SÁBADO
SANTO (VIGÍLIA) DO ANO B
Quarta Leitura: Rm 6,3-11
Irmãos: 3Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? 4Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. 5Pois, se fomos de certo modo identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. 6Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o corpo de pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado. 7Com efeito, aquele que morreu está livre do pecado. 8Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. 9Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. 10Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive. 11Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo.
Evangelho: Mc 16,1-7
1
--------------------
A VIGÍLIA PASCAL
A Vigília Pascal é, segundo o Missal Romano, "a mãe de todas as vigílias" (Santo Agostinho) e celebra o acontecimento culminante da história da salvação, que é a ressurreição do Senhor.
Para os cristãos da antiguidade, a Páscoa não era uma festa entre tantas e sim “a Festa das festas”. Eles celebravam especialmente a Páscoa na vigília noturna, que culmina com a missa da ressurreição.
Por que é tão importante a Vigília Pascal? Por que a Igreja insiste para que tomemos parte na prolongada liturgia? Não se trata simplesmente de reviver uma antiga tradição. O importante é seu sentido profundo e seu valor intrínseco (valor em si mesmo). Aqui, no coração da Páscoa, celebramos o mistério da redenção do homem. A Páscoa é a festa da redenção humana através da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
E ao longo do ano litúrgico, a Igreja comemora ou celebra os vários aspectos da obra da redenção. Nesta ocasião (ao longo do ano litúrgico) a Igreja celebra este mistério da redenção como um todo e em toda sua plenitude. Missa diária é a Páscoa diária. Cada sacramento celebrado é o momento de salvação. É a festa pascal que inclui todos os demais mistérios cristãos. Todas as celebrações cristãs tem seu sentido por causa da Páscoa do Senhor. Através de nossa união com Cristo, pela fé e pelo batismo, nós mesmos somos associados intimamente com Cristo morto e ressuscitado. Celebrando o mistério pascal de Cristo(Paixão-Morte-Ressurreição), a Igreja celebra sua própria passagem da morte para a vida.
A liturgia da Vigília pascal nos oferece uma visão global da passagem e da jornada da Primeira Criação para a Nova Criação em Jesus Cristo. Para nós são apresentadas umas perspectivas da salvação desde a criação do mundo até a plenitude. Com a Encarnação e a Ressurreição de Jesus Cristo o mundo todo sofre uma revolução e, ao mesmo tempo, a humanidade é capacitada para tomar parte da plenitude e da soberania de Jesus Cristo Ressuscitado com uma nova e melhor forma de existência. O bem, mesmo sofrendo, sempre vence o mal. Cristo é o primeiro fruto da nova criação. Sua vida, que culmina com sua ressurreição e glorificação pelo Pai, é como uma antecipação que permite vislumbrarmos nosso futuro vitorioso em todas as dimensões de nossa existência.
Com a ressurreição de Jesus começa o futuro escatológico, isto é, a plenitude e perfeição de paz, de bem, de amor, de vida, de justiça que serão o Reino de Deus já realizado com a chegada de Jesus Cristo; que já agora vivemos como início e em crescimento, e que chegará ao término definitivo e perfeito. Este término definitivo e perfeito não se realizará plenamente até que chegue “o Dia do Senhor”. Para chegar à plenitude, como Cristo para chegar à ressurreição é necessária uma vida de luta permanentemente pelo bem. São Paulo nos recorda que é necessária a fé, mas depois desaparecerá quando chegarmos à plenitude. É necessária a esperança, enquanto estivermos na luta de cada dia, que, na plenitude será desnecessária. É necessário o amor, que então chegará à sua plenitude, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Por isso, mais uma vez, a Vigília pascal é “a Mãe de todas as vigílias”.
Um Olhar Para O Texto Do Evangelho Desta Noite
O
O relato sobre a ressurreição de Jesus neste texto, como foi dito, é bem breve, mas está cheio de riqueza de traços inesperados e densidade teológica. Tentemos descobrir o sentido do relato passo a passo.
1. Jesus É O Princípio Da Nova E Definitiva Criação
As
2. As Surpresas Das Mulheres E Seu Emudecimento Diante Da Ressurreição
As
Os
3. A Missão Confiada Às Mulheres Sobre O Novo Encontro Com Jesus
Apesar do seu emudecimento, essas mulheres são testemunhas privilegiadas dessa revelação divina e são chamadas e enviadas para anunciar aos discípulos e a Pedro sobre a ressurreição de Jesus e sobre o novo encontro com ele na Galileia: “Não tenhais medo. Vós estais procurando Jesus de Nazaré, o crucificado: ressuscitou, não está aqui... Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia: lá o vereis como vos disse” (v.7).
