domingo, 30 de maio de 2021

Segunda-feira Da X Semana Comum, 07/06/202'

SER FELIZ NO CRITÉRIO DE JESUS CRISTO

Segunda-Feira da X Semana Comum

Primeira Leitura: 2Cor 1,1-7

1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, e a todos os irmãos santos que estão em toda a Acaia. 2 A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo! 3 Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, 4 que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia! 5 Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. 6 Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos. 7 A nossa esperança a respeito de vós é firme: sabemos que, como sois companheiros das nossas aflições, assim também o sereis da nossa consolação.

Evangelho: Mt 5,1-12

Naquele tempo: 1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4 Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão sa­ciados. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

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Viver Na Graça e De acordo Com a Misericórdia De Deus Para Viver Na Paz Com Os Outros

A Primeira Leitura é tirada da Segunda Carta de são Paulo aos Coríntios. Durante duas semanas a Primeira Leitura será tirada da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios.

Corinto do NT foi construída por Júlio César no ano 44 a.C sobre as ruinas da antiga cidade destruída pelos romanos no ano 146 a.C. Corinto do NT, com seus quase 400 mil habitantes, era uma importante cidade portuária, rica e famosa e de cultura greco-romana. Mas nessa cidade reinavam também a imoralidade, a corrupção e a ganância. O luxo de alguns contrastava com a miséria do povo em sua maioria (escravos e pobres). Além disso era uma cidade onde era praticado o politeísmo, isto é, com adoração dos mais diversos deuses romanos, gregos e egípcios.

São Paulo esteve nessa cidade quase dois anos (At 18,1-18): do final do ano 50 a meados de 52. E fundou ali uma pequena comunidade entre os pobres e marginalizados (1Cor 2,26-28). Nessa comunidade havia conflitos e sofrimentos, brigas. Por isso, as palavras que aparecem mais vezes: consolo, consolação, alento, ânimo, esperança. Quando deixou Corinto, São Paulo escreveu para a comunidade de Corinto pelo menos quatro vezes. A Primeira Carta, escrita mais ou menos no ano 55 foi perdida, como podemos ler em 1Cor 5,9. Em 56 escreveu segunda carta. Esta Carta é a atual Primeira Carta aos Coríntios. Pelo fim do ano 56 São Paulo escreveu outra carta, depois de sua visita à comunidade de Corinto. Essa Carta é conhecida como “carta das lágrimas” (2Cor 2,4; 7,8) porque nela São Paulo se lamenta pela falta de obediência dos Coríntios e por isso, vivem se brigando na comunidade. Essa Carta, infelizmente, também foi perdida. Finalmente, no ano 57, São Paulo escreveu pela quarta vez à comunidade de Corinto, elogiando-a porque se corrigia e passou a ser modelo de vida comunitária. Essa quarta Carta é a atual Segunda Carta aos Coríntios que vamos ler durante duas semanas nas Primeiras Leituras.

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A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios é muito “pessoal”, pois são Paulo fala muito de si mesmo; ele “se abre”. É uma personalidade que tem muitos prodigiosos. Às vezes ele é terno, às vezes violento; ousado e tímido: um pobre homem debilitado pelas provações e ao mesmo tempo cheio da própria força de Deus.

A Carta começa com a saudação de Paulo que deseja a graça e a paz do Pai e do Senhor Jesus Cristo à Igreja de Deus que está em Corinto: “A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!”. 

Nesta saudação percebemos que são Paulo está cheio de Deus. Este Deus a Quem são Paulo entregou sua vida aparece em todo o que faz: nas vinte primeiras linhas de sua Carta (II Corintos), contamos já seis vezes a palavra “Deus” e cinco vezes a palavra “Cristo”. 

A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!”. Este bom desejo aflora nas leituras que tomamos da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios e do capitulo cinco do Evangelho de Mateus que lemos no Evangelho deste dia.

Ao desejar graça aos outros estamos olhando para a bondade e a misericórdia de Deus, como fonte da graça, que nos quer amigos e filhos Seus, e pedimos que chegue a mensagem para os outros de que Deus nos ama: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!”. 

Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação”. Aqui encontramos quatro maneiras de nomear a Deus. Ele é Deus; Ele é o Pai do Senhor Jesus Cristo; Ele é o Pai das misericórdias; Ele é o Deus das consolações. Este Deus é meu Pai também; é Ele quem me levanta, que me perdoa, que me dá vida.

São Paulo e Timóteo, eleitos de Deus, desejam-nos graça e paz e confessam que Deus Pai é fonte de amor, de consolação e de misericórdia. Que experimentemos esta verdade, pela fé para que possamos sair ao encontro dos outros para comunicar essa verdade. Quando nos encontrarmos com alguém que vive essa experiência, devemos viver juntos a mesma experiência. 

Na vida experimentamos consolação e penas, pobreza e abundancia, êxitos e fracassos. Tanto quando nos toca o sofrimento como nos momentos de alegria devemos nos sentir, como São Paulo, unidos a Cristo: “Á medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação”, assim escreveu-nos São Paulo. O Salmo de meditação nos convida a estar em comunhão com Deus: “Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!”. 

A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!”. Ao desejar a paz lançamos nosso olhar de amor para todos os irmãos, um olhar com que Deus, Pai das misericórdias, nos olha.  O próprio Deus, que é eterno amor e sabedoria, é a fonte de onde mana todo nosso ser e vida. Desejar a paz a todos é ser reflexo do Deus misericordioso e consolador para outros irmãos. Não há nada que seja divino e humano para o homem do que ser portador da paz e da misericórdia de Deus para os outros.

Somos Chamados a Ser Felizes 

O texto lido no evangelho de hoje é o início do Sermão da Montanha (Mt 5-7). O texto do evangelho deste dia é conhecido com as Bem-aventuradas. Através destas bem-aventuranças logo percebemos que o projeto de Jesus para os homens é a felicidade. Jesus quer que todos sejam felizes. As bem-aventuranças são descrições das qualidades que devem ser encontradas na vida dos que se submetem à soberania de Deus. Elas são também uma declaração das bênçãos ou uma proclamação da felicidade (não só promessas da felicidade) que já experimentam em parte e que irão gozar mais plenamente na vida futura todos os que revelem tais virtudes. As bem-aventuranças refletem a própria experiência, perpassada pelo sofrimento e pela perspectiva da cruz. Jesus é, por isso, garantia e modelo da existência feliz.

Quais são pessoas declaradas felizes por Jesus e por quê? Jesus declara felizes àqueles que mantêm viva a confiança em Deus apesar de serem indefesos, oprimidos, marginalizados e perseguidos por causa do bem praticado e do amor vivido até o fim. 

Os felizes são os pobres em espírito, aqueles que têm um coração centrado em Deus e que se traduz no amor ao próximo e que rejeitam toda espécie de idolatria. Os pobres em espírito são aqueles se submetem interiormente, sem resistência à vontade de Deus. O espírito de humilde submissão à vontade de Deus, nasce da fé inabalável na soberania e na misericórdia de Deus e que se traduz em atitudes e condutas de bondade e de mansidão, de misericórdia e de compaixão, de tolerância e de compreensão na convivência com os outros. Esta atitude de humildade diante de Deus, nascida da fé, se traduz em atitudes e condutas de desapego aos bens materiais, de bondade, de partilha que é a alma do projeto/plano de Deus, e de solidariedade. É ser pobre no espírito, e não é pobre de espírito.          

