terça-feira, 30 de março de 2021

Domingo da Páscoa,04/04/2021

O AMOR NOS FAZ CORRERMOS AO ENCONTRO DO SENHOR RESSUSCITADO E DOS IRMÃOS

DOMINGO DA PÁSCOA

Primeira Leitura: At 10,34a.37-43

Naqueles dias, 34aPedro tomou a palavra e disse: 37“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João: 38como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele. 39E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. 40Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se 41não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. 42E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos. 43Todos os profetas dão testemunho dele: ‘Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados’”.

Segunda Leitura: Cl 3,1-4

Irmãos: 1Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, 2onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. 3Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. 4Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. 

Evangelho: Jo 20,1-10

1 No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido tirada do túmulo. 2 Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. 3 Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4 Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5 Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6 Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7 e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 8 Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. 9 De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.

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I. O Texto do Evangelho e Sua Mensagem

O Capítulo 20 de João tem quatro episódios que algum teólogo intitula: “Em busca dos sinais do Ressuscitado”. O primeiro episódio (vv.1-10) tem como personagens a Madalena e depois Pedro e João. O segundo episódio (vv.11-18) faz-nos contemplar Maria Madalena que gradualmente reconhece Jesus. Neste episódio Maria Madalena é apresentada como o personagem mais interessado na busca dos sinais e, através dos sinais, da própria presença do Senhor. O terceiro episódio (vv.19-23) é o episódio da manifestação de Jesus aos apóstolos: Jesus entre os seus. E por fim, Jesus e Tomé (vv.24-29). Tomé nos apresenta a tendência do homem a fechar-se ao mistério. Em outras palavras, ele representa aqueles que têm dificuldade de ver os sinais da presença do Senhor no mundo (os céticos). 

Em segundo lugar, os verbos “ver” e “crer” são um dos traços característicos do itinerário da fé pascal, que, especialmente, aparecem em Jo 20, onde se encontra o texto do Evangelho deste domingo. Nos quatro relatos de Jo 20 há uma relação estreita entre “ver” e “crer” (Cf. Jo 20,8.18.20.25.29). Dizia Santo Agostinho: “Fé é crer no que não vemos. O prêmio da fé é ver o que cremos” (Serm. 43,1,1). “Crer para entender e entender para crer” (Santo Agostinho: In Joan. 29,6). “Crer é alcançar” (Idem. Serm. 131,3).

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O texto do Evangelho lido neste dia da Páscoa começa com estas palavras: “No primeiro dia da semana...quando estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo...” (v.1). “PRIMEIRO DIA”, “ESCURO/TREVAS” e “TÚMULO” são palavras-chave e importantes para entender o texto.          

No contexto pascal, a expressão “PRIMEIRO DIA sugere que para o mundo começou um tempo novo nascido da morte e ressurreição de Jesus (2Cor 5,17). Este “primeiro dia” passa a ser chamado “Dia do Senhor” (dies dominica), domingo. Por esta razão os cristãos se reúnem nesse dia para “partir o pão”, isto é, para celebrar a Eucaristia, o memorial da morte e ressurreição do Senhor (Cf. 1Cor 16,2; At 20,7; Ap 1,10). Os evangelhos apresentam a ressurreição de Jesus como uma novidade radical em relação a toda a história passada de Israel. Jesus é a luz do novo dia que não termina jamais. Jesus é o Senhor que ilumina o mistério da vida. Cristo detém a chave do segredo da vida e deixa sua luz brilhar nas trevas. Nele o mistério da vida se torna luminoso. O que é a vida, seu significado, sua finalidade, como apreciá-la e torná-la autêntica, dar-lhe um sentido, é tudo isto que Jesus pode nos ensinar, pois ele veio para nos fazer viver plenamente (Jo 10,10). Por isso, com muita certeza, São Paulo diz: “Se confessas, com tua boca que Jesus é o Senhor e crês em teu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, tu serás salvo” (Rm 10,9).         

Maria Madalena foi ao túmulo quando ainda estava ESCURO (em grego skotia: a treva). Este termo aparece em Jo oito vezes. “As trevas” em Jo não significam mera ausência de luz. Este termo apresenta dois aspectos: Primeiro, as trevas são consideradas como entidade ativa e perversa que pretende extinguir a luz da vida (Jo 1,5) e assim impedir a visão do projeto de Deus sobre o homem. Portanto, define-se como ideologia contrária ao desígnio criador. As trevas produzem no homem a cegueira (ocultamento do desígnio de Deus), impedindo-lhe de se realizar. Segundo, as trevas são consideradas como âmbito de obscuridade ou cegueira criado por sua ação, onde o homem se encontra privado da experiência da vida e não conhece o desígnio de Deus sobre ele. As trevas sugerem que os personagens ainda não têm a luz plena. Para o evangelho de João “trevas” ou “treva” é tudo que se opõe ao projeto ou ao plano de amor de Deus; é aquilo que oculta o homem do plano de Deus.

A escuridão (as trevas) simboliza o estado interior de Maria Madalena, as trevas que a habitam e a envolvem. Com a morte de Jesus que era a Luz de sua vida, Maria Madalena perdeu o sentido e a alegria de viver. Somente mais tarde, ao encontrar-se com Jesus ressuscitado (Cf. Jo 20,11-18), o amor de Jesus ilumina novamente sua vida. O encontro pessoal com Jesus ressuscitado é, para Maria Madalena, a porta para se encontrar consigo mesma e a luz para iluminar novamente sua vida e a fonte de sua felicidade. Ninguém consegue destruir o amor divino (Cf. Rm 8,31-39). O amor divino é mais forte do que a força da morte, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).          

Maria vai ao túmulo, possuída pela falsa concepção da morte, e não se dá conta de que o dia começou. Maria crê que a morte triunfou. Antes de saber que Jesus está vivo, Maria deve passar pela prova do túmulo vazio. “O TÚMULO” é mencionado nove vezes nesta perícope, mostrando que a ideia de Jesus morto domina na comunidade. Assim também aquele que é chamado a descobrir o glorioso deve passar pelas noites purificadoras do desejo, deve passar pelo vazio existencial para ter acesso a este conhecimento novo do glorioso que é concedido na fé.          

“Quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo”. A comunidade representada por Maria Madalena não espera a ressurreição. A palavra “túmulo” aparece sete vezes no texto do Evangelho deste Domingo da Páscoa para sublinhar a ideia da morte que a comunidade tinha, representada por Maria Madalena. Consequentemente, a descoberta do túmulo vazio não foi, para Maria Madalena, fundamento de sua fé e de sua esperança e sim a razão de um sofrimento ainda maior. Além disso, Maria Madalena que foi ao túmulo quando estava escuro é o reflexo da situação de desamparo em que a comunidade se sentia pela morte de Jesus. Há a atitude de busca, mas busca o Senhor morto. Maria Madalena busca o corpo morto de Jesus, mas não o encontra porque o busca no lugar errado Aquele que já ressuscitou. Por isso, como consequência deste tipo de busca é a experiência de perplexidade, de vazio e de decepção que pode terminar no desespero.  Mais tarde, Maria vê Jesus vivo precisamente no momento em que muda a direção do seu olhar, a partir do momento em que ela deixa de olhar para o túmulo, o lugar da morte, para voltar a olhar para o corpo inteiro do Senhor na direção contrária. O Senhor está entre os vivos e não entre os mortos, pois Ele ressuscitou e está vivo. São Gregória Magno comenta sobre o novo olhar de Maria Madalena: “Para quem ama, não basta um olhar só, porque a força do amor aumenta a intensidade da busca. Maria Madalena buscou uma primeira vez sem encontrar nada. Perseverou na busca e assim acabou encontrando”. O amor não cansa de buscar o amado; o amor não se cansa de perdoar; o amor não se cansa de salvar o perdido.          

Muitos procuram a felicidade no lugar errado, porque excluem Deus desta busca; correm atrás das coisas de Deus (as criaturas) e esquecem o próprio Deus das coisas criadas. Tudo o que amamos por causa de nós mesmos, fora de Deus, só cega nosso intelecto e paralisa nosso julgamento sobre os valores morais. Em vez de obter a felicidade procurada, encontramos “túmulo” que está aberto para nos engolir, para nos tornar prisioneiros da escuridão da vida sem Deus. A escuridão dura até que alguém acredite em Jesus ressuscitado, porque Jesus é a Luz do mundo (Jo 8,12). Muitas vezes procuramos uma “felicidade” fácil e é fácil também ela ir embora, e ficamos, depois, perplexos, vazios e desorientados como aconteceu com Maria Madalena. Somos convidados, por isso, a ser livres de todo tipo de prisão, de “túmulos”, tirando as pedras de impedimento para a nossa libertação. Junto com Jesus ressuscitado, seremos capazes também de remover as pedras de nossa vida para sermos livres em Cristo Jesus. Só é livre completamente quem rejeita o mal de tal maneira que seja impossível desejá-lo.          

A reação de Maria é de alarme quando viu que a pedra foi “retirada” e o corpo de Jesus não estava lá. Ao encontrar a porta do túmulo aberta, ela não compreende o que está acontecendo. A comunidade se sente perdida sem Jesus. Há atitude de busca mas buscam um Senhor no lugar errado. Jesus representava a força da comunidade; crendo que passou a ser debilidade e impotência, a comunidade se vê por sua vez sem forças. Sem mesmo entrar no túmulo Maria corre avisar os discípulos: Pedro e o discípulo amado. Apesar de não compreender o que está acontecendo, Maria Madalena se torna a portadora da notícia e da surpresa. Quando falta a presença de sinais visíveis do Senhor, é preciso agitar-se, mexer-se, correr, buscar comunicação com outros, com a certeza de que Deus está presente e nos fala. Maria Madalena e outros dois discípulos nos ensinam a não ficarmos parados, quando encontrarmos barreiras na nossa caminhada rumo ao encontro com o Senhor ressuscitado. Temos que ir atrás das respostas. Temos que nos agitar.          

Os dois discípulos (Pedro e o discípulo amado) têm a mesma reação diante da notícia que lhes dá Maria: dirigem-se ao túmulo. Os dois apareceram juntos duas vezes anteriormente em situações contrastantes (Jo 13,23-24;18,15-16) e aparecerão duas vezes mais (Jo 21,7.20-22). Os dois correm juntos, mostrando sua adesão a Jesus e o seu interesse pelo ocorrido. Durante a corrida, porém, o discípulo amado correu mais rápido e chegou primeiro do que Pedro no túmulo. Corre mais depressa o que tem a experiência do amor de Jesus. Apesar de chegar primeiro, o discípulo amado não entrou no túmulo mas esperou a chegada de Pedro. No texto de Jo, a precedência de Pedro é mantida (cf. Jo 21). Até na lista que Paulo fez daqueles para quem Jesus ressuscitado apareceu, o nome de Cefas (Pedro) vem antes de todos os outros (cf.1Cor 15,5). Podemos encontrar vários textos no quarto evangelho em que Pedro é recordado explicitamente (Jo1,40-42;6,67-69;13,6-11;13,36-38;18,10-11;18,17-18.27; 21,7.11.15-23). Mas o que interessa para o evangelista é a diferente reação de ambos ao verem o túmulo vazio e os panos postos em ordem. Pedro é o primeiro a entrar no túmulo (v.6) e a observar os panos(vv.6-7). Ele viu os panos e ficou calado. Jo não diz nada da reação de Pedro. Pedro representa o racionalismo, a lentidão e a demora em perceber e distinguir as coisas.          

