sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quarta-feira Após Epifania,05/01/2022

AMOR E SE COMPENETRAM  E SE FORTALECEM EM QUALQUER SITUAÇÃO

Quarta-Feira Após A Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 4,11-18

11 Caríssimos: se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. 12 Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós. 13 A prova de que permanecemos com ele, e ele conosco, é que ele nos deu o seu Espírito. 14 E nós vimos e damos testemunho, que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. 15 Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece com ele, e ele com Deus. 16 E nós conhecemos o amor que Deus tem para conosco, e acreditamos nele. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece com Deus, e Deus permanece com ele. 17 Nisto se realiza plenamente o seu amor para conosco: em nós termos plena confiança no dia do julgamento, porque, tal como Jesus, nós somos neste mundo. 18 No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor. 

Evangelho: Mc 6,45-52

Depois de saciar os cinco mil homens, 45 Jesus obrigou os discípulos a entrarem na barca e irem na frente para Betsaida, na outra margem, enquanto ele despedia a multidão. 46 Logo depois de se despedir deles, subiu ao monte para rezar. 47 Ao anoitecer, a barca estava no meio do mar e Jesus sozinho em terra. 48 Ele viu os discípulos cansados de remar, porque o vento era contrário. Então, pelas três da madrugada, Jesus foi até eles andando sobre as águas, e queria passar na frente deles. 49 Quando os discípulos o viram andando sobre o mar, pensaram que era um fantasma e começaram a gritar. 50 Com efeito, todos o tinham visto e ficaram assustados. Mas Jesus logo falou: “Coragem, sou eu! Não tenhais medo!” 51 Então subiu com eles na barca, e o vento cessou. Mas os discípulos ficaram ainda mais espantados, 52 porque não tinham compreendido nada a respeito dos pães. O coração deles estava endurecido.

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Fé e Amor São Critérios De Nossa Comunhão Com Deus 

Depois que o autor da Primeira Carta de João nos mostrou Deus como fonte do amor (1Jo 4,7-10: Primeira Leitura do dia anterior), hoje, através da Primeira Leitura, ele insiste nos sinais da comunhão que mostram nossa comunhão com Deus.

Para o autor estes sinais são a caridade (1Jo 4,12) e a confissão de fé (1Jo 4,15). Fé e amor são critérios de nossa comunhão com Deus. São sinais de que permanecemos em Deus (tema da morada em 1Jo 4,12.15). Segundo o autor desta Carta, as duas virtudes se interpenetram e se sustentam mutuamente na pessoa do cristão. Quem crê verdadeiramente (em Deus), ama. Toda decisão de fé implica o amor, pois envolve uma conversão que é dom de si mesmo (Cf. Jo 15,13).

Estes dois sinais nos mostram que a vida cristã possui uma dupla dimensão: vertical (fé no Deus de amor) e horizontal (amor fraterno). A primeira (Fé) nos faz tomarmos consciência de que Deus é amor (1Jo 4,8.16); de que Deus nos amou “loucamente” a ponto de nos enviar seu Filho (1Jo 4,14); de que deseja estabelecer sua morada em nós (1Jo 4,15-16; Cf. Jo 1,14). Isto significa que não somente acreditamos em Deus e sim em Deus que é amor (1Jo 4,8.16). E esta fé nos impele a amarmos o próximo como nossos irmãos tal como somos amados por Deus: “Se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós”.

E o autor acrescenta que quem vive o amor fraterno não tem que ter medo do julgamento final, pois ele vive pelo amor na comunhão com o Pai e o Filho: “No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor”. A profundidade ou a densidade das palavras de João hoje tocam um ponto importante no qual pode ser bom que fixemos nossa atenção: nos referimos à relação entre o amor e o temor. Poderia ser posta esta afirmação em relação àquele outro princípio bíblico clássico: O início da sabedoria é o temor do Senhor (Pro 9,10). O temor de Deus foi um princípio tradicional da espiritualidade. O amor faz que em nossa vida já não exista o temor ou a desconfiança. Se vivermos no amor que nos comunica Deus, já não teremos medo para o dia de juízo, já que é nosso Pai e nascemos dele, e atuaremos em nossa vida como filhos que não se movem por medo e sim por amor. 

Porém, tal garantia não repousa na impecabilidade do cristão, pois seria um tipo de bilhete para entrar no céu pelos meros méritos do próprio homem (ele se torna deus para si mesmo) e sim no próprio Deus que sabe tudo (1Jo 3,20) e conhece, especialmente, a nossa fraqueza. Amamos porque Deus nos amou primeiro. Isto significa que a caridade ou o amor fraterno nos mantém no temor de Deus. 

