DOMINGO DE RAMOS
JESUS É UM REI DIFERENTE E
UM MESSIAS HUMILDE
A semana
Santa é inaugurada pelo
Domingo de Ramos
no qual são
celebrados dois aspectos
centrais do mistério
pascal: Primeiro aspecto: o
aspecto glorioso ou triunfal mediante a procissão
de ramos em
honra de Cristo
Rei. O que
importa nessa primeira parte não é somente o ramo bento
e sim a celebração do triunfo de Jesus. A
segunda parte que é o segundo aspecto: o aspecto doloroso através da
leitura da Paixão de Jesus ou a morte de Jesus. Devido a dois aspectos que tem
este dia o Domingo de Ramos (rosto vitorioso) é chamado também de o “Domingo da
Paixão” (rosto doloroso).
Os
ramos de palmeira que usamos neste
Domingo de Ramos, no primeiro aspecto, são símbolos do martírio e da vitória e
da vida. Os ramos de palmeira eram sinais muito frequentes de
vitória, de alegria e de paz. A palma ou o ramo é símbolo de
martírio. Ao levar os ramos queremos manifestar a Cristo que estamos dispostos
a dar-Lhe testemunho como os mártires ou testemunhas, se não com nossa vida,
pelo menos com nossas boas obras, com o bem que praticamos cada dia. A palma ou
o ramo também é símbolo de luta e de vitória. Com a palma ou o ramo em nossas
mãos queremos manifestar que com Cristo seguramente podemos vencer o mal, o
comodismo, a preguiça, o ódio, o rancor e assim por diante. Queremos dizer que
somos livres de todo o mal. Isto quer nos dizer que para sermos lógicos,
coerentes com nossa fé é necessário que a realidade se ajuste ao simbolismo; é
necessário que o que expressamos exteriormente o possuamos interiormente.
A
multidão que acolheu a entrada de Jesus em Jerusalém, com ramos de palmeira,
queria sublinhar o aspecto triunfal e glorioso do evento (cf. Jo 12,13). As
folhas perenes da palmeira também são uma imagem simbólica da vida eterna e da
ressurreição. Por isso, na arte cristã, os ramos da palmeira recordam
frequentemente os atributos dos mártires. Seu significado é o da vitória,
ascensão, renascimento e imortalidade.
A procissão
com os ramos nas mãos é simbólica, para dizer que a vida é um caminho, uma procissão, uma
peregrinação para
a vida eterna.
Numa peregrinação tudo
é para frente.
Não tem volta:
nem para as pessoas, nem para as coisas, nem para a história do mundo
e da humanidade. Não
dá para nascer novamente. Nesta peregrinação
o passado é observável, mas não é
modificável. O futuro é modificável, mas não é
observável. Por isso,
a grande questão
é como aproveitamos cada
momento para nossa própria edificação e para o bem do próximo para
que possamos peregrinar
levemente. Nisto está o sentido de nossa
presença neste mundo.
Nisto está a nossa responsabilidade.
O que importa nessa primeira
parte não
é somente o ramo
bento e sim
a celebração do triunfo
de Jesus.
A
segunda parte
é a leitura da Paixão
de Jesus ou a morte
de Jesus. A procissão segue imediatamente
a Eucaristia. Do aspecto
glorioso dos ramos
passamos ao aspecto doloroso
da Paixão. Celebrar
a paixão e morte
de Jesus é abismar-se na contemplação de
um Deus
a quem o amor
tornou frágil… Por
amor, Ele
veio ao nosso
encontro, assumiu os nossos limites,
experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a
mordedura das tentações,
tremeu perante a morte,
suou sangue antes
de aceitar a vontade
do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra
a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar.
Desse amor resultou vida
plena, que
Ele quis repartir
conosco “até
ao fim dos tempos”:
esta é a mais espantosa
história de amor
que é possível
contar; ela é
a boa notícia que
enche de alegria o coração
dos crentes.
Esta
transição não
se deduz somente do modo
histórico em
que transcorreram os fatos e sim porque o triunfo
de Jesus no Domingo de Ramos é sinal
de seu triunfo
definitivo. Os ramos
nos mostram que
Jesus vai sofrer, mas
como Vencedor; vai morrer,
mas para ressuscitar. Em
outras palavras, o Domingo
de Ramos é inauguração
da Páscoa ou
passagem ou
passo das trevas
à luz, da humilhação
à glória, do pecado
à graça e da morte
à vida.
