terça-feira, 4 de maio de 2021

Sábado Da V Semana Da Páscoa,08/05/2021

QUANDO PERMANECERMOS ABERTOS AO ESPIRITO SANTO SEREMOS VERDADEIROS MÁRTIRES DE CRISTO

Sábado da V Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 16,1-10

Naqueles dias, 1 Paulo foi para Derbe e Listra. Havia em Listra um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia, crente, e de pai grego. 2 Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho de Timóteo. 3 Paulo quis então que Timóteo partisse com ele. Tomou-o consigo e circuncidou-o, por causa dos judeus que se encontravam nessas regiões, pois todos sabiam que o pai de Timóteo era grego.  4 Percorrendo as cidades, Paulo e Timóteo transmitiam as decisões que os apóstolos e anciãos de Jerusalém haviam tomado. E recomendavam que fossem observadas. 5 As Igrejas fortaleciam-se na fé e, de dia para dia, cresciam em número. 6 Paulo e Timóteo atravessaram a Frígia e a região da Galácia, pois o Espírito Santo os proibira de pregar a Palavra de Deus na Ásia. 7 Chegando perto da Mísia, eles tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu. 8 Então atravessaram a Mísia e desceram para Trôade. 9 Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente, estava de pé um macedônio que lhe suplicava: “Vem à Macedônia e ajuda-nos!” 10 Depois dessa visão, procuramos partir imediatamente para a Macedônia, pois estávamos convencidos de que Deus acabava de nos chamar para pregar-lhes o Evangelho.

Evangelho: Jo 15,18-21

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18“Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. 19Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia. 20Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu senhor’. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 21Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou”.

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É Preciso Permanecermos Abertos À Ação Do Espirito Santo e Atentos Para Seus Sinais 

Percorrendo as cidades, Paulo e Timóteo transmitiam as decisões que os apóstolos e anciãos de Jerusalém haviam tomado. E recomendavam que fossem observadas. As Igrejas fortaleciam-se na fé e, de dia para dia, cresciam em número”. 

O texto da Primeira Leitura fala do início da Segunda grande Viagem Missionária de Paulo nos anos 49-52 d.C.  Através de Ásia Menor (atual Turquia) chegará a Europa e fará das principais cidades de Grécia cenário de sua missão. Uma vez na Europa (At 11-15), Paulo se detém em Filipos, principal cidade de Macedônia e a conversão de Lídia que acolheu Paulo constitui o ponto de partida para a fundação daquela comunidade. Porém, nesta Segunda Viagem Missionária, Paulo não é acompanhado por Barnabé (separou-se de Paulo por uma discussão) e sim por Timóteo e Silas. E também Lucas, o autor do livro dos Atos dos Apóstolos, nos relata porque neste relato aparece o “nós”: “Depois dessa visão, procuramos partir imediatamente para a Macedônia, pois estávamos convencidos de que Deus acabava de nos chamar para pregar-lhes o Evangelho”.        

O que se enfatiza neste relato é a incansável esforço de Paulo e companheiros na evangelização. Paulo sem medo viaja de cidade em cidade e se deixa tempo todo guiar pelo Espirito Santo. Uma vez convertido, Paulo (e companheiros) não se cansa de trabalhar pela evangelização dos gentios. Além disso, eles têm uma crescente consciência de que é o Espirito Santo (Espirito de Jesus) quem os guia permanentemente, e na sua ação missionária, eles também permanecem abertos para a ação do Espirito Santo: “Paulo e Timóteo atravessaram a Frígia e a região da Galácia, pois o Espírito Santo os proibira de pregar a Palavra de Deus na Ásia. Chegando perto da Mísia, eles tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu”. Não sabemos os meios pelos quais eles reconhecem a indicação do Espirito Santo. Mas em todo o livro dos Atos dos Apóstolos o protagonismo do Espirito Santo e a obediência dos discípulos à sua voz são constantes. Com esta colaboração entre o Espirito Santo invisível, mas atuante e a comunidade visível, em modo particular seus responsáveis, a fé em Jesus Cristo continua se espalhando pelo mundo. Por isso, o Salmo Responsorial pode aclamar: “Aclamai o Senhor, ó terra inteira, servi ao Senhor com alegria, ide a ele cantando jubilosos!” (Sl 99). 

Lucas nos relatou também que Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente, estava de pé um macedônio que lhe suplicava: ‘Vem à Macedônia e ajuda-nos!’”. A voz misteriosa que convoca Paulo e Silas com urgência evangélica é a mesma voz que deve exortar todas as consciências cristãs para que não durmam na fé, nem definham na caridade, nem diminuam a tensão da santa esperança. Para todas as pessoas de todos os tempos e lugares, o Espírito está nos exortando a testemunhar a fé e anunciar as Boas Novas de Jesus, a fonte da salvação.         

