sábado, 18 de dezembro de 2021

Quinta-feira,23 de Dezembro de 2021

O JUSTO É AMPARADO POR DEUS

Nascimento de João Batista

23 de Dezembro

Primeira Leitura: Ml 3,1-4.23-24

Assim fala o Senhor Deus: 1 “Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; 2 e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; 3 e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. 4 Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos. 23 Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia do Senhor, dia grande e terrível; 24 o coração dos pais há de voltar-se para os filhos, e o coração dos filhos para seus pais, para que eu não intervenha, ferindo de maldição a vossa terra”. 

Evangelho: Lc 1,57-66

57 Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. 58 Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela. 59 No oitavo dia foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60 A mãe porém disse: “Não! Ele vai chamar-se João”. 61 Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” 62 Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse.  63 Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “João é o seu nome”. 64 No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65 Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia. 66 E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: “O que virá a ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele.

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Depois das anunciações dos nascimentos, contemplamos agora os próprios nascimentos. Hoje o texto fala do nascimento de João Batistas, e depois  amanhã (25/12), o nascimento de Jesus. 

João Batista foi um personagem conhecido em seu tempo. O historiador Flávio Josefo não se esqueceu de citá-lo. Para a fé cristã supõe o fim do Antigo Testamento (AT) e o prelúdio do Novo Testamento (NT). João Batista é, nada mais e nada menos que Precursor. Seu nome o indica: João quer dizer “Deus se compadeceu”, enquanto que Jesus significa “Deus salva”. No entanto, nada disto impede que as atitudes fundamentais de sua personalidade possam nos servir perfeitamente como esquema de reflexão. Através de sua pregação, os homens descobrem o verdadeiro Messias. Seu objetivo, como na passagem da Samaritana (Jo 4,1-42), é facilitar que as pessoas digam: “Já não é por causa daquilo que contaste que cremos, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4,42). Conseguido isto, já podem decapitá-lo, pois sua missão estará cumprida.

João Batista é o Sacerdote-Profeta

“Eis que envio meu mensageiro, e ele há de preparar o caminho para mim...”

A Primeira Leitura é tirada do Livro do Profeta Malaquias (século V a.C). As profecias de Malaquias acontecem na época em que o templo é reconstruído. O culto de Templo é muito deficiente. A casta sacerdotal está longe de ser reformada/renovada. Segundo a profecia de Malaquias, a vinda de Javé será a oportunidade para uma profunda renovação da casta sacerdotal para que a casta sacerdotal possa voltar ao ideal de fidelidade de seus antepassados (cf. Ex 32,26-29; Nm 25,7-13; Dt 33,8-11): a perfeição no culto e a purificação moral ou uma justiça social. O sacerdote precisa ser homem de rito e homem de palavra (cf. Mal 2,6-7). 

Da parte de Deus há anúncio de reformas e sobretudo, o envio de um mensageiro que prepare o caminho do próprio Senhor. Sua vinda será graça e juízo, ao mesmo tempo, será um fogo que purifica para que a oferenda do Templo seja dignamente apresentada diante do Senhor. Uma das características da missão deste mensageiro será que “converterá o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais”. 

Os traços do sacerdote ideal se encontram em João Batista. O profeta João Batista é um membro da família sacerdotal (Lc 1,5). Porém, João Batista nunca exerceu um ministério sacerdotal, propriamente dito. Ele prefere, antes, um ministério profético. Na descrição de Malaquias, João Batista é o sacerdote-profeta. 

A vinda de Messias inaugurará uma reforma profunda da “função sacerdotal” que a família de Levi exerce até aqui. O Homem-Deus, o Deus-Conosco vem para fundar o culto definitivo. A oferenda não será mais animais. Cristo Jesus é a oferenda agradável e justa. Jesus não oferece um cordeiro pascal e sim se oferece a si mesmo, sua própria vida e sua própria morte. Ele derrama seu sangue na cruz para salvar a humanidade. O valor da minha vida é o sangue de Jesus derramado na cruz. A Eucaristia é o sacrifício espiritual pelo qual os cristãos se oferecem eles mesmos em união com Cristo. 

“Eis que envio meu mensageiro, e ele há de preparar o caminho para mim...”. O anúncio do profeta Malaquias de que Deus enviará um mensageiro, prepara em paralelo o relato evangélico do nascimento de João Batista. A figura de João Batista nos convida à conversão, a voltarmos para o Senhor que vem nos salvar e deixarmo-nos salvar por ele. A voz de João Batista, neste Advento, nos convida à vigilância com o olhar posto no futuro de Deus e ouvido atento para escutar a Palavra de Deus. Cada Advento é pôr-se em marcha ao encontro de Deus que sempre vem. Na nossa vida, como na sociedade e o Templo de Israel, há coisas que precisam urgentemente mudar, as atitudes que devem ser purificadas e os caminhos que necessitam de endireitar-se. No Natal basta abrir os presentes. Temos que abrir, principalmente, nosso coração e nos tornar presentes para os outros. Ser presente é ser dom para os outros. 