No Antigo Testamento, a expressão “temor de Deus” deve ser procurado e entendido no pavor por certas manifestações de Deus, nas quais o ser humano experimenta a santidade, a transcendência. Nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, o temor dos beneficiários ou das testemunhas de aparições (Lc 1,12; 24,37), milagres (Mc 4,41; 5,15; Lc 7,16; At 2,43) e sinais da ressurreição (Mc 9,6; 16,8) deve refletir uma mesma experiência de distanciamento respeitoso e admirativo diante dos sinais do Reino. O temor de Deus causa respeito diante da manifestação de Deus. Deus se encarnou para manifestar seu amor incondicional para o ser humano; o amor levado até as últimas consequências: a morte na cruz.

Jesus, o Deus Que Salva, Não Nos Abandona Nas Tempestades Desta Vida

A cena relatada no Evangelho de hoje nos apresenta de maneira simbólica a situação em que se encontra a comunidade cristã primitiva depois da ressurreição de Jesus. A comunidade se encontra no meio de dificuldades (tempestade) e sente a ausência de Jesus Cristo. As ondas e o mar representam no AT as forças do mal que Deus vence com seu poder (Sl 77; Jó 9,8;38,16). Mas agora é Jesus quem vence a esta força maligna, pois Jesus é o Deus-Conosco, o Emanuel (Cf. Mt 1,23;18,20;28,20). Sua manifestação aos discípulos neste episódio tem todas as marcas dos relatos de aparições: a cena tem lugar de noite, o mesmo que a ressurreição do Senhor; Jesus vem ao encontro dos seus (cf. Jo 20,19); os discípulos creem ver um fantasma (cf. Lc 24,37s); finalmente, Jesus se apresenta afirmando sua identidade: “Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”. 

Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”.  E são João, na Primeira Leitura, nos diz: No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor”. 

No amor não há temor”. Amor e temor são duas atitudes fundamentais de nossa psicologia. O homem é radicalmente temeroso, falta-lhe segurança no mundo que se levanta contra ele. Alguns homens se comportam como adversários e por isso, roubam a alegria dos outros. Alguns homens se tornam ameaças para os outros, pois estes não querem saber dos direitos dos outros: roubam, sequestram, maltratam e matam. No nível espiritual, sobretudo, diante do mundo das divindades e do misterioso sagrado, o homem também tem seu temor. O homem pagão trata de libertar-se desse temor inventando ritos; o homem ateu se assegura a base de seus próprios meios transformando seu eu e sua técnica em meios de autodivinização; o homem judeu opta por outro caminho muito distinto eliminando o temor às forças superiores anônimas para descobrir em cada acontecimento, bom ou mau, a presença do amor e da misericórdia de Javé (Deus). A partir desse momento, o temor ao Sagrado deixa de ser um temor cego para ser uma exigência de conhecimento de Deus e de correspondência ao Seu amor.

Jesus levou mais longe ainda a descoberta dos judeus. Jesus descobre que o homem, que é Ele próprio, é coparticipante ativo de Deus na realização de Seu desígnio salvífico, pois ele acredita no Deus de amor que salva a humanidade por amor (Jo 3,16). Consequentemente, o cristão se assemelha ao “ateu” na confiança que põe nos meios humanos para responder aos desafios da fome, da guerra, da injustiça social e internacional. Mas ao fazer assim, o cristão dá testemunho da verdade do homem realizado em Jesus Cristo que ama os seus até o fim (cf. Jo 13,1). 

Com isso, são João nos mostra que amor e fé (ideias prediletas de são João), são duas virtudes que se compenetram e se apoderam juntas na pessoa do cristão. Toda decisão de fé implica o amor, pois o Deus em quem o cristão acredita é amor (1Jo 4,8.16). “Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”.No amor não há temor”.  O cristão é sempre lembrado para tomar qualquer decisão sobre o amor. Toda decisão tomada sobre o amor leva o homem a estar próximo de Deus e dos homens. O amor dá segurança, faz crescer na direção de Deus e do próximo. O amor torna o homem muito humano a ponto de ser muito divino. “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós” (1Jo 4,12b). 

Marcos também nos relata que Jesus “subiu ao monte para rezar”. Em geral, oração solitária de Jesus precede ou segue a algum acontecimento muito importante. Aqui, sua oração precede a sua manifestação como Filho de Deus.     

