segunda-feira, 18 de março de 2024

20/03/2024-Quartaf Da V Semana Da Quaresma

PERMANECER NA PALAVRA DE JESUS QUE LIBERTA PARA SER SALVO DEFINITIVAMENTE

Quarta-Feira da V Semana da Quaresma

Primeira Leitura: Dn 3, 14-24.49.91-92.95

Naqueles dias, 14 o rei Nabucodonosor tomou a palavra e disse: “É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que não prestais culto a meus deuses e não adorais a estátua de ouro que mandei erguer? 15 E agora, quando ouvirdes tocar trombeta, flauta, cítara, harpa, saltério e gaitas, e toda espécie de instrumentos, estais prontos a prostrar-vos e adorar a estátua que mandei fazer? Mas, se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?” 16 Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor: “Não há necessidade de respondermos sobre isto: 17 se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei. 18 Mas, se ele não quiser libertar-nos, fica sabendo, ó rei, que não prestaremos culto a teus deuses e tampouco adoraremos a estátua de ouro que mandaste fazer”. 19 A estas palavras, Nabucodonosor encheu-se de cólera contra Sidrac, Misac e Abdênago, a ponto de se alterar a expressão do rosto; deu ordem para acender a fornalha com sete vezes mais fogo que de costume; 20 e encarregou os soldados mais fortes do exército para amarrarem Sidrac, Misac e Abdênago e os lançarem na fornalha de fogo ardente. 24 Os três jovens andavam de cá para lá no meio das chamas, entoando hinos a Deus e bendizendo ao Senhor. 49ª Mas o anjo do Senhor tinha descido simultaneamente na fornalha para junto de Azarias e seus companheiros. 91 O rei Nabucodonosor, tomado de pasmo, levantou-se apressadamente, e perguntou a seus ministros: “Porventura, não lançamos três homens bem amarrados no meio fogo?” Responderam ao rei: “É verdade, ó rei”. 92 Disse este: “Mas eu estou vendo quatro homens andando livremente no meio do fogo, sem sofrerem nenhum mal, e o aspecto do quarto homem é semelhante ao de um filho de Deus”. 95 Exclamou Nabucodonosor: “Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago que enviou seu anjo e libertou seus servos, que puseram nele sua confiança e transgrediram o decreto do rei, preferindo entregar suas vidas a servir e adorar qualquer outro Deus que não fosse o seu Deus”.

Evangelho: Jo 8, 31-42

Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.  33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?”  34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”.  39Eles responderam então: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”.  Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”.

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Na Primeira Leitura, o profeta Daniel nos conta como o Senhor envia um anjo para salvar seus servos. Os justos são aqueles que no meio do fogo de julgamentos e perseguições mantêm sua fidelidade e confiança em Deus, o que os torna livres. Os três jovens são a imagem dos fiéis que perseveram em louvor, apesar das dificuldades. Eles vivem de acordo com a verdade, e a a verdade é o próprio Deus (cf. Jo 14,6). A oração que eles recitam também tem sua mensagem. Louvamos a Deus, mas também reconhecemos que se as coisas não correm como deveriam, às vezes é nossa culpa. 

Os "três jovens" do Daniel são extraordinariamente corajosos! O rei da Babilônia ergueu um grande ídolo no meio da imensa planície. É proibido pensar diferente do rei ou do partido no poder. Aquele que se recusa a fazê-lo é enviado para o grande forno – os fornos crematórios de totalitarismo, os campos de concentração na modernidade. 

No Evangelho de hoje, Jesus afirma que "quem comete o pecado é um escravo". E também: "A verdade vos libertará". Homens livres, alegres e corajosamente livres, são apresentados a nós os "três jovens" que se recusam a submeter-se a ninguém, mas apenas a Deus que os liberta totalmente de tudo e de todos: é a salvação! A verdadeira verdade se encontra em Deus, a verdade que salva. 

Os Justos De Deus São Valentes Em Qualquer Situação de Vida

Nos tempos do rei Antíoco IV Epifânio, os judeus eram obrigados a adorar os deuses pagãos e a seguir as leis ou prescrições que Antíoco lhes dava. O rei manda erguer em sua honra uma estátua colossal de 30 metros de altura e 3 metros de largura para ser adorada por todos os povos.

Os babilônios notaram a ausência dos judeus no ato de adoração da estátua aceito por todos os povos. Foram ao rei para denunciar os judeus. Na sua presença, Nabucodonosor ordena os judeus a catarem a ordem que de outro modo serão castigados: “Se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?”. Esta frase soa nos ouvidos dos fieis judeus a blasfêmia e por isso, com toda integridade proclamam que têm fé em seu Deus que poderá livrá-los do fogo ardente: “Se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei”. Notamos nesta narração que Nabucodonosor não reconhece a superioridade do Deus dos judeus.

Os mais piedosos judeus não obedeceram à ordem do rei. Consequentemente, alguns foram torturados, inclusive os três jovens. Os “três jovens” do livro de Daniel são extraordinariamente valentes. Eles encontram o sentido de sua vida em Deus, e por isso, não aceitam a ordem para adorar os deuses pagãos, pois eles encontraram em Deus sua razão de viver.

O que quer se enfatizar na narração dos três jovens que se encontram no fogo ardente e são salvos é ressaltar a providência, proteção e a justiça divinas. Os três jovens representam os justos de Deus. Os justos são aqueles que em meio do fogo das provas e perseguições mantêm a fidelidade e a confiança em Deus, que os faz livres. Os três jovens são imagem do povo fiel que persevera na alegria apesar das dificuldades porque sabem em quem acreditam e se apoiam: em Deus.   

