quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Nossa Senhora Do Rosário, 07/10/2021

BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO ROSÁRIO

SER DISCÍPULO-MODELO A EXEMPLO DE MARIA

07 de Outubro

Primeira Leitura: At 1,12-14

Depois que Jesus foi elevado ao céu, 12 os apóstolos voltaram para Jerusalém, vindo do monte das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, a mais ou menos um quilômetro. 13 Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas, filho de Tiago. 14 Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

Evangelho: Lc 1, 26-38

Naquele tempo, 26 o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Naza­ré, 27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 2 8O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” 29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. 34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35 O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível”. 38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.

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“Na celebração do ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser. (Sacrosanctum Concilium, Sobre A Sagrada Liturgia n.103).

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A memória de Nossa Senhora do Rosário foi instituída em 1573, em agradecimento pela vitória conquistatada em Lepanto contra os turcos (1571). São Pio V atribuiu aquele histórico acontecimento à oração que o povo cristão havia endereçado à Virgem Maria na forma do rosário. A memória foi introduzida no calendário romano em 1716 e celebrada no primeiro domingo de outubro; em 1913, a data da festa foi fixada em 07 de outubro.

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A memória de Nossa Senhor do Rosário (de caráter devocional) está ligada à vitória de Lepanto em 1571 contra a inavasão do exército turco. A vitória foi obtida por uma particular proteção da Santíssima Virgem Maria. O Papa Pio V (o Papa dominicano) instituiu, então, a festa de Nossa Senhora da Vitória em Roma. Dois anos depois, a pedido da Ordem dominicana o Papa Gregório XIII, sucessor do Pio V, estendeu esta festa para toda a Igreja (universalmente). O Papa Gregório XIII mudou o nome da festa: de Nossa Senhora da Vitória passa a ser chamada de Santíssimo Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria. Era celebrada no primeiro domingo do mês de outubro. A reforma rubrical de 1960 retocou o título da festa de “SS.Rosário da Bem-Aventurada Virgem” para “Bem-aventurada Virgem Maria do Rosário”. A nova denominação desloca oportunamente o acento da forma de oração (o rosário) para a PESSOA da Mãe de Deus. Dai deriva o convite a não vermos no rosário o objeto da celebração, e muito menos “uma arma de guerra”, e sim a exortação a olhar para Aquela que gerou o mistério da nossa pacificação, Cristo Senhor. O gesto expresso pelo Papa Paulo VI na viagem à Turquia em julho de 1967 é muito eloquente: devolvendo ao presidente turco o estandarte mulçumano que caíra nas mãos dos cristãos, o Papa Paulo VI demonstrava que seu gesto queria indicar que “as divergências do passado haviam cessado definitivamente e que a Igreja tinha por todos os povos uma só mensagem, a da paz”. Atualmente a festa é celebrada no dia 7 de outubro. 

Na Idade Média a Virgem Maria é saudada com o título de rosa, símbolo da alegria. O Bem-aventurado Hermann dizia a Maria: “Alegra-te, Tu, a mesma beleza. Eu Te digo: Rosa, Rosa”. E num manuscrito francês medieval está escrito: “Quando a bela Rosa Maria começa a florescer, o inverno de nossas tribulações se desvanece e o verão da terna alegria começa a brilhar”. As imagens da Virgem Maria eram adornadas ou decoradas com uma coroa de rosas e se cantava a Maria como “Jardim de rosa” (em latim medieval rosarium). Assim se explica a etimologia do nome que chegou a nossos dias. Nessa época, os que não sabiam recitar os 150 Salmos do Oficio Divino, eles substituíam por 150 Ave Marias, acompanhadas de genuflexões. 

 O Rosário e Seus Mistérios 

A oração do rosário parece uma das orações mais fáceis propostas pela Igreja. Na realidade o rosário é uma oração contemplativa. Ele nos faz passarmos através de todos os mistérios de nossa redenção. 

Nos mistérios gozosos, por exemplo, nós entramos na casa da Mulher bendita de Nazaré (Maria) para escutar a mensagem salvífica do Divino Mensageiro, o Anjo Gabriel (Lc 1,26-38). Logo depois, vamos a Ain Karim (para a casa de Isabel e Zacarias) onde com Isabel e com ela (Maria) proclamamos a Maternidade divina de Maria (Maria é chamada de “Mãe do meu Senhor” por Isabel cf. Lc 1,43). Em Belém ficamos com pasmo diante da manjedoura onde se deita o Salvador do mundo e honramos com os pastores ao mesmo Salvador, Jesus Cristo (cf. Lc 2,8-14). Logo em seguida, vemos o mesmo Salvador no Templo apresentado a Deus pelos seus pais (Lc 2,22-40), e reencontra entre os doutores cheios de estupor por sua inteligência (Lc 2,41-52). E nos mistérios luminosos contemplamos a vida publica de Jesus para aprender d’Ele como devemos viver como cristãos para que, um dia, possamos contemplar a vida glorificada. Ou, nos mistérios dolorosos, contemplamos a Paixão de Jesus e de Maria que O acompanhava, desde Getsêmani até o Calvário (cf. Jo 19,25-27). E nos mistérios gloriosos, refletimos sobre o triunfo de Jesus, no qual tem parte Sua Mãe na economia da salvação. 

Por essa razão, o rosário (ou o terço) não é apenas mariológico, mas, principalmente, cristológico, pois nele se contemplam os mistérios de Cristo que são os mistérios de nossa redenção. Na sua Carta Apostólica sobre o Rosário o Papa João Paulo II escreveu:

·      O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão freqüenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor”. (ROSARIUM VIRGINIS MARIAE no.1)

Assim começando com a oração que Jesus nos ensinou (Pai Nosso) e que nos autoriza a invocarmos ao Seu Pai como nosso Pai, nós repetimos a Ave Maria, a saudação do Anjo dada à maior de todas as criaturas (Maria) e a saudação de Isabel para a mesma (primeira parte da Ave Maria) e ao mesmo tempo, somos convidados a contemplar os maiores mistérios de nossa redenção em cada dezena de Ave-Marias. 