Ao olhar para o modo de viver de Jesus, percebemos a dupla dimensão de seu ministério: a oração e a ação, a solidão e a solidariedade, a intimidade mais profunda com o Pai e o engajamento mais radical no serviço dos necessitados. Em Jesus as duas dimensões são vividas não só como complementares, mas como necessariamente referidas uma à outra. A vida se põe na oração e a oração se traduz na vida. A vida antes de ser vivida, é rezada. A oração, além do amor, mantém o homem unido a Deus. A oração é a expressão viva da fé. Quando rezarmos, manifestaremos que nossa fé está viva. A fé nos leva a orarmos e orarmos porque somos movidos pela fé.          

Enquanto Jesus está se retirando para orar, os discípulos se encontram no meio da noite lutando contra a tempestade. Evidentemente eles estão atormentados. O barco agitado pelas ondas representa a Igreja sacudida pelas forças opostas e que por isso, a Igreja se sente impotente, frágil e abandonada e que luta para encontrar um rumo certo.          

Muitas vezes, no meio das dificuldades, pensamos que somos nós os que temos que fazer triunfar a Igreja com a nossa luta. Esquecemo-nos de que o único que pode salvar a Igreja é Jesus Cristo. E por isso, precisamos manter nossa união com Cristo na fé, na oração e no amor ao próximo. Não podemos nos esquecer que somos apenas missionários do Senhor e não salvadores. O único Salvador é Jesus Cristo. Em tudo que fizermos na Igreja do Senhor temos que saber contar com Jesus. A Igreja é de Cristo (cf. Mt 16,18). O rebanho é do Senhor (cf. Jo 21,15-17). Somos encarregados de cuidar de nossos irmãos, ovelhas do Senhor. Fazemos parte do mesmo rebanho. Somos ovelhas entre as outras ovelhas. Ninguém pode se achar superior às demais ovelhas. O verdadeiro Pastor do rebanho é Jesus Cristo (cf. Jo 10,11-18). Quem não sabe contar com Jesus, em vão vai trabalhar na Igreja do Senhor. Quem salva a Igreja é o próprio Senhor com a colaboração de cada membro dessa Igreja. Que sejamos membros comprometidos e ovelhas comportadas. Cada compromisso supõe sempre o sacrifício. E o sacrifício é fazer algo sagrado, isto é, toda vez que fizermos qualquer coisa para os irmãos devemos fazê-lo para consagrá-los (torná-los sagrados).          

Quando Jesus vem ao encontro dos discípulos, o medo se torna maior, pois acham que é um fantasma, pois eles não reconhecem Jesus. E quando eles não reconhecem Jesus, acabam tendo medo dos fantasmas que eles mesmos criam. Nessa altura Jesus se dá conhecer: “Coragem! Sou Eu”. Esta frase é suficiente para acalmar os discípulos.         

Deixemos que esta frase “Coragem! Sou Eu! Não tenhais medo!” penetre em nós, nos momentos mais difíceis de nossa vida. Quando ouvirmos a voz do Senhor, a paz estará presente no nosso coração, ainda que estejamos rodeados pelas provações ou dificuldades.          

A mensagem do texto é nitidamente eclesiológica. A cena simboliza a relação de Cristo com todos nós como a Igreja. A barca no meio da tempestade e no meio da noite representa a Igreja. E Jesus se revela como “Eu sou”, o Deus-Conosco (Mt 1,23;28,20). Jesus está sempre unido à sua Igreja. Quando estamos longe dele ou nos afastamos dele, como os discípulos, nós sentimos o medo e o pavor. Mas estes desaparecem no fim da noite, quando Jesus vai ao nosso encontro. Aparentemente, Jesus está ausente quando nos encontramos no meio da tempestade desta vida ou em perigo de morte. Mas, na realidade, Jesus está sempre unido a cada um de nós, como sua Igreja, orando por nós, pois ele é o nosso Emanuel (Mt 1,23;18,20;28,20). E na hora certa ele vai manifestar o seu poder, libertando-nos do medo e infundindo-nos ânimo: “Coragem! Sou Eu! Não tenhais medo!”, assim ele nos diz, como disse aos discípulos.          

Por isso, temos que perseverar na fé, mesmo quando agitados e açoitados pelas ondas e pelos ventos de provações e de perseguições, quaisquer que sejam as dificuldades e os obstáculos no caminho que temos que percorrer para ir ao encontro com Jesus e para obedecer à missão recebida dele. Amar a Cristo e aos irmãos é o segredo para edificar e firmar a Igreja do Senhor que somos nós todos. “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós”. Por amor, Deus nos chama à vida. Por amor Deus nos enviou Seu Filho, o que para Ele é mais caro, e morreu na cruz em nosso favor. Por amor Deus anda em nossa busca pelos caminhos do mundo. E só por amor é que podemos alcançar a eternidade.

