terça-feira, 3 de outubro de 2023

06/10/2023-Sextaf Da XXVI Semana Comum

SER CONVERTIDO DIARIEMANTE É SER FELIZ PERMANENTEMENTE

Sexta-Feira Da XXVI Semana Comum

Primeira Leitura: Baruc 1,15-22

15 Ao Senhor nosso Deus, cabe justiça; enquanto a nós, resta-nos corar de vergonha, como acontece no dia de hoje aos homens de Judá e aos habitantes de Jerusalém, 16 aos nossos reis, nossos príncipes e sacerdotes, aos nossos profetas e nossos antepassados: 17 pois pecamos diante do Senhor e lhe desobedecemos 18 e não ouvimos a voz do Senhor, nosso Deus, que nos exortava a viver de acordo com os mandamentos que ele pôs sob os nossos olhos. 19 Desde o dia em que o Senhor tirou nossos pais do Egito, até hoje, temos sido desobedientes ao Senhor nosso Deus, procedemos inconsideradamente, deixando de ouvir sua voz; 20 por isso perseguem-nos as calamidades e a maldição, que o Senhor nos lançou por meio de Moisés, seu servo, no dia em que tirou nossos pais do Egito, para nos dar uma terra que mana leite e mel, como de fato é hoje. 21 Mas não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus, como vem nas palavras dos profetas que ele nos enviou, 22 e entregamo-nos, cada qual, às inclinações do perverso coração, para servir a outros deuses e praticar o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus!

Evangelho: Lc 10,13-16

Naquele tempo, disse Jesus: 13 “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que foram feitos no vosso meio, há muito tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas. 14 Pois bem: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura do que vós. 15 Ai de ti, Cafarnaum! Serás elevada até o céu? Não, tu serás atirada no inferno. 16 Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”.

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Onde Deus For Expulso e Seus Mandamentos Não Forem Obedecidos o Mal Destruirá a Vida Do Povo

Não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus... e entregamo-nos, cada qual, às inclinações do perverso coração, para servir a outros deuses e praticar o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus! ... Ao Senhor nosso Deus, cabe justiça; enquanto a nós, resta-nos corar de vergonha, pois pecamos diante do Senhor e lhe desobedecemos e não ouvimos a voz do Senhor, nosso Deus, que nos exortava a viver de acordo com os mandamentos que ele pôs sob os nossos olhos” é a repreensão feita pelo profeta Baruc para o povo que desobedece aos mandamentos do Senhor que lemos no texto da Primeira Leitura.

Hoje (e seria também amanhã) lemos uma seleção do livro do profeta Baruc. Ele também é da época do desterro de Babilônia e da volta para Jerusalém. 

Baruc (“Baruk” em hebraico significa “abençoado”) é conhecido pela tradição judaica como discípulo e secretário do profeta Jeremias. Seu livro de cinco capítulos tem bastante inspiração do profeta Jeremias (cf. Jr 32,12; 36,4. O capítulo seis de Baruc não faz parte do escrito do profeta Baruc, segundo os especialistas, denominado como Carta de Jeremias). Baruc é um dos que reedificaram os muros de Jrusalém (Neemias 3,20). Este livro e outros da mesma época falam dos sentimentos do povo judeu diante da destruição de Jerusalém e da época do pós-exílio. Os que padeciam o desterro longe da pátria eram consolados com a promessa da restauração.

O pecado sempre nos afasta de nós mesmos, da convivência fraterna e de Deus. Ficamos desterrados, isto é, sem terra onde pisamos com firmeza. O mal não tem rosto porque ele pode tomar o ser de qualquer um de nós. Ninguém está isento da possibilidade do mal. O mal é tudo que serve à morte; tudo que sufoca a vida, estreita-a, e corta-a em pedaços. Por isso, a realidade do mal exige vigilância. As principais ameaças à nossa sobrevivência já não vêm da natureza externa e sim de nossa natureza humana interna. Uma bomba atômica ou biológica pode matar de uma vez uma multidão de pessoas. São nossas hostilidades, nosso descaso, o egoísmo, o orgulho/a arrogância, prepotência e a ignorância deliberada que põem o mundo em perigo. Se não conseguirmos domar e transmutar o potencial da alma humana para o mal, nós estaremos perdidos e faremos perdida até nossa própria família. A conversão deve ser diária.

