terça-feira, 31 de outubro de 2023

Dia De Finados, 02 de Novembro

DIA DE FINADOS

02 de Novembro

“Aqueles que nos deixaram não estão ausentes, e sim invisíveis. Têm seus olhos cheios de glória, fixos em nossos olhos cheios de lágrimas”

(Santo Agostinho) 

Neste dia dedicado à memória de todos os fiéis falecidos, a nossa memória dirige-se especialmente aos nossos conhecidos, amigos e familiares que deixaram este mundo. A sua morte nos faça sentir mais profundamente a precariedade da vida presente e nos leve a fazermos perguntas como estas: Onde estão os nossos mortos? Para onde a morte vai nos levar? Qual o significado da morte? A morte não será a última manifestação da “falta de sentido” da vida?

Nós, como cristãos, só podemos iluminar este carácter absurdo e misterioso da morte com a fé, com a luz que surge deste duplo acontecimento: Jesus morreu; Jesus voltou à vida, Jesus ressuscitou.

Em primeiro lugar, no plano da exemplaridade. A morte de Cristo é o modelo supremo da morte cristã. Jesus expirou realmente e o puseram em um sepulcro. Mas com a sua ressurreição, Cristo nos dá o sentido da morte. A exemplaridade tem dois aspectos principais: Cristo aceitou voluntariamente sua morte como prova de obediência amorosa à vontade do Pai; Jesus morreu pelos demais, por todos os homens, como culminação de uma vida totalmente entregue ao serviço dos demais. Por isso, em segundo lugar, para nós, com efeito, a morte de Cristo não é somente um exemplo e sim a causa real e eficaz de nossa salvação. Nossa esperança, portanto, é Jesus que vive agora. Aquele que morreu e foi sepultado recebe agora o título significativo de “Aquele que vive” (O Vivente), denominação que o AT reservava somente para Deus. Portanto, repetir hoje que Jesus Cristo é “Aquele que vive” é um pleno ato de fé n´Ele como Filho de Deus e Redentor nosso. A partir da fé não estamos indo para cemitério e sim para a casa do Pai celeste (cf. Jo 14,1-3)

Em segundo lugar, o Dia de Finados é o dia de saudade porque ele nos leva às nossas raízes familiares. Ele leva as pessoas à memória familiar. Cada um de nós sempre tem algum lugar especial no coração para a lembrança daqueles que conviveram conosco, mas partiram antes de nós. Por isso, neste dia as lágrimas rolam dos olhos espontaneamente. A lágrima é a única linguagem que é capaz de expressar toda a nossa emoção e todo o nosso sentimento. Neste dia, cada um leva as flores ao cemitério para enfeitar o túmulo do ente querido por um dia e acende umas velas. Levar flores aos túmulos é um rito muito significativo. Além de ser uma expressão de gratidão e de reconhecimento pelo que Deus realizou, por sua graça naqueles que nos precederam na fé, as flores simbolizam, principalmente, o jardim, o paraíso, a felicidade eterna, que todos desejam aos seus entes queridos, como também nós desejamos para nós mesmos que estamos peregrinando neste mundo.

Dia de Finados é o dia especial em que todos nós somos chamados a voltar para a raiz familiar. É o dia em que todos nós voltamos a sentir, de uma maneira especial, a presença de todos os membros de nossa família que já partiram. Por algum instante visitamos, na memória, o passado no qual convivíamos e que no presente estão ausentes fisicamente. É um dia de saudade dos que conviveram conosco, mas partiram antes de nós. É o dia de saudade porque quando a morte atinge nossos entes queridos, uma parte de nós se vai com eles. Nós nos unimos à sua entrega total e sabemos que também nós estamos partindo (morrendo). Algo de nós se vai para sempre quando uma pessoa amada morre.

A partir da morte percebemos que a vida é um mosaico de tempos diversos. Cada momento é assinalado por algo que se deixa ou por algo que se descobre. Cada momento comporta a separação daquilo que se era, para se aventurar em direção do que se pode vir a ser. Nesta dinâmica universal e constitutiva da vida, relação e separação, encontro e despedida, nascimento e morte, não se excluem, mas se atraem. A relação atrai a separação. O encontro atrai a despedida. O nascimento atrai a morte. Aquele que é capaz de acolher, saberá também se separar, assim como a separação é pré-requisito de qualquer encontro. Talvez na linguagem bíblica possamos dizer: “Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa de baixo do céu: tempo para nascer, e tempo para morrer... Tempo para chorar, e tempo para rir... Tempo para dar abraços, e tempo para afastar dos abraços” (Ecl 3,1-2.4.5b). Cedo ou tarde chegará o momento de dizer “adeus”: o amor ganha, então, as feições da dor. E repentinamente o passado reaparece com suas recordações, o presente se impregna de solidão e o futuro se desdenha repleto de incertezas para quem não se prepara e não sabe lidar com tudo isso. Um poeta espanhol escreveu: “Partiremos, quando nascermos, caminharemos enquanto vivermos, e chegaremos no momento em que morrermos”.

Em terceiro lugar, o Dia de Finados quer nos relembrar que a vida é sempre uma partida. Há uma partida para os olhos que se fecham, para os ouvidos que se cansam e para o corpo que envelhece.  A condição humana é ser passageiro, ser transitório, ser limitado. Estamos sempre na saudação dos que chegam, no nascimento, e da despedida dos que partem sem volta para este mundo fisicamente, na morte. Em tudo há um adeus. E ninguém tem poder de parar o tempo. Todo nascimento é uma referência existencial à morte que é seu termo. Em outras palavras, a chegada será sempre uma partida. Um encontro será sempre uma despedida. Em cada nascimento esconde-se a morte.