P. Vitus Gustama,svd

Terça-feira Após Epifania,04/01/2022

COMPADECER-SE É VESTIR-SE DOS “SENTIMENTOS” DE  DEUS         

Terça-Feira Após a Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 4,7-10

Caríssimos: 7 amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. 8 Quem não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor. 9 Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. 10 Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados. 

Evangelho: Mc 6,34-44

Naquele tempo, 34 Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas. 35 Quando estava ficando tarde, os discípulos chegaram perto de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e é tarde. 36 Despede o povo para que possa ir aos campos e povoados vizinhos comprar alguma coisa para comer”. 37 Mas Jesus respondeu: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos perguntaram: “Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão e dar-lhes de comer?” 38 Jesus perguntou: “Quantos pães tendes? Ide ver”. Eles foram e responderam: “Cinco pães e dois peixes”. 39 Então Jesus mandou que todos se sentassem na grama verde, formando grupos. 40 E todos se sentaram, formando grupos de cem e de cinquenta pessoas. 41 Depois Jesus pegou os cinco pães e dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu entre todos também os dois peixes. 42 Todos comeram, ficaram satisfeitos, 43 e recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e também dos peixes. 44 O número dos que comeram os pães era de cinco mil homens.

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Com o texto do Evangelho de hoje o evangelista Marcos inaugura uma nova seção de seu evangelho. Nesta seção Marcos unifica tudo em torno do tema sobre o pão:

·       Das multiplicações dos pães (Mc 6,30-44; 8,1-10),

·       Discussão sobre o sentido das abluções antes de comer o pão e sobre o falso fermento (Mc 7,1-23; 8,11-20),

·       Discussão com uma pagã em torno das migalhas de pão que solicita (Mc 7,24-30).

Por isso essa seção é chamada de “seção dos pães”.

A alimentação da multidão (multiplicação de pães) é o único milagre narrado em todos os quatro evangelhos (Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15), e o único narrado duas vezes (em duas versões variantes) em Mc (Mc 8,1-10) e em Mt (Mt 15,29-39). Obviamente o relato da multiplicação tem sua alusão a Ex 16, história do maná no deserto (aqui se diz no lugar deserto) e a 2Rs 4,42-44, Eliseu alimentou 100 pessoas com 20 pães e ainda sobraram. 

Compadecer-se Significa Vestir-se Dos “Sentimentos” de Deus           

O evangelista nos relatou queJesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Ninguém escapa do olhar de Jesus: “Jesus viu uma numerosa multidão”. O olhar de Jesus é penetrante: Jesus “teve compaixão porque eram como ovelhas sem pastor”. Jesus olha ou tudo atentamente e amorosamente. Um olhar atento leva Jesus a uma ação concreta diante da pessoa que Ele olha ou . Jesus anda atentamente e olha amorosamente. A atenção é uma das expressões do amor profundo. 

Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão porque eram como ovelhas sem pastor”. Aqui Jesus revela a “misericórdia”, o “amor”, a “fidelidade” de Deus (as três palavras se resumem densamente numa palavra só: compadecer-se). Jesus se apresenta e se revela como o Pastor prometido que vem reunir as ovelhas (unir, reunir= salvar). Deus não abandona seu povo nas suas lutas de cada dia. Deus sempre se compadece. Deus sempre olha para Seu povo.

A compaixão é uma atitude primordial de Deus. Por isso, quando se fala da compaixão, não se trata de um vago sentimento de comoção. O verbo usado nos Evangelhos (compadecer-se) é muito forte e quer dizer sentir-se perturbado nas entranhas. A compaixão, por isso, nos pede que vamos até onde existem feridas, que entremos em lugares onde existe o sofrimento, que compartilhemos os desânimos, os temores, as angústias dos nossos próximos, de nossos irmãos. No Evangelho este verbo é usado exclusivamente em relação a Jesus ou a Deus. Por isso, quem tem compaixão, ele está em sintonia com Deus e está com Deus.          

Esta profunda compaixão diante das necessidades dos nossos semelhantes é a primeira condição para nos sentirmos motivados para a ação. Quem permanece impassível, quem não alimenta os sentimentos de Cristo, muito dificilmente será induzido a fazer qualquer coisa pelo bem dos próximos. Por isso, quando der alguma ajuda, ele dá somente para obedecer a alguma imposição externa, a uma convenção social, e não por uma premente necessidade interior.

Partilha Contra Egoísmo        

Os discípulos têm pena da multidão que está com fome, por um lado. Mas por outro lado, eles reconhecem a incapacidade de saciá-la com cinco pães apenas. Como resolver o problema? Eles aproximam-se de Jesus não para perguntar-lhe que planos tem, mas para oferecer-lhe uma “solução”: “Despede o povo, para que possa ir aos campos e povoados vizinhos comprar alguma coisa para comer ”(Mc 6,36). A solução oferecida pelos discípulos, então, é despedir para comprar. Em outras palavras, cada um tem que prover para si mesmo, por meio de dinheiro. Mas vem a pergunta: “Será que todo este povo tem dinheiro?”          