“Ele não está aqui. Ele ressuscitou! E ele os precedeu na Galileia”. O lugar do encontro não é num passado, mas num futuro novo. O lugar do encontro não é na contemplação de um morto, mas no seguimento de quem está vivo. Jesus ressuscitado deve ser seguido, vivendo o seu projeto. Jesus não é uma figura num livro, mas uma presença viva e vivificante. Não é suficiente estudar a história de Jesus como qualquer grande figura histórica. Nós podemos começar desta maneira, mas devemos terminá-la com o encontro com ele, pois Jesus não é uma memória, mas uma presença. Ele continua vivo entre nós. Se realmente acreditarmos nesta Presença, encontraremos sempre forças mais que suficientes para encarar qualquer tipo de dificuldade, pois o próprio Jesus venceu a morte.
“Ele não está aqui. Ele ressuscitou!”, é a mensagem para todos os que queiram mudar de vida para a melhor. Jesus faz uma páscoa, uma passagem da morte para a vida, para Deus. Precisamos fazer essa passagem. “Se não passamos para Deus que permanece”, dizia Santo Agostinho, “passaremos com o mundo que passa. Páscoa é passar para aquilo que não passa. Quão melhor é passar do ‘mundo’, antes que passe ‘junto com o mundo’; passar para o Pai, antes que passe para o inimigo”. Cada vez que acolhemos a inspiração da Palavra de Deus, estamos fazendo uma passagem para Deus. Cada vez que dizemos “não” a uma vontade da carne, estamos fazendo uma passagem para Deus. Não há momento ou ação da vida de um cristão que não possa se transformar em uma passagem, em uma páscoa. A páscoa deve acontecer em todos os momentos da vida de um cristão. Além disto, todo cristão vivo deve ser uma manifestação extraordinária da ressurreição do Senhor.
O
4. Jesus Nos Precede Para Onde Formos
“Ele vós precederá na Galileia”. Este anúncio é cheio de significado. Os exegetas discutem sobre o significado da Galileia. A Galileia para o evangelho de Marcos é importante onde se desenvolve a maior parte da vida de Jesus. Foi na Galiléia que Jesus começou a proclamar a Boa Nova, anunciando a chegada do Reino de Deus (Mc 1,14-15). Foi neste lugar que Jesus chamou seus primeiros discípulos para serem “pescadores de homens” (Mc 1,16-20). Foi na Galiléia inteira que Jesus pregou o Evangelho, curando e expulsando os espíritos maus (Mc 3,13-19;6,7-13). Foi na Galileia que Jesus começou a revelar aos discípulos “o mistério” do Reino de Deus (Mc 4,11). Foi da Galileia que a Boa Nova se espalhou para todas as regiões ao redor (Mc 3,7-12). Na e da Galiléia os discípulos podem continuar sua missão de pregar o Evangelho e curar todos os povos no mundo inteiro (Mc 13,10;14,9). E foi na Galileia que Jesus ressuscitado precedeu os discípulos (Mc 16,7). A Galileia é, por isso, o lugar onde com os mesmos gestos, com a sua bondade e disponibilidade, os discípulos reconhecerão a presença viva daquele Senhor que conheceram. A Galiléia é o lugar em que o Senhor Ressuscitado se lhes manifestará visivelmente e onde Jesus começará a reconstrução da comunidade, aquela reconstrução que era anunciada na Paixão em que Jesus disse: “Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão. Mas depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galileia” (Mc 14,27-28). E Jesus é fiel às suas promessas. A Galileia é o lugar onde a comunidade dos Doze será reconstruída. Todo o Evangelho de Mc deve ser meditado na aceitação de que Jesus vive e fala hoje aos seus e os chama, como ele os chamou junto ao lago (Mc 1,14-20), ou junto ao monte (Mc 3,13-19) e continua a estar na Igreja, em cada cristão.
“Ele vos precederá na Galiléia”. A palavra “preceder” é usada também em Mc 10,32 quando Jesus está a caminho rumo a Jerusalém. Jesus precedeu os discípulos na Morte e na Nova Vida que o Pai lhe deu. Ele precederá os discípulos na Galiléia.