Em quarto lugar, a fé nos afirma que se a morte é a certeza, a imortalidade é a esperança. A teologia da esperança nos leva à verdade que nós existimos no mundo, mas acima do mundo, no tempo, mas acima do tempo. O nosso Credo termina com uma afirmação de esperança: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”. E o prefácio da missa destaca a crença cristã: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada...” Por isso, olhando para todos os túmulos, que possamos dizer: “Tudo isto vai ser vencido. Um dia, os túmulos se abrirão à voz de Deus. Mais do que para os cemitérios, caminhemos para Deus

A partir da teologia da esperança, o dia de finados é também, e principalmente, o dia da esperança. O filósofo Aristóteles chama a esperança como “sonho de quem está acordado”. De onde vem esta esperança? Ela vem das próprias palavras de Jesus Cristo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25) e da sua própria ressurreição: “Se Cristo não ressuscitasse seria vã a nossa pregação e seria vã a vossa fé” (1Cor 15,14). Por isso, crer em Jesus Cristo, o Ressuscitado, significa jamais parar de existir. A partir da ressurreição do Senhor em quem acreditamos, não vivemos mais para morrer e sim morremos para viver. A vida não mais pertence à morte e sim a morte pertence à vida. A vida é real, enquanto que a morte é passageira. Temos que abraçar o que é real, e largar o que é passageiro. Dizia muito bem Tertuliano, um dos padres da Igreja dos primeiros séculos: “A esperança cristã é a ressurreição dos mortos; tudo o que somos nós o somos enquanto acreditamos na ressurreição”. A ressurreição de Cristo coloca o ser humano na dimensão de salvação, anunciando que a vida é mais forte do que a morte, que a nova vida nasce da morte, assim como cada dia é precedido pela noite. 

Para nós que acreditamos no Deus da Vida a morte é o caminho que termina em Deus, de onde, um dia, saímos e um outro dia voltaremos. Isto significa que nós pertencemos ao Senhor: “Se vivemos, é para o Senhor, que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor(Rm 14,8). A vida que nos foi dada não pertence ao homem, mas a Deus.  Essa pertença a Deus é o que torna a vida algo sagrado. E para todos os homens, a vida temporal é dada como semente de vida eterna (cf. 1Cor 15,35-58). Por isso, morrer significa entregar totalmente a vida a Deus. O mesmo Senhor que nos criou por amor, nos acolhe também para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com Ele, para uma eternidade (cf. Jo 14,1-6). É uma partida com chegada definitiva. São Pedro expressa esta realidade nestas palavras: “Fugindo da corrupção, nos tornamos participantes da natureza divina(2Pd 1,4). Para nós, morrer é entregar a vida para Deus a exemplo de Jesus Cristo, que ao entregar a vida totalmente à vontade de Deus, ele experimentou a ressurreição. A ressurreição de Jesus é a mensagem mais clara sobre o futuro do homem (cf. 1Cor 15,12-19).

A Igreja sempre acredita na imortalidade da alma. Por isso, no Credo professamos: “Creio na comunhão dos santos... Creio na ressurreição da carne... Creio na ressurreição da carne...Creio na remissão dos pecados”. Este Credo se baseia sobre a ressurreição de Jesus. Até São Paulo chegou a dizer que se Cristo não ressuscitasse, seria vã a nossa pregação e seria vã também a nossa fé (cf. 1Cor 15,14). A ressurreição do Senhor vem nos dizer que o homem não nasce para morrer, mas nasce para ressuscitar, para viver. A vida não pertence à morte e sim a morte pertence à vida. Por isso, um cristão nunca morre, e sim ele nasce duas vezes: nasceu do ventre materno pela primeira vez e nasce para a vida eterna pela segunda vez. A morte é considerada como uma passagem para a vida. O destino do homem, então, não é o cemitério. Não estamos caminhando para o cemitério, mas para a Casa do Pai que está pronto para nos acolher e abraçar (cf. Jo 14,1-6).

E nós que ainda nos resta a vida, o que devemos fazer?

Em primeiro lugar, precisamos valorizar a presença, pois ela é um dom. Muitas vezes sentimos a importância de uma pessoa somente na sua ausência. Precisamos estar conscientes de que como é bom estarmos juntos enquanto for dado a nós o dom de convivência, pois vai chegar um dia em que seremos obrigados a viver de outra maneira.

Em segundo lugar, não precisamos acumular as flores para formar um dia uma coroa de flores para um caixão, pois uma flor oferecida para uma pessoa viva vale muito mais do que uma coroa de flores para um morto. Que a coroa de flores oferecida na morte de alguém represente todas as flores dadas durante a vida daquele que já se foi.

Em terceiro lugar, não precisamos esperar alguém morrer para elogiá-lo ou para falar de suas virtudes. É bom elogiarmos quem merece ser elogiado enquanto ele estiver convivendo conosco. Pois um elogio sincero dado para um vivo vale muito mais do que um elogio triste para um caixão. Perdoemo-nos mutuamente enquanto estivermos vivos, pois como é bom experimentarmos o que é que a ressurreição ou a libertação enquanto para nós é dado o dom de viver um pouco mais.

Em quarto lugar, como é triste morrer sem ter sabido viver e ao mesmo tempo como é triste viver sem aprender a morrer. Para vivermos melhor e com outra intensidade precisamos aprender a morrer. É o paradoxo da vida: para viver verdadeiramente precisamos aprender a morrer.

Precisamos aprender a morrer de nosso egoísmo, de nossa prepotência, de nosso rancor, de nossa falta de perdão, de nossa vingança, de nossa soberba que mata a caridade e a fraternidade, de nossa preguiça de rezar e de participar do banquete celeste aqui na terra que é a eucaristia. Em outras palavras, precisamos aprender a morrer de nossa morte para que possamos ressuscitar para uma vida com Deus.

Para olhar o mundo, a nós mesmos e todos os acontecimentos na plenitude da verdade não há ponto de observação melhor que o da morte. A partir dali tudo é visto em sua justa perspectiva. Visto a partir desse ponto, tudo ganha seu justo valor. Olhar a vida a partir da morte nos ajuda extraordinariamente a vivermos bem e a valorizarmos cada segundo de nossa vida. A morte nos impede que nos prendamos às coisas, e nos impede que fixemos aqui embaixo a morada de nosso coração esquecendo que “não temos aqui residência permanente” (cf. Hb 13,14). Não é a morte que é absurda, mas a vida sem a morte.

