quinta-feira, 30 de novembro de 2023

04/12/2023-Segundaf Da I Semana Do Advento

UM “PAGÃO” QUE CRÊ NA PALAVRA DEUS E AMA O PRÓXIMO

Segunda-Feira da I Semana do Advento

Primeira Leitura: Is 2,1-5

1 Visão de Isaías, filho de Amós, sobre Judá e Jerusalém. 2 Acontecerá nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, 3 para lá irão numerosos povos e dirão: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos”; porque de Sião provém a lei e de Jerusalém, a Palavra do Senhor. 4 Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate. 5 Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor.

Evangelho: Mt 8,5-11

Naquele tempo, 5quando Jesus entrou em Cafarnaum, um oficial romano aproximou-se dele, suplicando: 6“Senhor, o meu empregado está de cama, lá em casa, sofrendo terrivelmente com uma paralisia”. 7Jesus respondeu: “Vou curá-lo”. 8O oficial disse: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado. 9Pois eu também sou subordinado e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: ‘Vai! e ele vai; e a outro: ‘Vem!’ e ele vem; e digo a meu escravo: ‘Faze isto!, e ele o faz”. 10Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado, e disse aos que o seguiam: “Em verdade, vos digo: nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé. 11Eu vos digo: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa no Reino dos Céus, junto com Abraão, Isaac e Jacó”.

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Com a Presença Do Messias Esperado Na Nossa vida Todos Viverão Em Paz e Hamonia

“Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate. Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,4-5).

Começamos o Advento. Este Advento começou como um tempo de graça para todos, próximos e distantes. Deus quer salvar a todos, seja qual for o seu estado de espírito, a sua história pessoal ou comunitária, pois todos são filhos e filhas de Deus. No meio da confusão geral da sociedade, Deus quer guiar todos os homens de boa vontade e mostrar-lhes os caminhos da verdadeira salvação, e por isso o profeta Isaías nos convida: “deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5). A luz do Senhor se encarna no Messias esperado: Jesus Cristo. Ele é a luz do mundo (Jo 8,12). Precisamos nos aproximar da Luz verdadeira que não se apaga jamais(Jesus Cristo) para que nos tornemos luz para o mundo ao nosso redor (Mt 5,14-16).

Se em nossas vidas decidimos baixar nossas espadas, nossas lanças, nossas armas em geral, e não atacar ninguém, estamos testemunhando que os tempos messiânicos já chegaram; nossa arma maior é o amor fraterno: “Estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate” (Is 2,4). Bem-aventurados os que fazem a paz e o perdão. Aqueles que trabalham para que haja mais justiça neste mundo e sejam corrigidas as graves situações de injustiça, são os que melhor celebrarão o Advento. Não é que Jesus vá fazer milagres, mas seremos nós, seus seguidores, que trabalharemos para levar adiante seu programa de justiça e paz.

O mundo ideal do Reino messiânico de Isaías é um mundo no qual homem e natureza, afinal, vivem em paz (Shalom) e fraternidade; todos vivem na harmonia total em que um cuida do outro. Ninguém representa ameaça para o outro. Ninguém ataca ninguém. Todos se compreendem e se confraternizam com a presença do Messias esperado: “Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate” (Is 2,4). Por isso, o profeta Isaías lança o seguinte convite: “Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5).

Para descrever este mundo ideal, Isaías usa várias expressões no texto da Primeira Leitura: as espadas (espada fazia parte do equipamento normal do guerreiro) se transformam em arados (para cultivar a terra a fim de produzir alimentos); as lanças (uma arma mortal) se transformam em foices (instrumento para colher os frutos maduros que o homem plantou e cultivou). Todo um programa para hoje: derreter espadas e lanças, e forjar arados: o trabalho produtivo para fornecer o pão diário a tantos homens, mulheres e crianças famintos. O futuro da humanidade não está na guerra e sim em produzir alimentos para alimentar a humanidade. Quando todos vivem na abundância ou em suficiência materialmente, normalmente evitam-se as guerras. Quando todos abandonarem a ganância que exploram a humanidade, a humnaidade viverá em paz. Em qualquer guerra todos perdem, menos os que produzem e vendem as armas. Estes se enriquecem em cima do sangue de tantas vítimas de uma guerra.

Quando hoje somos convidados a comungar, podemos dizer com a mesma humilde confiança do centurião que não somos dignos de Cristo Jesus vir a nossa casa, e vamos pedir-lhe que nos prepare para que o seu Corpo e Sangue sejam verdadeiramente alimento de vida eterna para nós, e um Natal antecipado. Que Ele transforme nosso coração cheio de ódio, de vingança, coração de “espada” e de “lança” em coração que ame e alimente o próximo com aquilo que produzimos de bom.

A primeira semana do Advento nos oferece algumas leituras de Isaías, profeta da esperança no meio de uma história atormentada do povo de Israel, oito séculos antes de Cristo. Suas passagens serão anúncios de esperança, de salvação, de um futuro mais otimista para o resto de Israel, para outros povos e até para todo o cosmos. O profeta, que vê a história com os olhos de Deus, anuncia luz e salvação para todos os povos. Jerusalém será como o farol que ilumina todos os povos. Um farol situado no alto de uma montanha, para todos verem de longe. Deus quer ensinar daqui os seus caminhos, e os povos se sentirão felizes e dispostos a seguir os caminhos de Deus, a palavra salvadora que brotará de Jerusalém. Tanto judeus como pagãos "andarão na luz do Senhor" e formarão um só povo. Os milagres de Jesus são sinais de que o Reino de Deus já está surgindo. O que o profeta havia anunciado, Jesus cumpre. Ele é a verdadeira Luz (Jo 8,12), a descendência que o povo de Israel esperava, o Messias que traz paz e serenidade, a Palavra eficaz e salvadora que Deus dirige à humanidade.

Nestes dias, a Igreja nos propõe a meditação das “profecias” do profeta Isaias. Isaias nasceu em Jerusalém por volta de 765 antes de Cristo (“Isaias”, hebraico: “salvação de Deus” ou “Javé é a salvação”). Com a idade de 25 anos, teve uma visão de Deus (cf. Is 6,1-8). A visão de Deus transformou Isaías em um servo do Senhor com uma mensagem única cheia de esperança. A partir daquele momento devotou-se à vocação da profecia. Isaías ministrou ao povo de Deus durante uma época de grande instabilidade política (740 a 686 a.C). Seu ministério está dividido em cinco períodos pelos quais podemos entender a linguagem do profeta:

·      O período da crítica social (Is 1-5): nos anos 740-734 a.C.

