quinta-feira, 16 de maio de 2024

21/05/2024-Terçaf Da VII Semana Comum

SER CRISTÃO É SER EDUCADOR-PROFÉTICO DE DEUS PARA SALVAR OS QUE SÃO DOMINADOS PELO PECADO

Terça-Feira da VII Semana Comum

Primeira Leitura: Tg 4,1-10

Caríssimos, 1 de onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? 2 Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir. E a razão está em que não pedis. 3 Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres. 4 Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Assim, todo aquele que pretende ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus. 5 Ou julgais ser em vão que a Escritura diz: “Com ciúme anela o espírito que nos habita”? 6 Mas ele nos dá uma graça maior. Por isso, a Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes”. 7 Obedecei pois a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8 Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós. Purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios. 9 Ficai tristes, vesti o luto e chorai. Transforme-se em luto o vosso riso, e a vossa alegria em desalento. 10 Humilhai-vos diante do Senhor, e ele vos exaltará.

Evangelho: Mc 9,30-37

Naquele tempo, 30 Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. 32 Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 33 Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis pelo caminho?” 34 Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. 35 Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” 36 Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 37“Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.

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Durante esta semana acompanhamos a Primeira Leitura tirada da Carta de São Tiago. O o autor da Carta de Tiago é atribuído a Tiago, irmão do Senhor, embora falte muita fundamentação para defender esta tese. Porque a boa qualidade do grego nesta Carta é bastante difícil de entender se fosse escrita por uma pessoa de origem semítica, como Tiago. Além disso, o autor não se apresenta no início da Carta como “irmão do Senhor”. Também não se trata nesta Carta dos temas referentes a Jesus, especialmente da paixão e da ressurreição de Jesus Cristo. Por fim, o espirito de liberdade do autor não corresponde ao legalismo judaico que Tiago reflete em At 15,19-21; 21,25 (cf. Gl 2,12).

Literalmente os destinatários da Carta são as Doze tribos da diáspora (Tg 1,1), expressão que alude às Doze tribos de Israel, isto é, a todo o povo de Israel do Antigo Testamento que se encontra em várias regiões e culturas (na diáspora). Por isso, trata-se de uma carta de valor encíclica de Jerusalém para as várias comunidades judeu-cristãos dispersas. A dispersão judaica ou a diáspora aconteceu depois do ano 70 d.C (Tg 1,1). Por isso, a data da composição da Carta é posterior ao ano 70 d.C.

Nesta Carta encontramos mensagens didáticas e éticas vindas de um mestre da comunidade cristã. O autor pede a todos os cristãos que vivam no espirito cristão dentro e fora da comunidade. O autor propõe às comunidades judeus-cristãos uma série de exortações para colocar em prática a fé professada, evitando que a fé permaneça apenas rm algumas meras ideias, sem conexão com a vida cotidianapecialmente em um tempo de tentação ou tribulação (Tg 1,2.12-13).

A carta é composta à maneira de um "livro de sabedoria" do Antigo Testamento (Provérbios, Eclesiastes, livro da Sabedoria, Eclesiástico) e expõe uma série de advertências, instruções e normas, enfocadas para a vida prática cotidiana dos judeus-cristãos da diáspora. Utiliza o tesouro das ideias contidas no Antigo Testamento e tradições judaicas, que constituía a base do ensino éticoreligioso da época, mas também inspirou intencionalmente pela tradição cristã primitiva, tal como existia na Igreja primitiva e as Igrejas judaico-cristãs.

Portanto, mais do que uma Carta, é uma exortação homilética sobre o estilo de vida que os seguidores de Jesus devem seguir. Suas intruções ou orientações são muito concretas, sacodem a conformidade ou conformismo excessivo e são de uma evidente atualidade para nossas comunidades de hoje, como veremos: a fortaleza diante das provas ou provações, a relatividade das riquezas, a não ascepção de pessoas. Portanto, o autor da Carta é um cristão muito conhecedor e amante da espiritualidade judaica-cristã. 

Aproximar-Se De Deus Para Não Se Tornar Amigo Do Mundo

Obedecei pois a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8 Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós. Purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios”.

Na Primeira Leitura do dia anterior São Tiago falou da verdadeira sabedoria. Hoje ele desmascara com palavras duras aqueles que na comunidade criam divisão e não criam paz.

São Tiago está inquieto pelos conflitos que surgem nas comunidades cristãs. Por isso, ele lança as seguintes perguntas na Primeira Leitura de hoje: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir”.

Segundo são Tiago, a primeira causa da discórdia entre os cristãos é o gosto do prazer desenfreado (avareza) isto é, o desejo dos bens materiais: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?” (Cf. também Tg 1,14-15). O amor próprio (egoísmo, egocentrismo, egolatria etc.), a cobiça, o desejo desenfreado dos bens materiais são instintos que lutam dentro de cada ser humano. Tudo começa no fundo de nosso coração. Não podemos nos esquecer que na passagem neste mundo temos apenas o direito de usufruir e não de possuir, pois quando terminar nossa vida aqui neste mundo tudo será deixado, pois cessará nosso direito de usufruto.

A segunda causa dos conflitos entre os cristãos é a inveja que consiste em desejar o que é possuído pelo próximo e, para obtê-lo, o próximo é atacado ou agredido verbal e fisicamente. Trata-se da tristeza pela bem alheio: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir. E a razão está em que não pedis. Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres”. “A inveja é a tristeza pela glória do outro” (St. Tomás de Aquino). Ou seja, a inveja é a tristeza pelo bem alheio. “A inveja é filha de uma soberba machucada” (Antonio Poliseno). O invejoso tem uma grande dificuldade de celebrar o sucesso alheio ou sucesso dos outros, pois ele sempre quer ser centro de tudo.  O invejoso sempre sente dor e raiva porque o outro conseguiu o que ele não alcançou. O invejoso está sempre com os olhos fixos nos outros, sofrendo amargamente com o sucesso que os outros alcançaram. A inveja aparece até nas orações, isto é, nos servimos de Deus para alcançar o privilégio de termos tanto quanto o vizinho. Trata-se de pedido egoísta. É uma oração centrada em mim mesmo. Quantas tristezas provem do fato de nos compararmos com os demais. É preciso aprendermos a ser realistas e respeitarmos sinceramente nossas limitações. 

A terceira causa das discórdias é o amor do mundo: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Assim, todo aquele que pretende ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus. Ou julgais ser em vão que a Escritura diz: ‘Com ciúme anela o espírito que nos habita’? Mas ele nos dá uma graça maior. Por isso, a Escritura diz: ‘Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes’”. Esta última causa torna o homem “adúltero”, soberbo, pois causa o rompimento com Deus. O soberbo tem todos os vícios:egoísta, injusto, ingrato, imoral, fanfarrão, e por isso, a soberba é o pai de todos os vícios. Em vez de viver com Deus, o homem prende-se aos bens materiais que um dia ele vai deixar neste mundo, pois cada homem somente tem o direito de usufruir e não de possuir. “O amor ao mundo corrompe a alma; o amor ao Criador do mundo a purifica”, dizia Santo Agostinho (Serm. 142,3,3). Não se pode servir aos dois senhores (Cf. Mt 6,24). 

Será que amamos mais as coisas de Deus do que o Deus das coisas, as criaturas do que o Criador? “Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos”, dizia Santo Agostinho (Serm. 121,1). 

Nesta semana Jesus rogou a seu Pai por nós (Cf. Jo 17). Ele pediu não para o Pai nos tirar do mundo e sim que nos preserve do mal. No final de nossa vida o Senhor nos levará como nas asas da águia para as moradas. Enquanto esse dia não chegar, não podemos viver como covardes, mas devemos confiar em Deus, pois em Deus encontra nosso refúgio e proteção. Por isso, com o Salmo Responsorial de hoje (Sl 54/55) rezemos: “É por isso que eu digo na angústia: ‘Quem me dera ter asas de pomba e voar para achar um descanso! Fugiria, então, para longe, e me iria esconder no deserto. Acharia depressa um refúgio contra o vento, a procela, o tufão’. Ó Senhor, confundi as más línguas. Dispersai-as, porque na cidade só se vê violência e discórdia! Dia e noite circundam seus muros. Lança sobre o Senhor teus cuidados, porque ele há de ser teu sustento, e jamais ele irá permitir que o justo para sempre vacile!”.