Neste Dia de Finados, cada ser humano, cada homem e cada mulher é convidado a considerar sua peregrinação terrena não como um fim em si, mas como caminho que guia à vida sem fim: a vida com Deus. Basta estar unido a Cristo, jamais ficaremos perdidos, poi Ele é o Caminho. Cada um de nós também é convidado a viver sua existência cotidiana como um mistério a ser descoberto e não apenas como um problema para ser resolvido. Quanto mais se mergulha no mistério da vida, mais se descobre o mistério do homem e o mistério de Deus.

Que os que nos precederam descansem em paz (RIP) e que nós, que ainda estamos peregrinando neste mundo, vivamos em paz para que possamos alcançar a morada eterna, a casa do Pai do céu. Assim seja.

P. Vitus Gustama,SVD

Para Refletir

Prefiro que partilhes comigo uns poucos minutos,

Agora que estou vivo,

E não uma noite inteira quando eu morrer.

Prefiro que apertes suavemente a minha mão,

Agora que estou vivo,

E não apóies o teu corpo sobre mim quando eu morrer.


Prefiro que faças uma só chamada,

Agora que estou vivo,

E não faças uma inesperada viagem, quando eu morrer.


Prefiro que me ofereças uma só flor,

Agora que estou vivo,

E não me envies um formoso ramo e uma coroa de flores

Quando eu morrer.

 

Prefiro que elevemos juntos ao céu um oração,

Agora que estou vivo,

E não uma oração poética quando eu morrer.

 

Prefiro que me digas umas palavras de alento,

Agora que estou vivo,

E não um dilacerante poema quando eu morrer.

 

Prefiro que um só acorde de guitarra,

Agora que estou vivo,

E não uma comovedora serenata quando eu morrer.

 

Prefiro que me dediques uma leve prece,

Agora que estou vivo,

E não um político epitáfio sobre minha tumba quando eu morrer.

 

Prefiro desfrutar de todos os mínimos detalhes do tempo de nossa convivência,

Agora que estou vivo,

E não de grandes manifestações quando eu morrer.

 

Prefiro escutar-te e ver-te um pouco nervos@

Dizendo o que sentes por mim,

Agora que estou vivo,

E não um grande lamento porque não o disseste no tempo certo, e agora estou mort@....

 

Aproveitemos a convivência fraterna e amorosa com os nossos seres queridos

Agora que estão entre nós...

Valorize as pessoas que estão à tua volta.

Ama-as, respeita-as e lembra-te delas,

Enquanto estão vivas.

Deus te abençoe!        

Pe. Vitus Gustama, SVD

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

01/11/2023-Quartaf Da XXX Semana Comum

FAZER-SE PEQUENO NO ESPIRITO DO SENHOR PARA TORNAR-SE DIANTE DE DEUS

Quarta-Feira da XXX Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 8,26-30

Irmãos, 26 também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27 E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. 28 Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29 Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, esses ele predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30 E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou.

Evangelho: Lc 13,22-30

Naquele tempo, 22 Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Jesus respondeu: 24 “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. 25 Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26 Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ 27 Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’ 28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. 29 Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30 E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.

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O Espirito Santo Nos Inspira e Nos intercede

O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis”.

A Primeira Leitura é tirada do capitulo oitavo da Carta de São Paulo ao Romanos. Este capítulo da Carta aos Romanos é seu momento culminante no qual encontramos uma profundidade teológica e espiritual. Segundo São Paulo, o destino que nos espera é otimista: “Deus predestinou (todos) a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos”. Mas há um protagonista importante que é algo mais do que jurídico ou meramente administrativo pelo fato de sermos batizados. É o Espirito de Deus quem nos ensina a rezar a Deus. Além disso, “é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis”, pois Ele nos conhece e conhece Deus em profundidade. Por isso, pode estabelecer a ponte tão admirável entre Deus e nós que se chama oração. Neste capítulo mais de vinte vezes aparece o Espírito Santo como fator decisivo na vida cristã. 

Consequentemente, a oração do cristão nada tem de superficial, mas se torna profunda, pois trata-se de confiança inabalável no Espirito de Deus. Na oração podemos apresentar a Deus as aspirações e necessidades de nossa existência e, ao mesmo tempo, nossa fé nos encoraja a esperarmos tudo de Deus e de sua graça. Qualquer resposta de Deus é sempre uma graça, pois o Espirito nos conhece e conhece a sabedoria ilimitada de Deus. Além disso, “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” para que mantenhamos nossa esperança em Deus. A certeza de nossa esperança em Deus nos faz suportarmos com paciência todos os sofrimentos e dificuldades encontradas nesta vida, pois no final Deus terá a última palavra sobre nós. 

Aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, esses ele predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos”, escreveu São Paulo aos Romanos que lemos na Primeira Leitura. Mesmo antes de nascer, os fieis se tornaram  objeto de amorosa eleição de Deus (predestinou). Os fieis são filhos de Deus por força do Espírito, que os conduz por entre os sofrimentos do tempo presente até a futura glorificação. Deus nos ama antes de nascermos para este mundo. o plano de Dues é a nossa salvação. Nossa meta na vida como cristaos é nada menos que ser “imagem do Filho” com tudo o que isso significa de união íntima com Deus e também de esperança otimista na vida. Como todos somos débeis, ai está o Espirito que intercede por nós. O Espírito nos faz dizermos “Abbá”, “Paizinho”, nos ensina e nos move a rezarmos. A afirmação de hoje é mais atrevida: é o Espirito quem ora dentro de nós “com gemidos inefáveis”, pois entra ativamente na dolorosa história da humanidade com a finalidade de sustentar e encaminhar a tensão cristãos. Apesar das vias crucis, o Espírito conduz  os fieis, abertos ao seu impulso, até a meta final da ressurreição. 

Portanto, reconhecendo nossa debilidade e fragilidade humanas estejamos sempre dispostos a nos deixar fortalecer e guiar pelo Esirito que Deus infundiu em nós. 

Fé e  Nosso Esforço Para Estar Em Comunhão Com Deus 

Continuamos a nos encontrar com Jesus no seu Caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Para Jesus, Jerusalém é o ponto culminante e a meta decisiva, seja pela cruz de morte e triunfo, seja pela ascensão de Jesus ao céu. Neste caminho Jesus vai dando suas últimas instruções ou lições para que os discípulos possam levar adiante os ensinamentos de Jesus. 

A lição dada aos discípulos nesta passagem é sobre o que e como o discípulo deve viver para merecer, pela misericórdia divina, a vida eterna (salvação). E para falar deste tema Lucas parte da pergunta de um anônimo (alguém) sobre a salvação. A pergunta desse anônimo é a pergunta de todos os que sabem que a vida tem o fim e por isso, todos os comportamentos ou modo de viver pesam para este fim. Interrogar-se pela salvação e desejar a vida eterna é interrogar-se pelo sentido da vida no presente: “Senhor, são poucos os que se salvarão?” (v.23).

Em vez de responder “quantos se salvarão” Jesus fala do “modo” como se salvar. Trata-se de um apelo urgente ao empenho: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (v.24).

A porta é Jesus: por meio dele todos os homens são salvos. Todos podem entrar inclusivo os desesperados, os impuros e os incuráveis. Não tenhamos medo de acreditar em Jesus, pois Ele é a porta para a salvação. Converter-se  significa aceitar viver da misericórdia de Deus.  É a morte do eu para viver de Deus e da sua graça. A viagem de Jesus para Jerusalém é uma viagem para a vida glorificada (ressurreição). Paraesta meta somos convidados.       

Esforçai-vos” (agonizesthi/agonizomai, de onde deriva a palavra “agonia”) é uma palavra que denota ação feita de todo o coração. É um termo técnico para competir nos jogos, e dele obtemos nossa palavra “agonizar”. Não se trata, por isso, de nenhum esforço desanimado. O caminho que conduz ao céu passa por uma luta intensa. Sobre esse empenho na luta São Paulo escreve: “Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado, como o reconheceste numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas(1Tm 6,12; cf. 2Tm 4,7-8). O Reino de Deus é exigente, não “se ganha” comodamente. Em outra ocasião Jesus chegou a dizer: “É mais fácil o camelo passar pelo fundo de uma agulha do que o rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10,25).          

A porta é estreita porque não há salvação sem esforço e sacrifício depois que o pecado se instalou no mundo. Não é Deus quem estreita a porta, é o clima de pecado presente nas relações humanas que vai exigir escolhas nem sempre fáceis no caminho da salvação. A expressão “porta estreita” quer nos dizer que o problema da salvação é uma questão de empenho, de esforço, de conversão e de testemunho. A porta da salvação é estreita, mas está aberta para todas as pessoas de boa vontade, pessoas que se esforçam para viver na fraternidade.    

Se a porta é estreita, então há uma só condição para entrar: tornar-se pequeno: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus(Mt 18,3-4).  Se a porta é estreita, então os “gordos” não conseguirão entrar. Não podemos ser discípulos de Jesus se não renunciarmos a ser grandes, poderosos, dominadores, arrogantes, prepotentes, donos da verdade. Pequeno é aquele que se sente extraviado, humilde e só pode apelar à misericórdia de Deus. Quem não assumir a atitude interior do pequeno, sejam quais forem as suas práticas religiosas, orações, catequese, sermões, até milagres (Mt 7,22), não conseguirá entrar.          

Não há pessoas recomendadas junto a Deus, nem privilegiadas que possam se gabar diante d’Ele com base em sua pertença étnica, cultural ou religiosa (v.28). Não basta freqüentar a Igreja assistindo ou participando da missa. A única condição para ser reconhecido pelo Senhor, para fazer parte da comunhão salvífica é a vivencia do amor fraterno. É viver como irmão dos outros e tratar ao outro como irmão. Para passar pela porta do Reino precisamos praticar a justiça. E a justiça, mais do que questão de direito, isto é, dar a cada um o que lhe pertence e respeitar os direitos e a dignidade de todos, é uma questão de amor. Quem ama, pratica a justiça. A maior de todas as injustiças é a falta de amor, pois outras injustiças são fruto da falta de amor. Para o evangelho deste dia a justiça é como um bilhete de passagem para entrar no Reino de Deus, pois o Reino de Deus é o Reino de amor e de justiça. 

No Sermão da Montanha Jesus nos avisou: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7,13-14). O Reino é aberto para todos, mas é exigente. Não se entra pela razão étnica ou pela associação a qual alguém pertence e sim pela resposta de fé que vivemos na convivência fraterna com os demais. O critério para entrar no Reino segundo o evangelho de Mateus é a caridade fraterna: dar de comer aos faminto e pobre, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os estrangeiros, visitar os doentes e os presos (cf. Mt 25,40.45). Daí se vê qual é o sentido da porta estreita do céu. A caridade fraterna é a que mais nos custa, mas nos faz entrar no céu, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). 

A afirmação de Jesus “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” é uma mensagem de ânimo e de esperança para todos nós e para as pessoas de boa vontade. A esperança não ignora as dificuldades e os riscos de fracasso ocasionalmente, mas ela os enfrenta. A esperança não quer saber quando ganhará, mas simplesmente está convencida da vitória final. Praticar a esperança em Deus é renunciar ao passado, às feridas, aos medos e à escuridão para deixar-se guiar pela luz divina da qual surge a abertura que permitirá o homem chegar a uma vida nova e renovada. Praticar a esperança é abrir nossas asas não para fugir, mas para ascender a espaços de qualidade superiores dos anteriores. Deus não nos inspira sonhos sem nos dar também a força de realizá-los: “Javé é o Deus que me cinge de força e torna perfeito o meu caminho” (Sl 18,33). 

