sexta-feira, 3 de maio de 2024

VI Domingo Da Páscoa "B",05/05/2024

AMAR O PRÓXIMO COMO JESUS NOS AMOU

VI Domingo Da Páscoa Ano “B”

Primeira Leitura: At 10,25-26.34-35.44-48

25 Quando Pedro estava para entrar em casa, Cornélio saiu-lhe ao encontro, caiu a seus pés e se prostrou. 26 Mas Pedro levantou-o, dizendo: "Levanta-te. Eu, também, sou apenas um homem". 34 Então, Pedro tomou a palavra e disse: "De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. 35 Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença". 44 Pedro estava ainda falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra. 45 Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre os pagãos. 46 Pois eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus em línguas estranhas. Então Pedro falou: 47 "Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo?" 48 E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Eles pediram, então, que Pedro ficasse alguns dias com eles.

Segunda Leitura: 1Jo 4,7-10

Caríssimos: 7 Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. 8 Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9 Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. 10 Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados.

Evangelho: Jo 15,9-17

Naquele tempo Jesus disse aos discípulos: 9“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos.14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que, então, pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

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O texto do evangelho de hoje se encontra no contexto do “discurso” da despedida de Jesus de seus discípulos (Jo 13,1-17,26). Como discurso de despedida, nele se encontram últimas lições de Jesus para seus discípulos que vão levar adiante a missão de Jesus.

No evangelho de hoje Jesus fala do mandamento de amor. Pela segunda vez encontramos este mandamento no evangelho de João (cf. Jo 13,34-35; 15,12-17). A repetição do mandamento de amor nos mostra aqui a importância da vivência do amor fraterno, pois o amor fraterno nos leva até o céu (1Cor 13,13). Viver o amor fraterno significa cumprir todas as leis (cf. Rm 13,10). Pelo caminho do amor não há outro caminho que possa nos levar à comunhão plena com Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

A comunicação e a circulação da vida divina, de que se falou no Domingo anterior (cf. Jo 15,1-8), através da imagem da verdadeira videira que é Cristo, e os ramos que são os que nele crêem, abre o caminho a uma comunicação e circulação do amor de que se fala no Evangelho deste Domingo. 

Jesus Nos Ama Com O Mesmo Amor Com Que O Pai Ama Jesus

Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo 15,9). É maravilhosa esta afirmação e é profundo seu conteúdo. O amor com que Jesus nos ama é o mesmo amor com que Ele é amado pelo Pai. A nossa união com Jesus é comparável à de Jesus com o Pai. Como cristão eu preciso viver esta verdade na minha vida cotidiana com muita alegria. Deus Pai ama o Filho incondicionalmente (cf. Mt 3,17; Mc 1,11; Lc 3,22). E Jesus nos ama da mesma maneira: incondicionalmente. Ao viver esta verdade nós não teremos mais medo de viver nossa vida e de encarar seus problemas, pois Jesus nos ama incondicionalmente até o fim. O amor nos tranquiliza, o amor nos dá segurança, o amor nos leva ao encontro do outro, o amor nos impulsiona para ajudar os outros na sua necessidade, e o amor nos leva até o céu (cf. Mt 25,34-40). Jesus nos ama condicionalmente para que nos amemos uns aos outros incondicionalmente (cf. Jo 15,12), pois nisto seremos reconhecidos como discípulos do Senhor (cf. Jo 13,35). O amor transforma qualquer um num verdadeiro seguidor de Cristo.

Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. Isto quer dizer também que o amor cristão nasce e começa em Deus. Originalmente é coisa de Deus e não nossa. A iniciativa é de Deus: “Amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Deus é amor (1Jo 4,8.16), origem e motor do amor. O Filho, Jesus, se origina do Pai num processo de amor que é o Espírito. Este amor em Deus é comunidade, Trindade. E este amor vai se manifestando na criação, na encarnação, na filiação, na amizade, na alegria definitiva do encontro derradeiro. Deus é sempre a origem e o término.

E o sinal mais evidente, a encarnação desse amor é Jesus: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16). Jesus é a medida do amor de Deus e o exemplo a seguir. Todas as palavras de Jesus, todas as obras de Jesus são manifestação do amor do Pai por nós todos. Jesus é o amor de Deus feito rosto humano. 

E este amor que nasce no Pai e passa por Jesus termina necessariamente nos irmãos. O amor cristão tem dois polos: Deus e os irmãos (o homem). Quem não ama o irmão, não conhece Deus, não conhece Jesus, não entendeu o que é a fé cristã. Sem amor a Deus e ao irmão, não há fé cristã. Amor cristão é, então, um amor circulante: o amor que vem do Pai para o Filho, Jesus e de Jesus para nós e de nós para os irmãos. 

Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. É maravilhoso o que Jesus nos diz hoje. Há alguém que me ama com o amor divino: Jesus Cristo. O amor com que Jesus me ama é o mesmo amor com que Ele é amado pelo Pai. Diante de Deus sou amado e sou amado eternamente, porque Aquele que me ama é eterno: “Eu te amei com amor eterno, por isso, conservei para ti o amor”, diz Deus através do profeta Jeremias (Jr 31,3). Posso estar rodeado pelas dificuldades ou problemas, mas eu sei que há alguém que me ama. A certeza desse amor eterno por mim me dá força para lutar e para melhorar minha vida. A certeza desse amor eterno me dá serenidade em tudo. De fato, eu não estou sozinho na minha luta de cada dia, pois há alguém que me ama: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. Na minha oração só posso dizer a Jesus: “Obrigado, Senhor Jesus, porque me ama eternamente”. 

Amar Como O Estilo De Vida Dos Cristãos

Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Este é o mandamento do Senhor! Mas não se trata de uma lei (nomos), e sim de um estilo de vida (entolé). Jesus quer que o amor mútuo (amor fraterno) entre os cristãos cujo modelo é o próprio Cristo (“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”) se torne um estilo de vida de cada dia para todos os cristãos. Através deste estilo de vida todos vão conhecer e reconhecer que os cristãos são realmente seguidores de Cristo rea (cf. Jo 13,35). 

Por Que Jesus Coloca O Amor Como O Maior Mandamento ou como estilo de vida para todos os cristãos? 

A resposta é simples: Porque “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16). Se Deus é amor, o maior mandamento não pode ser outro senão o próprio amor. Quando se fala de cristianismo fala-se do amor. Onde não existe o amor, lá não existe o cristianismo. Se alguém fala do cristianismo sem falar do amor, não é o verdadeiro cristianismo. “O amor é a alma da Bíblia, a força da profecia, a vida dos sacramentos, o fundamento da ciência, o fruto da fé e a vida dos moribundos” (Sto. Agostinho). Ele sozinho já seria capaz de manter a esperança no mundo, pois nele está a chave de tudo. Ele é a força que move o mundo. Compreendê-lo e vivê-lo será justamente alcançar o mistério do universo/criação, da encarnação e da redenção. E conseqüentemente, compreender e viver o amor significa encontrar a chave do sentido da vida e ao mesmo tempo chegar à fonte da vida que é Deus. O paraíso, então, está onde habita o amor. Se formos um dia condenados, não será por termos amado demais, mas por termos amado de menos. Por isso, o homem vive não quando respira, mas quando ama. Por isso também, o homem morre não quando deixa de viver, mas quando deixa de amar, pois Deus é amor (1Jo 4,8.16) e a vida (Jo 14,6). E ninguém é pobre quando sabe amar. Mas quando alguém não sabe amar, embora seja muito rico, ele é o mais pobre do mundo. 

O Próprio Jesus É O Modelo Da Vivência Do Amor 

No mandamento de amor, Jesus se põe a si mesmo como modelo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Ele se entregou pelos demais ao longo de sua vida até ao extremo: a morte na cruz: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). É o amor concreto. É amar em todos os momentos e para qualquer pessoa. É amar com o estilo da vida de Jesus. O viver de Cristo Jesus é amar. Ele ama até o fim (Jo 13,1). É amar não com palavras apenas, e sim com obras, com a compreensão, com a ajuda oportuna, com a palavra amável, com a tolerância, com o perdão, com a doação gratuita de si mesmo. O amor autêntico exige sempre o sacrifício e o total esquecimento de si. É amar por amor. São Bernardo afirma: “O amor basta por si só e por causa de si. Seu prêmio e seu mérito se identificam com ele mesmo. O amor não requer outro motivo fora de si mesmo. Amo porque amo; amo para amar”. 

Jesus quer que nos amemos uns aos outros ao estilo d´Ele. O ponto referência de nosso amor ao próximo é o amor com que Jesus ama as pessoas. É amar para salvar. Jesus nos ama porque somos bons e sim Ele nos ama para nos tornarmos cada vez mais bons. Do ponto de vista cristão a capacidade de viver o amor fraterno é o critério de maturidade cristã. Consequentemente, você vive não quando respira, mas quando ama.           

A suprema felicidade da vida é a certeza de que somos capazes de amar e somos amados. “Somente o amor não fica molestado pela felicidade alheia, pois não é invejoso. Somente ele não se deixa enfatuar na felicidade própria, pois não se incha de orgulho”(Sto. Agostinho).          

Por isso, à medida que a vida avança, o critério da maturidade real é a capacidade de amar. Quem ainda não é capaz de amar, com suas várias expressões como: respeito, atenção, agradecimento, perdão, paciência, solidariedade, sinceridade, justiça, fidelidade, misericórdia, ternura, sem discriminação (de cor , de raça ou de experiência acadêmica) etc., ele ainda não cresceu do ponto de vista cristão.          

Jesus fala de amor neste Evangelho numa relação de cadeia. É como uma fonte que vem do Pai, passa por Jesus, chega à comunidade, satisfaz nossas necessidades e deve ir aos outros. Por isso, Jesus diz: “Como meu Pai me amou, assim também eu amei vocês”. Por isso, “amem-se uns aos outros como eu amei vocês” (Jo 15,9.12). Naturalmente a iniciativa do amor vem do Pai, pois nele tem início: “Amamos porque Deus nos amou primeiro”(1Jo 4,19). A prática do amor (ágape) coloca o homem em total sintonia com a Caridade por excelência: Deus.  Fazemos parte do amor de Deus à medida que crescemos na relação amorosa com as pessoas, por meio da caridade, como diz São Paulo: “Permanecei em concórdia, vivei em paz e o Deus de amor e de paz estará convosco” (2Cor 13,11b). Amado, o homem existe e é amado que ele se afirma. Parece um paradoxo, mas é verdade profunda: para o homem, amar a Deus significa antes de tudo deixar-se amar por ele, porque amar a Deus nunca é iniciativa do homem, mas sempre reposta a um dom. É simples o raciocínio de Jesus: o Pai ama o Filho (Jesus) que observou sua vontade. Cristo amou os seus discípulos/seguidores, todos nós, com o mesmo amor que recebia do Pai e no qual os seus, por sua vez, podem permanecer em Jesus, observando o mandamento do amor de seu Mestre. Um pecador, um afastado de Deus, saberá que há um Deus que o busca e que lhe perdoa, se há um irmão que vai em busca dele, por ele se interessa e lhe perdoa em nome do Deus de amor. Um pobre, um doente, um ancião abandonado, descobrirá que há um Pai de amor para ele, se vir um irmão que, em nome de Cristo, a manifestação do amor infinito do Pai, se aproxima dele, divide com ele o seu pão e toma para si um pouco da tristeza dele. O amor de Deus em nós faz-nos solidários e responsáveis uns pelos outros.          

Mas de que amor Jesus fala quando diz: “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês”? O amor que Jesus quer colocar não é o amor puramente humano, passional e natural, mas o amor evangélico, ou caridade, ágape. O amor puramente humano, passional e natural é dominado por esta regra: “Como eu te amo, assim tu deves me amar”. No certo sentido, é mais um buscar que um dar. Dou para que tu me dês. O amor evangélico, chamado ágape ou caridade, quebra esse círculo vicioso que tão facilmente se torna egoísmo a dois. A fundamental regra para o amor evangélico é esta: “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês”. A retribuição que Jesus quer não é para ele: é para oferecer aos outros.  O amor, neste caso, não se estagna, mas circula perenemente e com ele circula a vida; um dom que se mantém pela transmissão, como o rio que permanece vivo fluindo. Jesus não pede tanto ser amado, mas sobretudo que seja acolhido o amor que desce dele e de seu Pai. Por isso, ele não nos diz: “Amem-me porque amei vocês”, mas “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês”. A retribuição que ele quer não é para ele: é para oferecer aos outros. É amando os irmãos que mostramos nossa gratidão pelo amor do Pai que se manifesta a nós em Jesus Cristo. Na expansão de seu amor, nos tornamos “aliados” de Deus e de Jesus. O amor é um testemunho indiscutível que define com quem se pode contar para fazer o bem, um testemunho que convence e conquista outros para fazer a mesma tarefa. . Por isso, o comentário que atrai sempre mais gente para o cristianismo é este: “Vejam como eles se amam”. A glória de Deus não aumenta quando nos prostramos tenebrosos diante da Sua majestade, mas sim quando fazemos com que sua ternura esteja presente no mundo, nas pessoas. Quem ama, mesmo sem ser batizado, tem em si a vida de Deus e por isso, é seu filho: “...todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama, não conheceu a Deus, pois Deus é Amor”(1Jo 4,7b-8). “...quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar...aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão” (1Jo 4,20b.21b).          

O amor é visível, circulante e motivo de alegria: “ Eu disse isso a vocês para que a minha alegria esteja em vocês e sua alegria seja plena”, diz Jesus. Aquele que é capaz de amar sempre tem uma vida alegre, um rosto feliz e sorridente naturalmente (não é um sorriso comercial). Ao contrário, aquele que guarda rancor ou mágoa ou não quer perdoar os outros, normalmente não tem uma vida feliz.          

Mas de que modo Jesus nos amou quando ele diz: “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês”? No centro da passagem, o versículo 13 nos responde: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. Amor é isto: querer o bem do outro e, por isso, fazer o sacrifício se for necessário. Jesus pode pedir tanto, porque foi isso mesmo que ele fez: ele amou os seus discípulos e os amou até o fim: até a morte na cruz (Jo 13,1). Só o amor justifica a cruz. A cruz é a manifestação do amor louco e apaixonado de Jesus por nós. Somente a partir do amor é que podemos entender o significado da cruz. Basta tirar o amor da cruz, ela (a cruz) se torna uma condenação.          

Se é uma doação total, o amor, então, começa com a superação do egoísmo, com o sair de si mesmo, de seus interesses e reivindicações, o abrir-se para o outro. Quando interiormente nos comprometemos com os outros, começamos a compreender. O egoísta não vai ao encontro, pode se camuflar em timidez ou se traduzir pelo comodismo, ou desinteresse. Egoísmo refinado é querer sempre “levar vantagem”. O egoísta se fecha sobre si mesmo, seus interesses mesquinhos, suas pequenas preocupações. Por isso, o egoísta é um infeliz. Ele não percebe que é justamente no entregar-se ao próximo que está o segredo infalível da felicidade.          

O verdadeiro amor é sempre como uma experiência de derrota que se transforma em vitória; uma experiência de entrega que se transforma em enriquecimento; uma experiência de sair de si que se transforma no mais profundo encontro consigo mesmo; uma experiência de morte que se transforma em vida. O ponto final do amor é a vitória sobre a morte. O ponto final do egoísmo é a morte; a ausência do amor; a ausência de Deus.          