O discípulo amado também entrou. “Ele viu e acreditou” (v.8). “Ele viu e acreditou” se refere unicamente ao discípulo amado. Em Jo 21,4.7, temos um paralelo muito próximo em que o mesmo discípulo amado, ao reconhecer a presença do ressuscitado, avisa a Pedro: “É o Senhor”.  O amor a Jesus faz o discípulo amado capaz de captar a presença de Jesus ressuscitado. À luz de seu laço profundo com Jesus, o discípulo amado reconhece o mistério da presença por meio da ausência. Sua fé em Jesus e seu amor por Jesus servem para interpretar o significado do túmulo vazio. Mesmo antes do contato com o Ressuscitado, ele foi capaz de superar o abismo: na ausência do corpo, o que ele viu dos panos funerários teve para ele valor de sinal. Além disso, o amor que penetrava o discípulo amado deixou entrar nele a luz, e esta luz o ilumina para ver e penetrar até a essência das coisas e acontecimentos. Para ele, o túmulo não está nem vazio, nem cheio. Ele se transformou em linguagem. Atento, ele capta no vazio do túmulo que Cristo vencera o que pertencia ao tempo; em outras palavras, Jesus venceu a morte, ele ressuscitou. Isto quer dizer que quem ama a Deus de todo o seu ser (cf. Mc 12,30), tem capacidade e sensibilidade de captar os sinais de Deus em qualquer tempo e circunstância.          

O poder da ressurreição certamente reside no amor. O poder da ressurreição está no amor que flui de nós e através de nós. Por isso, o amor é a única razão de viver para qualquer cristão. Não há outro motivo para permanecer-se na terra a não ser o amor. Amar significa chamar alguém à Vida. Amar a alguém equivale a lhe dizer: “Tu vives para sempre, pois ‘Deus é Amor’” (1Jo 4,8).          

O texto diz que Maria Madalena não consegue ver o significado daquilo que está acontecendo, por isso corre e vai avisar Pedro e o discípulo amado. Pedro e o discípulo amado também correm. Mas o discípulo amado corre mais rápido e chega primeiro.  Pedro entra no túmulo e Jo não relata a reação de Pedro. O discípulo amado entra e conclui imediatamente que não roubaram o Senhor: “E viu e acreditou” (Jo 20,8).        

Na Igreja que vai em busca dos sinais da presença do Senhordiversos temperamentos, diversas mentalidades: há o afeto de Maria, a intuição de João e a lentidão de Pedro. Mas Deus tem tempo para todos. Portanto, existem na Igreja diversos dons espirituais dos quais se originam diversas disposições: alguns mais velozes, outros mais lentos; mas todos se ajudam mutuamente, respeitando-se reciprocamente, para juntos procurarem os sinais da presença de Deus e comunicá-los entre si, apesar da diversidade de reações diante do mistério. É uma colaboração na diversidade: cada qual comunica ao outro o pouco que viu e encontrou, e juntos reconstroem a orientação da existência cristã, ali onde os sinais da presença do Senhor, diante das dificuldades ou das situações perturbadoras, parecem ter desaparecido. Se na Igreja primitiva Madalena não tivesse agido dessa forma, comunicando o que sabia, e se as pessoas não se tivessem ajudado umas às outras, o túmulo teria ficado ali e ninguém teria ido até ; teria sido inútil a ressurreição de Jesus. Somente a busca comum e a ajuda uns dos outros levam finalmente a encontrar-se juntos, reunidos no conhecimento dos sinais do Senhor. Como é importante partilhar na convivência: as alegrias e as tristezas partilhadas e juntos construímos uma convivência fraterna onde um apoia outro.

II. Outras Mensagens Da Páscoa

    a).     Com o fato da ressurreição de Cristo entrou uma novidade total na história humana pois nunca aconteceu isso antes nem depois dele, em nosso mundo fechado pelo círculo da morte. Jesus rompeu esse círculo e deu esperança a todos nós. Ao vencer a morte, Jesus revoluciona todos os anseios e sonhos do mundo. Por isso, a Páscoa é a festa de alegria porque a nossa vida está assegurada; esta vida que aqui vivemos não nos será tirada com a morte; a morte será apenas um fenômeno biológico, mas que não poderá atingir nem destruir o nosso verdadeiro ser. A partir da ressurreição do Senhor, não vivemos mais para morrer mas morremos para viver; a vida não pertence mais à morte mas sim a morte pertence à vida. A morte não é total: atinge apenas o corpo do homem. O mundo precisa saber que não somos condenados a um fim sem sentido. Não há Boa Notícia mais radicalmente importante do que a certeza da vitória da vida. Por isso, Jesus nos diz: “Tenha coragem! Eu venci o mundo” (Jo16,33). Temos a garantia de que Deus não vai deixar que se perca nada do que é bom: nossos esforços, nossos sacrifícios, nossas lutas pelo que é certo e justo, nossas boas ações, nossos afetos, as pessoas que amamos, tudo isso fica guardando e seguro nas mãos de Deus da ressurreição. Se a morte não tem a última palavra, toda a nossa vida pode estar, sem medo, a serviço daquilo que traz mais vida para todos. Seja qual for o resultado, nada estará perdido. Por isso, compreendemos por que São Paulo escarnece da morte e triunfante lhe pergunta: “Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o espantalho com que amedrontavas os homens?” (1Cor 15,55). O homem que crê em Jesus Cristo é destinado à ressurreição para participar, com a totalidade de sua realidade complexa, na vida eterna de Deus.

 b).     Jesus ressuscitou” significa também que Cristo vive. Esta é a grande verdade da nossa fé. Cristo vive quer dizer que ele não é uma figura que passou, que existiu num tempo, deixando-nos uma lembrança. Cristo vive quer dizer: ele está conosco. Ele não nos abandona. Isto significa que o cristão, cada um de nós, nunca é um homem solitário mas solidário porque ele vive com Deus e Deus com ele. Por isso, o centro da fé cristã não consiste na celebração da memória de um herói morto, mas da presença de um Vivo e Vivente no qual se decifrou para todos nós o sentido último da vida. 

