terça-feira, 9 de março de 2021

13 de Março de 2021-Oração-Conversão

HUMILDADE NO REZAR E NO AGIR É TAMBÉM FRUTO DE NOSSA CONVERSÃO

Sábado da III Semana da Quaresma 

Primeira Leitura: Os 6,1-6

1 “Vinde, voltemos para o Senhor, ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos. 2 Em dois dias, nos dará vida, e, ao terceiro dia, há de restaurar-nos, e viveremos em sua presença. 3 É preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor. Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo”. 4 Como vou tratar-te, Efraim? Como vou tratar-te, Judá? O vosso amor é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz. 5 Eu os desbastei por meio dos profetas, arrasei-os com as palavras de minha boca, mas, como luz, expandem-se meus juízos; 6 quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.

Evangelho: Lc 18, 9-14        

Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de , rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque eu não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e eu dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ 14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

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A Conversão É o Trabalho Diário Até o Fim De Nossa Vida Neste Mundo

Vinde, voltemos para o Senhor, ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos. Em dois dias, nos dará vida, e, ao terceiro dia, há de restaurar-nos, e viveremos em sua presença”. Desta vez é o profeta Oseias quem nos convida a nos converter aos caminhos de Deus. Sua experiência pessoal (sua mulher foi infiel no casamento, pois foi atrás de outro homem, mas Oseias continuava mostrando sua fidelidade) serve-lhe para descrever a infidelidade do povo de Israel para com Deus, o Esposo sempre fiel. E ele põe nos lábios dos israelitas umas palavras muito belas de conversão: “Vinde, voltemos para o Senhor, ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos. Em dois dias, nos dará vida, e, ao terceiro dia, há de restaurar-nos, e viveremos em sua presença”.

Converter-se é em hebraico como também em latim, voltar-se, voltar: o homem volta para Deus, porque Deus o chama. É uma voz que salva a distância e supera os obstáculos para voltar a criar presença e intimidade. A conversão é um retorno. Jesus ilustra de maneira inesquecível essa imagem do retorno com a maravilhosa parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Isto significa que o pecado é sempre um afastamento. Com o pecado se estabelecem distâncias, se abandona a casa paterna. Por Jesus sabemos que o Pai continua nos esperando nossa volta. Conversão é toda decisão ou inovação que de alguma forma nos aproxima da vida divina e nos torna mais conformes a ela para que sejamos mais humanos e mais irmãos com os outros. A conversão conduz as pessoas juntas à maturidade espiritual, que se reflete em sua aversão ao mal e sua atração pelo bem. A conversão é uma viagem de volta para a Casa Paterna depois de ter desandado tão longe do Pai. A conversão é crescimento contínuo; não é um acontecimento instantâneo, pontual e de uma vez por todas; não é uma carreira acabada, mas que constitui um crescimento sem interrupção e ascendente.

Por isso, esta conversão não deve ser superficial, por interesse ou para evitar o castigo. A conversão não deve ser passageira ou pontual “como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz”. Quantas vezes os israelitas se converteram desse jeito e logo voltavam a pecar.

Deste vez o profeta Oseias quer que a conversão seja levada a sério. A conversão não consiste em ritos exteriores e sim em atitudes interiores: “Quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”. Desta maneira, Deus vai ajudar os israelitas: “Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo”. Com esta imagem, o profeta Oseias quer nos dizer que a ação de Deus faz fecunda a atividade humana, desde que o homem esteja aberto como a terra aberta para a chuva que cai. O homem só, com seus recursos sozinhos, se evapora, se desvanece e se empobrece, “como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz”. Este empobrecimento se manifesta em holocaustos e sacrifícios, isto é, em uma piedade coberta de uma idolatria (cf. Os 5,11). Seu ponto alto é a opressão, a própria aflição e a aflição alheia, e a morte. É desta maneira que o homem sente a ausência de Deus. Por outro lado, a busca de Deus e seu amor pelo homem (conhecimento de Deus, v.6b) refletem-se no amor ao outro, ao próximo que leva o homem à vida, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). 

A chamada do profeta Oseias para a conversão soou hoje para nós, e não somente para o povo de Israel: "Vamos voltar ao Senhor". Ele nos convidou para conhecer melhor a Deus. O profeta nos convida a organizar nossa vida muito mais de acordo com as atitudes internas - misericórdia com os outros - do que com os atos externos (ritos exteriores). Somente assim, a Quaresma será uma aurora de luz e uma fonte de nova vida.