Jesus
é saudado e aclamado como rei, rei dos judeus. Mas ele usa um jumento na sua entrada triunfal em
Jerusalém e não um
cavalo real
ou um
cavalo de guerra.
Jumento é animal
usado pelos pobres.
Por isso,
Jesus é um rei
diferente e o Messias
humilde.
Jesus É Um
Rei Diferente
Jesus é chamado e
saudado como Rei
dos judeus no relato da Paixão. Mas
Jesus é um rei
diferente. O verdadeiro rei é aquele
que salva
a vida do povo
mesmo que,
por isso,
sacrifique a própria vida. O verdadeiro rei
é aquele que
conquista os corações
para Deus em vez de
dominá-los para o próprio
interesse. O verdadeiro rei é aquele
que liberta
em vez
de dominar. O
verdadeiro rei
é aquele que
protege e cuida dos outros. Jesus é o rei que protege
o necessitado, sustenta o fraco, visita e
cura o doente
e ferido, e procura o perdido. Por isso, o reinado de Jesus é diferente.
Não é um
reinado opressivo
e tirânico; não
se baseia na violência nem na exploração
social e econômica.
É um reinado
de misericórdia caracterizado
pelo serviço humilde e pela paz.
Por isso,
ele não
é bem aceito pela
poderosa elite
local. O projeto
libertador de Jesus entrou em choque com a atmosfera
de egoísmo, de má vontade,
de opressão que
dominava o mundo. As autoridades políticas
e religiosas sentiram-se incomodadas com
a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar
a esses mecanismos
que lhes
asseguravam poder, influência,
domínio, privilégios;
não estavam dispostas a arriscar,
a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta
por Jesus. Por
isso, prenderam Jesus, O julgaram e O
pregaram numa cruz. A morte
de Jesus é a consequência lógica daquilo
que Jesus pregou com
palavras e com
gestos: o amor,
o dom total,
o serviço.
Contemplar a cruz
onde se manifesta
o amor e a entrega
de Jesus significa assumir a mesma
atitude que Ele assumiu e solidarizar-se com
aqueles que
são crucificados neste mundo: os que
sofrem violência, os que são
explorados, os que são
excluídos, os que são
privados de direitos
e de dignidade… Olhar
a cruz de Jesus significa denunciar
tudo o que
gera ódio, divisão,
medo, em termos de estruturas,
valores, práticas,
ideologias; significa evitar
que os homens
continuem a crucificar outros
homens; significa aprender
com Jesus a entregar
a vida por
amor… Viver
deste jeito pode conduzir
à morte; mas
o cristão sabe que
amar como
Jesus é viver a partir de
uma dinâmica que
a morte não
pode vencer: o amor
gera vida nova
e introduz na nossa carne
os dinamismos da ressurreição.
Jesus É Um
Messias Humilde
“O primeiro passo
na busca da verdade
é a humildade. O segundo,
a humildade. O terceiro,
a humildade. E o último,
a humildade. Naturalmente,
isso não
significa que a humildade
seja a única virtude
necessária para
o encontro e gozo
da verdade; mas
se as demais virtudes
não estiverem precedidas, acompanhadas e
seguidas da humildade,
a soberba abrirá o caminho
e destruirá suas boas intenções” (Santo
Agostinho: Epist. 118,3,22).
A humildade, do ponto de vista teológico, não
designa um comportamento
entre as pessoas.
Não se trata
de uma virtude social.
A humildade é a experiência
de nossa própria
insuficiência diante
do infinito e perfeito
Deus. A própria palavra
“humildade”, na sua
etimologia latina
significa pó, chão,
terra. A humildade
é a própria experiência
com Deus.
Ao experimentar Deus,
nos sentimos dependentes
dele e tornamo-nos mais humildes. Nós nos esforçamos para vencer nossas limitações.
Mas isso
requer a graça e a ajuda
de Deus para que sejamos pó vivente. Portanto,
a humildade é a experiência
de si mesmo
na experiência de Deus.
Na vivência
dessa experiência, nivelaremos nossas relações com os
outros; não
nos sentiremos superiores
aos demais homens,
pois todos são humildes. A
humildade nos
leva a respeitarmos os outros, pois Deus está neles como
está em mim
também (cf. Mt 25,40.45). O nivelamento das relações
é o fruto da experiência
de nossas próprias limitações e de nossa experiência
com Deus.
Jesus veio como o Messias humilde,
simbolizado pelo uso
do jumento na sua
entrada em
Jerusalém.