Nisto aprendemos que em nome de nada nem em nome de ninguém podemos abrir mão de nossos valores e de nossa fé no Deus da vida. Tem valores, que apesar dos problemas e dificuldades, dos quais não podemos abrir mão. Precisamos depositar nossa confiança em Deus em qualquer situação. Sempre há providencia divina, como o anjo que Deus mandou libertar os três jovens, seus justos. “É preciso obedecer a Deus (viver conforme os valores) antes de obedecer aos homens” (At 5,29). O Deus que libertou os três jovens do fogo de um forno, também nos libertará de qualquer sufoco. Deus nunca abandona quem Lhe é fiel. Basta crer n’Ele. É preciso crer n’Ele. Não tenha medo nem dúvida de crer n’Ele. É preciso continuar a vivermos de acordo com a bondade de Deus. “Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura” (Papa Francisco). É preciso nos manter justos, como os três jovens do livro de Daniel. 

Se soubermos em quem acreditamos e que Aquele em quem acreditamos está acima de tudo, as tribulações, as angústias, as provas perderão suas forças contra nós ou diante de nós. Deus ajuda os fiéis e lhes dá força de que necessitam na luta contra o mal. Por isso, os três irmãos são livres de tudo. Com Deus venceremos apesar das provações e de todo tipo de dificuldades. 

Permanecer Em Jesus Nos Faz Conhecer a Vontade de Deus Sobre nós 

No evangelho lido neste dia destacam-se três temas fundamentais: a fidelidade, a liberdade e a filiação. Seguir Jesus implica manter-se fiel à Sua Palavra, de modo que o verdadeiro cristão já não é somente aquele que crê, mas, sobretudo, aquele que escuta, vive e dá testemunho da Palavra. A Palavra de Deus leva o cristão a conhecer a verdade.

“Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”.  “Se permanecerdes...”. O verbo “permanecer” se encontra frequentemente no evangelho de João (especialmente no discurso da despedida) e nas cartas de Joao, especialmente na Primeira Carta de são João. A formulação em Jo 8,31-32 considera a Palavra de Jesus como o espaço vital no qual o homem deve manter-se sempre para se manter vivo diante de Deus. Por ser o espaço vital, a ligação com Jesus deve ser definitiva, pois fora d´Ele não há a verdadeira vida (cf. Jo 15,1-5). Não se deve abandonar esta ligação, pois esta ligação significa a salvação escatológica. Por isso, aqui “permanecer” tem um significado escatológico e decisivo. Quando essa ligação (permanência) é cortada (por apostasia, abandono, deserção etc.) abandona-se também o âmbito salvífico, isto é, fica fora da salvação. Este “permanecer na palavra de Jesus” é o distintivo do verdadeiro seguidor de Jesus. Para o evangelista Joao ser discípulo consiste essencialmente no fato de que o seguidor se orienta pela palavra de Jesus como única e definitiva norma. 

Quais serão as consequências dessa permanência em Jesus Cristo? “... Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Mas do que se trata desta verdade nesta afirmação? 

A verdade aqui nã é no sentido da objetividade ou exatidão, e sim a verdade ligada à Palavra de Jesus.  Para possui-la é necessário permanecer na sua Palavra. “A verdade” (Alêtheia) designa, em primeiro lugar a realidade divina enquanto se manifesta e pode ser reconhecida pelo homem. O que o homem pecebe dela é amor sem limite de Deus pela humanidade (Jo 3,16). Este amor é, portanto, a verdade de Deus.  O amor leal (Jo 1,14), que é a verdade de Deus, é a atividade vivificante (Jo 6,63), própria da vida.  A realidade divina é, portanto, vida que se define pela atividade de amor e se manifesta nela. Jesus é a verdade (Jo 14,6) em virtude de n´Ele residir plenamente  a realidade divina. Por isso, a verdade aqui não é só no sentido de um saber prático e útil, ou de um puro conhecimento intelectual da verdade, mas também de uma necessidade da máxima verdade concreta na pessoa de Jesus. Para são João a verdade é vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus. Por isso, Jesus não é somente o Mestre de uns princípios verdadeiros, nem é somente o Portador de uma verdade de revelação que pode expor-se como uma doutrina, e sim, Jesus é, pessoalmente “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Por isso, aqui se trata daquela verdade que proporciona ao homem o sentido último, a claridade suprema acerca de si mesmo que possibilita um conhecimento salvífico. E esse conhecimento leva o homem a direcionar sua maneira de viver e de conviver com os demais. Nissto tudo é importante ser verdadeiro e transparente.

Para o homem a única verdade é a plenitude de vida; trata-se de ter uma vida de qualidade humana e divina, ao mesmo tempo, que contém no projeto de Deus realizado em e por Jesus. Por isso, aqui a verdade não é somente no sentido de um saber prático e útil, ou de um puro conhecimento intelectual da verdade, mas aqui trata-se da claridade suprema daquela verdade que proporciona ao homem o sentido último sobre si mesmo que, por conseguinte, possibilita um conhecimento salvífico. E essa verdade está orientada para a ética, a vida e o amor. 

O feito dessa verdade é a liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Deus e em Jesus Cristo: “... e a verdade vos libertará”. A experiência de salvação e a experiência de libertação. Uma tal libertação é efeito imediato da experiência da verdade da fé. Por isso, não se trata de uma libertação política e social e sim de uma libertação escatológica diante do poder da morte, do pecado, das trevas cujas garras o homem sucumbe. Trata-se, por isso, da libertação do homem de si mesmo. O poder da morte em todas as suas manifestações já não pode dominar o homem que permanece em Jesus Cristo. 

A Palavra de Jesus é como um espaço vital em que o homem há de manter-se sempre. A Palavra de Jesus é como um sinal para a vida dos cristãos: o sinal único e definitivo. É a norma suprema na qual o cristão aposta sua vida e sua salvação, pois a Palavra de Deus será a última palavra para o homem.  