c).       Se Cristo está vivo, então todas as coisas da vida devem refletir isto; todas as coisas devem se voltar para Jesus Cristo. Quando Jesus Cristo é o centro, as pessoas tornam-se melhores; as pessoas tornam-se mais humanas, buscam o crescimento e têm vontade de conseguir todas as coisas no crescimento e na maturidade de Cristo. 

d).        A Páscoa é, biblicamente, a passagem da opressão do Egito para a Terra da Promessa. Ela é uma passagem do pecado, da opressão, e da morte para a graça, a liberdade, e a vida. Não há afirmação da vida sem passagem pela morte, sem confronto com a morte. Por isso, como é triste morrer sem ter sabido viver, também como é triste viver sem aprender a morrer. Se Jesus deixou o túmulo para entrar na vida, somos, seus seguidores, convidados também a sair de nossos túmulos, de nossas prisões de egoísmo, de soberba, de falta de caridade, de arrogância, de desespero para experimentar e viver a liberdade e libertação. E este chamado é urgente. Não podemos adiá-lo para amanhã. Acreditar no Deus vivo e vivificante implica abandonar a idolatria. A idolatria consiste em depositar confiança em algo ou alguém que não seja Deus, como no dinheiro e no poder etc. Submeter a própria vida a algo ou a alguém que não seja Deus significa opor-se ao Deus vivo e vivificante. Cai-se na idolatria quem põe o ouro e a prata acima de quem os criou. Não confiar no Deus vivo e vivificante, mas num produto de nossas mãos que nos dá força e poder diante dos outros é fonte de alienação e de morte (cf. Ez 7,19-20). O deus da idolatria não quer que sejamos aguais a ele. Ele quer que sejamos submissos a ele. O Deus da Vida quer que tenhamos a vida que ele tem e é(cf. Jo 10,10), pois fomos criados à sua imagem(cf. Gn 1,26). 

 e).       Páscoa é a ressurreição. Cristo rompe as cordas que conservavam seu corpo debaixo da terra. Foi a maior vitória de todos os tempos. Jamais alguém pode vencer o poder da morte. Só Cristo Jesus. A vitória de Cristo ressuscitado nos faz crescer na fé. Não tenhamos mais medo de nada. Tudo está sob o calcanhar de Cristo. Com Cristo, nada nos derrotará. Cristo ressuscitado vai tomar conta de nós. Todos os que seguem a Jesus não vão se perder por que ele é uma luz que orienta. É a luz inapagável.          

Páscoa é a saída rápida. É êxodo, partida. Para onde? É sair para encontrar os outros. Se permanecermos fechados, trancados dentro de nós mesmos, vamos morrer. Páscoa é reencontro com a vida. Somente sabe viver, encontrando a vida, aquele que ama. Jesus morreu e ressuscitou porque nos ama verdadeiramente.          

Amar é sair de si para encontrar o outro. É dialogar. É estender a mão. É abraçar para fazer as pazes. É doar a vida, o coração e a felicidade aos outros. Páscoa é alegria. Somente encontra a alegria aquele que sabe amar os outros. Nossos lares são como túmulos cerrados a cimento, quando não se amam; quando não há respeito, ajuda mútua e fé. Túmulos cerrados são as igrejas quando não se vive o que se reza e se canta.        

Celebrar a Páscoa é afirmar: “Não sou mais aquele homem do túmulo, intransigente, morto, insuportável, nervoso. Agora uma nova luz entrou em mim e renasci, por isso. Quero remover aquela pedra que me está impedindo de ser comunicativo, caridoso; a pedra que me impede de pedir e de dar o perdão”.          

Não existe ressurreição antes da morte de si mesmo. Para sairmos de nós mesmos devemos fazer como os peregrinos: abandonar tudo. Temos que abandonar tantas atitudes erradas em nós; tantos vícios; tanto gênio em nós; tanta raiva contra os outros.          

A Páscoa é tempo de sair do túmulo, da escuridão, da falta de fé e confiança nas Palavras de Cristo. É sair das trevas da consciência adormecida, do coração sonolento, cheio de ódio, de raiva, de mágoa, de ganância e do egoísmo. Saímos do túmulo de nosso coração trancado. Saímos do túmulo para ver a luz que brilha nos rostos daqueles que vencem a si mesmos e procuram seguir os caminhos de Cristo.        

Ressurreição, saída do túmulo, rompimento de todas as amarras, deve ser realizada em nós, em nossos lares cheios de incompreensão, de falta de Deus.         

 f). A Páscoa significa passagem. Em nossa vida, de certa forma, existem duas passagens. A primeira passamos do “nada” onde estávamos nove meses antes de vir ao mundo à situação do bebê em seu bercinho. Mas essa passagem é apenas condição de uma segunda. A segunda passagem é a passagem de uma existência humana: a existência propriamente humano-divina. A primeira não pede a autorização nossa para nos pôr no mundo. A segunda não se faz sem nós. Ela se realiza ao longo de toda a nossa vida. No fim da passagem terrena passamos para a comunhão terna com Deus. Todos os dias de nossa presença terrena temos que fazer frequentemente passagens. Ninguém se transformou sem passar pelo sacrifício de certo tipo de felicidade egoísta. É preciso renunciar ao egoísmo para conhecer a verdadeira felicidade, a própria felicidade de Deus à qual somos chamados por toda a eternidade. Sem ser transformado ou transfigurado, não se vem a ser homem livre pela própria liberdade de Deus. Celebrar a Páscoa é celebrar a libertação. Mas em que sentido estamos livres? De que estamos livres? 

A vida humana é um êxodo. Ela é concebida no seio materno. Ali mesmo, com o calor e nutrientes de sua mãe, vive a gestação. Com o nascimento, inicia seu êxodo existencial com outros irmãos da jornada. Da perspectiva cristã, o caminhar juntos se converte em sinal da presença de Deus que acompanha o homem em cada passagem de seu itinerário existencial. E o êxodo existencial de um ser humano possui três fases: iniciar, transitar e terminar. A vida terrena de um ser humano tem, então, seu início, faz-se no pleno desenvolvimento e aponta para seu término inevitável. Mas o verdadeiro caminhar do cristão termina na ressurreição. Esta é a mensagem da Páscoa que festejamos durante sete semanas (50 dias de comemoração: o tempo pascal).