Quem possui o Espirito de Deus e se deixa dominar por Ele converte-se em um sinal profético do amor, da salvação e da entrega de Deus para salvar todos aqueles que foram dominados pelo pecado e que estavam destinados à morte eterna.

Ser Cristão É Ser Educador-Profeta

O textodo evangelho de hoje começa com a seguinte frase: “Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos” (Mc 9,30-31). Jesus abandona deliberadamente a pregação à multidão (Mc 9,30) incapaz de compreendê-Lo para se dedicar exclusivamente à formação definitiva dos discípulos: “Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos”.

Ensinar é uma das preocupações de Jesus nos evangelhos, especialmente no evangelho de Marcos (Mc 1,22; 4,2; 6,2; 9,31 etc..). Ensinar: palavra latina insignīre, quer dizer “marcar, distinguir, assinalar”. É a mesma origem de “signo”, de “significado”. A principal meta da educação se processa em torno da autorealização. Logo, ela propõe a reformulação constante de diretrizes obscuras para alcance dos objetivos, comprometidos com a valorização da vida.

E os discípulos são orientados por Jesus para aprender d´Ele. A etimologia revela que o substantivo aprendizagem deriva do latim “apprehendere”, que significa apanhar, apropriar, adquirir conhecimento. O verbo aprender deriva de preensão, do latim “prehensio-onis”, que designa o ato de segurar, agarrar e apanhar, prender, fazer entrar, apossar-se de. 

Jesus Cristo é a Palavra divina (Jo 1,1). Jesus é a Palavra inesgotável de Deus para se comunicar com os seres humanos. Como a Palavra divina, as palavras de Jesus são sempre promessa e expressão de vida. Através de seu ato e atividade de ensinar Jesus quer que os seus ouvintes cresçam na liberdade e dignidade tendo consciência critica sobre a realidade ao seu redor (cf. Mc 1,22).

Cada cristão é chamado a ser educador-profeta. Os profetas falam em nome de Deus, são Seus porta-vozes que sacudam as consciências, levantem as vidas de mediocridade, de desesperança, do tédio e de insensibilidade. Todo profeta é educador e todo educador cristão é chamado a ser um profeta. A educação é, portanto, uma vocação de serviço. Cada cristão, cada educador cristão é chamado a transformar cada lugar, cada escola em lugares de vida nos quais se aprende a viver e conviver, a desfrutar a vida e a dignidade, a defender a vida, a combater tudo o que ameace a vida.

Em seguida, Marcos nos relatou sobre o anúncio da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Pela segunda vez Jesus revela aos seus discípulos sua próxima Paixão (Mc 8,31-33; 10,31-34). Ao anunciar pela segunda vez aos seus discípulos sua paixão e morte Jesus quer educá-los sobre o que significa seguir a Jesus Cristo.

“O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”, disse Jesus a seus discípulos. No livro de Daniel (Dn 7,25b; cf. também Jr 26,24; Is 53,12), a perseguição do povo de Deus é descrita nestes termos: “E eles serão entregues em sua mãos” (do perseguidor, Antíoco IV Epífanes). Jesus compreendeu o seu destino, que vai rumo à morte, nas linha dos perseguidos por causa da fidelidade a Deus e a sua justiça.Todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão perseguidos”, escreveu são Paulo a Timóteo (2Tm 3,12). O cristão é chamado a ser mártir no sentido pleno da palavra para espalhar o amor fraterno. Viver no amor é viver em Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Morrer por causa da honestidade, da justiça, da solidariedade, do amor fraterno e assim por diante é o maior testemunho para o cristão. 

Mas os seus não estão dispostos a atender o que seu Mestre quer dizer ou ensinando. O que lhes preocupa é “quem será o mais importante”. Cada educador, cada mestre precisa ter paciência em ensinar ou educar. É um trabalho de serviço. Um servo está sempre disposto e disponível para atender a seu senhor. 

Para acabar com a ambição dos discípulos de quererem ocupar primeiros lugares Jesus dá algumas lições (ensinar) sobre o estilo de vida para quem quiser ser seu discípulo. Jesus marca as linhas fundamentais da espiritualidade que se deve respirar qualquer comunidade cristã. A idéia-mestra é esta: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. Isto é, ser o servidor de todos.

Para acentuar a lição dada aos discípulos Jesus põe uma criança (um menino) no meio deles:Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’”. Jesus utiliza uma estratégia pedagógica: coloca um menino no meio e o abraça. Um menino! Uma criança! Quantas coisas diz a imagem deste menino abraçado por Jesus! É um abraço com que Deus abriga, anima e fortalece o novo começo (menino/ criança). É o abraço que envolve toda a confiança, toda a ternura, toda a proximidade do Senhor para quem quiser ser verdadeiro discípulo, e não prematuro mestre.

A figura bíblica do “menino” ou “criança” é símbolo de marginalização e indefesa. No tempo de Jesus, um menino era símbolo de ignorância, imaturidade e insignificância. Um menino era equiparava com os escravos. No entanto, por seu grau de dependência o menino se converte em preocupação permanente para seus progenitores sem os quais o menino não sobreviveria ou não receberia uma boa educação. Assim, o menor se converte no mais importante porque requer a atenção e o cuidado dos maiores. É uma lição viva de pequenez e de humildade. Ser simples é ser modesto, singelo, puro, desprovido de elementos acessórios, isento de significações secundárias, sem luxo nem ostentação. Ser humilde consiste em manifestar a virtude de conhecer suas próprias limitações. É reconhecer ser pó, mas é pó vivente, pois Deus soprou seu espírito nele que o capacita a viver na espera divina. 

Por isso, a grandeza do homem está na humildade. “Quanto mais humildes, maiores” dizia Santo Agostinho. Mas “simular humildade é a maior das soberbas”, acrescentou Santo Agostinho. A paz florescerá em qualquer comunidade cristã se seus membros fazem seu o espírito evangélico de humildade e de simplicidade. O próprio Jesus serve de exemplo, pois sua vida está na sua atitude de entrega para a salvação de todos.

Depois que colocou a criança ou o menino no meio dos discípulos, Jesus pronunciou a seguinte frase: ““Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. Esta sentença nos recorda a parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e o final do discurso missionário (Mt 10,42). Assim a criança aqui assume um sentido novo. Não é mais a criança em sentido próprio e sim o símbolo do necessitado. É o sedento, o faminto, desnudo, o prisioneiro, o marginalizado.

Também podemos ter dificuldades em querer entender a lição que Jesus deu aos discípulos. Tendemos a ocupar os primeiros lugares, a buscar nossos interesses, a desprezar as pessoas que contam pouco na sociedade e das pessoas que não podemos esperar grandes coisas. 

Se quisermos colaborar com Jesus Cristo e fazer algo válido na vida, temos que contar em nosso programa de vida com a renúncia e a entrega, com a humildade e a simplicidade. O desejo de poder e a busca dos próprios interesses fazem impossíveis a renúncia, a entrega e impossibilita o cristão a servir aos demais. Um cristão que não serve não serve como cristão. Uma Igreja que não serve, não serve para nada. Servir pela salvação dos demais é o centro do cristianismo. Para sermos felizes temos que fazer os outros felizes. A competitividade faz desaparecer a solidariedade, a compaixão, a igualdade e a colaboração. A competitividade sempre torce para que a vida do outro não dê certo para que ele possa estar em destaque solitariamente para ser adorado pelos demais.

Servir é adorar a Deus em ação. Servir é a oração e a adoração colocadas na prática do amor fraterno. Servir é fazer algo de bom sem esperar nada de troca ou de reconhecimento. Renunciar a ser o servidor, a ser o pequeno significa renunciar Jesus, porque somente quem acolhe sua vocação de serviço como se acolhe um pequeno (criança), acolherá Jesus e o próprio Deus que o enviou. O poder e o serviço se excluem. A ambição de poder é o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas coisas, mas não serve para tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes produzem os maus funcionários. Um coração corrompido é ninho de discórdia. Uma mente obcecada nunca ilumina bem os caminhos.

