sábado, 30 de dezembro de 2023

02/01/2024-Tempo de Natal

SER VOZ E SER REFLEXO DE JESUS

(2 de Janeiro)

Primeira Leitura: 1Jo 2,22-28

Caríssimos: 22Quem é mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? O Anticristo é aquele que nega o Pai e o Filho. 23Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Quem confessa o Filho possui também o Pai. 24Permaneça dentro de vós aquilo que ouvistes desde o princípio. Se o que ouvistes desde o princípio permanecer em vós, permanecereis com o Filho e com o Pai. 25E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna. 26Escrevo isto a respeito dos que procuram desencaminhar-vos. 27Quanto a vós mesmos, a unção que recebestes da parte de Jesus permanece convosco, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine. A sua unção vos ensina tudo, e ela é verdadeira e não mentirosa. Por isso, conforme a unção de Jesus vos ensinou, permanecei nele. 28Então, agora, filhinhos, permanecei nele. Assim poderemos ter plena confiança, quando ele se manifestar, e não seremos vergonhosamente afastados dele, quando da sua vinda.

Evangelho: Jo 1,19-28

19Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: “Quem és tu?” 20João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”. 21Eles perguntaram: “Quem és, então? És Elias?” João respondeu: “Não sou”. Eles perguntaram: “És o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. 22Perguntaram então: “Quem és, afinal? Temos de levar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” 23João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” — conforme disse o profeta Isaías. 24Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus 25e perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” 26João respondeu: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, 27e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. 28Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.

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A Primeira Leitura, tirada da Primeira Carta de são João, se encontra na parte que fala da heresia ou do anticristo (1Jo 2,18-27). O anticristo (em singular e plural) é aquele que não tem a suficiente fé em admitir a verdadeira encarnação do Filho de Deus; é o negador do Cristo verdadeiro; são todos aqueles que se opõem a Cristo. Para o autor da Primeira Carta de são João aquele que nega a qualidade divina do Filho de Deus, Jesus Cristo separa-se do Pai (1Jo 2,23) e portanto, da vida eterna da qual é a fonte (1Jo 2,25). Ao contrário, aquele que “confessa” o Filho (1Jo 2,23) não é apenas aquele que reconhece especulativamente a divindade de Jesus, mas também adere a seu mandamento de amor. Não basta confessar que Jesus é Deus, mas tem que mostrar esta confissão com a vivência do amor fraterno.

Para aquele nega a divindade de Jesus, o autor da Carta usa os termos “sedutores”, “pseudoprofetas” e “anticristos”. A palavra no singular e no plural (anticristo/anticristos) designa todos aqueles que se opõem a Cristo; eles negam que Cristo seja homem verdadeiro. Eles não admitem que o mundo de Deus (o mundo de cima) possa manchar-se tocando o mundo de baixo. Este tipo de crença se espalha dentro da comunidade para a qual a Carta foi dirigida (1Jo 2,19). 

O ato ou posição de ser anticristo é uma heresia. Heresia é confundir Cristo com o nosso pensar e o nosso querer; é fabricar um Cristo a nossa imagem e semelhança. Este Cristo manipulado e tantas vezes mudado é claro que não pode ser o Cristo Salvador. A final, “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Quem confessa o Filho possui também o Pai” (1Jo 2,23). 

O fragmento da primeira leitura revela as linhas essenciais da falsa doutrina divulgada peloanticristoem uma época atormentada do final do século primeiro. Para essa falsa doutrina, Jesus não era considerado como o Messias nem como o Filho de Deus. Essa heresia cristológica considerava impossível que o Verbo Divino se fizesse carne à maneira humana. Mas para o apostolo João, testemunha ocular do Verbo Divino, o Verbo da vida (cf. 1Jo 1,1-4), negar a divindade de Jesus significa não ter comunhão com o Pai e não ter a verdadeira vida (1Jo 2,22-23; cf. Jo 20,30-31); negar a união do divino e do humano em Jesus significa seranticristoporque o humano em Jesus é o reflexo perfeito do divino, é o reflexo do Pai: “Aquele que me viu, viu o Pai(cf. Jo 14,9). E em outra ocasião Jesus disse: “Eu e o Pai somos um(Jo 10,30).

São João nessa Primeira Carta quer orientar nossa sensibilidade. Não se trata de fazer de Jesus um ídolo e sim de abrir nossos ouvidos à sua Palavra, pois Sua Palavra é vida e luz para nós todos: “No Verbo havia vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4) e por isso nos orienta (cf. Jo 8,12). Um Jesus que não nos servir como caminho ao Pai (cf. Jo 14,6) é um Jesus que não nos interessa do ponto de vista da . Muitos querem um Jesus milagroso para ter uma vida confortável aqui neste mundo e esqueceram-se de um Jesus que os leva para a vida eterna. Jesus é o misterioso laço de união entre a humanidade caída e o Pai pronta para nos salvar: “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Confessa o Filho possui também o Pai” (1Jo 2,23).             

Como cristãos somos essencialmente ouvintes da Palavra da Salvação, aceitadores do Filho, e escutando-O nos realizamos como filhos do Pai celeste e irmãos dos demais homens. A Igreja é formada pela escuta da e pela vivência da Palavra de Deus. O que nos é pedido não é essencialmente nosso conhecimento ou nosso saber, e sim nossa fidelidade. Fidelidade é guardar ou observar o que é ouvido da Palavra de Deus (cf. Mt 7,24; Jo 14,23). Por isso, o verbo que mais vezes se repete na primeira leitura, é “permanecer”. É um verbo que fala de fidelidade, de perseverança, de manter na verdadeira sem deixar-se enganar. Permanecer em Jesus significa ter nele.  Há várias maneiras de ser fiel: com o pensamento e o coração, com as palavras de testemunho que damos diante dos demais e com as ações, com os compromissos, com as obras e com as decisões da vida diariamente, de acordo com o mandamento do Senhor resumido no amor fraterno.    

De nós não será pedido conta de nossos conhecimentos e sim de nossa fidelidade. Seremos cristãos e seremos salvos, se aceitarmos Jesus, o Enviado do Pai e nos identificarmos com Ele. É contemplar Jesus para contemplar Deus. Jesus é a única e verdadeira revelação de Deus. Há certas afirmações típicas de são João sobre esta revelação: “Ninguém vai ai Pai senão por mim” (Jo 14,6); “Quem conhece o Filho, conhece também o Pai” (Jo 8,19); “o Filho é o único capaz de revelar o Pai” (Jo 14,7).             

E lemos no texto do Evangelho de hoje o testemunho de João Batista acerca de Cristo. Para a perguntaQuem és tu?”, João Batista confessa, evitando qualquer mal-entendido acerca de sua pessoa e de sua própria missão, que não é o Cristo, o Salvador esperado. Este testemunho em forma de afirmação negativa que sai da boca de João Batista é uma autêntica confissão de no messianismo de Jesus. João Batista se define apenas com as palavras do profeta Isaias: “Voz que clama no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” para preparas vinda de Cristo. O que é a voz? É o conjunto de sons que servem para transmitir uma mensagem. E o que acontece depois com a voz? Desaparece. Fica somente a mensagem transmitida. Ser voz é ser uma mensagem, é ser uma chamada aos demais para o bem, para a Luz que ilumina. A voz é feita para proclamar, para anunciar e para denunciar. É preciso nivelar as relações humanas, pois todos os seres humanos têm a mesma substancia humana. Não há super-criatura. É preciso aplainar. Onde houver estrada plana, haverá facilidade para caminhar. Quando um reconhece no outro como ser humano, a convivência se torna mais fácil. Ninguém tratará a outro desumanamente. Eu sou ser humano. O outro é ser humano. Deus se fez humano para salvar o ser humano. 

João Batista não é a luz. Ele é apenas uma lâmpada que tem tempo limitado de duração. Ele é apenas aquele quetestemunha da verdadeira Luz que é o próprio Jesus Cristo (cf. Jo 8,12). Ele não é a Palavra Encarnada, mas somente a voz que prepara o caminho com a purificação dos pecados através de seu batismo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis”. 

O testemunho de João Batista pretende suscitar a em todo mundo para o grande desconhecido, o Portador da salvação, que vive entre os homens (Jo 1,14). Por isso, a de João Batista está orientada ao anúncio de Jesus e não é apenas para o consumo próprio. João Batista é aquele que chama atenção, não para si mesmo e sim para Aquele é o verdadeiro Salvador. João Batista nos ensina que a deve ser transformada em anúncio, o fiel deve se tornar em anunciador da Boa Nova. Todo cristão é um propagador da Palavra de Deus na aridez espiritual de nosso mundo, um propagador que chama os outros ao encontro de Jesus Cristo que é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).             

João Batista testemunha Jesus Cristo com fidelidade e valentia. Não quer falar de si mesmo, nem contar seus méritos nem suas façanhas. João Batista somente quer que os outros o considerem como “a voz que clama no deserto”, a voz que prepara os caminhos de Deus, a voz que chama todos a preparar o lugar de Deus no mundo, especialmente no coração de cada um. A voz desaparece, mas a mensagem fica. 

O cristão é chamado a ser anunciador da Boa Nova, a ser a voz que grita, com a própria vida, a verdade de Cristo apesar da pobreza que experimenta e da fragilidade de suas palavras humanas. O cristão é o homem que se define em função de Cristo, d’Aquele que vem sempre aos seus para comunicar salvação e vida. 

Como cristãos e como pessoas do bem devemos ser a voz de Deus sobre o amor neste mundo. Podemos desaparecer, mas a marca de amor que testemunhamos e transmitimos deve ficar para sempre entre as pessoas. Além disso, nós, como João Batista, deveríamos falar menos de nós mesmos, acreditar menos em nós mesmos e nos converter em “a vozquetestemunho de Deus, de seu amor presente em Jesus Cristo. Santo Agostinho comenta: João era voz, mas o Senhor é a Palavra que no princípio existia. João era uma voz provisional; Cristo, do princípio, é a Palavra eterna. Ao tirar a palavra, o que será a voz? Se não houver conceito, tudo será nada mais do que ruído vazio. A voz sem palavra chega ao ouvido, mas não edifica o coração. João é a voz que grita no deserto, a voz que rompe o silêncio...”.             

Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’”. Somos chamados a ser voz do Senhor neste mundo. Ser voz é uma vocação muito humilde, mas é maior de todas. Ser voz é ser uma mensagem, é ser uma chamada aos demais para o bem, para a Luz que ilumina. A voz é feita para proclamar, para anunciar e para denunciar. A voz deixará de ser voz, se não gritar, se não proclamar, anunciar e denunciar. A voz se condenará, se deixar de anunciar a mensagem sobre o bem. Uma voz do bem é capaz de renovar o mundo. Se faltarem as vozes do bem para anunciar e denunciar, o mundo perderá sua consciência. Por esta razão, como vale e quanto vale sua voz! Como vale e quanto vale sua palavra! Como vale e quanto vale sua mensagem! Como vale e quanto vale seu grito que rompe o comodismo, que rompe o modo de viver sem vida. 

Quem és tu?”. João Batista, nesta passagem, não nos indica o que devemos fazer e sim o que devemos e podemos ser. Trata-se da transparência de um homem. 

João Batista era um personagem realmente raro: vivia no deserto, mal alimentado. Mas ele se converteu em um homem perigoso, criador de um movimento popular que alarmou às autoridades supremas religioso-políticas de Jerusalém que lhe enviam uma comissão para investigar com o intuito de detê-lo se pretender ser o Messias cuja iminente chegada se esperava naquele ambiente tenso da Palestina de mediados do século I, a causa principal da miséria e da dominação romana. 

A interrogação começa autoritariamente, sem fórmulas de cortesia: “Quem és tu?”. Os enviados vindos de Jerusalém querem que o próprio João Batista declare suas intenções. De maneira tão simples e direta, João responde-lhes: “Eu não sou o Messias!”. Para os judeus declarar-se Messias significava opor-se às autoridades existentes, que se sentiam inseguras diante dos movimentos populares. Porque, segundo uma opinião muito estendida na época, um dos principais objetivos do Messias haveria de ser a reforma das instituições e a destituição da hierarquia existente. Não é estranho, por isso, o alarme dos dirigentes diante da atividade de João Batista e ficam desorientados. 

O evangelista João põe em boca de João Batista a triple negação, porque as três figuras vão ser apresentadas por Jesus. O Messias, Elias e o Profeta encarnavam diversos aspectos da salvação esperada com instrumentos do Espírito. 

Quem és tu?”. As autoridades pedem que João Batista se defina. As autoridades querem uma resposta clara para julgar se João Batista representa um perigo. Querem saber o que pretende com sua atividade. João Batista se define como “a voz que clama no deserto”. É alguém que deve ocultar-se para não fazer sombra para Aquele que vem. João é “a voz”, Jesus é “a Palavra”. 

A pergunta Quem és tu?” também é dirigida a cada um de nós. Por acaso, cada um de nós, do ponto de vista cristão, pode se definir? Se soubermos quem somos, saberemos também o que devemos fazer e o que não devemos fazer. 

Para que possamos nos definir é preciso fazer o encontro pessoa com Jesus e contemplar Jesus Cristo, Luz do mundo para que sejamos reflexos de sua luz para os outros, iluminado suas vidas embora o reflexo dure apenas em pouco tempo. Ser reflexo de Cristo é levar um raio de esperança aos corações entristecidos. Ser reflexo de Cristo é levar um sorriso gratuito numa sociedade violenta. Ser reflexo de Cristo é saber apreciar o lado bom das coisas e das pessoas e entender que nem tudo é relativo, pois existe o Absoluto: Deus. Ser reflexo de Cristo é encontrar o sentido da vida a partir da luz da Palavra de Deus. Sejamos como vela. Ela se consome iluminando a circunstância. A vida de uma vela dura pouco tempo, mas é suficiente para espantar a escuridão e mostrar o caminho a seguir. Neste mundo todos os cristãos são vozes vivas de Cristo para os outros e são luzes para apontar o caminho certo a ser trilhado.

P. Vitus Gustama,svd

Santa Maria, Mãe de Deus, 01/01/2024

SANTA MARIA, MÃE DO PRÍNCIPE DA PAZ

Primeira Leitura: Nm 6,22-27

22 O Senhor falou a Moisés, dizendo: 23 “Fala a Aarão e a seus filhos: Ao abençoar os filhos de Israel, dizei-lhes: 24 ‘O Senhor te abençoe e te guarde! 25 O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! 26 O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!’ 27 Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei”. 

Segunda Leitura: Gl 4,4-7

Irmãos: 4 Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, 5 a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. 6 E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá — ó Pai! 7 Assim, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro: tudo isso por graça de Deus.

Evangelho: Lc 2,16-21

Naquele tempo, 16 os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. 17 Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. 18 E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam. 19 Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração. 20 Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. 21 Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido.

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Hoje é o oitavo dia da oitava de Natal; é o Natal prolongado por ser tão profundo o significado do mistério da Encarnação de Deus. Ou nas palavras do Papa Paulo VI: “O tempo do Natal é uma comemoração prolongada da maternidade divina, virginal e salvífica daquela cuja virgindade intocada trouxe ao mundo o Salvador” (Marialis Cultus, n.5). É o primeiro dia do Ano Novo: uma conclusão e um início. A Igreja consagra este dia à Virgem do caminho: à Mãe de Deus. A designação e a festa (Mãe de Deus) deixam bem claro o seu objetivo de homenagear a maternidade divina de Maria com solenidade à altura. Seu objetivo é “exaltar a singular dignidade que este mistério confere à Mãe Santíssima, por meio de quem fomos considerados dignos de receber o Autor da Vida” (Marialis Cultus, n.5). De fato, a liturgia deste dia sempre teve caráter nitidamente mariano.

O título “Mãe de Deus” declara o vínculo indissolúvel que une ao Filho de Deus feito homem. Foi justamente a partir da reflexão sobre o mistério de Cristo que amadureceu na Igreja o autêntico conhecimento de Maria. Sobre a maternidade divina de Maria, Santo Tomás de Aquino escreveu: “Deve-se afirmar que a Bem-aventurada Virgem é chamada Mãe de Deus não porque seja mãe da divindade, e sim por ser mãe segundo a humanidade, de uma pessoa que possui a humanidade e divindade” (Suma Teológica, III,35,4,2).

O título “Theotokos” (portadora de Deus) foi aplicado a Maria pelos Padres gregos no século III. E o título foi mantido pelos concílios de Éfeso (em 431) de Calcedônia (em 451). No Ocidente, Maria foi igualmente homenageada com o título de Dei Genetrix (Mãe de Deus).  O título “Mãe de Deus”, sancionado pelo Concílio de Éfeso declara vínculo indissolúvel que une ao Filho de Deus feito homem. 

Porém, Maria não somente desempenha seu papel como “Portadora de Deus”. Ela também tem a maternidade espiritual para a humanidade. Maria é a Mãe de todos os viventes na ordem da graça, pois ao dar à luz Jesus Cristo, ela também deu à luz espiritualmente todos aqueles que viriam a Ele para formar uma família na base da escuta e da prática da Palavra de Deus (Cf. Mt 12,48-50). Na graça, Jesus Cristo é o primogênito de muitos irmãos da humanidade, a Cabeça da humanidade redimida

Hoje é também o Dia mundial da Paz.  O Papa Paulo VI fez desta data um dia especial de oração pela paz universal: “Esta é igualmente uma ocasião apropriada para renovar a adoração ao Príncipe da Paz recém-nascido, para ouvir mais uma vez as alegres notícias dos anjos e para implorar a Deus, por intermédio da Rainha da Paz, o supremo dom da paz. É por essa razão que, na feliz coincidência da oitava de Natal e do primeiro dia do ano, instituímos o Dia Mundial da Paz, uma ocasião que vem ganhando apoio sempre crescente e suscitando frutos de paz no coração de muitos” (Marialis Cultus, n.5).

E o evangelho lido neste dia é tirado do relato do nascimento de Jesus. Quem gerou o Príncipe da Paz é, certamente, Maria, Mãe de Deus. A Paz se fez carne pelo sim de Maria e pela benevolência de Deus simultaneamente. O nascimento do Príncipe da Paz faz os anjos e a multidão do exército celeste louvarem e cantarem o hino conhecido liturgicamente como o Hino da Glória: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama” (Lc 2,14). A paz de Cristo pode existir e chegar até onde há guerra e lutas sectárias. Todos os cristãos devem estar conscientes de que a paz cristã não é apenas de ordem espiritual. Não pode haver paz verdadeira e duradoura onde sejam negados a justiça e os direitos humanos. Por isso, a paz não é apenas a ausência de guerra e sim o reconhecimento universal de que todos os homens são irmãos, pois tem Deus como o Pai Comum.

Maria, Mãe De Deus É O Retrato De Uma Nova Mulher          

“Mãe de Deus. Este é o título principal e essencial de Nossa Senhora. Trata-se duma qualidade, duma função que a fé do povo cristão, na sua terna e genuína devoção à Mãe celeste, desde sempre Lhe reconheceu. Lembremos aquele momento importante da história da Igreja Antiga que foi o Concílio de Éfeso, no qual se definiu com autoridade a maternidade divina da Virgem. Esta verdade da maternidade divina de Maria ecoou em Roma, onde, pouco depois, se construiu a Basílica de Santa Maria Maior, o primeiro santuário mariano de Roma e de todo o Ocidente, no qual se venera a imagem da Mãe de Deus – a Theotokos – sob o título de Salus populi romani. Diz-se que os habitantes de Éfeso, durante o Concílio, se teriam congregado aos lados da porta da basílica onde estavam reunidos os Bispos e gritavam: ‘Mãe de Deus!’ Os fiéis, pedindo que se definisse oficialmente este título de Nossa Senhora, demonstravam reconhecer a sua maternidade divina. É a atitude espontânea e sincera dos filhos, que conhecem bem a sua Mãe, porque A amam com imensa ternura. Mais ainda: é o sensus fidei do povo santo de Deus que nunca, na sua unidade, nunca erra”, disse o Papa Francisco na sua homilia no dia 1° de Janeiro de 2014.

Celebrar, no início de um novo ano, a maternidade de Maria como Mãe de Deus e nossa mãe significa avivar uma certeza que nos há de acompanhar no decorrer dos dias: somos um povo com uma Mãe, não somos órfãos. As mães são o antídoto mais forte contra as nossas tendências individualistas e egoístas, contra os nossos isolamentos e apatias. Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria, mas também uma sociedade que perdeu o coração, que perdeu o «sabor de família». Uma sociedade sem mães seria uma sociedade sem piedade, com lugar apenas para o cálculo e a especulação. Com efeito as mães, mesmo nos momentos piores, sabem testemunhar a ternura, a dedicação incondicional, a força da esperança. Aprendi muito com as mães que, tendo os filhos na prisão ou estendidos numa cama de hospital ou subjugados pela escravidão da droga, esteja frio ou calor, faça chuva ou sol, não desistem e continuam a lutar para lhes dar o melhor; ou com as mães que, nos campos de refugiados ou até no meio da guerra, conseguem abraçar e sustentar, sem hesitação, o sofrimento dos seus filhos. Mães que dão, literalmente, a vida para que nenhum dos filhos se perca. Onde estiver a mãe, há unidade, há sentido de pertença: pertença de filhos”, disse o mesmo Papa Francisco na sua homilia no dia 1° de janeiro de 2017.

Na anunciação Maria é convidada pelo anjo a alegrar-se por causa da graça: “Alegra-te, ó cheia de graça” (Lc 1,280) e é convidada a não ter medo, devido à mesma graça: “Não tenhas medo, Maria, pois achaste graça” (Lc 1,30). No início, Maria não é chamada pelo nome, mas o Anjo do Senhor chama-a simplesmente de “cheia de graça”. Na graça se encontra a identidade mais profunda de Maria. A graça de Maria está certamente em função daquilo que vem depois no anúncio, a sua missão de Mãe do Messias, mas também como uma pessoa tão cara para Deus desde a eternidade. A graça na linguagem grega (charis= graça) significa aquilo que dá alegria (charà= alegria). A razão principal da alegria de Maria e de nossa alegria é a graça de Deus. Além disso, a graça de deus é a razão do ser de Maria e de nosso ser, como diz São Paulo: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1Cor 15,10). A graça de Deus também é a razão da coragem de Maria e de nossa coragem. Quando São Paulo se queixava do agulhão, Deus respondeu: “Basta-te a minha graça” (2Cor 12,9). Por isso, a exemplo de Maria, Mãe de Deus, é preciso fazer o possível para renovar cada dia o contato com a graça de Deus que está em nós. Trata-se de entrar em contato com uma pessoa, uma vez que a graça não é senão Cristo em nós, esperança da glória.          

Por tudo isso, Maria é a nova Mulher e representa a nova mulher. Como Maria, Mãe de Deus, a Igreja e a sociedade necessitam da mulher consciente, adulta, cheia de amor e de amizade cristã. As crianças, os jovens e os adultos necessitam de mães cheias de mensagens de Deus, portadoras dos valores eternos e firmes. Ser nova mulher é fazer do lar uma pequena comunidade de fé de amor. Ser nova mulher é testemunhar a sinceridade, a lealdade e a autenticidade em casa e na vida pública, é ser uma pessoa de Deus, de oração e de meditação, ser pessoa apegada à verdade. A nova mulher salva, edifica, pacifica, educa, santifica e transforma. Nova mulher é aquela que diz “sim” ao filho que vai nascer. É aquela que diz “sim” à educação cristã e humana dos filhos. É aquela que diz “não” à malícia, à astúcia, à mentira, à violência, ao aborto.          

Se toda a mulher for a nova mulher junto com o novo homem, a família terá mais amor, serenidade e ternura. Por tudo isso, temos razão de olhar para a Mãe de Deus, que fez nascer a Paz para este mundo e dirigir a nossa oração: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém”     

Maria É a Mãe Do Príncipe Da Paz          

Com o nascimento do Verbo Divino, Jesus Cristo, através do SIM de Maria pela benevolência de Deus, a distância entre o Criador e a criatura, simbolizada pela menção do “céu” e da “terra”, é superada pela nova e definitiva Aliança de Deus com os homens em Jesus Cristo. Jesus, o Verbo encarnado, une o céu e a terra. O Deus “nas alturas” inclina-se sobre a “terra” dos “homens” por pura benevolência de Deus. O nascimento de Jesus é a expressão mais profunda do amor de Deus pelos homens, objeto do seu bem-querer. Jesus é a Palavra de graça e de salvação de Deus. Jesus é a última Palavra de Deus para os homens. Depois que o céu desceu à terra pela encarnação do Verbo eterno, o céu e a terra estão indissoluvelmente unidos. A salvação está na união do céu e da terra. Para que estejamos mais unidos entre nós na terra, e para que aconteça a salvação, temos que estar unidos com o céu.          

Além disso, o texto quer nos mostrar que a origem e o fundamento da “paz na terra” estão na benevolência de Deus ou no seu bem-querer. A raiz última do desígnio salvífico de Deus está na sua benevolência. O evangelista Lucas certamente quer nos transmitir um Deus que não é um juiz frio e distante, que não se comove com o sofrimento humano, mas o Deus que “desce” ao encontro dos homens que ele ama, que respeita nossa liberdade, mas que espera nossa resposta ao amor que ele nos oferece. Deus nos quer bem, não porque nós somos bons e justos, mas porque Ele é bom, justo e misericordioso. Ao aceitar o Deus da bondade e da justiça seremos bons e justos também para com os outros. Por este tipo de Deus que o evangelista Lucas nos transmite é que o seu evangelho é conhecido como o Evangelho da graça, da misericórdia e da ternura. Por mais duro que seja um coração, ele não encontrará nenhuma resistência diante da ternura e da misericórdia de Deus. A nossa felicidade nesta terra, e a nossa segurança na caminhada diária estão na fé, na esperança e na certeza do amor absolutamente gratuito de Deus para conosco e na nossa acolhida deste amor gratuito. A paz anunciada pelos anjos aos pastores e que eles a acolhem fazem os mesmos irem “às pressas” a Belém para encontrar-se com o Príncipe da paz e saírem correndo para anunciá-la para os outros, pois a graça de Deus não permite a demora e não permite uma vida parada.          

Portanto para que a paz anunciada pelos anjos reine verdadeiramente na terra é necessário que se realize uma única condição: que o coração humano se abra ao amor de Deus e o acolha. Nada tem uma força tão transformadora como o Evangelho da justiça, da misericórdia e da paz de Deus, quando ele é acolhido e testemunhado com um coração aberto a Deus e aos homens que Deus ama. Ao contrário, todo poder constituído sobre o egoísmo e a arrogância, sobre a prepotência e a opressão tem apenas os pés de barro. Cedo ou tarde ele desmorona.          

No início do Ano Novo, certamente, nós desejamos a paz mutuamente. Não é por acaso que neste dia lemos como a primeira leitura um trecho do Livro de Números (Nm 6,22-27) que contém a bênção usada pelos sacerdotes no encerramento das celebrações litúrgicas no Templo: “Deus te abençoe e te guarde! Deus faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno! Deus mostre para ti a sua face e te conceda a paz!” A cada uma das três invocações são acrescentados dois pedidos de bênção. É um dos textos mais ricos teologicamente e de maior elegância literária de todo o Pentateuco. As três versículos (v. 24; v.25; v.26) são paralelos entre si, tanto na forma como no conteúdo. E nos três versículos repete-se de forma explícita o nome de Deus para mostrar que a fonte e o princípio de toda a bênção é Deus; o sacerdote é apenas o mediador.         

No v. 24 emprega-se os verbos “abençoar” e “guardar”. “Abençoar” e “bênção” são os termos clássicos empregados pelo AT para exprimir toda espécie de bens e de dons, tanto de ordem natural quanto de ordem sobrenatural. “Guardar” exprime a proteção de Deus que acompanha seu povo para defendê-lo de suas adversidades e salvá-lo de suas desventuras.  Se Deus quer nos proteger sempre, por nossa vez, devemos saber proteger os outros e desejar a bênção para os mesmos. Pois a bênção dada é a bênção recebida.          

No v.25 usa-se uma fórmula de caráter antropomórfico, isto é, a descrição da essência e dos atributos divinos através do uso da figura humana; ou dar o rosto humano ao rosto divino. Tudo isto é o sinal da pobreza da linguagem humana para descrever a grandeza de Deus: Deus faça resplandecer o seu rosto sobre ti e conceda-te sua graça (ou seja, seus favores e seus benefícios)! Esta expressão pode-se encontrar nos Salmos (cf. Sl 79,4.8.20; Sl 66,2). Um rosto resplandecente é a expressão da bondade e da benevolência de Deus. Para que possamos irradiar os outros com a resplandecência de Deus, temos que contemplar “a face” de Deus, como os olhos que só funcionam quando existe a luz, pois na escuridão, embora tenham-se os olhos sadios, não podem enxergar nada.          

No v. 26 pede-se a paz: “Deus mostre para ti a sua face e te conceda a paz!” Esta invocação final “te conceda a paz” junto a primeira “te abençoe” é mais densa teologicamente porque os dois termos “bênção” e” paz” (SHALOM) são uma expressão mais plena dos bens da salvação no sentido mais pleno da palavra: os bens do céu e os bens da terra, a saúde do corpo e a saúde da alma, a prosperidade e a felicidade sem limites, a vida, a alegria, a plenitude e satisfação dos anseios e desejos mais profundos do homem, tanto nas relações inter-humanas como em sua projeção para Deus. Não é por acaso que o povo semita deseja entre si com a saudação “Shalom” pois o “Shalom” condensa todo o bem que se pode desejar a uma pessoa.          

O povo grego traduz o termo hebraico “Shalom” por “EIRENE” que significa prosperidade, mas também repouso, tranquilidade de alma. Para os gregos, a paz é um estado de tranquilidade. Não há conflito. Neste estado de tranquilidade e paz, o ser humano pode criar uma existência segura e consequentemente ele pode alcançar a prosperidade. O termo “eirene” também tem a ver com a harmonia: tudo combina com tudo, formando um todo coeso. Se tudo está em ordem para o homem, ele pode conviver harmoniosamente com seus irmãos e irmãs. A paz é por isso, é uma tranquilidade da ordem onde cada um ocupa seu lugar e exerce seu próprio papel com responsabilidade e com justiça.         

Os latinos, especialmente os romanos, traduzem o “Shalom” por “Pax de onde vem a palavra paz em português. O termo “Pax” vem de “pacisci”, que significa conduzir negociações, firmar um pacto, concluir um contrato. Para os romanos a paz nascia na medida em que eles falavam entre si e chegavam a um acordo a partir de regras comuns. Na aliança firmada, ambas as partes se comprometiam a observar acordos comuns. A paz para os romanos, então, deve ser conquistada por meio de um acordo comum a partir de princípios iguais. Quando se trata da paz como um pacto por meio de um acordo comum a partir de princípios iguais, isto supõe que as pessoas devam se falar para que surja a paz. Isto quer dizer que a paz só nasce quando um escuta o outro, quando um dá a atenção ao outro e quando, nesse ouvir comum, surge um compromisso com o qual todos podem viver bem harmoniosamente.          

Apesar de tudo isto, Deus sabe que o homem, por si mesmo, não é capaz de ter a paz consigo mesmo, com a criação e com os outros sem a presença do Príncipe da Paz. Por isso, o próprio Deus envia seu Filho, Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. A paz é um dom de Deus para o ser humano. O evangelista Lucas anuncia Jesus como o Imperador da paz, pois traz a paz para o mundo inteiro, sem armas, apenas através do amor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, diz Jesus aos seus seguidores (cf. Jo 15,12). Quando ele nasceu, os anjos anunciaram ao mundo a paz sobre a terra: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama”. Os anjos nos convidam a abrirmos os nossos olhos e o nosso coração para a paz que Deus nos oferece através de glorificação de seu nome sobre a terra. Se a glória de Deus não ocupar o lugar principal na convivência humana, a humanidade carecerá de paz verdadeira. Se o ser humano der espaço para que o Príncipe da Paz, Jesus Cristo, reine seu coração, os seus nervos se tranquilizam. Com a paz de Deus, os oprimidos ganham força, os aflitos e desesperados o alento e esperança, os desorientados a direção, os que estão na escuridão a luz, os inimigos a reconciliação, e os pecadores o perdão. Por isso, a paz é o maior dom que você recebe de Deus e o maior presente que você pode ou possa dar para os outros.          

Para que a paz possa reinar nossa vida temos que ficar desarmados em todos os sentidos. Não são só os outros que estão armados. Cada um tem o seu próprio coração armado, à defensiva por causa da soberba, e agressivo por causa da ambição de poder e de domínio. Enquanto não estivermos desarmados completamente por dentro e por fora, falar da paz é uma perda de tempo e energia, pois a paz verdadeira está longe de nós. Enquanto não estivermos em paz com Deus, com a nossa consciência, com os de casa e resto dos familiares, com os vizinhos, amigos, companheiros de trabalho é inútil abrirmos a garrafa de champanhe ou vinho. Não há paz sem fraternidade, justiça, amor e perdão. É urgente ficarmos desarmados completamente por dentro e por fora. Única “arma” permitida na convivência é o amor mútuo, pois ele é o maior de todos os mandamento e o resumo da vida eterna.          

Que Maria, a Mãe do Príncipe da Paz, interceda por nós para que, como ela, possamos também ser geradores ou construtores da paz neste mundo. Como dizia Sto. Agostinho: “Não basta ser pacífico. É necessário ser “promotor da paz” (Serm. 357,1). A paz entre o homem e Deus é a harmonia da obediência do homem à vontade de Deus. A paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem” (Cidade de Deus, 19,13,1).

Deus nos deu o Novo Ano. Deus nos dá tempo para que o valorizemos. Quem não valoriza o tempo, enterra muitas oportunidades. “Amas a vida? Então não desperdices o tempo, porque ele é feito de vida”, dizia Benjamin Franklin. 

Portanto, dediquemos nosso tempo para trabalhar com entusiasmo, pois isto é o preço do triunfo. Dediquemos nosso tempo para pensar, pois isto é a fonte de nosso saber. Dediquemos nosso tempo para recriar e nos divertir, pois isto é o segredo da juventude. Dediquemos nosso tempo para ler, pois isto é a base de nosso conhecimento. Dediquemos nosso tempo também para rir e sorrir, pois isto é a essência para nosso contentamento. Dediquemos nosso tempo para os amigos, pois isto é também o caminho da felicidade. Dediquemos nosso tempo para sonhar, pois isto nos eleva para as estrelas de nossa vida. Dediquemos nosso tempo para amar e ser amado, pois isto é o caminho para nossa divinização. Dediquemos nosso tempo para orar, pois isto é o caminho para nos encontrarmos com Deus, nosso Pai. Dediquemos nosso tempo para planejar o tempo, pois isto é o segredo de renovação e de inovação. Por isso, no início do Ano Novo que começa, rezemos com o Salmista: “Ensinai-nos, Senhor, a contar nosso dias, para que tenhamos coração sábio” (Sl 90/89,12)

P. Vitus Gustama,SVD

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Fim Do Ano-Oração

ORAÇAO PARA O FIM DO ANO

Senhor Deus, Dono do tempo e da eternidade. Seu é o hoje e o amanhã, o passado e o futuro.

Os planos me pertencem, mas as horas Lhe pertencem, Senhor. Pois somente o Senhor tem uma bola de cristal sobre a minha vida e tenho apenas um mistério diante de mim que me chama a andar para entendê-lo passo a passo, mesmo que seja apenas uma porção dele para iluminar um pouco a minha caminhada diária.

Ao terminar este Ano quero Lhe dar graças por tudo que eu recebi de Sua bondade. Graças pela vida e pelo amor, pelas flores, pelo ar, pelo solo e pelo mar; pela alegria e a dor; por tudo que foi possível fazer.

Neste último dia do ano quero Lhe oferecer tudo que eu fiz, o trabalho que consegui realizar, as coisas que passaram pelas minhas mãos e que com elas pude construir minha vida e convivência.

Quero também lhe apresentar, Senhor, as pessoas que amei ao longo deste Ano, as novas e as antigas amizades; os mais próximos e os mais distantes e os que estiveram conosco no ano anterior e que partiram para a eternidade; os que eu pude ajudar; os que deram a mão para me levantar para andar em comunhão comigo rumo à felicidade eterna cujo prelúdio se inicia neste mundo. Agradeço-lhe, Senhor, pelos sucessos e conquistas que alcancei pelo meu crescimento e pelo bem dos que me amam; pela oportunidade para visitar e ajudar os doentes e necessitados.

Mas também, Senhor, hoje eu quero pedir-lhe perdão. Perdão pelo tempo perdido, pelo dinheiro mal gastado, pela palavra dita sem reflexão e por isso foi dita inutilmente, e pelo amor desperdiçado. Perdão, Senhor, por ter feito muitas coisas sem amar, por ter sofrido sem amadurecer, por ter sabido sem crescer. Perdão pelo tempo não valorizado e não usado indevidamente, e por isso enterrei muitas oportunidades e comecei a sentir a frustração. Perdão pelos comentários maldosos que causaram tantas feridas na vida dos ofendidos. Perdão pelas minhas murmurações. Perdão pelo trabalho mal feito e foi feito pela metade. Perdão por viver sem entusiasmo. Cure, Senhor, os corações que feri consciente ou inconscientemente. Que haja sempre o encontro de amor entre nós, mesmo que seja através de tantos sofrimentos e obstáculos.

Peço-lhe, Senhor, que complete o que ficou incompleto em mim para o Ano Novo que começa. Aperfeiçoe o que ficou imperfeito. Enchei o que totalmente ficou vazio de amor no meu coração. Santifique o que foi maculado pelas manchas da falha humana consciente ou inconscientemente. No lugar de indiferença coloque mais ternura, na frieza mais amor, nas loucuras mais discernimento, na acomodação mais dinamismo, na discórdia mais concórdia, nas guerras mais paz, nas palavras mais gestos, nos interesses mais ética, na artificialidade mais valores, nas críticas mais sugestões construtivas, na inteligência mais sabedoria, e nas preocupações mais fé. Para que eu possa viver cada dia com otimismo e bondade levando para todas as partes um coração cheio de compreensão e paz. Abra, Senhor, meu ser para tudo o que é bom e digno, encha meu espírito somente de bênçãos para que eu seja uma bênção para todos: para onde eu for e onde eu estiver.  Senhor, dê-me a capacidade de escutar para compreender, e amar para ser.

Se ando, ó minha Luz, iluminai-me.

Se estiver cansado, fortificai-me.

Se eu parar no caminho, empurrai-me, forçai-me, estimulai-me.

Se eu cair, levantai-me.

Se eu estiver cansado, fortificai-me.

Se estiver fraco, carregai-me.

Se for atacado, defendei-me.

Se estiver perdido, procurai-me.

Deixo-me conduzir pela vossa sabedoria.” (Jean Crasset)

E dê-nos um Ano Feliz e ensine-nos a partilhar a felicidade para que nossa felicidade seja completa. Ensina-nos, Senhor, a contar nossos dias para que venhamos a ter um coração sábio (Sl 89(90),12).

“É graça divina começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa, manter o ritmo... Mas a graça das graças é não desistir. Podendo ou não podendo, caindo, embora aos pedaços, chegar até o fim” (Dom Hélder Câmara).

Imagine que você tem uma conta corrente e a cada manhã você acorda com um saldo de US$ 86.400,00. Só que não é permitido transferir o saldo do dia para o dia seguinte. Todas as noites, seu saldo é zerado, mesmo que você não tenha conseguido gastá-lo durante o dia. O que você faz? Você irá gastar cada centavo, é claro!

Todos nós somos clientes desse banco de que estamos falando. Chama-se TEMPO.

Todas as manhãs são creditados, para cada um, 86.400 segundos. Todas as noites é debitado como perda. Não é permitido acumular esse saldo para o dia seguinte. Todas as manhãs, sua conta é inicializada e, todas as noites, as sobras do dia evaporam-se. Não há volta. Você precisa gastar, vivendo no presente o seu depósito diário.

Invista, então, no que for melhor: na saúde, na felicidade e no sucesso. O relógio está correndo. Faça o melhor para o seu dia-a-dia. Para você perceber o valor de UM ANO, pergunte a um estudante que repetiu de ano. Para você perceber o valor de UM MÊS, pergunte para uma mãe que teve seu bebê prematuramente. Para você perceber o valor de UMA SEMANA, pergunte para o editor de um jornal semanal. Para você perceber o valor de UMA HORA, pergunte aos enamorados que estão esperando para se encontrar. Para você perceber o valor de UM MINUTO, pergunte a uma pessoa que perdeu o avião. Para você perceber o valor de UM SEGUNDO, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente. Para você perceber o valor de UM MILISEGUNDO, pergunte a alguém que ganhou uma medalha de prata em uma Olimpíada.

Valorize cada momento que você tem! E valorize mais, porque você deve dividir com alguém especial, especial suficiente para gastar o seu tempo junto com você. Lembre-se de que o tempo não espera por ninguém. O ontem é história. O amanhã é mistério. O hoje é uma dádiva; por isso, é chamado de PRESENTE!” (Anônimo)

P. Vitus Gustama, svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...