P.Vitus Gustama,svd

sábado, 27 de março de 2021

SÁBADO SANTO; VIGÍLIA,03//04/2021

PÁSCOA: ELE RESSUSCITOU

SÁBADO SANTO (VIGÍLIA) DO ANO B

Quarta Leitura: Rm 6,3-11

Irmãos: 3Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? 4Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. 5Pois, se fomos de certo modo identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. 6Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o corpo de pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado. 7Com efeito, aquele que morreu está livre do pecado. 8Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. 9Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. 10Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive. 11Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo.

Evangelho: Mc 16,1-7

1 Quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. 2 E bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. 3 E diziam entre si: “Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?” 4 Era uma pedra muito grande. Mas, quando olharam, viram que a pedra tinha sido retirada. 5 Entraram, então, no túmulo e viram um jovem, sentado ao lado direito, vestido de branco. 6 Mas o jovem lhes disse: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. 7 Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. vós o vereis, como ele mesmo tinha dito”.

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A VIGÍLIA PASCAL

A Vigília Pascal é, segundo o Missal Romano, "a mãe de todas as vigílias" (Santo Agostinho) e celebra o acontecimento culminante da história da salvação, que é a ressurreição do Senhor. 

Para os cristãos da antiguidade, a Páscoa não era uma festa entre tantas e sim “a Festa das festas”. Eles celebravam especialmente a Páscoa na vigília noturna, que culmina com a missa da ressurreição.

Por que é tão importante a Vigília Pascal? Por que a Igreja insiste para que tomemos parte na prolongada liturgia? Não se trata simplesmente de reviver uma antiga tradição. O importante é seu sentido profundo e seu valor intrínseco (valor em si mesmo). Aqui, no coração da Páscoa, celebramos o mistério da redenção do homem. A Páscoa é a festa da redenção humana através da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.

E ao longo do ano litúrgico, a Igreja comemora ou celebra os vários aspectos da obra da redenção. Nesta ocasião (ao longo do ano litúrgico) a Igreja celebra este mistério da redenção como um todo e em toda sua plenitude. Missa diária é a Páscoa diária. Cada sacramento celebrado é o momento de salvação. É a festa pascal que inclui todos os demais mistérios cristãos.  Todas as celebrações cristãs tem seu sentido por causa da Páscoa do Senhor. Através de nossa união com Cristo, pela fé e pelo batismo, nós mesmos somos associados intimamente com Cristo morto e ressuscitado. Celebrando o mistério pascal de Cristo(Paixão-Morte-Ressurreição), a Igreja celebra sua própria passagem da morte para a vida.

A liturgia da Vigília pascal nos oferece uma visão global da passagem e da jornada da Primeira Criação para a Nova Criação em Jesus Cristo. Para nós são apresentadas umas perspectivas da salvação desde a criação do mundo até a plenitude. Com a Encarnação e a Ressurreição de Jesus Cristo o mundo todo sofre uma revolução e, ao mesmo tempo, a humanidade é capacitada para tomar parte da plenitude e da soberania de Jesus Cristo Ressuscitado com uma nova e melhor forma de existência. O bem, mesmo sofrendo, sempre vence o mal. Cristo é o primeiro fruto da nova criação. Sua vida, que culmina com sua ressurreição e glorificação pelo Pai, é como uma antecipação que permite vislumbrarmos nosso futuro vitorioso em todas as dimensões de nossa existência. 

Com a ressurreição de Jesus começa o futuro escatológico, isto é, a plenitude e perfeição de paz, de bem, de amor, de vida, de justiça que serão o Reino de Deus já realizado com a chegada de Jesus Cristo; que já agora vivemos como início e em crescimento, e que chegará ao término definitivo e perfeito. Este término definitivo e perfeito não se realizará plenamente até que chegue “o Dia do Senhor”. Para chegar à plenitude, como Cristo para chegar à ressurreição é necessária uma vida de luta permanentemente pelo bem. São Paulo nos recorda que é necessária a fé, mas depois desaparecerá quando chegarmos à plenitude. É necessária a esperança, enquanto estivermos na luta de cada dia, que, na plenitude será desnecessária. É necessário o amor, que então chegará à sua plenitude, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Por isso, mais uma vez, a Vigília pascal é “a Mãe de todas as vigílias”. 

Um Olhar Para O Texto Do Evangelho Desta Noite

O que é que este texto fala para mim, para você, para nós? Será que Deus tem uma palavra para mim através deste relato? O que é que a na ressurreição implica para mim ou para minha vida diária? O que significa celebrar a ressurreição do Senhor para mim? Mudou alguma coisa em mim durante os quarenta dias de preparação para a Páscoa? Estas perguntas e outras são importantes para nós, especialmente para nós, pregadores, pois temos sempre tentação de tentar descobrir mensagens para o povo ou rebanho e não para o próprio pregador(nós) em primeiro lugar.          

O relato sobre a ressurreição de Jesus neste texto, como foi dito, é bem breve, mas está cheio de riqueza de traços inesperados e densidade teológica. Tentemos descobrir o sentido do relato passo a passo.