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Maria, Mãe Da Igreja, 20/05/2024

BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA, MÃE DA IGREJA

Segunda-feira Após Pentecostes

Memória obrigatória

Primeira Leitura: Gn 3,9-15.20

9 O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” 10 E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. 11 Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” 12 Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. 13 Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me e eu comi”. 14 Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. 20 E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes.

Evangelho: Jo 19,25-34

Naquele tempo, 25 perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26 Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. 27 Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. 28 Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse: “Tenho sede”. 29 Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. 30 Ele tomou o vinagre e disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 31 Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. 32 Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro que foram crucificados com Jesus. 33 Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34 mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.

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Razão Da Memória

A memória da Virgem Maria, Mãe da Igreja, foi incluída no Calendário romano pelo Papa Francisco através do Decreto: Ecclesia Mater, publicado pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, no dia 11 de Fevereiro de 2018.

Para toda a Igreja de Rito Romano, o Papa Francisco estabelece que a memória de Maria, Mãe da Igreja torne-se obrigatória nas segundas-feiras depois da solenidade de Pentecostes. Para o Papa Francisco, a Virgem Maria é Mãe de Cristo e com Cristo é Mãe da Igreja: “De certa forma, este fato, já estava presente no modo próprio do sentir eclesial a partir das palavras premonitórias de Santo Agostinho e de São Leão Magno. De fato, o primeiro diz que Maria é a mãe dos membros de Cristo porque cooperou, com a sua caridade, ao renascimento dos fiéis na Igreja. O segundo, diz que o nascimento da Cabeça é, também, o nascimento do Corpo, o que indica que Maria é, ao mesmo tempo, mãe de Cristo, Filho de Deus, e mãe dos membros do seu corpo místico, isto é, da Igreja. Estas considerações derivam da maternidade divina de Maria e da sua íntima união à obra do Redentor, que culminou na hora da cruz”, diz o Decreto.

A Mãe, que estava junto à cruz (cf. Jo 19, 25), aceitou o testamento do amor do seu Filho e acolheu todos os homens, personificado no discípulo amado, como filhos a regenerar à vida divina, tornando-se a amorosa Mãe da Igreja, que Cristo gerou na cruz, dando o Espírito. Por sua vez, no discípulo amado, Cristo elegeu todos os discípulos como herdeiros do seu amor para com a Mãe, confiando-a a eles para que estes a acolhessem com amor filial, continuou o Decreto.

Para o Papa Francisco, através desta Memória a vida cristã pode crescer se for enraizada no mistério da Cruz, na Eucaristia e no SIM incondicional da Virgem Maria: “Esta celebração ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério da Cruz, na oblação de Cristo no convite eucarístico e na Virgem oferente, Mãe do Redentor e dos redimidos”, finalizou o Decreto. 

Quando fala sobre Maria, a Mãe da evangelização, na sua exortação apostólica Evangelii Gaiudium, o Papa Francisco escreveu: “Como Mãe de todos, (Maria) é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça. Ela é a missionária que Se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus. Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica. Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus. É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para A ver e deixar-se olhar por Ela. Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Maria oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes: ‘Não se perturbe o teu coração. (...) Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?’” (n.286).

No seu livro A Alegria De Ser Discípulo (Ed. Best Seller, Rio de Janeiro,2017 p.138), o Papa Francisco escreveu: “Nossa peregrinação de fé está inseparavelmente ligada a Maria desde que Jesus, ao morrer na cruz, deu-a a nós como nossa Mãe, dizendo: ‘Eis aí tua mãe!’ (Jo 19,27). Essas palavras servem como um testamento, legando uma mãe ao mundo. A partir desse momento, a Mãe de Deus também se tornou nossa Mãe! Quando a fé dos discipulos foi muito testada por dificuldades e incertezas, Jesus os confiou a Maria, que foi a primeira a acreditar e cuja fé nunca falhou. A “mulher” se tornou nossa mãe quando ela perdeu seu divino Filho. Seu coração sofrido se ampliou para dar espaço a todos os homens e mulheres – todos, sejam bons ou maus -, e ela os ama como amava Jesus. A mulher que nas bodas de Caná, na Galileia, deu sua cooperação chei de fé para que as maravilhas de Deus pudessem ser exibidas ao mundo, manteve no Calvário, viva, a chama da fé na ressurreição de seu Filho, e ela comunica isso a cada pessoa, com carinho materno. Maria se torna, dessa forma, uma fonte de esperança e de alegria verdadeira”.

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As leituras são escolhidas em função desta Memória: Gn 3,9-15.20 (Primeira Leitura) e Jo 19,25-34 (Evangelho).

O Gn 3 se refere à situação criada pelo pecado original. Deus intervém como um Juiz no quadro de um processo. Deus interroga os culpáveis, estabelece as responsabilidades e fixa as sanções.

Onde estás?”. Esta é a primeira perguntal primordial de Deus aos homens. Por que Deus pergunta ao homem “Onde estás”, pois Deus é onisciente (além de ser onipresente e onipotente? Deus não fez essa pergunta para conhecer algo que não o  e soubesse, e sim para induzir Adão a tomar consciência da situação em que se encontrava. Ao perguntar “Onde estás”, na realidade o Senhor queria dizer-lhe: “Em que estado te encontras em tua relação comigo, com tua companheira, com o mundo onde vives”?. Esta pergunta vale para qualquer um de nós na atual situação em que vivemos.

Adão e Eva, os primeiros pais, pensaram que comendo o fruto daquela árvore proibida seriam como deuses, isto é, creram e escolheram e desejaram ser eles mesmos os donos de tudo, o critério último de tudo.

Quando o Gênesis nos narra que Deus proibiu comer da árvore da ciência do bem e do mal, nos quer dizer que Deus não queria que os homens se considerassem os proprietários particulares do bem e do mal; não queria que este ou aquele homem chegasse a dizer: “Isso é bom, e isso é mau, porque eu o digo, porque eu quero, porque isso vai ser bom para mim e os demais que me compreendam e me aguentem!”. O plano de Deus, o projeto de Deus, era outro, e não abandonava pelos caminhos da autossuficiência e da insolidariedade e sim pelos caminhos do amor, da partilha, da paz e da harmonia.

E os homens, desde o princípio, romperam este projeto de Deus, e assim estraga ou deforma toda a história humana, pois sem amor, sem paz e sem ordem não haverá a harmonia. “A paz é a tranquilidade da ordem”, dizia Santo Agostinho. E esta ruptura, esta marca que desde o princípio os homens puseram na história, chegou até nós. É isso que chamamos “pecado original” e origina outros pecados. Somos também marcados, de muitas formas, por essa ruptura, esse mal, esse pecado: queremos ser dono de nossa vida, esquecendo-nos que a vida é um dom maior recebido de Deus. O ser humano é um ser vincular. O vínculo é a medula de sua existência. Para tornar-nos aptos, competentes, necessitamos, imprescindivelmente, de colaboração e de ajuda dos outros. O vínculo nos leva a termos o sentimento de pertença. Através da vivência desse sentimento de pertença aprendemos a receber algo de bom dos outros e a dar aos outros o que temos de bom.

Porém, não se trata agora de ficarmos assim, lamentando por estar marcados desse modo, pois precisamente nossa fé nos diz que Deus não quis para sempre esta marca, esta ruptura. Deus não permitiu que os homens fossem condenados para sempre a não poder nos levantar do mal que desde o princípio nos ata. E por isso, ao final da mesma leitura que nos fala da condenação dos primeiros pais, escutamos o anúncio que Deus diz: da estirpe da mulher, ia surgir alguém capaz de destruir o mal e a morte, e de refazer a vida dos homens. Alguém, um homem como nós, Jesus Cristo. Com Cristo será criado novamente o caminho do amor, da paz e da unidade entre os homens. Ele, Jesus Cristo, um homem como nós, um homem que é o Filho de Deus, reconstrói esse caminho: amando totalmente até o fim (Jo 13,1) a ponto de dar a vida pela nossa salvação.

Fomos salvos por Jesus Cristo, que é o Filho de Maria. Por Jesus Cristo, que se fez presente neste mundo graças ao amor, à fidelidade, à generosidade daquela Virgem de Nazaré que se chamava MARIA, e que hoje recordamos nesta Memória, como Mãe da Igreja, de todos, e portanto, Mãe de cada um de nós em particular. Sua atitude de disponibilidade, de colaboração na obra redentora, de confiança incondicional em Deus e de esperança ativa torna Maria um modelo que merece ser seguido pelos cristãos, por todos nós.