Um dos sinais da proximidade de um Natal segundo o coração de Deus seria aquilo que o profeta Malaquias anunciava: a reconciliação entre os pais e os filhos, entre os irmãos, entre os vizinhos, entre os membros da comunidade. Esta é a melhor preparação para uma festa que celebra o Deus que se fez Deus-Conosco, e portanto, nos convida a sermos nós-Com Deus, por uma parte e nós-conosco, por outra, porque todos somos irmãos.

Nascimento de João Batista

João significa o Senhor manifestou sua benevolência; “Zacarias”: “Deus se recordou”; “Isabel” (elíseba, Hbr): “Deus é plenitude, perfeição”.

O nascimento de João Batista é visto como um ato de “misericórdia” do Senhor na vida de Isabel e Zacarias. O que se enfatiza na misericórdia são a generosidade e a fidelidade de Deus aos justos. “Justo” é aquele que acolhe o amor de Deus com gratidão. E este amor leva a pessoa a viver de acordo com a justiça divina e não faz nenhuma injustiça contra os outros, seja na palavra, seja no ato. Através do nascimento de João Batista de um casal idoso e estéril, mas justo, Deus quer mostrar como é grande o seu poder pelos justos e como é gratuito o seu amor que torna fecunda uma mulher estéril como Isabel. Vale a pena ser justo, pois Deus está ao nosso lado. 

Isabel viveu a esterilidade até sua idade avançada no sentido de que a possibilidade de gerar se torna zero. O ventre estéril de Isabel representa a condição da humanidade: sem vida, sem esperança, e sem futuro. É uma situação insustentável, triste e sem saída. Mas para os justos Deus sempre intervém do alto para dar-lhes vida, movido unicamente por seu amor. Neste ponto explode a alegria que envolve a todos e que provoca o homem a fazer louvores. A presença de Deus na vida de qualquer pessoa sempre traz a alegria. As pessoas que acreditam em Deus são pessoas alegres, porque Deus é Amor e o Bem maior. 

Por outro lado, o texto quer nos apresentar o lado escuro da . Zacarias serve a Deus no Templo. Mesmo assim tem dúvidas diante do anúncio de Deus sobre a gravidez de Isabel, sua esposa apesar de sua idade avançada. Vem a pergunta que serve de reflexão para cada um de nós diante da incredulidade de Zacarias: “Que sentido tinha, então, o rito que com tanta solenidade ele celebrava no Templo? Que sentido tem das missas das quais participamos quase todos os dias se continuamos a duvidar da misericórdia e do poder de Deus na nossa vida?”. Estar no Templo, estar na Igreja e trabalhar na e pela Igreja nem sempre significa ter . Zacarias quer nos alertar sobre esse assunto. 

Através do nascimento milagroso de João Batista Deus quer dizer a cada um de nós: “Confie em mim!”. Deus nos pede que em cada dúvida, perplexidade e escuridão de nossa vida que saibamos nos entregar nas mãos misericordiosas de Deus e que sejamos fiéis aos seus mandamentos não por medo, mas por amor. Diante do amor de Deus devemos responder com o mesmo amor. 

Através do seu Anjo Deus diz a Zacarias: “Não tenhais medo, Zacarias!”. As mensagens e a Palavra de Deus são motivo de paz e de serenidade para quem as escuta com coração e as vive no cotidiano. É verdade que em determinados casos e momentos pode custar aceitar a vontade de Deus, porém, no final da história sempre nos deixa a paz. Por isso, quandomedo e desconfiança temos que recorrer à voz e à Palavra de Deus que nos acalma. Para Deus nãonada, absolutamente nada que seja impossível (cf. Lc 1,37).

“Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: João é o seu nome”. Para um judeu, o nome é todo um símbolo: significa a função. As raízes da palavra “João” significam “Deus dá gratuitamente”, “o Senhor manifestou sua benevolência”. Como a palavra “Jesus” significa “Deus salva”. Decididamente, estas páginas do Evangelho de Lucas (Evangelho da Infância: Lc 1-2) aparentemente são infantis, mas na verdade estão cheias de conteúdo teológico. O evangelista Lucas, ao escrever essas páginas, se serve de todo desenvolvimento doutrinal sobre a graça de Deus naquele tempo. 

Deus salva pela graça, gratuitamente. Esta tese da Carta de São Paulo aos romanos estava já escrita quando começou a redação dos evangelhos.

Todos se alegraram pelo nascimento de João Batista e ficaram maravilhadas ao saber que Zacarias deu nome para seu filho de João e voltou a falar: Todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: ‘O que virá a ser este menino? ’. De fato, a mão do Senhor estava com ele”.

O que virá a ser este menino?”. Esta foi a pergunta de todos sobre João Batista. Esta pergunta é a pergunta de qualquer mãe ou pai diante do filho (a) recém-nascido (a). “O que virá a ser este menino ou esta menina?”. Terá todas as possibilidades e todos os riscos da liberdade. Este menino recém-nascido será santo ou criminoso?

