segunda-feira, 2 de outubro de 2023

05/10/2023-Quintaf Da XXVI Semana Comum

SOMOS TODOS MISSIONÁRIOS DO SENHOR

Quinta-feira da XXVI Semana Comum

Primeira Leitura: Ne 8,1-4a.5-6.7b-12

Naqueles dias, 1 todo o povo se reuniu como um só homem na praça que fica defronte da porta das Águas, e pediu ao escriba Esdras que trouxesse o livro da Lei de Moisés, que o Senhor havia prescrito a Israel. 2 O sacerdote Esdras apresentou a Lei diante da assembleia de homens, de mulheres e de todos os que eram capazes de compreender. Era o primeiro dia do sétimo mês. 3 Assim, na praça que fica defronte da porta das Águas, Esdras fez a leitura do livro, desde o amanhecer até o meio-dia, na presença dos homens, das mulheres e de todos os que eram capazes de compreender. E todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei. 4ª Esdras, o escriba, estava de pé sobre um estrado de madeira, erguido para esse fim. 5 Estando num lugar mais alto, ele abriu o livro à vista de todo o povo. E, quando o abriu, todo o povo ficou de pé. 6 Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo respondeu, levantando as mãos: “Amém! Amém!” Depois inclinaram-se e prostraram-se diante do Senhor, com o rosto em terra. 7b Os levitas explicavam a Lei ao povo, e cada um ficou em seu lugar. 8 E leram clara e distintamente o livro da Lei de Deus e explicaram seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura. 9 O governador Neemias e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que instruíam o povo disseram a todos: “Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus! Não fiqueis tristes nem choreis”, pois todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei. 10 E Neemias disse-lhes: “Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força”. 11 E os levitas acalmavam todo o povo, dizendo: “Ficai tranquilos; hoje é um dia santo. Não vos aflijais!” 12 E todo o povo se retirou para comer e beber. Distribuíram também aos outros e expandiram-se em grande alegria, pois haviam entendido as palavras que lhes tinham sido explicadas.

Evangelho: Lc 10,1-12

Naquele tempo, 1 o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não leveis bolsa nem sacola nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9 curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’. 10 Mas, quando entrardes nu­ma cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: 11 ‘Até a poeira de vossa cidade que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!’ 12 Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade”.

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Voltar a Reconstruir a Vida Escutando Atentamente a Palavra de Deus

“Todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei... Depois inclinaram-se e prostraram-se diante do Senhor, com o rosto em terra... Todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei”, assim lemos na Primeira Leitura tirada do capítulo VIII do livro de Neemias. 

Neemias 8,1-12 é um dos textos mais importantes para conhecer a origem e desenvolvimentos do culto sinagogal do judaísmo.

Neemias, para reconstruir a comunidade e dar ao povo uma nova consciência moral e política, reúne a comunidade e chama Esdras para que proclame a Palavra da Lei. Nela o povo descobrirá suas relações com Deus.

A partir de um púlpito Esdras pronuncia a bênção inicial a que povo responde com um duplo “Amém” e uma série de gestos: ficar de pé, chorar, prostrar-se etc. A leitura é traduzida do hebraico para a língua falada pelo povo, o aramaico, e é comentada para o povo entender seu sentido. 

Essa leitura pública da Lei serve de prelúdio para a renovação da Aliança. A Lei é a recordação do encontro salvífico de Deus com seu povo. Essa leitura é para recordar o povo todo que o Senhor foi, é e será sempre seu Protetor, especialmente nos momentos difíceis. Graças à intervenção divina o povo eleito nunca foi abandonado. Por isso, como resposta, o povo deve corresponder sendo fiel a esta Lei. E a recordação da Lei e de seu significado provoca o pranto de um povo sem fé que se reconhece infiel a Deus e se compromete a ser fiel ao Senhor, seu Protetor. E termina com um banquete: “Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força”. 

A leitura pública da Lei (Palavra de Deus) marca uma data muito importante na história de Israel, pois até aquele momento, o povo vivia sua fé rezando, participando nas cerimônias do templo. O sacerdote Esdras entende que, daqui em diante, a comunidade se desenvolverá em torno da leitura, da meditação e da interpretação do Livro Sagrado: a Bíblia não estará guardada e sim que será livro de todos e a norma de sua fé. 

