JOÃO BATISTA
É UMA FIGURA QUE
NOS INTERPELA
Quinta-feira Da III Semana Do Advento
Primeira Leitura: Is 54, 1-10
1 Alegra-te, ó estéril, que nunca foste mãe, exulta
e regozija-te, tu que nunca deste à luz; os filhos da mulher abandonada são
mais numerosos do que os filhos da bem-casada, diz o Senhor. 2 Alarga o espaço de tua tenda e distende bastante
as peles das tuas barracas; usa cordas bem longas e finca as estacas com
segurança. 3 Farás expansão para um lado e para o outro e tua posteridade
receberá em herança as nações que povoarão cidades abandonadas. 4 Não tenhas
medo, pois não sofreras afronta alguma; nem te perturbes, pois não tens de que
te envergonhar; esquecerás a vergonha sofrida na juventude e não te recordarás
mais da humilhação da viuvez. 5 Teu esposo é aquele que te criou, seu nome é
Senhor dos exércitos; teu redentor, o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a
terra. 6 O Senhor te chamou, como a mulher abandonada e de alma aflita; como
esposa repudiada na mocidade, falou o teu Deus. 7 Por um breve instante eu te
abandonei, mas com imensa compaixão volta a acolher-te. 8 Num momento de
indignação, por um pouco ocultei de ti minha face, mas com misericórdia eterna
compadeci-me de ti, diz teu Salvador, o Senhor. 9 Como fiz nos dias de
Noé, a quem jurei nunca mais inundar a terra, assim juro que não me irritarei
contra ti nem te farei ameaças. 10 Podem os montes recuar e as colinas
abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti, nada fará mudar a
aliança de minha paz, diz o teu misericordioso Senhor.
Evangelho:
Lc 7,24-30
24Depois que os mensageiros de João partiram, Jesus começou a falar sobre João às multidões: “Que
fostes ver no deserto?
Um caniço agitado pelo vento?
25Que
fostes ver? Um
homem vestido
de roupas finas? Ora,
os que se vestem com
roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis.
26Então,
que fostes ver?
Um profeta?
Eu vos
afirmo que sim,
e alguém que
é mais do que
um profeta.
27É de João que está escrito:
‘Eis que
eu envio o meu
mensageiro à tua frente;
ele vai preparar
o meu caminho
diante de ti’. 28Eu vos digo: entre
os nascidos de mulher, ninguém é maior
do que João. No entanto,
o menor no Reino
de Deus é maior
do que ele.
29Todo
o povo ouviu e até
mesmo os cobradores
de impostos reconheceram a justiça de Deus,
e receberam o batismo de João. 30Mas
os fariseus e os mestres
da Lei, rejeitando o batismo de João, tornaram inútil
para si mesmos o projeto
de Deus”.
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Deus Nos Ama Eternamente Apesar de Nossas Infidelidades
O texto da Primeira Leitura pertence ao
segundo Isaías, Deutero-Isaías (Is 40-55). O contexto histórico é o exílio
(Babilônia). Jerusalém foi destruída, o Templo demolido, os habitantes
deportados. Um profeta, discípulo de Isaías, anuncia a "restauração":
“Por
um breve instante eu te abandonei, mas com imensa compaixão volta a acolher-te.
Num momento de indignação, por um pouco ocultei de ti minha face, mas com
misericórdia eterna compadeci-me de ti, diz teu Salvador, o Senhor” (Is
54,7-8).
Segundo a teologia deuteronomista, o profeta
explica o exílio como uma consequência natural da má conduta do povo eleito. E
agora nos descreve a presença de um novo estado de salvação na forma de uma
aliança de paz, concebida como um juramento pelo qual Deus se vincula ao seu
povo.
O profeta anônimo, convencionalmente chamado
de Segundo-Isaías ou Deutero-Isaías (capítulos 40-55), sabe o "até quando,
Senhor?" de seus irmãos exilados. O profeta intervém enviando uma mensagem
de consolação aos exilados, cuja maior concretização se encontra no futuro
glorioso de Jerusalém, cidade símbolo da presença de Deus no meio de seu povo.
