SOMOS
CHAMADOS A PASSAR A VIDA FAZENDO O BEM: Use
O Dinheiro Para Valorizar As Pessoas E Não Use As Pessoas Para Valorizar O Dinheiro
Segunda-Feira
da
Primeira
1“Eis o meu servo — eu o recebo; eis o meu eleito — nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas proverá o julgamento para obter a verdade. 4Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos”. 5Isto diz o Senhor Deus, que criou o céu e o estendeu, firmou a terra e tudo que dela germina, que dá a respiração aos seus habitantes e o sopro da vida ao que nela se move: 6“Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.
Evangelho: Jo 12,1-11
1
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Abrimos hoje a última semana da Quaresma. Os textos dos evangelhos desta Semana Santa nos fazem revivermos hora por hora os últimos instantes de Jesus em Jerusalém: a unção em Betânia, na casa de seus amigos: Lázaro, Marta e Maria; a última Ceia com seus discípulos; e a traição de um dos Doze: Judas Iscariotes.
Nestes dias santos ergue-se diante de nós a figura do Servo de Javé (Yahweh) silenciosa e majestosa, para nos introduzir no mistério pascal (Paixão-Morte-Ressurreição): sua eleição, missão e sofrimentos são profecia da sorte de Cristo Jesus. O próprio Deus apresenta seu Servo. Ele o escolheu para uma missão difícil e de grande importância e por isso Ele o sustenta. Consagrado com o espirito profético, o Servo levará o “direito” a todas as nações, isto é, o conhecimento prático dos juízos de Deus. Com a força da mansidão e a firmeza da verdade, o Servo de Javé persevera na sua missão. Em Cristo Jesus, a figura se converte em realidade.
Servo De Deus: Sua Eleição e Missão
“Eis o meu servo — eu o recebo; eis o meu eleito — nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações”.
A Primeira Leitura é o primeiro Cântico do Servo de Deus dos quatro cânticos no livro do profeta Isaías (outros cânticos: Is 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12).
Neste primeiro cântico, o autor usa uma linguagem velada e obscura: Quem é o servo? Para quem ele é apresentado? Qual é sua missão?
Frequentemente se chama “Servo” a pessoas físicas; por exemplo, a Abraão, a Moisés, a Davi, etc., todos eles são chamados na Bíblia “servos de Javé”. Também se dá este nome a todo o povo de Israel.
“Eis o meu servo — eu o recebo; eis o meu eleito — nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações”. Estas primeiras palavras têm o sentido de uma designação, isto é, de uma eleição e de uma apresentação. Deus elege o Servo e o apresenta a Israel e às nações. Esta designação difere da designação dos reis e da vocação dos profetas. No caso dos reis, Deus escolhe um líder carismático e o apresenta ao povo para que o aceite e depois segue a proclamação real. E no caso dos profetas, a vocação acontece sem testemunhas. Deus escolhe o Servo porque ele quer, porque se compraz nele, sem fixar-se nas qualidades que tenha, e sem justificar sua escolha a ninguém. Deus escolhe seu Servo soberanamente e depois o apresenta ao mundo inteiro.
A missão do Servo de Deus encontra suas raízes na eleição ou na chamada do Senhor (vv.1-6). Por vontade divina o servo é equipado com o dom do Espirito semelhante aos chefes carismáticos e profetas de Israel (Jz 6,34; 1Sm 11,6; Is 11,2ss). Mas a eleição destes não era feita publicamente como ocorre com o servo: “Eis o meu servo!” (Is 42,1). Esta afirmação exige uns testemunhas e nos recorda a apresentação pública dos reis diante do povo (cf. 1Sm 16: Davi é equipado com o dom do Espirito e é proclamado rei). Assim, pois, o servo é mediador carismático e possui, além disso, prerrogativas reais.
A missão do servo (de Deus), porém, é muito dura, pois ele deve “estabelecer a justiça na Terra”. Insistentemente o autor repete esta ideia: trazer, promover, implantar a justiça. O termo hebraico que geralmente traduzimos por “justiça” está carregado de dois significados fundamentais. Em primeiro lugar, “Justiça” indica uma atitude fiel, leal e construtivo e não tanto obediência a umas normas. Em segundo lugar, a “justiça” bíblica indica também um estado de saúde comunitário onde cada pessoa se encontra em uma rede de relações públicas harmoniosas e saudáveis. Onde há atitude fiel, leal e construtiva, há também uma convivência harmoniosa e saudável, pois um membro sempre pensa na edificação de outro membro e onde cada um evita qualquer conflito desnecessário.