“Jesus vos precederá” é uma promessa para todos nós. Para onde formos, como verdadeiros cristãos, devemos estar conscientes de que Jesus sempre nos precede. Ele sempre chega primeiro que nós no lugar onde formos. E ele nos guia para onde ele se encontra. Que saibamos reconhecer essa precedência e esta presença. Quando temos esta consciência, nenhuma dificuldade vai nos bloquear, pois Jesus nos precede e com isto, abre o caminho para nós. Mas com uma condição: que sejamos fiéis à Sua Palavra, pois a Sua Palavra nos orienta sobre o que devemos fazer.
5. Algumas Das Implicações Da Fé Na Ressurreição
a). A Páscoa cristã é a festa das festas, e o cristão é aquele que afirma: o Senhor ressuscitou verdadeiramente. O cristianismo nasce e progride desta proclamação fundamental: Jesus Cristo que foi crucificado, ressuscitou verdadeiramente. Da ressurreição de Cristo deriva todo o resto da mensagem cristã. Sem a vitória de Cristo sobre a morte, toda a pregação seria inútil e a nossa fé seria vazia de conteúdo (cf. 1Cor 15,14-17). A ressurreição do Senhor é uma realidade central da fé cristã. A importância deste milagre é tão grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas da ressurreição de Jesus (cf. At 1,22;2,32;3,15). O núcleo de toda a pregação é este: Cristo vive e vive no meio de nós (cf. Jo 1,14; Mt 28,20). A páscoa da ressurreição é a grande festa cristã. Este mistério é tão importante e central é que o celebramos ao longo de todos os domingos e festas do ano litúrgico e inclusivamente na Eucaristia diária. Certamente cada eucaristia que se celebra, celebra-se e proclama-se ao mesmo tempo a ressurreição do Senhor e a nossa também. A eucaristia dominical é a páscoa semanal. A eucaristia diária é a páscoa diária.
Sem dúvida nenhuma, a Páscoa é, por isso, o próprio conteúdo da fé cristã, é o coração da vida da Igreja porque ela nos revela quem é Deus, quem é Jesus Cristo e quem somos nós. A ressurreição nos mostra que o Deus revelado por Cristo é Aquele que ama e quer a vida. A Páscoa nos revela que Jesus, morto e ressuscitado, é Aquele que converge toda a história da humanidade. E ao mesmo tempo revela que a fidelidade é o caminho certo para chegar à Páscoa eterna com Deus. A Páscoa também nos revela que somos chamados a ressuscitar com Jesus, a superar com ele o drama da morte para podermos permanecer com ele na vida que não tem fim.
b). Pela ressurreição do Senhor sabemos que Deus ama a vida. A Páscoa é a gloriosa manifestação de um Deus que ama a vida, que quer a vida e não a morte, de um Deus que, além disso, faz com que da morte surja a vida.
Crer na ressurreição implica, por isso, defender a vida, especialmente a dos mais indefesos; implica respeitar a vida alheia como a própria; implica lutar pelo que é certo e justo, pois estes predicados como outros semelhantes é que garantem a vida sem fim; implica estender a mão para levantar quem se encontra sob o peso dos problemas desta vida. Procurar o Senhor ressuscitado implica comprometer-se com aqueles que vêem o seu direito à vida permanentemente violentado e violado. Acreditar na ressurreição significa afirmar a vida contra a morte.
c).
A
Infelizmente temos que confessar que a nossa existência humana é muitas vezes dominada por uma tendência de diminuir as esperanças, reduzindo-as cada dia mais por causa das ilusões, e a nossa tristeza nos leva, com freqüência, a recusarmos palavras de conforto, porque nós não temos idéia exata da libertação que nos foi concedida por Jesus ressuscitado. Precisamos estar conscientes de que a Páscoa é uma recriação, é uma nova criação da humanidade, pois Jesus, pela sua ressurreição, inaugurou um mundo novo no meio de nós.
d). A ressurreição de Cristo é uma resposta às esperanças de um destino humano aberto para o futuro novo. Quando este futuro novo for negado, a pessoa se fecha a si mesma, fica insatisfeita e chega às margens do desespero. A ressurreição nos leva a certeza de que a vida jamais acabará e de que o triunfo da vida não é mais ameaçado pela morte. O Ressuscitado está conosco, e continua vivo dentro da história e junto com ele nós estamos em condições de vencer o mal com o bem, de tirar do mal o maior dos bens. Esta é força e a novidade da Páscoa. Quem crê na ressurreição não é permitido viver triste. Somos destinados e chamados a viver plenamente com Deus, alegres na esperança com os irmãos da mesma peregrinação.
e).
Da
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário