sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Natividade de Nossa Senhora, 08/09/2021

NATIVIDADE DE MARIA

Primeira Leitura: Mq 5,1-4a

Assim diz o Senhor: 1“Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade. 2Deus deixará seu povo ao abandono, até ao tempo em que uma mãe der à luz; e o resto de seus irmãos se voltará para os filhos de Israel. 3Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus; os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até aos confins da terra, 4ae ele mesmo será a Paz”.

Evangelho: Mt 1,18-23

18 A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo. 20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”.  22Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”.

No dia 08 de setembro celebramos a festa da Natividade de Nossa Senhora. “Esta festa em honra de Nossa Senhora originou-se em Jerusalém, como a solenidade de Assunção. Trata-se da festa da conhecida basílica, no fim do século V, como basílica ‘Sanctae Mariae Ubi Nata Est’, e agora conhecida como basílica de Sant´Ana. No século VII, no rito bizantino e em Roma, neste dia celebrava-se a Natividade de Nossa Senhora” (Augusto Bergamini: Cristo, Festa Da Igreja, Ed. Paulinas,2004, 3ª Edição p.468). 

Nada nos diz o Novo Testamento sobre o nascimento de Maria. Nem sequer nos dá a data ou o nome de seus pais, ainda que segundo a lenda se chamavam Joaquim e Ana. Segundo a Tradição, a Virgem, Mãe do Senhor, nasceu em Jerusalém. A Liturgia oriental celebra o nascimento de Maria cantando poeticamente que este dia é o prelúdio da alegria universal em que começaram a soprar os ventos que anuncia a salvação. por isso, nossa liturgia nos convida a celebrarmos com alegria o nascimento de Maria, pois dela nasceu o Sol de justiça, Cristo Nosso Senhor.

Tudo o que sabemos a respeito do nascimento de Maria se encontra no evangelho apócrifo de Tiago segundo o qual Ana, sua mãe, se casou com um proprietário rural chamado Joaquim, Galileu de Nazaré. Joaquim significa “o homem a quem Deus levanta”. Descendência da família real de Davi. Levavam vinte anos de matrimonio e o filho tão sonhado não chegava. Os hebreus consideravam a esterilidade como uma prova do castigo do céu. Eram, por isso, menosprezados. No Templo, Joaquim ouvia as murmurações sobre os dois (Joaquim e Ana) como indignos de entrar na casa de Deus. Ana intensificou suas orações, implorando a graça de ter um filho. Joaquim e Ana foram premiados com o nascimento de uma filha única, Maria. Nasceu uma santa, fruto do presente de Deus pelas orações assíduas de Joaquim e Ana. 

O ponto forte no descobrimento da importância de um nascimento, como o de Maria, está no descobrimento de que Deus é o protagonista desse nascimento e do destino de Maria. A presença determinante e indispensável de Deus como protagonista se encontra, como consequência, também no nascimento e na vida de Maria. O oráculo do profeta Miquéias (Mq 5,2-5) se refere a uma maternidade, isto é, se refere à fonte de um nascimento projetado por Deus, como lemos mais adiante no evangelho de Mateus: “E tu Belém, terra de Judá, não és, de modo algum, a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o Chefe que governará Israel, meu povo” (Mt 2,6). Aqui denota uma convicção messiânica traduzida pelo evangelista Mateus numa convicção cristológica e contextualmente mariológica. 

Maria, cheia de graça (Lc 1,28), vivia como perfeita filha de Deus, entre homens que havia perdido a filiação divina por causa do pecado. Maria como cheia de graça não pecou jamais. 

Esforcemo-nos a viver como Maria, criança, adolescente, jovem, mãe carinhosa e solícita, trabalhadora, paciente na pobreza, nas perseguições e humilhações e nas adversidades. Educadora com a palavra e a vida de seu Filho, de seus filhos e filhas que somos nós todos. Assim seremos motivo de consolo, de força e de gozo para todos ao nosso redor. 

A festa da natividade de Maria é uma das festas mais arraigadas na tradição popular cristã, pois o que se contempla biblicamente é o esplendor da aurora, do nascimento, do auge da maternidade do Redentor que nos salva. Maria é, hoje, com efeito, como a aurora que anuncia a aparição do Sol da justiça, da vida, do amor. No plano de Deus, Maria faz parte dos segredos de Deus, e será a mulher que acompanha o Messias em seu caminho de salvação de toda a humanidade.

Esta festividade nos situa no marco de uma história na qual surge a ação divina a partir de baixo e proclama a num Deus que não tarda em cumprir Suas promessas. A partir deste acontecimento o cristão descobre em cada momento um momento de salvação. O krónos (tempo medido pelos segundos) se transforma em kairós (tempo da graça divina). O tempo é carregado da ação salvífica de Deus. A história carrega consigo os sinais de Deus que o ser humano precisa decifrar seu sentido. Deus atua em cada passo do campo humano de cada dia suscitando homens e mulheres, como Maria, Mãe do Senhor, que fazem possível e sacramental o atuar de Deus em função da salvação da humanidade. Assim foi Maria, com seu nascimento, fez possível a ação de Deus no mundo. De fato, percebemos que Deus não abandona a humanidade. 