Amor também é autocomunicação do bem, pois o amor é a presença do bem naquele que sabe amar. Amor é capacidade de sair de si mesmo, de transferir-se para outro ser, de participar de outro ser e de entregar-se por um outro ser. Aquele que ama está totalmente no outro, conservando sua identidade. O amor não pode realizar-se na esfera de um sujeito isolado.          

Jesus confiou a todos nós algo muito valioso que é o amor. Tendo nos comunicado o que precisamos saber, agora ele nos convida a agir de forma criativa, não como subalternos ou pessoas tristes que cumprem ordens, mas como sócios/amigos. ”Já não chamo vocês de servos porque o servo não sabe o que faz o senhor. Mas chamo vocês de amigos porque dei a vocês a conhecer tudo quanto ouvi do meu Pai” (Jo 15,15). 

Será Que Eu Sou Amigo De Jesus?          

Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.” (Jo 15,14-15) 

Eu vos chamo amigos”, diz o Senhor. Do ponto de vista humano, quem diz “amigo”, diz iguais. Além disso, a amizade pressupõe ser desinteressada. “Eu vos chamo amigos”, diz o Senhor. Isto significa que o discípulo, o cristão não é um simples subalterno. O cristão é um amigo pessoal de Jesus Cristo. O amigo não é um simples conhecido ou um sócio e sim alguém com quem se compartilha a intimidade, o mais profundo de nosso ser: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b). O amigo sempre está disposto a fazer o que o amigo lhe pedir: “Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,14). O amigo demonstra a verdade de seu amor estando disposto a entregar a própria vida se for necessário: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). Para Jesus a noção de amizade é muito profunda. 

Todos nós conhecemos algumas pessoas que são corretas, fazem tudo direitinho, mas parecem duras com os outros. São honestas, mas não parecem viver essa honestidade com compaixão e alegria. Cumprem seus deveres fielmente, mas fazem isso como quem carrega um peso, sempre de cara feia/triste, como se a vida fosse uma obrigação desagradável.         

Outras pessoas, porém, são acolhedoras, fazem a gente se sentir bem, prestam serviço com alegria. Conseguem nos passar amor à vida, ao próximo e a Deus sem fazer muito discurso. Seu serviço simples e alegre nos comunica que escolheram na vida um caminho que está valendo a pena.          

A prática do mandamento de amor não só nos torna uma só pessoa com Cristo, mas une também ao Pai. A glória do Pai não aumenta quando nos prostramos, temerosos, diante da sua infinita majestade, mas sim, quando fazemos com que seu amor esteja presente no mundo.          

Para podermos amar aos outros verdadeiramente devemos olhar sempre para Jesus Cristo, o modelo máximo de toda a caridade ou amor evangélico, pessoal e comunitário. Ele recebeu tudo do Pai(Mt 11,27), mas o que ele recebeu ele deu tudo para a vida do mundo., até mesmo a Sua carne. A eucaristia que celebramos é a memória viva deste amor evangélico, a tal ponto que o próprio termo “ágape” muito cedo significou para os cristãos a refeição eucarística da comunidade. Essa é a maior memória que possa existir do amor evangélico, visto que como hoje, ouvimos do próprio Jesus Cristo estas palavras: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”(Jo 15,13).        

Vamos nos perguntar: qual é a maior prova de amor que podemos dar? É justo querer dar a vida por Jesus sem entregar a vida pelos irmãos? Quais são as pessoas que ainda não amei bastante ou ainda não consegui perdoar? Vamos lembrar novamente a palavra do Senhor do domingo passado: “Sem mim nada podeis fazer. Comigo tudo é possível”. Será que contamos sempre com o Senhor ou só nos concentramos na nossa própria força por isso nos sentimos impotentes?

P. Vitus Gustama,svd

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