segunda-feira, 31 de julho de 2023

04/08/2023-Sextaf Da XVII Semana Comum

É PRECISO FICARMOS ATENTOS, POIS DEUS SE MANIFESTA NO COTIDIANO PARA A NOSSA ALEGRIA

Sexta-Feira da XVII Semana Comum

Primeira Leitura: Lv 23,1.4-11.15-16.27.34b-37

1 O Senhor falou a Moisés, dizendo: 4 “São estas as solenidades do Senhor em que convocareis santas assembleias no devido tempo: 5 No dia catorze do primeiro mês, ao entardecer, é a Páscoa do Senhor. 6 No dia quinze do mesmo mês é a festa dos Ázimos, em honra do Senhor. Durante sete dias comereis pães ázimos. 7 No primeiro dia tereis uma santa assembleia, não fareis nenhum trabalho servil; 8 oferecereis ao Senhor sacrifícios pelo fogo durante sete dias. No sétimo dia haverá uma santa assembleia e não fareis também nenhum trabalho servil”. 9 O Senhor falou a Moisés, dizendo: 10 “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra que vos darei, e tiverdes feito a colheita, levareis ao sacerdote um feixe de espigas como primeiros frutos da vossa colheita. 11 O sacerdote elevará este feixe de espigas diante do Senhor, para que ele vos seja favorável: e fará isto no dia seguinte ao sábado. 15 A partir do dia seguinte ao sábado, desde o dia em que tiverdes trazido o feixe de espigas para ser apresentado, contareis sete semanas completas. 16 Contareis cinquenta dias até ao dia seguinte ao sétimo sábado, e apresentareis ao Senhor uma nova oferta. 27 O décimo dia do sétimo mês é o dia da Expiação. Nele tereis uma santa assembleia, jejuareis e oferecereis ao Senhor um sacrifício pelo fogo. 34b No dia quinze deste sétimo mês, começa a festa das Tendas, que dura sete dias, em honra do Senhor. 35 No primeiro dia haverá uma santa assembleia e não fareis nenhum trabalho servil. 36 Durante sete dias oferecereis ao Senhor sacrifícios pelo fogo. No oitavo dia tereis uma santa assembleia, e oferecereis ao Senhor um sacrifício pelo fogo. É dia de reunião festiva: não fareis nenhum trabalho servil. 37Estas são as solenidades do Senhor, nas quais convocareis santas assembleias para oferecer ao Senhor sacrifícios pelo fogo, holocaustos e oblações, vítimas e libações, cada qual no dia prescrito.

Evangelho: Mt 13, 54-58

Naquele tempo, 54 dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? 55 Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? 56 E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?” 57 E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!” 58 E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.

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Festas Litúrgicas e Seu Sentido Para Nossa Existência Humana 

Hoje e amanhã a Primeira Leitura é tirada do livro de Levítico que faz parte do Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia) ou da Torá. Depois, seguiremos com o livro dos Números, o Deuteronômio, Josué, os Juízes e Rute.

Nas Bíblias hebraicas este livro se chama “Wayyiqra’”, (“E Ele chamou”), palavra que figura o começo do livro. Como outros livros do Pentateuco são chamados de acordo com a primeira palavra no início do livro. 

Os cristãos adotaram uma forma latinizada da palavra grega “Leveitikon” (Leviticus) que é o título dado pela Septuaginta (LXX). O título hebraico alude a uma vocação-chamado na instrução da Torá. Este livro é chamado “Levítico” porque a grande parte do livro trata do culto que era tarefa dos sacerdotes e da santidade dos próprios sacerdotes que eram considerados descendentes de Levi, um dos filhos de Jacó. Consequentemente, o que se exige também é a santidade do povo em geral para poder participar do culto. Por isso, o Levítico contém muitas prescrições relativas ao culto e à santidade da vida do povo de Israel: os sacrifícios (Lv 1-7); os sacerdotes (Lv 8-10); as regras da pureza (Lv 11-16); as normas de santidade (Lv 17-26; dentro dessas normas, encontram-se as festas do ano e do ano jubilar em Lv 23-25 onde se encontra a Primeira Leitura de hoje). 

Etimologicamente, a palavra CULTO” se deriva do latim “cultum” cujo verbo é “colere”, verbo que é rico em significados: “cultivar”, “cuidar”, “servir”, etc. Por culto se entende, pois, o serviço prestado pelo homem a forças superiores ou à divindade em que crê. Segundo a ciência da Religião, culto significa o exercício ou forma com que o homem ou uma comunidade expressa interno ou externamente suas relações com forças superiores, divindade ou Deus. A religião adquire sua forma concreta no culto que tende a expressar-se num conjunto de normas fixas ou ritos. O culto e seus ritos tendem à santificação do homem e da comunidade. A prática do culto externo exige lugares sagrados, como templos, e determinados tempos relevantes, como festas, peregrinações, etc. Para tomar parte no culto validamente são necessários um ato de iniciação e a observância de determinadas normas de pureza de culto. É uma forma de santificar-se para poder se aproximar da divindade. 

SANTIDADE, por sua vez, também se entende, no contexto do livro de Levítico, como integridade, e não apenas o mistério de Deus. A palavra “integridade” supõe a existência das partes ou componentes. Quando as partes ou os componentes estiverem bem ordenados o resultado será a santidade. A integridade e a unicidade resultam na santidade. A santidade é a resposta do homem a Deus que é santo, por excelência: “Sede santos, pois eu sou santo, eu, o Senhor, vosso Deus” (Lv 11,44-45; 19,2; 20,7.26). 

No texto de hoje nos são apresentadas (na versão Sacerdotal) as principais festas de Israel nas quais são unidos os elementos mais antigos do mundo rural e a recordação das intervenções de Deus na história da salvação: 

1. PÁSCOA (Pesah)

A Páscoa era e continua sendo a principal festa dos judeus. O ritual da Páscoa é contido no relato da saída do Egito: Êx 12, os calendários religiosos de Êx 23,15; 34,18 e 25; Dt 16,1-8; Lv 23,5-8, os rituais de Nm 28,16-25; Ez 45,21-24, o relato  de Nm 9,1-14É celebrada no primeiro mês do ano, o mês de Nisan, na qual se juntam as antigas festas agrícolas dos ázimos e dos cordeiros com a recordação da libertação da Escravidão do Egito.

2. PENTECOSTES, Festa Das Semanas (cinquenta dias)

Em Êx 23,16, a segunda grande festa anual é a da Colheita (Qatsir), exatamente da colheita do trigo, como o explicita Êx 34,22. Era um dos grandes  períodos do calendário agrícola da Palestina (Gn 30,14; Jz 15,1; 1Sm 6,13; 12,17). Ela era a verdadeira festa das primícias da colheita, uma festa alegre (cf. Dt 16,11; Is 9,2). O ritual mais desenvolvido é o de Lv 23,15-21: a partir do dia seguinte ao sábado em que é apresentado o primeiro feixe se contam sete semanas completas até o dia seguinte ao sétimo sábado, isto é, cinquenta dias. Daí vem o nome Pentecostes, o “qüinquagésimo” dia. 

Tardiamente, a festa das Semanas foi ligada à história da salvação. Utilizando a indicação de Êx 19,1, segundo a qual os israelitas chegaram ao Sinai no terceiro mês após sua saída do Egito, faz-se da festa das Semanas comemoração da Aliança.

3. A FESTA DAS TENDAS ou TABERNÁCULOS

A terceira das grandes festas anuais é chamada a festa dos Tabernáculos ou a festa das Tendas, ou das Cabanas (sukkot). Ela era a mais importante e mais frequente das peregrinações anuais ao santuário. Lv 23,39 a chama a “festa de Iahve” (cf. Nm 29,12). Também é celebrada no sétimo mês, por ocasião da colheita quando se recorda a marcha pelo deserto, construindo para uns dias umas cabanas no campo. Ela é uma peregrinação ao santuário único, Jerusalém, e ela dura sete dias. Os fiéis, vindos de todo o reino, fazem uma festa de sete dias e, no oitavo dia, Salomão os manda de volta para suas casas (1Rs 8,65-66).

4. A FESTA DA EXPIAÇÃO (Yom-Kippur), no sétimo mês, já no outono, com ritos de penitencia e oferenda de sacrifícios. É o “dia das expiações”. Yom Kippur é atualmente uma das grandes solenidades do Judaismo. Este é um dia de repouso completo, de penitência e de jejum, que tem uma assembleia no Templo e sacrifícios particulares: se faz expiação pelo santuário, os sacerdotes e o povo. 

Em cada uma destas festas é convocada uma assembleia litúrgica, oferecendo sacrifícios a Javé e ao mesmo tempo se abstém do trabalho. 

O Salmo Responsorial (Sl 80) ressalta, sobretudo, a parte litúrgica: “Cantai salmos, tocai tamborim, harpa e lira suaves tocai! Em teu meio não exista um deus estranho nem adores a um deus desconhecido! Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor, que da terra do Egito te arranquei”. 

Em todas as culturas e religiões, a festa é um elemento valioso na dinâmica da vida da fé comunitária. Também nós cristãos damos importância à celebração de nossas festas, algumas das quais são herança das festas de Israel, mas com conteúdo cristão. Celebramos o domingo cada semana, que uma vez ao ano se converte na Páscoa do Senhor, com sua morte e ressurreição, preparada pela Quaresma e prolongada durante cinquenta dias festivos que termina com Pentecostes. Ao longo do ano celebramos outras festas do Senhor, da Virgem Maria e dos Santos. 

Qual é a função destas festas para nós cristãos? As festas litúrgicas nos ajudam no nosso caminho de fé: 

1. Para despertar nossa memória de povo redimido por Deus em Jesus Cristo.

2. Para alimentar nossa identidade e nosso sentido de pertença à Igreja do Senhor.

3. Para dar à nossa existência uma dimensão de alegria rompendo a rotina da vida cotidiana.

4. Para nos ajudar a nos libertar da escravidão do tempo e do trabalho.

5. Para atualizar e fazer presente o acontecimento que celebramos: o Deus, em outro tempo, se mostrou Salvador, continua oferecendo a salvação para todos nós, seu povo. A Páscoa de Jesus não terminou. Ela é comunicada também a nós hoje, em sua celebração anual e na Eucaristia diária.

6. A festa é memória e presença e, ao mesmo tempo, anúncio do futuro, porque Cristo nos prometeu que estará conosco todos os dias até o fim dos tempos (Mt 28,20).

7. Também em nossas celebrações humanas: aniversário, bodas de prata e ouro, celebrar um festa é celebrar o passado, o presente e o futuro, o que dá a nosso caminho pela vida um sentido e uma força especiais.

Nossa festa é uma Pessoa: Jesus, o Senhor Ressuscitado. Em torno d’Ele nos reunimos para celebrar a Eucaristia diária, o domingo semanal e as festas anuais. Com isso vamos participando da vida do Senhor e encontramos o sentido de nosso caminho até a festa eterna do céu, o banquete do céu. A alegria cristã tem sua fonte na contínua presença de Cristo (cf. Mt 28,20). Para São Paulo, nenhum obstáculo ou dificuldade é capaz de impedir a verdadeira alegria, pois ela é um dos frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5,22). 

Deus Está No Nosso Cotidiano: Prestemos bem a Atenção Sobre Esta Presença Misteriosa

“‘Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria... Então, de onde lhe vem tudo isso?’. E ficaram escandalizados por causa dele”. 

Os conterrâneos de Jesus, os nazarenos, acham conhecer Jesus, mas na verdade eles não O conhecem na sua profundidade. Não há nada que seja tão perigoso do que a pretensão de saber de tudo. Uma pessoa que tem essa pretensão se fecha em si mesma e deixa de aprender. A humildade sempre nos move a aprender mais para poder partilhar com os demais. “Você sabe? Então, ensine. Você não sabe, então, aprenda”, dizia Confúcio que viveu quinhentos anos antes de Cristo. Para ter resultados extraordinários precisamos ter humildade para aprender. A falta da humildade impede alguém de aprender mais e de continuar a crescer e impede alguém de ser irmão do outro. A pessoa que se fecha em si se torna conservadora. Todo conservador não tem futuro, pois não aceita qualquer novidade. Ela acha que não tenha mais nada para aprender. Certamente essas pessoas são os familiares de Jesus; são os mais próximos de Jesus.

Tenho medo de que essas pessoas sejamos nós também. Nós que achamos seguidores de Jesus, frequentadores de cultos ou celebrações, mas não queremos andar ou caminhar atrás de Jesus para segui-Lo. A palavra “seguir” supõe movimento, dinâmica, peregrinação. O verdadeiro seguidor é aquele que sempre olha para aquilo que seu Mestre faz, e escuta aquilo que o Mestre diz e ensina. O verdadeiro seguidor é aquele que mantém a mente e coração abertos, disponíveis, e prestes a renunciar tudo para aprender além do que já sabe ou supostamente sabe. Só seguindo atrás de Jesus é que poderemos ver muito mais coisas na vida e entenderemos o significado de cada coisa e acontecimento. Quem vive dentro de quatro paredes vê sempre as mesmas coisas e por isso, não há surpresa nem novidade. Ao sair do quatro para ir à rua, começam as surpresas para sua vida. 

Não é ele o filho do carpinteiro?”. Os nazarenos reprovam a origem humilde de Jesus. Para eles, Jesus é nada mais do que um simples filho de um carpinteiro. Por ser filho de um carpinteiro, as palavras de Jesus não valem para eles embora nelas se encontrem toda a verdade. É preciso sabermos distinguir quem fala e o que se fala. Se na fala de alguém, mesmo que não gostemos dele, contém verdade, temos que reconhecer e aceitar essa verdade. Jesus nos deu o seguinte critério: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23,3). Não podemos estar do lado de ninguém e sim do lado da verdade e do amor. Podemos estar do lado de qualquer um, mas temos que mostrar a verdade e o amor para ele. Os nazarenos esperam um Messias cheio de glória e poder; um messias misterioso, celestial e transcendente. Mas Deus não encaixa em nossas ideias estereotipadas. Deus cabe no nosso coração, mas não cabe na nossa cabeça, pois o coração sente aquilo que os olhos não veem. O coração compreende quando a mente se tranquiliza. Além disso, é preciso que ouçamos aquilo que alguém diz e não para aquele que o diz.

Os nazarenos preferem a imagem de Deus que eles têm na cabeça ao próprio Deus. Para eles, Jesus é cotidiano demais para ser Deus. Este é o maior perigo para qualquer adepto de qualquer religião ou Igreja: identificar a imagem que tem de Deus com o próprio Deus. Por isso, vale a pena cada um fazer esta pergunta: “A imagem de Deus que você tem será que é o próprio Deus?”. Muitas vezes abandonamos o próprio Deus para ficar com a imagem que achamos que seja Deus. Muitas vezes condenamos os outros a partir da imagem de Deus que temos. Quem sabe que os que se acham crédulos são muito mais incrédulos como os próprios conterrâneos de Jesus.

 Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!”.  E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé. As pessoas da cidade de Jesus (vilarejo de Nazaré), do lugar de seu trabalho não se dispõem de tempo para meditar se ali há um Profeta ou mais que um Profeta. Basta-lhes a vida rotineira. Falta-lhes a fome da verdade. Falta-lhes o discernimento. Falta-lhes a reflexão sobre a realidade. Deus se manifesta no nosso cotidiano sem espetáculo, como o vento que ao vemos, mas sentimos o efeito de sua presença ou de sua passagem. E a novidade do Reino trazida por Jesus suscita neles apenas dúvidas, suspeitas e gozação. É o grande desafio da própria encarnação. É o grande mistério da fé. A fé somente floresce em campos fecundos que se deixam regar com chuva do céu. Os mistérios de Deus somente são compreendidos com coração, pois o coração sente aquilo que a inteligência desconhece. 

Ao longo da história tem tido muitas pessoas inspiradas por Deus para denunciar situações injustas e más condutas. Algumas são conhecidas. Mas há muitíssimos profetas anônimos, gente que se atreve a denunciar o que é injusto e desonesto. Muitos desses profetas pagam com a própria vida pela denúncia feita, pois os que defendem os próprios interesses, e não os interesses comuns não têm piedade de eliminar quem os denuncia. 

Uma das funções como batizados é a função profética: anunciar o bem e denunciar o mal. Um batizado não pode ficar em silêncio diante da desonestidade e da injustiça. O silêncio nos faz cúmplices. Somos chamados a ser profetas na nossa atualidade. 

Não somente somos chamados a denunciar, mas também a ouvir os que denunciam. Quem sabe que dentro dessa denúncia estamos nós também, pois muitas vezes nos sentimos tão cômodos em nossa vidinha tão perfeitamente organizada, em nossas próprias ideias tão formadas e preestabelecidas, em nossa maneira inflexível de entender as coisas, em nossa imagem estática de Deus que nos fazem surdos diante do apelo do Espírito de Deus para fazer e seguir o bem. Se há verdade na denúncia, temos que agradecer a Deus, pois é um chamado para voltarmos a trilhar o caminho do bem. Fé é caminhada. Quando ficamos incomodados, paramos de ter fé. É mais cômodo crer em um Deus todo-poderoso que controla tudo o que ocorre do que em um Deus que sofre com seus filhos, que é crucificado para salvar os outros filhos de Deus, e em um Deus que nos criou para que resolvamos as injustiças do mundo. No ritmo da velocidade do avanço tecnológico precisamos estar atentos para ver e ouvir o que Deus quer nisto tudo. Não tapemos nossos ouvidos nem fechemos nossos olhos nem paralisemos nossa mente. Precisamos tempo todo estar atentos ao que ocorre para que possamos nos posicionar como filhos e filhas de Deus, luz do mundo e sal da terra. Precisamos ter muita flexibilidade e disponibilidade para acolher aquilo que Deus nos quer dizer, inclusive através de quem menos esperamos, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer e por quem quer. 

Pare e verifique, Deus se manifesta na nossa vida cotidiana. Pergunte-se: “De que maneira Deus se manifesta a mim hoje? O que Ele quer me manifestar? Para que Ele se manifesta?”. Estejamos todos atentos. Em cada momento Deus se manifesta a nós.

P. Vitus Gustama,svd

03/08/2023-Quintaf Da XVII Semana Comum

ESFORÇAR-SE PARA SER SELECIONADO POR DEUS NO FIM DA CAMINHADA DE NOSSA VIDA AQUI NESTE MUNDO

Quinta-Feira da XVII Semana Comum

Primeira Leitura: Ex 40,16-21.34-38

Naqueles dias, 16 Moisés fez tudo o que o Senhor lhe havia ordenado. 17 No primeiro mês do segundo ano, no primeiro dia do mês, o santuário foi levantado. 18 Moisés levantou o santuário, colocou as bases e as tábuas, assentou as vigas e ergueu as colunas. 19 Estendeu a tenda sobre o santuário, pondo em cima a cobertura da tenda, como o Senhor lhe havia mandado. 20 Depois, tomando o documento da aliança, depositou-o dentro da arca e colocou sobre ela o propiciatório. 21 E, introduzindo a arca no santuário, pendurou diante dela o véu de proteção, como o Senhor tinha prescrito a Moisés. 34 Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o santuário. 35 Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor tomava todo o santuário. 36 Em todas as etapas da viagem, sempre que a nuvem se elevava de cima do santuário, os filhos de Israel punham-se a caminho; 37 e nunca partiam antes que a nuvem se levantasse. 38 Pois, de dia, a nuvem do Senhor repousava sobre o santuário, e de noite aparecia sobre ela um fogo, que todos os filhos de Israel viam, em todas as suas etapas.

Evangelho: Mt 13, 47-53

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47 “O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes. 51 Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52 Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.

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Deus Caminho Conosco Para a Terra De Liberdade

Em todas as etapas da viagem, sempre que a nuvem se elevava de cima do santuário, os filhos de Israel punham-se a caminho; e nunca partiam antes que a nuvem se levantasse. Pois, de dia, a nuvem do Senhor repousava sobre o santuário, e de noite aparecia sobre ela um fogo, que todos os filhos de Israel viam, em todas as suas etapas”. 

Estamos no último capítulo do livro de Êxodo. Começamos o livro de Êxodo com a imagem da opressão pelas mãos de Faraó, símbolo dos poderosos mundanos e tiranos. Agora terminamos o livro com a visão de um povo livre, que marcha, e é protegido e guiado por Javé (Deus) até a terra prometida. Quando caminharmos com Deus e contar com Ele, nossa vida sempre termina na libertação e na liberdade.

“Livre” é o conceito contraposto a “escravo”. A liberdade se opõe à escravidão. O homem livre se contrapõe ao escravo. Deus é Libertador do homem. Deus liberta seu povo da escravidão do Egito (Ex 9,5). Esta libertação do povo coincide com sua constituição como povo de Deus e como povo independente. Todos os demais atos libertadores de Deus narrados na Bíblia não são mais que atos continuadores deste grande ato libertador. Os profetas, mais tarde, se convertem nos grandes proclamadores da liberdade e em grandes defensores dos direitos dos pobres, dos débeis, dos explorados. Jesus Cristo aparece como o grande Libertador de todos os homens (Lc 4,19.21; Jo 8,31-39). A atuação do Espirito Santo leva consigo a liberdade (Rm 8,2; 2Cor 3,17; Gl 5,1). Porque somos filhos de Deus, então somos homens livres (Rm 8,21). Se assim é, então temos que lutar para que nada nem ninguém nos escravize. “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). 

A Primeira leitura nos diz que o povo de Israel cumpriu a ordem de Javé. O autor sacerdotal desta narração tem muito presente o Templo de Salomão. Moisés edificou o tabernáculo/santuário do deserto e o santificou depositando nele os objetos sagrados da comunidade: a arca com o testemunho da aliança, os pães sagrados, o candelabro, o altar dos perfumes. É a ordem habitual nos templos semitas. 

O santuário era o sinal da presença de Javé no meio de seu povo. Por isso, Moisés, o mediador, não terá necessidade de entrar nele. Javé está ali como um a mais que habita e marcha com o povo e compartilha sua luta e sua vida. 

Apesar desse cumprimento histórico, nosso relato não deixa de ser uma imagem da plena realização da presença de Deus em Jesus Cristo, a própria Palavra de Deus que se fez homem e plantou sua tenda entre nós e nos permitiu vermos sua glória. 

Além disso, no texto da Primeira Leitura fala-se da tenda. Tenda é um abrigo frágil e transportável, que se desmonta para cada partida e se remonta para cada nova etapa, na nova parada. Nesta desmontagem e remontagem Deus sempre faz presente: “Em todas as etapas da viagem, sempre que a nuvem se elevava de cima do santuário, os filhos de Israel punham-se a caminho; e nunca partiam antes que a nuvem se levantasse”. Estas frases querem nos dizer que o Deus de Israel é um Deus que “faz caminho” com seu povo. Ele é invisível, mas está presente. E Ele aceita que os homens materializem um lugar, como santuário, que simbolize Sua Presença. Deus não abandona seu povo por seu infinito amor. Na nossa caminhada diária sempre está presente misteriosamente Deus que nos acompanha. Jamais estamos sozinhos. Estamos bem acompanhados (Cf. Mt 28,20). É sempre bom termos consciência disso. O reconhecimento da presença misteriosa de Deus na nossa caminhada diária nos potencia para encararmos qualquer dificuldade para alcançar nossa liberdade de filhos de Deus. A fé na presença permanente de Deus nos faz crermos no incrível e impossível e nos faz vermos o Invisível no nosso cotidiano e, consequentemente, nos faz realizarmos o impossível. O Corpo de Cristo é a verdadeira presença de Deus entre nós, em todas as etapas da vida, em todos os lugares da terra: “Tomai todos e comei, isto é o Meu Corpo. Tomai todos e bebei. Isto é o meu sangue!”. 

O aspecto misterioso da presença de Deus se enfatiza com a presença de “nuvem” e de “fogo”. Deus não se vê. Vê-se somente uma “nuvem”. Deus é misterioso. Na transfiguração, Jesus e seus apóstolos foram também envoltos por uma nuvem luminosa, evocação da divindade. E “... de noite aparecia sobre ela um fogo”. Aqui o “fogo” também é símbolo de Deus. Sabemos que esse “fogo” veio ao coração dos homens: no dia de Pentecostes o fogo encheu a Igreja. 

Em todas as etapas da viagem, sempre que a nuvem se elevava de cima do santuário, os filhos de Israel punham-se a caminho; e nunca partiam antes que a nuvem se levantasse”. É interresante observar que o povo eleito, para chegar à Terra prometida, sempre olha para o sinal da presença de Deus em forma de a nuvem elevada de cima do santuário antes da partida. Durante o dia percebe a presença de Deus em forma de a nuvem e à noite em forma de fogo. O povo eleito está sempre atento aos sinais de Deus. É preciso olharmos para cima (para o céu) para podermos caminhar na direção certa neste mundo rumo à Casa Comum que é o Céu para estarmos em comunhão plena com Deus. Estejamos atentos aos sinais divinos de cada dia para viver a cada dia na sua profundidade.

A Igreja de Cristo é um povo peregrino, em marcha. Neste caminho nós nos sentimos acompanhados por Deus. Ele nos enviou Seu Filho, o Deus-Conosco, que “plantou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Pensando na Igreja a que pertencemos, podemos fazer nosso o Salmo 83: “Felizes os que habitam em vossa casa; para sempre haverão de vos louvar! Felizes os que em vós têm sua força, caminharão com um ardor sempre crescente”. Somos povo nômada, mas caminha ao nosso lado o Deus da Aliança, o Deus de Jesus. O próprio Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Na Igreja-Comunidade, de modo particular, na Eucaristia, o sacramento mais entranhável da proxoximidade do Senhor Ressuscitado, no qual Ele próprio se dá a nós como alimento para o caminho (viático). Não somente durante a celebração eucarística, mas ao longa da jornada, com sua presença eucarística prolongada no sacrário de nossas igreja e capelas. 

Mas será que sentimos a presença misteriosa de Deus, mas real na nossa vida diária? Será que captamos os apelos de Deus diariamente? 

Esforçar-se Para Ser Contado Entre Os Escolhidos

No fim dos tempos os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo”. 

Estamos ainda no discurso de Jesus sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Desta vez Jesus conta uma parábola sobre a rede na pescaria em que no fim haverá a seleção entre os peixes bons e os peixes que não prestam: “Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam”. 

Na vida cotidiana sempre selecionamos e escolhemos o que é bom ou o que é melhor.  Selecionamos boas amizades. Selecionamos algo de bom ou de melhor para comprar, para comer, para morar, selecionamos roupa melhor, e assim por diante. Vivemos selecionando o que é bom ou o que é melhor. O bom ou o melhor é sempre o objeto do apetite ou do desejo do homem, qualquer que seja esse objeto. O ruim é, ao contrário, o objeto de ódio ou de aversão do homem. Mas nem tudo o que desejamos é bom, mas tudo o que é bom sempre desejamos. A bondade atrai, pois ela agrada e edifica. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Por possuir a bondade, um ser que a tem é capaz de dar a outro a perfeição que lhe falta. 

Quando Jesus compara o Reino de Deus a uma rede que é lançada sobre todos, mas que só os peixes bons são selecionados, ele está dizendo que se trata de uma coisa seletiva, em que a bondade é que tem valor e permanece para sempre. A bondade é sinal de amabilidade. Quem ama porque é bom. Quem é bom, ama.  A bondade é algo que em si tem algo divino, pois Deus é a Bondade por excelência. Por isso, a bondade tem uma marca de eternidade. 

Os maus, ao contrário, vão fazer parte de outro reino, onde as pessoas somente vão odiar-se, segundo Jesus. A expressão: Chorar e ranger os dentes” mostra bem como é a pessoa que odeia: vive como que rangendo os dentes. Eternamente infeliz. A frustração definitiva do homem (pranto e ranger de dentes) é perder a vida para sempre. A grande frustração do homem é sua incapacidade de viver na bondade, no bem, na compaixão, na simplicidade, na solidariedade. A bondade atrai. A simplicidade atrai. A arrogância, a prepotência, o orgulho, o complexo de superioridade afasta as pessoas e mata a caridade e a igualdade, elimina a comunhão fraterna e afasta os demais. Qualquer arrogante, prepotente, orgulhoso, ambicioso vive na tremenda solidão. Viver é conviver. Através da convivência saudável é que podemos crescer como seres humanos. Até a própria vulnerabilidade da convivência nos ajuda a crescermos como pessoas saudáveis. 

A parábola da rede lida neste dia se refere ao julgamento final. A imagem da pesca ilustra a dinâmica do Reino de Deus feita de perdas e ganhos. Uma vez a rede lançada ao mar, a pescaria já não depende da vontade do pescador. Cada lançada de rede é uma surpresa. A seleção será feita somente no final da pescaria, quando os peixes bons são colocados em cestas, enquanto os maus são jogados fora. 

A parábola propõe a todos nós a sorte final, para orientar-nos na decisão presente. Quando soubermos para onde vamos, saberemos também escolher por onde devemos caminhar (saber escolher o caminho). Os únicos que chegam à vida em plenitude, pela misericórdia de Deus, são os que produzem fruto bom nesta vida; são os que em si tem a marca de eternidade como a bondade, o amor, a compaixão, a solidariedade e assim por diante. Tudo que tem algo divino em mim e na minha vivência será reconhecido por Deus (cf. Mt 25,31-46). A sabedoria cristã consiste no discernimento dos verdadeiros valores do Evangelho como amor, partilha, solidariedade, compaixão, perdão, honestidade, justiça, paz etc., e em sua aplicação para as circunstâncias atuais. Há que estabelecer uma escala de valores para que cada cristão possa orientar sua maneira de viver no presente. Os outros valores devem estar subordinados em função dos valores superiores do Reino de Deus. 

Mas ao mesmo tempo, esta parábola quer nos recordar que somente Deus tem a competência na seleção entre os bons e os maus no fim de cada história. Cristão nenhum tem condições para classificar quem vai para o céu e quem não vai para lá, pois sua própria salvação ainda não está garantida, pois ele continua sendo pessoa capaz de pecar em qualquer momento. É preciso olharmos para cada ser humano como filho(a) de Deus e nosso irmão. Como dizia Santo Agostinho: “Amando ao próximo tu limpas os olhos para ver a Deus” (In Joan. 17,8). Quanto mais santo for o homem, mais se reconhecerá como pecador. A conversão não é uma carreira acabada. A conversão é diária, pois somos capazes de optar por outros valores em nome de algum interesse não-cristão. Deixemos Deus determinar a qualidade de cada um e não nos arroguemos pelas qualidades que temos, pois tudo de bom em nós tem sua origem no Supremo Bem que é Deus. Tudo de bom em nós deve ser partilhado para com os outros. Fazemos tudo de bom, porque Deus da bondade faz isso. “Faze o que deves fazer. E faze-o bem. Esta é a única norma para alcançar a perfeição”, dizia Santo Agostinho (In ps. 34,2,16). Somos prolongamento da generosidade do Deus-Criador que criou tudo para o bem da humanidade gratuitamente. Temos apenas o direito de usufruto. Esse direito cessará neste mundo cessará quando terminar nossa caminhada na história.

Deus tem paciência para esperar os frutos bons de cada um de nós. a história é o tempo para crescermos no bem e na bondade e para nos amadurecermos como filhos e filhas de Deus.  Primordialmente, somos bons porque tudo o que Deus criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Deus aguarda a colheita, não diminuída por prematuras intervenções de escolha. Só então, no fim, haverá a colheita, com base na realidade de ser grão ou joio/cizânia, peixe bom ou mau, de ser caridoso ou egoísta. É uma advertência eficaz, embora tácita: Deus é paciente com todos e deixa aos pecadores, cada um de nós, tempo para amadurecer sua conversão; Deus sabe esperar a livre decisão do homem, cabe a cada um escolher ser bom grão e bom peixe e não peixe imprestável. 

Portanto, é prudente premunir-se, pensar enquanto é tempo, decidir-se a fazer o bem, ser útil aos outros, ser peixe bom, ser selecionado por Deus no fim de nossa história, pois “No fim dos tempos os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo”. 

Quando chegar o fim do mundo, então aparecerá com toda a clareza a separação dos peixes. E os bons, como num tranquilíssimo porto, serão levados aos cestos das mansões celestes, e a chama da geena receberá os maus para torrá-los e dessecá-los” (Rábano Mauro, Padre da Igreja). 

Os eleitos serão recebidos nos tabernáculos eternos, e os maus, depois de terem perdido a luz que iluminava o interior do reino, serão arrastados para as trevas exteriores, porque agora a rede da fé contém igualmente, como os peixes misturados, a todos os maus e bons. Mas a margem indica o que trazia a rede da Igreja” (São Gregório Magno: Homiliae in Evangelia, 11,4).

P. Vitus Gustama, SVD

02/08/2023-Quartaf Da XVII Semana Comum

DEUS E SUA PALAVRA SÃO NOSSOS TESOUROS QUE RESPLANDECEM NOSSA VIDA COTIDIANA E NOS TRAZEM A FELICIDADE

Quarta-Feira da XVII Semana Comum 

Primeira Leitura: Ex 34,29-35

29 Quando Moisés desceu da montanha do Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da aliança, não sabia que a pele de seu rosto resplandecia por ter falado com o Senhor. 30 Aarão e os filhos de Israel, vendo o rosto de Moisés resplandecente, tiveram medo de se aproximar. 31 Então Moisés os chamou, e tanto Aarão como os chefes da Comunidade foram para junto dele. E, depois que lhes falou, 32 todos os filhos de Israel também se aproximaram dele, e Moisés transmitiu-lhes todas as ordens que tinha recebido do Senhor no monte Sinai. 33 Quando Moisés acabou de lhes falar, cobriu o rosto com um véu. 34 Todas as vezes que Moisés se apresentava ao Senhor, para falar com ele, retirava o véu, até a hora de sair; depois saía e dizia aos filhos de Israel tudo o que lhe tinha sido ordenado. 35 E eles viam a pele do rosto de Moisés resplandecer; mas ele voltava a cobrir o rosto com o véu, até o momento que entrava para falar com o Senhor.

Evangelho: Mt 13,44-46

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44 “O Reino do Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45 O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola”.

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Quem se Aproxima De Deus Se Torna Próximo Dos Homens 

Outra vez Moisés subiu ao monte Sinai para se encontrar com Deus a fim de pedir o perdão pela infidelidade do povo e lá ficou durante quarenta dias e quarenta noites em jejum (Ex 34,28). Durante a conversa com Deus a pele do rosto de Moisés se tornou brilhante, e o povo percebeu isso quando desceu do monte com duas novas tábuas da lei. O rosto brilhante de Moisés na conversa com Deus é o símbolo de sua autoridade perante Deus. Além disso, que se aproxima de Deus se torna reflexo da Luz de Deus. Quem se aproxima de Deus se transfigura. Moisés foi rejeitado pelo povo, mas foi ele que restaurou a aliança. Seu rosto brilhante é o símbolo de sua função divina diante do povo. A luz de Deus repousa sobre ele para guiar o povo eleito. 

Mais uma vez o livro de Êxodo quer ressaltar que Moisés atua de mediador que intercede diante de Deus pelo seu povo e a este ele comunica a Palavra de Deus. Isto quer nos dizer que Moisés é um homem de Deus e um homem do povo, simultaneamente. Ele é próximo dos dois: de Deus e dos homens. Ele é tão próximo de Deus a ponto de ser tão próximo dos homens. Ele é tão de Deus a ponto de o povo perceber isso (o rosto brilhante de Moisés). Por isso, o Salmo diz dele: “Eis Moisés e Aarão entre os seus sacerdotes... Da coluna de nuvem falava com eles. E guardavam a lei e os preceitos divinos, que o Senhor nosso Deus tinha dado” (Sl 98). 

Hoje em dia, ironicamente, com a tecnologia “aproximamos” quem está distante e distanciamos quem está próximo. Cada um se torna uma pessoa invisível para outra pessoa. Somos incapaz de largar a tecnologia como celular ou computador etc. para poder conversar cara a cara com o outro. Perdemos aos poucos o que é mais importante e o que é menos importante; o que é essencial e o que é secundário. Quando tudo se acha como importante é possível que nada seja importante. Quando perdemos a escala de valores, tudo se torna importante, menos o essencial. A tecnologia nos instrumentaliza para ficar cada vez mais isolados dos outros, em vez de instrumentalizarmos a tecnologia para nos aproximarmos mais dos outros. Com isso deixamos de ser próximos dos outros. A consequência de ser próximo de Deus é ser próximo dos homens. Nunca podemos procurar Deus para fugir dos homens. O próximo é o caminho obrigatório para chegar até Deus. O mandamento do Senhor “Ame o seu próximo como a si mesmo” devemos levar em conta e devemos fazer uma nova leitura sobre o mesmo. 

Quem Contempla Deus Se Torna Reflexo Divino Para Os Outros 

Quando Moisés desceu da montanha do Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da aliança, não sabia que a pele de seu rosto resplandecia por ter falado com o Senhor. Aarão e os filhos de Israel, vendo o rosto de Moisés resplandecente, tiveram medo de se aproximar”, assim relatou o autor sagrado. 

No monte Sinai Moisés ficou quarenta dias e quarenta noites em oração, solidão e experiência religiosa. E quando Moisés desceu do monte, com duas tábuas da lei na mão, todos notaram que seu rosto ficou brilhante, resultado da luz de Deus. Isto quer nos dizer que viver com Deus, de modo mais profundo e explícito, durante um tempo prolongado não pode deixar de transformar um homem. O homem que mantém contato com Deus se torna luz para o próximo. “Vós sois a luz do mundo!” (Mt 5,14). 

O rosto resplandecente de Moisés merece uma contemplação. O melhor que podemos fazer para iluminar os outros é ter um rosto resplandecente. O rosto é a janela que dispomos para revelar aquilo que temos dentro do coração. Podemos esconde algo dentro de nosso coração, mas o nosso rosto vai falar por nós daquilo que sentimos e com algo que nos deixa preocupados. Um rosto iluminado é como um discreto brilho de Deus em meio da noite de nossas palavras. Os rostos resplandecentes nos ajudam a caminhar nas trevas da descrença. Os melhores planos de evangelização são aqueles que ajudam as pessoas a tem um rosto brilhante a fim de iluminar os outros, são os que têm um rosto sereno, alegre e iluminado. Uma das melhores maneiras para comunicar uma Boa Nova é dispor de um rosto iluminado, de um rosto sereno e alegre. 

Para que tudo se concretize temos que consagrar também tempo não só para a ação, mas também para a oração e contemplação, de maneira pouco prolongada, sem pressa. É preciso mantermos o essencial em nossa vida, gerirmos bem nosso tempo para evitar a síndrome do desgaste. Paradoxalmente, a velocidade necessita também de lentidão, pois não é questão de correr com velocidade e sim de saber para onde se vai. Se você sempre faz o que sempre fez, vai sempre conseguir o que sempre conseguiu”, dizia Abraham Lincoln (If you always do what you always did, you will always get what you always got). 

Moisés tirou o véu para falar com Deus, isto é, falar com o coração e a alma bem abertos. Como também na sarça ardente, ele se aproximou de Deus sem sandálias, pois o terreno onde ele estava pisando era sagrado. Diante de outras coisas se pode esconder o rosto, mas diante de Deus não. O rosto em oração se transfigura, como aconteceu com Moisés. 

Mas Moisés não é somente um homem de oração. Ele também é um homem de ação. Por isso, ele desceu do monte de solidão, de solidão e de experiência religiosa ao encontro dos irmãos. Ele leva a experiência da conversa com Deus para seus irmãos. A maioria dos grandes místicos foram também homens e mulheres sumamente ativos. 

Não fiquemos na montanha da oração. Desçamos para o vale da missão e do trabalho. Sejamos ao mesmo tempo pessoas de oração e de ação. Pessoas de Deus são pessoas que se entregam à missão e ao trabalho de evangelização. Um evangelizador é um homem ponte entre Deus e a humanidade. De Deus ele aprende algo sagrado para consagrar a humanidade para Deus, como Moisés que sempre leva o povo para se encontrar com Deus e obedecer às Suas leis. 

Nós que entramos em comunhão com o Senhor pela oração e sobretudo, pela Eucaristia logo devemos ser reflexos do Senhor para os outros em nosso modo de atuar na vida. 

Deus e Sua Palavra São Nossos Tesouros Incalculáveis 

O Reino de Deus é como um tesouro escondido, como uma pérola de incalculável valor”, assim Jesus diz no discurso sobre o Reino de Deus em parábolas no texto do evangelho deste dia.  

 As inúmeras guerras, que aconteceram em Palestina, levavam muitas pessoas a enterrar seus tesouros valiosos por motivo de segurança contra os ladrões. E o homem assalariado que trabalha no campo alheio, ao encontrar o tesouro, o enterrou novamente e guardou o segredo. E vende tudo para comprar o campo por esse tesouro valioso. A mesma reação aconteceu com o comprador da pérola: vende tudo para possuí-la. Mas acentua-se a alegria dos dois em fazer isso.

Lemos no dicionário que tesouro é o conjunto de riquezas de qualquer tipo (p.ex., dinheiro, joias, pedras e metais preciosos, bens valiosos) guardadas ou escondidas. E pérola é a concreção densa e de coloração levemente prateada, que se forma nas conchas de diversos moluscos, a partir da deposição de material nacarado sobre uma partícula qualquer, como um grão de areia ou um parasita. As pérolas cultivadas são produzidas por ostras. Pérola é um material valioso. Também nós chamamos uma pessoa de sólidas qualidades morais e éticas de pérola ou de tesouro. “Você é minha pérola. Você é meu tesouro”, assim ouvimos alguém falar para o outro.

“Venderam tudo que possuíam para comprar o campo onde o tesouro está escondido e para comprar a pérola preciosa”, assim relatou Mateus no evangelho de hoje. 

Aqueles homens venderam tudo tão espontaneamente só para ficar com o tesouro ou a pérola preciosa sem sentir nenhum sacrifício, mas com uma decisão alegre por causa de uma coisa valiosa. Tudo o que é bom, belo, digno, ético, puro sempre nos atrai e para nossos passos para contemplá-lo. Uma pessoa com sólidas qualidades éticas e morais atrai a simpatia de qualquer pessoa e atrai a bênção de Deus, pois Deus é o supremo Bem. Ninguém resiste diante da bondade, diante de uma boa educação, diante de uma gentileza e assim por diante. Tudo o que é ruim nos afasta e afasta até a bênção do Senhor toda vez que essa bênção se aproximar da pessoa. 

É assim também a fé. A fé é um enamoramento de Deus, é uma sedução: “Você me seduziu, Senhor; e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7). Tudo o que é divino e que nos salva sempre nos atrai e nos convida a nos aproximarmos dele. O Reino arrebata quem o encontrou, gera a grande alegria e orienta toda a vida da pessoa até a comunhão plena com Deus. A partir deste tesouro que é O Reino de Deus, todo o resto se ordena e adquire o seu valor próprio. O Reino de Deus começa, então, a orientar a vida de quem o descobriu. A verdadeira fé orienta nossa maneira de viver. 

Venderam tudo que possuíam…” 

Tanto o tesouro escondido como a pérola preciosa expressam o que o Reino de Deus deve ser para o discípulo/cristão: algo absoluto. A exigência é radical, tudo o mais deve ser colocado em relação com o Reino. Em outras palavras, pode-se dizer que a experiência do amor de Deus relativizam todo valor até então conhecido. A partir de então, o valor do Reino serve de ponto de referência e de avaliação para resto. Uma vez que tiver sido descoberto o Reino de Deus em todo o seu valor, o resto se torna relativo no seu valor. 

Nesta parábola, nem o homem que encontrou o tesouro nem aquele que descobriu a pérola sentem falta do que antes possuíam e que venderam. A riqueza do que acharam é de tal ordem que compensa tudo o que tinham. A mesma coisa acontece com os que descobrem ou encontram o seu caminho pessoal para Deus: abandonam tudo e encontram tudo, porque Deus é tudo. Quem, pela mensagem de Cristo, encontra Deus renuncia jubilosamente a tudo. Tal verdade somente pode ser experimentada pela própria vida. Por isso, eles podem renovar tudo, acabar com a rotina de sua vida e começam a olhar mais longe e mais alto. E quem encontra Cristo expande a alegria e o otimismo para todos. 

A vida cristã se apresenta muitas vezes como um constante exercício de renúncia: renunciar aos bens materiais para não ser possuídos por eles a fim de manter-se livre como seguidor de Cristo; renunciar aos prazeres desenfreados da vida, pois quem vive somente em função do prazer é porque não tem prazer de viver, e quem só sabe se satisfazer é incapaz de satisfazer os outros; renunciar às comodidades, pois a vida continua nos empurrando por dentro; renunciar à ambição. Renunciar, renunciar, renunciar... 

Não se deve confundir com o que se chama um caminho de perfeição, um método para chegar a ser santo. O projeto de Jesus não é um projeto dirigido unicamente ao indivíduo, e sim orientado para a transformação da maneira de viver de toda a humanidade. 

Por isso, quando Jesus apresenta as bem-aventuranças que constituem o núcleo de seu programa não diz àqueles que o escutam que serão mais santos se fizerem tudo que ele fala, e sim que serão felizes. É a felicidade dos homens, de todos os homens e de cada um deles em particular o que preocupa Jesus, porque essa é a principal preocupação do Pai. O projeto de Jesus é a felicidade. A santidade é o projeto pessoal. Por isso, o ideal cristão é a felicidade. Consequentemente, a felicidade é a razão pela qual um cristão atua: um cristão se comporta como cristão porque tal comportamento é causa de alegria para ele e para seus próximos. O propósito de nossa existência é a busca da felicidade, a busca de um sentido de satisfação e de realização. Em cada celebração eucarística, através do primeiro parágrafo de cada prefácio, somos convidados a viver na alegria e na gratidão em qualquer momento e lugar. Em outras palavras, uma ação é boa se produz felicidade em quem a realiza e contribui à felicidade dos demais.  A nossa felicidade de cada momento, em grande parte, é determinada por nosso modo de encarar a vida e por nossas escolhas de cada dia sob a luz da Palavra de Deus.

P. Vitus Gustama, SVD

sábado, 29 de julho de 2023

01/08/2023-Terçaf Da XVII Semana Comum

SER CRISTÃO É SER SEMEADOR DO BEM DIARIAMENTE

Terça-feira da XVII Semana Comum

Primeira Leitura: Ex 33,7-11;34,5b-9.28

Naqueles dias, 33,7 Moisés levantou a tenda e armou-a longe, fora do acampamento, e deu-lhe o nome de Tenda da Reunião. Assim, todo aquele que quisesse consultar o Senhor, saía pra a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento. 8 Quando Moisés se dirigia para lá, o povo se levantava e ficava de pé à entrada da própria tenda, seguindo Moisés com os olhos até ele entrar. 9 Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada à entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés. 10 Ao ver a coluna de nuvem parada à entrada da Tenda, todo o povo se levantava e cada um se prostrava à entrada da própria tenda. 11 O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo. Depois, Moisés voltava para o acampamento, mas o seu jovem ajudante, Josué, o filho de Nun, não se afastava do interior da Tenda. 34,5b Moisés permaneceu diante de Deus invocando o nome do Senhor. 6 O Senhor passou diante de Moisés, proclamando: “O Senhor, o Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, 7 que conserva a misericórdia por mil gerações, e perdoa culpas, rebeldias e pecados, mas não deixa nada impune, pois castiga a culpa dos pais nos filhos e netos, até à terceira e quarta geração!” 8 Imediatamente, Moisés curvou-se até o chão 9 e, prostrado por terra, disse: “Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua”. 28 Moisés esteve ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água, e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, os dez mandamentos.

Evangelho: Mt 13,36-43

Naquele tempo, 36 Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” 37 Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38 O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39 O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. 40 Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41 O Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42 e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43 Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça”.

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Para Liderar Os Outros É Preciso Ser Uma Pessoa Orante 

“Moisés levantou a tenda e armou-a longe, fora do acampamento, e deu-lhe o nome de Tenda da Reunião. Assim, todo aquele que quisesse consultar o Senhor, saía pra a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento”. 

Pode-se imaginar aquela pequena "tenda" isolada, longe do barulho do acampamento. O homem precisa do silêncio e da solidão para encontrar Deus e para se encontrar com Deus. O silêncio pode nos levar a encontrarmos o nosso eixo. A vida nunca é o que se consegue. A vida não é o que se tem. Não pode ignorar que tudo quanto se alcança, se perde. A vida é o que se é. E só o que se é, permanece.  Será que eu também sei me isolar às vezes? 

Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada à entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés…. O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo... Moisés permaneceu diante de Deus invocando o nome do Senhor”. 

Estas expressões querem nos dizer que Moisés era um homem de oração. Moisés leva a sério a importância da conversa particular com Deus a ponto de criar um tenda especial para cada um conversar com Deus na oração. Moisés era o “confidente de Deus” em cuja intimidade vivia como um amigo com seu amigo. Moisés não era apenas um líder do povo eleito; ele não era apenas o homem de ação. Moisés era, principalmente, o “místico” que alimenta seu compromisso na contemplação e no diálogo permanente com Deus. Para lidar bem os outros é preciso rezar permanentemente pelo bem dos liderados. 

O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo... Deus escuta para quem tem tempo para rezar e Deus fala para quem tem tempo para escutá-Lo. Quem tem fé precisa orar e quem ora precisa ter fé. Através da oração Deus se revela a quem reza ou a quem medita sua palavra. Por isso, a oração é também o momento ou lugar da revelação de Deus. É preciso colocar a vida na oração e a oração na vida. A história de nossa oração é a história de nossa vida. 

Para enfatizar mais ainda sobre a importância da oração, o autor sagrado nos escreveu que “Moisés levantou a tenda e armou-a longe, fora do acampamento, e deu-lhe o nome de Tenda da Reunião. Assim, todo aquele que quisesse consultar o Senhor, saía pra a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento”. O povo eleito se encontra no deserto ao pé do monte Sinai. Esta descrição já nos mostra um ambiente silencioso. Apesar disso, Moisés armou uma tenda especial chamada “Tenda do Encontro”, onde ele e o povo podem se encontrar com Deus na oração. Tudo isto quer nos dizer que o homem necessita de silêncio e de solidão para encontrar Deus e para se encontrar com Ele. 

Para escutar melhor precisamos criar o silêncio dentro de nós e ao nosso redor. O silêncio é um dos gestos simbólicos menos entendidos e praticados de nossa liturgia. No entanto a Igreja nos ensina que um dos meios para promover a participação ativa é o silêncio (cf. SC 30). A liturgia, na verdade, nos educa para saber escutar criando o silêncio. Não só quando Deus, por meio dos leitores, nos transmite a mensagem de sua Palavra, mas também quando o presidente da celebração dirige a Deus sua oração em nome de todos. Somente aquele que sabe calar e escutar tem condição de pronunciar palavras plenas de sentido e de autoridade. 

Sempre que nós rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz, não porque modificamos Deus, e sim porque nos modificamos. O mais difícil da oração não é tanto saber se Deus nos escuta, mas conseguirmos que nós O escutemos. 

Um Bom Líder É Aquele Que Exerce Também a Função de Intercessor 

No dia anterior foi relatada a infidelidade do povo, quebrando a aliança com Deus através da construção de uma imagem de um bezerro de ouro para ser adorado. Os homens buscam um sistema religioso que lhe dê “segurança” e negam-se a encarar o risco da fé em um Deus que garante a salvação. Eles inventam um ídolo que eles possam manipular de acordo com os seus caprichos. O julgamento de Deus é terrível: “Deixa-me, para que se acenda contra eles a minha ira e eu os consuma”, disse Deus a Moisés (Ex 32,10). 