·      O período da guerra siro- efraimita (Is 7-9): nos anos 734-732 a.C

·      O período da rebelião anti-Assíria (Is 10-23): nos anos 713-711 a.C

·      O período da anti-Assíria e do cerco de Jerusalém (Is 28-32; 36-39): nos anos 705-701 a.C

·      O período dos últimos dias de Ezequias e possivelmente início do reinado de Manassés (Is 56-66): nos anos 701-686 a.C.

Esses períodos correspondem aos reis mencionados na introdução: “Profecia de Isaías, filho de Amós, a respeito de Judá e Jerusalém no tempo de Ozias, de Joatão, de Acaz e de Ezequias, rei de Judá" (Is 1,1).

Isaías era um pregador extremamente talentoso, que empregava plenamente toda a riqueza da língua hebraica, um profeta cheio de esperança. Sua profecia não foi escrita para que se concordasse com ela e sim para gerar uma resposta. O piedoso respondia com temor e adoração, mas o ímpio endurecia o coração contra o Senhor.

O profeta Isaías é uma das grandes testemunhas da espera messiânica. Vivia oito séculos antes de Jesus. Morava em Jerusalém, a capital de Judá. Ele viu o Reino do Norte, Samaria, desmoronar sob os golpes dos Assírios, e ele sente a mesma ameaça para o Reino do Sul. Além disso, Jerusalém, a capital, deixou de praticar a justiça e o direito (Is 1,21), e consequentemente, havia muitos assassinos.  Os chefes se tornaram ladrões, corruptos, gananciosos e violentos. Como consequência disso, os pobres, as viúvas e os órfãos viviam sem defesa e sem segurança e eram humilhados (Is 1,23). Onde reina a corrupção e a injustiça social, ali haverá a violência e assassinato. E os pobres sofrem as consequências.

É assim no contexto histórico de uma catástrofe iminente quando o profeta anuncia a esperança de um Messias que trará a paz. Esse Messias é chamado “Emanuel” que significa “Deus conosco” (Is 7,14). Quem está com Deus são aqueles que obedecem à sua Palavra e que confiam na presença libertadora de Deus.

Um “Pagão” Que Nos Ensina No Força Poderosa Da Palavra De Deus

Segundo Mateus, o primeiro milagre operado por Jesus (a cura do leproso) foi para um membro do povo de Deus (cf. Mt 8,1-4). O segundo milagre foi em favor de um pagão. Tudo é um programa. O movimento missionário da Igreja já está presente nesse segundo milagre. A salvação de Deus não está reservada para uns poucos. Deus ama a todos os homens. O amor de Deus rompe as barreiras que levantamos entre nós. Jesus fez seu segundo milagre em favor de um oficial romano, em favor de um pagão, pois ele amava o próximo. Os romanos eram mal vistos pela população, pois ocupavam a Palestina.            

Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um oficial romano aproximou-se dele, suplicando: ‘Senhor, meu empregado está de cama, paralitico!’”Um oficial romano!”. “Um estrangeiro!”. Um estrangeiro, mais ainda um romano (poder romano), não pertence ao Povo eleito. Por ser estrangeiro, ele é impuro na concepção do Povo eleito e não pode tocar nele para não ficar impuro. Por ser impuro não pode receber as bênçãos do Senhor. Mas será mesmo que ele é impuro? O evangelista Mateus quer superar essa mentalidade separatista e discriminatória ao colocar, no seu evangelho, a história de um oficial romano cujo coração está cheio de amor para com o próximo. 

O oficial romano do qual fala o evangelho deste dia demonstra sua grande bondade para com o próximo, para com seu empregado/escravo, apesar de não pertencer ao Povo de Israel. Sua sensibilidade humana ou sua humanidade é tão alta a ponto de ele se preocupar com seu escravo (empregado). Ele trata seu escravo como se fosse membro de sua família.  Ele não manda nenhum subordinado para procurar Jesus, mas é ele próprio quem se aproxima de Jesus para pedir a ajuda (cura) em favor do seu escravo/empregado. É um patrão exemplar! É um oficial extraordinário. É um líder que ama. Um líder que ama, é respeitado. Um líder temido, geralmente, não é respeitado.             

Ao atender esse oficial “pagão” Jesus quer nos mostrar que ele não aceita nossas divisões, nem nossos racismos nem nossas discriminações. O coração de cada seguidor de Jesus deve ser universal e missionário, como o próprio coração de seu Mestre, Jesus Cristo.                           

É impressionante também a profunda humildade desse oficial ao dizer a Jesus: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado”. Este oficial “pagão” é muito consciente da lei judaica a respeito dos pagãos. Ele não quer pôr Jesus em uma situação de “impureza legal”. Por isso, ele quer evitar que Jesus entre em sua casa. “Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado “, diz o oficial a Jesus. Ele respeito os costumes do povo local. Mas também este homem valoriza e acredita no poder da Palavra de Jesus, porque ele sabe que a Palavra de Jesus está cheia de autoridade e de poder, pois Jesus é a própria Palavra de Deus (cf. Jo 1,1.14). Por acreditar no poder da Palavra de Deus em Jesus, o oficial simplesmente disse a Jesus: “Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado!”. O próprio oficial também vive da palavra e usa as palavras para comandar seus soldados. Uma vez ele diz uma palavra dirigida aos soldados, eles logo tornam a palavra uma realidade: “Pois eu também sou subordinado e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: ‘Vai! e ele vai; e a outro: ‘Vem!, e ele vem; e digo a meu escravo: ‘Faze isto!, e ele o faz”.             

Jesus elogia esse homem porque acredita no poder da palavra de Jesus: “Em verdade, vos digo: em ninguém em Israel encontrei tanta fé”. É a fé de quem se considera pagão. Mas se comporta como um verdadeiro cristão. Jesus elogia quem acredita no poder de Sua palavra.             

Jesus põe em contraste a incredulidade dos seus contemporâneos com a fé do pagão: “Em verdade, vos digo: em ninguém de Israel encontrei tanta fé”. A fé que Jesus exige é um impulso de confiança e de abandono pelo qual o homem renuncia a apoiar-se em seus pensamentos e em suas forças para abandonar-se à Palavra divina e ao poder d’Aquele em quem o homem deve acreditar. 

O oficial romano não pertence a uma Igreja ou a uma religião, oficialmente, porém se comporta como um verdadeiro homem de Deus. É um verdadeiro e autêntico cristão. Podemos encontrar os cristãos em qualquer religião, crença ou grupo “Vós os reconhecereis pelos seus frutos” (Mt 7, 16.20). Com efeito, o paganismo não depende da pertença ou não a uma religião. O paganismo depende do modo de viver e de se comportar para com os demais homens. Por causa do modo de viver há cristãos- pagãos como há também pagãos- cristãos. Um cristão pode ser um pagão por causa do seu modo de viver não-cristão. E aquele que se diz pagão pode ser um verdadeiro cristão se comportar-se como o oficial romano que se preocupa com o bem do outro. 