Precisamos viver cada dia como se fosse o dia do juízo, e viver em plenitude cada dia como se fosse o último para nossa caminhada nesta terra. Pensar e viver desta maneira nos levam a melhorarmos nosso empenho, nossa convivência fraterna e a valorizarmos nosso tempo para fazer o bem. Na verdade ainda temos muita coisa para melhorar. É preciso que tratemos nossa vida com carinho, respeito e profundidade.

 

P. Vitus Gustama,svd

domingo, 29 de outubro de 2023

Solenidade De Todos Os Santos, 01/11/2023

Obs: Em alguns lugares a Solenidade de Todos Os Santos é celebrada no dia 1 de Novembro. No Brasil é celebrada no domingo.

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Primeira Leitura: Ap 7,2-4.9-14

Eu, João, 2vi um outro anjo, que subia do lado onde nasce o sol. Ele trazia a marca do Deus vivo e gritava, em alta voz, aos quatro anjos que tinham recebido o poder de danificar a terra e o mar, dizendo-lhes: 3“Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus”. 4Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: eram cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. 9Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. 10Todos proclamavam com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”. 11Todos os anjos estavam de pé, em volta do trono e dos Anciãos, e dos quatro Seres vivos, e prostravam-se, com o rosto por terra, diante do trono. E adoravam a Deus, dizendo: 12“Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém”. 13E um dos Anciãos falou comigo e perguntou: “Quem são esses vestidos com roupas brancas? De onde vieram?” 14Eu respondi: “Tu é que sabes, meu senhor”. E então ele me disse: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.

 Segunda Leitura: 1Jo 3,1-3

Caríssimos: 1Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai. 2Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. 3Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.

Evangelho: Mt 5,1-12

Naquele tempo, 1 vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4 Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim.  12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.          

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Neste dia celebramos a festa de todos os santos. O culto aos santos é a conseqüência de nosso Credo, conhecido como Símbolo Apostólico, onde professamos: “Creio... na comunhão dos santos...”. Esta pequena frase nos indica e afirma que a nossa relação com os santos é contínua porque acreditamos na não–interrupção da comunhão eclesiástica pela morte, e ao mesmo tempo acreditamos no fortalecimento da mútua comunicação dos bens espirituais (LG no 49; compare com Rm 8,38-39). A Igreja dos peregrinos (todos nós mortais na história) sempre teve e continua tendo perfeito conhecimento dessa comunhão reinante em todo Corpo Místico de Jesus Cristo que é a Igreja (LG 50). A Igreja venera os santos como exemplos, pois eles são reflexos da santidade de Deus; ele nos apontam para Deus. Eles contemplam tanto o Deus santo a ponto de transformá-los em verdadeiros reflexos do Deus santo. Os santos nos ensinam a trilharmos o caminho da santidade que termina na comunhão com Deus. O Culto aos santos une-nos a Igreja celestial, pois acreditamos na vida sem fim, na vida eterna.          

Os santos no Céu não se tornam uns egoístas que gozam a merecida felicidade. Como irmãos que nos precederam, eles ainda se lembram de nós, seus irmãos, como Cristo sempre se lembra de nós. Os santos no Céu e os cristãos na terra são uma família única. Assim como uma família, um irmão ajuda o outro irmão. Por isso é que pedimos a ajuda dos santos.

Escreveu o Papa Francisco: “Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantêm connosco laços de amor e comunhão. Atesta-o o livro do Apocalipse, quando fala dos mártires intercessores: ‘Vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam em alta voz: ‘Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro! Até quando esperarás para julgar?’ (6, 9-10). Podemos dizer que estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. (...) Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me” (Exortação Apostólica: Gaudete Et Exsultate n.4)

Se acreditamos na vida sem fim, então não há separação entre nós e os santos. Se houver o amor fraterno na nossa convivência na terra, haverá a comunhão fraterna no céu, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). o amor não pode morrer, poié o nome de Deus. Como irmãos nossos que nos precederam para a eternidade, sem dúvida nenhuma, eles continuam nos ajudando como eles nos ajudavam quando estavam conosco neste mundo.          

Entendemos aqui por “santostodos os que já estão no céu e vêem o próprio Deus face a face porque viveram a vida de acordo com os ensinamentos de Cristo que se resumem no amor a Deus e ao próximo. São aqueles que estão na paz e na felicidade suprema (GS 93); aqueles que estão na comunhão perpétua da incorruptível vida divina (GS 18). Esta vida perfeita chama-se “o Céu”. O Céu é, certamente, o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado supremo e definitivo de felicidade. O céu é o estado em que todos alcançam a maturidade no amor, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O Céu é o desejo de todos nós que estamos peregrinando ainda nesta terra. Participar da vida divina, a vida em sua plenitude, a vida cheia de amor é o que queremos todos os dias, tanto para nós e nossos familiares como para aqueles que nos precederam. Sobre o Céu, conforme as palavras de São Paulo, citando Is 64,4, podemos dizer de outra maneira: “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2,9). O céu é onde os cristãos e as pessoas de boa vontade se encontram com Cristo (cf. Jo 14,3; Mt 25,31-45). O céu é para as pessoas que vivem as atitudes básicas assinaladas pelas bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12). A única coisa que interessa a Deus é o nosso bem e o bem que praticamos em favos de nossos irmãos. 

O Papa Francisco escreveu na Exortação Apostólica: Gaudete Et Exultate sobre o que significa ser santo e que são os santos:

·      Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados. O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque ‘aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente’. O Senhor, na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo (n.6).

·      Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ‘ao pé da porta, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da ‘classe média da santidade’ (n.7).

·      Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais. (n.14).                     

Como filhos de Deus, também estamos conscientes de que Deus é o Único Santo e fonte de toda santidade. Por isso, conseqüentemente, Ele é o Único que faz santos os participantes em sua vida por fruírem de sua santidade, por cumprirem seus desígnios, por entrarem na esfera vital de seu reinado, por viverem os ensinamentos de Jesus Cristo na vida diária. A santidade é uma forma normal de viver conforme os ensinamentos de Cristo. Quando o homem já participa em plenitude da vida de Deus no Reino dos céus, então é santo por sua comunhão de vida com Deus, o Único Santo (cf. 1Jo 3,2).          