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”. Junto à Cruz do Cristo Jesus o evangelista João não somente pretende uma mãe que sofre pelo filho, de ponto de vista humana, mas uma discípula disposto a sofrer com o seu Mestre, pois Maria, a Mãe de Jesus, é a primeira discípula do Mestre Jesus que com seu Fiat ela se entrega totalmente à vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

No Evangelho de João, Maria aparece somente duas vezes. Primeiro, Maria atua na realização do primeiro sinal de Jesus (transformou a água em vinho), em Caná, ao inaugurar a missão pública de Jesus (Jo 2,1-11). Segundo, Maria permanece ao pé da cruz, no momento da morte de Jesus, no final de sua missão nesse mundo (Jo 19,25-27). Ao colocar Maria no início e no final da missão de Jesus, João está dizendo que ela tem um lugar especial na vida de Jesus, pois se faz presente nos momentos mais importantes da vida de Jesus. Aqui Maria se apresenta como uma verdadeira discípula de Jesus: fiel até o fim, não se entrega às dificuldades e aos sofrimentos, não se desanima diante dos desafios. Ela é uma mulher muito valente porque ela tem muito fé e amor no coração. Quando se tem fé e amor no coração tudo se encara com serenidade, pois “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós O entregou, como não nos dará também com Ele todas as coisas?... Quem nos separará do amor de Cristo?(Rm 8,31-32.35).

Depois de interiorizar a Palavra de Deus, vamos fazer as seguintes perguntas: Quais são mulheres que estavam ao da cruz de Jesus? Por que essas mulheres não tinham medo de ninguém nem de nada em acompanhar Jesus até ser crucificado, enquanto a maioria dos discípulos abandonou Jesus? Que tipo de mulher essas?  O que sentiu Maria no seu coração ao ver seu Filho sofrer terrivelmente e ser crucificado como inocente? Quais palavras que Jesus dirigiu à Sua Mãe, Maria, da cruz? O que essas palavras significam para nós hoje e para nossas famílias? O único discípulo que acompanhava Jesus era o discípulo que Jesus amava chamado, conforme a tradição, João. Por que esse discípulo se mostrou fiel a Jesus até o fim apesar das dificuldades e dos sofrimentos? Quais palavras que, da cruz, Jesus dirigiu ao discípulo amado? O que essas palavras significam para nós hoje, e para nossas famílias? O que aprendemos dessas mulheres e do discípulo amado?

Quando na fé se dá espaço ao absoluto primado de Deus, a consequência lógica de ser habitado, de ser amado por Deus é sair de si, viver o êxodo sem regresso, que é o amor. O acolhimento da gratuidade do amor eterno torna-se a doação gratuita de tudo que se recebeu. Quem crê e vive da fé, tem capacidade de olhar para fora, aprecia o dom e o comunica. Certamente, respeitamos o dom de Deus quando nos tornamos arca irradiante e quando o restituímos a Deus, que nos estende a mão nos nossos irmãos. Nisto tudo, Maria é nosso grande espelho.

Virgem e Mãe Maria,

Vós que, movida pelo Espírito,

Acolhestes o Verbo da vida

Na profundidade da vossa fé humilde,

Totalmente entregue ao Eterno,

Ajudai-nos a dizer o nosso ‘sim’

Perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,

De fazer ressoar a Boa Nova de Jesus” 

(Papa Francisco: Evangelii Gaudium).

P. Vitus Gustama,SVD

terça-feira, 14 de maio de 2024

Domingo de Pentecostes,19/05/2024

PENTECOSTES

PAPEL DO ESPÍRITO SANTO E SEUS FRUTOS NA VIDA DO CRISTÃO

At 2,1-11; 1Cor 12,3-7. 12-13; Jo 20,19-23

Neste domingo celebramos a solenidade do Pentecostes: a festa do Espírito Santo. O Espírito Santo fundamenta a missão de Jesus e fundamenta a missão da Igreja. Só no livro de Atos dos Apóstolos, de onde tiramos o relato de Pentecostes (At 2,1-11), o Espírito Santo é mencionado 45 vezes. Em consequência disto, com razão, a dupla obra de Lucas (o Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos) é designada como “o Evangelho do Espírito Santo”. O Espírito Santo é a plenitude de tudo quanto Deus tem que nos dar. Na liturgia há uma exuberância de imagens e comparações para exprimir o que o Espírito Santo é e faz. Ele santifica, fortifica e consola. Ele aquece quando estamos “frios”; ele nos ajuda e nos cura. Ele torna flexível o que é rígido, purifica o que é impuro, ilumina na escuridão. Ele é como uma língua, como descreve os Atos, e como uma pomba na descrição dos Evangelhos. Ele é sopro, o dedo de Deus com que foi criado o universo. Ele renova continuamente a face da terra.        

Como nós sabemos que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É simples esta frase, mas rico é o seu conteúdo. Ela significa que Deus é uma “família”. Deus não é um Deus solitário. Deus é uma comunidade; uma convivência. Há em Deus uma comunicação perfeita. Há em Deus uma convivência que é completa e desconhece qualquer sombra.  É conhecimento do outro numa unidade indivisa. O Espírito Santo é o vínculo de união perfeita entre Pai e Filho. O Espírito Santo é aquele que supera a relação Eu-Tu e introduz o Nós. Por isso, ele é por excelência a união entre Pessoas divinas.

No evangelho de São João (cf. Jo 14,26; 15,26-27; 16,13-15; 14,16-18) o Espírito Santo é chamado de Paráclito, termo de origem grega do mundo jurídico que é traduzido por advogado, auxiliar, defensor. Em que sentido? Em situação de sofrimento e dor, o Espírito santo desempenha seu papel como consolador. Nas decisões importantes em que ele é invocado o Espírito Santo se faz conselheiro. Ele nos interpela, acusa e questiona na nossa mediocridade, apatia e no nosso desânimo (cf. Jo 16,8). Como o verdadeiro advogado o Espírito Santo nos conduz para a plena verdade (Jo 16,13-15) que é o próprio Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). O Espírito Santo nos conduz a Jesus pela dupla via: pela via do conhecimento e do amor e nos leva ao seguimento de Jesus até o fim, ao anúncio do Reino, à opção pelos pobres. Aqui consiste a trilogia fundamental: conhecer intimamente, amar profundamente e seguir a Jesus fielmente. Quem nos possibilita tudo isso é o Espírito Santo.

O mesmo evangelho de João nos afirma que pelo batismo recebemos o Espírito Santo que nos habita o coração (cf. Jo 3,5-8.34). E o Espírito Santo prometido por Jesus tem uma função de ensinar, recordar, comunicar e conduzir à verdade de Jesus diante do risco de a Igreja perder o rumo em relação à memória e a compreensão de Jesus (cf. Jo 15,26; 16,14s).       

Na história, o Espírito Santo se mostra como uma força vulcânica que ninguém pode segurar, como um vendaval (vento tempestuoso) que toma as pessoas abertas ao seu impulso e as leva a fazer obras grandiosas.          

Cabe ainda ressaltar mais algumas características do Espírito Santo.

O Espirito Santo é Dom. O fato de tudo isso vir “do céu” indica o dom de Deus, isto é, o Espírito Santo não é uma invenção dos cristãos, mas um dom que lhes foi dado, conforme a promessa de Jesus (Jo 14,15-17). O ES não é um produto da sugestão humana. Ele é uma força irresistível que foge ao controle e às manipulações humanas. Ele sopra para onde quer (cf. Jo 3,8).

Em primeiro lugar, a descrição do ES como Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino da Graça. Isto significa que Deus derrama seu Espírito e seus dons sobre o seu povo, não como promoção por suas realizações, e sim na liberdade de sua misericórdia e graça. Deus não exige um pagamento velado em troca de seus dons. Seus dons levam a consequências que mudam a vida, sem quaisquer precondições, exceto a vontade para que recebamos o dom. O Dom do Espírito Santo, então, nos faz lembrar que não estamos vivendo num mundo calculista de benefícios conferidos em proporção às condições atendidas, mas no reino de um Pai gracioso, que derrama generosamente seu Espírito, em graça livre e incondicional para todos nós.          

Segundo, a descrição do Espírito Santo como um Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino dos relacionamentos dinâmicos, do movimento que vem de um doador para um receptor, de abertura de uma pessoa para outra. A palavra Espírito Santo é uma palavra que tem significado apenas num relacionamento. Ele é o que é e faz tudo o que faz apenas dentro de uma rede de relacionamentos divinos e divino- humanos.          

Terceiro, quando descrevemos o ES como um Dom, estamos deixando claro que nos encontramos no campo pessoal. Um dom só é um dom, no sentido apropriado da expressão, quando incorpora a intenção de um doador no sentido de dá-lo, e é recebido como dom apenas quando o receptor reconhece essa intenção. Uma vaca não dá o leite; o leite é tirado dela. O ES transmite e expressa o amor a todos nós e nós o recebemos, por isso é que ele é um dom. Quando Deus em Cristo nos doa o Espírito, ele nos doa nada menos que a si mesmo. Por isso, o Dom é um sujeito, vivo, atuante, que ama, soberano e livre.   

Ele é a força do novo e da renovação de todas as coisas: cria ordem na criação, faz surgir o novo Adão no seio de Maria, impulsiona Jesus para a evangelização, ressuscita o crucificado dos mortos, antecipa a humanidade nova na Igreja e nos traz, no final, o novo céu e a nova terra. Que seria da sociedade e das Igrejas se não surgissem os inovadores, as pessoas criativas, que têm idéias novas, que descobrem novos caminhos para a educação, a política, a religião etc.? O Espírito Santo certamente está ligado ao novo e ao alternativo.       

Ele é o atualizador da memória de Jesus. Ele atualiza a mensagem de Jesus. Ele nunca deixa que as palavras de Jesus permaneçam mortas, mas que sempre sejam relidas, ganhem novas significações e implementem novas práticas. Ele continua a obra de Jesus nas comunidades.       

Ele é o princípio libertador das opressões de nossa situação de pecado, chamada pela Bíblia de carne. Carne expressa o projeto da pessoa voltada sobre si mesma, esquecida dos outros e de Deus. Ele sempre é gerador de liberdade (1Cor 3,17), de entrega aos demais e de amor.       

Ele produz unidade, e ao mesmo tempo, promove diferentes maneiras de servir, como descreve a Carta de São Paulo aos coríntios (1Cor 12,3-7.12-13). Ele é a força criadora de diferenças e de comunhão entre as diferenças. É ele que suscita entre as pessoas os mais diversos dons e nas comunidades os mais diferentes serviços e ministérios, como se ensina nas cartas aos Romanos (Rm 12) e aos Coríntios (12). Mas esta diversidade não decai em desigualdades e discriminações porque bebemos da mesma fonte que é o Espírito Santo (1Cor 12,13). Os dons ou os carismas não são dados para a autopromoção, mas para o bem da comunidade (1Cor 12,7). A base da palavra “carisma” é “charis” (grego) que significa “graça”. Por isso, carisma é resultado de uma ação da graça (charis). O carisma articula o dom pessoal com o bem da comunidade.  o carisma existe em vista da construção social ou do bem comum.  Ou na linguagem de São Paul podemos dizer por carisma, uma manifestação gratuita do Espírito Santo que atua para o bem comum do povo de Deus. o carisma não é para o gozo individual, mas a serviço da comunidade no sentido da comunidade eclesial, o Corpo de Cristo. 

No Pentecostes o sinal importante do Espírito Santo não foi uma confusão de línguas que ninguém entende, mas foi a capacidade de falar de tal modo que todo mundo se sentiu à vontade com a mensagem. A linguagem que todos entendem é o amor. O Espírito Santo interfere para melhorar e não para atrapalhar a comunicação da Igreja de Jesus Cristo. A comunidade fundada em Pentecostes (no Espírito Santo) é um lugar de diálogo, de encontro, de comunicação, de unidade (não necessariamente uniformidade), de familiaridade, de acolhimento, de comunhão. O erro não está em sermos diferentes. O erro está em sermos divididos. A comunidade nascida em Pentecostes não é o lugar da lei que mata, mas é o lugar do Espírito Santo, isto é, o lugar da abertura e da vida, do reconhecimento e do despertar, o lugar de uma libertação fundada no amor. O amor é o caminho para Deus, o único carisma realmente imprescindível na vida cristã, o carisma que jamais cessará.   

No começo da Bíblia, na construção da torre de Babel todo mundo que falava a mesma língua começou a se desentender, um não compreendia mais o outro porque estavam fazendo uma obra do orgulho, um monumento para celebrar a própria importância dos construtores e não para servir Deus (Gên 11,1-9).        

Quando, na Igreja, cada um fica mais preocupado com o próprio prestígio ou com o prestígio de seu grupo do que com o serviço para o bem de todos (da comunidade), acontece de novo o que está representado na torre de Babel: a comunidade não se entende, fica desunida. Comunidade desunida não constrói como Jesus deseja. A obra fica paralisada no meio. Se cada cristão esquecer sua missão de serviço a Deus e começar a cuidar do seu próprio prestígio e poder, ele também terá dificuldades em se fazer entender.        

O Espírito Santo foi derramado sobre todos no batismo. Ele habita os corações das pessoas (1Cor 3,16), dando-lhes entusiasmo, coragem e determinação. Ele consola os aflitos e mantém viva a esperança. Ele nos consola, exorta e ensina como as mães fazem junto a seus filhinhos (Jo 14,26;16,13) Um grande teólogo cristão, Mário (+ 334) dizia: “ O Espírito  Santo é a nossa Mãe porque o Paráclito,  o Consolador está pronto a nos consolar como uma mãe consola o seu filho e porque os fiéis são renascidos dele e são assim os filhos desta Mãe misteriosa que é o Espírito Santo”. Ele não nos deixa órfãos (Jo 14,18). Ele nos educa na oração e na forma de pedir as coisas verdadeiras: “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). 

Na liturgia a presença do Espírito Santo é também destacada.  Começamos a celebração em nome da Trindade. As orações são dirigidas ao Pai pelo Filho no Espírito Santo. A presença do Espírito Santo na liturgia é destacada no momento de duas epicleses (as duas invocações do Espírito Santo). A primeira epiclese acontece na consagração em que o pão e o vinho se tornam sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus pela invocação do Espírito Santo. Ao Espírito Santo se atribui a consagração: “Na verdade, ó Pai, Vós sois santo e fonte de toda santidade, santificai, pois, estas oferendas, derramando sobre elas o Vosso Espírito, a fim de que se tornem para nós o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor nosso” (cf. Oração eucarística II). A segunda epiclese (a 2ª invocação do Espírito Santo) acontece depois da consagração em que se suplica ao Pai para que todos os que vão participar do Corpo e do Sangue de Cristo sejam reunidos num só corpo pelo Espírito Santo para formar uma verdadeira comunhão de irmãos. A Eucaristia deve construir, como resultado, uma verdadeira comunidade pela força do Espírito Santo. Comungar não é mais uma coisa privada e sim um momento para criar e fortalecer a comunidade. As duas epicleses têm a mesma importância. 

Outros frutos do Espírito Santo são o amor, a bondade, moderação e autocontrole, cortesia, mansidão e longanimidade, jovialidade e paz  que se encontram em Gl 5,22-24.          

Segundo Gálatas, o amor que é o fruto do ES se expressa através de cordialidade, simpatia, coração bom. Trata-se de uma atitude típica da interioridade; é a disposição interior para o pensar bem, para o falar bem, para o agir bem. O amor traduzido com cordialidade, simpatia(simpatia vem do grego sumpáscho que significa igualar-se ao outro, ter uma atitude de profunda sintonia com o outro), coração aberto é a capacidade imediata de entender os sofrimentos e as alegrias de quem está perto de nós; é um coração espaçoso, raiz de toda a moral do NT. O amor é a virtude pela qual resplandecem até mesmo as coisas mais pequenas, e os gestos mais simples se tornam belos e construtivos. Tudo que se faz com amor, por pequeno que seja, se torna uma obra prima. E nada vale aquilo que se faz sem amor, por maior que ele seja.          

