sábado, 11 de setembro de 2021

Quinta-feira Da XXIV Semana Comum,16/09/2021

A MISERICÓRDIA DIVINA QUE ATUA SOBRE A MISÉRIA DO HOMEM PARA SALVÁ-LO

Quinta-Feira da XXIV Semana Comum

Primeira Leitura: 1Tm 4,12-16

Caríssimo, 12 ninguém te despreze por seres jovem. Pelo contrário, serve de exemplo para os fiéis, na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na pureza. 13 Até que eu chegue, dedica-te à leitura, à exortação, ao ensino. 14 Não descuides o dom da graça que tu tens e que te foi dada por indicação da profecia, acompanhada da imposição das mãos do presbitério. 15 Com perseverança, põe estas coisas em prática, para que todos vejam o teu progresso. 16 Cuida de ti mesmo e daquilo que ensinas. Mostra-te perseverante. Assim te salvarás a ti mesmo e também àqueles que te escutam.

Evangelho: Lc 7,36-50

Naquele tempo: 36 Um fariseu convidou Jesus para uma refeição em sua casa. Jesus entrou na casa do fariseu e pôs-se à mesa. 37 Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora, soube que Jesus estava à mesa, na casa do fariseu. Ela trouxe um frasco de alabastro com perfume, 38 e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os de beijos e os ungia com o perfume. 39 Vendo isso, o fariseu que o havia convidado ficou pensando: "Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora". 40 Jesus disse então ao fariseu: "Simão, tenho uma coisa para te dizer". Simão respondeu: "Fala, mestre!" 41 "Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro cinquenta. 42 Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou os dois. Qual deles o amará mais?" 43 Simão respondeu: "Acho que é aquele ao qual perdoou mais". Jesus lhe disse: "Tu julgaste corretamente". 44 Então Jesus virou-se para a mulher e disse a Simão: "Estás vendo esta mulher? Quando entrei em tua casa, tu não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas e enxugou-os com os cabelos. 45 Tu não me deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46 Tu não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47 Por esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor". 48 E Jesus disse à mulher:  "Teus pecados estão perdoados". 49 Então, os convidados começaram a pensar:  "Quem é este que até perdoa pecados?" 50 Mas Jesus disse à mulher: "Tua fé te salvou. Vai em paz!"

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Condições Para Liderar Comunidade

O texto da Primeira Leitura se encontra na segunda parte da Primeira Carta a Timóteo. Nesta segunda parte de sua carta (1Tm 2,1-3,16) são Paulo deu instruções de validade universal, relativas à organização adequada do culto, e listou os requisitos que devem ser feitos aos ministros da comunidade. Após uma exortação geral a viver exemplarmente e trabalhar com zelo (1Tm 4,12-16), seguem as indicações sobre como tratar seus fiéis de acordo com as diferentes idades (1Tm 5,1s), as viúvas e a disciplina do ofício de viúva (1Tm 5,3-16), nos pais (1Tm 5,17-25) e, por fim, na forma de tratar os escravos (1Tm 6,1s).

No texto de hoje, são Paulo dá instruções pessoais a Timóteo sobre como ele deve cumprir ou desempenhar seu cargo na comunidade de Éfeso. As instruções que são expostas aqui são diretrizes para governar bem a Igreja.

As comunidades cristãs primitivas estavam habituadas a serem governadas por pessoas maiores (presbíteros). Para suprir a idade não suficiente, como líder jovem para seu cargo, Timóteo recebeu de são Paulo alguns critérios de atuação na comunidade. Segundo são Paulo, o responsável na comunidade deve servir de exemplo  na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na pureza”. Aquilo que falta na idade, Timóteo deve ter as virtudes necessárias para seu cargo. E para reafirmar sua autoridade, Timóteo recebeu o sacramento da ordem: Não descuides o dom da graça que tu tens e que te foi dada por indicação da profecia, acompanhada da imposição das mãos do presbitério”. A Igreja conservou na ordenação dos presbíteros a imposição das mãos, rito clássico na tradição judaica para conferir um poder (Nm 8,10; 27,18.20).  Mais tarde a Igreja acrescentou a entrega dos instrumentos como a patena e o cálice que simbolizam o poder de consagrar que lhe foi conferido. 

Para dirigir a comunidade devem ter, então, tanto a autoridade (imposição das mãos) como as virtudes que servem como o exemplo para a comunidade, mesmo sendo jovem na idade. 