Nos textos litúrgicos escolhidos para honrar hoje a Maria não se fala na natividade de Maria: um fato que ficou no anonimato. Nos desígnios de Deus, a humildade, o silêncio, o passar desapercebido, é uma atitude habitual. Somente os acontecimentos posteriores vão iluminando em cada passo o mistério escondido no nascimento.

A liturgia se fixa no grande acontecimento da natividade de um Menino, de um Eleito, Predestinado: Jesus que, provindo da casa e da família de Davi, dá cumprimento a quanto na Bíblia se disse sobre o Messias, o Salvador. 

Mesmo assim, pelos mesmos textos que nos propõe a liturgia desta festa não cabe dúvida de que existe uma estreita relação entre nascimento de Jesus e o de Maria. A importância desta festa é assinalada pela figura e pelo papel desta Mulher. Por seuSim” ao projeto de Deus, por seu amor e seus cuidados, por sua no Deus libertador é que Deus põe nela Sua morada. E por sua esperança é que Maria encarna as esperanças de seu povo. 

Para explicar a origem de Jesus, no evangelho lido neste dia, o evangelista Mateus emprega um recurso literário utilizado na antiguidade que é a genealogia. As genealogias serviam para conhecer os antepassados de uma pessoa, e isto era de suma importância na cultura dos povos do oriente antigo, na qual o indivíduo se entendia a si mesmo, e era visto pelos demais como parte de um grupo com que estabelecia uma relação de parentela pelos laços de sangue e da carne. A família era o depósito de honra acumulado por todos os antepassados, e cada um de seus membros participava da dita honra e era obrigado a defendê-la.

A intenção de Mateus ao começar seu evangelho com a genealogia é dar a conhecer a ilustre ascendência de Jesus, que se remonta nada menos que a Davi e a Abraão, apresentando-o assim como um personagem muito importante e honrável para os olhos de seus contemporâneos.

Através da genealogia Mateus quer nos dizer que Jesus é da descendência de Davi. Em outras palavras, Jesus é o Filho de Davi. Mais tarde este título sairá da boca dos dois cegos: “Filho de Davi, tem piedade de nós!” (Mt 9,27). E na sua entrada em Jerusalém Jesus será aclamado de “Filho de Davi”: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!” (Mt 21,9).   Hosana (hebraico) = Salva, eu te peço! (cf. Sl 118,25). 

Mas Mt não pára na identidade de Jesus comoFilho de Davi”. Através deste capítulo primeiro do seu evangelho Mt quer realmente nos mostrar que Jesus é o Filho de Deus, o Emanuel, que ele explicará nos vv. 18-24. Para explicar que Jesus é o Filho de Deus, Mt usa na genealogia a palavraGERAR”: “Abraão gerou... Jacó gerou... Judá gerou... e assim por diante”. 

A palavragerar” na linguagem bíblica significa transmitir não apenas o próprio ser, mas também a própria maneira de ser e de comportar-se. O filho é a imagem do pai. Por esta razão, a genealogia se interrompe bruscamente no versículo 16 para dizer que José não é o pai natural de Jesus, mas apenas é o pai legal: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo”. (Nos vv 18-24 Mateus vai explicar detalhadamente esta questão). Isto quer nos dizer que a Jesus pertence toda a tradição anterior, mas ele não é imagem de José. Seu único pai será Deus; seu ser e sua ação e atividades vão refletir os do próprio Deus. O Messias não é um produto da história e sim uma novidade na história.    

A lista de pessoas nesta genealogia contém alguns dos mais significativos nomes como também alguns nomes que têm má fama; contém tanto pecadores como santos.        

Dos 14 reis judeus que Mateus elenca entre Davi e a deportação somente dois (Ezequias e Josias) poderiam ser considerados fiéis aos padrões de Deus. O resto não passou de um estranho bando de idólatras, assassinos, incompetentes e adoradores de poder e prodígios. O próprio Davi foi uma surpreendente combinação de santo e pecador. Houve naturalmente o assassínio premeditado do marido de Betsabé (Urias) de modo que Davi pudesse possuir legalmente a viúva.       

Mas Deus é aquele que cumpre seus propósitos através daqueles que outros considerariam como não importantes e facilmente esquecíveis. Deus se serve tanto de instrumentos fracos como de instrumentos saudáveis, pois o agente principal da salvação é o próprio Deus.        

Além dos reis fracos e pecadores, a escolha de mulheres mencionadas na genealogia é surpreendente. Nada ouvimos ou lemos a respeito das santas esposas patriarcais como Sara, Rebeca ou Raquel. Mt coloca na genealogia quatro mulheres de má fama:

·      Tamar: Uma cananéia, estrangeira que teve caso com o sogro, Judá.

·      Raab: Era uma verdadeira prostituta, mas que protegeu os espiões israelitas que tornou possível a conquista de Jericó (Josué 2).