Daqui aprendemos que a fé cristã não ganha sua força na luta de cada dia sem partir da Palavra de Deus lida e escutada e meditada comunitariamente.  A Palavra de Deus proclamada diante da assembleia e aceita pela mesma, comentada depois, e interiorizada por cada um, leva à responsabilidade e à conversão de todos. A conversão é o primeiro passo para formar uma comunidade de irmãos. E aqueles que participarem de uma mesma Palavra, tomarão parte de um mesmo banquente para celebrar a festa da reconciliação. A reconciliação com Deus e com os irmãos e a aceitação da vontade de Deus implica necessariamente o amor entre os homens e a acolhida dos mais pobres aos quais Deus ama, como enfatiza a Primeira Leitura. 

Além disso, a Primeira Leitura que lemos hoje é uma página capital para entendermos o que é uma “liturgia da Palavra”. O primeiro elemento da liturgia é a assembleia. O culto verdadeiro não é, em primeiro lugar, o cumprimento de uns ritos e sim é uma comunidade reunida. A primeira exigência de uma liturgia é estar juntos, lado a lado diante de Deus como irmãos do mesmo Pai do céu. 

Fica para nós uma pergunta: Será que, ao escutar a Palavra de Deus nas nossas celebrações, sentimos tanta emoção como aconteceu com o povo eleito? Qual é o apelo de Deus para mim ao escutar a Palavra proclamada na liturgia? 

É Preciso Colaborar Na Missão Deixada Por Jesus a Partir De Nossas Carismas 

O evangelista Lucas, como Mateus, fala duas vezes sobre a missão. Logo se strata de um tema importante para a Igreja. No capítulo anterior do evangelho lido neste dia, lemos que a missão antes foi confiada aos Doze (Lc 9,1-6). Mas a obra de Jesus não está encerrada e não se restringe para um grupo pequeno. Realiza-se e expande-se através dos setenta (e dois). Com o número setenta (e dois) Lucas quer nos dizer que a missão não é apenas exercida por um pequeno grupo de pessoas, mas todos os que seguem a Jesus, todos os batizados têm a mesma missão de continuar a obra de Jesus. Todos os cristãos têm a mesma missão. Missão significa que alguém é enviado. Jesus envia todos os cristãos ao mundo para serem testemunhas de tudo o que Jesus fez e disse, especialmente de sua morte e ressurreição por amor à humanidade. Por isso, a missão dos discípulos tem como primeiro princípio ser testemunho do amor, do perdão, da justiça e da verdade, dentro e fora da comunidade. 

Jesus mandou seus discípulos para a missão como o Pai o mandou. O Pai é sempre fonte da missão, na sua misericórdia para todos os seus filhos. O Filho é o primeiro enviado, pois o conhece. Depois o Filho envia os discipulos para a missão. A missão nasce do amor do Pai para com todos os filhos e termina no amor dos filhos pelo Pai e entre eles. Por isso, a missão não tem nada a ver com o proselitismo. Quem conhece o coração do Pai é solícito para com todos os irmãos. 

Os discípulos são enviados como cordeiros entre os lobos. O lobo é o símbolo da violência e da arrogância, da vontade de dominar e de corromper os outros. O cordeiro simboliza a mansidão, a fraqueza, a fragilidade. O cordeiro só consegue se salvar da agressão do lobo se o pastor intervém na sua defesa. Os discípulos não podem contar com a força, o poder e a violência. Devem estar sempre desarmados. Para isso, é necessário que os discípulos estejam vigilantes para que eles não sejam conduzidos a cumprir as ações dos lobos como o abuso de poder, as agressões, as violências etc..  Jesus salvou o mundo, comportando-se como cordeiro, e não como lobo. 