De fato, a mão do Senhor estava com ele”. É uma bela imagem: mão. A mão de um homem é algo formoso. É algo que lhe permite atuar, ajudar, acariciar, trabalhar. No sentido metafórico a mão tem alguns sentidos na Bíblia. “Dar a mão” significa firmar uma aliança ou contrato. “Pôr a mão na boca” é sinal de querer ficar calado (Jó 21,5; Pr 30,32). “Pôr a mão na cabeça” significa tristeza (2Sam 13,19; Jr 2,37) “Tocar na mão do outro” significa prometer fidelidade a um pacto (Pr 6,1 ou exprime acordo (Gl 2,9) e amizade (2Rs 10,15). A mão é símbolo de poder, de força e posse 

A mão de Deus” significa, simbolicamente, o exercício de seu soberano poder, símbolo do poder divina (Dt 4,34; 5,15), especialmente na criação e na providência (Sl 8,7; Jó 10,8; Ex 13, 3.15). “A mão de Deus” repousa sobre alguns para abençoá-los, conceder-lhes o espirito prometido ou assinalar uma intervenção divina. “A mão de Deus”. Há em Deus algo que corresponde à mão. Que a mão do Senhor esteja conosco todos os dias. 

O menino João Batista será o Precursor do Senhor! Deus está no interessado. É um fruto da misericórdia de Deus. Deus quis esse nascimento porque Ele tem um projeto sobre o menino recém-nascido. Sua palavra chegará ao interior das pessoas suscitando provocação, inquietude, abalando as falsas seguranças e fazendo que os olhos das pessoas se abram ao futuro. Seu anúncio do Reino que se aproxima chocará com a resistência daqueles que construíram seu próprio Reino sobre o egoísmo. 

Este menino João Batista será o Precursor do Senhor! Sua missão será a de fazer tomar consciência dos erros cometidos, das explorações feitas, das injustiças contra os irmãos (praticamos a justiça para que o irmão não seja tratado injustamente), dos abusos dos mais fracos e inocentes e de outros tantos abusos. Mas ao mesmo tempo, sua missão é a de preparar os corações dos homens para receber o anúncio do perdão para quem estiver aberto para a graça de Deus. 

Este menino João Batista terá a missão de Precursor. Sua missão é a de levar as pessoas para Jesus. Ele facilitará e fará possível o encontro das pessoas com Jesus, inclusive para seus próprios discípulos.  Ele terá simplicidade de dizer: “Eu não sou o Cristo... Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor... Eu batizo com água, mas no meio de vós está Aquele que vós não conheceis. Esse é Quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia da sandália” (Jo 1, 20.23.26-27). João Batista levará a término sua missão com fidelidade. Toda sua vida terá a grandeza da missão bem cumprida, realizada sem ostentação. No fim de sua missão ele desaparecerá sem fazer ruído e o faz com gozo porque é preciso queEle cresça e eu diminua” (Jo 3,30). João Batista será encarcerado e com seu próprio sangue selará seu testemunho e o faz com valentia. 

Cada um de nós recebeu de Deus uma missão especifica que não pode ser cumprida por outra pessoa, pois outra pessoa tem sua própria missão. O dom da que recebemos é, ao mesmo tempo, uma responsabilidade. E quando se fala da responsabilidade, fala-se da vivência dos valores. Aquele que vive de acordo com os valores reconhecidos universalmente é uma pessoa responsável.  Responsabilidade e valores são uma moeda de dois lados. 

Será que estamos conscientes de que nossa missão, como a de João Batista, é a de facilitar os demais para o encontro com Jesus? Qual é nossa postura quando a situação se torna adversa? Seremos capazes nestes momentos de manter uma atitude valente, constante e decidida? Como levamos ao término a missão confiada a nós?

Além disso, a Palavra de Deus meditada neste dia nos convida a confiarmos em Deus, a vivermos o tempo presente confiando nas sendas do Senhor que são misericórdia e lealdade- fidelidade a exemplo de Isabel e Zacarias. Tenhamos fé apesar das impossibilidades humanas, pois Deus tem poder de transformar o impossível em possível (cf. Lc 1,37). Sejamos fies ao nosso Deus em todos os momentos de nossa vida, pois Deus sabe o que fazer com nossa vida.

P. Vitus Gustama,svd

Para Refletir:

Isabel e Zacarias eram justos.

 As bênçãos descansam sobre a cabeça do justo, mas a boca dos maus oculta a injustiça” (Provérbio 10,6).

 “A vereda dos justos é como a aurora, cujo brilho cresce até o dia pleno. A estrada dos iníquos é tenebrosa, não percebem aquilo em que hão de tropeçar” (Provérbio 4,18-19).

 “A vida dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá... Os que em Deus confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor descansarão junto a ele. Pois a graça e a misericórdia são para seus santos e a visita divina é para seus eleitos” (Sabedoria 3,1. 9).

 “A boca do justo é fonte de vida, enquanto a boca dos ímpios encobre a violência” (Provérbio 10,11).

 “O justo, que anda na sua integridade, deixará filhos felizes depois dele” (Provérbio 20,7).

P. Vitus Gustama,svd


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