A riqueza mística da oração de rosário permite a cada sacerdote, de maneira especial, entrar no mistério da própria vocação, contemplar os princípios da vida sacerdotal e dar a possibilidade de retornar aos momentos mais íntimos nos quais nascia, crescia e amadurecia a chamada de Jesus a segui-Lo. Como aconteceu com Jesus, a vida sacerdotal passa pelos momentos gozosos e dolorosos para chegar aos momentos gloriosos que terão seu cumprimento na vida futura para a qual são dirigidas as seguintes palavras: “Venha o Teu Reino!”. Por isso, a contemplação dos mistérios do Rosário pode chegar a ser um exame de consciência da devoção sacerdotal a Maria. Essa devoção consiste em imitar as virtudes de Maria. Não é por acaso que o Papa João Paulo II dizia as seguintes palavras:

·      “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. Nesta oração repetimos muitas vezes as palavras que a Virgem Maria ouviu ao Arcanjo e à Sua parente Isabel. A estas palavras associa-se a Igreja inteira. Pode dizer-se que o Rosário é, em certo modo, um Comentário-prece do último capítulo da Constituição Lumen Gentium do Vaticano II, capítulo que trata da admirável presença da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. De fato, sobre o fundo das palavras "Ave Maria" passam diante dos olhos da alma os principais episódios da vida de Jesus Cristo. Eles dispõem-se no conjunto dos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, e põem-nos em comunhão viva com Jesus através — poderíamos dizer — do Coração de Sua Mãe. Ao mesmo tempo o nosso coração pode incluir nestas dezenas do Rosário todos os fatos que formam a vida do indivíduo, ela família, da nação, da Igreja e da humanidade. Acontecimentos pessoais e os do próximo, e de modo particular daqueles que nos estão mais vizinhos, que temos mais no coração. Assim a oração simples do Rosário marca o ritmo da vida humana”. (Angelus, 29.10.1978) 

Chamamos “Nossa Senhora do Rosário” à Santíssima Virgem Maria enquanto Ela é recordada pelos fieis nos momentos fundamentais de sua vida: como Eleita do Pai, Mãe de Jesus, Filho do Pai, Corredentora nossa em seu acompanhamento à vida e à morte de Jesus, e exaltada à glória do céu como Mãe e Rainha.

Essa imagem de Maria, Nossa Senhora: Eleita, Mãe, Oferente de Jesus, Corredentora, é a que no Rosário se vai contemplando interiormente ao lado de Cristo, enquanto se recitam, por cada cena contemplada, as dez Avemarias e um Pai Nosso.

Na história da Igreja e da espiritualidade cristã, o Rosário foi peça muito importante, porque levava as pessoas ao encontro com Deus Pai, por Cristo, acompanhadas de Maria, sua Mãe, através dos mistérios de Jesus, Nosso Redentor, que vem a nós para nos levar ao Pai. Levar ao Pai é salvar. 

Mensagem Do texto Do Evangelho Deste Dia

No texto do evangelho lido neste dia, inicialmente o Anjo de Deus não chama Maria pelo nome, mas chama-a simplesmente de “Cheia de graça”. O termo ‘graça’ significa benefício absolutamente gratuito, livre e sem motivo (cf. 1Cor 15,10). Também tem outro significado: um efeito do favor divino que torna alguém belo, amável e encantador. A graça da criatura depende da graça de Deus, e não vice-versa.        

Na graça reside a completa explicação de Maria, a sua grandeza e a sua beleza. Maria encontrou graça, isto é, favor, junto de Deus; ela é cheia do favor divino. Como as águas preenchem o mar, assim a graça preenche a alma de Maria. Maria é cheia de graça também em outro sentido: ela é bela, daquela beleza que chamamos de santidade. Sendo agraciada, Maria é também graciosa. 

Maria lembra cada um de nós que tudo na nossa vida é graça. A graça é a presença de Deus. As duas expressões: “cheia de graça” e “o Senhor está contigo” são quase a mesma coisa. Esta presença de Deus no homem realiza-se agora em Cristo e por Cristo. De fato ele é o Emanuel, o Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20;28,20). 

A primeira coisa que cada um de nós deve fazer como resposta à graça de Deus é dar graças. A graça de Deus tem de ser acompanhada pelo agradecimento do homem. Dar graças significa, antes de tudo, reconhecer a graça, aceitar a gratuidade da mesma. Dar graças significa aceitar-se como devedor, como dependente; deixar que Deus seja Deus. É preciso fazer o possível para renovar cada dia o contato com a graça de Deus que está em nós. Pela graça podemos manter, desde esta vida, o contato com Deus. Precisamos crer na graça, crer que Deus nos ama, que nos é favorável de verdade, pela graça fomos salvos. 

O texto quer dizer também que Maria é a primeira cristã por causa do seu sim a Deus para que possa nascer para a humanidade Jesus Cristo, nosso Salvador. Não era nenhuma princesa nem nenhuma patroa na sociedade do seu tempo. Era uma mulher simples do povo, uma moça pobre. Mas Deus se compadece dos humildes e dos simples. Para Deus tudo é simples, e para o simples tudo é divino. A simplicidade atrai a bênção de Deus e a simpatia humana. O simples, o humilde é o terreno fértil onde a graça de Deus encontra seu lugar e através do qual Deus fala para o mundo. 

De certa forma, podemos dizer que com o sim de Maria à vontade de Deus a Igreja começou. A Virgem Maria, no momento de sua eleição radical e no momento de seu sim a Deus foi início e imagem da Igreja. Quando ela aceitou o anúncio do anjo, da parte de Deus, pode-se dizer que começou a Igreja: a humanidade, nela representada, começou a dizer sim à salvação que Deus lhe ofereceu. Nela e através dela a humanidade foi abençoada. Podemos olhar, por isso, para Maria como modelo de fé e motivo de esperança e de alegria.

O sim de Maria à Palavra de Deus expressa um compromisso total, uma confiança absoluta no amor e no poder de Deus que a faz sair de si mesma e aposta totalmente sua vida no poder de Deus. E este compromisso total de uma moça simples com a Palavra de Deus compromete também o destino da humanidade. Nós, cristãos, devemos ter uma consciência mais clara daquilo que sucede quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia. A participação da Palavra e do Corpo de Cristo é algo que produz a união mais íntima possível com Cristo vivo. Por isso, o sim pronunciado no momento desta participação eucarística é o que compromete de uma maneira mais profunda todos nós cristãos. 

Toda vez que dissermos Sim à vontade de Deus e aos seus mandamentos geraremos algo de bom, algo de humano e algo de divino para o mundo. Toda vez que dissermos a Deus conscientemente “Faça-se em mim segundo a Sua Palavra!”, nossa vida se encherá de Deus (cheia de graça), seremos instrumentos eficazes de Deus e faremos nascer algo de Deus para salvar o mundo. Toda vez que dissermos Sim a Deus e à Sua vontade, sairemos de nós para ir ao encontro dos demais para ajudá-los.  Cada cristão é chamado a dizer Sim ao bem, à bondade, ao amor, à justiça, à solidariedade, à honestidade, à retidão e assim por diante, pois tudo isso significa dizer Sim a Deus.             