No texto fala-se também da separação de Barnabé de Paulo na viagem missionária por uma discussão (cf. At 15,36-40). Tudo isto nos mostra que o trabalho na equipe não é fácil. Mas apesar do episódio de Barnabé vemos claramente que Paulo tem consciência de que é a comunidade que o envia para a missão depois de sua conversão.         

Nós jamais estamos isentos de distintas visões em tantos aspectos da vida da Igreja/comunidade. Mas jamais podemos perder nossa consciência de que somos comunidade/Igreja e que as coisas não se decidem nem se fazem com critérios meramente pessoais. No nosso discernimento, devemos estar atentos à vida, por um lado e por outro lado, devemos permanecer abertos à ação do Espirito Santo, personagem principal da Igreja. É preciso ficarmos atentos aos sinais dos tempos pelos quais o Espirito de Santo fala para nós e através de nós. O livro dos Atos dos Apóstolos está muito ligado, de alguma maneira, à voz do Espirito Santo. É o Espirito de Jesus (cf. Mt 28,20), misterioso, mas eficaz agente de toda vida eclesial, Aquele que inspira a comunidade sobre quais são lugares e os caminhos da evangelização em cada momento. O discernimento é comunitário, é para a edificação da comunidade. Tudo que não edifica a comunidade é uma autopromoção. Ninguém pode ser considerado como o único intérprete da vontade de Deus. A voz do Espirito se reconhece na comunidade sobretudo através do ensinamento (magistério) e decisão dos sucessores de Pedro e os Apóstolos, o Papa e o episcopado mundial com uma participação notória da mesma comunidade como se vê ao longo do livro dos Atos dos Apóstolos. “Vinde, Espirito Santo, enchei os corações dos vossos fieis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espirito e tudo será criado e renovarei a face da Terra”, assim rezamos sempre. 

Na Vivência Dos Ensinamentos De Jesus Cristo Seremos Perseguidos 

Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou”. Continuamos ainda a acompanhar o discurso de despedida de Jesus dos seus discípulos (Jo 13-17).         

O evangelho de hoje descreve a situação precária da comunidade cristã no mundo, principalmente nos finais do século I e nos começos do século II. É uma situação que se caracteriza pela recusa e até pela perseguição abertas. A resistência à revelação não cessou na cruz de Jesus. A mesma resistência agora é dirigida contra a comunidade cristã que mantém os ensinamentos de Jesus Cristo. “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós”, alerta Jesus aos seus. Na época em que João escreveu seu evangelho muitos morreram como mártires.        

No evangelho deste dia, Jesus contrapõe o amor do Pai com o ódio do mundo manifestado pela perseguição. “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim”. Ódio é paixão ou sentimento que leva a fazer ou a desejar mal para o próximo. É uma paixão provocada pela vista do mal e que se traduz por um sentimento de aversão. Mas o ódio é igual a tomar o veneno e espera que o outro morra. O mundo é caracterizado pelo ódio. A comunidade cristã é caracterizada pelo amor fraterno: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35).         

Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim”. Os cristãos estão bem advertidos. Não têm porque se estranham de ser recusados ou odiados por causa da vivencia dos ensinamentos de Cristo. Nada de estranho! A Igreja é o Corpo de Cristo. Por isso, tem que sofrer inevitavelmente os ataques do homem mundano que se crê deus de si mesmo e que não pode renunciar a ser ele o autor de sua própria salvação. Este tipo de homem sempre buscará acusações contra a Igreja, pelos mesmos motivos que as buscou contra Jesus. Para o mundo a fé em Deus é irracional e atrasada; o perdão aos inimigos é uma debilidade; a oração e o amor a Deus são atitudes ineficazes e dos fracos. Por isso e por tantos outros motivos a Igreja de Cristo é perseguida. Mas a perseguição é um meio de união com Cristo; é correr a mesma sorte que Jesus. Enquanto a Igreja viver fielmente de acordo com os ensinamentos de Jesus, ela será perseguida (cf. 2Tm 3,12).        

Para São João, habitualmente, especialmente no contexto do evangelho deste dia, o mundo significa “o mundo pecador”, “o mundo que recusa Deus”. O processo de Jesus não terminou enquanto a Igreja estiver no mundo. Por isso, o mundo neste sentido é sinônimo de todo um sistema ideológico, político e social que aliena o ser humano e o converte num escravo; designa a todo sistema injusto. Mas o seguimento de Jesus, a amizade com ele leva os cristãos a romperem com a mentalidade alienada que o mundo impõe.        