Nossa conversão quaresmal está sendo interior, séria e sincera? Ou teremos a mesma experiência de tantos anos em que também decidimos voltar aos caminhos de Deus e depois fomos fracos e voltamos aos nossos próprios caminhos de pecado?  Vamos recordar aquilo que o autor da Segunda Carta de São Pedro: “Com efeito, se, depois de fugir às imundices do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, e de novo são seduzidos se deixam vencer por elas, o último estado se torna pior do que o primeiro” (2Pd 2,20). 

Crer em Deus, aceitá-Lo em nossa vida, significa busca-Lo para caminhar com Ele em uma autêntica Aliança de amor, e para sermos fieis a Sua Palavra na riqueza e na pobreza, na saúde e na enfermidade todos os dias de nossa vida, e não somente com um amor comparado a uma nuvem pela manhã ou como orvalho matinal que se evapora. Tratemos de que esta Quaresma nos ajude a vivermos nossa proximidade a Deus com um autêntico compromisso de fé. “Quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”! 

Sejamos Humildes Até Nas Nossa Orações 

Oração é um dos temas preferidos do evangelista Lucas. Lucas é o evangelista da oração. Ele é o único evangelista que inicia (Lc 1,8-10) e termina (Lc 24,53) seu evangelho com o tema da oração. É ele quem mais nos apresenta Jesus orando, principalmente nos momentos decisivos de sua vida: no Batismo (Lc 3,21), na escolha dos discípulos (Lc 6,12), na profissão de fé de Pedro (Lc 9,8), na transfiguração (Lc 9,28s), no Getsêmani (Lc 22,39-46) e na cruz (Lc 23,34.46). Jesus também ensina os discípulos a orar (Lc 11,1ss). No evangelho de Lucas podemos encontrar as orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o Magnificat (Lc 1,46-56); o Benedictus (Lc 1,67-79); o Glória (Lc 2,14); o Nunc Dimittis (Lc 2,29-32). Além disso, Lucas ainda conta três parábolas sobre a oração (Lc 11,5-13;18,1-8;18,9-13). E na sua segunda obra (nos Atos) Lucas nos fala novamente deste tema. Ele nos apresenta a Comunidade Primitiva como uma comunidade orante (At 1,14;2,42). A oração está presente nos momentos mais importantes da Igreja Primitiva (At 1,24;8,15;11,4;12,5;13,2;14,23).

O texto do evangelho de hoje fala da oração de um publicano humilde e de um fariseu arrogante. Sobre a oração o Novo Catecismo da Igreja Católica diz: “A oração é um dom da graça, mas pressupõe sempre uma resposta decidida da nossa parte, porque o que reza combate contra si mesmo, contra o ambiente e, sobretudo, contra o Tentador, que faz tudo para retirá-lo da oração. O combate da oração é inseparável do progresso da vida espiritual. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza(Compêndio do Novo Catecismo, 572; Novo Catecismo, no. 2725).

Não nos esqueçamos: o Tentador quer nos tirar da oração, pois rezar é conversar com Deus. E o Tentador não quer que conversemos com Deus. Quem não rezar (quem não conversar com Deus), pode acabar conversando com o adversário (satanás) ou com o diabo (aquele que cria a desunião e divisão). Além disso, quem não conversa com Deus, gosta de falar de si próprio (egolatria). Quem conversa com Deus permanentemente, torna-se mais humano ou se humaniza. Quem se humaniza, torna-se irmão do outro. A oração nos serena, pois confiamos totalmente n’Aquele que torna tudo existir e possibilita o que é impossível (cf. Lc 1,37). Quanto mais crescermos na espiritualidade, mais rezaremos, pois “O combate da oração é inseparável do progresso da vida espiritual”. A verdadeira oração nos torna mais humildes ou mais nós mesmos. A oração potencia nossa humanidade. 

Estamos na parte do evangelho de Lucas na qual se fala do caminho de Jesus para Jerusalém onde será morto e ressuscitado (Lc 9,58-19,28). Jesus está na etapa final de seu caminho (Lc 17,11-19,28). Durante esse caminho Jesus dá muitas lições importantes para seus discípulos. 

Na passagem do evangelho deste dia Jesus continua a enfatizar sobre a importância da oração perseverante e humilde (Lc 18,1-14) que se iniciou na passagem anterior deste texto. Para falar da oração humilde Jesus conta uma parábola na qual ele coloca em confronto dois tipos de atitude diante de Deus representados por um fariseu e um publicano, como protagonistas da parábola: o fariseu que se elogia desprezando o outro, e o publicano que simplesmente pede a misericórdia de Deus sem desprezar ninguém, porque ele tem consciência de seus pecados.         