Mas para são Paulo, a autoridade e as virtudes necessárias devem ser acrescentadas com outras qualidades necessárias para dirigir bem a comunidade. Estas qualidades são resumidas em três:Dedica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (1Tm 4,13). Timóteo deve servir a comunidade com a "leitura" da Sagrada Escritura do Antigo Testamento nas assembleias da comunidade. A leitura das escrituras dos livros do Antigo Testamento, que logo foi seguida pela leitura dos escritos apostólicos e dos Evangelhos, havia sido retomada pela Igreja primitiva a partir da liturgia da sinagoga judaica. Essa leitura da Bíblia é acompanhada de exortação e ensino, feitos pelo presidente da comunidade ou por um pregador dotado do Espírito. Timóteo deve cumprir ou desempenhar fielmente este serviço: a leitura da Bíblia, o ensinamento e a  exortação, até que o apóstolo Paulo chegue. 

Desde o início, os cristãos ouvem a mensagem de Deus na leitura dos escritos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. O chamado de Deus continuamente chega a eles. Deus também se dirige a nós hoje por meio desses escritos. 

Em outras palavras, Timóteo tem que “animar e ensinar”, “cuidar do ensinamento” e fazer frutificar a graça de sua ordenação: “Não descuides o dom da graça que tu tens e que te foi dada por indicação da profecia, acompanhada da imposição das mãos do presbitério”. 

São conselhos a um “epíscopo” (bispo), porém servem bem a todos: aos pais em sua relação com os filhos, aos educadores em sua missão formativa, aos animadores de qualquer aspecto de uma comunidade. De alguma maneira todos nós devemos ser evangelizadores, e cuidar que também as gerações jovens ou os que estão alienados da fé por mil razões, possam conhecer bem a Boa Notícia e da salvação que Jesus Cristo nos oferece: “cuidar do ensinamento”. 

Porém, o melhor testemunho que damos não são nossas palavras e sim nossa conduta, nossa honradez, fé e amor. A vida divina que todos nós recebemos no Baptismo, e alguns também na ordenação ministerial ou na profissão religiosa, devemos cuidar para que cresça, para que se torne transparente nas nossas obras e assim possamos colaborar na construção de uma Igreja melhor. Posto que somos colaboradores de Cristo, tratemos de não receber em vão a Graça de Deus. O Senhor nos consagrou para que, sendo seus, sejamos um sinal vivo de Sua presença no mundo. Por isso, temos que cuidar do Carisma que há em nós: o carisma de servir a todos como Cristo fez com todos. 

Quem Tem Amor No Coração Não Julga Nem Condena Quem Erra

O evangelho fala da misericórdia. Misericórdia é um dos temas preferidos do evangelista Lucas. No AT lemos: “Sejam santos porque Deus é santo” (cf. Lv 20,7). O evangelista Mateus diz: “Sejam perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). E o evangelista Lucas diz: “Sejam misericordiosos como o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6,36). Para o evangelista Lucas para ser santo, para ser perfeito só há um caminho: ser misericordioso. Misericórdia é dar o coração ao miserável. É amar até aquele que não merece ser amado. Mas por ser útero da humanidade, Deus é sempre misericordioso para todos os que não se cansam de pedir o perdão a Deus. Para eles também Deus não se cansa de perdoar. Por causa de sua misericórdia Deus tem estar contra a si próprio, pois ele poderia usar de justiça contra os pecadores. ”A misericórdia de Deus será sempre maior que a tua ingratidão”, dizia São Padre Pio de Pietrelcina. 

O Deus que Lucas nos apresenta através do evangelho de hoje é um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador. Ele não pactua com o pecado, mas está ao lado do pecador e manifesta uma misericórdia infinita para com o pecador arrependido. O amor de Deus pelo homem é um amor essencialmente misericordioso, pois é dado a alguém que se tornou indigno, pela soberba, pela desobediência, pela ingratidão, pelos pecados, pela maldade, pela rebelião e assim por diante. E Deus ama o homem a ponto de fazer-se homem em Jesus Cristo: ele veio para o nosso meio, viveu como nós e ofereceu sua vida por nós. Ele nasceu nosso nascimento, viveu nossa vida, experimentou nosso medo, morreu nossa morte e ressuscitou nossa ressurreição. 

A misericórdia não é simplesmente amor: é um amor que não conhece limites, barreiras, obstáculos, fronteiras: é um amor que sabe amar também quem se tornou  indigno do amor. Enquanto o amor diz somente doação, a misericórdia diz super doação. A misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o ódio, a infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II: “Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A misericórdia se manifesta em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza, promove e explicita o bem em todas as formas de mal existente no mundo e no homem” (Dives in misericordia, no.6). 

Nesse gesto extremo do seu amor evidenciam-se duas verdades: a grande consideração de Deus pelo homem, Deus sempre está do lado do homem e contra o mal; e mostra o amor infinito que ele derrama sobre o homem. Este amor misericordioso de Deus sempre persegue o homem na sua aventura espiritual, nas suas fugas de Deus, nas suas rebeldias, na sua perversa ingratidão e na sua profunda miséria.

O evangelista Lucas relata a cena do evangelho de hoje com elegância e detalhes muito significativos. Há contraste entre o fariseu, Simão que convida Jesus para uma refeição, e aquela mulher pecadora que ninguém sabe como chegou a entrar na festa e fez gestos de afeto para Jesus. Mais ainda! Perdoar uma mulher pecadora (prostituta) precisamente na casa de um fariseu que convidou Jesus é um pouco provocativo. Não é raro que se escandalizaram os presentes: ou porque Jesus não conhecia que tipo de mulher era aquela ou que Jesus não reagia diante de seus gestos de afetos.

Mas Jesus quer transmitir uma mensagem básica e fundamental em sua pregação e missão: a importância do amor e do perdão. Para amar de verdade o cristão precisa aprender a perdoar. O argumento de Jesus vai para duas direções. A mulher é perdoada porque ama muito: “... os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor”. 

A cena nos faz repensar nossa conduta com os que consideramos “pecadores”. Como os tratamos? Podemos atuar com coração mesquinho, como os fariseus que julgam e condenam todos, ou como o filho mais velho da parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32) que recrimina de modo transigente o seu irmão que voltou para a casa arrependido, ou como Simão, o fariseu e os outros convidados, que não devem ser pessoas más (porque convidaram Jesus para uma refeição), mas que não sabem ser benévolos e amar. Ou podemos nos comportar como o pai do filho pródigo, e sobretudo como o próprio Jesus que perdoa a mulher pecadora que se arrependeu, e Zaqueu, o publicano, e tem palavras de ânimo para essa mulher que entrou em sala de banquete e unge os pés de Jesus. Deus é rico em misericórdia. Jesus é a encarnação da misericórdia divina. e nós todos somos chamados de cristãos, isto é, aqueles que querem viver como Cristo. “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13; Os 6,6). Portanto, “Sede misericordiosos como, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

Vamos fazer um pouco de exame de consciência através da comparação de dois personagens no evangelho de hoje:

1. A mulher não tem nome por ser prostituta. Mas reconhece Jesus como Salvador. Simão, o fariseu tem nome até o sobrenome. No entanto não reconhece Jesus como Salvador.

2. A mulher demonstra toda a humildade e é elevada por Jesus por sua humildade. Simão, o fariseu, só busca a arrogância. Um arrogante possui todos os vícios: egoísta, injusto, ingrato, imoral e fanfarrão. A arrogância é o pai de todos os vícios. Por buscar somente a arrogância, não há na vida de Simão o lugar para o amor e Deus se torna distante.

3. A mulher reconhece a situação como prostituta e se esforça para mudar. Simão, o fariseu, nega sua situação de pecador e não aceita mudar. Cada santo se reconhece como pecador, mas cada pecador se acha santo. 

4. A mulher não julga e pede a compaixão e a misericórdia ao Senhor. Simão, o fariseu, julga e dispensa a misericórdia. “O julgamento será sem misericórdia para aquele que não pratica a misericórdia. A misericórdia, porém, desdenha o julgamento” (Tg 2,13).

 5. A mulher se liberta do pecado e alcança a graça de Deus. Simão aumenta seu pecado e fica distante da graça de deus. 

A mulher pecadora é um exemplo de conversão. Sua conversão implica claramente o propósito. Sua conversão é experimentalmente conversão a Alguém, e não somente uma nova forma de pensar ou uma resposta para as próprias obrigações. A conversão é, para essa mulher, comunhão com Jesus. Por isso, a conversão é o caminho para a felicidade e para uma vida plena. Não é algo penoso e sim sumamente gozoso, pois é o caminho da libertação. 

Para Jesus as verdadeiras pessoas de Deus são aquelas pessoas capazes de se converter em fonte de vida para os demais. Jesus mostra ao fariseu, Simão, que o mais importante não é a rígida disciplina religiosa e sim o amor e a gratidão. Por isso, ele anuncia o perdão de Deus para a mulher. 

Deus não nos envia para destruir os demais, por muito malvados que pareçam ser; nossa luta não é uma luta fratricida e sim uma luta contra o pecado e o mal. E o pecado não se expulsa acabando com os pecadores e sim amando-lhes de tal forma que possam recuperar sua dignidade de filhos de Deus.

Saber amar, saber perdoar como Deus nos amou e perdoou é a luz que fortalecerá para aqueles que se afastaram do caminho do bem para que voltem a encontrar-se com o Senhor e vivam comprometidos com Ele. 

Somos chamados a adotar a misericórdia como um modo de viver: que cada um seja misericordioso nos comentários, nos julgamentos, nas conversas e no agir cotidiano. Se corrigir, corrija com amor e por amor. Se chamar atenção, faça-o com e por amor. Fora do amor não há salvação, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

P.Vitus Gustama, SVD

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