Isto quer nos dizer que quando estivermos
unidos ao Deus da Aliança, seremos capazes de enxergar algo novo e renovado
para nosso próprio bem e nossa salvação apesar dos sofrimentos. Quem estiver
com Deus, sempre verá o final feliz apesar do momento tão escuro e triste
aparentemente. Um profeta sempre está unido a Deus, vê tudo a partir de Deus e
fala em nome de Deus para o povo naquele contexto em que esse povo vive. Através
das palavras do profeta, temos as palavras de Deus. Deus fala através do
profeta.
“Alegra-te, ó estéril, que nunca foste mãe,
exulta e regozija-te, tu que nunca deste à luz; os filhos da mulher abandonada
são mais numerosos do que os filhos da bem-casada...”. O poema que lemos
hoje em Isaías está cheio de imagens incríveis. Deus é o marido sempre fiel. Israel, a
esposa que foi infiel e teve que viver, em castigo, como uma esposa abandonada,
estéril, cheia de vergonha. Agora Deus a convida a retornar ao seu amor.
Este primeiro poema divino, essa primeira
promessa canta a fecundidade da nova Jerusalém. Estéril durante o exílio, posto
que a cidade de Jerusalém ficou deserta, mas Jerusalém terá filhos de novo. Jerusalém,
comparada a uma viúva ou mulher divorciada abandonada pelo marido, faz uma nova
aliança com o Senhor. Os pecados de Jerusalém foram considerados por Deus como
adultério; e Deus foi forçado a dar uma carta de repúdio: exílio na Babilônia.
Mas Deus não se esquece daquele a quem continuou a amar. Nem mesmo o pecado pode
impedir esse amor. Então, Deus anula a carta de repúdio. Retoma-se o tema já
glosado por Oséias e Jeremias, do amor de Javé por Jerusalém descrito na forma
de imagens matrimoniais sem que o autor perca a originalidade com o uso de
belas expressões: “Minha misericórdia não
se apartará de ti, nada fará mudar a aliança de minha paz, diz o teu
misericordioso Senhor”.
Jesus no evangelho se comparará a si mesmo ao
noivo. Seu Reino será como o banquete de casamento do Noivo, do Cordeiro, que é
ele mesmo. Ele que estava nas bodas de Caná e transformou a água no bom vinho
da alegria e do amor. O Esposo que se entregou na cruz por sua Esposa, a Igreja.
Deus nos
garante o seu amor eterno. A iniciativa é dele. Ele é aquele que ama primeiro. Somos
amados por Deus e temos que voltar ao nosso amor original para que sejamos
felizes e evite que fiquemos distantes da felicidade.
Neste Advento, o convite de Deus se repete,
agora à sua Igreja, isto é, a cada um de nós. O convite a voltar mais
decididamente ao seu amor para que sejamos felizes e salvos.
João Batista Nos Interpela
Uma das figuras
mais marcantes
no tempo de Advento
é João Batista. João Batista não é somente um profeta e sim aquele que
abriu o caminho para
Jesus Cristo. João Batista
é o autêntico profeta que busca Deus no deserto
(longe da influência mundana), na penitencia, com
fé firme,
sem vacilação
e fica longe de qualquer
compromisso com
o mundo de poder
(Lc 7,24-25). Jesus indica João Batista como o mensageiro
prometido pelo profeta
Malaquias: “Eis que
vou enviar o meu
mensageiro para
que prepare um
caminho diante
de mim” (Ml 3,1). João Batista é aquele
que abre o caminho
para o Messias, é aquele que
assinala uma etapa radicalmente
nova da história
da salvação, é aquele que chama à conversão.
Por isso,
Jesus elogia João Batista
com estas palavras: “Eu
vos digo: entre
os nascidos de mulher, ninguém é maior
do que João. No entanto,
o menor no Reino
de Deus é maior
do que ele”.
João Batista é maior
porque sabe seu
lugar e reconhece o lugar
do outro; sabe seu
papel e reconhece o papel
do outro, mesmo
que seja maior
do que seu
papel. Ele
sabe ceder lugar
para o novo, para aquele que traz a verdadeira salvação e não
se sente diminuído por causa
disso (cf. Jo 3,30). A grandeza de João Batista consiste na confissão
de sua própria
pequenez e humildade
e no reconhecimento da grandeza de Jesus Cristo:
“É necessário que
Ele cresça e eu
diminua” (Jo 3,30). “Chegamos mais perto da grandeza quando
somos grandes na humildade"
(Rabindranath Tagore).
Mas o elogia sobre
João Batista é ao mesmo
tempo uma séria
reprovação para aqueles
que se acham justos
e por isso,
acham que não
necessitam de conversão. “Mas
os fariseus e os mestres
da Lei, rejeitando o batismo de João, tornaram inútil
para si mesmos o projeto
de Deus” (Lc 7,30). Esta sentença é bastante
séria.
Ela é dirigida para
todos os homens
de religião que
presumindo de justos, não acolheram a pregação
de João Batista nem
seu batismo
de purificação. Segundo
Jesus, estes frustraram, com seu comportamento, o próprio desígnio salvífico de Deus
para com eles e por isso, ficaram privados
da salvação.
“Que fostes ver no
deserto? Um
caniço agitado
pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido
de roupas finas? Mas
os que vestem roupas
preciosas e vivem no luxo estão nos palácios
dos reis. Mas,
enfim, que
fostes ver? Um
profeta?”. Com
estas perguntas, Jesus diretamente vai para as
motivações profundas. Ele quer que as pessoas tomem consciência
do sentido de seus
gestos ou
de seus atos.
Jesus quer, na verdade,
fazer a seguinte
pergunta: “Com
seus atos,
o que você quer edificar para sua vida e para a vida das pessoas
ao seu redor?
Que sentido
você dá para tal atitude?”. Jesus não estima qualquer debilidade de caráter.
Para Jesus, João Batista é um homem íntegro que põe sua vida para o serviço da causa de Deus. Ele não é movido pelo interesse mesquinho
nem atraído pela
vanglória. Ao contrário,
ele desperta muitos
corações sobre
a necessidade de voltar
para Deus para o próprio bem
e o bem dos demais.
João Batista é consciente
de sua missão,
por isso
ele não
é movido por qualquer
outra coisa a
não ser a vontade de Deus.
Em nossa
sociedade, os moldes
que nos
fazem sentir grandes
têm a ver com
a posição social,
com o nível econômico, com
a preparação intelectual,
com a filiação
política, com
o grau de poder
que manjemos em
nossas estruturas. Para
o seguidor de Jesus Cristo,
nenhum destes critérios
conta. O único
critério é a disponibilidade
para o serviço
dos pequenos, dos débeis. É o caminho que
Jesus percorreu. Este foi sua práxis. Como diz a Carta
de São Paulo aos Filipenses: “Sendo ele de condição
divina, não
se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.
E, sendo exteriormente reconhecido como homem,
humilhou-se ainda mais,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente
e lhe outorgou o nome
que está acima
de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus se dobre
todo joelho
no céu, na terra
e nos infernos.
E toda língua
confesse, para a glória
de Deus Pai,
que Jesus Cristo
é Senhor” (Flp 2,6-11).
A figura
de João Batista nos
interpela, pois, segundo
o próprio Cristo.
João Batista é o modelo
de um seguidor
fiel aos planos
de Deus. E o plano
de Deus não
tem outro objetivo
a não ser para salvar a humanidade de uma vida
sem sentido.
João Batista não
busca a si
mesmo, não
sente nenhuma vaidade nem inveja pelo
êxito de Jesus entre
seus discípulos.
Ao contrário ele
afirma: “Que Jesus cresça e eu diminua”.
Será que,
no nosso trabalho
apostólico buscamos a nós mesmos ou o bem para todos?
Com nossos
atos e pensamentos,
o que queremos edificar
para nossa vida e para a vida das pessoas
ao nosso redor?
Que sentido
nós damos para
tais atitudes?
Chegou o momento para
vivermos mais conscientes
sem movidos pelos
impulsos nem
interesses mesquinhos,
pois Deus quer nos salvar e quer nossa alegria pura e não uma alegria artificial
cuja duração
é a duração da coisa
que está sendo desfrutada.
P.Vitus
Gustama,svd
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