Mas a ruptura com o mundo não é fácil. Pelo contrário, resulta num conflito em extrema deprimente e perigoso, porque o mundo, como mentalidade alienadora, não permite a mínima dissensão ou oposição. Por isso, enquanto a Igreja existir sobre a face da terra, vão continuar a existir também mártires. Mas o sangue do mártir é a semente para a Igreja. Não dá para a verdadeira Igreja de Cristo parar de sofrer. A Igreja de Jesus continua com sua função profética de anunciar e de denunciar que resulta na perseguição e no martírio. Viver de acordo com os ensinamentos de Cristo significa ser sinal de contradição (cf. Lc 2,34-35).         

Os cristãos devem lutar incansavelmente por superar, em sua própria pessoa e na comunidade, a mentalidade que o mundo lhes impõe. A vida de um cristão é uma luta permanente contra o mal. Qualquer cristão verdadeiro sofrerá por manter sua opção pelos valores do Reino tais como amor, justiça, honestidade, verdade, igualdade, fraternidade e assim por diante.         

O que o cristão deve continuar a fazer é testemunhar o amor fraterno. O amor fraterno é o selo de autenticidade de cada cristão (cf. Jo 13,35). Somente o amor vivido na fraternidade salva, pois “Deus é Amor” (1Jo 4, 8.16).         

O perigo que temos é a assimilação insensível da hierarquia de valores do mundo em vez da hierarquia de valores que Jesus Cristo ensinou. Por isso, há perseguição contra a Igreja que é fruto da incoerência da própria Igreja com seus próprios ensinamentos éticos e morais recebidos de Jesus Cristo. Se a Igreja estiver de mãos dadas com o mundo é porque a Igreja deixa de viver de acordo com sua função profética de anunciar e de denunciar. Neste sentido, a Igreja é perseguida porque não está vivendo os valores cristãos que ela própria prega. Este tipo de perseguição serve para que a Igreja volte a ser como antes: uma comunidade cristã que vive os valores éticos e morais antes de pregá-los.         

Mas há outro tipo de perseguição que se deriva do choque do evangelho com muitos dos critérios que hoje são vigentes. Esta segunda perseguição é um claro sinal da autenticidade da Igreja. Se os cristãos forem perseguidos por estar vivendo os valores éticos e morais e os demais valores evangélicos, estarão recebendo, na verdade, um grande aplauso apesar do sofrimento. Que bom que alguém me critica por eu praticar o bem. Que bom que alguém me denuncia por eu ser solidário com os pobres e os excluídos da sociedade. Que bom que alguém me persegue por eu lutar pela justiça e honestidade e assim por diante. Se alguém me criticar por cometer algo do nível ético, eu tenho que ficar de joelho diante de Deus para pedir perdão e voltar a viver os valores éticos e os demais valores evangélicos.         

Ser cristão é ser mártir; é ser testemunha. A palavra “mártir” em grego pode significar: afirmar o que se viu para que os demais se convençam disso; é testemunhar para que o juiz faça justiça. No cristianismo, o testemunho significa também firmar com sangue o que se afirma. No Antigo Testamento sem testemunhas declarantes, não pode ter sentença penal (Nm 5,13). Na Bíblia, é preciso ter, pelo menos, dois ou três testemunhas coincidentes (Dt 19,15-16; Nm 35,30; Mt 26,59-61; Mc 14,56-57). As falsas testemunhas eram duramente castigadas (Dt 19,16-20; 1Rs 21,10-13; Dn 13,34-41). Os sábios de Israel anatematizam o testemunho falso (Pr 19,9). Havia obrigação grave de testemunhar (Lv 5,1.5.6).       

Ao participar da Eucaristia sabemos que aceitamos as exigências do Evangelho, de tal forma que, daqui em diante, temos que viver totalmente comprometidos com Jesus Cristo. É sermos testemunhas de Cristo onde estivermos e para onde formos. Comungar o Corpo do Senhor significa viver como Ele viveu. Comungar o Corpo do Senhor significa assumir o estilo de vida que ele viveu. Sem isto, a Eucaristia e a comunhão carecerão de sentido. Quando o cristão deixar de ser testemunhas dos valores cristãos, o mundo vai avançando na sua maldade. E os pequenos, os inocentes serão sempre suas vítimas preferidas. O cristão é chamado a ser voz desses pequeninos: dos sem voz e sem vez.

P. Vitus Gustama,svd

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