PARA
SER SANTO É NECESSÁRIO SER PURIFICADO PELO FOGO DE DEUS
Sábado da II
Primeira Leitura: Eclesiástico 48,1-4.9-11
Naqueles
dias, 1 o profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma
tocha. 2 Fez vir a fome sobre eles e, no seu zelo, reduziu-os a pouca gente. 3 Pela
palavra do Senhor fechou o céu e de lá fez cair fogo por três vezes. 4 Ó Elias,
como te tornaste glorioso por teus prodígios! Quem poderia gloriar-se de ser
semelhante a ti? 9 Tu foste arrebatado num turbilhão de fogo, num carro de
cavalos também de fogo, 10 tu, nas ameaças para os tempos futuros, foste
designado para acalmar a ira do Senhor antes do furor, para conduzir o coração
do pai ao filho, e restabelecer as tribos de Jacó. 11 Felizes os que te viram,
e os que adormeceram na tua amizade!
Evangelho: Mt 17,10-13
Ao descerem do
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Palavras Proféticas São
Palavras Que Purificam Para Poder Encontrar-se Com o Salvador
“O
profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha”.
O texto da Primeira Leitura foi escolhido
para corresponder com a leitura do Evangelho. No tempo de Jesus, o retorno de
Elias era esperado. Os escribas se apoiaram num texto de Malaquias (3, 23),
tomado em um sentido material: "Eis
que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia de Javé, grande e
terrível". Eles estavam convencidos de que Deus enviaria Elias antes
de seu Messias.
Novamente a pessoa de João Batista, de quem
Jesus falará no evangelho, é prefigurada pelo profeta Elias, uma das
personagens mais importantes do A.T.
O livro do Eclesiástico descreve Elias como
"um fogo".
Seu temperamento era vivo e energético. Suas palavras eram como "uma fornalha".
Ele anunciou as secas como castigo de Deus. Ele lutou incansavelmente contra a
idolatria de seu povo. Ele é o profeta, defensor do monoteísmo. Elias era
inabalável em sua denúncia dos abusos das autoridades, trazendo o fogo sobre as
ofertas do Senhor em seu desafio aos deuses falsos, e, finalmente, desapareceu
misteriosamente em uma carruagem de fogo, foi arrebatada ao céu.
Mas no fundo, Elias, que viveu nove séculos
antes de Cristo, era o profeta da esperança escatológica, que pela tradição
popular voltaria para preparar imediatamente o dia do Senhor. Sua missão então
seria "apaziguar a ira" de Deus, "reconciliar pais com
filhos" e "restabelecer as tribos de Israel". É por isso que no Salmo Responsorial (Sl 79/80) cantamos:
“Ó Senhor,
convertei-nos”. Para o povo de Israel, Elias era o profeta por
excelência. Ele era capaz de falar de Deus e de falar com Deus com absoluta
naturalidade e ao mesmo tempo com firmeza. A tradição popular esperava o
retorno deste profeta ao final da história, no Dia de Javé.
Jesus faz uma leitura desta tradição e da
vida de João Batista. De acordo com isso, João Batista encarna as esperanças do
povo depositadas em Elias. Sua vida coerente, sua coragem para denunciar o
pecado e sua morte como produto de sua vida indicavam que o Grande Dia do
triunfo de Deus estava se aproximando.
Por isso, a resposta de Jesus sobre o profeta
Elias é clara: Elias já veio. É João Batista. Mas não o reconheceram como não
reconheceram em Jesus o Messias. É uma excelente ocasião de aprender dos lábios
de Jesus que não se devem interpretar todas as passagens da Sagrada Escritura
de um modo demasiado simples, liberal ou infantil. Temos aqui um excelente
exemplo de interpretação dos sinais dos tempos que o próprio Jesus nos dá.
Existe uma maneira superficial de olhar a história e os acontecimentos.
Muito mais frequentemente do que pensamos,
através de muitas pessoas e de muitos acontecimentos, há muitas vindas de Deus
para restaurar o mundo, em geral, e para restaurar nossa vida, em particular.
Aceitar, reconhecer esses "profetas" não é fácil. E há tantos falsos
profetas nos nossos dias! No entanto, eles podem ser reconhecidos por seus
frutos para saber se eles são verdadeiramente profetas (cf. Mt 7,15-20). O
teste decisivo sempre será, e até o fim, o amor de Deus e dos outros na
concretude da vida. Trata-se de um amor universal.
“O
profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha”. O fogo é uma imagem constante na
Bíblia para simbolizar Deus. No Sinai, Deus se manifestou no fogo da tormenta.
É natural que o portador da vontade divina tenha um rosto de fogo. O fogo será
o instrumento da última purificação dos últimos tempos. Essa imagem sugestiva
provém seguramente do fato de que, nos sacrifícios primitivos, o fogo era o
elemento que unia o homem a Deus. O fogo “comia” logo a vítima para consumar a
comunhão com Deus.
Quanto mais nos aproximarmos de Deus, mais
purificação acontecerá na nossa vida. Quem se aproxima de Deus se reconhece
pecador e precisa do “fogo” de Deus para purificar suas imundices. Aproximar-se
de Jesus é estar ao lado da própria pureza que nos contagia para que voltemos
ao nosso estado primordial para o qual fomos criados: “Deus viu que tudo era muito bom”, disse Deus no sexto dia em que
Ele criou o ser humano (Gn 1,31).
João Batista É Novo Elias
“Elias
vem e colocará tudo em ordem. Ora, eu vos digo: Elias já veio, mas eles não o
reconheceram”.
Jesus aceita a
João
Por isso, um dos grandes ministérios que nos
é recomendado em qualquer comunidade cristã, especialmente no tempo forte
liturgicamente é o ministério de reconciliação. Esta é uma das mais importantes
tarefas e um dos melhores testemunhos que podemos ou possamos dar para o nosso
mundo (comunidade, grupo, pastoral, movimento etc.) tão dividido pelo egoísmo,
pelo ódio, pela injustiça, pela violência e pela guerra. A própria experiência
humana, do ponto de vista antropológico, reclama reconciliação. Por isso, a
reconciliação não deixa de ser também uma necessidade antropológica.
Reconhecemos que não é fácil perdoar como ser perdoado, pois a reconciliação
exige uma mudança no ofensor e no ofendido simultaneamente. O ofensor não fica
perdoado porque o ofendido esquece a ofensa recebida e sim porque ambos se
reencontram no amor.
Neste sentido, eu preciso deixar-me
interpelar por João Batista cuja voz queima as impurezas em mim. João Batista
é, como o profeta Elias, fogo irresistível, profeta cuja palavra ilumina meu
caminho e o da minha comunidade. Além disso, eu preciso estar consciente de que
como Elias e João Batista foram perseguidos pelos poderosos e não compreendidos
pelos seus contemporâneos, eu posso ter a mesma sorte. Mas ao mesmo tempo,
apesar de tantas oposições e obstáculos, a Palavra de Deus sairá vitoriosa. Por
isso, viver sem confiar na Palavra de Deus deve ser impossível. “A Palavra de Deus será plena em nós
quando estivermos plenamente na Palavra de Deus” (Santo Agostinho. Serm.
1, 133).
P.
Vitus Gustama,svd
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