Para o cristão fiel Jesus promete o conhecimento da verdade e da liberdade: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.  Para João a verdade está vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus, pois ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O efeito imediato da experiência do cristão da verdade é a libertação e a liberdade.  Mas não se trata de uma libertação política ou social, mas trata-se da libertação definitiva diante das potências da morte, do pecado, das trevas às quais o homem sucumbe. Trata-se da libertação do homem de si mesmo. Esta é a liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Jesus. No fundo se identificam experiência de salvação e experiência de liberdade. Por isso, a liberdade que Jesus comunica ultrapassa a mera possibilidade de opção, mas situa o homem na sua verdadeira dignidade: o faz partícipe da liberdade do Pai.                                                                   

Jesus é perfeitamente livre, porque é perfeitamente Filho. Ama seu Pai. Fala dele sem cessar. É livre porque ama: não está apegado a si mesmo. Jesus é livre diante de sua família, dos seus discípulos, das autoridades. É livre para anunciar e denunciar. Segue seu caminho com fidelidade, com alegria, com liberdade interior. Quando estava no meio do julgamento, Jesus era muito mais livre do que o próprio Pilatos. Nada lhe detém. Não há nenhum egoísmo, nenhum obstáculo ao amor. Isto significa que o amor de Deus vivido profundamente faz o cristão livre de tudo, como Jesus Cristo. É o único meio de não estar submetido a nada. Ser livres significa ser filhos, não escravos, na família de Deus. Para João, pecar é converter-se em escravo: ter por pai o “pai da mentira”. Jesus é a Verdade (Jo 14,6), e por isso, só ele pode dar a verdadeira liberdade. 

Celebrar a Páscoa é celebrar a liberdade dada pelo Senhor ressuscitado. A Páscoa de Jesus quer ser para nós um crescimento na liberdade interior, pois a Páscoa é a festa da libertação, a festa do êxodo. Em meio de um mundo que nos oferece muitos “valores”, mas também nos tenta com contra-valores que nos levam irremediavelmente à escravidão, Jesus nos convida a sermos livres. Para viver em Deus, como filhos e filhas, não basta querer, pedir e buscar liberdade econômica, política, cultural, religiosa; é indispensável a libertação do pecado. É preciso parar de fazer o outro sofrer e a si mesmo. É preciso saber se cuidar para poder cuidar dos demais. “Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!” (Papa Francisco).  

Reflitamos:

Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor” (Papa Francisco).

P. Vitus Gustama,svd

domingo, 17 de março de 2024

Solenidade de São José, Esposo Da Virgem Maria, 19 de Março

SÃO JOSÉ, ESPOSO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA,

PADROEIRO DA IGREJA UNIVERSAL

19 de Março

Primeira Leitura: 2Sm 7,4-5a.12-14a.16

Naqueles dias, 4a Palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: 5a“Vai dizer ao meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: 12 Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. 13 Será ele que construirá uma casa para o meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real. 14ª Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16 Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre’”.

Segunda Leitura: Rm 4,13.16-18.22

Irmãos, 13 não foi por causa da Lei, mas por causa da justiça que vem da fé que Deus prometeu o mundo como herança a Abraão ou à sua descendência. 16 É em virtude da fé que alguém se torna herdeiro. Logo, a condição de herdeiro é uma graça, um dom gratuito, e a promessa de Deus continua valendo para toda a descendência de Abraão, tanto para a descendência que se apega à Lei, quanto para a que se apoia somente na fé de Abra­ão, que é o pai de todos nós. 17 Pois está escrito: “Eu fiz de ti pai de muitos povos”. Ele é pai diante de Deus, porque creu em Deus que vivifica os mortos e faz existir o que antes não existia. 18 Contra toda a humana esperança, ele firmou-se na esperança e na fé. Assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: “Assim será a tua prosperidade”. 22 Esta sua atitude de fé lhe foi creditada como justiça.

Evangelho: Mt 1,16.18-21.24a

16 Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. 18 A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo. 20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 24ª Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.

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José É Um Homem Que Sabe Escutar Deus e Ler Os Sinais De Deus

Sabe-se muito pouco da vida de José, esposo de Maria. Mas inquestionavelmente, ele pertence à “casa e família de Davi” (Lc 2,4), à linhagem do Messias (2Sm 7,12.16).  O silêncio de José fala de sua profunda interioridade e de sua intimidade com o mistério, e como consequência, de sua sabedoria de discernir os sinais dos tempos e acaba sendo colaborador de Deus na obra da redenção da humanidade. Neste espaço silencioso criado por José, Deus tem oportunidade para falar com ele. José fala pouco, mas escuta muito. Nisto consiste a compreensão do mistério, embora, intelectualmente, José não entenda. O silêncio de José nos mostra que ele está atento às manifestações ou sinais de Deus no seu cotidiano, pois precisamente Deus fala no nosso cotidiano e através do nosso dia-a-dia.  José é alguém que sabe escutar a voz que vem do profundo do seu ser e a voz que vem do mistério. O silêncio de José é reflexão. Diante do mistério da Encarnação de Deus, José se cala. O seu silêncio permite a presença da eternidade, permite que o Céu fale para ele. Por isso é que ele reconhece naquele Menino Jesus o Salvador do mundo.

A partir de então, José não é apenas esposo de Maria, mas o servo do Senhor que está pronto para exercer ou executar o que o Senhor lhe manda. Precisamente, a grandeza de José está em discernir sua missão a partir de uma profunda consciência de ser servo do Senhor e de ser pai adotivo para o menino Jesus, pois Jesus é o Filho de Deus.

Creio que não estamos habituados a refletir e sim a reagir. Por isso, em muitas coisas somos muito precipitados e acabamos cometendo muitos erros. A precipitação nos abre espaço para cairmos com facilidade de um erro atrás de outros erros. São José vem nos ensinar que precisamos escutar mais para compreender melhor, e falar menos. 

A Primeira Leitura nos fala, com acentos históricos e teológicos, da descendência de Davi, que reinará para sempre. Seguramente, a profecia de Natan alude a Salomão, filho de Davi, e construtor do Templo. No entanto, as palavras “confirmarei/consolidarei a sua realeza/reino” (2Sm 7,12) indicam uma larga descendência sobre o trono de Judá. Esta descendência teve um final histórico e por isso, o oráculo é interpretado com força profética, e alude ao Messias, descendente de Davi. A tradição cristã releu sempre este fragmento como profético e messiânico, aplicando-o a Jesus, Messias descendente de Davi e de modo indireto, também a José, o último nome da genealogia davídica e transmissor histórico da promessa divina feita a Israel.