E este reinado de justiça, e não de violência, deve ser traduzido em obras concretas: abrir os olhos dos cegos, libertar os cativos da prisão e tirar os que habitam nas trevas: “... abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,7). Cegueira, prisão, trevas evocam realidades negativas que devem ser transformadas através de atuações libertadoras: abrir, tirar. É um trabalho de libertação. Todo ser humano com vocação de Redentor deve ser necessariamente libertador, pois ambos términos se identificam.
A forma de atuar do Servo (de Deus) nada é parecida à forma de atuar dos mortais: “não gritará, não clamará”: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas” (Is 42,2). O servo de Deus atua por encargo do Senhor guiado por seu Espirito. Ele atua à maneira que Deus atua. O Servo de Deus não pronuncia grandes discursos. Sua linguagem são os fatos. E estas não consistem em “quebrar uma cana rachada nem apagar um pavio que ainda fumega”. O Servo de Deus não faz propaganda eleitoral nem busca compensação nenhuma da parte dos homens. Ele só quer libertar as pessoas de uma situação de escravidão. Muitas vezes seu prêmio será o sofrimento, mas não lhe importa, pois não vacilará nem quebrará nada: “Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas proverá o julgamento para obter a verdade. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra...” (Is 42,3-4). A postura do servo de Deus é firme, inquebrantável no cumprimento de seu dever. Este servo de Deus se encontra sua plena concretização em Jesus Cristo.
Nosso mundo está repleto de vozes que pregam aos quatro ventos seus pontos de vista, sejam políticos sejam religiosos. Lutam para apoderar-se dos meios de comunicação para que ganhem um maior número de adeptos, discípulos, eleitores. São donos de púlpitos e tribunas. Não admitem vacilação alguma de opção nos demais. Eles gritam, insultam e até anatematizam. Passam muitas horas discutindo sobre a ortodoxia ou heterodoxia de uma determinada doutrina. Mas quantos “olhos cegos” voltam a enxergar a realidade como ela é? Quanto foram libertados dos laços da escravidão ou das densas trevas? Em nada são parecidos com o servo de Deus! Estão longe da figura de um servo de Deus que tem o dever de estabelecer a justiça neste mundo.
Jesus Cristo, Servo de Deus, a quem seguimos é um verdadeiro Libertador. Ele passou por este mundo fazendo o bem (At 10,38), deu ânimo aos desesperados e medrosos, curou os doentes, aproximou-se dos publicanos e das prostitutas, ressuscitou os mortos e assim por diante. A forma de atuar de Jesus deve ser a forma de atuar dos cristãos. Cada cristão deve passar por este mundo fazendo o bem. Fora disso, o cristão não serve mais para nada! E Jesus nos relembra: “Assim também vós, quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: Somos simples servos, fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17,10).
Entre Amor e Dinheiro
· O cofre do banco contém apenas dinheiro; frustra-se quem pensar que lá encontrará riqueza (Carlos Drummond de Andrade).
· A medida do amor é amar sem medida (Santo Agostinho)
· Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor (Madre Teresa de Calcutá)
O evangelho deste dia está cheio de significados. O jantar de Jesus, em Betânia, é prelúdio da Última Ceia. A refeição, tomada em grupo, era um gesto sagrado porque indicava comunhão de sentimentos e de vida, e era uma oportunidade preciosa para dar graças a Deus por todos os Seus dons, a começar pela vida.
Jesus foi convidado para uma refeição na casa de Lázaro (que foi “ressuscitado” por Jesus), Marta e Maria. Lázaro era entre os comensais, Marta estava servindo e Maria era a mulher que ungiu Jesus.
Essa
Maria, a comunidade cristã usa o dinheiro para valorizar o amor e as pessoas. Jamais um cristão usa as pessoas para valorizar o dinheiro. Judas desvaloriza o amor para valorizar o dinheiro. Judas usa os pobres como o pretexto para sua própria ganância: “Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata para as dar aos pobres?”. Mas João acrescentou: “Judas falou assim não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão”. A comunidade não se distingue dos pobres; é uma comunidade de pobres que se amam e que, através do compartilhar, expressão do amor, superam sua condição de oprimidos.