A bondade é fruto do ES. A bondade é um reflexo da atitude divina. Ela é a prerrogativa daquele que se compraz em fazer por primeiro o bem, em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor. Ela é uma qualidade criativa (tudo que Deus criou era bom. cf. Gn 1). Nossa bondade é nada mais que uma participação, no ES, da característica divina, e por isso, é bela, criativa, fascinante, capaz de suscitar uma sociedade nova. Nenhum coração resiste diante da bondade. Se a bondade é fruto do ES, então, ela é um dom a ser invocado, a ser implorado, dispondo-nos a acolhê-lo com humildade e reconhecimento.          

Outro fruto do ES é a moderação. A palavra que se usa em grego é epieíkeia (ocorre 7 vezes no NT) que significa respeito, afabilidade, acessibilidade, moderação, flexibilidade e equilíbrio ao aplicar as leis, as regras; é capacidade de saber prever também as oportunas exceções às regras. Trata-se de uma atitude fundamental na vida social. O contrário da moderação é a arrogância, a petulância, a rudez, a presunção, a falta de educação etc.          

O domínio de si ou autocontrole, que é outro fruto do ES, está muito ligado à moderação. É uma atitude que exige de si o respeito pelo outro, mantendo sob controle os próprios sentimentos ou instintos de poder e de prevaricação, de ser oportunista diante da fragilidade do outro. O autocontrole evita todo senso de superioridade e toda violência física, verbal e moral nos relacionamentos; evita a exploração da dignidade alheia; evita a busca da própria vantagem, do próprio prazer em prejuízo da dignidade ou do interesse de alguém. É uma virtude social fundamental.          

A cortesia é outro fruto do ES. Ela é a atitude de Deus em relação ao homem, o modo com o qual o Senhor se comporta conosco, segundo o que Jesus diz: “Ele é benévolo (chrestós) para os ingratos e para os maus” (cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher, de ir ao encontro do outro fazendo-o sentir que é bem-vindo, esperado, amado. Quando uma pessoa se sente acolhida, estimada e compreendida, ela se solta, fala, dá corda ao discurso.          

Outro fruto do ES é a mansidão. Ela é uma atitude que facilmente pode ser mal interpretada, pois é confundida com a fraqueza ou com a ingenuidade. Mas, na verdade, ela é a atitude típica de Jesus que se autodefine manso (cf. Mt 11,29). E ela é uma das bem-aventuranças por ele proclamada (cf. Mt 5,5). Mansidão é a atitude que acalma a ira ou cólera. A mansidão é a atitude de quem elimina ou modera a própria cólera e a dos outros; é responder à ira com a ponderação.     

A longanimidade é outro fruto do ES. É uma virtude que está ligada estreitamente à cortesia e à mansidão. Ela permite sustentar no tempo a esperança (Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela é a capacidade de saber investir, sem pretender a obtenção de resultados imediatos (o contrário da precipitação). Ela é a atitude que permite superar frustrações, que permite superar a irritação e o desencorajamento diante da aparente esterilidade da ação apostólica, educativa, formativa. Ela nos permite semear, eventualmente com sofrimento, olhando para a colheita que nos será dada pelas mãos de Deus. Ela nos convida a ter coragem e a resistir, na certeza de que da resistência virá a alegria.          

Outro fruto do ES é a alegria/jovialidade (cf. Fl 4,4-7). O termo grego “chará” que se traduz por “alegria”, ocorre 59 vezes no NT, sem contar os sinônimos e os verbos a ele ligados. É muito mais fácil experimentar a alegria do que defini-la. Ela é a atitude que torna tudo mais fácil. “Deus ama a quem doa com alegria” (2Cor 9,7), pois quem doa com alegria, doa bem. Ela é a capacidade que torna outros felizes e contentes. Ela é um sinal claríssimo da presença do ES. Se quisermos entender onde o ES está agindo, precisamos verificar a presença ou a ausência da alegria. Onde há a alegria, está aí o ES. O objetivo da obra de Jesus é o tornar-nos plenos de alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (cf. Jo 16,22-24). Por isso, ela é a característica típica do Reino de Deus.          

O oposto da alegria é a tristeza, aquele sentimento pelo qual tudo parece mais pesado. E uma variante da tristeza é a depressão ou mau humor, a melancolia, o descontentamento. Como resistir à atitude da tristeza? Como superar a depressão? É invocar o ES, pois a alegria é o dom do ES. É preciso invocar o ES, na certeza de que a alegria existe, de que ela está no fundo de nós mesmos, porque ela é a presença de Jesus ressuscitado ainda que esteja escondida. A alegria vem e virá, e tal certeza, cultivada no coração, ajuda a superar depressões, maus humores, escuridão etc..          

Outro fruto conjuntural e central do ES é a paz (shalom), que representa também uma espécie de síntese de todo bem na Bíblia. Biblicamente a paz é entendida como todo e qualquer bem, humano e divino. Por isso, São Paulo até diz: “E a paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensão, guardará vossos corações e vossos pensamentos em Jesus Cristo (Fl 4,7). A paz podemos definir como a atitude que nos defende da ânsia, que reina sobre a ânsia, que a domina. 

Ela é, obviamente, dom de Deus, do Espírito; é a riqueza que o Espírito derrama sobre os que a acolhem. A paz é a sensação de sentir-se em casa, de ter familiaridade com o ambiente em que vivemos. E sentir-se em casa com Deus, em Deus; o repouso em Deus é a paz que bloqueia a inquietude do coração. Como dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. A paz é sentir-se em casa com os outros, quando os relacionamentos são construtivos. A paz leva a pessoa a superar os medos e as desconfianças recíprocas.          

Os Atos dos Apóstolos relatam um curioso episódio: Chegando a Éfeso, Paulo encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: “‘Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?’ responderam-lhe: ‘Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo’” (At 19,1).       

Se dirigíssemos hoje a mesma pergunta a muitos cristãos, receberíamos talvez uma resposta desse mesmo tipo: sabem, sim, que existe um Espírito Santo, mas é tudo o que sabem a respeito d’Ele; de resto, ignoram quem é, na realidade, o Espírito Santo e o que representa para a vida deles. 

Portanto, mais do que nunca, reunamo-nos hoje em torno da Igreja para invocar, em uníssono, sobre nós, sobre nossa família e sobre o mundo inteiro, o Espírito Santo que é Espírito de reconciliação, de unidade, de renovação, de harmonia, de amor, de alegria, de mansidão, de cortesia, de longanimidade, de moderação, de autocontrole e de paz. E que estejamos abertos permanente diante do Espírito Santo que quer nos renovar e transformar em criaturas novas e renovadas de Deus. 

Para concluir, Inácio de Laodicéia escreveu: “Sem o Espírito Santo, Deus se torna longínquo; Cristo fica no passado; o Evangelho vira letra morta; a Igreja, uma simples organização; a autoridade, uma opressão; a missão, uma propaganda; o culto, uma evocação; o comportamento cristão, uma moral de escravos. Mas, com o Espírito Santo, Cristo está presente; o Evangelho é poder de vida; a Igreja torna-se comunhão trinitária; a autoridade, um serviço libertador; a missão, um Pentecostes; a liturgia, um memorial e uma antecipação da glória; e o comportamento torna-se divino”.

P. Vitus Gustama,svd

segunda-feira, 13 de maio de 2024

18/05/2024-Sábado Da VII Semana Da Páscoa

NOSSO TEMPO AQUI NESTE MUNDO É TEMPO PARA AMAR E SERVIR

Sábado da VII Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 28,16-20.30-31

16 Quando entramos em Roma, Paulo recebeu permissão para morar em casa particular, com um soldado que o vigiava. 17 Três dias depois, Paulo convocou os líderes dos judeus. Quando estavam reunidos, falou-lhes: “Irmãos, eu não fiz nada contra o nosso povo, nem contra as tradições de nossos antepassados. No entanto, vim de Jerusalém como prisioneiro e assim fui entregue às mãos dos romanos. 18 Interrogado por eles no tribunal e não havendo nada em mim que merecesse a morte, eles queriam me soltar. 19 Mas os judeus se opuseram e eu fui obrigado a apelar para César, sem nenhuma intenção de acusar minha nação. 20 É por isso que eu pedi para ver-vos e falar-vos, pois estou carregando estas algemas exatamente por causa da esperança de Israel”. 30 Paulo morou dois anos numa casa alugada. Ele recebia todos os que o procuravam, 31 pregando o Reino de Deus. Com toda a coragem e sem obstáculos, ele ensinava as coisas que se referiam ao Senhor Jesus Cristo.