No texto de hoje lemos a oração cheia de emoção e de humildade do profeta Baruc. Trata-se de uma oração patética na qual o povo reconhece sua responsabilidade pela situação de desastre e deportação que o povo está padecendo. Os orantes reconhecem sua culpabilidade por não ter escutado a Palavra de Deus. Destaca-se, nesta oração, a universalidade da culpa: todos os grupos do povo, começando pelos políticos e sacerdotes: “Não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus... e entregamo-nos, cada qual, às inclinações do perverso coração, para servir a outros deuses e praticar o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus!”.

Aqui o profeta Baruc faz um vínculo entre a desobediência aos mandamentos e os males que o povo padece no cativeiro de Babilônia.

Temos que aprender as lições que nos dá a história. Os períodos de decadência ética e moral de uma pessoas ou da Igreja ou de um país se deve seguramente a muitas causas. Uma delas é nossa própria negligência e nossa infidelidade aos valores humanos e cristãos. 

Uma família, uma comunidade, um país que não tem lugar para Deus, prepara o terreno ou espaço para a corrupção, a injustiça, a desigualdade, a agressão, a violência, a briga, a desunião, discórdia etc. Uma família/comunidade feliz com Deus nada mais é que o paraíso antecipado. É hora de voltarmos a viver os valores humanos e cristãos para que a felicidade seja nossa rotina. 

A Conversão É o Caminho Para Chegar à Felicidade

As cidades à beira do lago de Tiberíades (Corozaim/Corazim, Betsaida e Cafarnaum) tiveram mais ocasiões de ouvir Jesus e de presenciar os milagres operados por ele. Os milagres de Jesus são sinais que anunciam a chegada do Reino de Deus.  Os milagres são a assinatura de Deus sobre Sua existência. E a resposta do ser humano deve ser a conversão e a fé. No entanto, ninguém se converteu nessas três cidades. Continuavam a viver na injustiça e na arrogância/na soberba. 

Origem de todos os pecados é SOBERBA. O soberbo é aquele que tem um excesso de confiança em si mesmo, no que diz, no que faz, nas decisões que toma. Para o soberbo tudo que faz é perfeito, ele é perfeito, ele é Deus e faz tudo certo e nada nem ninguém podem falar algo contra. O excesso de confiança não dá margem para melhorar. O soberbo tem excesso do amor próprio, excesso de confiança em sua capacidade e por isso, não aceitam sugestões e orientações; excesso de confiança na maneira de pensar. O orgulho é como o mau hálito, todos percebem, exceto quem dele padece. 

A soberba humana construiu uma sociedade injusta que se resiste diante da mensagem libertadora de Deus. O soberbo ou o orgulhoso possui todos os vícios: egoísta, injusto, ingrato, imoral e fanfarrão. Como egoísta, ele sempre se coloca como centro de tudo. Como injusto, ele não quer reconhecer os direitos dos outros, somente seu próprio direito. Como ingrato, ele não permite compartilhar com os outros os seus merecimentos. Como imoral, ele não precisa respeitar moral alguma, mas ele impõe aos outros normas morais. Como fanfarrão, ele está sempre falando de si mesmo, atribuindo a si mesmo elogios por façanhas jamais realizadas. Santo Agostinho dizia: “A simulação de uma virtude é sacrilégio duplo: une à malícia a falsidade” (In ps. 63,12). O soberbo ou o orgulhoso é prepotente, insolente e violento.

Jesus não agüentou mais a dureza do coração dos habitantes das cidades citadas (Corozaim/Corazim, Betsaida e Cafarnaum), e por isso, pronunciou as maldiçoes. O que tem por trás dessas maldições é o convite de Jesus para a conversão. Converter-se significa deixar de praticar a injustiça e começar uma vida baseada na justiça; deixar de se vestir de orgulho para viver na humildade e simplicidade. A verdadeira conversão deve mudar a qualidade das relações humanas. Não pratiquemos a justiça para que sejamos perfeitos, mas para que nosso irmão, nosso próximo não seja tratado injustamente. Não procuremos protestar contra as injustiças sociais, se ignorarmos nossas injustiças pessoais. 

Às vezes a Palavra de Jesus é ameaçadora, porque a vida humana não é um “jogo”; é algo muito sério onde há lugar para o juízo de Deus: nossa vida cotidiana é uma correspondência a Deus ou é uma recusa a Deus. Em todo momento nossos atos são uma escolha pró ou contra Deus. Infelizmente nem sempre pensamos nisso. Em todo momento Deus quer algo de nós. E em todo momento podemos saber qual é a vontade de Deus sobre nós. Quando pensarmos realmente em Deus em todo momento, e não só em algum momento de nossa vida, poderemos viver com Ele em correspondência à Sua vontade e saberemos ser irmãos dos outros. 

As maldições pronunciadas por Jesus no evangelho de hoje são as terríveis advertências para os que se gloriam de ser cristãos, mas não vivem os ensinamentos de Jesus. Basta substituir o nome das cidades amaldiçoadas por seu nome e ouvir estas palavras atentamente, creio que, logo você dá a vontade de fazer o sinal da cruz e se benzer. E você diria: “Deus me livre!”. 

As ameaças pronunciadas por Jesus as três cidades devem ser escutadas hoje por todos nós. As riquezas espirituais, de nenhum modo constitui uma segurança para nós. Quanto mais abundantes são as graças recebidas, tanto mais há que fazê-las frutificar.

Hoje temos que avaliar nossa atitude diante do Reino de Deus. Também fomos eleitos pela graça de Deus. Não temos mérito algum para ser escolhidos. Porém temos que responder a este chamado de Deus com altura e com responsabilidade. É uma exigência e temos que cumpri-la. Não percamos o tempo nem as oportunidades que nos oferece a vida para que a soberania de Deus se torne uma realidade nos corações das pessoas. Quanto mais abundantes são as graças recebidas, tanto mais há que fazê-las frutificar. Não basta estender a mão para receber os dons de Deus. É necessário esforçar-se por viver conforme os dons recebidos para não nos tornarmos um terreno estéril neste mundo. 

Em nossa vida Deus continua fazendo milagres e continua falando em nosso coração, mas às vezes nossa resposta é a indiferença e continuamos com o coração endurecido como as pessoas de Corazim, Betsaida e Cafarnaum. Pode ser que Jesus no juízo final nos recuse porque nosso coração esteve sempre endurecido por nosso egoísmo e por nossa falta de amor (cf. Mt 7,21-23). Pior ainda, cremos que já temos solução, nos cremos salvos e convertidos definitivamente. A conversão é uma carreira inacabada. É um trabalho silencioso de cada dia. 

Precisamos estar conscientes de que é bem verdade que os defeitos dos outros são os nossos enxergados nos outros. Por isso, não julguemos que a conversão seja somente para os grandes pecadores. A conversão é para todos, pois o “homem velho” dentro de nós sempre se opõe permanentemente ao “homem novo” libertado por Cristo. Nunca somos convertidos definitivamente, pois o amor cristão é para ser vivido diariamente. Que quiser amar continuamente, deve se converter diariamente, pois o egoísmo, a soberba, a agressividade, a violência, a hipocrisia, a luxuria etc. não estão mortos, mas apenas estão adormecidos. Estejamos vigilantes. Seria muito perigoso não se converter diariamente, pois o pecado pode fazer seu ninho dentro de nosso coração. Santo Agostinho dizia: “Quem não reconhecer seus pecados ata-os às costas como uma mochila e põe em evidência os pecados dos outros. Não por diligência, mas por inveja. Acusando o próximo, procura esquecer a si mesmo” (In ps. 100,3). 

O Reino de Deus certamente começa em nós pela nossa conversão aos valores do Reino de Deus tais como à verdade, à veracidade, à honestidade, à justiça, à paz, à fraternidade, ao respeito pela vida e dignidade dos outros e assim por diante. No coração de cada cristão deve germinar a semente dos valores do Reino de Deus, porque do coração humano brota tudo o que é bom e mau que vemos no mundo. Temos que lutar contra a armadilha do velho egoísmo que quer perpetuar o desamor e a falta de respeito pela dignidade dos outros. Viver em estado permanente de conversão é a lei de crescimento.

P. Vitus Gustama,svd

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