Ao enviar 70 (e dois) discípulos para a missão Jesus dá as seguintes recomendações: 

Primeiro, Deus quer que mudem as relações entre os seres humanos; que todos se vejam como iguais e se tratem como irmãos, pois todos são filhos e filhas do mesmo Pai do céu. Por isso, eles têm que viver como uma família, sem competições e sem ambições. O Reino não é tarefa para gente solitária. Por isso, Jesus envia os 70 (e dois) de dois em dois para que se ajudem, se confrontem e se complementem. Quando se compartilhar o que se tem, haverá sobra. Esta é a experiência do grupo de Jesus e daqueles que querem ser discípulos de Jesus.

Segundo, o Reino de Deus que eles anunciarão vai vencer o mal e a morte, porque o Reino de Deus vai ter a última palavra e não o mal. Por isso, o mal não tem futuro. Deus quer que todos tenham vida (Jo 10,10). Por isso, todos têm que optar pela vida e não pela morte eterna, e pelo bem e não pelo mal. 

Terceiro, todos devem pôr toda sua confiança no Pai celeste, mas nos meios humanos. Isso é condição fundamental para quem quer colaborar com o Reino de Deus. É a pobreza no espírito. Essa pobreza no espírito lhes dará liberdade e será um testemunho maior do que mil palavras de que o Reino não se impõe pela força e sim que se oferece como amor e por isso, livre de todo poder. E devem aprender a reconstruir as relações de confiança formando uma comunidade de irmãos como o próprio Deus quer. Devemos abandonar nossos egoísmos, deixar a auto-suficiência e nos entregar nas mãos de Deus para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora. 

O fundamental que os discípulos devem ter em conta é que eles estão trabalhando na construção do Reino de Deus e não por seu próprio reino. Se cada um se preocupar em construir o próprio reino, haverá guerra permanente e disputa permanente, pois cada um quer defender o próprio reino e não o Reino de Deus. Quem tem consciência de que trabalha pelo Reino de Deus, também acredita na providência divina. Quem acredita somente na própria força e técnica, um dia vai se cansar quando as próprias forças se esgotarem. As ovelhas são do Senhor, temos tarefa de apascentá-los. A vinha é do Senhor, somos apenas colaboradores para essa vinha. 

O envio dos 70 (e dois) tem, então, como horizonte fundamental o Reino de Deus. Este constitui o conteúdo de toda pregação cristã e o horizonte que jamais devemos perder de vista quando referimos à ação da Igreja no mundo. A Igreja existe em função do Reino. A Igreja existe a serviço do Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus. 

A missão serve tanto para formar missionários como para despertar os que são visitados para serem também missionários. Todos são enviados para fazer missão e para tornar o outro missionário. 

É bom cada um perguntar-se: “O que é que tenho contribuído na missão do Reino de Deus? O que é que tenho feito até agora na evangelização? Qual é o lugar da Palavra de Deus na minha vida? Será que faço parte daqueles que criticam muito, mas nada colaboram?”. 

Para Refletir: 

·      A Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais. Ela não pode fechar-se frente àqueles que só vêem confusão, perigos e ameaças ou àqueles que pretendem cobrir a variedade e complexidade das situações com uma capa de ideologias gastas ou de agressões irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários. Isso não depende tanto de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem essa tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu Reino, protagonistas de uma vida nova para uma América Latina que deseja reconhecer-se com a luz e a força do Espírito” (Documento Aparecida da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, no. 11). 

·      “Cada comunidade é interpelada e convidada a assumir o mandato, confiado por Jesus aos Apóstolos, de ser suas «testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (At 1, 8); e isso, não como um aspecto secundário da vida cristã, mas um aspecto essencial: todos somos enviados pelas estradas do mundo para caminhar com os irmãos, professando e testemunhando a nossa fé em Cristo e fazendo-nos arautos do seu Evangelho. Convido os bispos, os presbíteros, os conselhos presbiterais e pastorais, cada pessoa e grupo responsável na Igreja a porem em relevo a dimensão missionária nos programas pastorais e formativos, sentindo que o próprio compromisso apostólico não é completo, se não incluir o propósito de «dar também testemunho perante as nações», perante todos os povos. Mas a missionariedade não é apenas uma dimensão programática na vida cristã; é também uma dimensão paradigmática, que diz respeito a todos os aspectos da vida cristã (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões de 2013).

P. Vitus Gustama,svd

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