Evangelho: Jo 21, 20-25

Naquele tempo, 20 Pedro virou-se e viu atrás de si aquele outro discípulo que Jesus amava, o mesmo que se reclinara sobre o peito de Jesus durante a ceia e lhe perguntara: “Senhor, quem é que te vai entregar?” 21 Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: “Senhor, o que vai ser deste?”. 22 Jesus respondeu: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa isso? Tu, segue-me!” 23Então, correu entre os discípulos a notícia de que aquele discípulo não morreria. Jesus não disse que ele não morreria, mas apenas: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?”24Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Jesus fez ainda muitas outras coisas, mas, se fossem escritas todas, penso que não caberiam no mundo os livros que deveriam ser escritos.

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Proclame A Palavra, Insista, No Tempo Oportuno E No Inoportuno, Refute, Ameace, Exorte Com Toda Paciência E Doutrina (2Tm 4,2)

A última passagem dos Atos que lemos, neste tempo pascal, resume os dois anos que Paulo esteve em Roma em seu primeiro cativeiro. Paulo se encontra agora no centro: o centro de um imenso Império pagão. E na sua segunda prisão em Roma ele foi martirizado por causa de sua confissão de Cristo, no ano 67 sob o governo de Nero.

Esta chegada a Roma de são Paulo, o Apóstolo dos gentios por excelência, tem um extraordinário significado teológico, porque com ele, de alguma forma, realizou a ordem ou o mandato que o Ressuscitado havia dado aos apóstolos: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até as extremidades da terra” (At 1,8). A expressão “até os confins da terra” ou “até as extremidades da terra” procede de Is 49,6: “Eu te estabeleci como luz das nações, a fim de que a minha salvação chegue até as extremidades da terra”. “As extremidades da terra” não se pode entender no sentido geográfico, pois através desta expressão trata-se das nações pagãos. O testemunho tem que alcançar até os pagãos, pois a salvação é universal, isto é, para todos. Este é o objetivo do livro dos Atos dos Apóstolos. O Evangelho parte do seio do povo de Israel em Jerusalém e chega até o centro das nações pagãs (Roma). Roma é o centro das nações pagãs, o centro das extremidades da terra. Por isso, ao passar de Jerusalém para Roma, são Paulo se tornou um grande personagem que realizou a ordem de Jesus em At 1,8. Nesta passagem final dos Atos ressoa com uma intensidade especial as linhas de força da teologia redacional que informa toda a obra de Lucas.

Em Roma (na sua primeira prisão), são Paulo estava hospedado em uma casa, numa prisão domiciliar sob vigilância. Mas para são Paulo esta casa particular é o lugar do anúncio do Reino de Deus. Ninguém impediu são Paulo de fazer o que sempre quis fazer: evangelizar, anunciar Cristo Jesus, o Ressuscitado. E agora precisamente no centro do império e do mundo: Roma. Ele é incansável apóstolo. A fé inabalável que ele tem em Jesus Cristo o move em todos os momentos e dá sentido a toda a sua atuação. Toda sua atuação tem sentido por causa de Jesus Cristo. Em nome de Jesus Cristo ele é capaz de fazer qualquer coisa, pois para ele Cristo é a razão de seu viver. “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim”, escreveu ele aos Gálatas (Gl 2,20). Por isso, quando se trata, não de direitos pessoais, mas da evangelização, da salvação das pessoas se defende com inteligência, para que a Palavra de Deus nunca fique acorrentada.

Também nós, no final do Tempo Pascal, e na véspera de receber novamente a graça do Espírito Santo na festa de Pentecostes, teríamos que aprender mais generosidade e decisão em nossa vida como cristãos, no seguimento de Jesus, o Ressuscitado.

Em certas ocasiões, podemos também nos sentir parcialmente constrangidos pela sociedade ou por suas leis, ou mal interpretados em nossas intenções. Mas se realmente cremos no Ressuscitado, que continua presente, e se confiamos no seu Espírito, que continua sendo vida, fogo, seiva e alegria da comunidade eclesial, a força da Páscoa deveria durar e ser notada ao longo do ano em nosso estilo de vida.

No Domingo de Pentecostes, no final da missa, o Círio será apagado e será guardado na sacristia e será usado apenas no momento de Batismo. Cristo Ressuscitado nos iluminou durante cinquenta dias do Tempo pascal para que sejamos, agora e em diante, reflexos do mesmo Cristo para os irmãos que ainda estão presos na sua escuridão da vida, numa vida sem sentido e sem rumo. Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).

Cada Cristão É Chamado a Seguir Os Passos Do Senhor Conforme a Vocação Recebida

Depois que deu a ordem a Pedro para apascentar as ovelhas do Senhor, Jesus acrescenta a seguinte frase: “Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais jovem, tu te cingias sozinho, e ias aonde querias; mas quando ficares velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te conduzirá aonde tu não queres” (Jo 21,18). 

As expressões usadas por Jesus aludem a uma morte de cruz, justamente aquela cruz que Pedro evitava em toda a sua existência e que era a causa da sua negação. Pedro estenderá as mãos sobre o patíbulo e, amarrado, será conduzido ao local de suplício. Mas essa morte não será o fracasso da existência, e sim o momento culminante dela, fruto de seu testemunho fiel ao mandato do Senhor, pois nela se manifestará a glória de Deus, que se torna visível no momento em que há o dom da própria vida pelos outros (“apascenta minhas ovelhas”).

Tendo dito isso, Jesus acrescenta: “Tu, segue-me!”. Terminamos o tempo pascal com o mesmo convite do Senhor dirigido a cada um de nós: “Tu, segue-me!”.

Neste fim da semana terminamos o tempo dos cinquenta dias da celebração gozosa da ressurreição do Senhor. Durante os cinquenta dias o Círio pascal, símbolo de Cristo, Luz do mundo é aceso nas celebrações. Na solenidade de Pentecostes, o Círio pascal será apagado no fim da missa e só ficará aceso novamente no batismo. Durante os cinqüenta dias Cristo Ressuscitado nos iluminou. Agora chegou nossa vez para sermos luz para o mundo (cf. Mt 5,14-16). A luz não é para ser olhada e sim para iluminar o caminho por onde devemos passar seguramente.

A primeira consequência da fé na ressurreição de Jesus é o começo de nossa missão, de nosso seguimento: “Tu, segue-me!”. É seguir tudo que Jesus ordenou a fazer (Mt 28,20). Seguir fielmente ao Senhor e viver conforme os ensinamentos do Senhor significa ganhar uma grande família aqui na terra baseada na fé e nos ensinamentos do Senhor, e ganhar uma grande família no céu cujo Deus é o Pai de todos e todos têm seu espaço, pois onde há amor, há espaço para todos, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8). “No mundo futuro receberá a vida eterna”. Seguir é caminhar. Seguir é buscar. Seguir é confiar. Seguir é porque conhecer. Seguir é perguntar. Seguir é ir atrás daquele que nos salva ou daquilo que é essencial para nossa vida e salvação. Seguir é não perder tempo para as coisas inúteis e não essenciais para nossa vida e convivência. Seguir é ser mártir do Senhor. Seguir é ser fiel ao Senhor.  Seguir é algo dinâmico. Se no seguimento houver uma parada é porque há algo errado na caminhada ou há alguém que nos desvia nossa atenção do seguimento. Seguir é o tempo de viver com sentido, pois, com a ressurreição do Senhor, a vida não acaba na história, mas permanece eternamente, pois o Deus em quem acreditamos é o Deus da vida e que esse Deus põe a vida onde o homem põe a morte e que a morte tem seu contrapeso: a ressurreição. É o tempo de começarmos a acreditar e a viver como pessoas ressuscitadas antecipadamente, pois o próprio Senhor nos garante: “Quem crê em mim ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). É o tempo de anunciarmos ao mundo o Evangelho de amor misericordioso de Deus por todos os seres humanos, o amor levado até a morte de Cristo na cruz. Quem vive no amor fraterno não pára de existir, pois o amor é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo 4,8.16). Jesus histórico não está presente fisicamente na história. No lugar dele está cada cristão. Cada cristão deve ser “sacramento” de Jesus na terra. Cada cristão deve servir como sinal ou seta que sempre aponta para Cristo.