1. Jesus É O Princípio Da Nova E Definitiva Criação          

As mulheres vão ao túmulono primeiro dia da semana, ao nascer do sol” (v.2). “O primeiro dia da semana”, isto é, no terceiro dia depois de sua morte, o tempo que o próprio Jesus anunciou (cf. Mc 8,31;9,31;10,34) alude ao primeiro dia da criação (cf. Gn 1,5). Mc sublinha assim o começo da nova criação. Para enfatizar mais este sentido, Mc fala também sobre “ao nascer do sol”. “Ao nascer do solnão indica apenas uma nova situação em contraste com as três horas de total escuridão que precederam a morte de Jesus (cf. Mc 15,33), mas simbolicamente indica que também Jesus ressuscitou (Mc 16,2). Isto quer dizer que a ressurreição de Jesus é o princípio da nova e definitiva criação. Ele é o princípio do qual fluem em nossa vida toda, a força de Deus que restaura em nós a semelhança divina. A partir de Jesus ressuscitado tudo ganha seu justo valor. Nada fica sem sentido visto a partir da ressurreição de Jesus. Jesus como o princípio da nova e definitiva criação serve como o ponto de partida para tudo. Sem este ponto de partida que é o princípio, o ser humano perderá seu rumo. Tudo tem que começar nele para terminar nele, pois Jesus é aquele que se define “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim” (Ap 21,6). Com ele tudo se renova: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). Por isso, deixemos a luz nova do Cristo ressuscitado iluminar o nosso coração, o nosso ser inteiro para que sejamos novas criaturas e estejamos cheios de toda a plenitude de Deus (cf. Ef 3,18-19).

 2. As Surpresas Das Mulheres E Seu Emudecimento Diante Da Ressurreição        

As mulheres que vão ao túmulo de Jesus para ungir o corpo de Jesus (v.1) são realmente mulheres repletas de amor e devoção a Jesus. Elas vão ao túmulo para reverenciar o corpo de Jesus. Elas pensam apenas na morte de Jesus e não na sua ressurreição que ele anunciou antes de sua morte. As mulheres ficam aquém do verdadeiro sentido da cruz de Jesus. Por isso, no caminho rumo ao túmulo elas dizem entre si: “Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?” (v.3). Foi fácil fechar o túmulo, porque é fácil pensar que a morte vence a vida. Mas para as mulheres é impossível abri-lo e admitir que a vida vença a morte. Elas se fixam e param na hora da morte de Jesus.           

Mas o túmulo vazio e a presença do anjo e o anúncio deste que Jesus, o Crucificado, ressuscitou (v.6), as apanham de surpresa. “...elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca...” (v.5). “As roupas brancas” são o sinal do mundo divino, sinal do esplendor da glória divina (cf. Mc 9,3: a transfiguração). E “sentado à direita” (cf. Sl 110,1) é uma posição do poder e a autoridade divinos (cf. Mc 12,36;14,62), posição de dignidade, e uma posição de uma pessoa justa (ser justo biblicamente significa aquele que vive de acordo com a lei divina). No julgamento final, os justos serão chamados a se sentarem à direita do Filho do Homem (cf. Mt 25,31-46). E o próprio Jesus na sua Paixão disse: “E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo com as nuvens do céu” (Mc 14,62). Todos estes símbolos descrevem a condição divina de Jesus e enfatizam que Jesus é o Vencedor da morte.          

Tudo isto quer nos dizer, em primeiro lugar, que a prova da ressurreição não é túmulo vazio; a ressurreição não é fruto de uma descoberta ou elaboração humana, mas é revelação divina. E Deus somente pode revelar a quem é disponível a sua ação salvífica e escatológica manifestada em Jesus Cristo. Quem estiver aberto para a vontade de Deus, a ele será revelado muitas coisas. A ressurreição é a ação poderosa de Deus, que se revela vencedor da morte e salvador na pessoa histórica e concreta de Jesus. Ao ressuscitar Jesus da morte, Deus quer dizer à humanidade que Jesus tinha razão, que Jesus fazia tudo que Deus quis: fazer o bem para todos os homens (cf. At 10,38). 

Em segundo lugar, ao dizer que Jesus “ressuscitou. Não está aqui”, o texto quer nos dizer que Jesus não é uma memória e sim uma presença. Jesus não é um personagem para ser discutido e sim para ser encontrado. A vida cristã não é uma vida para saber sobre Jesus e sim para conhecer Jesus. E para conhecê-lo o cristão tem que fazer o encontro com Ele. Podemos até saber sobre Jesus, mas este saber tem que terminar no encontro com Ele para que nos tornemos pessoas renovadas no Espírito de Deus. Jesus é o vivente, é uma presença. Por isso, é inútil buscá-lo num túmulo. O encontro com o ressuscitado não se realiza entre os túmulos, no passado, e sim no presente. Com isso, a ressurreição abre o novo futuro para quem acredita no Jesus Ressuscitado. 

Em terceiro lugar, temos que estar conscientes de que para onde formos, Jesus vai nos preceder: “Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que Ele irá à vossa frente, na Galileia”. Galileia é o lugar onde Jesus começou sua missão. Os discípulos tem que fazer encontro com Jesus no lugar da missão. Se fizermos tudo que Jesus ensinou, tenhamos certeza de que Ele vai abrir o caminho para s. Nãodificuldade que não seja superada quando Jesus estiver na nossa frente. Onde for feita a evangelização, Jesus é encontrado . Jesus se encontra no lugar das pessoas que ajudamos na sua necessidade.          

Os leitores deste relato esperam a reação de alegria dessas mulheres ao receberem a notícia da ressurreição de Jesus Cristo. Mas em vez disto, elas emudecem. Elas ficam como que paralisadas e em seguida fala do seu temor, do seu estupor, do seu medo e do seu emudecimento: “Nada contaram a ninguém” (Mc 16,8b). Com isso, o evangelista quer nos dizer que o Evangelho continua aberto para o futuro. Somos convidados para este novo futuro onde encontraremos Jesus ressuscitado e encontraremos também o sentido de nossa vida. Para isso, temos que levar adiante o projeto de Jesus ressuscitado. Além disto, este Evangelho é um convite a abrir os olhos para ver o Senhor na nossa experiência diária. 

3. A Missão Confiada Às Mulheres Sobre O Novo Encontro Com Jesus          

Apesar do seu emudecimento, essas mulheres são testemunhas privilegiadas dessa revelação divina e são chamadas e enviadas para anunciar aos discípulos e a Pedro sobre a ressurreição de Jesus e sobre o novo encontro com ele na Galileia: “Não tenhais medo. Vós estais procurando Jesus de Nazaré, o crucificado: ressuscitou, não está aqui... Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia: lá o vereis como vos disse” (v.7).        

 Ele não está aqui. Ele ressuscitou! E ele os precedeu na Galileia”. O lugar do encontro não é num passado, mas num futuro novo. O lugar do encontro não é na contemplação de um morto, mas no seguimento de quem está vivo. Jesus ressuscitado deve ser seguido, vivendo o seu projeto. Jesus não é uma figura num livro, mas uma presença viva e vivificante. Não é suficiente estudar a história de Jesus como qualquer grande figura histórica. Nós podemos começar desta maneira, mas devemos terminá-la com o encontro com ele, pois Jesus não é uma memória, mas uma presença. Ele continua vivo entre nós. Se realmente acreditarmos nesta Presença, encontraremos sempre forças mais que suficientes para encarar qualquer tipo de dificuldade, pois o próprio Jesus venceu a morte.          

Ele não está aqui. Ele ressuscitou!”, é a mensagem para todos os que queiram mudar de vida para a melhor. Jesus faz uma páscoa, uma passagem da morte para a vida, para Deus. Precisamos fazer essa passagem. “Se não passamos para Deus que permanece”, dizia Santo Agostinho, “passaremos com o mundo que passa. Páscoa é passar para aquilo que não passa. Quão melhor é passar do ‘mundo’, antes que passe ‘junto com o mundo’; passar para o Pai, antes que passe para o inimigo”. Cada vez que acolhemos a inspiração da Palavra de Deus, estamos fazendo uma passagem para Deus. Cada vez que dizemos “não” a uma vontade da carne, estamos fazendo uma passagem para Deus. Não há momento ou ação da vida de um cristão que não possa se transformar em uma passagem, em uma páscoa. A páscoa deve acontecer em todos os momentos da vida de um cristão. Além disto, todo cristão vivo deve ser uma manifestação extraordinária da ressurreição do Senhor.          

O evangelista Mc certamente quer transmitir, através deste relato, uma mensagem para todos os leitores e cristãos em particular que a ressurreição de Jesus manifesta uma dupla fidelidade: a fidelidade do Pai que não abandona Jesus, mas o ressuscitou, sinal da aprovação; e a fidelidade do Filho que não abandona os discípulos, que fugiram na Paixão, mas os procura e quer reencontrá-los. A primeira preocupação de Jesus Ressuscitado é a de reencontrar os seus discípulos, para retomar, novamente juntos, o seu caminho. A esperança de cada cristão repousa inteiramente nesta dupla fidelidade. 

4. Jesus Nos Precede Para Onde Formos          

Ele vós precederá na Galileia”. Este anúncio é cheio de significado. Os exegetas discutem sobre o significado da Galileia. A Galileia para o evangelho de Marcos é importante onde se desenvolve a maior parte da vida de Jesus. Foi na Galiléia que Jesus começou a proclamar a Boa Nova, anunciando a chegada do Reino de Deus (Mc 1,14-15). Foi neste lugar que Jesus chamou seus primeiros discípulos para serem “pescadores de homens” (Mc 1,16-20). Foi na Galiléia inteira que Jesus pregou o Evangelho, curando e expulsando os espíritos maus (Mc 3,13-19;6,7-13). Foi na Galileia que Jesus começou a revelar aos discípulos “o mistério” do Reino de Deus (Mc 4,11). Foi da Galileia que a Boa Nova se espalhou para todas as regiões ao redor (Mc 3,7-12). Na e da Galiléia os discípulos podem continuar sua missão de pregar o Evangelho e curar todos os povos no mundo inteiro (Mc 13,10;14,9). E foi na Galileia que Jesus ressuscitado precedeu os discípulos (Mc 16,7). A Galileia é, por isso, o lugar onde com os mesmos gestos, com a sua bondade e disponibilidade, os discípulos reconhecerão a presença viva daquele Senhor que conheceram. A Galiléia é o lugar em que o Senhor Ressuscitado se lhes manifestará visivelmente e onde Jesus começará a reconstrução da comunidade, aquela reconstrução que era anunciada na Paixão em que Jesus disse: “Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão. Mas depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galileia” (Mc 14,27-28). E Jesus é fiel às suas promessas. A Galileia é o lugar onde a comunidade dos Doze será reconstruída. Todo o Evangelho de Mc deve ser meditado na aceitação de que Jesus vive e fala hoje aos seus e os chama, como ele os chamou junto ao lago (Mc 1,14-20), ou junto ao monte (Mc 3,13-19) e continua a estar na Igreja, em cada cristão.          

Ele vos precederá na Galiléia”. A palavra “preceder” é usada também em Mc 10,32 quando Jesus está a caminho rumo a Jerusalém. Jesus precedeu os discípulos na Morte e na Nova Vida que o Pai lhe deu. Ele precederá os discípulos na Galiléia. 

Jesus vos precederá” é uma promessa para todos nós. Para onde formos, como verdadeiros cristãos, devemos estar conscientes de que Jesus sempre nos precede. Ele sempre chega primeiro que nós no lugar onde formos. E ele nos guia para onde ele se encontra. Que saibamos reconhecer essa precedência e esta presença. Quando temos esta consciência, nenhuma dificuldade vai nos bloquear, pois Jesus nos precede e com isto, abre o caminho para nós. Mas com uma condição: que sejamos fiéis à Sua Palavra, pois a Sua Palavra nos orienta sobre o que devemos fazer.