Sabemos também que somente Deus pode receber o verdadeiro culto de adoração.  Dá-se, porém, o culto de veneração aos servidores de Deus que já estão unidos a Ele plenamente na glória e pela comunhão que mantém conosco, nos atraem para Deus e nos ajudam a percorrermos o caminho que trilharam e que nos conduzem à meta na qual nos precederam. Eles são prova evidente do amor de Deus e neles Deus nos fala. Eles são reflexos da santidade de Deus. Quando veneramos os santos é porque descobrimos neles mais vivamente a presença e o rosto de Deus; neles se manifesta a imagem de Deus, o Único Santo.          

Por isso, o culto aos santos não rebaixa nem diminui a adoração a Deus, pelo contrário, enriquece-a intensamente porque nos aproxima mais da única santidade de Deus que devemos imitar pessoalmente como o fizeram homens como nós enquanto percorriam o mesmo caminho que estamos percorrendo.          

Do ponto de vista cristológico nós sabemos também que Cristo é o Santo de Deus (Mc 1,24). Ele é a imagem do Deus invisível (Cl 1,15). A santidade do homem consiste em sua perfeita união com Jesus (LG 50). A santidade cristã é uma forma normal de viver segundo os ensinamentos de Cristo. Os santos são santos porque imitaram e viveram os ensinamentos de Jesus, Senhor de todos os santos. Eles produziram em si mesmos, de forma significativa, o mistério pascal de Jesus. Eles contemplam Cristo profundamente e por isso, se tornam reflexos de Cristo para os outros. Por isso, a união com os santos e seu culto unem-nos a Jesus, de quem dimana toda a graça santificadora; eles são seus amigos e co-herdeiros. Enfatiza-se muito, por isso, esse valor cristológico do culto aos santos na celebração eucarística. 

É evidente que os santos, cuja festa celebramos neste dia, não são somente aqueles que estão na lista oficial da Igreja. O livro de Apocalipse (Ap 7,2-14) fala de um desfile de 144 mil servos de Deus no céu. 144 é um número simbólico (12 x 12) significa a unidade e totalidade do povo eleito. Entende-se, por isso, uma grande multidão de pessoas de todos os povos e religiões, culturas, de antes e depois de Cristo. Por isso, nunca podemos esquecer que há exemplos de santidade e heroísmo cristão em outras Igrejas, religiões, povos e culturas. Reconhecer essa presença é uma ajuda para superar os nossos seculares preconceitos e para acolher com alegria esses parceiros na construção do Reino de Deus ou do mundo mais fraterno.          

Quando nós veneramos os santos, portanto, não somos idólatras. Se nós admirarmos e louvarmos um quadro de valor, por acaso o pintor deste quadro se sentirá ofendido? Ao contrário, ele não ficará feliz? Os santos são as obras artísticas de Deus, Aquele que esculpiu e pintou o seu semblante na alma deles. Se admirarmos ou louvarmos os filhos, por acaso o pai se ofenderá? O pai não ficará feliz pela admiração dada aos seus filhos por outras pessoas? Os santos são os filhos prediletos do Senhor, aqueles que mais se lhe assemelham.          

Mas devemos reconhecer que há pessoas que amam o santo ou a santa, mas não a sua santidade. São muitos cristãos que recorrem aos santos somente para os interesses materiais ou só para alcançar determinada graça e não para pedir a graça de seguir o exemplo desses santos que viveram até o fim os ensinamentos de Jesus Cristo. Não podemos abusar dos santos só para atender nossos desejos materiais, esquecendo-nos de que precisamos seguir seus exemplos de santidade.  Devemos saber que não há devoção mais eficaz do que a imitação das virtudes dos santos. Para que, seguindo o exemplo dos santos que viveram segundo os ensinamentos de Cristo durante sua vida terrena, possamos também alcançar a santidade para a qual todos nós somos chamados.           

A vocação à santidade é universal. Todos são chamados à santidade, segundo diz S. Paulo: “Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (cf. 1Ts 4,3;Ef 1,4). E o fundamento de nossa santidade ou da nossa perfeição é Jesus Cristo, cumpridor fiel da vontade de Deus. Como dizia Santa Teresa do Menino Jesus: “...Quem aspira à santidade deve fugir à tentação de querer santificar-se ao seu modo, conforme a própria vontade, seu ponto de vista, seus planos humanos, mas entregar-se inteiramente à vontade de Deus. Deus traça o caminho e o homem deve segui-lo” (Fd.5-10). E na mesma perspectiva São João da Cruz ensinou: “A santidade, ou seja, a união autêntica com Deus consiste na total transformação de nossa vontade na vontade de Deus, de tal modo que, em nós, nada contrarie a vontade do Altíssimo, mas nossos atos dependem totalmente do beneplácito divino” (Subida I-II,2).          

Portanto, o culto verdadeiro de veneração que prestamos aos santos não deve terminar neles. Ao contrário, deve acabar em Cristo como fonte da missão, grandeza, dignidade e privilégios destes santos. Os santos nos ajudam a termos fé firme em Jesus Cristo, mesmo que nos encontremos numa situação sufocante.          

Os santos são um grande exemplo de santidade e de cumprimento da vontade de Deus para nós. Não pensemos que não podemos resistir às tentações. Também os santos tiveram carne e sangue como nós; experimentaram as tentações como as nossas tentações, contudo eles venceram. Basta ler a história da vida dos santos, como Santo Agostinho, São Francisco de Assis, São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila e muitos outros santos, saberemos as lutas sem tréguas deles contra as paixões desordenadas, contra as tentações e outros problemas, no entanto venceram. Apesar de tantas dificuldades, os santos viveram os ensinamentos de Cristo até o fim de sua vida. Se eles venceram, será que nós não podemos vencer também? 