Santo Agostinho comentou: “O Senhor, havendo prenunciado a Pedro com que morte daria glória a Deus, convida-o a seguilo; daí dito: Depois de assim ter falado, disse: ‘Segue-me’. Por que é dito ‘segue-me’ a Pedro, mas não aos demais presentes, que o seguiam como discípulos o Mestre? E se entendemos esse ‘segue-me’ em referência ao martírio, por acaso apenas Pedro o sofreu pela verdade de Cristo? Não estava entre eles Tiago, que se atesta ter sido morto por Herodes? Alguém, contudo, dirá que, como Tiago não foi crucificado, com razão ‘segue-me foi dirigido a Pedro, que conheceu não apenas a morte, mas assim como Cristo, a morte de cruz(Santo Agostinho: In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea Vol.4, Evangelho de São João, Ecclesiae, Campinas-SP, 2021 p.567s).

Aquilo que aguarda Pedro é a morte na cruz. Porém essa morte não será o fracasso da existência, e sim, o momento culminante dela, pois nela se manifestará a glória de Deus, que se torna visível no momento em que há o dom da própria vida pelos outros, a exemplo do próprio Senhor que disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). 

As leituras deste dia nos apresentam as conclusões do evangelho de João e do livro dos Atos dos Apóstolos. São conclusões abertas, isto é, os cristãos têm, daqui para a frente, a tarefa de continuarem o trabalho de evangelização.

A última passagem dos Atos dos Apóstolos que lemos hoje resume os dois anos que Paulo esteve em Roma em seu primeiro cativeiro. Ele se torna um prisioneiro, mas quando se trata de evangelização ele defende com inteligência para que a Palavra de Deus não fique encadeada. Ele pode ficar preso, mas jamais ele deixa a Palavra de Deus ficar presa. A fé inquebrável que tem em Jesus lhe move em todo momento e dá sentido a toda sua atuação. É um verdadeiro apostolo incansável. Através da Segunda Carta ao Timóteo ele nos dá o seguinte conselho: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra... (Por isso), proclama a Palavra, insiste, no tempo oportuno e no importuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina” (2Tm 3,16-17; 4,2). Não há tempo certo para evangelizar, tem que ser o tempo todo. São Filipe Neri dizia: “Se quisermos nos dedicar inteiramente ao nosso próximo, não devemos reservar a nós mesmos nem tempo nem espaço”. O cristão deve saber aproveitar cada momento para evangelizar, para partilhar o que é bom para os outros ao seu redor para que o número de pessoas de bem se multiplique.

E nos versículos anteriores do texto do evangelho lido neste dia, Pedro havia recebido uma insinuação de Jesus sobre o seu futuro pessoal: seria pelo martírio. A partir desta insinuação de Jesus, Pedro entrou em curiosidade para saber o futuro de João, seu companheiro: “Senhor, o que vai ser deste?”. Com isto Pedro caiu em tentação de saber do futuro dos demais, descuidando assim de seu papel de evangelizador. Quem fica olhando para a vida alheia acaba não cuidando da própria vida. 

Por isso, a resposta de Jesus a Pedro sobre o destino de João é sábia. Jesus não revela a Pedro o destino de João. Desta maneira, Pedro deve se preocupar com o amor, com o serviço, e com a ajuda diária que há que prestar para os irmãos sem saber o caminho que a história vai tomar. Viver no amor e por amor é a melhor maneira de viver na incerteza do tempo. Mario Quintana nos relembra: “Esta vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois nunca as nossas malas estão prontas. E a nossa conta nunca está em dia”.  A incerteza da história dá espaço para a certeza de Deus. Como diz a Carta aos Hebreus: “A fé é uma certeza a respeito do que não se vê” (11,1). 

Como Pedro, muitas vezes, nós caímos também na tentação de saber demais da vida alheia. Olharmos apenas para a vida alheia, acabaremos não cuidando de nossa própria vida. Uma curiosidade sem freio sempre termina no abismo, na destruição da própria vida e da vida alheia, na criação do ambiente pesado, na convivência de mútua suspeita. Quem fica curioso demais sobre a vida alheia é porque não está cuidando da própria vida. Em última análise, é porque a própria vida não está bem. Por isso, precisamos ouvir repetidas vezes o que o Senhor nos diz hoje: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Tu, segue-me” (Jo 21,22). Segundo Jesus, o discípulo amado não é menos discípulo nem menos seguidor de Jesus que Pedro. Há diferentes maneiras de seguir Jesus. Há várias vocações para viver os ensinamentos de Jesus. O importante é o imperativo de Jesus: “Tu, segue-me!”. O importante é seguir a Jesus vivendo seus ensinamentos. A maneira para segui-Lo pode ser diferente. 

Seguir Jesus é viver aquilo que Ele viveu e fazer aquilo que ele fez. Ele fez tudo com amor e por amor para que todos pudessem conviver na paz e na fraternidade e alcançar a salvação. Isto é a evangelização. O cristão não pode perder nenhum tempo para não enterrar nenhuma oportunidade. Quem não valorizar o tempo, vai enterrar muitas oportunidades na vida.  É preciso seguir a Jesus em todas as circunstâncias de nossa vida. É preciso amar e servir. O amor e o serviço são inseparáveis no seguimento. É necessário servir com amor e amar através do serviço. 

“Tu, segue-me!”. Esta frase é dirigida por Jesus a cada um de nós. A Igreja, que somos nós, tem obrigação de fazer Cristo próximo das pessoas. Por meio de cada cristão, de cada um de nós o mundo deve continuar a escutar Cristo. Através de cada um de nós Cristo deve continuar tocando a vida das pessoas ao nosso redor. Através de nós Cristo deve continuar a ser fonte da esperança para todos. Através de nós Cristo deve continuar a ser Pão da Vida. Através de nós Cristo deve continuar a ser a Luz que ilumina a mente e a vida das pessoas. Através de nós Cristo deve continuar a ser força capaz de carregar as cruzes de cada dia com uma certeza de que no fim a vitória está nos esperando.

Para isso, cada um de nós deve estar preparado para o contrário, pois muitos querem apagar a voz do enviado e querem acabar com a vida da testemunha de Cristo. Duas colunas da Igreja, Pedro e Paulo, foram martirizados em nome de Jesus e de seus ensinamentos. Não tenhamos medo, pois o Senhor quer que sejamos testemunhas de seu amor, de sua graça e de sua misericórdia. Tudo isso deve gerar uma autêntica conversão naqueles que escutam Cristo por meio de cada um de nós, em particular, e por meio da Igreja, em geral. “Tu, segue-me!”. 

“Jesus fez ainda muitas outras coisas, mas, se fossem escritas todas, penso que não caberiam no mundo os livros que deveriam ser escritos”, concluiu o autor do texto do evangelho de hoje. O evangelho de João parece como se não acabasse nunca. Há muitas coisas que, segundo o autor, não caberiam no seu evangelho. Quem sabe estas “muitas coisas” estão nós todos que cremos em Jesus Cristo depois de mais de dois mil anos, nós que éramos objetos da oração do Senhor na conclusão de seu discurso de despedida: Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra; para que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21); nós que celebramos na nossa história a Páscoa eterna de Jesus, a Páscoa que nos toca para vivermos com sentido, pois a vida venceu a morte através da ressurreição do Senhor; nós que celebramos estas sete semanas da Páscoa que concluíram com o dom maior do Ressuscitado: Seu Santo Espírito; nós que estamos intentando viver a vida cristã no amor fraterno e anunciar ao mundo que Cristo Jesus é quem dá sentido para toda a história e para nossa vida e por isso todos são chamados a crer n’Ele para que tenham vida em Seu nome (Jo 20,30-31); nós que nos deixamos levar pelo Espírito de Jesus para a verdade plena (Jo 16,13), para a verdade encarnada em cada geração.

P. Vitus Gustama,svd

21/05/2024-Terçaf Da VII Semana Comum

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