Comprar e vender (pães) supõem orientar as relações sociais pelas leis da economia, onde impera a concentração de bens e a exploração; supõem submeter-se às leis econômicas que mantém essa multidão na miséria. Sabemos que onde há concentração de bens e alimentos, lá há sempre fome e miséria. Neste contexto, quem tem dinheiro, tem direito de comer; quem não o tem, torna-se vítima da fome. O que tem por trás disso é o egoísmo. E as pessoas contaminadas pelo egoísmo acabam virando as costas para o seu próximo em dificuldade.          

A atitude que Jesus tem com a multidão faminta do pão e da palavra contrasta com a sugestão dos discípulos. A “comprar” Jesus opõe “dar” e ”repartir”: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37). Os discípulos só têm cinco pães e dois peixes. Cinco pães e dois peixes somam sete, o número que indica a totalidade. Aparentemente há pouco pão (cinco pães) para saciar tanta gente (mais de cinco mil pessoas). Somente aparentemente há pouco pão! Porque se cada ser humano tivesse amor e justiça, o pão não faltaria para ninguém. Se cada um tirasse um pouco de bom dentro de si, ninguém viveria na miséria. Para Jesus, o eterno problema da vida não é a falta do pão, e sim as causas que geram a falta do mesmo na mesa da grande maioria. O que se revela, além disso, não é a ausência do pão, e sim a presença do egoísmo, do individualismo, da ganância e da total ausência do amor fraterno. Mas no fim da vida todos ficam sem nada materialmente, pois o homem somente tem o direito de usar e não de possuir. Nossa relação com as coisas não é de propriedade e sim de uso. Este direito cessará no dia em que partirmos deste mundo. 

Aquele Que Ama é Uma Parcela de Deus que é Amor          

“Dar” ou “repartir” os pães comporta uma dinâmica diferente, comporta o amor fraterno, comporta a compaixão, comporta a solidariedade, comporta a partilha que é a alma de todo projeto de Jesus. Jesus não nos revela os “truques” dos milagres, mas nos ensina a fazer bem tudo que não é milagre: pôr em comum o que temos e reparti-lo entre os irmãos, especialmente os necessitados do básico da vida. E tudo parte do amor ao semelhante cuja penúria ou miséria torna-se um apelo para a solidariedade e a partilha. Quem possui algo para comer, deixa-se tocar por quem não o tem e abre mão, generosamente, do que lhe pertence para saciar a fome do próximo. Esta atitude funda-se na pura gratuidade e exclui qualquer desejo de recompensa. Nessa direção é que os cristãos, todos nós, devem caminhar: partilhar, partilhar e partilhar, pois a partilha é a alma de todo projeto de Jesus Cristo. Trata-se de vivenciar o amor fraterno. 

Por isso, o apelo que o autor da primeira Carta de João nos faz, através do texto da Primeira Leitura de hoje, é atual: “Caríssimos: amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus” (1Jo 4,7). “Amemo-nos uns aos outros!”. Trata-se de um programa para todos os que acreditam em Deus e para aqueles que têm boa vontade. É todo um programa para nossas famílias, nossos ambientes de vida, nosso trabalho, nossa comunidade, nossa Igreja, nossa sociedade e assim por diante. É todo um programa para a humanidade que Deus ama primeiro.

Precisamos colocar em prática este “Amemo-nos uns aos outros!”, porque não somente acreditamos em Deus, e sim em Deus de amor: “Caríssimos: amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,7-8). “Deus é amor”. É um texto de insondável profundidade. Há que escutá-lo em silencio, repeti-lo, tratá-lo com palavras nossas e vivê-lo na vida cotidiana. Aquele que ama é como uma parcela de Deus, uma parte do Amor, porque Deus é amor. 

“Deus é amor”, escreveu são João (1Jo 4,8). Esta é a afirmação mais profunda e consoladora da Carta de são João. Deus nos amou primeiro, e nisto se manifestou seu amor: em que nos enviou seu Filho como Salvador de todos. Todo o demais é consequência e resposta. Por isso são João insiste nesta frase que ele repete na sua Carta: “Amemos uns aos outros”, porque todos nós somos filhos desse Deus que nos ama e portanto, irmãos uns aos outros. E sucedem outros verbos típicos de são João: nascer de Deus, conhecer Deus, viver no amor.

E uma das manifestações mais amáveis e expressivas da missão messiânica de Jesus foi a multiplicação dos pães. Jesus se compadece pela multidão faminta. Ele é cercado pelos que sofrem e dos que O buscam. Jesus não está alheio do povo e sim está no meio dele para ajudá-lo. Jesus é como novo Moisés: dá de comer aos seus no deserto. Seu amor é concreto, compreensivo da situação de cada homem. Ele dá de comer e prega o Reino, alivia os sofrimentos da multidão. 

O programa que nos dá a Carta de João é simples de dizer e difícil de cumprir: amemos uns aos outros, porque todos nós nascemos de Deus e Deus é amor. 

Todo ato de amor vem de Deus, tem sua fonte e origem no coração de Deus. Por isso, Deus pode ser contemplado em:

·       O amor de uma mãe que ama seu filhinho e de um filho que ama seus pais.

·       O amor de um prometido a sua prometida, de um esposo para sua esposa.

·       O amor de um homem que se desvela por seus companheiros de trabalho.

·       O amor de um pastor para seu rebanho. E assim por diante.          

Se a partilha e a compaixão são a atitude primordial e a expressão do amor de Deus, portanto repartir o pão significa prolongar a generosidade de Deus- criador: Ele criou tudo por amor e gratuitamente sem nenhum mérito de um ser humano; significa que vivenciamos a nossa fé no Deus de amor (cf. 1Jo 4,8.16); significa Deus está em nós e nós permanecemos em Deus. 

Lutar pelo alimento é o mais elementar dos deveres dos homens. O pão é o símbolo de toda a alimentação. Com o milagre do Evangelho de hoje Jesus abre os nossos olhos para os compromissos que a eucaristia traz: somos responsáveis pela fome e a miséria dos nossos próximos. Somos responsáveis pela crença ou pelo ateísmo nos outros. Se Deus não se vê no mundo é porque não se vê mais na vida dos cristãos. Entrar em comunhão com o Senhor na eucaristia exige fazer comunhão com aqueles que lutam na busca do pão necessário à vida. Assim vivida, a eucaristia torna-se para quem dela se alimenta, fonte de coragem e esforço permanente no compromisso com a concretização do reino de Deus através da partilha de tudo que se tem.

P. Vitus Gustama,svd

Segunda-feira Após Epifania,03/01/2022

FÉ, CONVERSÃO E AMOR SE ALIMENTAM

Segunda-Feira Após Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 3,22-4,6

Caríssimos: 22 qualquer coisa que pedimos recebemos dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é do seu agrado. 23 Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. 24 Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu. 4,1 Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo. 2 Este é o critério para saber se uma inspiração vem de Deus: todo espírito que leva a professar que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; 3 e todo espírito que não professa a em Jesus não é de Deus; é o espírito do Anticristo. Ouvistes dizer que o Anticristo virá; pois bem, ele está no mundo. 4 Filhinhos, vós sois de Deus e vós vencestes o Anticristo. Pois convosco está quem é maior do que aquele que está no mundo. 5 Os vossos adversários são do mundo; por isso, agem conforme o mundo, e o mundo lhes presta ouvidos. 6 Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus, escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. 

Evangelho: Mt 4,12-17.23-25

Naquele tempo, 12 Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. 13 Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, 14 no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! 16 O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. 17 Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. 23 Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. 24 E sua fama espalhou-se por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, que sofriam diversas enfermidades e tormentos: endemoninhados, epilépticos e paralíticos. E Jesus os curava. 25 Numerosas multidões o seguiam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia, e da região além do Jordão.

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A Fé Em Jesus Cristo Se Realiza No Amor Fraterno 

Durante os dias após a festa de Epifania até o domingo seguinte, a festa do Batismo do Senhor, a Primeira Leitura continuará sendo da Carta de são João que dá unidade a todo o Tempo de Natal. 

E os evangelhos serão uma seleção de passagens dos quatro evangelistas, em que lemos umas manifestações de Jesus Messias, como a multiplicação dos pães e a tempestade acalmada (por Jesus), como prolongamento da epifania para a cena dos Magos do Oriente e como uma forma de preparação para a festa do Batismo. A festa de bodas de Caná que é próprio deste tempo natalino, se guarda para o Segundo Domingo do Tempo Comum. 

No texto do Primeira Leitura, são João insiste em várias das direções de sua Carta que temos escutado ou lido nos últimos dias. Antes de tudo, a dupla direção do mandamento de Deus: a fé e o amor, a reta doutrina e a prática do amor fraterno. É crer em Cristo Jesus e amar-nos uns aos outros inseparavelmente. Quem guarda esses mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E poderá orar confiadamente, porque será ouvido por Deus. 

Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu”. Escreveu o autor da Primeira Carta de são João (1Jo 3,23). 

Aparece também o tema de discernimento de espíritos e da vigilância contra os falsos profetas, os anticristos, que não aceitam Cristo vindo como homem, encarnado seriamente em nossa condição humana. O Espírito Santo nos ajudará a saber distinguir os bons mestres e os maus mestres. “Este é o critério para saber se uma inspiração vem de Deus: todo espírito que leva a professar que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; e todo espírito que não professa a fé em Jesus não é de Deus; é o espírito do Anticristo. Ouvistes dizer que o Anticristo virá; pois bem, ele já está no mundo”. 

Por fim, são João insiste em nossa luta contra o mundo, na tensão entre a verdade e o erro, entre a luz e a treva. Os cristãos são destinados a vencer o mundo enquanto contrário a Cristo Jesus. E como Deus é mais forte que o Anticristo, nossa vitória está assegurada se nos apoiamos em Deus.Filhinhos, vós sois de Deus e vós vencestes o Anticristo. Pois convosco está quem é maior do que aquele que está no mundo”. 

Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu”. Através desta afirmação (1Jo 3,23) o autor da Carta quer nos relembrar que devemos manter simultaneamente a dimensão horizontal (próximo) e a dimensão vertical (Deus) do mandamento de Deus (mandamento do amor). Com efeito, crer no nome de Jesus Cristo significa amarmo-nos uns aos outros (1Jo 3,23). Esses dois preceitos (amar a Deus e amar ao próximo simultaneamente) são apresentados pelo autor da Carta de tal maneira que parecem formar apenas um mandamento. Para o autor da Carta não há duas virtudes distintas: de um lado, a fé e de ouro lado, a caridade. Mas duas virtudes formam a dimensão transcendente e a dimensão imanente de uma única atitude (Cf. Jo 13,34-36). Somos filhos de Deus pela fé e a caridade entre irmãos decorre desta filiação (Cf. 1Jo 2,3-11).  A fé em Deus nos leva a amarmos o próximo. O amor ao próximo nos leva a Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Não dá para um cristão dizer que tem fé, mas não ama ao próximo. Mas amar ao próximo significa ter fé em Deus, mesmo que a pessoa não tenha consciência disso (Cf. Mt 25,40.45). 

Portanto, segundo o autor da Primeira Carta de são João, a salvação do homem depende de uma única palavra: o amor, porém o amor que encontra sua raiz na própria vida de Deus. Devemos amar como Deus nos amou (Cf. Jo 15,12). Deus nos amou até o fim (Jo 13,1; 3,16). Consequentemente, crer em Jesus, segundo o autor da Carta, é admitir que Jesus é o que melhor responde ao amor do Pai, e é desejar imitá-Lo em sua renúncia total a si próprio e em sua filial obediência ao Pai. 

Será que realmente verdadeiramente cremos em Jesus Cristo?  

Crer Em Deus Se Manifesta Também Através Da Conversão Permanente 

Nos dois primeiros capítulos de seu Evangelho, Mateus narrou o nascimento de Jesus, e no terceiro nos apresentou a atividade de João Batista: o Batismo. No capitulo quarto, sem se preocupar em satisfazer a curiosidade dos que quiseram saber de todo o itinerário formativo de Jesus, nos apresenta Jesus atuando na Galileia, uma região ao norte da Palestina onde conviviam, com dificuldade, judeus e pagãos. Por isso, Mateus evoca o texto do profeta Isaias que fala da iluminação dos que “viviam nas trevas e nas sombras de morte”. A festa da Epifania nos mostra que a vinda de Jesus é em favor de todos os homens, sem distinção nem de etnia, nem de condições nem de crenças. 

O evangelho deste dia nos relata que quando fica sabendo da prisão de João Batista, Jesus vai para a Galileia. A missão de João Batista como Precursor termina de modo semelhante a do próprio Jesus. Mais tarde Jesus será preso e morto. Diante da notícia da prisão de Joã0 Batista, Jesus se retira para a Galileia, estabelecendo o centro de sua atividade em Cafarnaum. 

Galileia era um território longe de Jerusalém, do poder central legalista e intransigente. Galileia tinha fama de região pagã contaminada pelos pagãos, desinteressada da Lei e da oficialidade do Templo. 

Na Galileia Jesus pode andar com liberdade, junto aos empobrecidos e marginalizados. Toda a história dos pobres gravitava sobre os pobres do tempo de Jesus: a fome, a carência de trabalho, a opressão política e militar dos Herodes e de Roma, opressão religiosa do Sinédrio (Sanedrin), o abandono e a marginalização. Esse povo pedia e exigia ser redimido. O que o povo esperava era respostas concretas para suas necessidades. Por isso, a figura de um rei poderoso, como Davi, continuava a alimentar o sonho do povo para libertá-lo de toda essa situação.

A pregação de Jesus se inicia, então, na “Galileia dos pagãos”, isto é, numa região onde a situação do povo é mais precária devido a uma grande quantidade de população pagã. É claro que o paganismo é muito mais no sentido do modo de viver do que no sentido de não pertencer a uma crença ou religião. Por isso, existem “pagãos” que se comportam como homens de Deus, por exemplo, o oficial romano (cf. Mt 8,5-13). Como também são muitos os que se dizem crentes (do Povo de Deus), mas se comportam como “pagãos”, sem nenhuma vivência da fraternidade, por exemplo, o sacerdote e o levita na parábola do bom Samaritano que não querem ajudar que está sofrendo (cf. Lc 10,31-32). 

De propósito o evangelista Mateus inicia a missão de Jesus entre os pagãos para nos dizer que os primeiros destinatários da pregação de Jesus vão ser as pessoas necessitadas, os marginalizados, os excluídos, os pobres e os que ainda não conhecem a luz de Deus porque vivem nas sombras do paganismo. Jesus vai onde necessita de sua Judá. Aqui Mateus mostra a universalidade da pregação de Jesus. 

A mensagem de Jesus se resume nesta frase: “O Reino de Deus está próximo”. O Reino de Deus, expressão existente no povo de Israel, se contrapõe a todos os demais reinos ou poderes humanos que pretendem um domínio total sobre o povo e este mesmo poder é oferecido a Jesus em suas tentações (cf. Mt 4,8-10). O Reino que Jesus prega começou nele, pois ele veio para fazer reinar o amor fraterno (cf. Mt 23,8). 

O menino de Belém, adorado pelos magos, agora se manifesta como o Messias e o Mestre enviado de Deus que ensina, proclama o Reino de Deus, que cura os enfermos e liberta os possessos. A proposta do Reino de Jesus é diferente: tem que descobrir e destruir o egoísmo e as estruturas que o fomentam. Para que isso possa acontecer há uma exigência: convertei-vos! 

Por isso, Jesus exige para todos os lados (dos poderosos e das vítimas do poder) que se convertam: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. Os pobres, as vítimas, precisam construir um projeto de humanização sem ódio e por isso, Jesus coloca o amor como o maior mandamento (Jo 13,35; 15,12). Para os poderosos, que devolvam e respeitem a dignidade do povo, respeitando seus direitos. Em outras palavras, para Jesus o problema do Reino era um problema de transformação do coração. Trata-se de uma transformação real que deve se demonstrar na prática e se experimentar em todos os setores da vida.

O estilo da atuação de Jesus Cristo que ama e se sacrifica pelos homens deve ser o estilo de cada cristão: ajudando, curando feridas, libertando os outros de suas angústias e seus medos, anunciando a Boa Notícia do amor de Deus. E que somente o amor salva, enquanto que o egoísmo destrói e mata. O egoísmo mata a fraternidade e uma convivência mais humana. É preciso aprender a ver Deus nos demais (cf. Mt 25,40.45), sobre tudo nos pobres e nos débeis, nos marginalizados e excluídos da sociedade. Trata-se de que esse amor fraterno que aprendemos de Jesus Cristo nós o traduzamos em obras concretas de compreensão e de ajuda. O amor não é dizer palavras solenes, bonitas e comovedoras, e sim imitar o amor de um Cristo que se entregou pelos demais. Este é o caminho da salvação. Por este caminho nãooutro que possa nos salvar e nos levar para o Céu, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16). A em Jesus Cristo e o amor aos irmãos são provas de autenticidade da que professamos. 

Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. A conversão, dentro do contexto das leituras de hoje consiste em crer em Deus e amá-Lo amando o próximo. Crer e amar são duas atitudes básicas de cada cristão e são inseparáveis: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu” (1Jo 3,23). Quem crê verdadeiramente em Deus, ama o próximo. Quem ama o próximo, é porque pertence a Deus, mesmo que ele não tenha consciência disso. A e o amor coexistem e fecundam mutuamente. A linha vertical () se expressa na linha horizontal (amor fraterno). A que salva é a que atua pela caridade. Por isso, a e o amor devem configurar a vida de cada cristão. Não existe a sem o amor fraterno. E não existe o amor fraterno que não leve a pessoa que ama até Deus. Não existe uma verdadeira fé sem conversão permanente. A conversão nem a fé conhecem aposentadoria.

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...