segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Dia De Finados, 02/11/2022

DIA DE FINADOS

I. Qual O Sentido Da Morte A Partir Do Novo Catecismo Da Igreja Católica?

·      Artigo 1010

Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. «Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro» (Fl 1, 21). «É digna de fé esta palavra: se tivermos morrido com Cristo, também com Ele viveremos» (2 Tm 2, 11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Baptismo, o cristão já «morreu com Cristo» sacramentalmente para viver uma vida nova; se morremos na graça de Cristo, a morte física consuma este «morrer com Cristo» e completa assim a nossa incorporação n'Ele, no seu acto redentor: “É bom para mim morrer em Cristo Jesus, mais do que reinar dum extremo ao outro da terra. É a Ele que eu procuro, Ele que morreu por nós: é a Ele que eu quero, Ele que ressuscitou para nós. Estou prestes a nascer [...]. Deixai-me receber a luz pura: quando lá tiver chegado, serei um homem” (Santo Inácio de Antioquia, Rm 6,1-2).

·      Artigo 1011

Na morte, Deus chama o homem a Si. É por isso que o cristão pode experimentar, em relação à morte, um desejo semelhante ao de S. Paulo: “Desejaria partir e estar com Cristo” (Fl 1, 23). E pode transformar a sua própria morte num acto de obediência e amor para com o Pai, a exemplo de Cristo (592): “O meu desejo terreno foi crucificado: [...] há em mim uma água viva que dentro de mim murmura e diz: ‘Vem para o Pai’” (Sto.Inácio de Antioquia, Rm 7,2). “Ansiosa por ver-te, desejo morrer” (Sta. Teresa de Jesus, Poesia 7). “Eu não morro, entro na vida” (Sta. Teresinha do Menino Jesus, Lettre). 

·      Artigo 1012.

A visão cristã da morte é expressa de modo privilegiado na liturgia da Igreja: “Para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma: e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (Prefácio Dos Fiéis Defuntos I). 

·      Artigo 1013. A morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo de graça e misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar “a nossa vida sobre a terra, que é só uma” (Lumen Gentium,48), não voltaremos a outras vidas terrenas. “Os homens morrem uma só vez” (Heb 9, 27). Não existe “reencarnação” depois da morte.

·      Artigo 1014. A Igreja exorta-nos a prepararmo-nos para a hora da nossa morte (“Duma morte repentina e imprevista, livrai-nos, Senhor”: antiga Ladainha dos Santos), a pedirmos à Mãe de Deus que rogue por nós “na hora da nossa morte” (Oração da Ave-Maria) e a confiarmo-nos a S. José, padroeiro da boa morte: “Em todos os teus actos em todos os teus pensamentos, havias de te comportar como se devesses morrer hoje. Se tivesses boa consciência, não terias grande receio da morte. Mais vale acautelares-te do pecado do que fugir da morte. Se hoje não estás preparado, como o estarás amanhã?” (Imitação de Cristo 1,23,5-8). “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum homem vivo pode escapar. Ai daqueles que morrem em pecado mortal: Bem-aventurados os que ela encontrar a cumprir as tuas santíssimas vontades, porque a segunda morte não lhes fará mal» (S. Francisco de Assis, Cântico das Criaturas).         

------------------------

II. Dia de Finados É o Dia Familiar

Hoje é o dia especial em que todos nós somos chamados a voltar para a raiz familiar onde todos nós voltamos a sentir de uma maneira especial a presença de todos os membros de nossa família tanto dos vivos como dos que partiram. É o dia de saudade. A saudade é, paradoxalmente, a presença forte na ausência. Por algum instante visitamos na memória o passado no qual convivíamos e que no presente estão ausentes fisicamente. É um dia de saudade dos que conviveram conosco, mas partiram antes de nós, mas com a esperança de que, um dia, possamos nos encontrar todos na comunhão plena e eterna com o Deus da Vida. É o dia de saudade porque quando a morte atinge nossos entes queridos, parte de nós se vai com eles. Nós nos unimos à sua entrega total e sabemos que também nós estamos morrendo. Algo de nós se vai para sempre quando uma pessoa amada morre. Nesta altura percebemos que a vida é sempre uma partida. Há uma partida para os olhos que se fecham, para os ouvidos que se cansam e para o corpo que envelhece.  A condição humana é ser passageiro, ser transitório. Estamos sempre na saudação dos que chegam no nascimento e da despedida dos que partem sem volta. Em tudoum adeus. E ninguém tem poder de parar o tempo.          

Por isso, a morte é o caminho necessário de todos os viventes. Todo nascimento é uma referência existencial à morte que é seu termo. Em outras palavras, a chegada será sempre uma partida. A morte é o caminho que termina em Deus, de onde, um dia, saímos. Isto significa que nós pertencemos ao Senhor, como diz São Paulo: “Se vivemos, é para o Senhor, que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,8). A vida que nos foi dada não pertence ao homem, mas a Deus.  Essa pertença a Deus é o que torna a vida algo sagrado. Por isso, quem dá a vida, quem a mantém, quem a leva à plenitude não é o homem, mas o próprio Deus. E para todos os homens, a vida temporal é dada como semente de vida eterna. Os bens que recebemos de Deus e os bens que fizemos são do Senhor, embora tenham frutificado para nós. Por isso, morrer significa entregar totalmente a vida a Deus. O mesmo Senhor que nos criou por amor, nos acolhe para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com Ele.         

Por isso, para aquele que morre em comunhão com Deus, morrer é um privilégio, pois estará em comunhão eterna com Deus, é a vida de Deus participada plenamente ao homem. É uma partida com chegada definitiva. São Pedro expressa esta realidade nestas palavras: “Fugindo da corrupção, nos tornamos participantes da natureza divina” (2Pd 1,4). A morte é um acontecimento essencialmente ligado ao privilégio de viver dado por Deus.          

Por isso, a vida pode ser vivida em profundidade quando se sabe por quem e para quem se vive. Para o homem religioso ou espiritual, viver significa viver para o Senhor, e morrer é entregar a vida para Deus a exemplo de Jesus Cristo, que ao entregar a vida totalmente à vontade de Deus, ele experimentou a ressurreição. A ressurreição de Jesus é a mensagem mais clara sobre o futuro do homem.   

Hoje a maioria pensa apenas naqueles que partiram. Mas este dia é para os que ficam também.  Os falecidos cumpriram sua missão de maneira plena ou menos plena. Alguns morreram doando-se. Outros morreram por causas sublimes. E nós que ainda nos resta a vida o que devemos fazer?          

Em primeiro lugar, precisamos valorizar a presença, pois ela é um dom. Muitas vezes sentimos a importância de uma pessoa somente na sua ausência. Precisamos estar conscientes de que como é bom estarmos juntos enquanto for dado a nós o dom de convivência, pois vai chegar um dia em que seremos obrigados a viver de outra maneira. 

Em segundo lugar, não precisamos acumular as flores para formar um dia uma coroa de flores para um caixão, pois uma flor oferecida para uma pessoa viva vale muito mais do que uma coroa de flores para um morto. Que a coroa de flores na hora de morte seja uma acumulação de tantas flores oferecidas à pessoa em questão durante a vida. 

Em terceiro lugar, não precisamos esperar alguém morrer para elogiá-lo ou para falar de suas virtudes. É bom elogiarmos quem merece ser elogiado enquanto ele estiver convivendo conosco. Pois um elogio sincero dado para um vivo vale muito mais do que um elogio triste para um caixão, pois o caixão não tem ouvidos. Perdoemo-nos mutuamente enquanto estivermos vivos, pois como é bom experimentarmos o que é que a ressurreição ou a libertação enquanto para nós é dado o dom de viver um pouco mais. 

Em quarto lugar, como é triste morrer sem ter sabido viver e ao mesmo tempo como é triste viver sem aprender a morrer. Para vivermos melhor e com outra intensidade precisamos aprender a morrer. É o paradoxo da vida: para viver precisamos morrer. Precisamos aprender a morrer de nosso egoísmo, de nossa prepotência, de nosso rancor, de nossa falta de perdão, de nossa vingança, de nossa soberba que mata a caridade e a fraternidade, de nossa preguiça de rezar e de participar do banquete celeste aqui na terra que é a eucaristia. Em outras palavras, precisamos aprender a morrer de nossa morte para que possamos ressuscitar para uma vida com Deus. 

Em quinto lugar, precisamos rezar mutuamente para que um dia possamos nos encontrar todos no céu. 

Portanto, a verdadeira questão não é se há vida após a morte e sim, se há a vida antes da morte. “A grande desgraça acontece quando você pensa que você tem tempo” (Budá). Mas repentinamente, você perde tudo e todas as oportunidades. Aprendamos a valorizar o que temos, para não ser tarde demais em valorizar o que você tinha. Às vezes você nunca vai saber do valor do momento até que se torne uma memória. Como um dia bem aproveitado traz um sono feliz, assim também a vida bem vivida e convivida traz a morte feliz. Se você quiser ter algo que nunca teve, faça algo que nunca fez. Você nunca vai ser corajoso, se nunca sofreu alguma ferida; você nunca vai aprender, se nunca errou na vida; e você nunca vai ser uma pessoa sucedida, se nunca falhou na vida. A grande tragédia não é a morte e sim algo valioso que está morrendo dentro de você enquanto você está vivo. Que os falecidos descansem em paz e que convivamos em paz neste mundo. Assim seja!

Pe. Vitus Gustama, SVD 

 

Para Refletir

 

Prefiro que partilhes comigo uns poucos minutos,

Agora que estou vivo,

E não uma noite inteira quando eu morrer. 

Prefiro que apertes suavemente a minha mão,

Agora que estou vivo,

E não apóies o teu corpo sobre mim quando eu morrer. 

Prefiro que faças uma só chamada,

Agora que estou vivo,

E não faças uma inesperada viagem, quando eu morrer. 

Prefiro que me ofereças uma só flor,

Agora que estou vivo,

E não me envies um formoso ramo e uma coroa de flores

Quando eu morrer. 

Prefiro que elevemos juntos ao céu um oração,

Agora que estou vivo,

E não uma oração poética quando eu morrer. 

Prefiro que me digas umas palavras de alento,

Agora que estou vivo,

E não um dilacerante poema quando eu morrer. 

Prefiro que um só acorde de guitarra,

Agora que estou vivo,

E não uma comovedora serenata quando eu morrer. 

Prefiro que me dediques uma leve prece,

Agora que estou vivo,

E não um político epitáfio sobre minha tumba quando eu morrer. 

Prefiro desfrutar de todos os mínimos detalhes do tempo de nossa convivência,

Agora que estou vivo,

E não de grandes manifestações quando eu morrer. 

Prefiro escutar-te e ver-te um pouco nervos@

Dizendo o que sentes por mim,

Agora que estou vivo,

E não um grande lamento porque não o disseste no tempo certo, e agora estou mort@.... 

Aproveitemos a convivência fraterna e amorosa com os nossos seres queridos

Agora que estão entre nós...

Valorize as pessoas que estão à tua volta.

Ama-as, respeita-as e lembra-te delas,

Enquanto estão vivas.

Deus te abençoe!                                 

Pe. Vitus Gustama, SVD

domingo, 30 de outubro de 2022

01/11/2022-Todos Os Santos

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Evangelho: Mt 5,1-12

Naquele tempo, 1 vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4 Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim.  12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.          

________________

Neste dia celebramos a festa de todos os santos. O culto aos santos é a conseqüência de nosso Credo, conhecido como Símbolo Apostólico, onde professamos: “Creio... na comunhão dos santos...”. Esta pequena frase nos indica e afirma que a nossa relação com os santos é contínua porque acreditamos na não–interrupção da comunhão eclesiástica pela morte e ao mesmo tempo acreditamos no fortalecimento da mútua comunicação dos bens espirituais (LG no 49; compare com Rm 8,38-39). A Igreja dos peregrinos (todos nós mortais na história) sempre teve e continua tendo perfeito conhecimento dessa comunhão reinante em todo Corpo Místico de Jesus Cristo que é a Igreja (LG 50). A Igreja venera os santos como exemplos, pois eles são reflexos da santidade de Deus. Eles contemplam tanto o Deus santo a ponto de transformá-los em verdadeiros reflexos do Deus santo. Os santos nos ensinam a trilharmos o caminho da santidade que termina na comunhão com Deus. O Culto aos santos une-nos a Igreja celestial, pois acreditamos na vida sem fim, na vida eterna.          

Os santos no Céu não se tornam uns egoístas que gozam a merecida felicidade. Como irmãos que nos precederam, eles ainda se lembram de nós, seus irmãos, como Cristo sempre se lembra de nós. Os santos no Céu e os cristãos na terra são uma família única. Assim como uma família, um irmão ajuda o outro irmão. Por isso é que pedimos a ajuda dos santos. Se acreditamos na vida sem fim, então não há separação entre nós e os santos. Como irmãos nossos que nos precederam para a eternidade, sem dúvida nenhuma, eles continuam nos ajudando como eles nos ajudavam quando estavam conosco neste mundo.           

Entendemos aqui por “santos” todos os que já estão no céu e vêem o próprio Deus face a face porque viveram a vida de acordo com os ensinamentos de Cristo que se resumem no amor a Deus e ao próximo. São aqueles que estão na paz e na felicidade suprema (GS 93); aqueles que estão na comunhão perpétua da incorruptível vida divina (GS 18). Esta vida perfeita chama-se “o Céu”. O Céu é, certamente, o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado supremo e definitivo de felicidade. O céu é o estado em que todos alcançam a maturidade no amor, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O Céu é o desejo de todos nós que estamos peregrinando ainda nesta terra. Participar da vida divina, a vida em sua plenitude, a vida cheia de amor é o que queremos todos os dias, tanto para nós e nossos familiares como para aqueles que nos precederam. Sobre o Céu, conforme as palavras de São Paulo, citando Is 64,4, podemos dizer de outra maneira: “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2,9). O céu é onde os cristãos e as pessoas de boa vontade se encontram com Cristo (cf. Jo 14,3; Mt 25,31-45). O céu é para as pessoas que vivem as atitudes básicas assinaladas pelas bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12). A única coisa que interessa a Deus é o nosso bem e o bem que praticamos em favos de nossos irmãos.                      

Como filhos de Deus, também estamos conscientes de que Deus é o Único Santo e fonte de toda santidade. Por isso, conseqüentemente, Ele é o Único que faz santos os participantes em sua vida por fruírem de sua santidade, por cumprirem seus desígnios, por entrarem na esfera vital de seu reinado, por viverem os ensinamentos de Jesus Cristo na vida diária. A santidade é uma forma normal de viver conforme os ensinamentos de Cristo. Quando o homem já participa em plenitude da vida de Deus no Reino dos céus, então é santo por sua comunhão de vida com Deus, o Único Santo (cf. 1Jo 3,2).          

Sabemos também que somente Deus pode receber o verdadeiro culto de adoração.  Dá-se, porém, o culto de veneração aos servidores de Deus que já estão unidos a Ele plenamente na glória e pela comunhão que mantém conosco, nos atraem para Deus e nos ajudam a percorrermos o caminho que trilharam e que nos conduzem à meta na qual nos precederam. Eles são prova evidente do amor de Deus e neles Deus nos fala. Eles são reflexos da santidade de Deus. Quando veneramos os santos é porque descobrimos neles mais vivamente a presença e o rosto de Deus; neles se manifesta a imagem de Deus, o Único Santo.          

Por isso, o culto aos santos não rebaixa nem diminui a adoração a Deus, pelo contrário, enriquece-a intensamente porque nos aproxima mais da única santidade de Deus que devemos imitar pessoalmente como o fizeram homens como nós enquanto percorriam o mesmo caminho que estamos percorrendo.          

Do ponto de vista cristológico nós sabemos também que Cristo é o Santo de Deus (Mc 1,24). Ele é a imagem do Deus invisível (Cl 1,15). A santidade do homem consiste em sua perfeita união com Jesus (LG 50). A santidade cristã é uma forma normal de viver segundo os ensinamentos de Cristo. Os santos são santos porque imitaram e viveram os ensinamentos de Jesus, Senhor de todos os santos. Eles produziram em si mesmos, de forma significativa, o mistério pascal de Jesus. Eles contemplam Cristo profundamente e por isso, se tornam reflexos de Cristo para os outros. Por isso, a união com os santos e seu culto unem-nos a Jesus, de quem dimana toda a graça santificadora; eles são seus amigos e co-herdeiros. Enfatiza-se muito, por isso, esse valor cristológico do culto aos santos na celebração eucarística. 

É evidente que os santos, cuja festa celebramos neste dia, não são somente aqueles que estão na lista oficial da Igreja. O livro de Apocalipse (Ap 7,2-14) fala de um desfile de 144 mil servos de Deus no céu. 144 é um número simbólico (12 x 12) significa a unidade e totalidade do povo eleito. Entende-se, por isso, uma grande multidão de pessoas de todos os povos e religiões, culturas, de antes e depois de Cristo. Por isso, nunca podemos esquecer que há exemplos de santidade e heroísmo cristão em outras Igrejas, religiões, povos e culturas. Reconhecer essa presença é uma ajuda para superar os nossos seculares preconceitos e para acolher com alegria esses parceiros na construção do Reino de Deus ou do mundo mais fraterno.           

Quando nós veneramos os santos, portanto, não somos idólatras. Se nós admirarmos e louvarmos um quadro de valor, por acaso o pintor deste quadro se sentirá ofendido? Ao contrário, ele não ficará feliz? Os santos são as obras artísticas de Deus, Aquele que esculpiu e pintou o seu semblante na alma deles. Se admirarmos ou louvarmos os filhos, por acaso o pai se ofenderá? O pai não ficará feliz pela admiração dada aos seus filhos por outras pessoas? Os santos são os filhos prediletos do Senhor, aqueles que mais se lhe assemelham.          

Mas devemos reconhecer que há pessoas que amam o santo ou a santa, mas não a sua santidade. São muitos cristãos que recorrem aos santos somente para os interesses materiais ou só para alcançar determinada graça e não para pedir a graça de seguir o exemplo desses santos que viveram até o fim os ensinamentos de Jesus Cristo. Não podemos abusar dos santos só para atender nossos desejos materiais, esquecendo-nos de que precisamos seguir seus exemplos de santidade.  Devemos saber que não há devoção mais eficaz do que a imitação das virtudes dos santos. Para que, seguindo o exemplo dos santos que viveram segundo os ensinamentos de Cristo durante sua vida terrena, possamos também alcançar a santidade para a qual todos nós somos chamados.           

A vocação à santidade é universal. Todos são chamados à santidade, segundo diz S. Paulo: “Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (cf. 1Ts 4,3;Ef 1,4). E o fundamento de nossa santidade ou da nossa perfeição é Jesus Cristo, cumpridor fiel da vontade de Deus. Como dizia Santa Teresa do Menino Jesus: “...Quem aspira à santidade deve fugir à tentação de querer santificar-se ao seu modo, conforme a própria vontade, seu ponto de vista, seus planos humanos, mas entregar-se inteiramente à vontade de Deus. Deus traça o caminho e o homem deve segui-lo” (Fd.5-10). E na mesma perspectiva São João da Cruz ensinou: “A santidade, ou seja, a união autêntica com Deus consiste na total transformação de nossa vontade na vontade de Deus, de tal modo que, em nós, nada contrarie a vontade do Altíssimo, mas nossos atos dependem totalmente do beneplácito divino” (Subida I-II,2).          

Portanto, o culto verdadeiro de veneração que prestamos aos santos não deve terminar neles. Ao contrário, deve acabar em Cristo como fonte da missão, grandeza, dignidade e privilégios destes santos. Os santos nos ajudam a termos fé firme em Jesus Cristo, mesmo que nos encontremos numa situação sufocante.          

Os santos são um grande exemplo de santidade e de cumprimento da vontade de Deus para nós. Não pensemos que não podemos resistir às tentações. Também os santos tiveram carne e sangue como nós; experimentaram as tentações como as nossas tentações, contudo eles venceram. Basta ler a história da vida dos santos, como Santo Agostinho, São Francisco de Assis, São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila e muitos outros santos, saberemos as lutas sem tréguas deles contra as paixões desordenadas, contra as tentações e outros problemas, no entanto venceram. Apesar de tantas dificuldades, os santos viveram os ensinamentos de Cristo até o fim de sua vida. Se eles venceram, será que nós não podemos vencer também? 

Ser santo é viver com a pureza de coração sem segundas intenções, oferecendo sinceridade e confiança. Ser santo é ter confiança, esperança, alegria, porque Jesus está conosco. Ser santo é solidarizar-se com aqueles que sofrem para aliviar sua dor. Santo na perspectiva de Jesus é quem decide construir um mundo novo onde os homens se amam, se querem e se ajudam, onde não se recusam uns aos outros por sua cor, dinheiro, poder e assim por diante. Por isso, a santidade não é um modo excepcional de viver e sim a forma normal de ser cristãos.      

Por esta razão, a festa de Todos os Santos deve ser para nós a ocasião para perceber melhor a natureza profunda da santidade que recebemos no Batismo e que devemos fazer frutificar ao longo de nossa vida para que um dia possamos, pela misericórdia de Deus, estar na comunhão dos santos eternamente.        

Alcançar a santidade é descobrir o espírito da bem-aventurança e da paz que deve animar toda a existência. É buscar o bom sempre o bom, o certo, o justo, o verdadeiro, o honesto. É defender a bênção no meio das maldições. A santidade é a totalidade do espírito das bem-aventuranças que se lêem no evangelho deste dia. A totalidade é pobreza do espírito para que a graça de Deus possa ocupar o coração. A totalidade é mansidão, justiça, pureza, paz e misericórdia. É abertura e doação que tem como símbolo a confiança de uma criança.        

Santidade é plural no sentido de que cada um deve seguir a Cristo a partir de sua própria circunstância e dos talentos, a partir de sua nação e língua, nos dias felizes e quando a tribulação arranca lágrimas do coração, no silêncio de um convento ou na vertigem da cidade. “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3a).      

Pedimos a ajuda dos santos que viveram os ensinamentos de Cristo até o fim, para que possamos também viver segundo os ensinamentos de Cristo até o fim de nossa vida terrestre para que um dia, pela misericórdia de Deus, mereçamos ser chamados de santos para estar na comunhão de todos os santos de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

01/11/2022- Ser Humilde Para Participar Do Banquete Eterno

PARTICIPAR DA ALEGRIA DE DEUS EM COMUNHÃO COM OS IRMÃOS ATRAVÉS DO DESPOJAMENTO

Terça-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Filipenses 2,5-11

Irmãos, 5 tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. 6 Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7 mas ele esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8 humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. 10 Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11 e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor” para a glória de Deus Pai. 

Evangelho: Lc 14,15-24

Naquele tempo, 15 um homem que estava à mesa disse a Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!” 16 Jesus respondeu: “Um homem deu um grande banquete e convidou muitas pessoas. 17 Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: ‘Vinde, pois tudo está pronto’. 18 Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um campo, e preciso ir vê-lo. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 19 Um outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-las. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 20 Um terceiro disse: ‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’. 21 O empregado voltou e contou tudo ao patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado e disse ao empregado: ‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos’. 22 O empregado disse: ‘Senhor, o que tu mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’. 23 O patrão disse ao empregado: ‘Sai pelas estradas e atalhos, e obriga as pessoas a virem aqui, para que minha casa fique cheia’. 24 Pois eu vos digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete”.

_________________

 

Jesus Cristo Se Humilhou e Se Fez Pequeno Para Nos Salvar 

Continuamos a acompanhar a leitura e a reflexão sobre a Carta de são Paulo aos Filipenses. A passagem de hoje é continuação da passagem do dia anterior. 

O texto de hoje é uma passagem conhecida, que parece ser um hino antiquíssimo dos primeiros cristãos que são Paulo incorporaria na sua Carta aos cristãos de Filipo.

O que são Paulo quer destacar no texto de hoje é a união que há entre a exortação moral de são Paulo aos Filipenses para que evitem as dissenções,  e a motivação cristológica dessa exortação. O que Paulo propõe aos cristãos de Filipos é muito mais do que um ideal humano de "boa harmonia", é muito mais do que "ceder para que haja paz"... A busca da unidade pela humildade é muito mais do que uma exortação moral em uso entre os sonhadores de "comunidades unidas". 

A principal motivação que são Paulo dá aos Filipenses para que evitem as dissenções  que ameçam a vida de toda a comunidade é “porque Deus nos amou”. Mas como sabemos disso? Porque  Cristo, sendo de condição divina, desceu até nossa condição humana, se humilhou, abandonou o poder e entrou por este caminho do amor humilde, de amor solidário, e se fez obediente até a morte. 

Além de ser obediente ao Pai, Jesus Cristo é obediente à realidade humana, ao que exige a realidade de viver como homem. Como Cristo nos resgatou? Pela livre aceitação das insondáveis disposições de Deus; aceitando o caráter duro, inflexível e pesado da vida humana; pela obediência à sua "condição humana" que inclui a mortalidade. Aceita a condição do homem incluindo a morte que se aninha em seu seio e para a qual se dirige dia a dia, vendo nela uma insondável disposição divina vinda do amor do Pai. Desceu das alturas da glória divina onde preexistia... Ao fundo da humilhação e da morte. 

Isto quer dizer que Cristo, ao fazer-se homem, não o fez com condições especiais. É que Ele era Deus (Jo 1,1-2.14). Ele se submeteu “obediente até a morte”, a tudo que comporta viver como homem: condicionamentos físicos e materiais (fome, sede, calor, fatiga); condicionamentos econômicos e culturais (os da própria sociedade de seu tempo, cultura limitada, meios pobres, oportunidades concretas mais ou menos reduzidas), e, sobretudo, condicionamentos sociais, que lhe implicam nos interesses (legítimos ou ilegítimos, puros ou bastardos) do povo de seu tempo que O ama e é amado por Ele; os que o aceitam ou o recusam e os que o matam porque não atende aos seus anseios. Fez-se obediente à realidade humana, tao complexa, promovendo tudo o que era verdadeiramente humano e recusando tudo o que era contrário ao homem. 

É precisamente isto que são Paulo recomenda aos Filipenses: “Irmãos, tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”. ele nos transmite um hino cristológico, certamente anterior a ele, que talvez a comunidade conhecesse e cantasse. É um hino que em poucas linhas exprime o mistério pascal de Cristo, a sua morte e ressurreição, a sua humilhação e a sua glorificação por Deus: despojou-se da sua posição... rebaixou-se até à morte... Deus o ressuscitou acima de tudo .. como Senhor do céu e da terra. 

São Paulo traz para nós, através deste texto, para que aprendamos uma lição de humildade e dedicação aos outros. Assim como Jesus não "ostentou sua condição de Deus" e se fez igual a nós, rebaixando-se até a morte na cruz, também nós devemos estar abertos aos outros, sem nos julgarmos superiores a ninguém ou reivindicar grandeza. Pelo contrário, rebaixando-nos como os últimos, "como aquele que serve". O caminho da elevação paas pelo caminho de descida. Deus se torna homem para que o homem se torne divino. 

Irmãos, tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”. Este é o modo de viver "em Cristo", que, sendo de condição divina, não quis reivindicar sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens. Por isso, não se trata de puros sentimentos. Antes, trata-se de disposições pessoais de querer julgar, apreciar, de escolher as coisas conforme o discernimento de Jesus Cristo. Concretamente, trata-se de esvziamento da Cruz em que Jesus é totalmente obediente à vontade de Deus. Jesus Cristo se esvaziou totalmente (Kenosis) a fim de a vontade de Deus reinar na sua vida e na sua atividade apostólica. É a mesma obediência à realidade humana e ao Pai, ainda que tudo isso possa custar a vida, “até a morte”. Desta maneira, chegaremos ao núcleo desta Carta: a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo. 

A vida de Jesus é assumir a situação dos outros e ver como, a partir dentro dessa situação, se pode criar a relação filial com o Pai e relação fraterna com os irmaos. É olhar para o exemplo de Jesus que deixou a condição divina para salvar os homens, fazendo-se um de nós (Jo 1,14). Se quisermos salvar a humanidade, se quisermos praticar o bem no puro sentido, se quisermos amar de verdade (ágape), temos que nos esvaziar de tudo para que o querer divino em salvar a humanidade possa operar através de nós. Não podemos ser verdadeiros evangelizadores sem este esvaziamento (Kénosis). 

Por isso, não podemos ler este texto sem sentir uma grande emoção, uma forte sacudida, uma iluminação sobre o mistério de Cristo. Este hino cristológico é uma joia por ser antigo, pela beleza, por ser conciso, por ser inspirador. De fato, diante dos olhos de Deus somos tão valiosos a ponto de Deus fazer-se carne para nos salvar. Por isso, este hino não pretende somente dar uma lição moral, “ter os mesmos sentimentos de Cristo”, e sim, uma exposição profunda e poética do mistério de Cristo em sua Encarnação, sua Paixão e sua Exaltação. 

São Paulo coloca este hino de louvro na Carta aos Filipenses em agradecimento por ter experimentado a kénosis (esvaziamento/despojamento). A kénosis, o despojamento total é dar lugar na nossa vida para a riqueza da graça de Deus. O homem que se deixa conquistar pela kénosis de Cristo, deixa de estar alienado, egoísta, prepotente e agarrado a qualquer coisa ou a qualquer poder, mas sente-se livre em Cristo pelo seu Evangelho. O despojamento se torna, então, um encontro libertador consigo mesmo e pronto para ajudar o próximo. Quem é livre pode libertar os outros. 

A parábola de Jesus dos convidados que se autoexcluem do banquete, no Evangelho de hoje, representa o mistérioso diálogo entre a graça e a liberdade. Jesus fala de um Reino gratuito, representado por um banquete, mas os convidados se recusam dessa gratuidade, mas preferem asseguram suas posições econômicas. Quem busca a segurança em si próprio, se exclue da graça divina. "Ser salvo" é seguir os passos de Cristo e, confiando em sua graça, adotar sua mesma atitude. 

Somos Chamados A Participar Do Banquete Divino Gratuitamente 

Estamos com Jesus no Seu caminho para Jerusalém, escutando atentamente seus últimos e importantes ensinamentos para todos nós cristãos em qualquer época e lugar (Lc 9,51-19,28). Trata-se das lições do Caminho. 

O texto do evangelho lido neste dia fala do banquete ou da comida comunitária. A comida, o banquete é, em todas as culturas, um dos maiores símbolos de unidade comunitária e familiar e da amizade. Na cultura semita o banquete era o símbolo da máxima comunhão. Participar do banquete significa participar (fazer parte) da comunhão ou da comunidade ou da família em questão.

 Jesus aproveita este valor cultural para ressaltar os valores do Reino. Na verdade o Reino de Deus não é uma realidade longe de nossa cotidianidade. O Reino de Deus é precisamente a máxima realização dos ideais humanos de fraternidade, de solidariedade, de comunhão, de igualdade e de justiça. E precisamente no comer comunitário ou na festa comunitária se vivem os sinais que mostram como possível ou realizável o Reino de Deus entre os seres humanos. Para isso, há que ter uma disponibilidade generosa e a aspiração de construir algo maior do que os pequenos negócios e trabalhos particulares ou individuais. 

A parábola do banquete é muito rica. Seus elementos recordam outros elementos. A recusa de alguns para o convite do banquete e a aceitação de outros nos recordam, por exemplo, a distinta sorte da semente na parábola do semeador (cf. Lc 8,4-8: algumas sementes caíram à beira do caminho, outras no pedregulho, no meio de espinhos e em terra boa). E o convite que se estende aos pobres, aos cegos, aos coxos faz pensar na busca dos perdidos. Na verdade, para o próprio Deus ninguém é perdido, pois Ele vai atrás de cada um dos homens. Mas o homem precisa correr aos abraços de Deus para sentir novamente a importância de uma comunhão no amor. O amor nos humaniza e nos diviniza, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). 

Vamos destacar alguns pensamentos ou alguns elementos sobre a parábola do convite ao banquete: 

1. O Reino de Deus é festivo, precioso e alegre. Ele é semelhante a um banquete, a um tesouro, a uma pérola maravilhosa. Por isso, ele é superior a qualquer valor no mundo. Viver o Evangelho de Jesus é viver na alegria apesar das dificuldades passageiras. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”, escreveu o Papa Francisco (Evangelii Gaudium (EG) n.1). Para viver na alegria do Evangelho, segundo o Papa Francisco, é preciso aprendermos a viver na partilha ou na doação: “Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais” (EG n. 10). 

2. A parábola também destaca que a entrada no banquete não é livre, pois não se trata de direito; requer-se um convite. Um patrão chama, um rei convida. E o convite é um ato de graça, e quem convida quer difundir sua alegria, manifestá-la e quer que os outros participem na mesma alegria. É um ato generoso. Cada generosidade é criadora, pois prolonga o ato criador de Deus que criou e cria tudo para nós graciosamente e gratuitamente. Deus nos chama através de vários sinais para que possamos participar da alegria divina que não depende das coisas materiais, embora sejam necessárias, mas da comunhão de vida trinitária onde o amor circula livremente dentro da própria pessoa e entre as pessoas. Não há alegria maior do que amar e ser amado. Não é por acaso que Jesus nos deu apenas um mandamento: o amor (cf. Jo 13,34-35; 15,12). Deus está no ato de amar. 

3. O convite é sério e exige empenho. O acento é muito forte sobre este aspecto. É um convite de amor que compromete a vida. É evidente, aqui, o salto de qualidade entre o humano e o divino. Um convite humano pode ser aceito ou recusado. Se for recusado não haverá nenhum prejuízo para quem recusa o convite. Também se for aceito, não há comprometimento existencial. Mas o convite de Deus é diferente. Deus é tão misterioso, maravilhoso que, ao convidar, compromete, e é um compromisso que muda totalmente a vida, transfigura-a e faz a vida nova e renovada. Se o convite de Deus tem como objetivo mudar de vida para a melhor a fim de alcançar a salvação que é uma alegria sem fim, então, aquele que o recusa é considerado como insensato e irracional. É como aquele que quer agarrar um dólar e recusa uma oferta de um milhão de dólares gratuitamente. Só poderia ser um irracional e insensato. 

4. O convite é dirigido a todos e não apenas para os privilegiados ou elites ou para os santos ou os certinhos. Aqui encontramos o amor de Deus dirigido aos perdidos da vida, aos coxos, aos excluídos da sociedade, a todos, pois todos são os filhos e filhas do mesmo Pai: “Tomai todos e comei. Tomai todos e bebei!”, assim Jesus nos convida em cada banquete eucarístico. Trata-se do banquete celeste já na terra.  Isto significa que o rei que é Deus quer todos, ama a todos cujo único objetivo é salvar. Então, eu não sou excluído desse amor. Deus me ama e creio no seu amor. O amor de Deus me alcança e me abraça. Por isso, não há uma Igreja de elites, há sim uma Igreja para todos onde há espaço para todos. O convite se faz na primeira hora, nas horas intermediárias e nas ultimas horas. A santidade não depende dos anos na Igreja e sim depende da renovação da chamada em cada instante. Por isso, a Igreja é chamada santa e pecadora. 

5. Como cristãos somos todos discípulos-missionários. Na parábola o dono da festa manda os empregados a chamarem todos os convidados para o banquete. Os convidados especiais recusaram o convite. Mas quando o convite foi lançado para os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos, estes prontamente o aceitaram. É preciso sermos simples e humildes para poder captar os sinais do convite de Deus na nossa vida. 

Todos nós somos enviados para chamar todos a participarem do banquete da salvação. A missão nasce da fé em Deus. A missão é a conseqüência da fé em Deus. A fé é o bem supremo para nós, porque ela é o fundamento e a raiz da salvação plena e total do homem. “... Urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei, n.4).  O impulso missionário nasce da profundidade da fé, do encontro vivo com deus, da vivência da fé, da alegria da fé, da fatiga da fé, do sofrimento pela fé. A missão é a proclamação da fé. Sendo em si mesma um bem maior, a fé pede, por sua natureza ser difundida. A Igreja enquanto comunidade de fé é missionária. “Propagar a fé é o primeiro dever do cristianismo, é a caridade maior; todas as outras obras de caridade estão unidas e subordinadas a esta suma obra” (Cardeal Carlo Maria Martini). Todo cristão é missionário e por isso, é enviado. 

6. Cada um é chamado para o banquete eterno, mas é tentado ao mesmo tempo pela aparência bela das atrações do mundo. O pecado tem aspecto atrativo. Mas quando alguém estiver nos seus abraços, ele o sufoca e o agarra. Para sair dos seus braços supõe a existência de uma força maior e a vontade sem limite para sair desses abraços. Quem tem objetivo para melhorar a vida, sempre arranja um jeito e somar forças para alcançá-lo. Como quem ama loucamente encontra sempre jeito para agradar o outro. 

Deus convida cada um de nós diariamente à sua alegria que é redentora. Diante desse convite, você é insensato e irracional ou sensato e racional? Quais são minhas justificativas ou recusas habituais toda vez que fui ou for convidado para fazer parte da equipe que trabalha para o bem comum na minha comunidade? Que contrapõe ao que Deus espera de mim? Qual lugar ocupa Deus na minha vida?

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...