Nesta situação Moisés exerce sua função de intercessor do povo para pedir o perdão de Deus: “Abranda o furor da tua ira e renuncia ao castigo que pretendias impor ao teu povo”, pede Moisés a Deus (Ex 32,12b). O autor sagrado nos relatou que “Deus desistiu do castigo com o qual havia ameaçado o povo” (Ex 32,14). 

Moisés quer nos relembrar que eu sou o outro do outro. Minha vida está relacionada com a vida dos outros. Eu sou o que sou também por causa dos outros. Se cada pessoa estiver consciente de que ela faz parte inseparável da humanidade, ela se sentirá pertencer ao outro e torcer e esforçar-se pelo bem do outro. Eu sou um ser de relação.   

O perigo, hoje em dia, é esquecer-se desta consciência da pertença e acreditar que somente sou eu o centro de tudo e que os outros devem viver para mim e girar em torno de mim. Consequentemente, nós nos convencemos de que somos melhores que os outros. Condenamos a inveja, se a inveja é dos outros. Mas se é nosso o descaso, logo pensamos que não nos entendem os outros. É preciso fazer desaparecer essa forma de egoísmo destruidor para que renasça o amor que nos ensina a receber e a dar. Rezar pelos outros faz parte do amor cristão. Quando começarmos a rezar pelos outros, seja os da família, seja os outros fora da família, o mundo vai melhorar aos poucos. Quando faço parte de um grupo, pastoral, movimento etc., então tenho uma missão de rezar também pelo meu grupo, minha pastoral, meu movimento e assim por diante. É exercer um papel de intercessor como Moisés. Moisés se mostra sempre fiel a Deus, mas ele intercede pelo povo infiel. É preciso abraçar os outros também com nossa oração de intercessão. Quando eu estiver consciente de que faço parte da humanidade, então em qualquer lugar posso rezar por outras pessoas que eu encontrar no meu caminho diariamente. Muitos precisam de nossa oração e não de nosso julgamento. 

Deus Permanece Misericordioso Para Nós Todos

O Senhor, o Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações, e perdoa culpas, rebeldias e pecados, mas não deixa nada impune!”. 

Essa famosa declaração é feita depois do pecado da adoração do bezerro de ouro. A proclamação começa com a repetição do nome de Javé (YHWH). O emprego do H em YHWH indica o atributo da misericórdia de Deus. O primeiro H (=misericórdia) está antes dos pecados de uma pessoa e o outro H está depois dos pecados de uma pessoa. Deus continua sendo misericordioso antes e depois que o homem pecou. 

Tudo isto quer nos dizer que Deus permanece misericordioso desde o princípio até o fim. Deus sempre perdoa seu povo, pois Ele é misericordioso, compassivo e bondoso. Onde reinar a misericórdia, a compaixão e a bondade, ali haverá o perdão. Com sua misericórdia infinita, Deus não dá chance para o inimigo destruidor da humanidade. Deus quer salvar e por isso, Ele perdoa. “Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”, escreveu o Papa Francisco (Bula Misericordiae Vultus n.2). 

Ser Cristão É Ser Semeador Da Bondade 

Continuamos a acompanhar o discurso de Jesus sobre o Reino de Deus em parábola (Mt 13). 

No texto do evangelho de hoje Jesus explicou para os discípulos o sentido da parábola sobre o joio e o trigo. "Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem", disse-lhes Jesus. 

Jesus é um semeador. Mas não é qualquer semeador. Ele é um Semeador de boas sementes. Ele faz algo de bom... apenas o bom, nada de ruim. Ele passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38). A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. É também a capacidade que possui um ser de dar a outro a perfeição que lhe falta. É a inclinação a fazer o bem, a ser benigno, indulgente. Qualidade do que é bom. A bondade se concretiza na generosidade. A generosidade é um sinal de gratidão pelos benefícios recebidos de Deus e, ao mesmo tempo, manifesta a liberdade interior. A generosidade que se concretiza na partilha e na solidariedade não empobrece, mas é geradora de vida e de vida em abundância. A verdadeira generosidade é silenciosa, despercebida diante dos olhos dos homens, mas é gritante diante de Deus.  

E eu? Será que sou um semeador de coisas boas ou eu semeio as sementes de joio tais como desunião, discórdias, brigas...? Vamos colher aquilo que semeamos.

Lançar sementes, semear sementes é sempre fácil. Mas precisamos saber daquilo que estamos semeando. O joio não vai produzir o trigo. O trigo não vai produzir o joio. Que tipo de semente que estou semeando, então? Semear joio é apenas uma forma de matar outras plantas boas para minha sobrevivência. Não posso semear aquilo que me prejudica e consequentemente prejudicará os outros ao meu redor. 

A boa semente são os filhos do Reino”, disse Jesus. A fórmula é surpreendente. O que Jesus semeia neste momento no mundo somos "nós", filhos do Reino! Ele nos manda para o mundo para sermos sementes da bondade. É a tarefa principal como cristãos. Sou uma semente de Deus. Eu devo ser para os outros aquilo que sou para Deus. Se eu sou uma semente de Deus, eu devo ser, então, fonte de alegria de Deus no mundo, fonte da bondade de Deus no mundo para os demais. Deus fala e age através de mim no mundo. Para Deus eu existo para ser Sua semente neste mundo. Uma só semente. É pouco? Sim! Mas uma semente boa no terreno fértil pode produzir centenas de grãos bons. Eu devo me tornar multiplicador da bondade. 

"Então os justos vão brilhar como o sol no reino do seu Pai”. O “sol” é uma belíssima imagem. O sol ilumina, aquece, ajuda no crescimento das plantas, orienta os caminhantes, faz os olhos saudáveis funcionarem, pois sem a luz por saudáveis que eles sejam, os olhos não enxergam. Somente numa boca saudável é que a comida gostosa fica saborosa. A bondade nos conduz à eternidade, para estar com o Supremo Bom que é Deus. Aquilo que tem algo divino em nós é que nos levará para o próprio Deus. Aquilo que não tem algo divino em nós pode nos levar para outra direção, menos para Deus.

O inimigo que semeou o joio é o diabo”. “Diabo” é aquele que desune. É aquele que está contra a igualdade. É aquele que está contra a comunhão e a comunidade. É o contrário do símbolo, duas coisas que se encaixam bem, bem se unem formando uma só força para construir e não para destruir. O diabo semeia à noite, na escuridão.  Na escuridão tem somente uma cor: preta. É uma grande pobreza ter só uma cor. O bom semeador semeia durante o dia, na claridade. Na claridade podemos perceber a variedade de cores. É uma grande riqueza. É uma harmonia. A palavra “harmonia” supõe a existência de várias coisas formando uma união que produz uma beleza. Serei diabo na medida em que eu semear a discórdia, a desunião, e a divisão. 

O propósito verdadeiro de nossa existência não é ganhar a vida e sim fazer uma vida, uma vida válida, bem feita e útil para nós e para os demais e consequentemente, para a glória de Deus. Minha parte é melhorar o momento presente. Façamos as coisas certas e deixemos os resultados com Deus. 

A Palavra de Deus hoje nos chama a revisarmos nossa maneira de viver: Será que estou consciente de que sou semente de Deus neste mundo? Será que sou um semeador da bondade ou da maldade? Meus atos são diabólicos, atos que desunem ou são simbólicos, atos que criam união? Aquilo que tem algo divino em mim é que me levará para estar com o próprio Deus. Aquilo que não tem algo divino em mim pode me levar para outra direção, menos para Deus.  O que tem dentro de mim?   

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

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