José: Um Homem Justo

“José, seu marido, era justo...”

O justo, biblicamente, significa aquele que é fiel aos mandamentos de Deus; aquele que tem fé nos anúncios dos profetas e espera com paciência seu cumprimento, pois Deus é fiel às suas promessas. Nada desvia José do caminho traçado por Deus. Embora passe por situações bastante dolorosas, José continua sendo firme como a rocha e sempre conta com a ajuda de Deus. É justo o homem que olha para Deus e ordena a sua vida segundo os ditames da vontade divina. É justo o homem que cumpre a Lei divina de todo coração e com sincera alegria e leveza. O justo é o homem sábio e bondoso. O justo é, portanto, uma figura ideal do homem agradável a Deus e aos homens de boa vontade. Será que estou dentro deste critério?

José: Um Homem Que É Chamado A Entrar No “Sonho” De Deus         

“Sonho” é um estado no qual a nossa atividade pessoal se detém ou pelo menos, está fortemente diminuída. No sonho não temos mais controle sobre a nossa vida e atividade. É um estado de profunda tranquilidade, de profunda serenidade, ou podemos dizer, de profundo êxtase. Certamente, quando nos calarmos, Deus começará a falar para nós (cf.1Rs 19,1-18). Enquanto não ficarmos calados, Deus não terá chance para falar conosco e de nós. Deus pode muito mais facilmente irromper na nossa vida, quando soubermos nos calar.          

José sabe criar o silêncio dentro de si para escutar melhor o que Deus quer dele numa situação complicada humanamente. Se dependesse de sua vontade, José abandonaria Maria e o Salvador no ventre de Maria: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo”. Mas José acredita muito mais na vontade de Deus do que na sua própria vontade. Por causa da sua fidelidade à vontade de Deus, ele deixa de lado os planos de raciocínios meramente humanos. José deixa de se preocupar consigo próprio para seguir a vontade de Deus. Ele cria um espaço interior para ouvir a voz de Deus. Ele deixa ser convidado a entrar no “sonho” de Deus. O “sonho” de Deus é salvar a humanidade, mas com a participação do próprio ser humano.

"Mediante o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generoso para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe ‘dom esponsal de si’. Muito embora decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava a realizar-se, por ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a sua condição de pertencer exclusivamente a Deus(João Paulo II: REDEMPTORIS CUSTOS no. 20b). 

É tocante a docilidade de José diante da vontade de Deus que ele nem pede nenhuma explicação de Deus, como Maria (Lc 1,34), nem diz uma única palavra. Simplesmente ele faz seus os desígnios de Deus. Por isso, na perspectiva de sua fé que o anima, a estrutura humana de José se torna gigantesca. Ele é realmente um homem-sinal e homem-missão que se expressa no respeito pelo mistério de Deus operado em Maria e na vocação de ser o pai legal de Jesus. 

Da mesma forma, somos todos convidados, a exemplo de José, a participar no “sonho” de Deus. É bom sonharmos com Deus para que todos sejam salvos. 

José E Maria, Duas Pessoas Totalmente Dominadas Pela Luz De Deus e Obedientes à vontade de Deus 

Não dá para falar de São José sem falar de Maria. Porque a existência de Maria ilumina a existência de José. E os dois são pessoas totalmente dominadas pela luz divina e obedientes à Palavra de Deus. Por isso, são José é chamado de o homem justo, isto é, aquele que vive totalmente de acordo com os mandamentos de Deus; é aquele se deixa guiar pela luz da Palavra de Deus. 

Maria, mesmo antes de se casar com José, é uma jovem totalmente dominada pela graça de Deus. Por estar totalmente plenificada pela luz da graça de Deus, o Anjo do Senhor a chama de “cheia de graça”. Trata-se de uma jovem que se deixa conduzir totalmente pela graça de Deus.

Não é por acaso que, pela benevolência de Deus, o ventre da jovem Maria se torna o ninho do Salvador. E só pode ser José, o homem justo pode se tornar pai adotivo de Jesus. Somente dentro de uma família em que Maria como esposa cheia da graça e José, como esposo justo que vive de acordo com os mandamentos do Senhor é que o menino Jesus cresce em sabedoria e a graça diante dos homens e diante de Deus (cf. Lc 2,52). 

Se quisermos encontrar uma jovem exemplar para ser espelhada pela juventude na preparação para formar uma família ou para seguir outra vocação, encontramos este exemplo em jovem Maria. Se quisermos encontrar um jovem para ser um futuro pai justo, encontramos em José como modelo. O casamento de duas pessoas de Deus: uma é cheia de graça e o outro vive de acordo com a Palavra de Deus, só pode sair uma geração cheia de sabedoria e da graça como Jesus. 

Creio que, por tudo isso, não tem como não pedirmos a intercessão tanto do homem justo, José, como da jovem Maria, cheia de graça pela nossa juventude. A juventude, como todos nós, precisa olhar para José e Maria para que nossa família, nossos jovens, deixando-se guiar pela Palavra de Deus, possam crescer na sabedoria e na graça diante de Deus e diante dos homens. Somente assim seremos luzes para as pessoas ao redor. 

Papa Francisco Sobre São José Na Carta Apostólica PATRIS CORDE 

1. Pai Amado

A grandeza de São José consiste no facto de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, afirma São João Crisóstomo, «colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico». 

2. Pai Na Ternura

Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4). Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem» (Sl 103, 13).

3. Pai Na Obediência

De forma análoga a quanto fez Deus com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a José os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade. 

Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat», como Maria na Anunciação e Jesus no Getsêmani. Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12). 

Vê-se, a partir de todas estas vicissitudes, que «José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação». 

4. Pai No Acolhimento

José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento». 

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro. Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). 

5. Pai Com Coragem Criativa

Se a primeira etapa de toda a verdadeira cura interior é acolher a própria história, ou seja, dar espaço no nosso íntimo até mesmo àquilo que não escolhemos na nossa vida, convém acrescentar outra caraterística importante: a coragem criativa. Esta vem ao de cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter.

José é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo (cf. Lc 2, 6-7). Face ao perigo iminente de Herodes, que quer matar o Menino, de novo em sonhos José é alertado para O defender e, no coração da noite, organiza a fuga para o Egito (cf. Mt 2, 13-14). 

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria que encontra em José aquele que não só Lhe quer salvar a vida, mas sempre A sustentará a Ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria. José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe. 

6. Pai Trabalhador

Um aspeto que caracteriza São José é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento? 

A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo, que é económica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho! 

7. Pai Na Sombra

O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai, narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele. Lembra o que Moisés dizia a Israel: «Neste deserto (…) vistes o Senhor, vosso Deus, conduzir-vos como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizeste até chegar a este lugar» (Dt 1, 31). Assim José exerceu a paternidade durante toda a sua vida. 

Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito. 

Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja por isso que a tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou também o de «castíssimo». Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir, acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida. 

Maria e José: Duas Pessoas Que Se Deixam Guiar Pela Palavra De Deus 

Não dá para falar de São José sem falar de Maria. Porque a existência de Maria ilumina a existência de José. E os dois são pessoas totalmente dominadas pela luz divina e se deixam guiar pela Palavra de Deus. Por isso, são José é chamado de o homem justo, isto é, aquele que vive totalmente de acordo com os mandamentos de Deus; é aquele se deixa guiar pela luz da Palavra de Deus. 

Maria, mesmo antes de se casar com José, é uma jovem totalmente dominada e guiada pela graça de Deus. Por Maria estar totalmente plenificada pela luz da graça de Deus, o Anjo do Senhor a chama de “cheia de graça”. Trata-se de uma jovem que se deixa conduzir totalmente pela Palavra de Deus. Não é por acaso que, pela benevolência de Deus, o ventre da jovem Maria se torna o ninho do Salvador. 

E só pode ser José, o homem justo, é que pode se tornar pai adotivo de Jesus. Somente dentro de uma família em que Maria como esposa cheia da graça e José, como esposo justo que vive de acordo com os mandamentos do Senhor é que o menino Jesus cresce em sabedoria e a graça diante dos homens e diante de Deus (cf. Lc 2,52). 

Se quisermos encontrar uma jovem exemplar para ser espelhada pela juventude na preparação para formar uma família ou para seguir outra vocação, encontramos este exemplo em jovem Maria. Se quisermos encontrar um jovem para ser um futuro pai justo, encontramos em José. O casamento de duas pessoas de Deus: uma é cheia de graça e o outro vive de açodo com a Palavra de Deus, só pode ter como resultado uma geração cheia de sabedoria e da graça como Jesus. 

O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação.” (PAPA BENTO XVI: Durante ANGELUS no III Domingo da Quaresma, 19 de Março de 2006)

Neste dia em que celebramos a sua solenidade, São José vem questionar nossa pouca fé, nossa infidelidade à vontade de Deus, nosso ceticismo em relação ao poder de Deus, nossas rebeldias contra Deus. São José vem sussurrar no nosso interior: “Confie em Deus, pois ele é fiel às suas promessas!”.  As almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino vêem em José um exemplo luminoso de vida interior. Mais ainda, a aparente tensão entre a vida ativa e a vida contemplativa tem em José uma superação ideal, possível para quem possui a perfeição da caridade.” (João Paulo II: REDEMPTORIS CUSTOS no. 27). 

São José e Quaresma 

O pai adotivo de Jesus tem uma estreita ligação com a Quaresma. Esta ligação se explica como caminho preparatório ao Mistério central da Redenção: a Paixão, Morte Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas tal tipo de Redenção foi possível porque o Filho de Deus é verdadeiramente homem. como todo homem tem umas raízes, um povo, uma história: o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai (Primeira Leitura). Sem raízes, sem estirpe, Jesus seria um estranho. É este o grande serviço que são José presta a partir de sua fé para a obra da Redenção.

A Quaresma é um caminho de iluminação progressiva na fé. É voltar a aprendermos a ver as pessoas, as coisas e os acontecimentos como os olhos com que Deus os vê. E nisto, temos em são José um verdadeiro Patriarca na linha da fé dos grandes personagens do Antigo Testamento. E no Novo Testamento, depois de Maria, e junto com Ela, rompe o caminho da fé para toda a Igreja: Apoiado na esperança, ele creu contra toda a esperança (Segunda Leitura). Ele fez o que o anjo do Senhor havia ordenado (Evangelho). 

Também a Quaresma vai restaurar a comunhão com a Igreja, que o pecado rompeu, ou, ao menos relaxou ou corrompeu. Isso supõe voltar a viver a Igreja como conservadora (aquela que conserva, protege, cuida) e transmissora do mistério de Cristo para a salvação do mundo. Para esta dimensão faz referência a oração da coleta recordando a estreita vinculação de São José com a Igreja, já que a sua fiel custódia foram confiados por Deus os primeiros mistérios da salvação dos homens: “Deus todo-poderoso, pelas preces de são José, a QUEM CONFIASTES AS PRIMÍCIAS da Igreja, concedei que ela possa levar à plenitude os mistérios da salvação”.

A condição especial da paternidade de José em relação a Jesus não deve nos levar a pensar que ele não se exercitou como pai humano de Jesus, contribuindo para seu crescimento corporal e espiritual o próprio de um bom pai. Precisamente isso fazia parte de seu serviço ao Filho de Deus feito homem. Se a Quaresma está especialmente relacionada à educação na fé, como tempo catecumenal, a figura de São José é um chamado para os pais cristãos se exercitarem como tais, sendo os primeiros educadores da fé de seus filhos.

P. Vitus Gustama,svd

sábado, 16 de março de 2024

18/03/2024-Segundaf. Da V Semana Da Quaresma

MISERICÓRDIA DIVINA DIANTE DA MISÉRIA HUMANA

Segunda-Feira Da V Semana Da Quaresma 

I Leitura: Dn 13,1-9. 15-17.19-30.33-62 (ou Dn 13,41c-62)

Naqueles dias: 1Na Babilônia vivia um homem chamado Joaquim. 2Estava casado com uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, que era muito bonita e temente a Deus. 3Também os pais dela eram pessoas justas e tinham educado a filha de acordo com a lei de Moisés. 4Joaquim era muito rico e possuía um pomar junto à sua casa. Muitos judeus costumavam visitá-lo, pois era o mais respeitado de todos. 5Ora, naquele ano, tinham sido nomeados juízes dois anciãos do povo, a respeito dos quais o Senhor havia dito: 'Da Babilônia brotou a maldade de anciãos-juízes, que passavam por condutores do povo.' 6Eles frequentavam a casa de Joaquim, e todos os que tinham alguma questão se dirigiam a eles. 7Ora, pelo meio-dia, quando o povo se dispersava, Susana costumava entrar e passear no pomar de seu marido. 8Os dois anciãos viam-na todos os dias entrar e passear, e acabaram por se apaixonar por ela. 9Ficaram desnorteados, a ponto de desviarem os olhos para não olharem para o céu, e se esqueceram dos seus justos julgamentos. 15Assim, enquanto os dois estavam à espera de uma ocasião favorável, certo dia, Susana entrou no pomar como de costume, acompanhada apenas por duas empregadas. E sentiu vontade de tomar banho, por causa do calor. 16Não havia ali ninguém, exceto os dois velhos que estavam escondidos, e a espreitavam. 17Então ela disse às empregadas: 'Por favor, ide buscar-me óleo e perfumes e trancai as portas do pomar, para que eu possa tomar banho'. 19Apenas as empregadas tinham saído, os dois velhos levantaram-se e correram para Susana, dizendo: 20'Olha, as portas do pomar estão trancadas e ninguém nos está vendo. Estamos apaixonados por ti: concorda conosco e entrega-te a nós! 21Caso contrário, deporemos contra ti, que um moço esteve aqui, e que foi por isso que mandaste embora as empregadas'. 22Gemeu Susana, dizendo: 'Estou cercada de todos os lados! Se eu fizer isto, espera-me a morte; e, se não o fizer, também não escaparei das vossas mãos; 23mas é melhor para mim, não o fazendo, cair nas vossas mãos do que pecar diante do Senhor!' 24Então ela pôs-se a gritar em alta voz, mas também os dois velhos gritaram contra ela. 25Um deles correu para as portas do pomar e as abriu. 26As pessoas da casa ouviram a gritaria no pomar e precipitaram-se pela porta do fundo, para ver o que estava acontecendo, 27Quando os velhos apresentaram sua versão dos fatos, os empregados ficaram muito constrangidos, porque jamais se dissera coisa semelhante a respeito de Susana. 28No dia seguinte, o povo veio reunir-se em casa de Joaquim, seu marido. Os dois anciãos vieram também, com a intenção criminosa de conseguir sua condenação à morte. Por isso, assim falaram ao povo reunido: 29'Mandai chamar Susana, filha de Helcias, mulher de Joaquim'! E foram chamá-la. 30Ela compareceu em companhia dos pais, dos filhos e de todos os seus parentes. 33Os que estavam com ela e todos os que a viam, choravam. 34Os dois velhos levantaram-se no meio do povo e puseram as mãos sobre a cabeça de Susana. 35Ela, entre lágrimas, olhou para o céu, pois seu coração tinha confiança no Senhor. 36Entretanto, os dois anciãos deram este depoimento: 'Enquanto estávamos passeando a sós no pomar, esta mulher entrou com duas empregadas. Depois, fechou as portas do pomar e mandou as servas embora. 37Então, veio ter com ela um moço que estava escondido, e com ela se deitou. 38Nós, que estávamos num canto do pomar, vimos esta infâmia. Corremos para eles e os surpreendemos juntos. 39Quanto ao jovem, não conseguimos agarrá-lo, porque era mais forte do que nós e, abrindo as portas, fugiu. 40A ela, porém, agarramos, e perguntamos quem era aquele moço. Ela, porém, não quis dizer. Disto nós somos testemunhas'. 41A assembleia acreditou neles, pois eram anciãos do povo e juízes. E condenaram Susana à morte. 42Susana, porém, chorando, disse em voz alta: 'Ó Deus eterno, que conheces as coisas escondidas e sabes tudo de antemão, antes que aconteça! 43Tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim! Estou condenada a morrer, quando nada fiz do que estes maldosamente inventaram a meu respeito!' 44O Senhor escutou sua voz. 45Enquanto a levavam para a execução, Deus excitou o santo espírito de um adolescente, de nome Daniel. 46E ele clamou em alta voz: 'Sou inocente do sangue desta mulher!' 47Todo o povo então voltou-se para ele e perguntou: 'Que palavra é esta, que acabas de dizer?' 48De pé, no meio deles, Daniel respondeu: 'Sois tão insensatos, filhos de Israel? Sem julgamento e sem conhecimento da causa verdadeira, vós condenais uma filha de Israel? 49Voltai a repetir o julgamento, pois é falso o testemunho que levantaram contra ela!' 50Todo o povo voltou apressadamente, e outros anciãos disseram ao jovem: 'Senta-te no meio de nós e dá-nos o teu parecer, pois Deus te deu a honra da velhice.' 51Falou então Daniel: 'Mantende os dois separados, longe um do outro, e eu os julgarei.' 52Tendo sido separados, Daniel chamou um deles e lhe disse: 'Velho encarquilhado no mal! Agora aparecem os pecados que estavas habituado a praticar. 53Fazias julgamentos injustos, condenando inocentes e absolvendo culpados, quando o Senhor ordena: 'Tu não farás morrer o inocente e o justo!' 54Pois bem, se é que viste, dize-me à sombra de que árvore os viste abraçados?'  Ele respondeu: 'É sombra de uma aroeira.' 55Daniel replicou 'Mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus, tendo recebido já a sentença divina, vai rachar-te pelo meio!' 56Mandando sair este, ordenou que trouxessem o outro: 'Raça de Canaã, e não de Judá, a beleza fascinou-te e a paixão perverteu o teu coração. 57Era assim que procedíeis com as filhas de Israel, e elas por medo sujeitavam-se a vós. Mas uma filha de Judá não se submeteu a essa iniquidade. 58Agora, pois, dize-me debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?' Ele respondeu: 'Debaixo de uma azinheira.' 59Daniel retrucou: 'Também tu mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus já está à espera, com a espada na mão, para cortar-te ao meio e para te exterminar!' 60Toda a assistência pôs-se a gritar com força, bendizendo a Deus, que salva os que nele esperam. 61E voltaram-se contra os dois velhos, pois Daniel os tinha convencido, por suas próprias palavras, de que eram falsas testemunhas. E, agindo segundo a lei de Moisés, fizeram com eles aquilo que haviam tramado perversamente contra o próximo. 62E assim os mataram, enquanto, naquele dia, era salva uma vida inocente.

Evangelho: Jo 8,1-11 (para o Ano “A” e “B”)

Naquele tempo, 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Levando-a para o meio deles, 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio, em pé. 10Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

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As duas leituras de hoje nos apresentam um paralelismo. Trata-se de um juízo contra duas pessoas, isto é, contra duas mulheres: uma inocente (Suzana), e outra pecadora, adúltera (sem nome). No evangelho de hoje Jesus salva uma mulher adúltera dos que a acusavam e queriam sua morte. O relato de Daniel, na primeira leitura, nos apresenta uma situação semelhante em que Daniel salvou não uma adúltera e sim uma mulher inocente, Suzana. As duas cenas têm muito em comum e nos ajudam a prepararmos a celebração da Páscoa que está próxima com o juízo misericordioso de Deus sobre nosso pecado. Somente Deus pode nos julgar retamente, pois Ele julga segundo o coração e não conforme as aparências. Deus sempre vê muito mais o nosso coração do que nossa aparência. Por isso, Deus, na sua infinita sabedoria, jamais erra no seu juízo.

O mal não tem rosto, porque ele pode tomar o ser de qualquer um de nós. Ninguém está isento da possibilidade do mal. O mal é tudo que serve à morte; tudo que sufoca a vida, estreita-a, e corta-a em pedaços. O pecado faz com que os homens se comportem como insensatos ou imprudentes e escravos do próprio pecado. Quem é escravo é porque não tem mais a liberdade. Por isso, a realidade do mal exige vigilância.

“As principais ameaças à nossa sobrevivência já não vêm da natureza externa e sim de nossa natureza humana interna. São nossas hostilidades, nosso descaso, o egoísmo, o orgulho/a arrogância, prepotência e a ignorância deliberada que põem o mundo em perigo. Se não conseguirmos domar e transmutar o potencial da alma humana para o mal, nós estaremos perdidos e faremos perdida até nossa própria família”.

Por isso, São Paulo nos escreveu aos Gálatas: “Ora, as obras da carne são manifestas: formicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas (disputa/briga), ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias, e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus” (Gl 5,19-21).

Deus Sempre Está Do Lado Do Inocente

Na Babilônia vivia um homem chamado Joaquim. Estava casado com uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, que era muito bonita e temente a Deus. Também os pais dela eram pessoas justas e tinham educado a filha de acordo com a lei de Moisés”. Assim lemos na Primeira Leitura.

A Primeira Leitura é tirada do Livro de Daniel capitulo 13. Dn 13-14 pertence à parte deuterocanônica do livro e só se encontra na versão grega.

Os principais personagens no texto da Primeira Leitura de hoje são Susana que só aparece aqui no AT e dois anciãos. “Susana” significa “lírio” que é muito em consonância com sua pura conduta. Uma pessoa pura, como Susana, é uma pessoa absolutamente honesta e decente. Quem é puro é limpo de todas as manchas de sujeira interna e externa. Uma pessoa pura é aquela que é totalmente ela mesma, que é livre de todas as contaminações, de tudo que é artificial. Todas estas qualidades descrevem bem quem é Susana: uma pessoa pura.

O autor do livro de Daniel, ironicamente, destaca o contraste entre a má conduta dos anciãos que deveriam dar exemplo de virtude por sua idade e sua qualidade de juízes, e a virtude heroica da bela Susana que não aceitou a vergonhosa proposta dos dois anciãos para fazer uma relação íntima com ela. Susana sabia que se ela aceitasse a proposta vergonhosa dos dois anciãos, ela seria condenada à morte (cf. Lv 20,10; Dt 22,21-22; Jo 8,4-5).  Quando Susana não aceitou a proposta vergonhosa deles, os dois anciãos denunciaram Susana falsamente.

Susana era conhecida por sua honestidade. Ela representa a alma pura, a fidelidade a Deus. Deus nunca deixa o inocente lutar sozinho. Por isso, no fim a inocência vencerá diante da mentira e da falsidade. Deus permite a prova e as provações para o justo até ao extremo que, às vezes, tem-se impressão de que Deus se esqueça do justo. Mas o bem sempre triunfa. De fato, Susana saiu vitoriosa pela sua inocência e os falsos anciãos são condenados pela sua mentira.

Da história de Susana aprendemos que por mais que os outros falem das calúnias contra você, é preciso prosseguir confiando no Bem Maior, Deus cuja palavra final será um julgamento para todos. Por mais que os odiosos lhe demonstrem rancores, prossiga perdoando, pois o perdão é a expressão máxima do amor divino. Por mais que lhe ameacem os aparentes fracassos, prossiga apostando na vitória final de Deus. Por mais que os outros tentem destruí-lo, prossiga na construção da humanidade mais humana e fraterna, pois pertencemos à família do Papai do céu. Por mais que os outros lhe demonstrem a arrogância, prossiga com sua humildade para se manter na simplicidade e na pureza. “A humildade é a única base sólida de todas as virtudes” (Confúcio). E “Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza” (Rabindranath Tagore).

Misericórdia Divina Diante Da Miséria Humana

No texto do evangelho de hoje os escribas e os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher que havia sido apanhada cometendo adultério. Eles a colocaram no meio e disseram: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na sua lei, manda apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”.

É surpreendente que não se fale do “parceiro” deste ato de adultério (porque é difícil cometer adultério sozinho). Por que o “parceiro” também não foi agarrado? É a história de sempre: a agressividade, a violência, as paixões sempre se descarregam sobre os mais fracos: os mais fortes sempre conseguem se safar ou se escapar por causa do poder social, cultural, político ou econômico. Os fracos sempre são vítimas porque eles não têm recursos em todos os sentidos. O único recurso dos fracos é o próprio Deus.

Diante da pressão da multidão, especialmente dos escribas e fariseus Jesus fica calado. Se Deus parece calar-se, acontece isso porque já nos disse tudo: não tem mais nada a acrescentar. Deus só deseja que escutemos com maior atenção a palavra que nunca chegamos a compreender perfeitamente. A Palavra de Deus não se gasta e é perpétua.  Se soubermos escutar atentamente a Palavra de Deus, jamais nos precipitaremos em nada. No ritmo acelerado de nossa sociedade habituamo-nos a um gasto colossal de palavras. Vivemos numa sociedade cada vez mais reacionária diante de tudo do que numa sociedade refletiva em que tudo precisa ser analisado calmamente. Estamos cada vez mais distante do valor de um silencia para escutar a ressonância de nossas palavras e atos. Quem é incapaz de entender o silêncio de um amigo, também nunca há de compreender suas palavras.

Por causa de tanta pressão da multidão Jesus abandona o silêncio para pronunciar a seguinte frase: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire-lhe a primeira pedra”. O efeito destas palavras é marcante. Ao ouvirem isso, todos foram-se embora um após outro, a começar pelos mais velhos. Eles são acusados por sua própria consciência. O detalhe “a começar pelos mais velhos” poderia referir-se à sua mais ampla experiência da fraqueza humana. Quanto mais vivemos, mais possibilidades nós teremos para cometer erros na vida.

A palavra de Jesus inibiu esses homens de cometer um ato de violência, e eles renunciam livremente. O fato de eles irem embora já uma confissão implícita de seu pecado. Concretamente podemos dizer que Jesus é situado duplamente: em relação aos fariseus, a cilada é desfeita e em relação à mulher adúltera, a absolvição foi feita. Diante do pecado que é mais pesado que as pedras em que eles estão pegando, Jesus, vindo de fora, está só, enquanto a mulher está diante dele.

A cena do evangelho de hoje tem sua “ironia” divina. Aquele que é sem pecado (Is 8,46), Aquele que é a santidade participada sem limite e eternamente do Pai encontra-se com a pecadora numa atitude de perdão, de acolhimento. Aqueles, que vinham eles mesmos carregados de pecados, querem a condenação, sendo frustrados precisamente pelo choque com a inocência de Jesus, que os desafia. O rigor de nosso julgamento sobre o nosso próximo mostra que desconhecemos a nossa própria fragilidade e os nossos defeitos e a nossa condição de pecadores diante de Deus. Certas atitudes de rigor em relação ao irmão dificilmente conseguem encobrir alguma fraqueza ou miséria própria não aceita, não confessada. Aí está Jesus escrevendo no chão, seja revelando a cada um sua miséria, seja simplesmente desconversando uma acusação vinda de más intenções.     

Também não te condeno. Vai em paz e de agora em diante não peques mais!”, disse Jesus à mulher pecadora. Trata-se, na verdade, de uma palavra poderosa de pleno perdão do pecado. Estas palavras finais de Jesus são dirigidas à mulher e aos pretensos juízes. Jesus fica ali para receber novamente a todos. Jesus não quer condenar, mas libertar. Com sua decisão, Jesus restitui a vida à mulher, dando-lhe uma nova coragem para viver, uma nova oportunidade para recomeçar. O que importa de verdade para a mulher é este novo começo.

Todos nós necessitamos que alguém nos diga: “Eu também não te condena: vai, e doravante não peques mais!” Tal é a palavra criadora de Jesus. Jesus nos torna capazes de aceitar nosso pecado para que iniciemos juntos uma existência reconciliada.

Há duas classes de homens: Uns, pecadores que se julgam justos e os outros, justos que se creem pecadores. Em que grupo você está? A raiz do mal e da injustiça está dentro de cada um de nós; dentro de mim.  Se não reconheço isto, nada melhorará dentro e fora de mim. 

O texto permanece aberto, sem nada dizer sobre o que aconteceu depois com a mulher, como na parábola do filho pródigo/pai misericordioso, nada é dito sobre a decisão final do filho mais velho (Lc 15,32). O leitor é igualmente convidado a perder seu medo, a não se fechar em seu passado, às vezes um outro círculo mortal, e a andar na liberdade dos filhos de Deus (leia consecutivamente Sl 103,10-14 e Sl 32,1.13).

P. Vitus Gustama,svd

20/03/2024-Quartaf Da V Semana Da Quaresma

PERMANECER NA PALAVRA DE JESUS QUE LIBERTA PARA SER SALVO DEFINITIVAMENTE Quarta-Feira da V Semana da Quaresma Primeira Leitura: Dn 3,...