio chinês que viveu quinhentos anos antes de Cristo, o comportamento do sábio é como a água: é destituído de sabor, mas a todos agrada; carece de forma, mas se adapta com simplicidade e ordem às mais variadas figuras. 

Oxalá possamos também afirmar ao final de uma jornada ou de uma semana, de um mês ou de um ano ou da vida que temos deixado guiar pela verdadeira sabedoria de Deus. 

Temos escutado ou lido ou meditado a Palavra de Deus. A Palavra de Deus não somente doutrina (aquilo que contém ensinamentos para viver) e sim Palavra viva dita para nós hoje e aqui. Deus sempre tem alguma palavra para nossa vida e suas problemáticas quando a escutarmos atentamente. Trata-se de uma palavra e de uma sabedoria que tem força para iluminar e transformar todos os possíveis de nossa vida.

Como cristãos, seguimos a Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Portanto, temos mias motivos do que Jesus Ben Sirac para nos alegrar de ter a sabedoria de Deus muito perto. Jesus já nos deixou muitos ensinamentos para vivermos e convivermos como irmãos no amor fraterno. Viver com amor e por amor e no amor é viver com sabedoria de Deus. 

Alguma Mensagem Do Evangelho 

O texto do Evangelho de hoje se encontra na seção onde se fala de Jesus e do poder constituído (Mc 11,27-12,37). Em Mc 11,18 o evangelista Marcos nos informou que “Os chefes dos sacerdotes e os escribas procuravam como matariam Jesus”. Quanta cegueira espiritual pode haver nos corações daqueles que ocupam elevados cargos eclesiásticos, como esses chefes dos sacerdotes e os escribas! Na seção de hoje os vemos em ação: “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?”, perguntam eles a Jesus. Como a inveja e a incredulidade levam os homens a pôr em descrédito a comissão ou encargo ou missão recebida por aqueles que trabalham para Deus pelo bem da humanidade. Eles não podiam negar a realidade dos prodígios que nosso Senhor Jesus Cristo operava misericordiosamente para os necessitados. Atacaram as suas reivindicações pela atenção dos homens e requereram que Ele desse prova de sua autoridade para ensinar. Eles não podiam dizer que os ensinamentos do Senhor Jesus eram contrários às Sagradas Escrituras ou que a sua vida fosse pecaminosa. É pura inveja provém da cegueira espiritual. 

O que vem em seguida é a continuação do choque frontal entre eles e Jesus e será cumprido o que Jesus disse no primeiro anúncio da paixão: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas” (Mc 8,31). Agora eles estão intentando surpreender Jesus em algum erro para acabar com ele. Podem ser lidas cinco controvérsias  como o ponto de ataque contra Jesus em Mc 2,1-3,6.

Os que formam o poder constituído são em primeiro lugar, os sumos sacerdotes, os mais afetados (medo de perder seus bens através da arrecadação no Templo) pelo que Jesus fez no templo (cf. Mc 11,15-18) e os que podem, facilmente, acusar Jesus de ter atuado contra o lugar santo (Templo). Entre os sacerdotes predominam os saduceus, grupo político-religioso de tendência conservadora.  Em segundo lugar, os escribas ou doutores da lei, pessoas especializadas nos problemas jurídicos e religiosos e, portanto, únicos e verdadeiros interpretes e defensores da Lei. Para eles, o homem é feito para a lei, enquanto que para Jesus, a lei é feita para o homem (Mc 2,27). Sua oposição já começou no inicio do evangelho de Marcos (Cf. Mc 2,6.16; 3,22; 7,1). Em terceiro lugar, os anciãos, os membros laicos do Sinédrio, a suprema corte judia legislativa e judicial de Jerusalém, os representantes civis e religiosos do povo. Entre os escribas e os anciãos predominam os fariseus, verdadeiros representantes da piedade popular. Finalmente, o partido de Herodes, o braço civil do poder romano em Palestina. 

O evangelho lido neste dia nos relata que Jesus e seus discípulos se encontram em Jerusalém. Por isso, a cena do evangelho de hoje tem como local Jerusalém. O texto está carregado de tensão. É o confronto direito entre Jesus e os dirigentes do povo. A fama de Jesus pela sua preocupação em lutar pela igualdade, pela convivência na fraternidade universal, pela verdadeira vivência da religião, pelo bem de todos, provoca o desconforto para os dirigentes que querem manter seus privilégios e seu domínio. Os dirigentes queriam desmoralizar Jesus e suas atividades em favor do povo através das seguintes perguntas: “Com que autoridade tu fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?”. Essa pergunta só pode sair da boca de quem adora ao poder e a desigualdade. Ama menos quem se preocupa demasiadamente com a regra e o poder na convivência em vez de se preocupar com o bem que deve ser feito. Para fazer o bem em favor do povo necessitado não precisa de nenhum poder; basta ter amor no coração e sentir na pele o sofrimento dos outros para se compadecer e oferecer a ajuda naquilo que se pode para aliviar uma parte do sofrimento. Precisamente só aquele que é capaz de ser solidário com os necessitados é que tem mais autoridade. Esse tipo de pessoa quando fala desperta qualquer coração, pois fala a partir da vida vivida na solidariedade e na compaixão, como por exemplo, Madre Teresa de Calcutá.

Quem te deu autoridade para fazer isso?”. O que os dirigentes querem dizer é o poder. “Quem te deu esse poder?”. A autoridade não é dada para ninguém, pois ela vem de dentro da pessoa. A autoridade é a capacidade de fazer o outro crescer. A palavra “autoridade” provem do latim “augere” que significa “crescer”. Toda palavra, toda atividade, toda ajuda, todo conselho que faz o outro crescer é uma autoridade. A autoridade é respeitada e é amada. O poder é temido, mas não é amado. Para ser chefe você precisa de um cargo. Mas para ser líder você não precisa de cargo. Ninguém precisa mais de autoridade formal para liderar. Todos nós temos um poder natural de liderar que nada tem a ver com cargos, idade ou com o lugar em que moramos. Liderar tem muito mais a ver com a maneira brilhante como cada um de nós trabalha e a destreza de nosso comportamento. Cada um de nós tem o reservatório interno de potencial para liderança. E cada um de nós tem o poder de se mostrar líder no que faz. Somente precisamos nos conscientizar de tudo isso e assumi-lo. Um líder que ama é um líder que é respeitado. Um líder que adora o poder é temido, mas não é amado e por isso, não é respeitado. Etimologicamente a palavra “respeitar” (em latim) significa tomar em consideração. “Respeito” é sentimento que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência; consideração, reverência. 

Em vez de desqualificarem Jesus, os dirigentes são desqualificados a partir da pergunta de Jesus: “O batismo de João vinha do céu ou dos homens?”. Eles mesmos sabem do peso da pergunta: “Se respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ Devemos então dizer que vinha dos homens?”  O evangelista Marcos comenta: “Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de profeta”.  Diante da pergunta pesada, pois toca e desmascara profundamente sua maneira de viver, eles fingem não saber respondê-la: “Não sabemos”. Temos lido em jornais, revistas, entrevistas e temos ouvido nas rádios e televisão este tipo de resposta que saiu da boca daqueles que têm poder: “Eu não sabia!”, “Não sabíamos”, mesmo que as provas sejam contundentes e evidentes. Fingir não saber sobre aquilo que é óbvio e praticado é uma forma discreta de confessar aquilo que sabe. Ninguém se engana. Ninguém tem poder de eliminar a verdade do coração. “Deus faz o diário de nossa vida: a mão divina escreve o que fizemos e o que omitimos, história que um dia será apresentada a todo o universo. Procuremos, pois, fazê-la bela!” (Bossuet; cf. Mt 25,31-46). E “o homem que nunca se entregou a uma causa superior não atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 30 de maio de 2023

02/06/2023-Sextaf Da VIII Semana Comum

FÉ EM DEUS NOS FAZ CONVIVERMOS NO AMOR FRATERNO

Sexta-Feira Da VIII Semana Do Tempo Comum

Primeira Leitura: Eclo 44,1.9-13

1 Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. 9 Outros não deixaram lembrança alguma, desaparecendo como se não tivessem existido. Viveram como se não tivessem vivido, e seus filhos também, depois deles. 10 Mas estes, ao contrário, são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos. 11 Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança. 12 A descendência deles mantém-se fiel às alianças, 13 e, graças a eles, também os seus filhos. Sua descendência permanece para sempre, e sua glória jamais se apagará.

Evangelho: Mc 11,11-26

Tendo sido aclamado pela multidão, 11Jesus entrou, no Templo, em Jerusalém, e observou tudo. Mas, como já era tarde, saiu para Betânia com os doze. 12No dia seguinte, quando saíam de Betânia, Jesus teve fome. 13De longe, ele viu uma figueira coberta de folhas e foi até lá ver se encontrava algum fruto. Quando chegou perto, encontrou somente folhas, pois não era tempo de figos. 14Então Jesus disse à figueira: “Que ninguém mais coma de teus frutos”. E os discípulos escutaram o que ele disse. 15Chegaram a Jerusalém. Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os que vendiam e os que compravam no Templo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos vendedores de pombas. 16Ele não deixava ninguém carregar nada através do Templo. 17E ensinava o povo, dizendo: “Não está escrito: ‘Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos’? No entanto, vós fizestes dela uma toca de ladrões”. 18Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei ouviram isso e começaram a procurar uma maneira de o matar. Mas tinham medo de Jesus, porque a multidão estava maravilhada com o ensinamento dele. 19Ao entardecer, Jesus e os discípulos saíram da cidade. 20Na manhã seguinte, quando passavam, Jesus e os discípulos viram que a figueira tinha secado até a raiz. 21Pedro lembrou-se e disse a Jesus: “Olha, Mestre: a figueira que amaldiçoaste secou”. 22Jesus lhes disse: “Tende fé em Deus. 23Em verdade vos digo, se alguém disser a esta montanha: ‘Levanta-te e atira-te no mar’, e não duvidar no seu coração, mas acreditar que isso vai acontecer, assim acontecerá. 24Por isso vos digo, tudo o que pedirdes na oração, acreditai que já o recebestes, e assim será. 25Quando estiverdes rezando, perdoai tudo o que tiverdes contra alguém, 26para que vosso Pai que está nos céus também perdoe os vossos pecados”.

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Os Antepassados Se Perpetuam Nos Seus Descendentes

Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança” (Eclo 44,1.11). 

Eclesiástico dedica vários capítulos (44 a 50) a entoar o louvor dos antepassados ilustres do povo de Israel: uma galeria de personagens importantes na história do povo de Israel: patriarcas, libertadores, sacerdotes, reis, profetas, heróis da fé e assim por diante. É como um álbum de fotos familiar, em que se recordam com seu correspondente elogio, muitos homens que deixaram marcas boas ou pegadas na história do povo. O autor sublinha, sobretudo, os homens de bem, porque sua bondade e generosidade perduram em sua descendência, sua herança passa de filhos a netos. Essa perspectiva pode ser melhor compreendida se lembrarmos que no AT não era clara a ideia de vida após a morte: por isso aqui se fala de sobrevivência na memória e na vida dos descendentes. 

Este pensamento nos mostra que está claro que há no ser humano o amor à vida e, por isso mesmo, uma recusa espontânea e fortíssima à morte. Neste sentido todos nós queremos a imortalidade. No entanto, não está claro o que significa essa imortalidade. A ideia de uma vida simplesmente prolongada, anos e anos, não ressoa muito atrativa. Morrer não atrai, mas envelhecer tampouco é o mais emocionante para a maior parte da sociedade. E sonhamos com uma idade prolongada cheia de forças físicas e capacidades mentais, todavia não está claro que estaremos livres do tédio. Como diz um ditado: “Todo mundo quer uma vida longa, mas ninguém quer ficar velho”. Mas quem vive mais tempo se envelhece. 

Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança” (Eclo 44,1.11). Bin Sirac (Ben Sirac) recorda que houve pessoas honradas que deixaram influências em seus descendentes e que se tornaram credores do louvor de seus compatriotas e dos estrangeiros (povos: Eclo 44,15). No fim da vida de uma pessoa, no momento de encomendação do corpo, geralmente se fala muito das virtudes de que terminou sua vida neste mundo. Nada se fala de coisas ou de bens e sim somente da bondade da pessoa que se foi. 

O culto aos ancestrais ou aos antepassados é uma constante em todas as civilizações. Como a contemplação da "natureza" da qual dependemos, a aceitação dos nossos antepassados ​​é uma fonte profunda de humildade: somos HOJE quem somos porque os outros, antes de nós, viveram, lutaram, refletiram, rezaram ... Eu não sou mais do que um elo nessa cadeia. E como homem de fé, esta cadeia terminará em Deus, Criador de tudo e de todos como falava a Primeira Leitura do dia anterior. 

Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo, acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca, como elogios e reconhecimento. Não se arrependa de ter dado o melhor de si para a humanidade ao seu redor, pois o sentido da vida está na bondade vivida e praticada. A bondade é o único investimento que nunca falha, pois Deus é o Bem Supremo. 

O autor do Eclesiástico nos apresenta uma galeria de “Retratos de homens ilistres”: Henoc, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Aarão, Finéias, Josué, Caleb, Samuel, Natán, Davi, Salomão, Elías, Eliseu, Ezequias, Isaías, Josias, Jeremias, Ezequiel, Zorobabel, e assim por diante. 

Mas o autor do livro também não se esquece dos antepassados humildes: “Outros não deixaram lembrança alguma, desaparecendo como se não tivessem existido. Viveram como se não tivessem vivido, e seus filhos também, depois deles. Mas estes, ao contrário, são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos” (Eclo 44,9-10). 

Na minha própria família penso nos meus avôs, bisavôs mais distantes, em todos aqueles cujo sangue tenho. Algo de suas vidas, como virtudes deve passar a mim. Se hoje tenho fé, eu devo também a eles, aos anteriores de mim. Na genealogia de Jesus, havia também crentes e não crentes, santos e pecadores (Cf. Mt 1,1-17). Devo olhar para tudo que passou na geração anterior (antepassados) e penso na minha própria responsabilidade neste mundo onde eu me encontro. O que vou transmitir, humildemente, para as futuras gerações?

Quem Está Permanecer Em Deus Produz Bons Frutos Para a Convivência

O texto do evangelho deste dia nos conta que Jesus já se encontra em Jerusalém. Marcos nos relata hoje a ação simbólica de Jesus em torno da figueira estéril e a expulsão dos vendedores de animais do Templo. E no fim Jesus pede que colaboremos com Deus através da vivência da fé.

 

De longe Jesus viu uma figueira cheia de folhas. Mas quando se aproximou da figueira, não encontrou nenhum fruto (figo). Jesus se queixa da esterilidade da figueira. Jesus pronuncia, então, algumas palavras duras contra a figueira: “Que ninguém mais coma de teus frutos”.  E no dia seguinte a figueira fica seca.

Este gesto de Jesus aponta para outro tipo de esterilidade. Ele aponta para seus contemporâneos, especialmente para os dirigentes do povo, pois eles são iguais a uma árvore estéril que não dá frutos que Deus quer e espera. Eles se exibem como árvore cheia de folhas, mas sua vida não produz nada que possa dar vida (fruto) para os demais. Eles se procuram com o exterior (folhas) e abandonam seu interior (frutos).

Marcos também coloca outra cena: a expulsão dos vendedores de animais do Templo. Trata-se também de um gesto simbólico. Com esse gesto Jesus denuncia os dirigentes na hipocrisia do culto feito de coisas externas, mas sem obras coerentes na vida. O culto tem que ser traduzido na vivência de valores do Reino como a fraternidade, a igualdade, o amor, o mútuo respeito, solidariedade e assim por diante.  Jesus critica e denuncia o uso de culto para explorar os demais em nome do próprio interesse. Deus não é um comerciante, mas é o Pai de todos. Um irmão não pode explorar outro irmão, muito menos em nome da religião, usando, assim, o nome de Deus em vão. Segundo Jesus, o Templo é “casa de oração para todos os povos; é lugar de oração autêntica e não é um lugar para explorar os demais.  

Logo em seguida Jesus fala da fé. "Fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura." (Rabindranath Tagore). Fé é esperar de Deus aquilo que ele quer nos dar, pois Deus nos dá aquilo que nos salva mesmo que peçamos a Ele qualquer coisa erradamente. Mas ao pedir queremos manter nossa conversa com o Pai e através de oração queremos manter nossa ligação profunda com Deus. É preciso conversar com nosso Pai Celeste mesmo que não tenhamos nada para pedir a Ele, pois Deus é o nosso Pai, e não dá para imaginar que morando na mesma casa o filho não conversa com o pai. Qualquer pai ou mãe sempre dá ao filho aquilo que é digno para sua vida. Por isso, Deus é a medida de cada dom, e nossa salvação é o objetivo de cada dom. A fé é a atitude daquele que “não duvida no seu coração, mas acredita que isso vai acontecer” (Mc 11,23), pois Deus quer nos salvar. Quem tem fé, precisa orar e quem ora precisa acreditar. A fé nos faz disponíveis para que a graça de Deus possa operar na nossa vida a fim de que sejamos reflexos de Deus para os demais. 

Mas o evangelho de hoje não termina apenas com o convite de Jesus para nossa oração seja cheia de fé e sim termina com o convite à caridade fraterna, sobretudo, o perdoa das ofensas: “Quando estiverdes rezando, perdoai tudo o que tiverdes contra alguém, para que vosso Pai que está nos céus também perdoe os vossos pecados”.  Uma das petições no Pai Nosso que rezamos diariamente é o pedido do perdão ao Pai porque nós perdoamos aos outros que nos ofenderam.

A partir do texto do evangelho de hoje é preciso que nos perguntemos: 

1). Será que nossa vida igual à figueira no evangelho de hoje: cheia de folhas (exterioridade/formalidade/ritualismo), mas não produzimos algo de bom para a convivência? Será que por fora ou para fora aparentemente estamos bem (cheios de “folhas”), mas por dentro somente há podridão (esterilidade total)? Sem os bons fruto de bondade, de amor fraterno, de solidariedade etc. nossa vida vai se secando da salvação, ou seja, nossa vida vai ficando cada vez mais fora da salvação. Se não praticar o bem e a bondade, então para que este tipo de pessoa vive neste mundo? 

2). Muitos dirigentes exploram o templo para se enriquecer materialmente. Será que dentro de nossas comunidades existem pessoas que são oportunistas que só querem levar vantagem, especialmente, vantagem financeira? Por isso, vale a seguinte pergunta: O que nos motiva a procurarmos a Igreja? Esperamos algo da Igreja ou a Igreja espera algo de nós? O que contribuímos para a Igreja de Cristo a qual pertencemos? 

3). Será que na nossa oração diária, a pedido de Jesus Cristo, oferecemos o perdão aos que nos ofenderam e pedimos o perdão aos que ofendemos? “Quando estiverdes rezando, perdoai tudo o que tiverdes contra alguém, para que vosso Pai que está nos céus também perdoe os vossos pecados”.

P. Vitus Gustama,svd

01/06/2023-Quintaf Da VIII Semana Comum

SENHOR, QUE EU POSSA ENXERGAR SUA GRANDEZA E O SENTIDO DA MINHA PRESENÇA NESTE MUNDO

QUINTA-FEIRA DA VIII SEMANA COMUM

Primeira Leitura: Eclo 42,15-26

15 Vou recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua vontade realizou-se o seu julgamento. 16 O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17 Os santos do Senhor não são capazes de descrever todas as suas maravilhas. O Senhor todo-poderoso as confirmou, para que tudo continuasse firme para sua glória. 18 Ele sonda o abismo e o coração, e penetra em todas as suas astúcias. 19 Pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos; Ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas. 20 Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida. 21 Pôs em ordem as maravilhas da sua sabedoria, pois só Ele existe antes dos séculos e para sempre. 22 Nada lhe foi acrescentado, nada tirado, e Ele não precisa de conselheiro algum. 23 Como são desejáveis todas as suas obras brilhando como centelha que se pode contemplar! 24 Tudo isso vive e permanece sempre, e em todas as circunstâncias tudo lhe obedece. 25 Todas as coisas existem aos pares, uma em face da outra, e Ele nada fez de incompleto: 26 uma coisa completa a bondade da outra, quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória?

Evangelho: Mc 10,46-52

Naquele tempo, 46 Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. 48 Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49 Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51Então Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” 52Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.

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Sou Uma Criatura Amada De Deus

Vou recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua vontade realizou-se o seu julgamento. O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória”. Com estas palavras começa a Primeira Leitura de hoje tirada do Livro de Eclesiástico.

Jesus Bin Sirac, o autor do Eclesiástico, entoa um hino à criação, obra de Deus e reflexo de Sua sabedoria infinita. O universo criado é uma das portas para conhecer Deus. A existência das criaturas nos leva ao Criador das criaturas. Para nós este Criador se chama Deus. o poder de Deus se manifesta também através da existência das criaturas ou do universo inteiro. No texto da Primeira Leitura lemos este hino resumido. Este texto é como um eco aos primeiros capítulos do livro de Gênesis. Deus fez tudo e o fez muito bem: o sol e as estrelas e todas as coisas: “Ele nada fez de incompleto: uma coisa completa a bondade da outra, quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória?”. 

Além da beleza do universo em geral, há outro aspecto que desperta a admiração do sábio autor do livro: tudo o que se refere ao homem: “Ele sonda o abismo e o coração, e penetra em todas as suas astúcias. Pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos; Ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas. Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida”. Deus é o verdadeiro Sábio. A sabedoria humana é apenas um pequeno reflexo da sabedoria infinita de Deus.

De Jesus Bin Sirac aprendemos que jamais deveríamos perder a capacidade de admiração diante das obras de Deus em nosso cosmos: desde as grandes dimensões de sistemas no universo (nosso sistema é solar), as grandes dimensões de estrelas ou de planetas, até os caprichos entranháveis de uma planta, de uma flor, de um pássaro etc., desde a força dos elementos que não dominamos como um bravo vulcão e furacão e até o mecanismo admirável de nosso corpo humano. Tudo está muito perfeito, pois Ele fez todas as coisas com sabedoria e amor. O cântico das criaturas que nos ensinou são Francisco de Assis poderia nos ajudar a ordenar nosso sentimento diante de Deus e sua obra criadora: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas....”. 

Recordar e contemplar o universo com todas as coisas que nele existem pode nos dar serenidade e lucidez em nossa vida. Segundo o texto de hoje Deus sonda até as profundezas do meu coração. Isto significa que Deus está presente e está conosco, pois somos suas obras. Tudo isto deve nos converter em pessoas amantes da natureza e da ecologia e em pessoas com mais esperança e mais fé e mais alegria, pois nos sentimos conhecidos e guiados por Deus e envoltos em seu amor. “O prodígio do meu corpo, o segredo das minhas células, o relâmpago que há nos meus nervos, o palácio do meu coração...  E a animação da minha alma, a centelha do meu entendimento, o frêmito do meu sentimento, o pilar da minha fé. O milagre que está dentro de mim, bem como a Tua assinatura a ele aposta. Conheço a minha pequenez e a minha grandeza, a minha dignidade e a minha insignificância. Grande é o Teu nome, ó Senhor, por toda a terra(Carlos G. Valles: Busco Tua Face, Senhor: Salmos Para Contemplar, Ed. Loyola 1992 p.20). 

O Evangelho de hoje nos ajuda a assumirmos uma atitude de coração que nos ajudará a renovar o amor definhado. Precisamos de Cristo para amar a Cristo e todas as criaturas; precisamos de Cristo para servir a Cristo no irmão (Cf. Mt 25,40.45). Precisamos de Cristo para louvar a Cristo, pois “Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito. Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,3-4). E a Ele devemos dirigir nosso apelo, nosso grito com insistência como aconteceu com o Bartimeu cego: "Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!".

Com Jesus Tudo Se Enxerga Para Poder Segui-Lo Seguramente 

O texto do Evangelho de hoje fala de Bartimeu cego que foi curado por Jesus e logo em seguida, ele segue a Jesus, ou seja, virou o discípulo de Jesus. 

O cego da nossa história está sentado à beira do caminho, provavelmente a pedir esmola. O estar sentado significa acomodação, instalação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e está conformado com a sua triste situação, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela. O pedir esmola (o texto refere explicitamente a sua condição de mendigo – vers. 46), indica a situação de escravidão e de dependência em que o homem se encontra. 

Encontramos no cego Bartimeu um ótimo exemplo de resoluta perseverança diante das dificuldades. Lemos o relato que quando Bartimeu começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”, houve pouco encorajamento daqueles que estavam perto dele. Em vez de encorajar Bartimeu para ir ao encontro de Jesus, as pessoas ao redor dele o repreendiam para que ele ficasse calado. No entanto, Bartimeu não se calou. Se os outros desconheciam a miséria da cegueira, Bartimeu a conhecia perfeitamente. Se outros pensavam que não valia a pena fazer tamanho esforço a fim de obter alívio, Bartimeu, de qualquer maneira, sabia que valia. Em nada Bartimeu se incomodou com as reprovações dos insensíveis circunstantes. Bartimeu não ligou com o ridículo, pois ele quer alcançat seu objetivo: voltar a e enxergar. Clamando ou gritando desta forma, Bartimeu obteve o que seu coração desejava e recebeu de volta a visão. “Acaso Aquele que podia devolver a luz ignorava o que queria o cego? Com efeito, para isto, Ele exige que se peça; para isto exige que o coração se erga em oração” (São Beda. In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea Vol.2: Evangelho de São Marcos, Ecclesiae, Campinas, SP ,2019 p.198). Somente quem se reconhece pobre e cego, e pede com insistência a misericórdia de Deus, experimenta a libertação. 

Quando alguém encontra Jesus e resolve deixar a vida antiga para aderir ao Reino que Jesus veio propor, encontra sempre resistências (que vêm, por vezes, dos familiares, dos amigos, dos colegas). Estes que repreendem e mandam calar o cego representam, portanto, todos aqueles que colocam obstáculos a quem quer deixar a sua situação de miséria e de escravidão para aderir à proposta libertadora que Cristo faz. No entanto, a oposição não só não desarma o cego, como o leva a gritar ainda mais forte: “Filho de David, tem piedade de mim”. A incompreensão ou a oposição dos homens nunca fazem desistir aquele que sabe que Jesus está passando e que encontrou n’Ele uma proposta de vida e de liberdade. 

Jesus parou e mandou chamar o cego. A cena recorda-nos os relatos do chamamento dos discípulos (cf. Mc 1,16-20; 2,14; 3,13). Os mediadores que transmitem ao cego as palavras de Jesus dizem-lhe: “Coragem, levanta-te que Ele te chama” (vers. 49). Ou seja: deixa a tua situação de miséria, de escravidão e de dependência, porque Jesus te chama. O chamamento é sempre, nestes casos, tornar-se discípulo. 

Em resposta, o cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus (v. 50). A capa podia estar colocada debaixo do cego, como almofada, ou nos seus joelhos, para recolher as moedas que lhe atiravam; em qualquer caso, a capa é tudo o que um mendigo possui, a única coisa de que ele pode separar-se (outros deixaram o barco, as redes ou a banca onde recolhiam impostos). O abandonar capa significa, portanto, o deixar tudo o que se possui para ir ao encontro de Jesus. É um corte radical com o passado, com a vida velha, com a anterior situação, com tudo aquilo em que se apostou anteriormente, a fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus. Em outras palavras, soltar o manto, dar um salto e aproximar-se de Jesus expressam de maneira significativa a ruptura do homem com seu passado, um passado de poder, pois o manto significa o poder humano. Por outro lado, o cego é imagem do verdadeiro discípulo que se despoja do manto que até então o fazia cego para poder seguir Jesus, o Salvador do mundo.

Jesus perguntou ao cego: “Que queres que te faça?”. É a mesma pergunta que, pouco antes, Jesus fizera a João e Tiago (cf. Mc 10,36). A identidade da pergunta acentua, contudo, a diferença da resposta… Os dois irmãos queriam sentar-se ao lado de Jesus e ver concretizados os seus sonhos de grandeza e de poder. O cego Bartimeu, ao contrário, cansado de estar sentado numa vida de escravidão e de cegueira, de esterilidade, quer encontrar a luz para seguir Jesus (vers. 51).

“Mestre, que eu veja!”. Ver significa crer, isto é, ser salvos: este é o sentido de todos os milagres do Evangelho, que querem nos levar a ver, no Crucificado, aquilo que verá o centurião e a fazer a sua própria profissão de fé que salva (cf. Mc 15,39). Ver e acolher o dom de Deus no Filho do Homem crucificado é o grande dom ao qual a luz do Evangelho quer nos conduzir para sermos seguidores do Senhor da vida.

 

Jesus responde a Bartimeu: “Vai, a tua fé te salvou” (v. 52). A fé não é a simples adesão a determinadas verdades abstratas, que o crente aceita acriticamente; mas, no contexto neo-testamentário, a fé é a adesão a Jesus e à sua proposta de salvação. 

Por isso, Marcos termina a sua história dizendo que o cego recuperou a vista e seguiu Jesus – isto é, fez-se discípulo de Jesus. Ao aderir a Jesus e à sua proposta de salvação, ao aceitar seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida (Jesus prepara-se para entrar em Jerusalém, onde vai fazer dom da sua vida em favor dos homens), Bartimeu encontrou a salvação: deixou a vida da escuridão, da escravidão, da dependência em que estava e nasceu para essa vida verdadeira e eterna que, através de Jesus, Deus oferece aos homens. 

O cego Bartimeu que se encontrava a mendigar, sentado à beira do caminho, à saída de Jericó, representava, inicialmente, os pecadores que viviam longe de Deus e à margem da salvação. Depois de encontrar Jesus, Bartimeu transforma-se e torna-se o protótipo do verdadeiro discípulo… Destinatário privilegiado da proposta de salvação que Jesus traz, ele proclama sem hesitações a sua fé, invoca a ajuda e a misericórdia de Jesus, acolhe sem hesitações o chamamento que lhe é feito, liberta-se da vida velha e, com alegria, decisão e entusiasmo, aceita, sem condições, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. É com Bartimeu que os discípulos de Jesus são convidados a identificar-se. 

O milagre da cura do cego adquire um valor simbólico. É um homem que reconhece em Jesus o Messias e o Mestre. A Palavra de Jesus devolve ao cego a vista como símbolo da Fe. O evangelista Marcos nota que esse homem, depois que ficou curado, “seguia a Jesus pelo caminho”. Somente com fé esse homem pode ficar perto de Jesus e caminhar com Ele até Jerusalém, término do caminho. Isto quer dizer que somente com fé se pode participar do mistério de Jesus Cristo. Por outra parte, o caminho para Jerusalém é o cumprimento do grande retorno dos desterrados (cf. Jr 31,7-9).

Muitas das vezes viramos cegos e nos encontramos sem forças à beira da caminhada desta vida. Mas podemos ouvir e sentir, como Bartimeu, Jesus passar. Este é o princípio de nossa cura e libertação. Ao Senhor podemos pedir: “Mestre, que possa enxergar o sentido da vida e o sentido da minha presença neste mundo!”. Este grito da fé que brota de nosso coração encontra o impulso de amor do coração de Jesus, e Sua Palavra se converte em Palavra da salvação. Palavra de poder que faz brotar a luz. Porque, pela graça desta Palavra que nos levanta para poder seguir a Jesus pelo caminho da salvação apesar das cruzes no caminho. Todas as paginas do Evangelho nos fazem saber que este caminho dos cegos e dos coxos é o caminho que leva a Jerusalém: é a subida com o Filho de Deus; é a passagem pela cruz e a vida consagrada por ser entregue totalmente nas mãos do Pai. E para nós este caminho toma uma direção mis precisa: a vivencia dos valores diante das oposições mundanas, o amor poderoso diante do ódio e a mentira, honestidade e justiça diante da corrupção e injustiça social e assim por diante.

P. Vitus Gustama,SVD

sábado, 27 de maio de 2023

Visitação De Nossa Senhora, Festa. 31/05/2023

VISITAÇÃO DE MARIA A ISABEL

31 de Maio

Primeira Leitura: Sofonias 3,14-18

14 Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! 15 O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o rei de Israel é o Senhor, ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal. 16 Naquele dia, se dirá a Jerusalém: “Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! 17 O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido pelo amor; exultará por ti, entre louvores, 18 como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação”.

Evangelho: Lc 1, 39-56

39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!” 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

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Celebramos no dia 31 de Maio a festa da Visitação de Nossa Senhora. Através de Maria, Mãe do Senhor, que com sua Fiat obedece à Palavra de Deus, Deus visita o seu povo e o seu povo O reconhece. Esse reconhecimento é a finalidade de seu plano, de seu esforço (Lc 19,44; 13,34), cumprimento da salvação (Rm 11,25-36): o encontro entre Israel e Igreja, entre o povo de Deus e o seu Messias. 

Este mistério da visita é, na verdade, uma antecipação do acontecimento escatológico, no qual será usado a misericórdia para todos aqueles que estavam incluidos na desobediência (Rm 11,32). Na visita do Senhor para dar a alegria e a salvação  aos homens consiste o sentido da história pessoal e universal. 

As duas mulheres benditas (Isabel e Maria) estão grávidas do dom de Deus na sua velhice e esterilidade (Isabel) e do Salvador (Maria) na sua virigindade (sem mácula). Isabel está grávida de dois milênios de espera. Maria está grávida do Eterno esperado. O encontro das duas benditas é o abraço entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Um, profecia (AT); outro, cumprimento (NT). Em sua recíproca acolhida é reconhecido Aquele que é a Acolhida. Maria, visitando Isabel, reconhece a verdade daquilo que acontece nela; a Igreja, recorrendo ao AT, compreende Aquilo que concebeu. 

Maria, Filha de Sião

Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido pelo amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação” (Sofonias 3,17-18). 

Com o profeta Sofonias, cujo texto da Primeira Leitura tiramos do seu livro, nos encontramos no século VI a.C, nos tempos do Rei Josias. É um período marcado pelas contínuas infidelidades a Deus por parte de Israel, pois esta faz alianças com o poder estrangeiro com seus cultos pagãos (idolatria). O profeta Sofonias tem diante de seus olhos esta situação amarga. Consequentemente, o profeta proclama “O Dia terrível de Javé” sobre todas as nações, inclusive Judá. Porém, atrás desta proclamação está o convite à conversão para que “O Dia terrível de Javé” se transforme em “O Dia messiânico”. Com a conversão do povo, já não terá mais o dia de ira do Senhor e sim será o Dia da misericórdia, o Dia do novo amor entre Deus e seu povo. Não existirá mais medo. Tudo motivo de alegria: serão vencidos os inimigos, Deus voltará a ser o único rei de Israel que é o Deus salvador. 

A Filha de Sião da qual fala o profeta Sofonias é figura de Maria, pois através de seu sim incondicional nasceu para a humanidade o Salvador, Jesus Cristo. Ele é a encarnação do amor misericordioso do Pai do céu. Por isso, ele pede para que todos sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36).

Aprendemos que toda conversão sempre resulta na alegria e na salvação. Não há a verdadeira conversão que não traga a alegria a quem é beneficiada. Sejamos facilitadores da concretização da misericórdia divina a exemplo de Maria, Mãe do Senhor, para que a alegria volte a reinar no meio de nós. 

Maria Serve Com Dignidade Como Uma Irmã                       

Terminamos o mês de maio com a festa da Visitação da Virgem a Isabel. Sobre este episódio, narrado sobriamente no Evangelho de Lucas, foram feitas todas as espécies de considerações. As Bíblias costumam traduzir  a expressão grega "metà spoudés" por "à pressa", "prontamente". A palavra grega "spoudé" tem muitos outros significados: zelo, diligência, compromisso, cuidado, seriedade, dignidade. Ela não faz isso para satisfazer uma necessidade pessoal (sentir-se útil, parecer bem, ser elogiada), mas para responder a uma necessidade que, de certa forma, quebra seus planos. E ela o faz com dignidade (não como escrava, mas como irmã), com cuidado (não de forma alguma, mas com atenção aos detalhes), prontamente (não com relutância, mas com um espírito feliz e bem disposto). 

Maria tinha motivos poderosos para cuidar de si mesma, para manter a calma em Nazaré. Ela precisava de tempo para assimilar sua inesperada maternidade. Ninguém poderia exigir que, depois do susto, ela não pensasse em si mesma por um tempo. 

Ela, no entanto, deixou a aldeia de Nazaré e, sem pensar duas vezes (“prontamente”, diz Lucas), partiu para Ain Karim, a cidade de sua parente Isabel. Não havia se recuperado do espanto produzido pelo anúncio do anjo e já pensava na maneira concreta de ajudar. Os 160 quilómetros que separam Nazaré de Ain Karim testemunharam o passo decisivo de uma menina solidária.

Não entrou na casa de Isabel fingindo ser importante, reclamando da quantidade de coisas que teve que deixar em Nazaré para vir servi-la, fazendo cara de sofrimento, exigindo sutilmente reconhecimento. Ela entrou saudando; isto é, presenteando de mãos cheias graça e paz. Tanta alegria transbordou que até o pequeno João foi afetado por aquelas misteriosas ondas de entusiasmo. 

A festa da Visitação está cheia de encantos e de uma ternura inigualável. Duas mulheres, que se encontram, que se saúdam, estão cheias de Deus e por isso, cheias de alegria para fazer o ambiente mais humano, mais leve e mais fraterno e por isso, mais divino. 

Santo Ambrósio comentou a expressão “dirigindo-se apressadamente” com as seguintes palavras: “A graça do Espírito Santo não admite demora” (“Nescit tarda molimina Spiritus Sancti gratia”). É preciso fazer ou cumprir aquilo que é importante e essencial, pois, caso contrário, acaba morrendo tudo. Jamais podemos adiar o que é essencial para não nos lamentar mais tarde: uma visita para um doente ou um idoso, um perdão que precisa ser dado ou recebido, uma ajuda oferecida sem muita discusão, um trabalho importante que decidimos fazer, e assim por diante. Os adiantamentos, os atrasos podem nos desgastar e nos consomem interiormente. Precisamos trabalhar permanentemente sobre nossa capacidade de intuir o que deve ser feito agora e aqui na graça de Deus. 

Maria é uma mulher que se põe em caminho com dignidade, com cuidado, com prontidão. Não o faz para satisfazer uma necessidade pessoal: ela faz para servir sua parenta, Isabel, que está grávida e que necessita de uma ajuda. Ela faz tudo com dignidade como uma irmã. Maria é de Deus e por isso, ela é do povo e para o povo. Maria é mulher de nossa história, aberta a Deus e aos seres humanos. Viveu sempre em atitude de gratuidade e de doação. Será que fazemos tudo, a exemplo de Maria, com dignidade, com cuidado e com prontidão? 

Contemplando Maria dessa maneira, compreendemos até que ponto a graça de Deus pode florescer nos seres humanos, que tipo de humanidade surge quando Deus "agrada" uma pessoa disposta a aceitar seu dom?

Encontro De Duas Pessoas Benditas 

Na Anunciação o Anjo do Senhor “entrou” na casa de Maria e a “saudou”. Nessa visita Maria fez a mesma coisa: ela “entrou” na casa de Zacarias e saudou a Isabel. É a saudação da Mãe do Senhor para a mãe do Precursor do Senhor. A saudação de Maria comunica o Espírito a Isabel e ao menino no seu ventre. A presença do Espírito Santo em Isabel se traduz em um grito poderoso e profético: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,42-45). Aqui Isabel fala como profetisa: se sente pequena e indigna diante da visita daquela que leva em seu seio o Senhor do universo. Sobram as palavras e explicações quando alguém entra na sintonia com o Espírito. Maria leva no seu seio o Filho de Deus concebido pela obra do Espírito Santo. E a presença do Espírito Santo em Isabel faz com que Isabel glorifique a Deus. Por isso, o encontro entre Maria e sua prima Isabel é uma espécie de “pequeno Pentecostes”. Onde entra o Espírito Santo, ai entra também paz, alegria e vida divina. 

A Mãe de Deus que leva Jesus em seu seio é a causa de alegria. Quando estivermos cheios de Jesus Cristo em nosso coração, a nossa presença traz alegria e a paz para a convivência. A ausência de Cristo em nosso coração produz problemas e discórdias na convivência. O encontro de duas pessoas benditas sempre causa alegria: Maria causa alegria em Isabel e Jesus em pequeno João Batista. Ao contrário, o encontro de duas pessoas não benditas sempre causa angústia e mal-estar na convivência. Cada cristão deve fazer os encontros felizes e alegres com os outros. E isso só pode acontecer se houver lugar para Cristo em nosso coração. Precisamos engravidar Jesus Cristo para fazê-lo nascer para os outros. Por isso, vale a pena cada um se perguntar: Que tipo de encontro que fazemos diariamente: de pessoas benditas ou de pessoas não benditas? 

Na narração da visitação, Isabel, “cheio do Espírito Santo” acolhendo Maria em sua casa, exclama: ”Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Esta bem-aventurança, a primeira que se encontra no evangelho de Lucas, apresenta Maria como a mulher que com sua fé precede à Igreja na realização do espírito das bem-aventuranças. Maria, crendo na possibilidade do cumprimento do anúncio, interpela ao Mensageiro divino somente a modalidade de sua realização para corresponder melhor à vontade de Deus a que quer aderir-se e entregar-se com total disponibilidade. “Buscou o modo; não duvidou da onipotência de Deus”, comentou Santo Agostinho (Serm. 291). Maria se adere plenamente ao projeto de Deus sem subordinar seu consentimento à concessão de um sinal visível. É uma entrega total ao projeto de Deus. É uma confiança sem reservas à vontade de Deus: “Faça-se em mim segundo Vossa palavra!”. Maria tem muito a dizer sobre a vivência de nossa fé na nossa vida cotidiana. 

Maria "entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel", continua São Lucas. Seria uma saudação respeitosa, pelos anos de Isabel e pelo afeto, a velha tradicional saudação palestina: "A paz esteja com você, Isabel". Mas já, aqui, neste momento, o prodígio. Isabel sente algo. Algo que nem sangue nem carne lhe dizem, mas sim Aquele que está no céu e para quem nada é impossível. Pela primeira vez o Messias será reconhecido. Isabel sente que o filho que está no sexto mês e que, segundo a profecia do anjo a Zacarias, está cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe, pula em seu ventre, como uma criança pulando de alegria. E "ela mesma", diz São Lucas, "sentiu-se cheia do Espírito Santo". Isabel vê Maria, olha-se em seus olhos arregalados e prodigiosos, entra-se por eles no mistério que a Donzela traz escondido. E grita alto "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre! De onde é concedido que a Mãe do meu Senhor venha a mim? Eis que logo que a vossa voz ressoou nos meus ouvidos, saltou a criança no meu Bem-aventurados sois vós, que crestes que se cumpriria o que vos foi dito pelo Senhor!”. 

Os saltos de João Batista no ventre de sua mãe são o primeiro sinal de uma expectativa humana diante do Messias que já está vindo, que precisará que seus caminhos sejam pavimentados para que a Verdade caminhe com facilidade e encontre eco nos corações endurecidos dos homens. 

Anunciação-Visita A Isabel E Ação Pastoral 

Na anunciação Maria faz perguntas para ter certeza sobre sua missão de ser Mãe do Salvador (cf. Lc 1,26-37). Quando tudo se torna certo, Maria diz seu Sim a Deus radicalmente. Maria deixa a Palavra de Deus entrar em sua vida e ela é fecundada pelo Salvador. Jesus, o Salvador, que está no seio de Maria já empurra Maria para a ação pastoral, isto é, ir ao encontro de Isabel que está precisando da presença de Maria. Maria poderia pensar em si mesma, na sua gravidez. Mas ela pensa no outro e vai ao encontro do outro. 

Quem permitir e viver o mistério da Anunciação, será fecundado como Maria. Quem não é fecundado, não é feliz. Com a fecundação e a fecundidade na vivência do mistério da Anunciação, eu serei capaz de sair de mim mesmo para a ação pastoral como Maria visitou Isabel na sua necessidade. Se permitirmos a entrada da Palavra de Deus na nossa vida, ficaremos fecundados e seremos capazes de fazer Jesus nascer para o mundo. 

É preciso fazer uma ligação entre a Anunciação e a Ação Pastoral. Sem a Anunciação, isto é, sem ser fecundado pela Palavra de Deus, a ação pastoral se torna estéril. A Anunciação sem a Ação Pastoral se torna um isolamento estéril e mortal.

Palavras De Alguns Padres Da Igreja (Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea, Exposição Contínua Sobre Os Evangelhos vol.3, Evangelho de São Lucas, Ed. Ecclesiae, Campinas/SP,2020 pp.67-68): 

1.   Jesus que estava no seu ventre (ventre de Maria), tinha pressa para santificar João, encerrado ainda no ventre de sua mãe. Por isso segue: com pressa. (Orígenes). 

2.   A graça do Espírito Santo não conhece delongas. Aprendei, ó virgens, a não vos deterdes nas praças, a não misturardes com o povo em conversas. (Santo Ambrósio de Milão).

3.   Não havia, pois, ficado cheio do Espírito até ter estado diante daquela que levava o Cristo em seu ventre. Foi então que ficou cheio do Espírito e exultava dentro de sua mãe. Por isso segue: e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Não se deve, portanto, duvidar que aquela que então ficou cheia do Espírito Santo, ficou cheia por causa de seu filho (Orígenes).

4.   Maria é abençoada por Isabel com as mesmas palavras proferidas pelo anjo, a fim de mostrar que seria venerada pelos anjos e pelos homens (São Beda).

5.   “... bendito é o fruto de teu ventre!”. “Somente esse fruto é bendito, porque sem varão e sem pecado” (Expositor grego).

P. Vitus Gustama,svd

30/05/2023-Terçaf Da VIII Semana Comum

SEGUIR JESUS COM GENEROSIDADE PARA FORMAR UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS

Terça-Feira Da VIII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 35,1-15

1 Aquele que guarda a lei faz muitas oferendas; 2 aquele que cumpre os preceitos oferece um sacrifício salutar (3). 4 Aquele que mostra agradecimento, oferece flor de farinha, e o que pratica a beneficência oferece um sacrifício de louvor. 5 O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. 6 Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, 7 porque tudo isso se faz em virtude do preceito. 8 O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo. 9 A oblação do justo é aceitável, e sua memória não cairá no esquecimento. 10 Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. 11 Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo. 12 Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; 13 porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais. 14 Não tentes corrompê-lo com presentes: ele não os aceita; 15 nem confies em sacrifício injusto, porque o Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas.

Evangelho: Mc 10,28-31

Naquele tempo, 28começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna.31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”.

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Viver Na Justiça e Na Gratidão 

Durante algusn dias vamos acompanhar a Primeira Leitura tirada do Livro de Eclesiástico (nome dado pela Vulgata, Livro da Assembleia = Ekklesia) ou Livro de Sirac ou Sirácida. O nome “Eclesiástico” significa “em uso na Igreja”, nome que foi dado pela Igreja primitiva para todo o grupo de livros chamados Deuterocanônicos (Tobias, Judite, 1º dos Macabeus e 2º dos Macabeus, Sabedoria e Eclesiástico, Baruc fazem parte dos Deuterocanônicos).  Eclo não faz parte da Bíblia Hebraica (BH) nem do cânone protestante. A Igreja primitiva o usava e faz parte do cânone do Concílio Trento (1545-1563). 

 Pelo conteúdo, o Eclo se encontra entre os livros sapienciais, e foi escrito entre o ano 195 e 171 antes de Cristo.  Ele tem surpreendentes semelhanças, formais e de conteúdo ao livro dos Provérbios, embora tenha suas próprias diferenças. Este livro é um canto de louvor à sabedoria, originado no temor/respeito ao Senhor. Quando se fala do temor de Deus (do Senhor), trata-se do respeito da criatura para com Deus, da tomada da consciência das próprias limitações motivadoras como criatura dependente do Criador. A sabedoria de viver do homem nasce do temor de Deus. Por homem fazer parte da criatura, neste livro se fala também da teologia da criação. O autor entra até as entranhas da criação. 

“O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do preceito. Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais”, escreveu Ben Sirac que lemos na Primeira Leitura. 

Ben Sirac, o autor do Eclesiástico é também um entusiasta da liturgia e um fiel observante da lei. O texto de hoje (Primeira Leitura) unifica essas duas tendências do pensamento do Ben Sirac. 

A questão essencial é: O que é mais importante, os sacrifícios rituais do Templo ou uma vida segundo a vontade de Deus? A comparação entre a “liturgia” e a “caridade”, muitas vezes, é muito enfatizada tanto no AT como no NT. Aqui Ben Sirac trata de conseguir um equilíbrio entre as duas dimensões na vida do crente.

Os sacrifícios no Templo têm, sim, sentido. O sábio enumera diversos tipos de sacrifícios: os de comunhão, os de flor de farinha, os de louvor, os de expiação. 

Recomenda-se que se façam as oferendas que manda a Lei: “Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do preceito”, “O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo”. .

Estas ofertas não têm que ser mesquinhas e, além disso, valem o dobro se forem feitas de bom grado: “Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo”. Porque Deus é generoso. “Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais”. 

Porém, Ben Sirac afirma que o principal não são os sacrifícios rituais, externos, e sim a oferenda (sacrifício) interna, total do crente. Deus não pede os resultados agradáveis dos ritos externos e sim Ele pede que guardemos seus mandamentos: ação de graças, dar esmola, fazer favores aos demais, especialmente aos necessitados (praticar a justiça), afastar do mal e da injustiça. Se crermos que com umas oferendas podemos comprar Deus, estaremos equivocados: “Não tentes corrompê-lo com presentes”.

Aqui aparece a CARIDADE como pedra de toque para saber se os sacrifícios são somente aparência ou eles saem do mais profundo de nosso coração, isto é, a liturgia e a caridade fraterna são inseparáveis (cf. por ex. Mt 5,23-26).

Podemos pensar equivocadamente que com umas orações ou umas esmolas ou ofertas nos Templos (igrejas) já agradamos a Deus e achamos que sejamos bons cristãos com tudo isso. Mas tudo isso é insuficiente; deve ser acompanhado daquilo que o sábio afirma como a verdadeira religião: cumprir a vontade de Deus (seus mandamentos), fazer favores ao próximo, especialmente, aos necessitados, dar esmola aos pobres, afastar-se do mal, fazer o bem, ser justo. É bom que ofereçamos coisas. Mas, sobretudo, devemos nos oferecer a nós mesmos. Como fez Jesus, que não oferecia no Templo dinheiro ou cordeiros e sim que se entregou a si mesmo no altar da cruz. 

Ir e partipar da missa, sim! Rezar muito, sim! Mas, ao mesmo tempo, ter bom coração com o próximo. É viver em atitude de humilde louvor a Deus.  Os sacrifícios “rituais” inseparáveis do sacrifício “vital” de nossa pessoa. 

Recordemos os conselhos de Jesus no Sermão da Montanha quando nos dizia que tanto a oração, como a esmola como o jejum devemos realizar sem buscar os aplausos dos homens e sim com simplicidade e autenticidade interior: o Pai que vê no escondido, nos premiará. Este conselho ouviremos no Evangelho da Quarta-feira de Cinzas. 

Seguis a Jesus Com Generosidade 

Depois de ter falado de algumas condições necessárias para seguir a Jesus, Marcos evangelista continua a expor o ensinamento de Jesus sobre os requisitos do seguimento que tem como proposta necessária no seguimento a escolha da pobreza (Mc 10,21). Viver na pobreza (em espírito, no evangelho de Mateus) é a condição para receber o dom da vida que consiste na capacidade de transformar os relacionamentos interpessoais e sociais segundo o critério do serviço por amor, custe o que custar (perseguições etc.). A possessão dos bens materiais e o apego desenfreado a eles impedem efetivamente de levar a sério a Palavra de Deus. 

O texto do evangelho de hoje, como também o do dia anterior, se encontra na parte central do evangelho de Marcos (Mc 8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e termina com a mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os discípulos continuam com sua incompreensão diante da missão de Jesus. 

No início e no fim desta seção, Marcos coloca o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus e faz entender o sentido da vida e de nossa presença neste mundo. Desde o começo da atividade pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos discípulos. Mas Jesus fará tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos discípulos. A visão clara que se tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas, aos poucos, com a ajuda de Jesus, vamos vendo com mais clareza e com maior nitidez quem é Jesus e o que significa seguir a este Jesus neste mundo. A fé também faz ver o caminho que Jesus trilhou e que devemos trilhar. Assim a seção começa e termina com a cura de um cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas curas têm uma função simbólica: para mostrar a cegueira dos discípulos. Elas também lembram o leitor de que é Jesus quem faz possível a fé daqueles que acreditam nele e O seguem no caminho. 

No evangelho do dia anterior (Mc 10,17-27) o jovem rico recusou o convite de Jesus para que ele vendesse tudo que tinha para depois dar tudo aos pobres. Em vez de seguir a Jesus, Àquele que tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68b), o jovem rico foi embora triste porque tinha muitos bens e não quis partilhá-los nem com os necessitados (pobres). Depois que ele foi embora, Jesus pronunciou esta frase para os discípulos: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”. 

Os discípulos ficaram espantados diante da afirmação de Jesus. Para os discípulos seguir a Jesus significa enriquecer-se de bens materiais. Por isso ficaram assustados com as palavras de Jesus: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc 10,26). Ao que Jesus respondeu: Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Para Jesus o caminho da vida consiste em enriquecer-se diante de Deus. Só quem sabe perder a vida neste mundo por causa do evangelho vai recuperá-la na vida eterna. Salvar-se não está nas mãos do homem, mas é um dom gratuito de Deus e não pode merecer-se. Somente quando for acolhido o evangelho e viver-se na graça é que conduz a pessoa à vida eterna. Trata-se de uma vida sustentada pela força de Deus. 

Ao ouvir a afirmação de Jesus, Pedro também perguntou a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. E o evangelista Mateus explicita ou acrescenta a seguinte frase: “O que é que vamos receber?” (Mt 19,27). Pedro já abandonou tudo, desapegou-se de tudo para se aderir a Jesus e quer saber de Jesus qual será a recompensa do seguimento. 

O que é que tem no fundo ou por trás da frase de Pedro? Está seu conceito político e interesseiro do Messianismo. Os discípulos buscam postos de honra, recompensas humanas, soluções econômicas e políticas. Eles querem transformar Jesus em empresário para resolver sua carência econômica. 

Jesus, com sua paciência, continua educando os discípulos e lhes garante: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. A afirmação de Jesus vale para qualquer pessoa que se adere a Jesus e que se dedica à propagação do evangelho de Jesus. Jesus assegura que no Reino ou na nova sociedade, na nova família não haverá miséria, pois vivem na partilha, na solidariedade, na compaixão, na fraternidade. Nessa nova família não haverá domínio, nem desigualdade nem superioridade nem poder. Por isso, na segunda afirmação de Jesus a palavra “pai” não se menciona que é símbolo do poder ou de autoridade. Em Mateus podemos entender o sentido dessa afirmação quando Jesus disse: “Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o celeste” (Mt 23,8-9). Chamar Deus de Pai leva a pessoa a viver a fraternidade na convivência com os demais, pois todos são filhos e filhas de Deus (cf. 1Jo 3,1-2). 

Necessitamos dos bens materiais como meio na nossa vida, pois uma pessoa pode rezar ou meditar durante horas, mas no fim ela precisará dum pedaço de pão e dum copo de água. Mas reparamos que os bens materiais sempre são alheios a nós. Eles nunca serão nossos amigos. A vida feliz está na partilha, na solidariedade, na fraternidade, na compaixão, no amor mútuo, na caridade e assim por diante. A partilha é a alma do projeto de Jesus Cristo. Ele nos chama para segui-lo nessa direção. No evangelho de Marcos Jesus e seu Espírito vão ajudando os discípulos para que cheguem à maturidade de sua fé. Somente depois da ressurreição (Páscoa) eles vão se entregar também gratuito e generosamente ao serviço de Jesus Cristo e da comunidade até sua morte, pois eles captaram o sentido da mensagem de Jesus. 

A resposta de Jesus diante da pergunta de Pedro é esperançosa e misteriosa, ao mesmo tempo: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Não se trata de quantidades aritméticas (cem vezes). A resposta se refere à nova família que se cria em torno de Jesus: deixamos um irmão e encontramos cem irmãos (irmãs). O laço desta nova família está na prática da vontade de Deus que consiste na prática do bem e na vivência do amor fraterno: “Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3,35). 

Quantos irmãos e irmãs leigos, quantos pastores, quantos médicos e enfermeiros sem fronteiras e as demais pessoas de boa vontade que entregam sua melhor força e tempo para trabalhar pelo bem dos irmãos da comunidade e fora da comunidade e para ajudar os sofredores em todos os sentidos! Quantos sacerdotes, quantos religiosos e religiosas, quantas pessoas consagradas que não formaram a própria família, mas não por isso que deixaram de amar. Ao contrário, eles estão plenamente disponíveis para todos, movidos de um amor universal. Todos esses irmãos e irmãs são reflexos da generosidade de Jesus Cristo neste mundo. Jesus está presente nesses irmãos e irmãs, se quisermos perguntar onde está Jesus Cristo (cf. Mt 25,31-46). Jesus promete já desde agora uma grande satisfação e promete a vida eterna: “receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Mas o verdadeiro amor supõe sacrifício, cruz e perseguição, porém, vale a pena! A Páscoa salvadora passa pelo caminho da Cruz da Sexta-Feira Santa. A vida do cristão não termina na Sexta-Feira Santa. Ela termina na ressurreição. A força da ressurreição dá força e anima o cristão para encarar a cruz da Sexta-Feira Santa. Jesus nos mostrou isso.

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

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