sexta-feira, 21 de maio de 2021

Quarta-feira Da VIII Semana Comum,26/05/2021

SOMOS CHAMADOS A SERVIR PARA SALVAR O PRÓXIMO: SERVIÇO REDENTOR

Quarta-Feira da VIII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 36,1-2ª.5-613-19

1 Tende piedade de nós, Senhor, Deus do universo, e olhai! Mostrai-nos a luz do vosso amor. 2ª Infundi o vosso temor em todos os povos que não vos procuram, para que saibam que não há outro Deus senão vós. 5 Que eles vos reconheçam, como nós reconhecemos, que não há Deus além de vós, Senhor. 6 Fazei novos milagres, renovai os prodígios. 13 Reuni as tribos todas de Jacó, e dai-lhes a herança como no tempo antigo. 14 Tende piedade do povo chamado pelo vosso nome, e de Israel, a quem tratastes como primogênito. 15 Compadecei-vos de vossa santa cidade, de Jerusalém, lugar de vossa morada. 16 Enchei Sião de vossa majestade, e de vossa glória o templo. 17Dai testemunho daqueles que, desde o início, são vossas criaturas, realizai o que os profetas em vosso nome disseram. 18 Dai a recompensa àqueles que esperam em vós, mostrai que os vossos profetas tinham razão. Escutai, Senhor, a oração dos vossos servos, 19 pela benevolência que tendes para com vosso povo, conduzi-nos no caminho da justiça, e que o mundo inteiro reconheça que vós sois o Senhor, o Deus de todos os tempos. 

Evangelho: Mc 10, 32-45

Naquele tempo, 32discípulos estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia na frente. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Jesus chamou de novo os Doze à parte e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: 33“Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. 34Vão zombar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo. E depois de três dias ele ressuscitará”. 35Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”. 36Ele perguntou: “Que quereis que eu vos faça?” 37Eles responderam: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando estiveres na tua glória!” 38Jesus então lhes disse: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” 39Eles responderam: “Podemos”. E ele lhes disse: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com batismo com que eu devo ser batizado. 40Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado”.  41Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. 42Jesus os chamou e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. 43Mas entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; 44e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. 45Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”.

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O Deus Em Quem Acreditamos É O Deus Do Universo E De Todos Os Tempos

Continuamos a acompanhar a leitura do Livro de Eclesiástico. No texto da Primeira Leitura de hoje fala-se de uma bela oração pelo próprio povo eleito (Israel) e por toda a humanidade. 

O que se pede a Deus pelo povo eleito é que Deus lhe conceda a reunificação e para que sejam cumpridas as promessas que Deus fez da salvação messiânica. Com esta reunificação, o povo eleito possa retornar ao seu antigo esplendor Jerusalém com seu Templo e com o que significava a glória de Deus e o amadurecimento na fé do povo. 

Ao mesmo tempo, nesta oração se respira um ar missionário, pois reza-se também pela humanidade inteira. O que se pede a Deus pela humanidade inteira é que todos os povos da terra reconheçam o verdadeiro Deus, “Que eles vos reconheçam, como nós reconhecemos, que não há Deus além de vós, Senhor. E que o mundo inteiro reconheça que vós sois o Senhor, o Deus de todos os tempos” (Eclo 36,5.19b). 

Tudo isto quer nos dizer que devemos também ser caridosos na oração ou ser irmão da humanidade. Muitas das vezes entramos na igreja ou templo com nossa lista de pedidos a Deus para nossa própria necessidade. O texto de hoje nos ensina a olharmos também para as necessidades alheias para apresentá-las a Deus. Se confessamos que Deus é o Pai-Nosso, logo todos os outros são filhos e filhas de Deus e portanto, são nossos irmãos e irmãs. Se for assim, devemos rezar pela humanidade. Aqui a oração se torna também missionária. Se Jesus Bem Sirac rezava pela restauração de Israel, e pela humanidade para que Deus fosse reconhecido como o “Deus de todos os tempos”, nós também podemos rezar pela revitalização da Igreja, pela melhora de nossa sociedade, pela reunificação deste mundo, para que todos reconheçam a Deus como Pai e a Jesus como Salvador e Irmão.

Além disso, o texto da Primeira Leitura nos ajuda, entre outras coisas, a destacar um aspecto básico da oração: a busca da glória de Deus. 