Ser santo é viver com a pureza de coração sem segundas intenções, oferecendo sinceridade e confiança. Ser santo é ter confiança, esperança, alegria, porque Jesus está conosco. Ser santo é solidarizar-se com aqueles que sofrem para aliviar sua dor. Santo na perspectiva de Jesus é quem decide construir um mundo novo onde os homens se amam, se querem e se ajudam, onde não se recusam uns aos outros por sua cor, dinheiro, poder e assim por diante. Por isso, a santidade não é um modo excepcional de viver e sim a forma normal de ser cristãos.      

Por esta razão, a festa de Todos os Santos deve ser para nós a ocasião para perceber melhor a natureza profunda da santidade que recebemos no Batismo e que devemos fazer frutificar ao longo de nossa vida para que um dia possamos, pela misericórdia de Deus, estar na comunhão dos santos eternamente.        

Alcançar a santidade é descobrir o espírito da bem-aventurança e da paz que deve animar toda a existência. É buscar o bom sempre o bom, o certo, o justo, o verdadeiro, o honesto. É defender a bênção no meio das maldições. A santidade é a totalidade do espírito das bem-aventuranças que se lêem no evangelho deste dia. A totalidade é pobreza do espírito para que a graça de Deus possa ocupar o coração. A totalidade é mansidão, justiça, pureza, paz e misericórdia. É abertura e doação que tem como símbolo a confiança de uma criança.        

Santidade é plural no sentido de que cada um deve seguir a Cristo a partir de sua própria circunstância e dos talentos, a partir de sua nação e língua, nos dias felizes e quando a tribulação arranca lágrimas do coração, no silêncio de um convento ou na vertigem da cidade. “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3a).      

Pedimos a ajuda dos santos que viveram os ensinamentos de Cristo até o fim, para que possamos também viver segundo os ensinamentos de Cristo até o fim de nossa vida terrestre para que um dia, pela misericórdia de Deus, mereçamos ser chamados de santos para estar na comunhão de todos os santos de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

sábado, 28 de outubro de 2023

31/10/2023-Terçaf Da XXX Semana Comum

A PALAVRA DE DEUS TEM PODER DE TRANSFORMAR NOSSA VIDA

Terça-Feira da XXX Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 8,18-25

Irmãos, 18 eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós. 19 De fato, toda a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos de Deus. 20 Pois a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua livre vontade, mas por sua dependência daquele que a sujeitou; 21 também ela espera ser libertada da escravidão da corrupção e, assim, participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. 22 Com efeito, sabemos que toda a criação, até o tempo presente, está gemendo como que em dores de parto. 23 E não somente ela, mas nós também, que temos os primeiros frutos do Espírito, estamos interiormente gemendo, aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo. 24 Pois já fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo; como pode alguém esperar o que já vê? 25 Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança.

Evangelho: Lc 13,18-21

Naquele tempo, 18 Jesus dizia: “A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? 19 Ele é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”. 20 Jesus disse ainda: “Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? 21 Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”.

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A Vida Gloriosa Que Teremos Nos Leva a Viver Na Esperança

No texto da Primeira Leitura do dia anterior (Rm 8,12-17), São Paulo nos disse que o Espirito divino nos torna filhos e filhas de Deus em Jesus Cristo e nos capacita de chamar Deus de Abbá, Pai querido ou Papaizinho. Ser filhos e filhas de Deus estando aqui na Terra já é algo maravilhoso para nós. Eu não estou sozinho neste universo, pois sou filho (a) de Deus. Mas São Paulo não pára apenas nesta certeza. No texto da Primeira Leitura de hoje São Paulo nos apresenta uma pespectiva ainda otimista: a nossa filiação é destinada a uma plenitude muito maior do que imaginamos. A palavra “plenitude” evoca a perfeição na abundência.

O supremo objetivo da vida nova dos ressuscitados com Cristo é a glorificação com Cristo, apesar de os padecimentos se cruzarem com a vida do cristão no tempo presente. Mas os padecimentos do tempo presente não tem poder de bloquear a glorificação com Cristo. Ao falar dos padecimentos, são Paulo inclui qualquer obstáculo que possa impedir o cristão de alcançar a meta. As dificuldades são reaias, porém não são insuperáveis. Por isso, seguramente podemos viver na esperança.

Para são Paulo nossa esperança se apoia em quatro pilares. Primeiro, a esperança da mesma criação, que apesar de ter marca de pecado e de morte, está segura de participar na libertação universal. Segundo, o nosso próprio ser que não se resigna a uma destruição aniquiladora. Terceiro, o Espírito de Deus que ilumina e fortalece a prece cristã. E finalmente,  o Pai (Abbá) que nos prepara a vida glorificada, a plenitude.

Se somos destinados à plenitude, para a perfeição na abundância como filhos e filhas de Deus, logo estamos em estado de boa esperança. Nesta esperança estamos aguardando a manifestação completa de filhos e filhas de Deus na glória de Deus. A esperança faz com que as pessoas lutem até o fim por aquilo que almeja.  Por isso, logo no início da Primeira Leitura de hoje São Paulo afirma: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”.

São Paulo amplia ainda sua reflexão sobre a esperença. Segundo ele, não somente nós, mas toda a criação está em uma atitude de esperança alegre. De acordo com São Paulo, o cosmos está em gestão, num estado de boa esperança, grávida de vida: ”Sabemos que toda a criação, até o tempo presente, está gemendo como que em dores de parto”. Agora gememos como em dores de parto esperando o tempo para ser filhos e filhas de Deus em plenitude.

A imagem da Igreja, da humanidade e até de toda a natureza cósmica grávida, com dores de parto, esperando para iluminar um mundo novo, é uma imagem poderosa e ousada que São Paulo nos apresenta. Que visão tão dinâmica e comprometedora da vida cristã! Uma visão de marcha e de caminho, de crescimento e amadurecimento, de gestação de uma nova vida.