A unção feita por Maria em Jesus antecipa a sepultura de Jesus. Maria, ungindo os pés de Jesus, representa a comunidade em sua relação íntima com Jesus. O gesto de Maria de ungir os pés de Jesus mostra seu agradecimento pelo dom da vida. O perfume que Maria derramou sobre Jesus é símbolo do amor da comunidade por Jesus que responde ao amor que Jesus mostrou à comunidade, comunicando-lhe a vida. E o alto preço do perfume usado na unção, que equivalia a 10 meses de salário de um trabalhador rural, é símbolo do amor sem limites e sem mancha por Jesus. E a aroma que enche a casa inteira antecipa a fragrância do amanhecer do domingo da Páscoa em que Jesus matou a morte para que todos tenham vida abundantemente em Jesus Cristo (Jo 10,10).
Para a crítica de Judas, Jesus dá a seguinte recado: “Pobres, sempre os estareis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis” (Jo 12,8). Por um lado, o Pobre, por excelência, é Jesus, que nos dá tudo quanto possui, tudo quanto é. Por isso, só Ele deve ser o centro da nossa vida, sem qualquer tipo de cálculos. O Mestre dá-nos tudo! Há que dar-lhe tudo, sem cálculos nem reservas. A nossa entrega total a Cristo acaba por beneficiar toda a Igreja: “a casa encheu-se com a fragrância do perfume”. Por outro lado, se lermos esta frase à luz das palavras que Jesus disse em Mt 25,40.45: “Tudo que você fizer para um dos pequeninos, você fará isso para mim”, entenderemos o sentido da frase. O que fizermos para qualquer pobre e necessitado, faremos isso para Jesus. Apesar de aumentar o número dos ricos, os pobres continuam a ser a maioria neste mundo: “Os pobres estarão sempre convosco”.
Portanto, o nosso seguimento de Jesus pode desenrolar-se como caminho da morte à vida, como aconteceu a Lázaro, ou como solicitude atenta e cuidadosa no serviço ao Mestre e aos seus, como aconteceu com Marta; pode também assemelhar-se a um caminho de amor adorante, como aconteceu com Maria, ou a um caminho de resistências e de calculismos materiais, que acabam por sufocar quem os segue, como aconteceu com Judas. Judas prefere o dinheiro ao amor e não crê no amor generoso. E o próprio dinheiro o sufocou e o matou. Maria colocava o dinheiro no devido lugar para valorizar o amor.
Judas desvaloriza o amor para valorizar o dinheiro, usa as pessoas para valorizar o dinheiro. E morreu sem amor e sem dinheiro. Maria, a comunidade dos discípulos de Jesus, usa o dinheiro para valorizar o amor fraterno, pois onde há partilha, expressão do amor fraterno não haverá famintos. Amar alguém equivale a lhe dizer: “Tu nunca morrerás, pois ‘Deus é amor’” (1Jo 4,8.16). É bom cada um tentar se colocar: no lado de Judas ou no lado de Maria?
A unção que Maria fez sobre Jesus também é o
símbolo da comunhão nupcial com Jesus manifestada pela comunidade cristã. O
perfume que deve encher a cada é a comunhão fraterna. Através de Maria de
Betânia, somos chamados à comunhão total com Jesus, Doador de vida. É Ele quem
transforma o que deveria ter sido um banquete fúnebre em memória de Lázaro em
um banquete gozoso. É Ele quem muda o fedor insuportável de um morto, “de
quatro dias” no perfume que inunda a casa de alegria. É Ele quem contesta a
todos os judas da Terra, que consideram um esbanjamento o perfume precioso da
intimidade com Deus e opõem os pobres ao Senhor. É Ele quem recusa a “prática”
dos que preferem a eficiência do dinheiro a qualquer êxtase de amor, e reduzem
maliciosamente a um valor monetário-econômico o que não tem preço. Em resumo, é
Ele a quem devemos buscar na oração do abandono, na experiência contemplativa e
em nosso modo de viver.
P. Vitus Gustama,svd
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