O compromisso da vida cristã é deixar-se fecundar pelo Espírito de Deus, como Maria, escutando a Palavra de Deus que vem por meio de mensageiros, tendo em conta nossa situação e nossas forças, mas respondendo a Deus com confiança e interesse. O cristão deve deixar-se encarnar pela Palavra de Deus para que se torne Boa Nova para os demais como Maria.

Ó, Virgem fiel, dia e noite permaneces em profundo silêncio, em uma paz inefável, em uma oração divina, que não cessa nunca, com a alma inteiramente inundada por eternos resplendores. (...) Em uma paz inefável, em um misterioso silêncio, penetraste no insondável levando em ti o Dom de Deus. Guarda-me sempre em um abraço divino. Que leve sempre em mim a estampa deste Deus de amor”. (Isabel da Trindade)

P. Vitus Gustama,SVD

MARIA, MULHER DA ESCUTA, DA DECISÃO E DA AÇÃO

(Oração à Maria no final da recitação do Santo Rosário na Praça de São Pedro, 31 de maio de 2013)

Por Papa Francisco

Maria, Mulher da escuta, abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade. 

Maria, Mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, a fim de que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitações; concede-nos a coragem da decisão, de não nos deixarmos arrastar para que outros orientem a nossa vida. 

Maria, Mulher da ação, faz com que as nossas mãos e os nossos pés se movam ´apressadamente´ rumo aos outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus, para levar ao mundo, como tu, a luz do Evangelho. Amém!”

P. Vitus Gustama,SVD

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NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Dos Sermões de São Bernardo, abade(Sermo de Aquaeductu: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5[1968],282-283)(Séc. XII)

É preciso meditar sobre os mistérios da salvação

O santo, que nascer de ti, será chamado Filho de Deus (cf. Lc 1,35), fonte de sabedoria, o Verbo do Pai nas alturas! Este Verbo, através de ti, Virgem santa, se fará carne, de modo que aquele que diz: Eu no Pai e o Pai em mim (Jo 10,38), dirá também: Eu saí do Pai e vim (Jo 16,28).

No princípio, diz João, era o Verbo. Já borbulha a fonte, mas por enquanto apenas em si mesma. Depois, e o Verbo era com Deus (Jo 1,1), habitando na luz inacessível. O Senhor dizia anteriormente: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). Mas teu pensamento está dentro de ti, ó Deus, e não sabemos o que pensas; pois quem conheceu a mente do Senhor ou quem foi seu conselheiro? (cf. Rm 11,34).

Desceu, por isto, o pensamento da paz para a obra da paz: O Verbo se fez carne e já habita em nós (Jo 1,14). Habita totalmente pela fé em nossos corações, habita em nossa memória, habita no pensamento e chega a descer até a imaginação. Que poderia antes o homem pensar sobre Deus, a não ser talvez fabricando um ídolo no coração? Era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado.

De que modo, perguntas? Por certo, reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em oração; ou pendente da cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu.

O que não se poderá pensar verdadeira, piedosa e santamente disto tudo? Se penso algo destas realidades, penso em Deus e em tudo ele é o meu Deus. Meditar assim, considero sabedoria, e tenho por prudência renovar a lembrança da suavidade que, em essência tão preciosa, a descendência sacerdotal produziu copiosamente, e que, haurindo do alto, Maria trouxe para nós em profusão.

Quarta-feira Da XXVII Semana Comum,06/10/2021

PAI-NOSSO

REZAR O PAI NOSSO É VIVER A VIDA DE UMA MANEIRA NOVA

Quarta-Feira da XXVII Semana Comum

Primeira Leitura: Jonas 4,1-11

1 Este desfecho causou em Jonas profunda mágoa e irritação; 2 orou então ao Senhor, dizendo: “Peço-te me ouças, Senhor: não era isto que eu receava, quando ainda estava em minha terra? Por isso, antecipei-me, fugindo para Társis. Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição. 3 E agora, Senhor, peço que me tires a minha vida, para mim é melhor morrer do que viver”. 4 Disse o Senhor: “Achas que tens boas razões para irar-te?” 5 Jonas saiu da cidade e estabeleceu-se na parte oriental e ali fez para si uma cabana, onde repousava à sombra, a ver o que ia acontecer à cidade. 6 O Senhor fez nascer uma hera, que cresceu sobre a cabana, para dar sombra à cabeça de Jonas e abrandar seu aborrecimento. E Jonas alegrou-se grandemente por causa da hera. 7 Mas, ao raiar do dia seguinte, Deus determinou que um verme atacasse a hera, e ela secou. 8 Quando o sol se levantou, mandou Deus do oriente um vento quente; e o sol bateu forte sobre a cabeça de Jonas, que se sentiu desfalecer; teve vontade de morrer, e disse: “Para mim é melhor morrer do que viver”. 9 Disse Deus a Jonas: “Achas que tens boas razões para irar-te por esta hera?” “Sim, respondeu ele, tenho razão até para morrer de raiva”.10 O Senhor replicou-lhe: “Tu sofres por causa desta planta, que não te custou trabalho e não fizeste crescer, que nasceu numa noite e na outra morreu. 11 E eu não haveria de salvar esta grande cidade de Nínive, em que vivem cento e vinte mil seres humanos, que não sabem distinguir a mão direita da esquerda, e um grande número de animais?” 

Evangelho: Lc 11, 1-4

1 Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2 Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. 3 Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, 4 e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”.

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Deus Se Alegra Pelo Pecador Arrpendido

Continuamos a acompanhar a leitura do livro do profeta Jonas. Estamos no último capitulo de seu livro: o capítulo IV. Este último capítulo é fundamental para entender a globalidade da mensagem do livro de Jonas. O perdão da parte de Deus e a salvação de Nínive como consequência de sua conversão reconhecida por Deus provocam a irritação de Jonas. Com razão Jonas desejava fugir diante da ordem de Deus. A atitude de Jonas simboliza magistralmente a ruindade e a mesquinhez dos ambientes de particularismo exclusivista (compare com o irmão mais velho da parábola do filho pródigo em Lc 15,11-32). 

Por causa deste conceito, a penitência dos ninivitas, longe de alegrar o profeta Jonas, causa-lhe uma grande tristeza e se queixa a Deus porque não aconteceu a destruição da cidade de Nínive através de seu anúncio: “Peço-te me ouças, Senhor: não era isto que eu receava, quando ainda estava em minha terra? Por isso, antecipei-me, fugindo para Társis. Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição. E agora, Senhor, peço que me tires a minha vida, para mim é melhor morrer do que viver”. 

Isto mostra o temperamento mesquinho e fechado do profeta. Jonas, o anti-profeta, mostra, na verdade, um coração mesquinho. Sua reação diante do perdão de Deus é inimaginável: ele se irrita e entra em uma crise de depressão, a ponto de desejar a própria morte. Ele acredita que seu bom nome foi comprometido por não tornar realidade suas predições falsas, e ele não se importa com a glória da conversão de uma cidade populosa, Nínive.   Na verdade, todos os profetas do Antigo Testamento se alegram com o arrependimento dos destinatários de seus alertas e pregam sempre no pressuposto de que o Senhor concede perdão a quem volta para Ele novamente. Jonas, no entanto, simboliza aqui o judeu ressentido, que considera os gentios como necessariamente destinados para a reprovação, sem esperança de reabilitação.

O hagiógrafo é satisfeito em contrastar a atitude fechada, mesquinha e temperamental de Jonas com a magnanimidade aberta do Deus dos judeus. Como pode irritar-se um profeta diante do povo convertido e que Deus o perdoa? Como pode reprovar Deus que é misericordioso: “Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição”? Deus deseja que Jonas aprenda a lição da mamoneira. Por causa da destruição da ramagem do arbusto que lhe havia proporcionado a alegria momentânea  do descanso, Jonas volta a ficar irritado, Jonas deseja a morte. A partir da experiência de Jonas sobre a árvore citada, o autor sagrado lança a seguinte pergunta: Deus não vai sentir compaixão pela grande cidade, por seus habitantes que se converteram e por seus animais? 

Acreditamos no amor de Deus, "bom e misericordioso, rico em piedade com os que o invocam". E vamos também ter um coração mais aberto e tolerante para este mundo que parece estar em decadência pela maldade, intolerância, corrupção, injustiça social e assim por diante. Seguramente, nossa atitude não será tão ridícula como a de Jonas. Não sejamos anunciadores da desgraça alheia, pois a mesma pode cair sobre nós. O mal atrai o mal; o bem atrai o bem. Pense no bem para que o bem pense em você. Não pense no mal para que o mal não pense em você! 

Deus É o Pai De Todos e Todos São Filhos De Deus 

Continuamos a caminhar ao lado do Senhor na Sua viagem para Jerusalém ouvindo suas ultimas e importantes lições para nossa vida como seus seguidores (Lc 9,58-19,28). Hoje Ele nos ensina a rezarmos como filhos e filhas diante de Deus como nosso Pai comum. Para Lucas, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser. Por isso, a oração de Jesus, o Pai Nosso, é uma aceitação incondicional da vontade do Pai celeste. O Pai Nosso é a oração dos filhos. 

No texto do evangelho do dia anterior (Lc 10,38-42) Jesus disse a Marta que ela estava agitada demasiadamente. O mundo moderno se parece com Marta: vive na agitação. Por estar na agitação acaba não conhecendo ninguém e o essencial na vida. É a perda do foco essencial.  Quem corre demais acaba não ouvindo o grito de alguém à beira de uma estrada. 

Lucas nos relatou que Jesus estava rezando. Ele saiu do mundo de agitação para o mundo de serenidade a fim de encarar tudo na serenidade, inclusive a cruz fruto de sua fidelidade à vontade do Pai. Jesus reza porque necessita viajar ao centro de sua experiência filial, porque necessita respirar o carinho de seu Abba, Papaizinho celeste. O centro de Jesus é o Pai celeste. E do centro Jesus se conecta com tudo e com todos. Viajar ao centro que é Deus é viajar ao santuário de nossa identidade, onde nos descobrimos de um modo novo. Por isso, orar é como respirar. Orar é viver a vida de uma maneira nova. A vida, antes de ser vivida, precisa ser rezada. 

Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.

Quando Jesus terminou sua oração, um dos discípulos pediu a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar...”. Em outras palavras: Como devemos rezar e o que devemos pedir.  

A resposta de Jesus sobre como devemos rezar é esta: “Quando orardes, dizei: Pai...”. A oração, segundo Jesus, é um trato do tipo “Pai-Filho”. Trata-se de um assunto familiar baseado em uma relação de familiaridade e amor. Todos nós, para Jesus, somos filhos e filhas de Deus, independentemente de nossa maneira viver. Os filhos de cada família neste mundo são muito mais filhos de Deus do que de cada família, pois vieram de Deus através de cada família para que ela cuide bem deles. Um dia eles voltarão para o Pai comum que é Deus. Na educação dos filhos, o Pai comum que é Deus deve ser contado para que os filhos possam crescer na graça e na sabedoria diante de Deus e diante dos homens a exemplo de Jesus Cristo (cf. Lc 2,52). Maria (e José) na educação de Jesus contava com Deus. Maria, a mãe do Senhor, foi uma grande educadora, pois “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).

De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. A tradução mais fiel da palavra “Abba” não é simplesmente “Pai” e sim “Papaizinho”. Qualquer pai sabe muito bem como se sente ao ouvir o apelido “paizinho”. E qualquer filho sabe muito bem como se sente ao chamar seu pai de “paizinho”. 

Quando orardes, dizei: Pai...”. “Pai” ou “filho” é um conceito de relacionamento. Quando alguém chama o outro de pai, porque ele se reconhece ou se considera filho. Deus é chamado de “Abba”, que significa “Papaizinho” ou “Pai querido”. Acentua-se uma afetuosa relação. Ao chamar Deus de “Abba” sentimos ou experimentamos, ao mesmo tempo, o aspecto paternal e maternal de Deus. No “Abba” encontramos força, acolhimento e amor. Ao chamar Deus de “Abba” nos sentimos em casa. Estando em casa, o Pai sabe muito bem cuidar de nós amorosamente.

A imagem de Deus como Pai nos fala de uma relação baseada no afeto e na intimidade, e não no poder e na autoridade. Segundo Jesus, na oração devemos ver Deus como Pai e devemos falar como filhos. Isto quer nos dizer que devemos estar num ambiente familiar. Numa família pai ou mãe sabe muito bem das necessidades fundamentais de seus filhos. Um verdadeiro pai dá ao filho aquilo do qual ele necessita, mesmo que ele não faça nenhum pedido. Nem sempre um pai dá aquilo que o filho quer, mas dá ao filho aquilo do qual ele necessita. Jesus ensina a estarmos num ambiente familiar com Deus. Na oração devemos ter uma atitude filial de comunhão com o Pai. Deus sempre nos atende de acordo com nossa necessidade e não de acordo com nosso pedido. Pode também coincidir entre aquilo que pedimos e aquilo que Deus quer pela nossa salvação. Neste sentido, o não-atender é uma forma de atender, pois Deus quer somente nosso bem (cf. Mt 7,11). 

O que devemos pedir? Jesus nos responde: ”Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação”. 

Deus é chamado para que Ele próprio santifique Seu nome. Nome é pessoa. Neste sentido o nome é Deus, enquanto se revela. Deus se santifica a si próprio quando se revela totalmente diferente. Deus se santifica pela sua auto-revelação como Pai misericordioso; quando se revela aos pequenos e os faz seus filhos.  

O Pai Nosso é uma oração entranhável que nos ajuda a nos situarmos na relação justa diante de Deus. Jesus nos ensina que na oração, Deus, nosso Pai, deve ser centro de nossa vida: “Santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino”. Depois pedimos por nós: que nos dê o pão de nossa subsistência. O pedido do pão de vida é reconhecer Deus como a única fonte de vida.   Que nos perdoe as culpas cometidas. O perdão das dívidas (pecados) é um convite a imitar a gratuidade de Deus (cf. Mt 5,45). Que nos dê força para não cair na tentação. Trata-se de acolher a salvação. 

O Reino de Deus consiste na vivência do amor fraterno, na prática da justiça, na vida de retidão e de honestidade, na igualdade. “Venha o Teu Reino!”. 

“Dá-nos cada dia o pão necessário”. Jesus usa a palavra “nos” e não “me”: “Dá-nos” e não “Dá-me”. Todos têm que ter o acesso para o alimento. Ninguém pode acumular o pão enquanto a maioria está passando fome. Não podemos deixar o próximo morrer de fome enquanto guardamos o pão. O pão é indispensável para a vida de todos. 

“Perdoa-nos as nossas dívidas, pois também nós perdoamos a todos os nossos devedores”. Viver já difícil. É mais ainda conviver. Os conflitos são inevitáveis. As brigas podem acontecer. É preciso ter espaço para o mútuo perdão e para a reconciliação. Para Jesus não há perdão recebido de Deus sem o perdão dado aos outros. O perdão dado aos outros é o perdão recebido de Deus. 

“Não nos deixeis cair em tentação”. Ninguém está isento de qualquer tentação. Tentação é sinal de predileção. Quem é tentado é porque está andando com o Senhor. O que se pede é para não cair na tentação e não para ficar isento da tentação. Pede-se a força de Deus para não cair na tentação. 

Jesus é o nosso melhor modelo: Ele se dedica continuamente a evangelizar e atender às pessoas, especialmente as mais necessitadas e, ao mesmo tempo, reza com uma atitude filial diante do Deus Pai. 

Para Jesus, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser. Devemos rezar e viver aquilo que Jesus ensina. A vida deve ser uma só: na oração e na prática. Se ficarmos de joelhos diante de Deus, não devemos usar os mesmos pés para pisar sobre os demais. Quando chamamos a Deus como Pai, então devemos nos comportar como filhos e filhas de Deus entre nós, é convivermos como irmãos e irmãs do mesmo Pai do céu. Tratar mal um filho significa desrespeitar o Pai. Tratar bem um filho é agradar ao Pai. Portanto, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser. 

Temos que estar atentos sobre o perigo de cairmos na rotina ao rezar o Pai Nosso, pois essa rotina tira todo o gosto e prazer que merecem o Pai Nosso quando o rezarmos. Quando invocamos a Deus como Pai somos introduzidos no âmbito familiar de Deus e somos conduzidos ao sentido mais profundo de nossa comunicação com Ele. Rezar o Pai Nosso significa realizar o querer divino sobre nossa vida e sobre a história dos homens. A realização do querer divino tem como consequência a possibilidade d uma vida digna em que todos têm acesso ao alimento de todos os dias e que se experimenta Deus no perdão dos pecados.

P.Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Terça-feira Da XXVII Semana Comum,05/10/2021

FAZER TUDO NO ESPÍRITO DA PALAVRA DE DEUS

Terça-feira da XXVII Semana Comum

Primeira Leitura: Jn 3,1-10

1 A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, pela segunda vez: 2 “Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe a mensagem que eu te vou confiar”. 3 Jonas pôs-se a caminho de Nínive, conforme a ordem do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande; eram necessários três dias para ser atravessada. 4 Jonas entrou na cidade, percorrendo o caminho de um dia; pregava ao povo, dizendo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”. 5 Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e vestiram sacos, desde o superior ao inferior. 6 A pregação chegara aos ouvidos do rei de Nínive; ele levantou-se do trono e pôs de lado o manto real, vestiu-se de saco e sentou-se em cima de cinza. 7 Em seguida, fez proclamar, em Nínive, como decreto do rei e dos príncipes: “Homens e animais bovinos e ovinos não provarão nada! Não comerão e não beberão água. 8 Homens e animais se cobrirão de sacos, e os homens rezarão a Deus com força; cada um deve afastar-se do mau caminho e de suas práticas perversas. 9 Deus talvez volte atrás, para perdoar-nos e aplacar sua ira, e assim não venhamos a perecer”. 10 Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal, que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez.

Evangelho: Lc 10,38-42

Naquele tempo, 38 Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39 Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. 40 Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” 41 O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42 Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

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Deus Se Compadece De Quem Se Arrpende

Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”, disse Jonas aos ninivitas. “Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal, que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez”, relatou-nos a Primeira Leitura de hoje. Isto nos mostra que Deus é misericordioso para seus filhos arrependidos. 

Continuamos a acompanhar a leitura do livro do profeta Jonas. Precisamos entender que Jonas é um hebreu (Jn 1,9), enviado para pronunciar um oráculo a Nínive, cidade de Assíria, país que permaneceu durante muito tempo na consciência dos israelitas como uma das potências estrangeiras que causara mais dano a Israel. Jonas é enviado ao coração dessa potência para anunciar sua destruição em quarenta dias. Não é de estranhar que Jonas embarcasse para a direção oposta como lemos na primeira leitura do dia anterior. 

Mesmo que Jonas tenha tentado fugir da responsabilidade, Deus sai ao encontro dele com a seguinte expressão: “A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, pela segunda vez: ‘Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe a mensagem que eu te vou confiar’”. E Jonas se dá conta de que não pode desobedecer. Por isso, ele se levanta e vai a Nínive e começa a proclamar a mensagem que ele deve transmitir aos ninivitas sobre a necessidade da conversão antes que a destruição venha sobre a população toda.

O anúncio de Jonas era de castigo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”. Jonas não se dirige a Nínive como missionário e sim como executor do juízo implacável de Deus sobre as nações. Para os judeus da época, o juízo consiste em fazer justiça para Israel castigando e destruindo os pagãos. 

Mas o resultado está fora dos cálculos de Jonas, pois todos os ninivitas se converteram, desde o rei até o último dos súditos, inclusive os gados (animais). Então Deus “se compadece” e desistiu de aplicar o castigo. O texto nos revela que Deus é Aquele que não se cansa de perdoar, pois todos os homens e mulheres são seus filhos e filhas. Ele jamais abandonaria nenhum filho Seu. Todo homem, quem quer que seja, é chamado a arrepender-se, e o perdão de Deus está à disposição de todos. Com efeito, o protagonista do relato de hoje é Esse Deus que ama e perdoa com facilidade. N´Ele pode muito mais o amor do que a justiça: “Por minha vida, oráculo do Senhor, não me comprazo com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida” (Ez 33,11). A Nínive convertida de nossa parábola contribui, então, para denunciar particularismo e exclusivismos, apontando claramente para a abertura e para a universalidade. 

Aprendemos dos ninivitas que os de fora da Igreja, muitas vezes com menos formação e facilidades do que nós, se convertem com facilidade porque acreditam profundamente em Deus. Não podemos ter pensamento de que sejamos “único bons”. A bondade não tem fronteiras. Além disso, aprendemos também que o episódio de Jonas põe em destaque as condições psicológicas indispensáveis para o encontro do outro e, portanto, para a evangelização. Nenhum cristão é chamado para ser anunciador da desgraça para os outros e sim da misericórdia de Deus. O encontro pessoal com o Senhor é o centro de toda autêntica religiosidade, traduzindo-se esta fé em obras concretas: jejum, vestir-se de saco que são gestos penitenciais, de arrependimento. Através da profunda conversão é que conseguiremos ver no outro nosso irmão. Consequentemente, jamais poderíamos desejar algo de ruim para vida de nosso irmão, de todos os homens. 

Quem Escuta Deus e Sua Palavra Tem Condições De Descobrir o Essencial Na Vida 

Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho para Jerusalém e suas ultimas e importantes lições para todos nós, seus seguidores (Lc 9,58-19,28). Hoje o Senhor nos fala sobre a importância da escuta da Palavra de Deus para que possamos falar, agir e fazer tudo de acordo com o espírito da Palavra de Deus. 

Jesus nos dá essa lição dentro do contexto de um banquete. Trata-se de um momento familiar e da fraternidade onde as relações se nivelam. Não se diz se havia muitos ou poucos convidados; o que se diz é que uma das irmãs (Marta) andava atarefada “com muito serviço”, enquanto a outra (Maria) “sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua Palavra”. Marta, naturalmente, não se conformou com a situação e queixou-se a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada», constitui o centro do relato e nos dá o sentido da catequese que, com este episódio, Lucas nos quer apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outro interesse. 

A posição de Maria: “sentada aos pés de Jesus” é a posição típica de um discípulo diante do seu mestre (cf. Lc 8,35; At 22,3). Lucas mostra, neste episódio, que Jesus não faz qualquer discriminação: o fato decisivo para ser seu discípulo é estar disposto a escutar a sua Palavra e vivê-la na prática. Por isso, Jesus aproveita a ocasião para repreender, não o útil serviço que Marta está prestando, e sim a excessiva inquietação e preocupação que lhe marcam negativamente o agir: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”. 

Muitas vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre ação e contemplação; no entanto, não é bem isso que aqui está em causa. Lucas não está, nesta catequese, explicando que a vida contemplativa é superior à vida ativa; que o “fazer coisas”, que o “servir os irmãos” não seja mais importante do que a oração; mas significa que tudo deve partir da escuta da Palavra, pois a escuta da Palavra de Deus é que nos projeta para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós e para que tudo possa ser feito dentro do espírito da Palavra de Deus. Por isso, a contraposição de Marta e Maria não está a nível de vida ativa e vida contemplativa e sim a nível de escuta ou não escuta da Palavra de Deus. Não se contrapõe duas formas de vida e sim duas atitudes que podem dar-se em uma mesma forma de vida, seja ativa ou contemplativa. A escuta da Palavra de Jesus é uma exigência fundamental do amor a Deus. 

A vida cristã é esforço, mas também recepção, acolhida. No processo pessoal e comunitário há caminho e repouso, há missão e comunhão, há luta e festa. Estes aspectos não devem ser contemplados como sucessivos e desvinculados entre si e sim como acentos e perspectivas de uma mesma realidade invisível: a fidelidade a Jesus Cristo e à Sua Palavra.

 Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”. A fidelidade à Palavra de Deus é um valor jamais comprometido em si mesmo seja qual for a situação do cristão. Para outras coisas podem existir impedimentos, dificuldades internas e externas: enfermidade, situação social, cultura, economia e assim por diante. Mas a fidelidade à Palavra de Deus é o valor sempre “assegurado”. “Esta parte não lhe será tirada”. 

É claro que a atitude de Marta que quer atender Jesus com toda classe tem seu mérito. Porém, Lucas quer sublinhar que há outra atitude fundamental que deve ter na vida de cada cristão: é a escuta da Palavra de Deus que é maior do que qualquer coisa, pois trata-se da Palavra d’Aquele que criou todas as coisas. Não há oposição entre ação e contemplação, mas tudo deve ter sua raiz profunda na escuta atenta da Palavra de Deus. Assim, podemos chegar a ser contemplativos na ação ou ativos na contemplação. 

Lucas faz, então, de Maria um modelo de discípulo de Jesus em razão da escuta da Palavra de Jesus para viver e fazer as coisas conforme a vontade de Deus. Este é o objetivo central do texto que Lucas quer inculcar a seus leitores. Mal poderemos seguir a Jesus, mal poderemos cumprir o que ele nos pede, se não escutarmos, se não estivermos atentos à Sua palavra. É impossível viver como cristão sem escutar, serenamente, a Deus. A escuta da Palavra pode nos ajudar a re-centrarmos a nossa vida e a redescobrirmos o sentido da nossa existência.