Na “oração” do fariseu, Deus ficou esquecido e somente o EU predomina: Eu não sou como os demais, eu jejuo, eu pago o dízimo. A arrogante consciência de ter feito alguma coisa, o faz acreditar que Deus se tornou seu Devedor, mas é inútil. Ele abusava da oração para demonstrar sua própria grandeza a fim de se colocar em destaque diante dos demais. É um verdadeiro exibicionista. O exibicionismo é a linguagem que demonstra a ausência de um valor. Quando um valor cresce na experiência espiritual de uma pessoa, ela ama discrição, que é a linguagem do tesouro escondido, e se comunica pelo caminho da simplicidade e da discrição. Toda a arrogância é contra ao amor fraterno que é essencial para uma convivência mais humana.        

É curioso comprovar que os santos, os que estão de verdade mais perto de Deus, se consideram sempre uns grandes pecadores, pois eles compreendem verdadeiramente o que o pecado significa. Somente à luz de Deus é possível reconhecer a própria miséria. O aproximar-se de Deus consiste em perder ou em abandonar nosso egoísmo e autossuficiência para encontrar a felicidade de Deus. 

Na parábola o publicano se sente pequeno, não se atreve a levantar os olhos ao céu, e por isso, sai do templo engrandecido. Reconhece-se pobre e por isso, sai enriquecido. Reconhece-se pecador e por isso, sai justificado. Com razão o Livro de Eclesiástico afirma: “Quem serve a Deus como Ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens” (Eclo 35,20-21).                

Somos fariseus quando vamos à igreja não para escutar Deus e suas exigências, mas para convidá-Lo a nos admirar pelo bom que somos. Somos fariseus quando esquecemos a grandeza de Deus e nosso nada, e cremos que as virtudes próprias exigem o desprezo dos demais. Somos fariseus quando nos separamos dos demais e nos cremos mais justos, menos egoístas e mais puros/limpos que os outros. Somos fariseus quando entendemos que nossas relações com Deus têm de ser quantitativas e medimos somente nossa religiosidade pelas missas das quais participamos e não pelo amor que vivenciamos com os demais. A vaidade nos faz perder tempo em coisas fúteis e sem valor.

O evangelho deste dia nos chama a nos vestirmos da humildade. E para que nos mantenhamos humildes jamais podemos nos esquecer que quem presencia nossa vida e nossas obras é o próprio Senhor a Quem temos que procurar agradar em cada momento. Se não estivermos vigilantes nisso, a soberba vai nos dominar. E a soberba tem manifestações em todos os aspectos de nossa vida: faz-nos susceptíveis, injustos em nossos juízes e em nossas palavras e ações, faz-nos crer melhores do que os demais e negar as boas qualidades dos outros e a soberba nos convence ter virtudes que não possuímos. 

O Senhor se comove e esbanja suas graças diante de um coração humilde. A soberba é o maior obstáculo que o homem põe diante da graça de Deus. A soberba é o vício capital mais perigoso: se insinua e tende até infiltrar-se até nas boas obras. Por causa da soberba as boas obras perdem até seu mérito sobrenatural, pois as boas obras praticadas são uma participação na bondade de Deus.

Nossa oração deve ser como a do publicano: humilde, atenta, confiada, procurando que não seja monólogo em que damos voltas a nos mesmos, às virtudes que cremos possuir. A humildade é o fundamento de toda nossa relação com Deus e com os demais. Por isso, a humildade atrai a bênção de Deus e a simpatia dos homens. 

Sabendo que todos nós somos pecadores não podemos desprezar aqueles que vivem dominados pela maldade, pelo vício e assim por diante. Deus ama os pecadores e odeia o pecado. Por isso, o Senhor tomou nossa natureza humana para nos salvar e nos levar junto de Si como Seus amados. Por isso, fica a pergunta: temos rezado por as pessoas que vivem dominadas por algum vício e alguma maldade? Sejamos compassivos nas nossas orações por essas pessoas, pois quem é compassivo e justo brilhará com a mesma Luz de Deus para os demais. Sejamos um sinal de Cristo, Luz do mundo, dando-lhes nosso afeto, carinho e a caridade cristã. Rezemos/oremos uns pelos outros, principalmente nesta Quaresma, para que o amor de Deus e sua salvação cheguem a todos. Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos” (Victor Hugo) 

Sempre que nós rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz não porque modificamos Deus, mas porque nos modificamos, assim saímos diferentes do que entramos do templo.       

Reflita o que São Paulo escreveu: “Verdade é que a minha consciência de nada me acusa, mas nem por isto estou justificado; meu juiz é o Senhor” (1Cor 4,4). “As melhores e as mais lindas coisas do mundo não se pode ver nem tocar. Elas devem ser sentidas com o coração” (Charles Chaplin).

P. Vitus Gustama,svd

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