A partir dessa visão, que importância pode ter os sofrimentos e as provações no tempo presente? Saõ Paulo mesmo nos diz hoje: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. A vida gloriosa que teremos um dia tira o poder paralisador dos sofrimentos e das provações. A vida glorificada por Deus que experimentaremos nos dá força e perseverança para continuar a avançar no bem que devemos fazer. No âmago da nossa confiança naquilo que Deus nos promete encontramos a força para nos superar e enfrentar as provações. A promessa de Deus nos faz vivermos na perseverança, isto é, acreditar numa transformação possível, apesar das aparências contrárias. A promessa de Deus nos faz vivermos nossa fé profundamente. A verdadeira fé nos leva a nos libertar, a nos assumirmos e a nos manter de pé com determinação. Se não aprendermos a nos olhar a partir desta perspectiva, nós nos impediremos de ir cada vez mais longe, mesmo sendo apazes.

 O Salmo Responsorial de hoje (Sl 125) nos deixa contaminar de alegria: “Sim, maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria! ... encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções. Os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria”.

A Palavra De Deus Vivida Tem Poder De Transformar Nossa Vida

Continuamos acompanhando Jesus no seu caminho para Jerusalém, durante o qual escutamos Suas últimas e importantes lições para nossa vida como cristãos (Lc 9,51-19,28).

A passagem do evangelho de hoje fala de duas parábolas: a semente da mostarda e o fermento. As duas querem sublinhar claramente que a graça de Deus cresce em extensão (grão de mostarda) e em intensidade (fermento na massa). No entanto, elas não sublinham apenas sobre o crescimento, mas também sobre todo estado final que apontam para um valor escatológico. Elas servem, por isso, para animar qualquer cristão, qualquer comunidade para não desistirem em levar adiante a causa de Jesus apesar de se sentirem tão pequenos no meio dos “poderosos” deste mundo, pois no final Deus é quem tem a última palavra. Trata-se da Palavra da vida eterna (cf. Jo 6,68).

O Reino de Deus é como a semente de mostarda, que um homem pega e lançou no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos(Lc 13,19), assim Jesus disse-nos hoje.

Lançar semente à terra é um gesto absolutamente natural, apaixonante e misterioso. É um gesto de esperança e de aventura. Basta a semente estar na terra, começa, então, em segredo e em silêncio uma serie de maravilhas, pouco importa que o semeador se preocupe ou não com a semente. Cada semente lançada na terra surge a esperança no coração do semeador de ver a semente brotar e crescer em alguns dias. O semeador é aquele que crê na vida, que tem confiança no porvir. E ao ver a semente que se transformou em plantinha, a alegria inunda o coração do semeador a ponto de ele “conversar” com a plantinha quase diariamente. E com cuidado ele vai capinar ao redor dela para facilitar o crescimento saudável da plantinha a fim de ela dar bons frutos. O semeador é aquele semeia a mãos cheias para que a vida se multiplique que se transforma em alimento para cada família. O semeador é aquele que investe no porvir.

Jesus está consciente de estar fazendo isto: semear, lançar, esperar com paciência!  Ele empreende uma obra que tem porvir. Ele semeia a Palavra de Deus em cada coração. E aquele que escuta e se deixa guiar pela Palavra de Deus, vai produzir muitos bons frutos para a convivência fraterna.                 

A Palavra de Deus tem dentro de si uma força misteriosa que apesar dos obstáculos encontrados no seu caminho vai germinar e dar fruto. Com esta parábola Jesus quer sublinhar a força intrínseca da graça e da intervenção de Deus.                

O Reino de Deus é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”.

Ao falar da pequenez de uma semente como a de mostarda, Jesus quer nos convidar a rever os nossos critérios de atuação e a nossa forma de olhar o mundo e os nossos irmãos. Por vezes, naquilo que é pequeno, débil e aparentemente insignificante é que Deus se revela (cf. Mt 11,25-28). Deus está nos pequenos, nos humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e de ostentação; e é deles que Deus se serve para transformar o mundo.

O Reino de Deus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”, acrescentou Jesus.

Esta comparação tem em conta a potência de transformação do fermento apesar de sua invisibilidade: assim que o fermento se mistura com a massa, a massa se transforma em tamanho maior  para se transformar em pão para a mesa de cada família: os começos são modestos, mas o resultado final é surpreendente.

Através das duas parábolas, Jesus quer nos dar lição de que os meios podem ser muito pequenos, como a pequena semente de mostarda ou como o fermento, mas podem produzir frutos inesperados, não proporcionados nem a nossa organização nem a nossos métodos e instrumentos. A força da Palavra de Deus vem do próprio Deus e não de nossas técnicas. Quando em nossa vida há uma força interior, a eficácia do trabalho cresce notavelmente. Mas quando essa força interior é o amor que Deus nos tem, ou seu Espírito ou a Graça salvadora de Cristo ressuscitado, então, o Reino de Deus germina e cresce poderosamente. O que devemos fazer é colaborar com nossa liberdade. Mas o protagonista é Deus. Necessitamos trabalhar com o olhar posto em Deus, sem impaciência, sem exigir frutos a curto prazo, sem absolutizar nossos méritos, meios e técnicas e sem demasiado medo ao fracasso. Há que ter paciência como a tem o lavrador esperando a colheita.                 

O evangelho de hoje nos ajuda a entendermos como conduz Deus nossa história. Não teríamos que nos orgulhar nunca, como se o mundo se salvasse por nossas técnicas, métodos e esforços. Não podemos esquecer aquilo que São Paulo nos aconselhou: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho.  Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,6-11).                  

Os frutos da graça de Deus se produzem às ocultas, em pequenos gestos e projetos bem simples sem que ninguém se dê conta. Nossa tarefa é semear a bondade constantemente, catar um pedaço de felicidade diariamente para compartilhá-la com aqueles que não conseguiram catar nenhum pedaço. A fé vivida na obediência à vontade de Deus é capaz de operar uma transformação total da pessoa, uma reestruturação de todo o ser, como a semente que se transforma totalmente em uma planta. Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que atua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena. Não podemos deixar nenhum dia sem semear a bondade nos corações de pessoas.

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...