Senhor, meu empregado está de cama, paralitico”. A oração desse homem serve de exemplo para nós. Ele expõe simplesmente a situação; descreve a doença. E o mais notável é que ele pede em favor do outro, de seu empregado. É uma oração de intercessão. Será que eu rezo somente por mim mesmo, somente pela minha família? Será que tem lugar na minha vida uma oração de intercessão? 

Antes de receber o Corpo do Senhor na comunhão, repetimos a frase desse oficial romano: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha morada. Dize uma só palavra, serei salvo”. A Eucaristia quer curar nossas debilidades. O próprio Senhor Jesus se faz nosso alimento e nos comunica sua vida: “O Pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo. Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (Jo 6, 51.54). Em cada verdadeira Comunhão do Corpo do Senhor acontece uma verdadeira transfusão de vida: a vida de Jesus passa a ser a vida de quem a recebe na comunhão. Quando isso acontecer, será cumprido tudo aquilo que São Paulo escreveu: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). 

Podemos também pedir a Jesus da seguinte maneira: “Senhor Jesus, mesmo que eu não seja digno de recebê-Lo na minha vida, na minha família, mas pode entrar para que minha vida, minha família seja digna de receber sua bênção. Se em Belém o Senhor não encontrava nenhum abrigo para seu nascimento, entre na minha família e renasça entre nós para que minha família esteja cheia de luz para depois irradiá-la para os demais. 

Jesus não encontrou a fé naqueles que se acham “crentes”. “Em verdade, Eu vos digo: em ninguém em Israel encontrei tanta fé”. Ele encontrou a fé naquele é considerado “pagão”. Será que o Senhor encontrou a fé em mim ou apenas naqueles que não pertencem a nenhuma Igreja, porém acreditam? Será que o Senhor encontrou o amor em mim ou somente naqueles que não frequentam Igreja nenhuma? Será que sou um cristão-ateu cujo coração está vazio de amor? Será que acredito no poder da Palavra de Deus ou vivo como um verdadeiro pagão? Existe cristão-pagão como existe também pagão-cristão.

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

I Domingo Do Advento "B",03/12/2023

VIVER COMO CRISTÃO É VIVER NA PERMAENENTE VIGILÂNCIA

I DOMINGO DO ADVENTO DO ANO “B”

Primeira Leitura: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7

16b Senhor, tu és nosso Pai, nosso redentor; eterno é o teu nome. 17 Como nos deixaste andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações para não termos o teu temor? Por amor de teus servos, das tribos de tua herança, volta atrás. 19b Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de ti. 64,2b Desceste, pois, e as montanhas se derreteram diante de ti. 3 Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam. 4 Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos. Tu te irritaste, porque nós pecamos; é nos caminhos de outrora que seremos salvos. 5 Todos nós nos tornamos imundície, e todas as nossas boas obras são como um pano sujo; murchamos todos como folhas, e nossas maldades empurram-nos como o vento. 6 Não há quem invoque teu nome, quem se levante para encontrar-se contigo; escondeste de nós tua face e nos entregaste à mercê da nossa maldade. 7 Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos.

Segunda Leitura: 1Cor 1,3-9

Irmãos: 3Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 4Dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus: 5Nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, 6à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre vós. 7Assim, não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo. 8É ele também que vos dará perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até ao fim, até ao dia de nosso Senhor, Jesus Cristo. 9Deus é fiel; por ele fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso.

Evangelho: Mc 13,33-37

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 33 Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. 34 É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando. 35 Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. 36 Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. 37O que vos digo, digo a todos: Vigiai!

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I. ADVENTO

Estamos novamente no Tempo do Advento. O termo “advento” é cristão, mas de origem profana/pagã, pois significava chegada, vinda; aniversário de uma chegada, de uma vinda; ou visita oficial de uma personagem importante no tempo de sua posse. Nos escritos cristãos dos primeiros séculos (especialmente a partir do século IV) o termo tornou-se termo clássico para designar a vinda de Cristo.        

O tempo do advento tem uma dupla característica:

·      É o tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens (Encarnação). O advento nos lembra a dimensão histórico-sacramental da salvação. O Advento é o tempo litúrgico no qual é lembrada a grande verdade da história como lugar da atuação do plano salvífico de Deus. Deus do Advento é o Deus da história, o Deus que veio plenamente para a salvação do homem em Jesus de Nazaré em que se revela a face do Pai (Jo 14,9). A história é o lugar da realização das promessas de Deus. Por isso, não apenas vivemos no kronos (tempo medido pelos segundo), mas também no kairós, tempo da salvação de Deus, tempo da graça.

·      Simultaneamente o Advento é o tempo no qual, através desta recordação, o espírito é conduzido à espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos (Parusia). Jesus Cristo que esperamos no seu Natal (Encarnação) é o mesmo Jesus Cristo que vai nos julgar no fim dos tempos (Parusia). Por isso, logo no Primeiro Domingo do Advento o evangelho fala das coisas finais (escatologia). O advento é o tempo litúrgico em que se evidencia fortemente a dimensão escatológica do mistério cristão. Estamos em permanente viagem rumo à casa do Pai. Cristo veio na nossa carne, manifestou-se e revelou-se como ressuscitado, depois da morte, aos apóstolos e às testemunhas previamente escolhidas por Deus (cf. At 10,40-42) e aparecerá glorioso no fim dos tempos (At 1,11). Os cristãos, na sua peregrinação terrena, vivem continuamente a tensão do já da salvação toda realizada em Cristo e o ainda não da sua realização plena em nós e de sua plena manifestação na volta gloriosa do Senhor juiz e salvador.

Por esta dupla característica, o tempo do advento se apresenta como um tempo da expectativa vigilante e alegre. A expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo convite à alegria, pois o Senhor vem nos salvar. O Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera certamente acontecerá, pois Deus é fiel. Na palavra dos profetas do Antigo Testamento, a alegria caracteriza os tempos messiânicos.

No Advento, a Igreja toda também vive a sua grande esperança. O Advento é o tempo da esperança. O advento celebra o Deus da esperança (Rm 15,13) e vive a alegre esperança (cf. Rm 8,24s) com fé. A fé une o homem a Cristo, a esperança abre esta fé para o vasto futuro de Cristo. A fé transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé ampla e lhe dá a vida. O Advento é o tempo litúrgico da grande educação para a esperança: uma esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação, da perseguição; uma esperança que confia no Senhor e liberta das impaciências subjetivistas.