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Segunda-feira Da XXVII Semana Comum,04/10/2021

SOMOS CHAMADOS A SER NOVOS BONS SAMARITANOS

Segunda-Feira Da XXVII Semana Comum

Primeira Leitura: Jonas 1,1–2,1.11

1,1 A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amati, que dizia: 2 “Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe que sua perversidade subiu até a minha presença”. 3 Jonas pôs-se a caminho, a fim de fugir para Társis, longe da presença do Senhor; desceu a Jope e encontrou um navio com destino a Társis, adquiriu passagem e embarcou com os outros passageiros para essa cidade, para longe da presença do Senhor. 4 Mas o Senhor mandou um vento violento sobre o mar, levantando uma grande tempestade, que ameaçava destruir o navio. 5 Tomados de pavor, os marinheiros começaram a gritar, cada qual a seu deus, e a lançar ao mar a carga do navio para o aliviar. Jonas havia descido ao porão do navio, deitara-se e dormia a sono solto. 6 O chefe do navio foi vê-lo e disse: “Como! Tu dormes? Levanta-te e reza ao teu deus; talvez ele se lembre de nós, e não morramos”. 7 Disseram entre si os marinheiros: “Vamos tirar a sorte, para saber por que nos acontece esta desgraça”. Lançaram a sorte, e esta caiu sobre Jonas. 8 Disseram-lhe: “Explica-nos, por culpa de quem nos acontece esta desgraça? Qual é a tua ocupação e donde vens? Qual é a tua terra, de que povo és?” 9 Ele respondeu: “Eu sou hebreu e temo o Senhor, Deus do céu, que fez o mar e a terra firme”. 10 Aqueles homens ficaram possuídos de grande medo, e disseram: “Como é que fizeste tal coisa?” Pelas palavras dele, acabavam de saber que estava fugindo da presença do Senhor. 11 Disseram então: “Que faremos contigo, para acalmar o mar?” Pois o mar enfurecia-se cada vez mais. 12 Respondeu Jonas: “Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar vos deixará em paz: eu sei que, por minha culpa, se desencadeou sobre vós esta grande borrasca”. 13 Os marinheiros, à força de remar, tentavam voltar à terra, mas em vão, porque o mar cada vez mais se encapelava contra eles. 14 Então invocaram o Senhor e rezaram: “Suplicamos-te, Senhor, não nos deixes morrer em paga pela vida deste homem, não faças cair sobre nós este sangue inocente; fizeste, Senhor, valer tua vontade”. 15 Então, tomaram Jonas e atiraram-no ao mar; e cessou a fúria do mar. 16 Invadiu esses homens um grande temor do Senhor, ofereceram-lhe sacrifícios e fizeram-lhe votos. 2,1 Determinou o Senhor que um grande peixe viesse engolir Jonas; e ele ficou três dias no ventre do peixe. 11 Então o Senhor fez o peixe vomitar Jonas na praia.

Evangelho: Lc 10,25-37

Naquele tempo, 25um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” 26Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” 27Ele então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e a teu próximo como a ti mesmo!” 28Jesus lhe disse: “Tu respondeste certamente. Faze isso e viverás”. 29Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” 30Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto. 31Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. 32O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. 33Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. 34Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem no seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. 35No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: 36“Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa”.

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Cada Um, Com Seu Talento, É Chamado Por Deus Para Colaborar Na Missão Evangelizadora

 Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe que sua perversidade subiu até a minha presença”, disse o Senhor para Jonas. Mas “Jonas pôs-se a caminho, a fim de fugir para Társis, longe da presença do Senhor”. Assim lemos no texto da Primeira Leitura. Durante três dias lemos na Primeira Leitura o texto de livro de Jonas. 

O relato de Jonas não é a biografia de um homem real - dita de uma vez por todas para não nos chocarmos com alguns detalhes implausíveis,  e sim, é um "midrash", ou seja, uma história imaginária para fins educativos. É uma das mais belas parábolas do Antigo Testamento, porque ela nos recorda que "todos os homens, mesmo os mais ferozes inimigos de Israel, são chamados à salvação." Escrito por volta do século V antes de Jesus Cristo, numa época em que Esdras havia revalorizado o particularismo de Israel para salvaguardar a fé autêntica, o livro de Jonas reafirma fortemente a "vocação missionária" do povo de Deus: Deus ama os pagãos e se alegra com sua conversão. 

O livro de Jonas é pequeno em amplitude (quarto capítulos), mas rico em conteúdo teológico. É um livro que faz parte dos “doze profetas menores”. O livro de Jonas não é um livro histórico no sentido estrito da palavra. O profeta Jonas existiu nos tempos do rei Jerobão II (cf. 2Rs 14,25), mas o relato, no qual o protagonista é Jonas, é uma parábola historizada, didática com uma intenção clara: mostrar que Deus tem planos de salvação não somente para Israel, mas também para os povos pagãos, ou seja, para a humanidade inteira. Além disso, o livro quer nos dizer que, muitas vezes, os pagãos respondem melhor ao apelo de Deus do que os judeus, como o povo eleito (Cf. Mt 21,31-32). 

A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amati, que dizia:  ‘Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe que sua perversidade subiu até a minha presença’”. Assim, desde a primeira linha deste apólogo (alegoria moral), o autor revela a chave: Deus não é apenas o Deus de Israel, mas de todas as nações. O pecado cometido por um pagão ofende a Deus da mesma forma que o pecado do povo eleito ou de um cristão. Deus quer nossa conversão: a conversão de todos. O amor de Deus é universal. Seja qual for a cor da nossa pele, seja qual for a nossa religião, todos somos convidados à salvação. E nada pode impedir Deus de realizar seu projeto de salvação universal. 

Jonas em hebraico significa “pomba”. Ele é enviado por Deus a Nínive para pronunciar um oráculo: “Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe que sua perversidade subiu até a minha presença” (Jn 1,2). Mas ele embarca numa nave com direção diametralmente oposta: para Tarsis. Essa resistência em obedecer à ordem do Senhor faz parte de vários relatos de vocação profética (Moises, Isaias, Jeremias etc.). A resistência existe porque é penoso para o profeta cumprir a missão encomendada por Deus. 

Durante a travessia, uma tempestade ameaça fazer a nave naufragar. E o capitão e os marinheiros invocam seus deuses para aclamar a tempestade. Finalmente, ficam sabendo de que a culpa é de Jonas, que de livre e espontânea vontade este pede para que seja lançado às águas: “Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar vos deixará em paz: eu sei que, por minha culpa, se desencadeou sobre vós esta grande borrasca”. Jonas é tragado por um “grande peixe” que o mantém em seu ventre durante três dias. O peixe lança Jonas em terra firme por ordem de Deus.