Os felizes são os mansos que por não responderem à violência com violência, mas que estão prontos a perdoar. Jesus declara felizes não os que são mansos por temperamento, mas os que, apesar de não disporem de meios para fazer valer seus direitos, não são violentos nem agressivos, mas pacientes e indulgentes. Eles acreditam que a vida baseada no princípio “olho por olho” só resulta na cegueira, e na cegueira nada se vê. Só escuridão.  O manso aceita o tempo de Deus e a maneira de Deus. Por isso, o manso não é um fraco, mas um crente que tem força da alma. A mansidão é o sinal visível da benevolência e do respeito. Em Cristo encontramos o modelo perfeito da mansidão: “... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração...” (cf. Mt 11,29).          

Os felizes são os indefesos que não têm como defender seus direitos por falta de recursos, mas que esperam somente a intervenção divina. Os felizes são os que não pactuam com a maldade, com a divisão, com a malícia, nem se deixam levar pela lógica da dominação e do autoritarismo. Jesus declara felizes os que estão aflitos(v.5) por experimentarem a ausência da justiça de Deus mas continuam esperando em Deus pois só Ele pode converter a tristeza em alegria e o pranto em canto.         

Os felizes são os que têm um coração cheio de misericórdia para com os semelhantes. Um misericordioso é aquele que é capaz de amar até a pessoa que não merece ser amada do ponto de vista humano. Mas por acreditar na misericórdia de Deus, ele sempre quer o bem da mesma. Os misericordiosos são aqueles que, efetivamente, abrem seu coração para os outros e executam gestos concretos para aliviar sua aflição. Os felizes não são os que, por índole natural, têm um coração sensível e sentimentos de compaixão, mas os que fazem gestos concretos de misericórdia, ajudando e servindo os necessitados.          

Os felizes são os promotores da paz que procuram criar laços de amizade e banir toda espécie de ódio, ajudar a superar as divisões para que mundo seja cada vez mais fraterno, e mais humano. Santo Agostinho dizia: “Não basta ser pacífico. É necessário ser promotor da paz. Quem são os pacíficos? Não os pacifistas, mas os promotores da paz. Não basta estar disposto a perdoar ou ignorar os inimigos, é preciso amá-los e ter compaixão por eles. Não odeias aos cegos, mesmo que ames a luz. Da mesma forma, deves amar a paz sem odiar os que fazem guerra”. Aos construtores da paz é feita a promessa solene de que no juízo final lhes será dado o maior de todos os títulos: “Serão chamados filhos de Deus”.          

Os felizes são os perseguidos por causa da justiça, por causa do bem que fazem, por viverem retamente. Quem sempre faz o bem, muitas vezes acaba sendo perseguido e crucificado como Jesus. Mas ele é feliz, pois até o fim ele é capaz de dizer sim para o bem e dizer não para o mal. Quem pára de crescer neste espírito das bem-aventuranças, começa a morrer. Quem, ao anunciar o Evangelho, for aplaudido por todos e, sobretudo, pelos donos de poder, pode estar certo de que ele ainda não é o profeta verdadeiro, pois ele deixou de ser o sal da terra para converter-se em adoçante. No caso de perseguição(como também na primeira bem-aventurança), a promessa é formulada no presente: “Deles é o Reino dos céus”. O reino lhes pertence desde agora.          

Portanto, as bem-aventuranças são uma proclamação de amizade de Deus para as pessoas que participaram do espírito dessas bem-aventuranças e são um programa da vida de cada cristão (vocação á felicidade é para todos), e também são uma celebração da felicidade como dom ou graça presente, como uma realidade já presente e não apenas como algo depois da morte ou uma recompensa futura pela carência na terra. Se entendêssemos as bem-aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Em outras palavras, somos felizes já na medida em que pertencemos a Deus no presente que se traduz na vivência da fraternidade universal. Então, também o futuro de Deus nos pertence. A partir daí, o céu é a experiência de compartilhar a alegria, a paz e o amor de Deus na plena capacidade humana e vivida entre os homens. Mas, será que posso me declarar que sou um dos bem-aventurados na declaração de Jesus?

P. Vitus Gustama,svd

sábado, 29 de maio de 2021

Domingo, 06/06/2021

SER CRISTÃO É SER MEMBRO DA FAMÍLIA DE DEUS QUE LUTA CONTRA O MAL PERMANENTEMENTE

X DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

Primeira Leitura: Gn 3,9-15

Depois que o homem comeu da fruta da árvore, 9 o Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” 10 E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo, porque estava nu; e me escondi”. 11 Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” 12 Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. 13 Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me e eu comi”. 14 Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. 

Segunda Leitura: 2Cor 4,13-18-5,1

Irmãos: 13Sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: “Eu creio e, por isso, falei”, nós também cremos e, por isso, falamos, 14certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. 15E tudo isso é por causa de vós, para que a abundância da graça em um número maior de pessoas faça crescer a ação de graças para a glória de Deus. 16Por isso, não desanimemos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia. 17Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. 18E isso acontece, porque voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno. 5,1De fato, sabemos que, se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá uma outra moradia no céu que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna.

Evangelho: Mc 3,20-35

Naquele tempo, 20Jesus voltou para casa com os seus discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. 21Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si. 22Os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. 23Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? 24Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. 25Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se. 26Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. 27Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. 28Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. 29Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”. 30Jesus falou isso, porque diziam: “Ele está possuído por um espírito mau”. 31Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. 32Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura”. 33Ele respondeu: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 34E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. 35Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

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Ser Sincero Diante De Deus e Diante Do Próximo

A liturgia deste Décimo Domingo do Tempo Comum ciclo B nos propõe como Primeira Leitura (Gn 3,9-15) o relato da primeira tentação do Paraíso, narrada no capítulo terceiro do Gênesis em que o homem caiu no mal ao qual se submete. O mal em Israel sempre nasceu da ruptura do pacto pelo povo (eleito). E a meditação desta experiência continuamente vivida leva o autor sagrado a interpretar a origem do mal neste mundo bom, criado pelo Senhor, como ato livre do homem. Os homens são os únicos responsáveis da ruptura das relações com Deus e entre os homens.

O texto nos diz que o homem se sente nu na presença de Deus que lhe pergunta se comeu da árvore proibida. Adão joga a culpa a Eva, sua mulher. Deus pergunta a Eva sobre o motivo de incitar seu marido a comer o fruto proibido. E Eva joga a culpa para a serpente. E a serpente é uma das criaturas de Deus (implicitamente, nesta lógica, Deus é culpado por ter criado a serpente).

O homem pode negar sua culpabilidade ou afirmar sua inocência diante dos demais (menos diante de Deus que é o Onisciente). Mas do mais profundo da alma surge, se o homem é sincero, uma voz que assinala: você pecou! Somos pecadores, pecamos e repetimos, de alguma forma, a cena do Gênesis. Abandonamos Deus para estar com o inimigo de Deus que quer nos destruir completamente. No fundo de nosso coração ressoa a voz que pergunta: Por que você fez isso? Não cabe esconder-se. Não há melhor postura do que reconhecer nossa culpa abertamente: “Das profundezas eu clamo a vós, Senhor, escutai a minha voz! Vossos ouvidos estejam bem atentos ao clamor da minha prece! Se levardes em conta nossas faltas, quem haverá de subsistir? Mas em vós se encontra o perdão, eu vos temo e em vós espero” (Salmo Responsorial de hoje: Sl 32/33). Somos chamados a ser sinceros permanentemente.

A sinceridade é uma assinatura pendente na vida de muitos cristãos porque o recurso fácil de autodefesa é culpar o outro. Nós sempre somos bons, os inteligentes, os sábios, os sofridos, as vítimas de tudo e de todos. São os demais os maus, os menos inteligentes, os que nos incitam, os que nos fazem cair, os que não nos deixam viver na plenitude dos batizados, os que desagarram nossa alegria, os que não nos dão oportunidade. 

A sinceridade em todas as nossas manifestações e relacionamentos vitais é um valor precioso da personalidade e também um bem muito importante para a comunidade. A sinceridade tem muito a ver com a respeitabilidade e com a honra. A sinceridade faz parte das virtudes humanas e cristãs. Dentro da Igreja a sinceridade é uma condição indispensável para podermos testemunhar a fé no meio do mundo. Para sermos verdadeiramente sinceros, não nos devemos enganar nem a nós mesmos nem aos outros, fazendo coisas que não correspondem completamente à verdade. O cristão que queira testemunhar e transmitir a sua fé deve ser sincero consigo próprio, com o próximo e com toda a gente. Mas nunca nos é lícito lançar pérolas aos porcos (Cf. Mt 7,6). Se temermos que alguém possa injustamente abusar do conhecimento de determinados fatos e circunstâncias, então temos o dever de calar ou de ser evasivos. Nesta situação o conselho sábio de Jesus nos serve muito bem: “Sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas!” (Mt 10,16).

A Sinceridade Nos Leva à Conversão Quando Erramos

Existe também o perigo de querer consertar as coisas que vão mal sendo exigentes com os que têm responsabilidade, com os que nos mandam, como Adão para Eva e Eva para serpente e o Criador da serpente é Deus. Na Igreja queremos que os padres e bispos se convertam e não vemos a urgência de nossa própria conversão.  Ninguém, na Igreja nem no mundo inteiro é convertido definitivamente. Somos seres em formação permanente. A possibilidade de errar ou de cair nunca está ausente de nossa caminhada formativa. O ideal de nossa perfeição é muito alto: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).

Evidentemente que tudo influi porque vivemos em muitas relações. Nossas atitudes e silêncios, nossas alegrias e dores repercutem nos demais e vice-versa. Mas definitivamente, cada um, com seu nome e apelido próprio, é o responsável. Todos nós somos chamados ao juízo de Deus para responder a seguinte pergunta: “Onde tu estás?”, e “Por que tu te encontras na situação onde tu estás?”.

Onde tu estás?”. Se Deus é onisciente, por que, então, a pergunta “onde estás?”. Esta primeira pergunta de Deus na Bíblia não se refere ao local/lugar onde se encontra o homem no momento. Esta pergunta quer levar o homem a reconhecer sua culpa pela situação em que ele vive, pois Deus não o criou nesta situação. Inclui nesta pergunta o reconhecimento da desobediência de Deus à vontade de Deus pra ter a situação em que se encontra: “Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” (Gn 3,11b).

A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. A serpente enganou-me e eu comi”. Estas são respostas do homem Adão e Eva). As respostas de ambos (Adão e Eva) mostram a tendência humana de tentar culpar alguém ou algo fora de si pela sua situação, apesar de ele ser responsável da situação. Mas Deus continua nos perguntando “Onde tu estás?” para nos dizer que o mal não se pode encontrar em Deus e sim no homem. O bem e o mal não podem coexistir em Deus, pois Ele não seria o verdadeiro Deus. Em Deus somente encontra o bem, pois “só Deus é Bom” (Mc 10,18b). Em Deus há apenas perfeição que se torna o ideal para o homem (Cf. Mt 5,48). 

O “Onde tu estás” é chamada à conversão para cada homem e mulher. Mas o homem sempre tenta colocar a barreira para sua conversão ou tenta procurar desculpas para manter uma vida sem Deus. A palavra grega, para a conversão, tem uma força metafórica e realista: metanoia. Metanoia significa literalmente: mudança de mente; é mudar de cabeça, isto é, deixar que as antigas categorias de julgamento e pensamento adotem novos critérios e novos cânones (normas) para enxergar a vida e seus problemas. Também a palavra latina tem a mesma força etimológica: conversão significa voltar-se ou virar-se. Ou seja, refazer o caminho, colocar os pés onde está a cabeça e colocar a cabeça onde estão os pés. A conversão é algo prazeroso, pois nos traz a alegria de se libertar de uma situação que não nos salva. Conversão é voltar para a casa paterna; é voltar para o Paraíso. Sem a conversão ficaremos distantes do Paraíso ou seremos “expulsos” do Paraíso.  

A conversão é uma “carreira” inacabada, até a morte, pois ontem, hoje e amanhã existem serpentes astutas e sedutoras que intentam enganar o homem. As promessas podem ser muito variadas: o poder, o dinheiro, a fama, o armamento e assim por diante. E o homem come destes e outros, e fazemos os outros comerem as mesmas coisas. O fracasso é evidente: não suportamos Deus (esconde-se de Deus como Adão e Eva) nem nos protegemos uns aos outros, pois um julga culpa no outro. 

Porém, apesar do fracasso humano, o Senhor continua nos protegendo: “Deus fez para o homem e sua mulher túnicas de pele, e os vestiu” (Gn 3,21) e respeitando sua liberdade. 

No interior do ser humano sempre se trava uma atroz batalha entre o bem e o mal. Esta luta por gerar violência e todo tipo de desgraça (assassinato do irmão, incapacidade de nos compreendermos como irmãos ..., cf. Gn 4, 8; 9, 20 ff.; 11, 1-9). A mensagem bíblica nunca é aterrorizante e ameaçadora, mas otimista, cheia de esperança, pois Deus está conosco (Mt 28,20) apesar de nossas infidelidades. Por isso, o homem não pode esconder-se da presença de Deus ainda que o homem tenha esta tentação quando peca. Se Deus é Pai-Nosso, não podemos ter medo dele. É o medo que obriga o homem a fugir, mas sempre escuta os passos de Deus, diante do qual o homem há de comparecer e responder as perguntas de Deus para nos ajudar a aprofundar o sentido de nossa vida neste mundo.

Nossa Luta Contra O Mal Continua Até a Morte 

Sabemos, e o Evangelho deste domingo nos recorda, que a vida é uma contínua luta contra o mal, chama-se serpente, Satanás ou Belzebu. A luta contra o espirito do mal é o grande desafio dos que creem no Deus Salvador. É preciso nos encher da força de Cristo para podermos triunfar sobre o espirito que nos impede de andar na verdade e na liberdade: “Por isso, não desanimemos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia”, escreveu são Paulo que lemos na Segunda Leitura de hoje (2Cor 4,16). 

E são Paulo nos escreveu na mesma leitura: “Eu creio e, por isso, falei”. Apesar de suas fraquezas o cristão acredita e fala: essa é sua missão como profeta. Trata-se de um testemunho, uma verdadeira testemunha vital. É uma vida em Cristo, uma participação de seu mistério e seu trabalho. O cristão deve carregar dentro de si mesmo “as fraquezas” do seu Senhor: “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, pelo seu Corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). É a morte de tudo que se opõe a Deus. O desprezível, o transitório, ou “carnal” deve morrer nele. 

Ele pode fazer isso, sendo fraco? A fragilidade humana tem um suporte maravilhoso: a força de Deus que ressuscita os mortos, que nenhum outro poder é capaz de fazer. Estamos configurados com Cristo em sua ressurreição. Para lá estamos caminhando firmemente. O binômio morte-vida, fragilidade-força, humano-divino expressa o misterioso paradoxo do cristão. Aquele que "crê" não pode deixar de gritar com sua vida. Além disso, o cristão é carregado de pregar. Ele é um apóstolo. 

O texto do evangelho deste dia se encontra dentro do conjunto de Mc 3,7-6,6ª onde se relatam a revelação de Jesus e a incompreensão de seus parentes e dos contemporâneos, especialmente dos dirigentes do povo. Nesse conjunto Jesus se revela quem Ele é através de suas palavras cheias de autoridade e mediante suas obras para salvar a humanidade. Os simples cujo coração é puro e simples não encontram nenhuma dificuldade para entender a verdade nas palavras e nas obras ditas e feitas por Jesus. Os dirigentes do povo, ao contrário, fecham seus olhos e seus corações diante de tudo isso e decidem opor-se a Jesus firmemente em nome de seus interesses egoístas. Mas a multidão formada por gente simples e seus discípulos estão ao lado de Jesus, pois eles não têm nada para defender a não ser a busca do sentido de sua vida e de sua salvação. 

Na cena anterior deste texto o evangelista Marcos nos relatou que Jesus subiu ao monte e lá ele escolheu os Doze (Mc 3,13-19). E no Evangelho de hoje nos é relatado que depois que escolheu os Doze “Jesus voltou para casa com seus discípulos” (Mc 3,20). Trata-se da proximidade com Deus (no monte) e da proximidade com os homens (voltar para casa). Jesus se retira do povo para estar com Deus a fim de estar mais próximo com o povo (ser reflexo de Deus no meio dos irmãos). O encontro profundo com Deus leva o homem ao encontro fraterno com o próximo.  A proximidade com Deus nos faz próximos dos outros homens. Lemos que a multidão continua entusiasmada pela força da palavra de Jesus, e por isso, se aglomera ao redor de Jesus. A bondade atrai a simpatia do homem e a bênção de Deus. A bondade é sempre fonte de admiração de quem tem um coração puro e imaculado.

É importante observar que para essa multidão é que se abre a casa. Trata-se da multidão dos marginalizados e pecadores que se sente atraída por tudo que Jesus diz e faz, pois em tudo que Jesus fala e faz eles encontram o sentido de sua vida. Mas com isso, Jesus e seus discípulos perdem sua privacidade, pois a multidão invade sua intimidade a ponto de eles não poderem mais comer.

Diante de tudo isso, vem a reação dos próprios parentes, e os dirigentes do povo (os escribas) se aproveitam também disso para desmoralizar Jesus diante da multidão.

Os parentes de Jesus, ao ouvir que ele estava fora de si, ou estava louco, eles foram até Jesus para retirá-lo do seu lugar de missão. A loucura era sinal de possessão diabólica.  Qualificar alguém de louco era uma forma de excluí-lo, anulá-lo e condená-lo. Com Jesus seus inimigos queriam aplicar também essa tática para anular Jesus. Mas por que tudo isso?

Porque Jesus quis construir uma comunidade cimentada nos valores do amor e da justiça, da fraternidade e da igualdade: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Viver de acordo com a igualdade, a solidariedade e a fraternidade universal conforme a vontade de Deus, Pai de todos os homens, significa romper com o modelo de família tradicional e com sistema vigente que oprime e discrimina. Para Jesus todos têm que se sentir irmãos daqueles que até então eram considerados excluídos, impuros, forasteiros, inimigos, pecadores. Para a mentalidade de então essas pessoas teriam que ser afastadas. Jesus fez o contrário: a casa onde ele se encontrava estava lotada de gente pobre e empobrecida que ele tratava com respeito porque são filhos de Deus também. Por isso, Jesus não podia estar de acordo com seus parentes que, se deixando levar da qualificação de louco que lhe davam seus inimigos, tratavam de retirá-lo de sua missão.

Sempre sucede o mesmo. O plausível para os homens não é em todo momento o honesto para Deus. O politicamente correto não coincide em muitas ocasiões com eticamente justo. Um profeta diz a seu tempo e contra seu tempo o que Deus lhe manda dizer aos homens mesmo que os homens não concordem. Não é fácil ser profeta. Há que estar muito identificado com Jesus para sê-lo de verdade. Um profeta de verdade sempre termina sua vida como mártir. Ele é crucificado, mas ninguém consegue crucificar a verdade porque a verdade mora na própria consciência do homem. O próprio homem sabe disso e tem consciência disso.

Os parentes de Jesus acreditaram nas fofocas ou comentários maldosos dos inimigos de que Jesus era louco. Por isso, eles foram até Jesus para levá-lo para casa sem perguntar até que ponto esse comentário tinha fundamento. Às vezes, acontece o contrário: aquele que acha que o outro seja louco é muito mais louco do que todos os loucos de verdade. Precisamos nos perguntar também tanto pessoalmente como comunitariamente: Quem é Jesus em quem acreditamos? Por que nos reunimos em Seu nome? Por que celebramos a Eucaristia? Não estaríamos considerados “loucos”, nós que pretendemos ser discípulos de Jesus? Será que nós chamados cristãos, “irmãos de Jesus” atrapalhamos o projeto salvífico de Jesus como aconteceu com seus parentes? 

O novo não pode ser julgado a partir do velho. Como não podemos avaliar as pessoas e os acontecimentos da vida a partir de nossas feridas. É preciso renovar os critérios de avaliação para poder questionar o questionável e corrigir o corrigível e aceitar o aceitável para a salvação de todos. Ao se interrogar o homem encontra o sentido de sua vida e de sua passagem neste mundo, abrindo, assim, as possibilidades para o crescimento na sua humanidade. Somente podemos nos tornar muito divinos quando formos muito humanos com os demais homens. 

O evangelho deste dia nos relata também que Jesus encara seus adversários vindos de Jerusalém, cidade onde ele sofrerá a Paixão e morte. “Ele está possuído por Belzebu, chefe dos demônios”, disseram os escribas sobre Jesus e suas atividades. Em outras palavras, Jesus é recusado não somente “pelos seus”, mas principalmente “pelas autoridades religiosas”. Jesus é recusado, desconhecido e ignorado. Jesus é contestado, não é escutado, não é seguido. Jesus é deixado de lado. 

O que está em jogo na discussão com os adversários de Jesus é a luta entre o espírito do mal e o espírito do bem. Por isso, merece o duríssimo ataque de Jesus. O que eles fazem é uma blasfêmia contra o Espírito Santo. Pecar contra o Espírito Santo significa negar o que é evidente, negar a luz de Deus permanentemente, tapar-se os olhos para não ver, negar a verdade, negar a salvação. Por isso, enquanto lhes durar essa atitude obstinada e esta cegueira voluntária, eles mesmos se excluem do perdão e do Reino. Para os escribas que atribuem ao demônio a força do Espírito de Deus que age n’Ele, Jesus pronunciou solenemente a seguinte frase:Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”.  O pecado contra o Espírito Santo é “o fechamento radical à proposta salvífica e libertadora presente em Jesus. O pecado contra o Espírito Santo é, portanto, irremissível porque inclui em si a rejeição do perdão, excluindo a atitude de fé e de conversão”. 

Creio que nós não somos certamente dos que negam a Jesus permanentemente. Ao contrário, não somente cremos nele e sim que seguimos a Jesus e celebramos seus sacramentos e meditamos sua Palavra iluminadora. E nós cremos que Jesus é mais forte e por isso, Ele nos ajuda na nossa luta contra o mal. E para afastar o mal precisamos viver e praticar o bem. Ser cristão não é apenas aquele que evita o mal, mas principalmente fazendo o bem ele afasta o mal. Se Jesus que é mais forte do que qualquer mal já está entre nós, então precisamos estar com ele permanentemente, colocando-o no centro de nossa vida.

Mesmo assim, podemos nos perguntar se alguma vez nos obstinamos em não ver tudo o que teríamos que ver no evangelho ou nos sinais dos tempos que vivemos. Ao olhar para os escribas que julgaram Jesus sem piedade, não temos certa tendência a julgar drasticamente os que não pensam como nós, na vida de família, no trabalho, na comunidade ou na Igreja?

Na Vigília Pascal, quando renovamos o nosso compromisso batismal, fazemos cada ano uma dupla opção: renunciar ao pecado e ao mal e professar nossa fé em Deus. Hoje o Evangelho nos mostra Cristo como Libertador do mal para que durante toda jornada colaboremos com ele em tirar o mal de nosso meio.

Até este ponto precisamos entrar no nosso íntimo para cada um se perguntar: “Qual é a minha maneira pessoal de recusar Jesus na minha própria vida? Quando foi que eu deixei de lado esse Jesus Salvador nas minhas decisões, no meu modo de me comportar?

PARA REFLETIR MAIS

O motivo para a intervenção da família de Jesus foi, certamente, o conjunto de informações recebidas sobre a doutrina e atividade de Jesus, especialmente a notícia sobre a crescente oposição entre Jesus e os dirigentes religiosos do povo (cf. Mc 2,1-3,6) sem nenhuma verificação precisa sobre a verdade das informações recebidas. Os parentes de Jesus simplesmente não queriam ver o nome de sua família desonrado. Talvez eles se esqueçam que a honra de uma família depende da vivência da verdade, do amor, da honestidade, da justiça, e não depende dos comentários. Os interesses próprios e egoístas destroem a convivência fraterna. 

Por causa das informações recebidas, os parentes foram ao encontro de Jesus para “agarrá-lo” e obrigá-lo a voltar ao seu clã. O julgamento dos parentes de Jesus é muito duro, “pois diziam: ele está fora de si”. Esse julgamento nos mostra que até os próprios parentes não compreenderam ainda a missão de Jesus. Além disso, ainda consideraram Jesus, precipitadamente, como um louco: “está fora de si”. O novo não pode ser julgado a partir do velho. Como não podemos avaliar as pessoas e os acontecimentos da vida a partir de nossas feridas. É preciso renovar os critérios de avaliação para poder questionar o questionável e corrigir o corrigível e aceitar o aceitável para a salvação de todos. Ao se interrogar o homem encontra o sentido de sua vida e de sua passagem neste mundo, abrindo, assim, as possibilidades para o crescimento na sua humanidade. Somente podemos nos tornar muito divinos quando formos muito humanos com os demais homens. 

Os escribas vindos de Jerusalém também julgam Jesus e a sua missão de uma maneira negativa em nome dos interesses escondidos. Eles se apresentam com um julgamento já pré-formado a respeito de Jesus. Com este tipo de julgamento eles querem impedir que o povo procure o novo Mestre para manter o povo cego diante da realidade. Eles tentam desqualificar Jesus com um atributo muito negativo: Jesus tem Belzebu. E isso eles fazem não diretamente a Jesus, mas diante da multidão a fim de ganhar um reconhecimento barato. Na religiosidade popular do tempo de Jesus, provavelmente, o Belzebu era o nome dado ao príncipe de demônios. Ninguém gostaria de ser chamado de príncipe de demônios. Para um Salvador da humanidade os escribas aplicam esse apelido tão negativo. Quem coloca os critérios de interesse próprio acima da verdade e de Deus é capaz de destruir o próximo e no fim se destrói. Somente quem tiver a disponibilidade de desinstalar constantemente, terá a liberdade suficiente para os apelos de Deus em cada momento de sua vida.

Pe. Vitus Gustama,svd

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Sábado Da IX Semana Comum, 05/06/2021

VIVER NA GRATIDÃO DIANTE DE DEUS E IMITAR SUA GENEROSIDADE

Sábado Da IX Semana Comum

Primeira Leitura: Tb 12,1.5-15.20

Naqueles dias, 1 Tobit chamou Tobias, seu filho, e disse-lhe: “Filho, paguemos o salário ao homem que viajou contigo, acrescentando uma gratificação”. 5 Tobias chamou, pois, o anjo e disse-lhe: “Recebe como salário a metade de tudo o que trouxeste ao voltar, e vai em paz”. 6 Então Rafael chamou os dois à parte e disse-lhes: “Bendizei a Deus e dai-lhe graças, diante de todos os viventes, pelos benefícios que vos concedeu. Bendizei e cantai o seu nome. Manifestai a todos os homens as obras de Deus, como é justo, e não hesiteis em expressar-lhe o vosso reconhecimento. 7 Se é bom guardar o segredo do rei, é justo revelar e publicar as obras de Deus. Fazei o bem, e o mal não vos atingirá. 8 É valiosa a oração com o jejum, e a esmola com a justiça. Melhor é pouco com justiça, do que muito com iniquidade. Melhor é dar esmolas, do que acumular tesouros. 9 A esmola livra da morte e purifica de todo pecado. Os que dão esmola serão saciados de vida. 10 Aqueles, porém, que cometem o pecado e a injustiça, são inimigos de si mesmos. 11 E agora vos manifestarei toda a verdade, sem vos ocultar coisa alguma. Já vos declarei e disse: “É bom guardar o segredo do rei, mas as obras de Deus devem ser reveladas, com a glória devida”. 12 Pois bem, quando tu e Sara fazíeis oração, eu apresentava o memorial da vossa prece diante da glória do Senhor. E fazia o mesmo quando tu, Tobit, enterravas os mortos. 13 Quando não hesitaste em levantar-te da mesa, deixando a refeição e saindo para sepultar um morto, fui enviado a ti para te pôr à prova. 14 Mas Deus enviou-me, também, para te curar a ti e a Sara, tua nora. 15 Eu sou Rafael, um dos sete anjos que permanecem diante da glória do Senhor e têm acesso à sua presença”. 20 Agora, bendizei o Senhor sobre a terra e dai graças a Deus. Eis que subo para junto de quem me enviou. Escrevi tudo o que vos aconteceu”. E o anjo desapareceu.

Evangelho: Mc 12,38-44

Naquele tempo, 38Jesus dizia, no seu ensinamento, à multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. 41Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. 42Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. 43Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.

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A Vida Do Justo Apesar Das Dificuldades E Provações Sempre Tem Um Final Feliz

Estamos no fim da leitura contínua do livro de Tobias. O justo Tobit e o filho Tobias, depois de um sofrimento, são recompensados por Deus através do anjo Rafael (que até então não sabiam que era o anjo do Senhor) pela sua vida justa, isto é, uma vida vivida de acordo com a Lei de Deus, como o próprio Tobit dizia: “Eu, Tobit, andei nos caminhos da verdade e da justiça, todos os dias da minha vida” (Tb 1,3). Dentre as virtudes cultivadas preferentemente por Tobit se especificam as seguintes: a oração (abertura para Deus), o jejum (abertura para si próprio através do autocontrole) e a esmola (abertura para o próximo que está em necessidade) que são chamadas de as virtudes cardinais judaicas. As três são como o compêndio das obrigações para Deus, para consigo próprio e para o próximo. 

Transcorridos os sete dias da festa nupcial entre Tobias e Sara (Tb 11,7), Tobit compreende que há terminado a missão do jovem (Rafael) que se ofereceu como guia de seu filho, Tobias (Tb 5,4). Tobit insinua que dará ao jovem uma pequena recompensa. Mas diante do cúmulo de benefícios que lhe havia reportado sua atuação, Tobit entende que deve recompensar- lhe com generosidade. Mas não sabia do valor. Por isso, Tobit pergunta ao filho, Tobias, sobre o valor preciso, pois Tobias conhece bem o serviço do jovem Rafael.

Tudo isso é formoso, como um conto de fadas. No entanto continua sendo verdade que existem pessoas capazes de agradecimento e de fazer um jogo limpo num mundo em que dominam os interesseiros e os aproveitadores; que existem pessoas bondosas que são bem silenciosas. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. É também a capacidade que possui um ser de dar a outro a perfeição que lhe falta. É a inclinação a fazer o bem, a ser benigno, indulgente. A bondade é a qualidade do que é bom. Nisto se encontra o sentido da vida e é a fonte de nossa felicidade.

Mas diante do acordo de Tobit e seu filho, Tobias, para pagar algo ao jovem pelos serviços prestados, Rafael os chama à parte para comunicar-lhes algo transcendental e misterioso. Rafael não aceita o que lhe querem oferecer Tobit e Tobias. Antes de revelar-lhes sua identidade, Rafael convida-os a louvar e bendizer a Deus de cujas mãos receberam todos os bens e favores fazendo-lhe ver que o serviço de Rafael foi simplesmente um instrumento da infinita bondade de Deus. Por conseguinte exorta-lhes Rafael: “Bendizei a Deus e dai-lhe graças, diante de todos os viventes, pelos benefícios que vos concedeu. Bendizei e cantai o seu nome. Manifestai a todos os homens as obras de Deus, como é justo, e não hesiteis em expressar-lhe o vosso reconhecimento. Se é bom guardar o segredo do rei, é justo revelar e publicar as obras de Deus. Fazei o bem, e o mal não vos atingirá”. 

O livro de Tobias, com toda a tradição espiritual de sábios e santos nos diz que a provação não é precisamente um castigo e sim que pode ser considerada como uma misteriosa prova de amor, de um amor exigente. 

O autor do livro de Tobias aproveita que o leitor tire as lições de toda esta história. Que o que agrada a Deus são a oração, o jejum e a esmola. Que a fidelidade da família de Tobias em meio de um mundo pagão (forças estranhas) é exemplar. Que as orações dos fiéis subam à presença de Deus e lhe são agradáveis. Que as provas da vida acontecem para o próprio bem dos homens. Todas estas lições, como tantas outras, são chaves para entender a história e sobretudo para ordenar a vida de um crente segundo os planos de Deus. 

Portanto, não deixemos passar a serie de conselhos da Primeira Leitura, postos na boca do Arcanjo Rafael. Alguns se referem a Deus: louvá-Lo, contar ou publicar suas maravilhas, dar-Lhe graças, orar a Ele com sinceridade. Outros se referem ao próximo: fazer o bem a todos, levar uma vida honesta, dar esmola (praticar a caridade). Outros têm a ver consigo próprio: a generosidade com os outros purifica o próprio coração; a honradez atrai vida abundante. Por contraste, o pecado é um modo de se odiar a si mesmo. Portanto, são conselhos de vida. São coisas simples, reais, práticas e certas. 

Estejamos Longe Da Hipocrisia Religiosa E Pratiquemos A Generosidade 

1. Hipocrisia Religiosa (vv. 38-40)

Nos versículos 38-40 no texto do evangelho deste Jesus alerta a todos os cristãos sobre o perigo da hipocrisia e do exibicionismo, pois “eles receberão a pior condenação”.

Hipócrita é aquele gosta de simular virtudes, sentimentos nobres e boas qualidades que, na verdade, não tem nele. Essa simulação tem como objetivo enganar as outras pessoas no intuito de conquistar a estima delas. É um “mendigo” de louvores e aplausos. Ao constatar sua perversidade interior, incapaz de confessá-la e corrigi-la, o hipócrita se refugia na simulação de possuir virtudes. Ele não se preocupa em ser bom, mas em apropriar-se daqueles indícios que o faz parecer como tal. O hipócrita não está consciente de que a dignidade da pessoa humana não consiste em parecer bom e sim em ser bom. Bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Uma pessoa boa é capaz de dar a outra pessoa a perfeição que lhe falta.

No evangelho, hipócrita eram os fariseus que respeitavam a Lei até a última vírgula, porém era apenas um respeito formal à legalidade sem nenhuma convicção íntima. Eles substituíam a procura do bem pela busca da própria glória. Eram ateus de coração.

Os hipócritas fariseus morreram? É claro que não! Basta abrirmos os jornais ligarmos a TV para nos dar conta das astúcias dos hipócritas. Sob aparências de bondade violam os ditames da consciência e as normas legais. Podemos, por isso, encontrar um fornecedor de drogas dentro de um comitê antidrogas. Podemos ver alguém na TV mandar beijos para sua esposa, mas esconde, ao mesmo tempo, muitos amantes, e assim por diante. Todo hipócrita tem um comportamento falso

2. Ser Generoso É Ser Rico Por Dentro (vv.41-44)

Se careces de riquezas, não as busques por meios ilícitos. Se tens riqueza, deposita-a no céu por tuas boas obras. Quem se entusiasma com a aquisição de bens deprime-se com sua perda” (Santo Agostinho: Epist. 189,7).

O Evangelho deste dia nos relatou que a viúva deu de sua indigência, em oposição aos ricos que deram de seu poder e de seus privilégios. Neste aspecto contradiz o provérbio segundo o qual ninguém dá o que não tem; esta mulher, ao contrario, somente possui o que deu. Sua oferta é um símbolo de seu amor. 

Esta viúva é o reflexo da generosidade de Deus que criou tudo por amor e dá tudo por amor; até o próprio filho amado Ele não poupou a fim de nos resgatar (cf. Jo 3,16). Ser de Deus é servir e dar, não aquilo que um tem e sim a si mesmo. Jesus não é o turista rico que veio visitar a terra subdesenvolvida da humanidade. Ele é o servidor de todos. Seu modo de ser Deus é a pobreza: dar tudo a fim de salvar todos.

Com sua oferta, a viúva se dá a si mesma. Ela faz de Deus o valor supremo acima de sua própria pessoa e faz depender sua vida de Deus, pois não tem mais meios de subsistência. Só uma pessoa de uma fé muito profunda, como essa viúva, será capaz de fazer essa “loucura”. Sobre este tipo de “loucura” São Paulo nos faz a seguinte reflexão: “Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa. Assim, ninguém poderá gloriar-se diante de Deus” (1Cor 1,27-29). 

Através de sua oferta a viúva traduz em pratica aquilo que Jesus disse anteriormente: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força!” (Mc 12,30). Uma entrega total, ainda que de aparência modesta, tem muito mais valor do que uma entrega parcial ainda que de uma aparência volumosa. O que vale é a totalidade do dom. A viúva é exemplo de um amor total a Deus, manifestado no total desprendimento dos bens materiais; é a antítese dos dirigentes do evangelho de hoje, infiéis a Deus por seu amor aos bens materiais.

Quando o coração humano se deixar arrebatar por Deus e o experimentar fortemente, então a esperança de poder possuir Deus se converte na força que move a vida. Basta ver como a esperança de Deus fez santos crianças, jovens e adultos, mulheres e homens que foram capazes de dar a vida pelo bem da humanidade como tradução da fé em Deus-generoso. Mas também é verdade que a falta de ilusão (ilusão é falta de correspondência entre a sensação e o objeto percebido) por Deus conduz muitos outros cristãos à mediocridade, à tibieza, à avareza e assim por diante. Por mais que tentemos para possuir nesta terra, nada conseguiremos. Nada podemos possuir. Temos apenas o usufruto das coisas deste mundo. Largaremos um dia assim que terminarmos nossa caminhada histórica.

Olhando para sua maneira de ser, o que é que essa viúva quer corrigir e purificar em você hoje? O que falta em você para ter a maneira de viver dessa viúva? Será que a fé na providência divina? Será que o desprendimento? Será que a generosidade? Será que a esperança?

P. Vitus Gustama,svd

Sexta-feira Da IX Semana Comum, 04/06/2021

AMOR É O PODER QUE JESUS CRISTO USA PARA SALVAR OS HOMENS

Sexta-Feira Da IX Semana Comum

Primeira Leitura: Tb 11,5-17

Naqueles dias, 5 Ana estava sentada, observando atentamente o caminho por onde devia chegar seu filho. 6 Percebeu que ele se aproximava e disse ao pai: “Teu filho está chegando, e com ele o homem que o acompanhou”. 7 Antes que Tobias se aproximasse do pai, Rafael lhe disse: “Estou certo de que seus olhos se abrirão. 8 Aplica-lhe nos olhos o fel do peixe. O remédio fará com que as manchas brancas se contraiam e se desprendam de seus olhos. Teu pai vai recuperar a vista e enxergará a luz”. 9 Ana correu, atirou-se ao pescoço do filho e disse: “Voltei à ver-te, meu filho, agora posso morrer!” E chorou. 10 Tobit levantou-se e, tropeçando, atravessou a porta do pátio. 11 Tobias foi ao seu encontro, tendo na mão o fel do peixe. Soprou-lhe nos olhos e, segurando-o, disse: “Confiança, pai!” Derramou o remédio e esfregou-o. 12 Depois, com ambas as mãos, tirou-lhe as películas dos cantos dos olhos. 13 Então Tobit caiu-lhe ao pescoço, chorando e dizendo: “Eu te vejo, meu filho, luz de meus olhos!” 14 E acrescentou: “Bendito seja Deus! Bendito seja o seu grande nome! Benditos sejam todos os seus santos anjos por todos os séculos! 15 Porque, se ele me castigou, agora vejo o meu filho Tobias!” A seguir, Tobit entrou com Ana em sua casa, louvando e bendizendo a Deus em alta voz, por tudo o que lhes tinha acontecido. E Tobias contou ao pai como tinha sido boa a viagem deles, por obra do Senhor Deus, como haviam trazido dinheiro e como se tinha casado com Sara, filha de Ragüel. Aliás, ela já se aproximava das portas de Nínive. 16 Tobit e Ana alegraram-se muito e saíram ao encontro da nora, às portas da cidade. Vendo-o andar a passos largos e com toda a firmeza, sem que ninguém o conduzisse pela mão, os ninivitas se admiraram. 17 E diante deles Tobit louvava e bendizia a Deus em alta voz, por ter sido misericordioso para com ele e por lhe ter aberto os olhos. E, aproximando-se de Sara, mulher de seu filho Tobias, abençoou-a e disse: “Bem-vinda sejas, minha filha. E bendito seja o teu Deus, filha, que te trouxe para junto de nós! Abençoado seja o teu pai, abençoado o meu filho Tobias e abençoada sejas tu, minha filha! Entra em tua casa com saúde, a ti bênção e alegria! Entra, minha filha!” E naquele dia foi grande o contentamento entre todos os judeus que se encontravam em Nínive.

Evangelho: Mc 12,35-37

35Naquele tempo, Jesus ensinava no Templo, dizendo: “Como é que os mestres da Lei dizem que o Messias é Filho de Davi? 36O próprio Davi, movido pelo Espírito Santo, falou: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés’. 37Portanto, o próprio Davi chama o Messias de Senhor. Como é que ele pode então ser seu filho?” E uma grande multidão o escutava com prazer.

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Deus É a Luz Para Nossa Vida e Poderoso Na Sua Misericórdia

O texto da Primeira Leitura narra o retorno de Tobias para sua casa e a cura da cegueira de su pai. A narração começa com uma delicada contarposição entre a angústia dos pais de Tobias e a intenção de que o jovem Tobias permaneça em casa. Nos vv.11-13 se pode descobrir o desejo dos israelitas de ver assegurada a descendência. Ter descendência para os israelitas significa a bênção de Deus.

De acordo com a orientação do anjo Rafael, Tobias ungiu com o fel de peixe os olhos de seu pai, Tobit. E as escamas dos olhos caíram e Tobit voltou a ver ou enxergar. Este reencontro de Tobit com seu filho, Tobias, é evidentemente o ponto culminante da narração. A cura da cegueira de Tobit quer nos mostrar que Deus não abandona seus justos. Para os justos de Deus, as provas sempre se transformam em benção no final. 

Além disso, a presença do Anjo Rafael nos comunica que na época havia uma devoção aos anjos representado pelo anjo Rafael que acompanha a viagem e cura os males da humanidade.

A leitura termina com a gozosa benção de Tobit após ter enxergado novamente. Tobit tem muitos motivos para louvar a Deus. Todas as paginas do livro de Tobias estão impregnadas da convicção de que a providencia do Senhor governa tudo. O Senhor nunca abandona os justos. Por isso, Tobit disse:Bendito seja Deus! Bendito seja o seu grande nome! Porque, se ele me castigou, agora vejo o meu filho Tobias!”

O livro de Tobias é a história simbólica das famílias judias no Exílio, submergidas nas trevas, descobrem progressivamente que os olhos do coração são os únicos capazes de permanecer sempre alertas. Um colírio misterioso devolve a luz aos olhos enfermos (cf. Ap 3,18) e lhes permite enfocar os acontecimentos ao estilo de Deus e não ao estilo míope dos homens.

Estou certo de que seus olhos se abrirão. Aplica-lhe nos olhos o fel do peixe. O remédio fará com que as manchas brancas se contraiam e se desprendam de seus olhos. Teu pai vai recuperar a vista e enxergará a luz”, disse o anjo Gabriel a Tobias 

Para um hebreu a luz designa fundamentalmente a felicidade que é o dom de Deus como a própria vida é um dom. Javé (Deus) é a luz de seu povo. Consequentemente o pecado representa o reino das trevas ou da infelicidade. Javé (Deus) espera que o homem se converta para outorgar-lhe definitivamente a luz. Com esta luz o homem vai ampliando sua visão sobre a vida a fim de poder se situar e se posicionar bem na vida e encontrar o sentido da vida. Mas quando se fala da luz não é apenas falar do seu aspecto material, mas principalmente, mais do seu aspecto interno. Pois o que tem quer ser iluminado é o coração do homem para que possa estruturar-se a felicidade requerida e recusar o pecado. Mas o homem jamais conseguirá tudo isso com sua próprio força. Por isso, Deus tem que oferecer ao homem a Sua claridade. Não é por acaso que no evangelho de João Jesus se define como Luz do mundo (cf. Jo 8,12) que faz homem não andar nas trevas do pecado. Quando contemplar o Senhor, a Luz do mundo, o homem se tornará reflexo da luz divina para o mundo (cf. Mt 5,14). O seguidor de Cristo tem uma tarefa permanente de tirar as pessoas do reino das trevas a fim de que elas possam ter a mais visão sobre a vida e a salvação oferecida por Deus.

No Apocalipse, São João fala claramente de um “colírio” misterioso e divino capaz de abrir os olhos: “Aconselho-te que de mim compres ouro purificado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te cubras, e não apareça a vergonha da tua nudez; e colírio para que tu unjas os olhos e possas enxergar” (Ap 3,18).

A cura do cego de nascença é interpretada explicitamente por Jesus como símbolo desta luz que provém de Deus e que permite olhar os acontecimentos à maneira de Deus (cf. Jo 9,40-41) e faz com que o homem evite o pecado, pois tudo se torna claro.

Jesus Cristo É Poderoso No Amor 

E o texto do evangelho deste dia pertence ao conjunto de relatos polêmicos entre Jesus e os dirigentes do povo de sua época. Finalmente Jesus se encontrou em Jerusalém e se enfrenta com os representantes do judaísmo oficial em uma série de controvérsias religiosas sobre temas fundamentais da fé. 

Neste texto Jesus disse: “Como é que os mestres da Lei dizem que o Messias é Filho de Davi? ... O próprio Davi chama o Messias de Senhor. Como é que ele pode então ser seu filho?”. 

O título “filho de Davi”, aplicado a Jesus Cristo faz parte da medula do evangelho. Na Anunciação, a Virgem Maria recebeu esta mensagem: “O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará sobre a descendência de Jacó para sempre” (Lc 1,32-33). Os pobres, que pediam a cura a Jesus, clamavam: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim” (Mc 10,48). Em sua entrada solene em Jerusalém, Jesus foi aclamado com o mesmo título (cf. Mc 11,10). 

Mas Jesus não é somente filho de Davi. Ele é o Senhor. Jesus afirma isso solenemente ao citar o Salmo 110,1: “Disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés”. Em outras palavras, o texto quer esclarecer sobre a verdadeira identidade de Jesus.

Quem é Jesus? Esta é a pergunta que o evangelista Marcos quer responder no seu evangelho. Jesus é Cristo/Messias, o Filho de Deus! É a resposta dada pelo evangelista Marcos logo no início do seu evangelho. No contexto do evangelho de Mc, o Messias é o Filho do Homem e o Filho de Deus. 

Jesus é o Filho do Homem e Filho de Deus, o Messias, mas não ostenta o poder. Jesus se afasta de todo poder para instaurar uma realidade nova, onde os que não exercem o poder se sentem importantes e são chamados para a plenitude. Por isso é que Jesus está sempre próximo dos marginalizados, dos empobrecidos, dos excluídos, dos abandonados e faz refeição com eles.

Jesus está consciente de sua Messianidade e de seu ser Senhor e Rei. No entanto, toda sua vida se desenvolve no serviço e na entrega em amor por nós; amor que chega ao extremo de sacrificar sua própria vida por nós, como se nós fôssemos os Senhores. Trata-se de uma maneira de viver que contém uma crítica dura para os escribas e fariseus que vivem a ostentação na maneira de vestir, que adoram as honrarias e o louvor dos homens, mais do que a honra e o louvor a Deus, que amam o dinheiro impulsivamente, e assim por diante. A falsa profissão religiosa e a hipocrisia são uns dos maiores pecados dos homens. É fingir religiosidade, mas na realidade estão servindo ao mundo. Em tudo que o que fizermos no campo religioso, jamais usemos disfarce como os escribas e fariseus. Sejamos sinceros, reais, honestos, humildes e francos no nosso cristianismo. Jamais poderíamos enganar Deus que nos vê. Por isso, Deus não se deixa enganar. O dia do julgamento logo chegará.   

Em que consiste, então, o poder de Deus? Ele é poderoso, mas no amor. Ele está acima de tudo, mas sempre no amor. Ele é onipotente, mas no amor. Ele é onipresente, mas está sempre presente por amor. Ele é onisciente, mas nos conhece no amor e por amor.  Por causa do seu amor por nós, Jesus foi capaz de aceitar ser crucificado na cruz, em vez de derrubar e matar seus adversários. Jesus nos amou, e nos amou até o fim (cf. Jo 13,1). Jesus é amado pelo Pai por causa disso tudo. E para nós Jesus é o amor encarnado do Pai (cf. Jo 3,16). 

Cada dia nós somos chamados a entender este Jesus, o Deus próximo do homem. Não podemos continuar sustentando uma teologia nem uma Igreja que apresente um Jesus cheio de poder, já que esta imagem contradiz a experiência que os evangelhos e todo o Novo Testamento nos apresentam de Jesus.

Quanto mais amor dá, tanto mais você se enche de amor: o amor não se gasta ao ser dado; pelo contrário, você se enche cada vez mais de amor. Quando se ama, as diferença se aproximam e se enriquecem mutuamente e as forças se somam. Qualquer um será um bom líder, bom diretor, se for amado mais do que obedecido ou temido. Uma pessoa só terá autoridade, se conseguir fazer o outro crescer.

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...