O Advento também é o tempo de conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo o coração, na expectativa de sua volta.  A vigilância exige luta contra o torpor e a negligência; requer prontidão, e, portanto, desapego dos prazeres e bens terrenos (Cf. Lc 21,34ss) para dar lugar à graça de Deus. O cristão convertido a Deus é filho da luz. Consequentemente, ele permanecerá acordado e resistirá às trevas, símbolo do mal. São Paulo nos convida para despertarmos, para sairmos do sono e para estarmos preparados a fim de recebermos a salvação definitiva (Cf. Rm 13,11-14). A pregação de João Batista, que ressoa no texto do Evangelho do Segundo Domingo do Advento é apelo à conversão como uma forma de preparar o caminho do Senhor.       

Em outras palavras, dentro da alegre esperança, os cristãos são chamados a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, e a conversão. Os cristãos podem acreditar em Deus de Jesus Cristo cegamente porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou a sua fidelidade ao homem (cf. 2Cor 1,20). Os cristãos vivem esta espera na vigilância e na alegria. Mas Deus que entra na história põe em causa o homem, questiona- o. Por isso, o tempo do advento, sobretudo através da pregação de João Batista, é o convite à conversão para preparar os caminhos do Senhor e acolher alegremente o Senhor que vem pois ele só traz a salvação.        

O duplo caráter do Advento, que celebra a espera do Salvador na glória (Parusia) e a sua vinda na carne (Encarnação-Natal) emerge das leituras bíblicas festivas. O Primeiro Domingo orienta para a Parusia final. O Segundo e o Terceiro Domingo chamam a nossa atenção para a vinda cotidiana do Senhor. O Quarto Domingo do Advento preparar-nos para a natividade de Cristo.

·      O evangelho do PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO nos fala da segunda vinda do senhor e nos exorta à vigilância. Se o Reino dos céus está próximo, é necessário preparar os caminhos. Este domingo no relembra sobre a dimensão futura de nossa vida. Vivemos o presente mas sempre com o olhar posto no Senhor. A nossa vida é uma caminhada rumo à comunhão plena com Deus, nosso Criador. É necessário que estejamos preparados para acolher o reino que nos é oferecido todos os dias. Assim estaremos preparados para o encontro derradeiro com o Nosso Criador, Deus.

·      Por isso, o evangelho do SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO contém a pregação da penitência de João Batista, Precursor do Senhor. O pecado bloqueia o canal da graça para chegar até nós. O pecado faz o coração fechado diante da graça. Pecar significa dizer não a Deus. A penitência e a conversão fazem com que o coração esteja aberto novamente à graça de Deus, e, consequentemente, a graça de Deus não encontrará nenhum impedimento para entrar no nosso coração.

·      O TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO é conhecido por muitos como o domingo “GAUDETE” (alegra-te!). Se a graça de Deus estiver no nosso coração, então teremos motivos para ficar alegres. A graça sempre traz a alegria para nós. Por isso, este domingo nos convida a tomarmos parte na alegria do advento, pois Deus vem nos salvar (cf. Fl 4,4s). Deus vem para nos salvar porque com a nossa própria força humana não sairíamos de nossa condição de pecadores. O mistério de alegria nasce de Deus, é um dom, e por isso não se compra em nossos mercados nem se encontra em nossas salas de festa. A alegria brota de dentro e tem sua origem no Espírito Deus. Dois amores, quando estiverem juntos, são sempre felizes, onde quer que eles estejam. Seria blasfêmia apresentar Deus como inimigo da vida e da alegria. O homem foi criado para expandir-se na alegria e é, por isso, chamado por Deus para expandir a alegria.  Um aspecto que logo nos chama a atenção são os paramentos róseos usados na missa (embora não seja obrigatório). Estes paramentos substituem o roxo severo dos domingos anteriores e assinalam a alegria antecipada do Natal. O evangelho do terceiro domingo do advento nos coloca diante da figura do Batista.

·      O QUARTO DOMINGO DO ADVENTO nos coloca no mais próximo da preparação para a festa do nascimento do Senhor ou anuncia a vinda iminente do Messias. Neste domingo aparece a figura de José, Maria, Isabel. Por isso, os textos próprios da missa são determinados por aqueles acontecimentos.

·    No ano A o evangelho fala do conflito interior de José e da mensagem que o anjo lhe transmite, e segundo a qual ele deve receber Maria.

·    Nos ciclos B e C Leem-se as perícopes da Anunciação do Senhor (Lc 1,26-38) e da visita de Maria à sua parenta Isabel, onde Maria é proclamada feliz por causa de sua fé, e entoa o Magnificat (Lc 1,39-47).

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Do Primeiro Domingo Do Advento Do Ano B

Com este Domingo iniciamos o ciclo B, ano em que acompanhamos a leitura e a meditação sobre o Evangelho de Marcos. Este domingo nos oferece o tema da salvação e sua desejosa espera como vínculo de união das leituras.

Na Primeira Leitura, nos encontramos com uma belíssima oração que expressa os sentimentos dos israelitas que voltavam gozosos para sua pátria depois do desterro (na Babilônia), mas que achavam a demora de Deus na sua intervenção: “Ah! Se rompesses os céus e descesses!”. Nesta petição há simultaneamente angústia por causa dos pecados cometidos e confiança na salvação oferecida por Deus. Há dor da realidade atual, mas há também esperança inquebrantável na promessa do Senhor.

A grande invocação do profeta Isaías (Is 63,19), que sintetiza muito bem a espera de Deus presente, antes de tudo, na história do povo de Israel da Bíblia, e no coração de todo homem, não foi pronunciada em vão. Deus escutará e descerá cinco séculos mais tarde encarnando-se no seio de uma Virgem chamada Maria de Nazaré.

A Primeira leitura de hoje, por um lado, põe em destaque o momento crítico em que vive a comunidade: o perigo dos ídolos e as divisões internas. Por outro lado, manifesta esta esperança enraizada e indestrutível: em meio de todas as coisas (enraizados em uma situação concreta), “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. Estamos nas mãos de Deus. Permaneçamos nas mãos de Deus!

No sofrimento mais intenso, na humilhação mais injusta, podem nascer os sentimentos mais puros e elevados. Do desamparo e da marginalização podem brotar plena confiança, ternura contagiante, humildade corajosa. São os efeitos das purificações necessárias, as noites dos sentidos ou do espírito. A razão: Dues é nossa esperança que permanece fiel aos seus crentes.

No exílio babilônico, o povo judeu foi amplamente purificado. E no exílio esse povo aprendeu a crer e a ter esperança. No exílio, surgiram profetas magníficos cheios de esperança e surgem também belíssimas orações. No exílio, eles encontraram Deus de uma maneira diferente.

Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. “Ah! Se rompesses os céus e descesses!”. Esta oração que ouvimos/lemos hoje respira em todas as suas palavras o perfume da humildade e da confiança e, sobretudo, do amor filial. O pai sabe muito bem como tratar o filho, mesmo que ele tenha sido rebelde. Como soa bem a repetida expressão "Tu és nosso Pai"! ou "Nós, o barro, você, o oleiro". E o desejo irreprimível: "Eu gostaria que você rasgasse o céu e descesse!" Não nos cansaremos de repetir este pedido: “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. “Ah! Se rompesses os céus e descesses!”.

A Segunda Leitura, por sua parte, nos expõe que os Coríntios não careciam de nenhum dom. Todas as graças em Jesus Cristo são concedidas aos Coríntios. Além disso, pela graça de Deus, possuem o maior dos dons: a participação na vida de seu Filho Jesus Cristo. Deus é fiel. Isto é precisamente a salvação.

Esta salvação, segundo o Evangelho de hoje, tem lugar no sacrifício redentor de Cristo. E evangelho quer nos mostrar que nos encontramos entre a Primeira Vinda de Cristo na humildade de nossa carne, fazendo-se um de nós, e a vinda gloriosa de Cristo ao final dos temos, quando vier como juiz universal. Em outras palavras, o Senhor que estamos esperando no Natal é o Senhor que vai nos julgar no final dos tempos.

O tempo de nossa vida pode-se definir, portanto, como um tempo de espera, um tempo de anseio por ver a Deus cara a cara. Este tempo de espera, no Evangelho de Marcos, que lemos neste domingo se expressa com três atitudes: 

A primeira atitude: estejamos atentos! Jesus Cristo nos convida a vivermos atentamente, isto é, nos convida a adotar uma atitude de reflexão, de recolhimento, de silêncio interior. Prestar atenção quer dizer concentrar-se numa realidade com toda a alma e dar unidade a todas as capacidades da pessoa humana. Um homem atento é um homem reflexivo e bem disposto para entrar em relação com Deus, com o próximo e consigo próprio. O oposto à atenção é a distração, tão comum em nosso mundo contemporâneo cheio de ruídos, de imagens e de sensações transitórias.  Na distração se perde a unidade interior da pessoa, se perde a calma e a paz do coração. Um homem distraído dispersa suas capacidades. O perigo mais grave é o de viver distraídos diante do tema fundamental da vida: a preparação para a vinda de Cristo, Nosso Senhor ao final dos tempos, a preparação para a eternidade que está cada vez mais próxima.

A segunda atitude é VELAR. No original grego velar equivale a “ficar sem dormir”. A grande tentação é ficarmos dormindo em meio da noite. Na Bíblia, a noite é símbolo da ação do maligno que semeia o joio (Mt 13,24-30); é o tempo de sofrimento, da prova, dos ataques por surpresa; é o tempo da angústia diante da vinda do Filho do Homem. Quem não ficar acordado para tudo, será levado pela força do inimigo, pelos atrativos do mundo, pelas forças da paixão cega. 

A terceira atitude é VIGILÂNCIA. No evangelho de hoje se repete duas vezes este verbo: Vigiai. É a ação do sentinela que tem que estar alerta, enquanto espera pacientemente a passagem do tempo noturno para ver surgir no horizonte a luz do sol.  Estar vigilante significa discernir em meio da noite os sinais dos tempos; é ter um “sexto sentido” para descobrir aquilo que pode ofender minha fé, meu amor à Igreja, minha fidelidade à Palavra de Deus. o cristão deve viver com sentinela de esperança na noite do mundo. algo que deve caracterizar a vida do cristão é sua esperança gozosa no triunfo de Cristo sobre o mal e sobre o pecado. 

Um Olhar Específico Sobre o Evangelho de Hoje

Mc 13,1-37, onde se encontra o texto evangélico deste domingo primeiro domingo do Advento do Ano litúrgico “B”, é conhecido como “Apocalipse de Marcos” ou “discurso escatológico”. É um discurso mais amplo de Jesus de todo o evangelho de Mc. Mc abre a seção com a admiração dos discípulos pelo esplendor do Templo(v.1), que recebe a resposta de Jesus sobre o desaparecimento iminente de todo esse esplendor(v.2). Por isso, surge a pergunta dos discípulos sobre o tempo em que tudo isso acontecerá e os sinais que anunciarão isso (vv. 3-4). Percebemos na sequência da narrativa que a pergunta não se faz a respeito da destruição do templo, e sim a respeito dos últimos dias, pois o discurso vai falar dos acontecimentos dos últimos dias e dos sinais que precederão, e não da destruição de Jerusalém e do templo.          

Neste capítulo 13, Mc une diversas matérias: algumas são propriamente apocalípticas que descrevem os acontecimentos dos últimos dias e a atitude requerida perante os mesmos (vv.7-8.14-20.24-27; e outro bloco: vv.5-6.21-23); outras têm o tom de consolação e conforto para os cristãos nos momentos de perseguição(vv.9-13). E no fim do discurso encontram-se outras matérias diversas: a parábola da figueira(vv.28-29); o momento da Parusia (vv.30-32) e termina com a exortação para a vigilância(vv.33-37).          

Apesar das matérias diversas, Mc consegue colocar todas elas dentro duma inclusão literária constituída pelos vv.5 e 37 que enfatiza a importância da vigilância. Na exortação inicial fala-se do perigo dos falsos messias que surgem sempre quando a sociedade passa por uma crise profunda o que leva a tomar uma atitude de vigilância(vv.5-6). E na última exortação fala-se da falsa segurança. Daí percebemos a intenção de Mc em alertar os cristãos para que estejam vigilantes constantemente, pois ninguém sabe quando chegará o “momento” (v.33). O que o mais importante, então, não é o momento em que isso acontecerá, e sim o que deve-se fazer para que ninguém se pegue de surpresa.       

O ensinamento que nos oferece esta unidade narrativa tem como destinatários a um grupo restringido de discípulos (cf. Mc 13,3). Esta unidade se situa imediatamente antes dos acontecimentos da paixão e da morte de Jesus que pode nos induzir a pensar que nos encontramos diante de um discurso de despedida. Em seus últimos dias em Jerusalém, Jesus revelaria aos mais íntimos os sofrimentos e perigos que lhes aguardavam, exortando-lhes a fidelidade e a perseverança na missão que lhes havia confiada. Sem dúvida, neste discurso faltam as marcas características dos discursos de despedida (cf. Jo 13-17). Por isso, este discurso deve-se considerar muito mais como um discurso escatológico, do que um simples discurso de despedida, que com uma linguagem profético- apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período intermédio, isto é, no presente.           

A missão confiada à comunidade cristã não é fácil. Ela tem que seguir fielmente os ensinamentos de Jesus Cristo a ponto de ser crucificada como ele. Da comunidade cristã exigem-se a fidelidade, a coragem e a vigilância no presente, sublinhando o futuro que lhe aguarda. A vitória que lhe aguarda faz a comunidade lutar sem medo apesar de dificuldades que ela encontra no caminho. 

Mensagem Do Texto De Mc 13,33-37          

Não é difícil descobrir o tema central do Evangelho deste Domingo: basta observar qual é a palavra que aparece mais vezes. É o verbo “vigiar” que em cinco versículos é repetido com uma insistência quase excessiva.          

Por que temos que vigiar?          

Jesus nos dá este motivo: “Prestai atenção, vigiai, pois não sabeis quando será o tempo/momento” (v.33). “Tempo” ou “momento” é uma tradução da palavra grega “kairós”. “Kairós” indica um tempo determinado e tem aqui uma conotação escatológica de tempo determinado por Deus para a vinda gloriosa do Cristo. Esse “tempo determinado” é desconhecido dos homens. Daí a necessidade de estar sempre vigilante à espera desse tempo determinado por Deus.         

A exortação de Jesus à vigilância visa criar no nosso coração a atitude correta de quem deseja acolher o Senhor que vem ao nosso encontro. A exortação não fornece o temor e a angústia, pois, de fato, nós esperamos o que já temos garantido pela fé que é o fundamento de nossa esperança. E por sua vez, a esperança mantém e reaviva o nosso amor por Cristo que vem. Por isso, a espera cristã deve ser produtiva, alegre e serena.         

Mas o que é vigiar?         

Vigiar, no sentido próprio, significa renunciar ao sono da noite; pode-se fazê-lo para prolongar o trabalho (Sb 6,15) ou para evitar ser apanhado de surpresa por um inimigo (Sl 127,1s). Daí o sentido metafórico: vigiar é lutar contra o torpor e a negligência a fim de se chegar à meta visada (Pv 8,34). Para o crente/cristão a meta é estar pronto para receber o Senhor, quando chegar o seu Dia; é por isso que ele vigia e está vigilante, a fim de viver na noite sem ser da noite.         

Nos evangelhos sinóticos, a exortação à vigilância é a principal recomendação de Jesus a seus discípulos como conclusão do seu discurso escatológico. A vigilância caracteriza, portanto, a atitude do cristão/discípulo que espera e aguarda a volta do Senhor: ela consiste antes de tudo em manter-se em estado de alerta, e com isso mesmo exige o desprendimento dos prazeres e dos bens da terra (Lc 21,34ss). A Igreja é a assembleia que sempre deve estar em estado de vigilância, lendo a vinda do Senhor nos acontecimentos, para permitir-lhe um encontro feliz com o Senhor glorioso.          

Concretamente podemos dizer que vigiar significa pôr em prática as palavra de Jesus, especialmente o mandamento do amor. Significa enfrentar a tentação do egoísmo, que nos leva a convencer-nos da inutilidade de fazer o bem. Significa acreditar que vale a pena lutar para construir o Reino de Deus, a exemplo de Jesus, num mundo onde a injustiça e a maldade parecem falar mais alto. Significa estar sempre disposto a perdoar e a se reconciliar, revertendo a espiral da violência que assume proporções sempre maiores. Significa ser capaz de detectar tudo quanto possa desviar nossa atenção do convite de Deus para o encontro definitivo com Ele. Significa estar vigilante no que se deve falar e no que não se deve: ser vigilante nos comentários, nos julgamentos etc....Vigiar é aprender a falar o necessário.  É aprender a ficar em silêncio para avaliar as palavras soltas sem reflexão para não repeti-las novamente.          

A vigilância é a atitude própria do amor que vela. O amor sempre mantém o coração alerta. A chegada de Cristo exclui todo temor, pois não há temor no amor. A vigilância nos ensina a ler a vinda do Senhor nos acontecimentos e nas pessoas.         

Para manter este estado de vigilância é necessário lutar porque temos a tendência de vivermos de olhos cravados nas coisas da terra. O dono da casa, na parábola, é Jesus Cristo. Isto quer dizer que Ele é o sentido da nossa vida. É a razão de ser da Igreja. Trabalhemos para que na chegada do Senhor a justiça, a misericórdia, o perdão e obras de caridade estejam bem cultivados entre nós.        

Mas a vigilância cristã é sempre perseverante e se alimenta da esperança. Por isso, a pessoa vigilante não se abate, ainda que a realidade seja desesperadora porque ele sabe em quem acredita: em Deus que transforma o impossível no possível. Um cristão vigilante sabe olhar para além da História do horizonte material e contemplá-la na perspectiva de Deus, segundo o ensinamento de Jesus. A vigilância permite o cristão descobrir nela uma lógica inacessível para quem não tem fé. Por isso, um cristão verdadeiro nunca será esmagado pelo peso da história e pela situação desesperadora.          

Portanto, celebrar o Advento não significa celebrar só as coisas do passado, pois este Advento está sempre em andamento. É o Filho de Deus que continuamente visita e frequenta o coração daqueles que sabem crer, amar e esperar. Cristo está em contínuo advento, sempre e incansavelmente a caminho de nossa casa. E o lugar que Ele mais ambiciona é um coração convertido, que tenha a coragem de se “reformar” e de se abrir ao amor, à fraternidade, à justiça e ao perdão. Por isso, não tenhamos medo de oferecer-lhe nosso ódio, amargura, desapontamento, mágoa, rancor, tristeza, desespero etc. porque o Senhor se revela como AMOR. Só criando espaço para Cristo num coração convertido é que conseguiremos chegar à meta e Cristo virá morar conosco.         

Por isso, o Advento é o tempo de purificação, de revermos nossa vida: nossos gestos, nosso lar pois é Deus que se aproxima. Mais do que de flores, de lâmpadas coloridas ou de pinheiros verdes, vamos enfeitar o nosso coração daquilo que não se encontra nas lojas: a paz e a alegria no lar e o amor no coração: o amor é uma “carta” aberta, um presente sem embalagem, pois o amor é a abertura para com os outros. Vamos fazer presépio vivo no nosso coração, um presépio construído com toda a sensibilidade, com a arte de amar, de perdoar, um presépio de carinho. E este presépio vivo dentro de nosso coração se expressa através de amor e de alegria nos cartões, nas cartas e nos telefonemas. Este presépio vivo dentro de nós deve ser eterno, não é preciso acabá-lo dentro de alguns dias durante o Natal. Temos uma vida para aperfeiçoá-la. Vamos fazer de nossa vida um eterno Natal de amor e de alegria.         

Portanto, a palavra “vigiar” que aparece várias vezes no Evangelho deste primeiro Domingo do Advento é para a gente vigiar mesmo. Porque quando chega o Natal, as propagandas comerciais, a arrumação da casa e a preocupação dos cartões e dos presentes podem desviar nossa atenção do dono da festa: Jesus Cristo.        

Que cada um de nós seja capaz de dizer e de viver esta frase: “Quero neste Natal ser rico por dentro. Não quero ter apenas embalagem, quero ter um coração como o de Cristo, cheio de amor e de justiça e de perdão.”

P. Vitus Gustama,svd

02/12/2023-Sábado Da XXXIV Semana Comum

ORAR E VIGIAR PERMANENTEMENTE PARA PERMANECER COM O PODER DE DEUS 

Sábado da XXXIV Semana Comum

Primeira Leitura: Dn 7,15-27

15 “Fiquei chocado em meu íntimo: eu, Daniel, fiquei aterrorizado com estas coisas, e as visões da imaginação me deixaram perturbado. 16 Aproximei-me de um dos presentes e pedi-lhe que me desse explicações sobre o significado de tudo aquilo. Respondeu-me, fazendo-me conhecer a interpretação das coisas: 17 ‘Estes quatro possantes animais são quatro reinos que surgirão na terra; 18 mas os que receberão o reino são os santos do Altíssimo; eles ficarão de posse do reino por todos os séculos, eternamente’. 19 Depois, quis ser mais bem informado a respeito do quarto animal, que era bastante diferente dos outros e o mais terrível de todos, com seus dentes de ferro e garras de bronze, sempre devorando e triturando, e calcando aos pés o que restava; 20 e ainda a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e sobre o outro que nascera e fizera cair outros três, sobre o chifre que tinha olhos e boca, e que fazia ouvir uma fala forte, e era maior que os outros. 21 Eu continuava a olhar, e eis que este chifre combatia contra os santos e vencia, 22 até que veio o Ancião de muitos dias e fez justiça aos santos do Altíssimo, e chegou o tempo para os santos entrarem na posse do reino. 23 Respondeu-me assim: ‘O quarto animal é um quarto reino que surgirá na terra, e que será maior do que todos os outros reinos; há de devorar a terra inteira, espezinhá-la e esmagá-la. 24 Quanto aos dez chifres do reino, serão dez reis; um outro surgirá depois deles, e este será mais poderoso do que seus antecessores, e abaterá os três reis,25 e articulará insolências contra o Altíssimo e perseguirá seus santos e se julgará em condições de mudar os tempos e a lei; os santos serão entregues ao seu arbítrio por um tempo, por tempos e por um meio-tempo; 26 o tribunal se estabelecerá, e ao chifre será tirado o poder, até ser destruído e desaparecer para sempre; 27 e então, que seja dado o reino, o poder e a grandeza dos reinos que existem sob o céu ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é um reino eterno, e a quem todos os reis servirão e prestarão obediência”.

Evangelho: Lc 21,34-36

34 “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; 35 pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. 36 Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”.

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É Preciso Manter A Fé No Poder Da Palavra De Deus Que Nos Garante o Futuro

Os que receberão o reino são os santos do Altíssimo; eles ficarão de posse do reino por todos os séculos, eternamente”.

Continuamos com a visão que começamos a ler ontem em que Daniel está preocupado em saber o significado das quatro bestas, especialmente o quarto, o último, o mais terrível, que parece lutar contra os santos e vencê-los.

Lembre-se, mais uma vez, de que o livro está escrito para aqueles que sofrem a perseguição de Antíoco, no tempo dos Macabeus, no segundo século antes de Cristo. O último rei, que blasfema e é cruel e acaba com os que o impedem, só vai durar "um ano, outro ano e outro ano e meio", isto é, três anos e meio, metade dos sete, metade de número perfeito, portanto, um número ruim, fatal para ele. Então o Altíssimo o aniquilará totalmente", e o poder real será dado ao povo dos santos, e será um reino eterno". É o cara do mal, da destruição, da infidelidade e do pecado que desaparece da história!

Essas quatro bestas são como as quatro partes da estátua que Nabucodonosor viu no seu sonho. Mas hoje sabemos que com o seu poder e o terror virá o único reino definitivo: o de Deus, o dos santos, o do amor eterno. O Filho do homem nos trará, quem é o rei do Messias.

Contemplando o espetáculo da ingratidão humana e dos reinos mundanos que se seguem, olhemos para trás e coloquemos nossa esperança no rei dos reis, no Messias que virá inaugurar o reino de Deus ou dos santos. O Senhor do Reino será aquele que nos ensina a viver sem embotamento ou enfraquecimento da mente com vícios nefastos, sem cegueira que produz as paixões desenfreadas e as drogas, sem apetite desordenado de acumular os bens materiais que anulam a personalidade de qualquer homem em su convivência, solidariedade, gratuidade, serviço e amor. Trata-se do Reino da paz, da fraternidade, da justiça e assim por diante. Mantenhamos nos luta para ser construitores da fraternidade, da justiça, da idualdade e assim por diante apesar dos poderes mundanos aparentemente superpotentes, mas com pernas de barro que cedo ou tarde vão cair no chão para virar pó morto.

Os "triunfos de Deus" não são muito aparentes e são frequentemente escondidos sob o triunfo monstruoso das forças do mal. Os tempos de "mártires" sabem bem disso. A era dos Macabeus, época de Daniel, eles conheciam. Ainda hoje, "aparências" são contra Deus ... "por um tempo"! porque nos foi prometido que esse triunfo do mal não durará.

Portanto, a lição é clara: o autor quer dar incentivo, despertar esperança, de modo que ninguém acredite que a última palavra vai ser daquele Antíoco que queria "aniquilar os santos e mudar o calendário e a lei" e sim a Palavra de Deus. Ninguém é capaz de lutar contra Deus e ninguém tem força suficiente para se rebelar contra Deus. Quem quiser ser vitorioso e salvo esteja sempre com Deus e conte com Ele nas lutas de cada dia. A história nos provou que aqueles que foram fiéis recebem a coroa da glória. São palavras de encorajamento também para os cristãos que estão tentando seguir os caminhos de Deus no meio das tentações que vêm de fora e de dentro, incorporados em Cristo Jesus, a Vítima do mal, mas que ressuscita vitorioso.

No texto aparece o caminho tempestuoso do mal que embriaga toda a existência. Mas em seu momento culminante, aparece um raio de luz: o fim nunca é o triunfo do poder do mal, mas o alvorecer da salvação. Deus e o Filho do Homem triunfam, com seus seguidores, na morada da felicidade. Acreditemos no poder de Deus e não na potência do mal.

É Preciso Viver Na Sobriedade Para Viver Saudavelmente Físico e Espiritualmente

Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”.

Estamos na ultima parte do discurso escatológico ou apocalíptico de Jesus na versão de Lucas. Desta vez, somos alertados sobre a importância da vigilância e da oração no seguimento de Jesus Cristo. A conclusão de todo o discurso nos remete a viver o presente com “administradores fiéis e prudentes”, com responsabilidade ativa e vigilante (Lc 12,42), para que possamos ganhar a nossa verdadeira riqueza (Lc 16,9-12). A atitude do fiel é de discernimento, na certeza de que o Senhor está próximo aqui e agora (Lc 21,28-33).

Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. O coração pesado por estar vazio de sentido procura o seu repouso na devassidão, embriaguez e ânsia de gozar o passageiro de maneira exagerada e se anestia daqulo que é esencial para sua salvação.                                     

Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”, assim Jesus nos alerta.

No contexto do discurso, colocado imediatamente antes dos relatos da Paixão e da ressurreição do Senhor, esta exortação designa com claridade a Paixão do Filho do Homem durante a qual os discípulos se encontrarão em uma situação complicada. Consciente da situação complicada, com esta exortação Jesus quer animar seus discípulos para que sejam firmes em tudo, pois atrás do mistério da cruz está a ressurreição, atrás de uma aparente debilidade se encontra uma força irresistível, atrás de umas nuvens negras se esconde o sol. Em outras palavras, é preciso ir além da aparência e penetrar a camada exterior para entrar no miolo das coisas. Ao contemplar o mistério da Cruz na sua profundidade acabaremos enxergando o mistério da ressurreição, mistério que nos fortalece para superar tudo na nossa caminhada.

Mas o evangelista Lucas também pensa nos seus leitores de hoje e de amanhã. Encontrados ou situados no mistério da existência, com seus altos e baixos, não sentirão a tentação de abandonar tudo? Daí a importância da vigilância e da oração na vida de qualquer seguidor do Senhor.

Viver Orando

“Quando o Espírito (Santo) fixa a sua morada no coração do homem, este não pode parar de rezar... e a sua alma exala espontaneamente o perfume de oração” (Santo Isaac da Síria).

Para Jesus, rezamos “a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”. A oração é a força sem limites para encarar a realidade, pois a encaramos com Deus, e se encararmos tudo com Deus, será cumprido aquilo que São Paulo escreveu: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8,31-32). Aquele que aprende a ficar de joelho diante de Deus em uma atitude de oração e adoração, ele ficará de pé firmemente diante da vida e de seus acontecimentos. Se pararmos de rezar, erraremos o caminho, pois rezar significa estar em comunhão com Deus e por isso, estar no caminho de Deus e com Deus. Tuas orações são a seta que o mantém na raia (Santo Agostinho: Serm. 22,5).

Na verdadeira oração encontramos Deus, Fonte do ser e do existir, e ao encontrar a Fonte de nosso ser, acabamos encontrando nosso próximo, objeto do amor de Deus (cf. Jo 3,16). Por isso, não pedimos a Deus que governe nossa vida através de milagres, e sim Lhe pedimos o milagre de amar até o fim (cf. Jo 13,1), pois somente o amor capaz de transformar o mundo porque “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O amor fraterno nos identifica como verdadeiros seguidores de Jesus Cristo (cf. Jo 13,35). Por isso, se nossa oração nos afasta dos homens, ainda não nos encontramos com o Deus dos homens, mas com sua fantasia. Sempre que rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz porque nós nos modificamos. Não rezamos para convencer Deus que faça o que queremos e sim para conseguir nos aproximar de tudo que Deus espera de nós. Dizia Santo Agostinho: “É injusto desejar qualquer coisa do Senhor e não desejar a Ele mesmo. Pode, por acaso, a doação ser preferida ao doador?” (In ps.76,2).

Viver Na Vigilância e Na Permanente Atenção

Ficai atentos! Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra”.

A última recomendação de Jesus no seu discurso escatológico na versão de Lucas, o ultimo conselho do ano litúrgico é este: “Ficai atentos!” ou “Estejais vigilantes”.

Ser vigilante não é uma opção para um cristão, e sim faz parte do seu ser como seguidor do Senhor. Estar atento é a verdadeira espiritualidade cristã, pois o centro é sempre o outro e o Outro. A atenção nos leva a nos aproximarmos do outro para estar com ele ou para ajudá-lo na sua necessidade. A vigilância nos capacita a detectarmos tudo que possa desviar nossa atenção de nossa meta de estar em comunhão plena com o Senhor, fonte de nosso ser. Somente os vigilantes são capazes de se afastar do mal.

Além disso, a vigilância e a oração têm o seguinte objetivo: “para ficardes de pé diante do Filho do Homem”.  Estar de pé diante de Cristo é estar em vigilância e em atitude de oração na nossa passagem neste mundo cumprindo nossa missão como seguidores de Jesus Cristo. O verdadeiro cristão não se preocupa se a vinda gloriosa de Jesus está próxima ou ainda está distante, pois ele tem um compromisso com o presente de levar até o fim uma grande tarefa de evangelização, isto é, em levar o que é bom e digno para os outros.

O contrário da vigilância é a gula, a embriaguez e as preocupações da vida:Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra”.

Na época de Jesus, o alcoolismo, o afã de riqueza, a prostituição e os jogos de azar eram as grandes distrações. O povo judeu era muito zeloso de suas leis religiosas. Posteriormente as comunidades primitivas tiveram que definir parâmetros muito claros diante dos vícios que propagavam as culturas greco-romanas centradas no culto ao poder e ao prazer. 

O evangelho de hoje põe na boca de Jesus um conjunto de advertências acima mencionadas que tratam de resistir diante dos vícios que ameaçavam a integridade da pessoa e da comunidade. Não se trata de uma pregação moralista e sim um chamado para uma atitude ética consciente e responsável. O ser humano não pode ser livre se ainda permanece atado aos vícios que a cultura lhe impõe. O cristão não pode ficar atento à presença do Senhor se estiver dominado pelo vício. Ao contrário, o cristão precisa estar livre e estar atento diante da realidade para dar uma resposta adequada e eficaz. Por esta razão, o cristão precisa cultivar uma atitude orante que lhe permite estar atento diante da realidade e descobrir os sinais dos tempos. O fracasso sempre nos deixa muitos ensinamentos que nos ajudam a melhorar. Ele favorece a humildade e nos ajuda a manter os pés no chão; estimula nossa imaginação e nos leva a explorar novas alternativas; faz de nós pessoas mais reflexivas, evitando decisões precipitadas; é um convite para recomeçar. Ser cristão é ser eterno recomeço. 

Em cada Eucaristia se concentram três direções para resumir tudo que foi falado até agora, no discurso escatológico de Jesus, através das palavras de São Paulo: Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice (momento privilegiado do “hoje”) anunciais a morte do Senhor (o “ontem” da Páscoa), até que ele venha (o “amanhã da manifestação do Senhor)” (1Cor 11,26). Por isso aclamamos no momento central da missa: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus”.

Com este texto terminamos o Tempo Comum para entrar a partir do próximo domingo no Tempo do Advento e do Natal. Na época de Natal é bom ficar na nossa memória as palavras do Senhor lidas hoje:Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra”.

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...