5. Algumas Das Implicações Da Fé Na Ressurreição   

a). A Páscoa cristã é a festa das festas, e o cristão é aquele que afirma: o Senhor ressuscitou verdadeiramente. O cristianismo nasce e progride desta proclamação fundamental: Jesus Cristo que foi crucificado, ressuscitou verdadeiramente. Da ressurreição de Cristo deriva todo o resto da mensagem cristã. Sem a vitória de Cristo sobre a morte, toda a pregação seria inútil e a nossa fé seria vazia de conteúdo (cf. 1Cor 15,14-17). A ressurreição do Senhor é uma realidade central da fé cristã. A importância deste milagre é tão grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas da ressurreição de Jesus (cf. At 1,22;2,32;3,15). O núcleo de toda a pregação é este: Cristo vive e vive no meio de nós (cf. Jo 1,14; Mt 28,20). A páscoa da ressurreição é a grande festa cristã. Este mistério é tão importante e central é que o celebramos ao longo de todos os domingos e festas do ano litúrgico e inclusivamente na Eucaristia diária. Certamente cada eucaristia que se celebra, celebra-se e proclama-se ao mesmo tempo a ressurreição do Senhor e a nossa também. A eucaristia dominical é a páscoa semanal. A eucaristia diária é a páscoa diária.          

Sem dúvida nenhuma, a Páscoa é, por isso, o próprio conteúdo da fé cristã, é o coração da vida da Igreja porque ela nos revela quem é Deus, quem é Jesus Cristo e quem somos nós. A ressurreição nos mostra que o Deus revelado por Cristo é Aquele que ama e quer a vida. A Páscoa nos revela que Jesus, morto e ressuscitado, é Aquele que converge toda a história da humanidade. E ao mesmo tempo revela que a fidelidade é o caminho certo para chegar à Páscoa eterna com Deus. A Páscoa também nos revela que somos chamados a ressuscitar com Jesus, a superar com ele o drama da morte para podermos permanecer com ele na vida que não tem fim.             

b). Pela ressurreição do Senhor sabemos que Deus ama a vida. A Páscoa é a gloriosa manifestação de um Deus que ama a vida, que quer a vida e não a morte, de um Deus que, além disso, faz com que da morte surja a vida.          

Crer na ressurreição implica, por isso, defender a vida, especialmente a dos mais indefesos; implica respeitar a vida alheia como a própria; implica lutar pelo que é certo e justo, pois estes predicados como outros semelhantes é que garantem a vida sem fim; implica estender a mão para levantar quem se encontra sob o peso dos problemas desta vida. Procurar o Senhor ressuscitado implica comprometer-se com aqueles que vêem o seu direito à vida permanentemente violentado e violado. Acreditar na ressurreição significa afirmar a vida contra a morte.          

c). A ressurreição é o grito festivo da . Com a ressurreição, o grito de Jesus na Sexta-Feira SantaDeus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mc 15,34), grito que sintetiza todas as situações de aflição da humanidade se transforma, na noite de Sábado Santo, em grito festivo de e de esperança: Cristo ressuscitou. É um grito de porque anuncia algo que aconteceu em Cristo e permanece para sempre. É o grito de esperança porque a partir de Jesus Cristo ressuscitado a vida humana tem um futuro e que ninguém pode tirá-lo de nós, e que seremos ressuscitados também. A certeza deste grito de alegria e de esperança nos proclama que a bondade soterra a maldade, que a morte tem o seu contrapeso de vida, que toda crise pode ser suplantada, que com Cristo toda tristeza conhecerá a alegria.          

Infelizmente temos que confessar que a nossa existência humana é muitas vezes dominada por uma tendência de diminuir as esperanças, reduzindo-as cada dia mais por causa das ilusões, e a nossa tristeza nos leva, com freqüência, a recusarmos palavras de conforto, porque nós não temos idéia exata da libertação que nos foi concedida por Jesus ressuscitado. Precisamos estar conscientes de que a Páscoa é uma recriação, é uma nova criação da humanidade, pois Jesus, pela sua ressurreição, inaugurou um mundo novo no meio de nós.          

d). A ressurreição de Cristo é uma resposta às esperanças de um destino humano aberto para o futuro novo. Quando este futuro novo for negado, a pessoa se fecha a si mesma, fica insatisfeita e chega às margens do desespero. A ressurreição nos leva a certeza de que a vida jamais acabará e de que o triunfo da vida não é mais ameaçado pela morte. O Ressuscitado está conosco, e continua vivo dentro da história e junto com ele nós estamos em condições de vencer o mal com o bem, de tirar do mal o maior dos bens. Esta é força e a novidade da Páscoa. Quem crê na ressurreição não é permitido viver triste. Somos destinados e chamados a viver plenamente com Deus, alegres na esperança com os irmãos da mesma peregrinação.          

e). Da ressurreição de Jesus nasce, antes de mais nada, uma esperança. Cristo é nossa esperança (1Tm 1,1). Nessa esperança nós, cristãos, aprendemos a acreditar em Deus e a desentranhar o sentido último do homem. Mas a esperança de que se trata não é virtude de um instante ou reação de um momento. É uma atitude permanente, um estilo de vida. É a forma de enfrentar a vida própria do cristão. Se perder essa esperança, perde tudo. Deixa de ser cristão. Aquele que vive animado pela esperança cristã põe seu olhar no futuro. Ele não fica apenas com o presente, nem vive preso ao passado, mas olha sempre para frente. A esperança sempre gera uma perspectiva de futuro. E esta esperançaorigem a uma nova maneira de se posicionar na vida apesar das dificuldades, como diz São Paulo: “Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados” (2Cor 4,8-9). A esperança vive da confiança em Deus, como o profeta Isaías diz: “É ele (Deus) queforças ao cansado, que prodigaliza vigor ao enfraquecido. Mesmo os jovens se cansam e se fatigam; até os moços vivem a tropeçar, mas os que põem a sua esperança em Yahweh(Deus) renovam as suas forças, abrem asas como as águias, correm e não se fatigam, caminhar e não se cansam” (Is 40,29-31). Que cada um de nós seja um pequeno sinal, uma pequena prova desse Deus da esperança! FELIZ PÁSCOA PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA!

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...