·      Rute: Foi outra estrangeira, uma moabita que se relacionou com Booz cujo resultado foi o nascimento de uma criança que seria o avô do Rei Davi.

·      Betsabé: É uma vítima da luxúria de Davi, de quem nasceu Salomão, sucederia Davi na monarquia. 

Todas estas mulheres tinham, então, uma história conjugal com elementos de escândalo e desespero humano. No entanto, eram instrumentos ativos do Espírito de Deus na continuação da sagrada linha do Messias. 

Mateus quer nos relembrar e transmitir um Deus que não hesitou em usar a torpeza tanto quanto a nobreza, a impureza tanto quanto a pureza, homens a quem o mundo ouviu atentamente e mulheres que o mundo censurou. Este Deus continua a trabalhar com a mesma mistura e continua a nos surpreender. Tudo isso mostra que Deus está no comando da história. Ele é o agente principal e o homem é apenas um colaborador.

Deus pode nos usar como Seus instrumentos apesar de sermos pecadores, fracos, incapacitados e assim por diante. Mas que tenhamos uma disponibilidade de Maria para servir esse Deus que nos compreende profundamente nossos defeitos. Servir é uma adoração em ação, é uma continuação da minha adoração. Servir é prestar ajuda sem esperar recompensa e reconhecimento, pois servir significa ser servo e o servo está sempre à disposição de seu senhor. Quem serve com o Espírito de Deus jamais murmura, pois o tempo é precioso para ele. Quem não vive para servir não serve para viver tanto para si próprio como para os demais.

Nesta festa e na Eucaristia o Senhor se dirige a nós através de Sua Palavra pela qual nos convida a nos convertermos em fieis discípulos Seus, conhecendo, escutando Sua Palavra e pondo-a em prática. Ele nos mostrou que a vida da não pode limitar-se à oração. Cristo, o Senhor, entrega sua vida por toda a humanidade sem ter em conta classes sociais, etnias nem culturas. Se, nesta celebração do Mistério Pascal de Cristo, nós entramos em comunhão de vida com o Senhor, deixemos que Seu Espírito transforme nossa vida e faça de nós um sinal do amor de Deus nos diversos ambientes em que se desenvolve nossa existência. Deus nos chama a dar a vida para que todos tenham vida e a tenham em abundância a exemplo de Jesus (cf. Jo 10,10). Deus quer que em nosso coração tenha espaço para todos como o coração de Maria que cabe para toda a humanidade que Deus quer salvar.

Desejamos, neste dia 08 de setembro, muitas felicidades e muitas bênçãos para todos os verbitas (SVD) no mundo inteiro. Hoje a Congregação do Verbo Divino, SVD faz o aniversário de sua fundação (08/09/1875).

Sobre Maria, Mãe de Jesus, a quem tinha muito amor e devoção, Santo Arnaldo Janssen, fundador da SVD (e mais duas congregações femininas: SSpS e SSpS da Adoração Perpétua) dizia: “A relação de Maria com a Santíssima Trindade é a de filha, mãe e esposa. De todas as filhas da terra ela foi a escolhida do Pai celeste. O Filho Eterno a elegeu como mãe para que pudesse assumir a carne humana. O Espírito Santo a amou como esposa e fez dela um vaso santo e eleito das divinas graças. A humildade da Rainha dos Anjos foi uma virtude marcante. Ela que disse: "Eis aqui a escrava do Senhor”. Temos de aprender de Maria, de quem a escritura fala:” Ela guardava todas estas palavras em seu coração” (Lc 2,19)”.

Santo Arnaldo Janssen levava a sério a vontade de Deus, como Maria que se entregou totalmente à vontade de Deus através do seu Fiat, “Faça-se!”: Que a santa vontade de Deus seja bendita para sempre! Temos que adorar esta vontade e abraçá-la com amor, se queremos agradar a Deus. Peço ao bom Deus que nos permita reconhecer sua santa vontade e nos conceda uma alegre serenidade em cumpri-la”. 

Não são as longas orações e sim as ações generosas que comovem o coração de Deus (Santo Arnaldo Janssen). “A confiança é a chave do incomensurável tesouro de Deus. A confiança em Deus é a virtude da qual o missionário deve haurir toda força e todo auxílio. O missionário deve ser um autêntico herói da confiança em Deus (Idem).

Quem vive sempre unido a Deus, o mundo lhe pertence e cada dia é um milagre. Quem reza, prende a Terra ao Céu”. (Idem) 

Sempre é necessário rezar muito. A vida sem oração é o caminho certo para o inferno. E A língua que todos entendem é a linguagem do amor (São José Freinademetz, um dos dois primeiros missionários da SVD enviado para a China aos 02 de março de 1879).

P. Vitus Gustama,svd

Nenhum comentário:

ASCENSÃO DO SENHOR, Solenidade, Domingo 12/05/2024

ASCENSÃO DO SENHOR Ano “B” Primeira Leitura: At 1,1-11 1 No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou...