quinta-feira, 28 de setembro de 2023

03/10/2023-Terçaf Da XXVI Semana Comum

CAMINHAR COM JESUS PARA A GLÓRIA

Terça-Feira da XXVI Semana Comum

Primeira Leitura: Zc 8,20-23

20 Isto diz o Senhor dos exércitos: Virão ainda povos e habitantes de cidades grandes, 21 dizendo os habitantes de uma para os de outra cidade: ‘Vamos orar na presença do Senhor, vamos visitar o Senhor dos exércitos; eu irei também’. 22 Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor. 23 Isto diz o Senhor dos exércitos: Naqueles dias, dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá, dizendo: ‘Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco’. 

Evangelho: Lc 9, 51-56

51 Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, a fim de preparar hospedagem para Jesus. 53 Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” 55 Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56E partiram para outro povoado.

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O Deus Salvador Da Humanidade Nos Chama A Salvar a Humanidade

Virão ainda povos e habitantes de cidades grandes... Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor... dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá” é a profecia do profeta Zacarias que lemos na Primeira Leitura. 

Esta profecia nos afirma o caráter universal da salvação no plano de Deus. “Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor”. Imersos entre os pagãos, durante o seu longo exílio, os judeus mais fervorosos tomaram consciência de que a sua Fé se destinava a todos os homens. E expressaram esta convicção anunciando que todas as pessoas um dia iriam em peregrinação a Jerusalém. Ou seja, todos reconhecerão que a Palavra Salvadora, a Verdade plena está em Jerusalém. “Dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá”. Ou seja, pediriam insistentemente que o homem de Judá lhes diga se vai a Jerusalém e que lhe admita no grupo dos que rendem culto ao seu Deus. 

Nós escutamos estas palavras e damos conta de que não se trata de Jerusalém em seu sentido geográfico. Os planos de Deus são “católicos”, universais. E estes planos se realizam plenamente em Jesus, pois Ele é o Salvador do mundo (cf. Lc 2,11) e quer eunir todos numa fraternidade universal, pois o Deus que ele revelou é o Pai de todos. Esta é a nova Jerusalém. E nós que acreditamos em Jesus Cristo somos católicos, no sentido de que somos irmãos da humanidade e temos missão para que a humanidade seja salva em Jesus Cristo. 

A nova Jerusalém é a Igreja de Jesus. Jesus é o Deus-Conosco, o Emanuel (Mt 1,23; 18,20; 28,20). Se todos iam a Jerusalém a fim de consultar a Palavra de Deus, agora Jesus é a Palavra vivente de Deus que faz sua tenda no meio de nós (Cf. Jo 1,1-3.14). 

Quando temos uma convicção firme de que o Deus em Quem acreditamos é o Deus-Conosco, será que nós, que formamos a Igreja de Jesus, somos um sinal lúcido da presença de Deus para atrair os outros a ouvir a Palavra proclamada e vivida por nós? Nós que atuamos na Igreja atraem os que se encontram fora da Igreja para unir as forças para o bem comum? Será que lutamos pelo bem comum, para salvar “as almas” ou lutamos para nossas próprias vantagens egositas? O que atrai mais as pessoas para Deus é o nosso amor fraterno. 

Se Jesus Cristo é o Salvador universal, da humanidade toda, logo todos os cristãos devem ser missionários do bem para toda a humanidade. Cada cristão/cristã deve ser irmão/irmã da humanidade, parceiro/parceira do bem. A busca de Deus da parte da humanidade nunca termina. Diante desta busca o cristão que está com o Deus-Conosco deve ser uma resposta. 

Com o texto do evangelho de hoje Jesus começa seu caminho (êxodo) para Jerusalém. Durante o caminho para Jerusalém Jesus vai dando suas lições importantes para seus discípulos (Lc 9,51-19,28). 

Quem Quer Chegar à Glória De Deus Deve Superar Todos Os Sentimentos Destrutivos 

O texto do evangelho começa com a seguinte frase: “Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém...”. Em Jerusalém Jesus será morto e de Jerusalém sairá o novo movimento de evangelização para o mundo inteiro (cf. Lc 24,47-48; At 1,8) que chegou até nós hoje. 

Todos os exegetas concordam em salientar a importância deste texto no conjunto da obra de Lucas. O v. 51 marca o início de um caminho que termina na insondável companhia do Pai. O caminho tem, claro, um traçado físico, mas é acima de tudo um arquétipo, um modelo. Lucas vai expor características de uma caminhada cristã através das Lições do Caminho que Jesus vai ensinando durante a caminhada da Galileia até Jerusalém (Lc 9,51-19,28).

Todos os três evangelhos (Mt, Mc e Lucas) falam desta viagem. Mas somente Lucas usa esta viagem de Jesus com o motivo catequético básico, de que a vida de Jesus foi também um longo caminhar para uma meta: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. O “caminhar” de Jesus é um êxodo permanente até chegar à glória. Ele luta até chegar à meta: até à glória. 

Durante esse caminho Jesus vai instruindo a comunidade de discípulos de acordo com o próprio caminhar de Jesus (Lições do Caminho: Lc 9,51-19,28). Os discípulos de todos os tempos encontram, então aqui, a regra perene de sua atuação cristã. Neste texto encontramos maneira sobre como os cristãos devem se comportar e viver como seguidores de Cristo. Trata-se de uma “caminhada” interior, isto é, a caminhada que parte do que somos até o esvaziamento completo de nós e até a vivência na plenitude da vontade de Deus que é a salvação ou glorificação de nossa vida em Deus. 

O fundo do relato do texto do Evangelho lido neste dia é a inimizade e o ódio entre samaritanos e judeus que originalmente é de tipo racial, e depois de tipo político e religioso. O povo samaritano é um povo que mistura com os estrangeiros com seus deuses, especialmente depois da invsão da Assíria (em torno de 722 a.C). é considerado como um povo meio pagão. E o caminho habitual da Galiléia para Jerusalém passa por Samaria. Um grupo galileu de discípulos vai adiante para preparar a hospedagem para Jesus em Samaria. Mas os samaritanos não aceitam a presença de Jesus em Samaria, pois ele está a caminho para Jerusalém. Os samaritanos interpretam o caminho para o Templo de Jerusalém como infra-valorização do templo Garizim construído sobre um monte onde os samaritanos fazem suas atividades religiosas e não em Jerusalém (em 129 a. C João Hircano o destruiu). 

Por essa recusa os discípulos João e Tiago disseram a Jesus: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?”. João e Tiago tem apelido de “filhos de trovão” no evangelho de Marcos, ou seja, são violentos. Esta frase nos lembra do episódio entre o profeta Elias, defensor do monoteísmo, contra os mensageiros do rei Ocozias que consultava outros deuses sobre como curar suas feridas. Por isso o profeta Elias pediu o fogo do céu e o fogo caiu sobre esses mensageiros e morreram todos (cf. 2Rs 1,1-18). A atitude de Tiago e de João põe em evidência de que os Apóstolos não entenderam plenamente Jesus. Eles, por sua intolerância, não encontraram outro caminho para tratar aos outros, especialmente aos samaritanos sem o caminho da violência. Jesus repreende energicamente os dois apóstolos.

Diante da proposta dos discípulos Jesus enfatiza que qualquer discípulo, qualquer cristão não pode se mover por sentimentos de vingança, de violência, de ódio, de desafronta, de intolerância ou de intransigência. Quem é tolerante não vê a diferença e a alteridade como ameaça, e sim como estímulo para se aproximar e aprender do outro numa atitude de diálogo. A raiva permite a expressão, e não a compreensão, pois os ouvidos de quem está com raiva ficam fechados. 

A atitude de Tiago e João continua presente em muitas religiões ou crenças do mundo. Por todos os meios os seres humanos, ao longo da história, buscaram a forma de acabar com os que pensam, atuam ou vivem de forma diferente. Alguns usam o nome de Deus para matar os outros de outras crenças. Como cristãos temos que respeitar os demais e fazer possível a paz entre as religiões e crenças. Para isso, primeiramente, deve haver diálogo e mútuo respeito entre as religiões. Mas antes disso, deve haver um intra-diálogo em cada religião, em vez de radicalismo. 

O radicalismo de nossas atitudes, muitas vezes, é uma expressão de nossa pouca bondade. Com esta pouca bondade tomamos atitudes que violentam a história de Deus com os homens. A violência sempre gera um processo desumanizador que perverte radicalmente as relações entre os homens, introduz na história novas injustiças e impede o caminho para a reconciliação. 

O fogo que Cristo traz do céu não é aquele que queima e elimina as pessoas, e sim aquele que ilumina e purifica o mundo de suas impurezas. É o fogo do Espírito Santo. É o fogo de amor. O único fogo que nós cristão podemos usar é o fogo de amar aos demais até o fim como fez Jesus. Jesus nos libertou para sermos livres, como diz São Paulo (Gl 5,1). Liberdade em Cristo é para amar mais e melhor. Amar a Deus e ao irmão é condição para ser livre. A liberdade daquele que ama a Deus e ao irmão é a identificação total com a vontade de Deus, com o bem e com a verdade.

Por isso, o caminho que Jesus propõe para quem quiser segui-lo não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica. Implica uma adoção do espírito de Jesus que é o espírito de amor. Seguir Jesus não é uma viagem fácil; pode se converter em uma viagem sem retorno. 

Para Refletir

No dia 30 celebramos a memória de São Jerônimo. Reflitamos sobre alguns frases deste santo:

·      Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder e a sabedoria de Deus. Portanto ignorar as Escrituras Sagradas é ignorar a Cristo. 

·      Quando rezamos, falamos com Deus,
quando lemos a Bíblia é Deus que nos fala.

·      Jesus é ciumento: ele não quer nossas afeições colocadas em outras coisas, mas nele só.

·      Nós honramos os santos para adorar aquele de quem somos testemunhas; honramos os servos porque a honra deles recai sobre o Senhor.

·      Quanto mais forem importunas e perseverantes nossas orações, tanto mais serão agradáveis a Deus.

·      Trabalha em algo, para que o diabo te encontre sempre ocupado.

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Anjos Da Guarda, 02 de Outubro

SANTOS ANJOS DA GUARDA

02 de Outubro

SER IRMÃO E FAZER-SE PEQUENO

Primeira Leitura: Êx 23,20-23

Assim diz o Senhor: 20“Vou enviar um anjo que vá à tua frente, que te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que te preparei. 21Respeita-o e ouve a sua voz. Não lhe sejas rebelde, porque não suportará as vossas transgressões, e nele está o meu nome. 22Se ouvires a sua voz e fizeres tudo o que eu disser, serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários. 23O meu anjo irá à tua frente e te conduzirá à terra dos amorreus, dos hititas, dos ferezeus, dos cananeus, dos heveus e dos jebuseus, e eu os exterminarei”.

 

Evangelho: Mt 18,1-5.10

Naquela hora, 1os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” 2Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles 3e disse: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos céus. 4Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus. 5E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe. 10Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus”.

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O que o Novo Catecismo Da Igreja Católica fala dos anjos?

·   “A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição” (Catecismo Da Igreja Católica, 328).

·   “A Igreja venera os anjos, que a ajudam na sua peregrinação terrestre e protegem todo o género humano” (Idem n.352).

·   “Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. Cada fiel tem a seu lado um anjo como protector e pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus” (Idem n.336).

·   “Na sua liturgia, a Igreja associa-se aos anjos para adorar a Deus três vezes santo; invoca a sua assistência e festeja de modo mais particular a memória de certos anjos [São Miguel, São Gabriel, São Rafael e os Anjos da Guarda] (Idem n.335).

Quem são os anjos? Santo Agostinho respondeu: “Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espirito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espirito por aquilo que é, enquanto é anjo por aquilo que faz”.  Anjo em hebraico “Mallak”, em grego “Angelos”, significa mensageiro. É nome que significa ministério e ofício. Mas a perfeição de sua natureza vai de acordo com esse sublime ofício que eles exercem de maneira mais permanente que os demais seres da criação. São os “mensageiros” de Deus, por excelência. São seres criados, intelectuais, superiores aos homens, dotados de especial virtude e poder pelo Senhor.

O NT enumera os arcanjos (1Ts 4,16; Judas 9), os querubins (Hb 9,5), os tronos, as dominações, os principados, as potestades (Col 1,16), em outro lugar há outro nome: virtude (Ef 1,21). 

“Há que saber que o nome de “anjo” designa a função, não o ser. Com efeito, aqueles santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre podem ser chamados anjos, já que somente o são quando exercem seu ofício de mensageiros. Os que transmitem mensagens de menor importância se chamam anjos, os que anunciam coisas de maior transcendência se chamam arcanjos. Por isso, à Virgem Maria não lhe foi enviado um anjo qualquer e sim o arcanjo Gabriel, já que uma mensagem de tal transcendência reueria que fosse transmitida por um anjo da máxima categoria” (São Gregorio Magno, Homilía 34 sobre os evangelios, 8-9 PL 76, 1250-1251). 

O que faz os anjos (encargo)? Eles são servidores e mensageiros de Deus. São aqueles que nos indicam o caminho do bem, o caminho de Deus. São aqueles que nos alertam quando estivermos para praticar a maldade. A missão dos anjos é amar, servir e dar gloria a Deus, ser seus mensageiros, cuidar e ajudar os homens. Eles estão constantemente na presença de Deus atentos a suas ordens. Pode-se dizer que são mediadores, custódios, protetores e ministros da justiça divina. Eles nos comunicam mensagens do Senhor importantes em determinadas circunstancias da vida. Em momentos de dificuldade, podemos pedir luz para tomar uma decisão, para solucionar um problema, atuar acertadamente, descobrir a verdade. Por exemplo, temos as aparições à Virgem Maria (Lc 1,26-38), a São José (Mt 1,18-25; 2,13-23), a Zacarias (Lc 1,11-22). Todos eles receberam mensagem dos anjos. Também os anjos apresentam nossas orações ao Senhor: “Quando tu oravas..., eu apresentava as tuas orações ao Senhor” (Tb 12,12-16). Além disso, os anjos nos animam a sermos bons: “Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa” (Lc 15,10).

No dia 02 de Outubro a Igreja celebra a festa dos Santos Anjos da Guarda. A missão dos anjos da guarda é acompanhar cada pessoa no caminho pela vida, cuidá-la na terra dos perigos, protege-la do mal e guia-la no difícil caminho para o Céu. Pode-se dizer que é um companheiro de viagem que sempre está ao lado de cada pessoa, no bons e nos maus momentos. Não se separa dela em nenhum momento. Está com ela enquanto trabalha, descansa, se diverte, reza, quando pede ajuda e quando nãos e pede ajuda. Não se afasta dela nem sequer quando perde a graça de Deus pelo pecado. Os anjos da guarda prestarão auxilio para cada pessoa enfrentar com ânimo as dificuldades da vida diária e as tentações que se apresentam na vida.

Para que a relação da pessoa com o anjo da guarda seja eficaz, cada pessoa necessita falar com ele, chama-lo, trata-lo como o amigo que é. Assim ele poderá converter-se num fiel e poderoso aliado nosso. Recordemos que os anjos os anjos não podem conhecer nossos pensamentos e desejos íntimos se nós não os expressamos, já que somente Deus conhece exatamente o que há dentro de nosso coração. Os anjos somente podem conhecer o que queremos, intuindo-o por nossas obras, palavras, gestos e assim por diante. 

Por que se fala, especificamente de uns anjos que nos acompanham pessoalmente, que nos protegem na caminhada cotidiana? 

Poderíamos responder, em primeiro lugar, que trata-se de símbolos para falar do amor providente de Deus que cuida de sua criatura para que esta chegue à sua plena realização quando houver colaboração da própria criatura ou das circunstâncias nas quais se encontra. Era normal expressar, através de recursos literários provenientes de um contexto, as realidades misteriosas de Deus usando uma linguagem figurativa.

Em segundo lugar, os anjos são um reflexo misterioso do rosto de Deus e de sua bondade em nossa realidade. De fato, quando alguém nos trata bem, nos ajuda sem reservas etc. logo lhe dizemos: “Você é um anjo!”. Isto significa que a bondade de Deus se reflete naqueles que fazem o bem, chamados de mensageiros de Deus ou anjos de Deus no nosso dia a dia. 

Em terceiro lugar, Os anjos da guarda nos revelam a presença transcendente de Deus em cada pessoa, especialmente nos mais pobres. O maior no Reino de Deus é a criança e quem se faz pequeno como criança, porque representa em forma paradigmática o despojamento de todo poder. O despojamento da soberba e da prepotência do poder é a condição para entrar no Reino de Deus. Alguém entra nele, quando descobre o poder de Deus: o poder de seu amor, o poder de sua Palavra e o poder de seu Espírito. Reino de Deus é Poder de amor de Deus. Esta presença de Deus nos mais pobres, que são os maiores no Reino, é o que dá aos pobres essa transcendência. 

Cada pessoa, cada família, cada comunidade, cada povo, tem seu próprio anjo da guarda. O Livro de Êxodo (Cf. Ex 23, 20-23) nos mostra o Povo de Deus conduzido diretamente pelo anjo de Deus. O povo deve comportar-se bem na sua presença, escutar sua voz e não ficar rebelde. No anjo está o Nome de Deus. O Nome é o que Deus é. O anjo é essa presença de Deus no Povo de Deus. 

Também cada um de nós deve descobrir nosso próprio anjo da guarda, sentir sua presença e escutar sua voz. Devemos viver conforme a esta presença transcendente em nós e refleti-la continuamente em nosso rosto. Para isso, é preciso ler, meditar e colocar em prática a Palavra de Deus. Estar em sintonia com a Palavra de Deus nos faz sensíveis para a presença de Deus na nossa vida cotidiana e nos torna conscientes de nossa tarefa como mensageiros de Deus na convivência com os demais.

Deus como Pai Providente, sempre vela por nós e se faz próximo de nós por meio de Jesus, seu Filho feito Homem. Ele sempre manifestou e continua manifestando seu amor para com os pobres e os enfermos, para com os pequenos e os pecadores. Ele nunca permaneceu indiferente diante do sofrimento humano. Seu amor preferencial para aqueles que são considerados como as crianças desprotegidas de tudo e necessitados de tudo, nos recorda qual deve ser também o caminho preferencial no amor da Igreja. Deus nos enviou aos necessitados e aos desprotegidos para que lhes manifestemos de um modo rela e efetivo, o amor misericordioso do Senhor que nos concedeu e que quer que chegue a todos esse amor misericordioso por meio de sua Igreja, isto é, por meio de todos os batizados. Quem vive unidos a Cristo se preocupa em cuidar dos irmaos necessitados como Deus vela por nós. Não podemos, portanto, buscar segurança, sem dar segurança; não podemos esperar receber sem dar, pois há mais alegria em dar do que em receber. Socorramos aqueles que necessitam de nossa proteção, de nossa ajuda, de nosso amparo. 

Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa me ilumina. Amém

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O texto do evangelho lido neste dia é escolhido em função da festa dos santos anjos da guarda. É tirado de Mt 18.

O capítulo 18 do evangelho de Mateus é o quarto dos cinco grandes discursos de Jesus neste evangelho. E este quarto discurso é conhecido como “discurso eclesiológico” (discurso sobre a Igreja) ou “discurso comunitário” onde se acentua a vida na fraternidade, isto é, cada membro da comunidade é considerado como irmão. Este capítulo (Mt 18,1-35) foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade? O que fazer se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?

Na comunidade de Mt (como também em qualquer comunidade cristã) cresce a ambição e se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se acham mais importantes do resto. Há pouca consideração para com os pequenos, até são desconsiderados ou desprezados. Estes pequenos correm risco de se tornarem incrédulos e de afastar-se da atividade comunitária. Na comunidade de Mt suscitam também pecadores notórios, inclusive as ofensas e os ressentimentos que abalam a convivência fraterna.  

Nesse capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Para isso, Mt coloca em ordem o material transmitido pela tradição para regular as relações internas da comunidade. Contra os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos, os fracos na fé, é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência. Para enfatizar mais este tema, Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho reto, em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade, pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão pecador, a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas, deve haver perdão, pois uma comunidade só pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).

Ser Irmão e Fazer-se Pequeno

“Quem é o maior no Reino dos céus?”. “Quem é o maior diante de Deus?”. “Quem vale mais diante de Deus?”. Assim inicia o quarto discurso de Jesus sobre a vida comunitária baseada na fraternidade. A pergunta é feita pelos discípulos para Jesus. Maior aqui significa proeminente, superior aos outros por força de uma qualidade ou de um poder.

Atrás desta pergunta se esconde a ambição ou a mania de grandeza dos discípulos. É a ambição de grandeza que pode ser encontrada em qualquer comunidade cristã. É admirável a ambição de alguém que deseja redimir sua humilde condição, valorizando todas as suas capacidades de inteligência e de luta, pois um dos sentidos lexicais da palavra ambição é anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão. A ambição só se transformará em vício quando a afirmação de si mesmo for exagerada e os meios adotados para atingir a glória forem desonestos. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, e sim do bem. Ao contrário, o ambicioso se sente totalmente envolto pela espiral da glória que o transforma em vítima da própria tirania. O ambicioso, quando dominado pelo vício, não suporta competidores, nem admite rivais. Quem desejar ser a todo o custo o primeiro, dificilmente se preocupar com ser justo. “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo Agostinho. Serm. 46,18).

Como resposta para a pergunta dos seus discípulos Jesus faz um gesto muito simbólico: Ele chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Ao ser colocada no meio de todos, a criança chamada se torna um centro de atenção de todos. Imaginamos que todos os olhares são dirigidos a essa criança e os ouvidos prontos para ouvir a palavra sábia do Mestre Jesus. “Em verdade vos digo, se não vos con­ver­terdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse Jesus aos discípulos (Mt 18,3-5). Ser criança: frescor, beleza, inocência, não se basta a si mesma! 

Esta é a primeira regra da vida comunitária: cuidar dos pequenos e tratá-los como irmãos. E fazer-se pequeno. Fazer-se pequeno, como exigência para viver a vida comunitária, significa renunciar a toda ambição pessoal e a todo desejo de colocar-se acima dos demais para estar em destaque e para oprimir os demais. Fazer-se pequeno é uma forma de “renegar-se a si mesmo” para colocar a vontade de Deus acima de tudo. A grandeza do Reino consiste no serviço humilde e gratuito ao próximo, na solidariedade para com os necessitados, na partilha do que se tem para com os carentes do básico para viver dignamente como ser humano e no esforço para construir uma convivência mais fraterna. Trata-se de viver a espiritualidade familiar onde cada membro se preocupa com o outro membro e sua salvação. Vivendo desta maneira estaremos testemunhando para o mundo que estamos no Reino de Deus já neste mundo.

P. Vitus Gustama,svd

domingo, 24 de setembro de 2023

XXVI Domingo Comum "A", 01/10/2023

ENTRE O DIZER E O FAZER NA VIDA DO CRISTÃO

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

I Leitura: Ez 18,25-28

Assim diz o Senhor: 25 “Vós andais dizendo: ‘A conduta do Senhor não é correta’. Ouvi, vós da casa de Israel: É a minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta? 26 Quando um justo se desvia da justiça, pratica o mal e morre, é por causa do mal praticado que ele morre. 27 Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida. 28 Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá, não morrerá”.

II Leitura: Fl 2,1-11

Irmãos: 1 Se existe consolação na vida em Cristo, se existe alento no mútuo amor, se existe comunhão no Espírito, se existe ternura e compaixão, 2 tornai então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade. 3 Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, 4 e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. 5 Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. 6 Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7 mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8 humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz. 9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. 10 Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11 e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor!”

Evangelho: Mt 21,28-32

Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes e anciãos do povo: 28 “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ 29 O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi. 30 O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”

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Depois de instruir a seus discípulos sobre seu destino e sobre as exigências do seguimento (Mt 16,21-20,34), Jesus entra em Jerusalém, centro do poder político, econômico, religioso, judiciário e ideológico do povo de Deus, representado pelo Sinédrio, o Supremo Tribunal dos judeus, responsável pela morte de Jesus. Jesus se confronta com essas lideranças e, uma após outra, vai desmascarando-as, mostrando o descompromisso delas com o Reino. De acusado (Mt 21,23) Jesus passa ao ataque através de parábolas contadas para essas lideranças (Mt 21,28-22,14). A comoção inicial da cidade (Mt 21,10; veja Mt 2,3) vai se convertendo, ao longo dos próximos capítulos deste evangelho (leia Mt 21,1-23,39), numa recusa frontal de Jesus e seus discípulos.          

Nestes capítulos (Mt 21,1-23,39) percebe-se a tensão que aconteceu nos últimos dias da vida de Jesus: Jesus manifesta-se como Messias através de três gestos simbólicos (Mt 21,1-22); os fariseus questionam sua autoridade (21,23-27); Jesus lhes responde por meio de três parábolas (21,28-22,14); os adversários buscam um motivo para acusá-lo através da apresentação de três questões discutidas: sobre imposto, ressurreição e maior mandamento (22,15-40); e Jesus propõe-lhes a questão decisiva: sobre Messias, filho de Davi (22,41-46); e diante da incapacidade dos adversários de reconhecê-lo como Messias, Jesus pronuncia o veredicto de Deus sobre os líderes de Israel e sobre Jerusalém (23,1-39). Mas o que aparece nestes capítulos com mais claridade é o enfrentamento posterior entre a comunidade de Mt e o judaísmo quando a ruptura entre ambos já havia tido lugar; aparece também que a Igreja cristã é a herdeira das promessas feitas a Israel (Mt 21,43).           

A parábola dos dois filhos que lemos no texto do evangelho deste domingo tem uma função similar à parábola do filho pródigo de Lc (Lc 15,11-32) embora cada evangelista a desenvolva diversamente. A mesma parábola também é o eco do Sermão da Montanha que enfatiza o fazer do que o dizer (Mt 7,21-23; cf. Mt 12,50;23,3-4).        

Mt começa a parábola com a pergunta: “Que vós parece?” (v.28a). Esta pergunta é típica de Mt (cf. Mt 17,25;18,12;22,17;26,66). A pergunta não é mais dirigida aos discípulos, mas aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, os mesmos interlocutores da unidade anterior (cf. Mt 21,23-27). A pergunta obriga os ouvintes a comprometer-se e a tomar posição. A resposta à pergunta torna-se um julgamento para os ouvintes. E no fim da parábola, mais uma vez, os mesmos interlocutores são obrigados a escolher “qual dos dois fez a vontade do pai?” (v.31). A resposta dada a estas perguntas pelos ouvintes será sua salvação ou seu juízo.

“Fazer a vontade do Pai” é o centro do Evangelho de Mateus. Ou seja, reconhecer-se filho do Pai e consequentemente deve viver como irmão dos outros filhos do Pai. Tudo isto será relizado, se cada um se converter. A conversão consiste em sentir desconforto do próprio mal praticado. Aquele que se acredita justo é, na verdade, o verdadeiro pecador (cf. Lc 18,9-14).  A parábola coloca tudo isto em evidência. 

Nossa Fala Não Pode Ultrapassar Nossa Ação          

A parábola coloca os dois filhos em contraste. Contrasta a maneira como se dirigem ao pai: o primeiro filho (filho mais velho) de forma mal educada e grosseira e rebelde para os padrões comportamentais daquele tempo: “Não quero ir”, disse ele. O segundo filho, de forma delicada e polida, não sabe dizer “não”, mas desmente tudo na prática: “Eu irei, senhor”. Mas não foi. Contrasta a atitude que tomaram: um foi e o outro não foi. E, de modo especial, contrasta a contradição entre a palavra e a ação dos dois. O primeiro filho peca por falta de educação. Ele não admite conversa ou diálogo. Mas ele vai trabalhar. O segundo, apesar de sua boa educação, apesar de seu “sim” verbal, não vai trabalhar. O pai se agrada com o “não” arrependido do filho mais velho, e não com o “sim” gentil mas mentiroso do filho mais jovem.         

Os ouvintes de Jesus não tiveram dificuldade de dar uma resposta exata à pergunta de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”. Sem hesitar os ouvintes responderam: o primeiro filho, isto é, aquele que falou que não iria, mas de fato foi e fez o que o pai pedia. Mas ao dar sua resposta os próprios ouvintes foram colocados contra a parede e se auto condenaram.          

A mensagem, portanto, é muito clara. Entre palavra e ação, a primazia é dada á ação. Entre intenção e ação, a primazia é dada à ação. O homem se salva não pelas palavras, intenções, palavras estéreis e descompromissadas, e sim por fatos concretos e precisos.         

O critério do agir é tão fundamental que a primeira denúncia que se fez dos escribas e fariseus é que o agir deles era fictício: eles agiam apenas de modo aparente, faziam de conta que agiram, mas na realidade não agiram. Desse modo eles pecaram contra os seus próprios princípios.          

Quando nós não somos fiéis à nossa palavra deixa de respeitarmos a nós mesmos e consequentemente aos outros e a verdade não está em nó, não somos fiéis a nós mesmos, e também aos outros. Deste jeito estamos mentindo para nós mesmos e para os outros. A mentira é a defesa fácil dos fracos, que não são capazes de assumir a responsabilidade de seus atos. Triste é que o mentiroso não somente se condena a si próprio a vergonhosas contradições, mas também priva os demais do direito que têm à verdade, semeando desconfiança entre as pessoas.         

O fazer ou o agir é tão importante que Jesus Cristo pede aos discípulos o seguimento. Seguir a Jesus é agir com ele e como ele, acompanhá-lo no seu agir. Jesus chama os discípulos convidando-os a segui-Lo (Mt 4,19-22; 8,22; 9,9; 16,24; 19,21.27).         

Então, o que importa não é aquele que se comporta bem que se salva, mas sim quem cumpre a vontade de Deus. O que conta diante de Deus não são as aparências, nem as boas intenções ou palavras bonitas ou discursos maravilhoso, mas a PRÁTICA. Deus olha para o que de fato fazemos, não importa o que pensamos ou dizemos. Em Deus o homem vale pelo que faz e não pelo que fala. Neste sentido, o que importa não é a conversão externa, mas sim a atitude interior. E aquele que honra a Deus, não é aquele que observa uns ritos exteriores, mas sim aquele que põe em prática a vontade de Deus. Por isso, devemos ficar sempre atentos para que a nossa prática religiosa ou nossos ritos exteriores, não seja mais importante que nosso Deus e nosso próximo.         

Por isso, o maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.          

Numa ocasião o Papa Paulo VI disse: “O grande pecado da moderna cristandade é o vazio entre a fé e as obras. É o pecado de ser ilógico, inconsciente e infiel”. O maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.          

O Evangelho de Mateus enfatiza muito a questão do AGIR. O critério definitivo para Jesus é o agir. A regra decisiva do discernimento é a distinção entre o falar e o agir. Por isso, os verdadeiros discípulos são os que agem, que praticam a vontade de Deus. Ao contrário, os falsos discípulos são aqueles que falam palavras bonitas, mas não fazem nada. Por isso, Jesus diz, no sermão do monte: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade do meu Pai” (Mt 7,21). Da mesma maneira, o verdadeiro profeta se reconhece pelos frutos (Mt 7,16-20). 

É Preciso Ter Uma Posição Certa 

Pela sua atitude os dois filhos merecem uma repreensão. Um em atitude de revolta, ofende o pai com resposta grosseira: “Não vou!”. No entanto, ele tem uma vantagem sobre o outro filho que é hipócrita. Ele erra, mas não mente. Quando este filho descobriu a verdade maior, isto é, os motivos do pai, ele é capaz de mudar. Ele foi trabalhar.  Quem se opõe, de verdade, pelo menos, tem uma opção ou deve ter uma opçãp, pois ninguém se opõe por opor-se. Se não tiver uma opção, ao menos, terá que ter uma posição clara. Ninguém se opõe para manter o comodismo ou algumas vantagens pessoais. Quem tem uma posição clara é capaz de defender o seu ponto de vista. Mas quem procura a verdade, é capaz de largar o ponto de vista a partir de um momento em que a verdade está em destaque. Porque cada ponto de vista é apenas visto de um ponto. É preciso ter um pouco de uma visão multidimensional de uma realidade para errar menos. 

A hipocrisia e a mentira são piores que a insurreição. O homem moderno, dentro e fora da Igreja, tem uma grande sensibilidade para tudo que é autêntico em teoria e emprática, e uma irrelutável aversão contra tudo o que é falsidade, hipocrisia e afetação de virtude. 

A pergunta de Jesus “O que vos parece?” é dirigida a cada um de nós. Você se parece com qual dos dois filhos? O que Jesus não aceita é a atitude hipócrita e santarrão dos que se crêem melhores do que os demais sem necessidade de mudança alguma. Prefere o longo caminho, cheio de liberdade e de fracassos, de buscas de novos horizontes a causa de seu inconformismo com a vida que os rodeia à comodidade dos que dizem “sim” a tudo, mas não se comprometem com nada.          

A parábola dos dois filhos é um convite para fazermos o sério exame de consciência sobre o nosso agir diário. As nossas palavras nunca podem ultrapassar o nosso agir para não sermos chamados de cristãos falsos ou hipócritas. Os cristãos falsos podem possibilitar o surgimento do ateísmo nas pessoas inocentes. Se não nos convertermos continuamente, o mundo vai repetir as palavras de Mahatma Gandhi: “Eu aceito o vosso Cristo, mas não aceito o vosso cristianismo”.                                              

P. Vitus Gustama,SVD

30/09/2023-Sábado Da XXV Semana Comum

VIVER FAZENDO O BEM E SACRIFICANDO-SE

Sábado da XXV Semana Comum

Primeira Leitura: Zc 2,5-9.14-15a

5 Levantei os olhos e eis que vi um homem com um cordel de medir na mão. 6 Perguntei-lhe: “Aonde vais?” Respondeu-me: “Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e o seu comprimento”. 7 Eis que apareceu o anjo que falava em mim, enquanto lhe vinha ao encontro outro anjo, 8 que lhe disse: “Corre a falar com esse moço, dizendo: A população de Jerusalém precisa ficar sem muralha, em vista da multidão de homens e animais que vivem no seu interior. 9 Eu serei para ela, diz o Senhor, muralha de fogo a seu redor, e mostrarei minha glória no meio dela. 14 Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor. 15ª Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no meio de ti”. 

Evangelho: Lc 9, 43-45

Naquele tempo, 43bTodos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.

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O Culto e a Vida Éica Devem Ser Inseparaveis

Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e o seu comprimento... A população de Jerusalém precisa ficar sem muralha, em vista da multidão de homens e animais que vivem no seu interior”, profetiza Zacarias que lemos na Primeira Leitura. 

O profeta Zacarias é contemporâneo do profeta Ageu e dos acontecimentos da volta do desterro e da restauração do Templo de de Jerusalém. Seu ministério teve início dois meses depois do de Ageu, e durou mais dois anos. Precisamente o ministério do profeta Zacarias foi de outubro de 520 a.C a novembro de 518 a.C. Seu nome (Zacarias) em hebraico significa “o Senhor recorda”. Zacarias segue os passos dos profetas do Sul, especialmente de Ezequiel, que concentram a renovação pós-exilica do povo em torno do Templo de Jerusalém. 

A mensagem do profeta Zacarias (Zc 1-8) gira em torno de duas grandes preocupações: o Templo/culto e a era escatológica. O profeta Zacarias tem uma capacidade de enxergar bem o presente e percebe que o momento histórico exige não somente a restauração física-material (Templo), mas também a conversão cuja ênfase são os aspectos éticos do povo (Zc 7,9-10; 8,16-17). O culto, por si só não é suficiente se não for acompanhado com uma vida ética (Zc 7,4-7).

No texto de hoje Zacarias nos apresenta um gesto simbólico: uma pessoa que quer tomar as medidas de Jerusalém com uma corda. Mas um anjo lhe diz que não precisa fazer isso porque Jerusalém vai ser uma cidade aberta, cheia de riqueza e que Deus (Javé) será sua única muralha e defesa: “Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor”. É a volta aos tempos das boas relações entre Deus e seu povo. São Francisco de Assis dizia: Onde o temor de Deus está guardando a casa, o inimigo não encontra porta para entrar”. Mas          uma família que não tem lugar para Deus, prepara o terreno ou espaço para a agressão, violência, a briga, a desunião, discórdia e assim por diante.

Através do texto de hoje o profeta Zacarias nos convida a termos a fé firme em Deus. A melhor riqueza da Igreja é o próprio Deus. Mas ao mesmo tempo quer nos recordar que a Igreja, a nova comunidade da Aliança não pode ser medida com “cordas” e fechada em particularismo e sim que há de ser aberta, universal. Há que ter o espírito de acolhimento para os que são membros da Igreja para acolher os novos.  A hospitalidade faz parte da espiritualidade cristã.

O documento do Vaticano II sobre a relação da Igreja com o mundo, Gaudium et Spes, nos convida a abrirmos as janelas e as portas, a não usarmos essas cordas das quais fala o profeta Zacarias, porque a Igreja/Comunidade é espaço de esperança para todos. A Igreja, em seus membros, deve viver sua maternidade acolhendo os que estão entrando e protegendo os que estão dentro.

Depois da vinda de Cristo entendemos melhor o que significa a palavra do profeta Zacarias: “Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no meio de ti”. O prólogo de São João afirma claramente: “O verbo Se faz Carne e habitou entre nós” (Jo 1,14; Cf. Mt 28,20).

Sacrificar-se Para o Bem De Todos Como Jesus Que Passou a Vida Fazendo o Bem

Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”.

Nós nos encontramos no quadro de instruções finais de Jesus na Galiléia. Jesus mostra claramente aqui o sentido da própria missão e a daqueles que querem segui-Lo. Segundo o plano do seu evangelho, o evangelista Lucas termina assim as atividades de Jesus na Galiléia (Lc 4,14-9,50). Daqui em diante Jesus vai começar seu caminho ou seu êxodo para Jerusalém (Lc 9,51-19,28).onde ele será crucificado, morto e glorificado

O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. O título “Filho do Homem” se encontra seu sentido em Dn 7,13-14 e “vai ser entregue” em Is 53,2-12. O sofrimento de Jesus é causado pelos homens do templo e do poder.

Para o evangelista Lucas, este é o segundo anúncio da Paixão de Jesus e o situa no momento em que “Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Esta admiração surge no momento em que Jesus curou um menino da epilepsia (Lc 9,37-43) e fez outros sinais. E Lucas registrou que esse menino era filho único. Esse filho único se refere a Jesus, Filho único do Pai (cf. Mt 21,33-46). Através desse menino Jesus está falando de Si próprio. A cura do menino antecede o segundo anúncio da Paixão do Filho único do Pai. 

Neste anúncio Jesus quer revelar que sua vida é um sacrifício para o bem de todos. Jesus pensa somente na salvação sem fugir das conseqüências trágicas. Ele se sacrifica como uma vela que se consome aos poucos iluminando seu redor.

Lucas nos relatou que os discípulos não entenderam o sentido desse anúncio. Em outras ocasiões os evangelistas descrevem os motivos dessa incompreensão: os seguidores de Jesus tinham em sua cabeça um messianismo político, com vantagens materiais para eles mesmos, e discutiam sobre quem ia ocupar os postos de honra e quem ficaria do lado direito ou do lado esquerdo de Jesus. A cruz não entrava em seus planos. Eles queriam seguir a Jesus pelas próprias vantagens e não pela vida dedicada em prol da salvação de todos. 

Os discípulos não entendem que este é o maior ato de amor e o maior sentido da vida. O resultado dessa incompreensão será contado no seguinte episódio em que haverá a disputa sobre a primazia no grupo (Lc 9,46-48).

Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Jesus desperta realmente admiração por seus gestos milagreiros e pela profundidade de suas palavras. Deste tipo de Jesus gostamos também e não somente os primeiros discípulos de Jesus. Mas não entendemos, como os primeiros discípulos, o Jesus Servidor, o Jesus que lava os pés dos discípulos, o Jesus que se entregou à morte para salvar a humanidade, o Jesus que se aproxima do pecador para dialogar, o Jesus que faz refeição com os pobres e pecadores. Queremos apenas o consolo e o prêmio e não o sacrifício e a renúncia. Preferiríamos que Jesus não nos dissesse: “Quem quer me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz de cada dia e me siga”. 

Mas ser seguidor de Jesus pede radicalidade e não podemos crer num Jesus que O fazemos a nossa medida. Ser colaborador de Jesus na salvação do mundo exige seguir Seu mesmo caminho que passa através da cruz e da entrega. É sofrer com Jesus para salvar o mundo.

Vale a pena cada um fazer um exame sério de consciência sobre o texto do evangelho de hoje a partir da vocação e da função que cada um tem na Igreja ou em uma comunidade. Como sacerdote ou religioso/ religiosa, qual meu motivo para ser sacerdote ou para ser religioso/religiosa? Será que eu procuro a vocação religiosa e sacerdotal em função da segurança institucional e não como paixão pela vida de Cristo dedicada pela salvação de todos? Será que o pensamento de querer ser sacerdote ou religioso (a) carreirista tem como motor da minha ambição? Como leigo ou leiga, qual meu motivo verdadeiro para trabalhar na minha comunidade? Há alguma vantagem pessoal escondida atrás dessa atividade, ou por que eu quero ser outro Cristo na minha comunidade? Mas será que eu levo a sério o motivo de ser outro Cristo com todas as suas conseqüências na minha comunidade?

É preciso que não tenhamos medo de nos gastar pelas causas e pelos grandes ideais de Jesus, pois por este caminho é que haverá a vida glorificada, a vida ressuscitada. Como cristãos, não podemos viver e conviver inutilmente nem podemos, conseqüentemente, morrer inutilmente. A vida dedicada pelo bem de todos jamais morre. É estar com Cristo. E estar com Cristo significa não parar de existir. Este é o ideal do ser do cristão. 

Creio que uma vida só pode chegar à sua plenitude, se a enchermos de uma série de certezas ou convicções profundas. No fundo tudo se reduz a uma questão de amor: amar e ser amado. Do contrário, somente há sempre o mesmo resultado: destruição, sofrimento, opressão, injustiça, deslealdade, traição, exploração e assim por diante. Uma vida significativa é feita de uma série de pequenos atos diários de decência e de bondade, que quando somados no final, resultam, paradoxalmente, em algo grandioso. Pela prática de atos justos, aprendemos a ser justos; pela prática de atos de autocontrole, aprendemos a ter autocontrole; e pela prática de atos de coragem, chegaremos a ser corajosos. A nossa vida relativamente curta, neste mundo, é apenas faísca na tela da eternidade. Jesus viveu mais ou menos apenas 33-40 anos de vida. No entanto ele conseguiu influenciar o mundo inteiro. A vida passa, pois há um tempo para cada coisa. Você já imaginou que quanta coisa boa que você poderia fazer agora mesmo em favor da humanidade? Isto é seu tempo de milagres. E você pode, independentemente de sua idade, etnia, profissão e religião. Estamos aqui neste mundo para fazer o bem para todos. O bem feito ou praticado deve ser de uma direção só: fazer o bem pelo bem sem esperar a recompensa humana; amar por amor sem olhar para quem será beneficiado da caridade praticada. A bondade como expressão do amor é o único investimento que nunca falha, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). quanto mais amamos mais divinos nos tornamos.

Não se arrependa por você ter dado o melhor de si, mesmo que você sofra algum desentendimento ou alguma ofensa por ter feito uma coisa boa na sua vida. Agindo assim, sua vida se transformará. Se você não se impuser à vida, ela se imporá a você. Lembre-se de que os dias transformam-se em semanas, as semanas em meses e os meses em anos. Quando menos se espera, tudo chega ao fim, e você se vê sem nada além de um coração ressentido por uma vida vivida pela metade. Comece a ser a pessoa que você realmente é, fazendo o possível para enriquecer o mundo à sua volta. A bondade é simplesmente o aluguel que devemos pagar pelo espaço que ocupamos neste planeta.

P. Vitus Gustama,svd

 

Para Refletir

 

“Há ideais que nos ajudam a viver e a crescer,

Porque nos aproximam do melhor de nós mesmos,

E há ideais que nos paralisam

Porque nos fazem correr atrás de miragens inalcançáveis.

 

Um verdadeiro ideal nunca é plenamente alcançado,

Mas ajuda a caminhar toda a vida.

 

Viver sem um ideal é como viver sem sentido

E caminhar sem objetivos.

 

Muito homens correm toda a vida para ter coisas,

Porque não sabem o que querem ser.

E você, sabe?”

(Autor: René Juan Trossero)

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...