Estes três dias serão no Novo Testamento um símbolo dos três dias que Jesus esteve no sepulcro antes de ressuscitar. Mas a intenção da leitura de hoje é a conversão dos ninivitas, que Jesus comentará em Lc 11,29ss.

Como Jonas, outros resistiram em principio a cumprir o encargo de Deus, pondo justificativas, como Moisés ou Jeremias. O profeta Elias se refugiou no deserto e caminhou até o monte Horeb. Somente Jonas tomou um barco/navio em direção contrária a Nínive para onde Deus quer mandar Jonas.

É uma lição para nós todos. Cada um tem sua própria missão porque cada um nasce com seu próprio carisma (cf. 1Cor 12) para que, de alguma maneira, cada um possa ser testemunha do amor misericordioso de Deus neste mundo. Se eu colocar a resistência para um encargo que eu devo fazer por causa do meu carisma, quem vai fazer isso no meu lugar? Um parte da comunidade fica com uma carência que eu deixei de preencher com meu talento. Estamos no mundo para fazer o bem a partir de nossa capacidade. O resto vale apena a ser repensado. 

É claro que a missão é difícil porque a mensagem do Evangelho é exigente. Mas não temos que fugir de nossa responsabilidade. Quem foge é porque não está livre. Também para Cristo a missão lhe custa muito e teve momentos em que peia que afastasse dele o cálice de sofrimento, a paixão e a morte. Mas triunfou a obediência e a fidelidade ao seu Pai que o ressuscitou dos mortos e o colocou do lado direito do Pai. 

Resta cada um perguntar-se: Eu me faço surdo quando Deus me chama a colaborar na melhoria da comunidade e da sociedade? Em que “barco” nos refugiamos para fugir da voz de Deus? 

Somos Chamados a Fazer o Bem Em Qualquer Momento e Lugar e Para Qualquer Pessoa 

O texto do Evangelho nos fala do bom samaritano. O que está em jogo no texto do evangelho lido neste dia que nos é proposto é uma pergunta de um mestre da Lei: “O que fazer, a fim de conseguir a vida eterna?”. 

A resposta é previsível e evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Certamente a maravilhosa parábola do bom Samaritano é um reflexo sobre como deve viver concretamente a lei do amor a Deus e ao próximo. 

No entanto, a dúvida do mestre da Lei vai mais fundo quando se fala do próximo: “Quem é o meu próximo?”. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões diversas. Porém, havia consenso entre todos sobre o sentido exclusivo do próximo. De acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de Deus (cf. Ex 20,16-17; 21,14.18.35; Lv 19,11.13.15-18). No entanto, Jesus tinha outro conceito sobre quem é o próximo. É precisamente para explicar a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.

O que acontecerá comigo se eu não obedecer à lei ritual diante do homem meio morto?”. Esta é a pergunta do sacerdote e do levita nesta parábola. Mas Jesus convida cada cristão a fazer a seguinte pergunta: “O que acontecerá com meus irmãos, especialmente com os irmãos mais necessitados, se eu não fizer nada por eles?”. Esta é a pergunta do bom samaritano. Por isso, o bom samaritano se solidariza, se aproxima, e se arrisca pelo irmão, pelo necessitado.

O samaritano é um dos que a religião tradicional considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e longe da Igreja. No entanto, foi ele quem parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou. Apesar de ser um “herege”, um “excomungado”, mostra ser alguém atento ao irmão necessitado, com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus. “Amando ao próximo você limpa os olhos para ver a Deus” (Santo Agostinho). “O amor é a única dívida que mesmo depois de paga nos mantém como devedores” (Santo Agostinho). 

A base da fé é, certamente, estar aberto à realidade humana, ser capaz de pensar no outro e na sua necessidade, de respeitar a vida do outro, de sentir o que o outro sente ou o que o outro pode sentir. O samaritano reage com uma atitude de homem para homem, e se converte, deste modo, em realizador da misericórdia. Para Jesus o importante não é saber quem é meu próximo e sim fazer-se próximo dos demais, aproximar-se, ajudar o outro. O verdadeiro amor não faz exceção com ninguém. O amor aproxima e nos faz descobrir o próximo. O amor torna o outro meu próximo. Por isso, para quem ama, qualquer ser humano é seu próximo, independentemente de sua crença, religião, política, ideologia e assim por diante. A verdadeira religião que conduz à salvação passa por este amor sem limites ao próximo. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus. Quem tem sensibilidade e é capaz de desfazer-se de seus planos para se mostrar solidário, estará no caminho da vida eterna. Quem, pelo contrário, desvia-se do próximo carente de solidariedade, desvia-se do caminho que conduz a Deus. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma nação ou doutra qualquer; o “próximo” é qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita de nossa ajuda e de nosso amor para poder se levantar novamente. Neste gesto do bom samaritano, a Igreja de todos os tempos reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a missão de levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida. É a missão de cada cristão, seguidor de Cristo. O próximo é aquele em cujo caminho eu me coloco.

O caminho para a vida é o amor operativo para com todo homem. Este é o distintivo do autêntico cristão. Lá onde a necessidade clama por misericórdia, lá também o mandamento do amor ao próximo conclama à ação. Religião, nação, partido, tudo isto não significam. 

Neste gesto do bom samaritano, a Igreja de todos os tempos reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a missão de levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida. É a missão de cada cristão, seguidor de Cristo. Qualquer pessoa ferida com quem nos cruzamos nos caminhos da vida tem direito ao nosso amor, à nossa misericórdia, ao nosso cuidado – seja ela branca ou negra, cristã ou muçulmana, ateu ou crente, fascista ou comunista, pobre ou rica…

Em um mundo no qual se encurtam as distâncias e se incrementam as comunicações para todos os níveis, muitos homens não conseguem ser próximos para os outros porque as atitudes interiores diversas não estão em consonância com a proximidade física. Quantos estão sós em meio do barulho das grandes e pequenas cidades. 

É preciso que estejamos conscientes de que perderemos o tempo se nós buscarmos Deus tão somente nas práticas religiosas ou rituais, mas distantes da vida e dos irmãos. Ambos devem se complementar. O encontro com Deus na oração deve levar necessariamente cada cristão ao encontro com os irmãos. O amor cria vida para quem ama e amado.

Vale a pena repetir a pergunta para que cada um de nós possa estender a reflexão: “De quem sou próximo?”. Será que sou próximo de acordo com o critério de Jesus a exemplo do bom samaritano? Para quem se conforma com a pergunta “quem é meu próximo?”, o próximo não está mais próximo e sim está distante, está do outro lado de nossa curiosidade.

P. Vitus Gustama,SVD

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...