segunda-feira, 30 de outubro de 2023

01/11/2023-Quartaf Da XXX Semana Comum

FAZER-SE PEQUENO NO ESPIRITO DO SENHOR PARA TORNAR-SE DIANTE DE DEUS

Quarta-Feira da XXX Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 8,26-30

Irmãos, 26 também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27 E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. 28 Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29 Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, esses ele predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30 E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou.

Evangelho: Lc 13,22-30

Naquele tempo, 22 Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Jesus respondeu: 24 “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. 25 Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26 Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ 27 Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’ 28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. 29 Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30 E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.

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O Espirito Santo Nos Inspira e Nos intercede

O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis”.

A Primeira Leitura é tirada do capitulo oitavo da Carta de São Paulo ao Romanos. Este capítulo da Carta aos Romanos é seu momento culminante no qual encontramos uma profundidade teológica e espiritual. Segundo São Paulo, o destino que nos espera é otimista: “Deus predestinou (todos) a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos”. Mas há um protagonista importante que é algo mais do que jurídico ou meramente administrativo pelo fato de sermos batizados. É o Espirito de Deus quem nos ensina a rezar a Deus. Além disso, “é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis”, pois Ele nos conhece e conhece Deus em profundidade. Por isso, pode estabelecer a ponte tão admirável entre Deus e nós que se chama oração. Neste capítulo mais de vinte vezes aparece o Espírito Santo como fator decisivo na vida cristã. 

Consequentemente, a oração do cristão nada tem de superficial, mas se torna profunda, pois trata-se de confiança inabalável no Espirito de Deus. Na oração podemos apresentar a Deus as aspirações e necessidades de nossa existência e, ao mesmo tempo, nossa fé nos encoraja a esperarmos tudo de Deus e de sua graça. Qualquer resposta de Deus é sempre uma graça, pois o Espirito nos conhece e conhece a sabedoria ilimitada de Deus. Além disso, “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” para que mantenhamos nossa esperança em Deus. A certeza de nossa esperança em Deus nos faz suportarmos com paciência todos os sofrimentos e dificuldades encontradas nesta vida, pois no final Deus terá a última palavra sobre nós. 

Aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, esses ele predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos”, escreveu São Paulo aos Romanos que lemos na Primeira Leitura. Mesmo antes de nascer, os fieis se tornaram  objeto de amorosa eleição de Deus (predestinou). Os fieis são filhos de Deus por força do Espírito, que os conduz por entre os sofrimentos do tempo presente até a futura glorificação. Deus nos ama antes de nascermos para este mundo. o plano de Dues é a nossa salvação. Nossa meta na vida como cristaos é nada menos que ser “imagem do Filho” com tudo o que isso significa de união íntima com Deus e também de esperança otimista na vida. Como todos somos débeis, ai está o Espirito que intercede por nós. O Espírito nos faz dizermos “Abbá”, “Paizinho”, nos ensina e nos move a rezarmos. A afirmação de hoje é mais atrevida: é o Espirito quem ora dentro de nós “com gemidos inefáveis”, pois entra ativamente na dolorosa história da humanidade com a finalidade de sustentar e encaminhar a tensão cristãos. Apesar das vias crucis, o Espírito conduz  os fieis, abertos ao seu impulso, até a meta final da ressurreição. 

Portanto, reconhecendo nossa debilidade e fragilidade humanas estejamos sempre dispostos a nos deixar fortalecer e guiar pelo Esirito que Deus infundiu em nós. 

Fé e  Nosso Esforço Para Estar Em Comunhão Com Deus 

Continuamos a nos encontrar com Jesus no seu Caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Para Jesus, Jerusalém é o ponto culminante e a meta decisiva, seja pela cruz de morte e triunfo, seja pela ascensão de Jesus ao céu. Neste caminho Jesus vai dando suas últimas instruções ou lições para que os discípulos possam levar adiante os ensinamentos de Jesus. 

A lição dada aos discípulos nesta passagem é sobre o que e como o discípulo deve viver para merecer, pela misericórdia divina, a vida eterna (salvação). E para falar deste tema Lucas parte da pergunta de um anônimo (alguém) sobre a salvação. A pergunta desse anônimo é a pergunta de todos os que sabem que a vida tem o fim e por isso, todos os comportamentos ou modo de viver pesam para este fim. Interrogar-se pela salvação e desejar a vida eterna é interrogar-se pelo sentido da vida no presente: “Senhor, são poucos os que se salvarão?” (v.23).

Em vez de responder “quantos se salvarão” Jesus fala do “modo” como se salvar. Trata-se de um apelo urgente ao empenho: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (v.24).

A porta é Jesus: por meio dele todos os homens são salvos. Todos podem entrar inclusivo os desesperados, os impuros e os incuráveis. Não tenhamos medo de acreditar em Jesus, pois Ele é a porta para a salvação. Converter-se  significa aceitar viver da misericórdia de Deus.  É a morte do eu para viver de Deus e da sua graça. A viagem de Jesus para Jerusalém é uma viagem para a vida glorificada (ressurreição). Paraesta meta somos convidados.       

Esforçai-vos” (agonizesthi/agonizomai, de onde deriva a palavra “agonia”) é uma palavra que denota ação feita de todo o coração. É um termo técnico para competir nos jogos, e dele obtemos nossa palavra “agonizar”. Não se trata, por isso, de nenhum esforço desanimado. O caminho que conduz ao céu passa por uma luta intensa. Sobre esse empenho na luta São Paulo escreve: “Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado, como o reconheceste numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas(1Tm 6,12; cf. 2Tm 4,7-8). O Reino de Deus é exigente, não “se ganha” comodamente. Em outra ocasião Jesus chegou a dizer: “É mais fácil o camelo passar pelo fundo de uma agulha do que o rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10,25).          

A porta é estreita porque não há salvação sem esforço e sacrifício depois que o pecado se instalou no mundo. Não é Deus quem estreita a porta, é o clima de pecado presente nas relações humanas que vai exigir escolhas nem sempre fáceis no caminho da salvação. A expressão “porta estreita” quer nos dizer que o problema da salvação é uma questão de empenho, de esforço, de conversão e de testemunho. A porta da salvação é estreita, mas está aberta para todas as pessoas de boa vontade, pessoas que se esforçam para viver na fraternidade.    

Se a porta é estreita, então há uma só condição para entrar: tornar-se pequeno: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus(Mt 18,3-4).  Se a porta é estreita, então os “gordos” não conseguirão entrar. Não podemos ser discípulos de Jesus se não renunciarmos a ser grandes, poderosos, dominadores, arrogantes, prepotentes, donos da verdade. Pequeno é aquele que se sente extraviado, humilde e só pode apelar à misericórdia de Deus. Quem não assumir a atitude interior do pequeno, sejam quais forem as suas práticas religiosas, orações, catequese, sermões, até milagres (Mt 7,22), não conseguirá entrar.          

Não há pessoas recomendadas junto a Deus, nem privilegiadas que possam se gabar diante d’Ele com base em sua pertença étnica, cultural ou religiosa (v.28). Não basta freqüentar a Igreja assistindo ou participando da missa. A única condição para ser reconhecido pelo Senhor, para fazer parte da comunhão salvífica é a vivencia do amor fraterno. É viver como irmão dos outros e tratar ao outro como irmão. Para passar pela porta do Reino precisamos praticar a justiça. E a justiça, mais do que questão de direito, isto é, dar a cada um o que lhe pertence e respeitar os direitos e a dignidade de todos, é uma questão de amor. Quem ama, pratica a justiça. A maior de todas as injustiças é a falta de amor, pois outras injustiças são fruto da falta de amor. Para o evangelho deste dia a justiça é como um bilhete de passagem para entrar no Reino de Deus, pois o Reino de Deus é o Reino de amor e de justiça. 

No Sermão da Montanha Jesus nos avisou: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7,13-14). O Reino é aberto para todos, mas é exigente. Não se entra pela razão étnica ou pela associação a qual alguém pertence e sim pela resposta de fé que vivemos na convivência fraterna com os demais. O critério para entrar no Reino segundo o evangelho de Mateus é a caridade fraterna: dar de comer aos faminto e pobre, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os estrangeiros, visitar os doentes e os presos (cf. Mt 25,40.45). Daí se vê qual é o sentido da porta estreita do céu. A caridade fraterna é a que mais nos custa, mas nos faz entrar no céu, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). 

A afirmação de Jesus “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” é uma mensagem de ânimo e de esperança para todos nós e para as pessoas de boa vontade. A esperança não ignora as dificuldades e os riscos de fracasso ocasionalmente, mas ela os enfrenta. A esperança não quer saber quando ganhará, mas simplesmente está convencida da vitória final. Praticar a esperança em Deus é renunciar ao passado, às feridas, aos medos e à escuridão para deixar-se guiar pela luz divina da qual surge a abertura que permitirá o homem chegar a uma vida nova e renovada. Praticar a esperança é abrir nossas asas não para fugir, mas para ascender a espaços de qualidade superiores dos anteriores. Deus não nos inspira sonhos sem nos dar também a força de realizá-los: “Javé é o Deus que me cinge de força e torna perfeito o meu caminho” (Sl 18,33). 

Precisamos viver cada dia como se fosse o dia do juízo, e viver em plenitude cada dia como se fosse o último para nossa caminhada nesta terra. Pensar e viver desta maneira nos levam a melhorarmos nosso empenho, nossa convivência fraterna e a valorizarmos nosso tempo para fazer o bem. Na verdade ainda temos muita coisa para melhorar. É preciso que tratemos nossa vida com carinho, respeito e profundidade.

 

P. Vitus Gustama,svd

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