Sabemos muito bem que oramos e fazemos petições a Deus porque somos necessitados e limitados. Clamamos a Deus e O chamamos “Pai” porque reconhecemos que Ele pode remediar nossas carências e aliviar nossos sofrimentos, mais do que qualquer pai neste mundo (Cf. Mt 7,11). 

No entanto, isto não significa que a oração tenha que ser um exercício de egoísmo e puro interesse próprio. Deus é o Pai de todos. Por isso, o autor do Eclesiástico suplica pedindo que se revele a glória de Deus para todos os povos. Quando nossas necessidades forem atendidas por Deus, quando Ele fizer aparecer seu poder e nos defender de nossos inimigos, o que se revela é, na verdade, a glória de Deus. A glória de Deus se manifesta na criação do universo em que tudo está em ordem (cosmos). Por isso, Ele é o “Deus de todos os tempos”. Quem se beneficia da bondade de Deus é a humanidade inteira. Consequentemente, a manifestação da glória divina, especialmente através do universo criado por Ele pelo bem dos homens, é a revelação da misericórdia divina pela humanidade.

Se o que se busca na petição de Jesus Bem Sirac, na Primeira Leitura, é a glória de Deus através do reconhecimento da parte de todos os povos que Deus é o “Deus de todos os tempos”, no texto do Evangelho de hoje o que se busca é a glória humana através do pedido dos filhos de Zebedeu: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando estiveres na tua glória!”. Para eles é evidente que Jesus está caminhando para sua glória eterna e estão ansiosos por assegurar seus postos. A réplica de Jesus é esta: “Vós não sabeis o que pedis”. Os dois apóstolos não sabiam o que pediam porque desconheciam o caminho que levava a essa glória. Eles queriam o prêmio, porém desconheciam o rigor da batalha. 

Estendamos um pouco mais nossa reflexão sobre o texto do Evangelho de hoje!

Somos Chamado a Ir Atrás de Jesus Diariamente 

1. Jesus Que Está Na Frente de Nossa Caminhada Nos Chama Continuamente a Segui-Lo

O texto do evangelho de hoje nos diz que Jesus e os seus discípulos “estavam a caminho”. E a meta desta caminhada é explicitamente mencionada: Jerusalém (11,11). Sem dúvida, Jesus já visitou Jerusalém várias vezes, mas somente desta vez ele a visitou como Messias. E Jesus é descrito como uma pessoa que está marchando determinadamente para seu destino: “Estavam a caminho para subir a Jerusalém” (v.32). Com a descrição de “estar a caminho”, Marcos quer nos dizer que seguir a Jesus significa colocar-se em marcha e andar atrás de Jesus, pois quem anda na frente de Jesus, se perde ou fica desorientado. Trata-se de um caminhar no qual há avanços e retrocessos, clarezas e obscuridades.

 

O texto também nos relata que Jesus vai à frente dos discípulos (v.32b). O verbo usado aqui por Marcos é  “ir à frente”. Este “ir à frente” servirá para expressar a promessa da ressurreição: Jesus Ressuscitado irá novamente à frente dos discípulos, como guia e pastor, na Galiléia (14,28; 16,7). A imagem de Jesus que “vai à frente” é a imagem do Servo que se entrega. É o cumprimento daquilo que lemos no quarto canto do Servo de Deus: “Se ele oferece a sua vida como sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência, prolongará os seus dias” (Is 53,10). Trata-se de um anúncio de morte, mas cheio de esperança, pois fala-se da ressurreição.  

Podemos ver também neste “ir à frente” de Jesus uma mensagem de esperança e de certeza para quem acredita em Jesus. Para tudo de bom que fazemos e queremos fazer Jesus abre o caminho apesar das “subidas” que nos fazem perdermos fôlego. Mas tendo consciência de que Jesus está andando na nossa frente, ganharemos novas forças ou renovaremos nossas forças para continuar a acompanhar Jesus no seu caminho de salvação. O Jesus na frente nos chama continuamente para caminhar sem desistência e sem desânimo apesar de nossos medos e fraquezas: “Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo” (Mc 10,32b).

2. Ambição Pelo Poder Obscurece o Seguimento e Mata o Espírito De Serviço (Mc 10,35-45) 

Apesar de Jesus estar na nossa frente não faltam tentações de nos desviarmos do Seu caminho. Uma dessas tentações é a ambição pelo poder mundano. Uma pessoa com a ambição viciada pelo poder é capaz de recorrer à violência para alcançar seu objetivo. Este tipo de pessoa não se preocupa em ser justo. Ele não suporta competidores nem rivais e tenta eliminá-los de qualquer maneira. Poder é uma palavra mágica que encanta, arruína e corrompe a tantos mortais. Os que são viciados pelo poder manipulam e oprimem, especialmente, os débeis: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam”. Quanta atualidade nesta imagem! Quanta tristeza se muitos deles presumem de ser cristãos.

Depois que os discípulos ouviram o terceiro anúncio da Paixão, novamente, como depois do segundo, surge uma discussão entre os discípulos sobre o primeiro posto, sobre a preeminência na comunidade. Para os discípulos esta discussão lhes importava. Eles estão como que cegos para enxergar o caminho trilhado por Jesus e que eles devem trilhar também como discípulos do Senhor: “Mestre, deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando estiveres na tua glória!”. 

Seguir a Jesus, fazer-se servo como Jesus se torna difícil quando entra na vida de qualquer cristão a sede pelo primeiro posto, pelo poder como poder, não como serviço entendido como doação de si mesmo aos demais até o sacrifício total da própria vida a exemplo de Jesus. 

“Na sua glória”, glória (doxa) como em 8,38 e 13,26. Os dois irmãos são motivados mais pela ambição egoísta do que pela idéia clara sobre o que eles querem: “Vós não sabeis o que estais pedindo” (38b). Eles não sabem “o que estão pedindo” (v.38), mas “sabem” de que modo a classe dirigente age (v.42). Os dois pensam no prêmio e não no caminho. Além disso, seu pedido egoísta por uma alta posição mostra que eles continuam concentrados mais em sua grandeza pessoal do que no serviço humilde para qual Jesus chamou os Doze (9,33-50).       

É uma ocasião apropriada para Jesus transmitir lição sobre discipulado (42-45): “Entre vocês não deverá ser assim...”. Em seguida ele propõe um outro tipo de autoridade, que é o anti-poder, mediante imagens e modelos sociais inequívocos para seu tempo e o ambiente antigo: o servo (diakonos: pessoa que serve à mesa) e o escravo (doulos: pessoa na situação mais baixa do que um servidor). Quem “serve à mesa” e, mais ainda, quem é “escravo de todos” tem como preocupação principal o atender às necessidades dos outros. 

Quando a Igreja é fiel a este modelo, a sua vida comunitária reflete a própria vida de Jesus (cf. Fl 2,5-11). Assim, a Igreja se torna uma presença profética no mundo, e tem força para denunciar estruturas injustas e o uso do poder para dominar e tiranizar, da mesma forma que Jesus o fazia naquela sociedade na qual vivia. Por isso, como é triste quando cristãos se esquecerem desta exigência de Jesus na vida familiar ou na comunidade; ou silenciam diante de injustiças na sociedade e compactuam com um poder dominador. A grandeza dos cristãos-discípulos está na capacidade de servir e na dedicação ao serviço. O essencial para qualquer autoridade ou responsável na comunidade cristã é que ele seja mais servo do que chefe: um servidor de Deus e das pessoas para que todos cresçam no amor e na verdade.        

Em nosso íntimo, infelizmente, existe um pequeno tirano que quer o poder e prestígio e que se agarra a isso; quer dominar, ser superior, controlar. Teme qualquer crítica, qualquer controle: é o único a ter razão, mandando tudo e em tudo, conservando ciosamente seu poder de quere dominar. “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” é o recado permanente de Jesus para todos nós. 

O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”, concluiu Jesus no evangelho de hoje. São palavras bem pensadas que manifestam com que consciência Jesus vai ao encontro de seu destino. Este estilo de vida é que dá a Jesus o sentido de sua morte. O texto diz: “Como resgate para muitos”. Jesus se vê como o “Justo Sofredor” cuja morte-martírio se converte em sacrifício de salvação para todos. Jesus me resgatou sacrificando-se. Jesus me salvou oferecendo sua vida como resgate. De que maneira eu posso “resgatar” meu próximo? Sou capaz de me sacrificar para que o próximo possa viver?

P. Vitus Gustama,svd

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