No patíbulo da cruz,
a humildade divino-humana de Jesus
desmascara a escravidão culpável da arrogância. Todo o drama da redenção
é o caminho vitorioso
da humildade magnânima
de Jesus que nos
convida e nos torna
aptos para o seu seguimento.
Pela virtude
da humildade, Deus
nos incute coragem
para reconhecer a verdade que
engrandece e liberta (cf. Jo 8,32), ao mesmo tempo, que nos faz perceber que a arrogância amesquinha e degrada o ser
humano. O olhar
simples de uma fé
humilde nos
permite recordarmos a nossa criação do nada,
como pura
graça, e participar
na comunhão d’Aquele
que é a origem
de toda a vida
e de toda a felicidade.
O olhar simples
de uma fé humilde
nos permite reconhecermo-nos como pó, terra cuja salvação
depende do Criador com
a própria colaboração
humilde.
Daqui brota para nós aquela humildade
forte e corajosa
que nos
permite olharmos com serenidade para os nossos aspectos
menos claros
e para o peso
dos nossos pecados,
sem nos
esquecermos de louvar o poder
humilde, purificador
e santificador de Deus.
Ser humilde
é aceitar as próprias qualidades
e os defeitos. Ser
humilde é aceitar
os próprios limites
e respeitar os próprios
limites e, ao mesmo
tempo, aceitar
o Infinito que
está nesses limites. Quanto mais sábia for uma pessoa, tanto mais humilde será. Um
sábio tem consciência
em relação
ao que não
sabe. “Simular humildade
é a maior das soberbas”
(Santo Agostinho). Ser
humilde é ser
você mesmo com suas qualidades e seus
defeitos. O orgulhoso,
ao contrário, julga ser
o que não
é. O orgulhoso vive na ilusão em relação a si mesmo. O orgulhoso
tenta preencher
sua carência com vaidade. E
o vaidoso é alguém
inseguro, que
tem necessidade de exagerar,
de inventar histórias
para conferir consistência a seu ego. No fundo o
orgulhoso e o vaidoso
são frutos
de uma vida de angústia.
São angustiados porque
não se aceitam como
são. Não
admitem seus limites
e defeitos. Por
isso, vivem na ilusão.
E o mundo cultiva o orgulho
e por isso,
que existe um
número crescente
de angustiados.
Jesus é o Amor que se
rebaixa até nós
para nos exaltar. Esta humildade
real e divina
que habita em
Jesus nos enobrece e nos oferece a incomparável
dignidade de filhos
e de filhas de Deus. Por isso, a humildade em seu grau mais perfeito não está em ser pequeno, mas em fazer-se
pequeno para engrandecer os outros.
De fato, Deus
não é pequeno,
mas faz-se pequeno
para salvar a humanidade por amor.
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens,
em cada
coração, em
cada família,
na sua família,
e quer que
nós demos
testemunho dele com
a simplicidade do nosso
trabalho bem feito, com a nossa preocupação
pelos outros,
com nosso
respeito pelos
outros. Quer
fazer-se presente em
nós através
das circunstâncias do viver
humano vividas na simplicidade
e na humildade. Deus
criou tudo porque
ele é generoso.
E os mais humildes
costumam ser mais
generosos. E a generosidade
é uma forma de prolongar
o ato criador
de Deus que
criou tudo gratuitamente.
O homem
humilde é ateu
de si, é aquele
que não
se considera deus; a humildade é o ateísmo
de si mesmo.
Que sejamos ateus
de nós mesmos
para que Deus seja verdadeiro
Deus na nossa
vida.
HUMILDADE: Para Refletir Sobre Os Seguintes Pensamentos
de Santo
Agostinho
1.
Se tu estás preocupado com
tua própria glória,
como poderás interessar-te seriamente pelo bem dos demais?
(In ps. 37,8).
2.
Não levantarias tão orgulhosamente
a cabeça se não
a tivesses vazia (In ps. 37,8).
3.
Para tu
alcançares as alturas
necessitas de uma escada. Para
alcançares a altura
da grandeza, usa
a escada da humildade
(Serm. 96,3).
4.
Como tu
podes ser tão
orgulhoso a não
ser que
estejas vazio? Se tu
não estiveres vazio,
não poderás inflar-te” (In ps. 95,9)
5.
Simular humildade
é a maior das soberbas
(De sanc. virg. 43,44).
P. Vitus Gustama,svd
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