quarta-feira, 12 de julho de 2023

14/07/2023-Sextaf Da XIV Semana Comum

SOMOS CHAMADOS A SER MISSIONÁRIOS DE JESUS NA SIMPLICIDADE, PRUDÊNCIA E PERSEVERANÇA

Sexta-Feira Da XIV Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 46,1-7.28-30

Naqueles dias, 1 Israel partiu com tudo o que tinha. Ao chegar a Bersabeia, ofereceu sacrifícios ao Deus de seu pai, Isaac. 2 Deus falou a Israel em visão noturna, dizendo-lhe: “Jacó! Jacó!” Ele respondeu: “Aqui estou!” 3 E Deus lhe falou: “Eu sou Deus, o Deus de teu pai: não tenhas medo de descer ao Egito, pois lá farei de ti uma grande nação. 4 Eu mesmo descerei contigo ao Egito e te reconduzirei de lá quando voltares; e é José que te fechará os olhos”. 5 Jacó levantou-se e deixou Bersabeia, e seus filhos o puseram, com as crianças e as mulheres, sobre os carros que o Faraó enviara para os transportar. 6 Levaram, também, tudo o que possuíam na terra de Canaã; e foram para o Egito, Jacó com toda a sua família, 7 com seus filhos e netos, suas filhas e toda a sua descendência. 28 Jacó enviou Judá na frente para avisar José e fazê-lo vir ao seu encontro em Gessen. E chegaram à terra de Gessen. 29 José mandou atrelar seu carro e subiu a Gessen ao encontro do pai. Logo que o viu, lançou-se ao seu pescoço e, abraçado a ele, chorou longamente. 30 Israel disse a José: “Agora, morrerei contente, porque vi a tua face e te deixo com vida”.

Evangelho: Mt 10, 16-23

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16 “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. 17 Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. 18 Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. 19 Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. 20 Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. 21 O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22 Vós sereis odiados por todos, por causa de meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo. 23 Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo, vós não aca­bareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o Filho do Homem.

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Deus Nos Chama Pelo Nome Em Silêncio Para Progredir

Jacó! Jacó!”, disse Deus.  Aqui estou!”, respondeu Jacó.

Deus chama cada um de nós pelo nome: “Eu te chamo pelo nome, és meu” (Is 43,1). Deus chama Jacó pelo nome. E Jacó mostra sua disponibilidade: “Aqui estou!”. A expressão “Aqui estou” é o resumo exato da fé que é resposta a uma chamada. Chamar pelo nome aqui significa chamar para uma missão. Em cada instante Deus nos chama e nos faz apelo. Mas quase sempre fazemos nossos ouvidos surdos, às vezes em nome do comodismo ou em nome do medo escondido, ou porque não encontramos nenhuma vantagem para nossa vida particular (egoísmo).

Se Deus nos chama é porque Ele quer que salvemos determinada situação, que avancemos, que cresçamos, que melhoremos, que não fiquemos paralisados: “Eu sou Deus, o Deus de teu pai: não tenhas medo de descer ao Egito, pois lá farei de ti uma grande nação”.

Se confiarmos em Deus, também devemos confiar no porvir. Ele nos chama porque ele sabe do porquê e do para quê e do lugar para onde devemos ir e das pessoas com quem conviveremos. Cada chamada de Deus tem como garantia Sua companhia: “Eu mesmo descerei contigo ao Egito e te reconduzirei de lá quando voltares; e é José que te fechará os olhos”. Eu devo viver o meu hoje, pois o porvir está nas mãos do Pai celeste. Eu preciso cuidar do hoje dado por Deus e deixar o amanhã nas mãos de Deus. Durante 24 horas de hoje tenho que fazer algo pelo meu bem e pelo bem comum. De nada serve viver o ontem ou o amanhã, pois o amanhã nunca chega e o onte já passou. Ninguém morre amanhã. Há que viver o hoje: “O dia de amanhã terá as suas próprias preocupações. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,34).

Mas nem tudo será de rosa na aventura que começamos hoje rumo ao futuro de Deus. Passados alguns dias, semanas, meses e anos, o vento da história fará mudanças de rumo na nossa vida. A mudança e a renovação são a lei da vida. Mesmo que coloquemos barreiras nesta dinâmica, nada adiantará! Ninguém é capaz de negociar com o tempo, pois ele tem seu próprio ritmo. O tempo não quer saber de nossas dores, decepções, tristezas. Ele passa e flui como sempre. Cabe a mim aproveitar o tempo que me é dado. Quem não valoriza o tempo, enterra muitas oportunidades. 

Os próprios descendentes de Jacó clamarão a Deus pela libertação da escravidão (Cf. Ex 2,23-24). Não adianta o trigo em abundância, mas vive-se preso na escravidão tanto a que criamos como a que os outros criam para nós. Mas o Deus que prometeu: “te reconduzirei de lá quando voltares”, vai cumprir sua promessa por meio de Moisés como resposta de Deus para o clamor de seu povo.

A “história” do Antigo Testamento prefigura a do Novo Testamento. José vendido pelos irmãos se torna uma pessoa que salva seus irmãos da fome mortal. José prefigura Jesus vendido pelos seus se torna o Salvador da humanidade do pecado que separa o homem de Deus. Os encontros do filho (José) com o pai (Jacó) prefiguram a aventura dos homens reconciliados com Seu Pai celeste. O Filho de Deus nos possibilita o encontro com o Pai do céu. Na reconciliação e no perdão há o encontro familiar: volto a ter meu lar perdido pelo afastamento. Após o sofrimento há alegria por causa do reencontro, reunião, recomunhão. Após a morte há a ressurreição. Eis a Páscoa!

“Não tenhas medo de descer…”. É o apelo de Deus para cada um de nós todos os dias. Em que altura você se encontra? Por que você se encontra neste estado? “Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa!” (Lc 19,5), disse Jesus a Zaqueu que se encontra numa árvore. Ele se afastou do seu ser que é terra.

Ser Missionário Do Senhor É Ser Missionário Prudente, Simples e Perseverante

Estamos ainda no discurso de Jesus sobre a missão (Mt 9,36-11,1).  No texto do evangelho de hoje Jesus nos recorda que a luta do discípulo na missão contra o mal está em desvantagem: “Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos”. “Ovelha” é a presa fácil para o lobo. Ovelha é mansa, indefesa para qualquer ataque. Lobo é feroz, forte e persistente. Os discípulos estão bem advertidos: parecem ser entregues, mansos e sem defesa (como ovelhas) para a brutalidade e a força de seus adversários (como lobos). Jesus não esconde a verdade aos cristãos: o evangelho provoca, muitas vezes, a oposição e perseguição. Isto não espanta Jesus. Ele pede aos cristãos para se manterem valentes como Ele até o fim. Jesus salvou a humanidade comportando-se como ovelha ou na linguagem do evangelista João (Jo 1,29.36) como cordeiro: simples e manso (cf. Mt 11,28-30), e não como lobo. 

1. Ser Missionário É Ser Prudente 

Os cristãos estão no meio do mundo feroz como o lobo pronto para pegar sua presa (ovelha). Por isso, Jesus alerta aos cristãos para que sejam prudentes: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes”. 

A palavra “prudente” vem do latim “prudens-prudentis” que significa “precavido, competente”. A prudência é a capacidade de ver, de compenetrar-se e de ajustar-se à realidade. Uma “ovelha prudente” precisa saber como ela deve se comportar no meio de lobos para não virar uma presa fácil. A prudência oferece a possibilidade ou a capacidade de discernir o correto do incorreto, o bom do mau, o verdadeiro do falso, o medo paralisante do medo prudente, o sensato do insensato para que se tenha uma guia correta para cada ação. A prudência é a faculdade que nos permite vermos e aprendermos a realidade como ela é para que possamos nos comportar corretamente ou precisamente. Todo homem sábio vive de acordo com a prudência. Seus pensamentos e atos são guiados pela prudência. A prudência nos mantém na nossa integridade. 

2. Ser Missionário É Ser Simples

Jesus também quer que cada cristão seja simples:  Sede simples como as pombas”. 

O simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação. É a vida sem frases e sem exageros. O simples não simula nada, pois simular a humildade e a simplicidade significa arrogância de quem puxa tudo para seu lado. Santo Agostinho dizia: “Simular humildade é a maior das soberbas” (De sanc. vir. 43,44). O simples é capaz de reduzir o mais complexo ao mais simples. O presente é sua eternidade, e o satisfaz. 

A simplicidade aprende a se desprender, acolher o que vem sem nada guardar como coisa sua. Simplicidade é nudez, despojamento, pobreza. Simplicidade é liberdade, leveza, transparência. A simplicidade é a transparência do olhar, pureza do coração, sinceridade do discurso, retidão da alma e do comportamento. A simplicidade é a espontaneidade, a improvisação alegre, desprendimento, desprezo do prevalecer. A simplicidade é o esquecimento de si, é nisso que ele é uma virtude. A simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos. Não é por acaso que Jesus faz o seguinte convite: “Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas” (Mt 11,29). Através da simplicidade alcançaremos o repouso para nosso coração ou para nossa vida. 

O Reino de Deus se revela na debilidade de Jesus e de seus mensageiros. São Paulo dirá também que “é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte.” (2Cor 12,9-10). Toda a historia da Igreja confirma esta verdade. São os pequenos e humildes que fizeram as maiores obras. Por essa razão, vem a pergunta para cada um de nós: “Será que creio verdadeiramente que a força de Deus é capaz de fazer grandes coisas na minha debilidade e através da minha fraqueza? 

O discípulo deve ser pobre em espírito, e deve estar desarmado para possibilitar qualquer diálogo. Ele é somente rico na fé e na validez do anuncio, pois trata-se da Palavra de Deus que tem por objetivo salvar os homens e será a ultima palavra para a humanidade. A missão exige um ambiente de debilidade para forçar o discípulo a ter fé permanentemente em Deus e para tirar qualquer tipo de ilusão como discípulo. É Deus quem opera e não os homens. Os homens são instrumentos nas mãos de Deus. 

Mas a debilidade não é presunção nem superficialidade nem ingenuidade. “Sejam simples e prudentes”, são as palavras de Jesus. A simplicidade é lealdade, transparência, confiança na verdade e, portanto, é uma recusa de qualquer meio de violência. A prudência é a capacidade e a humildade de valorizar e de levar em consideração as situações concretas. Mas trata-se sempre, por suposto, da prudência de Cristo, não da prudência do mundo baseada em cálculos cínicos, em diplomacia interesseira e de compromisso sempre em busca de uma salvação própria, que é uma manifestação do egoísmo. O egoísmo não convive com o amor, pois o amor leva o homem ao encontro do outro para oferecer-lhe ajuda. O egoísmo devora tudo o que o outro tem. 

A oposição e a perseguição vêem, muitas vezes, da própria família: “O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão”. O ódio pode nascer em qualquer pessoa e em qualquer lugar. Jesus nos sugere uma só solução: “Permanecei fieis!”. É conservar a firmeza e o valor, contra toda decepção, contra toda oposição e contra todo fracasso. O que conta é a salvação eterna. Precisamos saber que Jesus está conosco. Na obscuridade do fracasso estamos seguros de que Jesus, com toda certeza, virá e salvará os seus. Mas Jesus nos alerta e nos afirma: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão? Perseverança é a capacidade de resistir até o fim por causa da meta (nobre) a ser alcançada. 

3. Ser Missionário É Ser Perseverante

Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo”.         

Perseverar significa a capacidade de resistir diante de cada dificuldade, porque acreditamos que Deus nos sustenta e nos levanta em qualquer situação. Quando você somente acredita na sua própria força, em pouco tempo você vai cair no desespero, pois sua força tem seu limite. Mas se você se apoiar em Deus, a sua força nunca vai ter o fim, pois Deus o abastece com sua graça: “Quando me sinto fraco, na verdade sou forte pois a graça de Deus me sustenta e me levanta”, dizia São Paulo (cf. 2Cor 12,10). Aquele que estiver aberto à graça de Deus para ter a capacidade de resistir e rezar com perseverança para a alcançar, poderá dizer com o Apóstolo Paulo: “Tudo posso nAquele que me dá força” (Fl 4,13). Com esta fé Deus nos convida a remetermos para nossas forças interiores, como dizia o filósofo romano, Epicteto (55 d.C-135 d.C): “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças. As pessoas prudentes enxergam além do incidente em si e procuram criar o hábito de utilizá-lo da maneira mais saudável. Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que necessita nesse momento. Use-a(cf. A Arte de Viver, Editora Sextante). 

Esta capacidade não é só para utilizar em casos alarmantes. Ao contrário, só conseguiremos avançar no nosso caminho, se procurarmos aproveitar plenamente as diferentes oportunidades de momento, tendo os olhos sempre postos na meta. Só assim, a nossa capacidade de resistir pode e deve fortalecer-se, mesmo no meio das dificuldades. É aí que ela se torna mais necessária. 

A capacidade de resistir precisa ser sempre renovada na oração. Como cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar/ se converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações. 

 “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão? Perseverança é a capacidade de resistir até o fim por causa da meta (nobre) a ser alcançada. Mas será que tenho metas claras para minha vida e minha salvação? Será que eu vivo com objetivo claro? Em tudo que eu fizer e falar deve ter objetivo claro para não fazer por fazer ou falar por falar.

P.Vitus Gustama, SVD

·      “É melhor um pecador humilde do que um beato orgulhoso” (Santo Agostinho. Serm. 170,7,7).

·      “Onde há caridade, há paz. E onde há humildade há caridade. Assim, pois, se quiser ter a paz, seja humilde” (Santo Agostinho. In epist. Joan., proem).

·      O princípio de nossa purificação é a humilde confissão de nossos pecados(Santo Agostinho. In epist. Joan. 1,6).

·      “Observa a árvore. A fim de crescer para cima, primeiro cresce para baixo. Primeiro finca sua raiz na humildade da terra para depois lançar suas grimpas ao alto céu” (Santo Agostinho. Serm. 117,17).

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