domingo, 9 de julho de 2023

13/07/2023-Quintaf Da XIV Semana Comumn

SER CRISTÃO É SER MISSIONÁRIO DO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS

Quinta-Feira da XIV Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 44,18-21.23b-29; 45,1-5

Naqueles dias, 44,18 Judá aproximou-se de José e, cheio de ânimo, disse: “Perdão, meu Senhor, permite a teu servo falar com toda a franqueza, sem que se acenda a tua cólera contra mim. Afinal, tu és como um faraó! 19 Foi meu Senhor quem perguntou a seus servos: ‘Ainda tendes pai ou algum outro irmão?’ 20 E nós respondemos ao meu senhor: ‘Temos um pai já velho e um menino nascido em sua velhice, cujo irmão morreu; é o único filho de sua mãe que resta, e seu pai o ama com muita ternura’. 21 E tu disseste a teus servos: ‘Trazei-o a mim, para que eu possa vê-lo. 23b Se não vier convosco o vosso irmão mais novo, não vereis mais a minha face’. 24 Quando, pois, voltamos para junto de teu servo, nosso pai, contamos tudo o que o meu senhor tinha dito. 25 Mais tarde disse-nos nosso pai: ‘Voltai e comprai para nós algum trigo’. 26 E nós lhe respondemos: ‘Não podemos ir, a não ser que o nosso irmão mais novo vá conosco. De outra maneira, sem ele, não nos podemos apresentar àquele homem’. 27 E o teu servo, nosso pai, respondeu: ‘Bem sabeis que minha mulher me deu apenas dois filhos. 28 Um deles saiu de casa e eu disse: um animal feroz o devorou! E até agora não apareceu. 29 Se me levardes também este, e lhe acontecer alguma desgraça no caminho, fareis descer de desgosto meus cabelos brancos à morada dos mortos’”. 45,1 Então José não pôde mais conter-se diante de todos os que o rodeavam e gritou: “Mandai sair toda a gente!” E, assim, não ficou mais ninguém com ele, quando se deu a conhecer aos irmãos. 2 José rompeu num choro tão forte, que os egípcios ouviram e toda a casa do Faraó. 3 E José disse a seus irmãos: “Eu sou José! Meu pai ainda vive?” Mas os irmãos não podiam responder-lhe nada, pois foram tomados de um enorme terror. 4 Ele, porém, cheio de clemência, lhes disse: “Aproximai-vos de mim”. Tendo-se eles aproximado, disse: “Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. 5 Entretanto, não vos aflijais, nem vos atormenteis, por me terdes vendido a este país. Porque foi para a vossa salvação que Deus me mandou adiante de vós, para o Egito”. 

Evangelho: Mt 10,7-15

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. 8 Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! 9 Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; 10 nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito a seu sustento. 11 Em qualquer cidade ou povoado onde entrardes, informai-vos para saber quem ali seja digno. Hos­pedai-vos com ele até a vossa partida. 12 Ao entrardes numa casa, saudai-a. 13 Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não for digna, volte para vós a vossa paz. 14 Se alguém não vos receber, nem escutar vossa palavra, saí daquela casa ou daquela cidade, e sacudi a poeira dos vossos pés. 15 Em verdade vos digo, as cidades de Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos dureza do que aquela cidade, no dia do juízo.

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Em Gênesis, capítulos 44-45, nos deleitamos na compreensão e atitude misericordiosa de José, o filho favorito de Jacó. Vendido para alguns comerciantes, ele entrou no Egito e lá adquiriu enorme prestígio, a ponto de se tornar administrador da propriedade do Faraó. Como já dissemos no dia anterior, enquanto ele estava envolvido na administração do Egito, anos de fome seguiam por todos os lados, e nas terras de Canaã a angústia era terrível. Para acalmá-la, os filhos de Jacó (irmãos de José) desceram ao Egito para procurar provisões (trigo etc.). 

No texto do Evangelho, temos a mensagem da generosidade que deve presidir a vida de todo pregador. “De graça recebestes, de graça deveis dar!”. O pregador, profeta, mestre, discípulo de Cristo, deve ter como norma dar gratuitamente os dons e graças da salvação que recebeu gratuitamente da bondade divina, e deve fazê-lo sem se preocupar muito com as reações do povo diante da exposição da Palavra de Deus e a Verdade que salva. 

De graça recebestes, de graça deveis dar!”. Esta é a medida da generosidade de Deus para conosco, e Deus quer que sirvamos nossos irmãos na fé, na evangelização de Seu Nome e na distribuição de suas graças sacramentais e de sua Palavra.

O Deus Em Quem Acreditamos É Um Deus De Surpresas e Cheio de Providências

Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Entretanto, não vos aflijais, nem vos atormenteis, por me terdes vendido a este país. Porque foi para a vossa salvação que Deus me mandou adiante de vós, para o Egito”. Esta é a frase chave da seção que o autor sagrado coloca nos lábios de José. 

A cena que lemos na Primeira Leitura é típica do período patriarcal que as últimas páginas do Gênesis nos relatam: uma vida de clã na qual o ancestral desempenha um papel fundamental ... uma vida rural e nômade em que as relações familiares são essenciais ... uma vida rude, em que não faltam confrontos e conflitos sérios, mas que está impregnada de uma ternura em que os laços de sangue são mais fortes do que qualquer outra coisa. 

Grande arte do relato que de uma forma emocionante fala de José como um "desaparecido" quando, na verdade, ele está escutando. Uma história muito sutil em que os fatos são mais sugeridos do que explicados.Nesta estrutura familiar polígama, notamos, no entanto, um imenso e natural respeito pelo pai e uma relação afetiva com a mãe. Mas também podemos vislumbrar as dificuldades inerentes a esse tipo de família e suas consequências quase inevitáveis, particularmente as preferências por tal esposa e seus filhos.

A história de José, que chega à cena culminante do reencontro e a reconciliação com seus irmãos, é uma das páginas mais belas da Bíblia, tanto no aspecto literário como no aspecto humano e religioso. 

Na cena anterior conta-se que na segunda viagem de seus irmãos para o Egito em busca de sobrevivência por causa da fome, José retém Benjamin, seu irmão predileto com o pretexto de que “roubou” um cálice que o próprio José mandou colocar precisamente no saco de trigo de Benjamin. 

Quando Judá, intercedendo pateticamente pelo seu irmão pequeno, Benjamin, conta a José de que conhece muito bem Benjamin, José não consegue conter-se mais e, entre lágrimas, se dá conhecer a seus irmãos, criando neles uma situação de surpresa inexprimível e também de medo: “Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito”. Mas eles não têm que ter medo porque José lhes perdoa: “Não vos aflijais, nem vos atormenteis, por me terdes vendido a este país”. A lição se põe na boca de José: “Porque foi para a vossa salvação que Deus me mandou adiante de vós, para o Egito”. José perdoa seus irmãos e vê em tudo a mão de Deus que guia. Com Deus nada é acaso. Ao contrário, tudo é uma providência. A providência é o amor em ação. Por amor a nós, Deus sempre deixa seu recado e apelo em cada acontecimento de nossa vida. Basta decifrar em cada acontecimento a mesnagem de Deus para cada um de nós na nossa vida cotidiana. Isto supõe que tenhamos tempo para parar a fim de fazer reflexão sobre nossas experiências cotidiana. A vida de José e de seus irmãos poderia ser mais difícil se José não fosse uma autoridade na terra dos egípcios. Paradoxalmente, José foi vendido para salvar seus irmãos no futuro. Em cada experiência Deus quer deixar algum recado para nós. Em cada acontecimento Deus faz algum apelo para nós. Verifique, qual foi o apelo de Deus para você hoje? 

Tudo isto quer nos dizer que os planos de Deus são admiráveis. Deus vai levando ao cumprimento de suas promessas pela nossa salvação através dos caminhos que nos surpreendem, até não entendemos o porquê do caminho. No momento de cada acontecimento ou experiência desconhecemos, muitas vezes, seu sentido profundo para nossa vida, pois não estamos preparados para tudo. No futuro próximo ou distante, relativamente, é que enxergaremos o sentido de cada coisa ou cada experiência que passou na nossa vida. Jesus Cristo tinha razão quando dizia aos discípulos: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará na verdade plena” (Jo 16,12). Quantas vezes aconteceu na nossa vida em que no silêncio, refletindo sobre nossas experiências, dissemos: “Meu pai (ou minha mãe ou meu irmão ou meu amigo) tinha razão!”. Muitas coisas na vida só entenderemos seu sentido mais tarde, quando ficamos distantes do ocorrido. 

Além disso, a história de José nos recorda a história de Jesus que também é vendido pelos seus e levado à cruz; que morreu pedindo a Deus que perdoe seus inimigos; que parece ter fracassado na missão encomendada, mas que nos mostra como Deus consegue seus propósitos de salvação também através do mal e do pecado das pessoas. 

De Jesus e José aprendemos também a perdoar aos que nos ofenderam, pois, às vezes, através daquela experiência ou acontecimento Deus quer nos salvar e quer salvar os outros através de nós, mesmo que nossa experiência pareça muito dolorosa. Dificilmente, alguém nos faria o mal tão grande como aquilo que José sofreu por causa dos próprios irmãos e como aquilo que Jesus sofreu por causa da traição dos próprios discípulos. No entanto, eles (José e Jesus) os perdoaram. José salvou sua família da fome mortal e Jesus salvou a humnidade com sua morte frutífera, perdoando todos os que fizeram o mal contra ele (cf. Lc 23,34). 

Nós Cristãos Somos Missionários Do Amor De Deus Neste Mundo 

Continuamos a acompanhar o discurso de Jesus sobre a missão (Mt 9,36-11,1).  Na passagem do evangelho de hoje Jesus dá algumas instruções para seus discípulos na tarefa de proclamar a Boa Nova. 

Primeiramente, Jesus disse aos discípulos: “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos céus está próximo’”. Jesus coloca em primeiro lugar o anúncio da Boa Nova. Onde quer que ande um seguidor de Jesus deve falar somente coisas boas e deve espalhar coisas edificantes. O evangelizador é aquele que sempre leva adiante o que é bom e o que é certo e o que edifica. Um seguidor não pode perder tempo em falar ou em discutir coisas que não edificam a humanidade. Qualquer cristão não pode desperdiçar o tempo com coisas fúteis, pois para ele cada minuto é o minuto da graça de Deus (Kairós).  A vida vivida apenas para satisfazer a própria vida nunca satisfaz a vida de ninguém. Não há melhor exercício para fortalecer o coração do que estender o braço para baixo e erguer pessoas esmagadas pelo peso da vida vivida. O propósito verdadeiro de nossa existência é fazer uma vida válida, bem feita e útil. Praticar e pregar o bem! Esta é a tarefa principal de qualquer cristão. Tudo o mais virá depois: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas outras coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). 

Proclamai que o reino de Deus está próximo”. Muitas vezes se busca Deus demasiadamente longe. De fato ele está próximo de nós; Ele está conosco (Mt 28,20). O Deus que Jesus revela é um Deus próximo, um Deus amoroso. Por isso, jamais eu estou sozinho, inclusive quando me sinto abandonado ou solitário, nem na minha doença nem na minha morte, pois Deus está comigo. Para poder proclamar aos demais sobre a bondade, a proximidade da presença de Deus, o cristão-missionário há que ter feito a experiência do Deus próximo em si mesmo pessoalmente.

 Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”.  Jesus já tinha feito tudo isso: Ele curou os enfermos (Mt 8,5-15); purificou os leprosos (Mt 8,2-4); ressuscitou os mortos (Mt 9,23-25); expulsou os demônios (Mt 8,28-34). O cristão-missionário é aquele que distribui benefícios, aquele que faz o irmão crescer e viver a vida dignamente, aquele que leva a paz; aquele que nutre a vida dos outros; aquele que protege a vida em todas as suas instâncias. A exemplo de Cristo, o cristão é aquele que vive fazendo o bem para onde for, onde estiver e com quem estiver (cf. At 10,38). O cristão é aquele que pratica o bem nos momentos oportunos e inoportunos.

“Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito a seu sustento”.  O ouro e a prata (os bens materiais) nunca vão ser nossos amigos. Os bens continuam sendo alheios a nós. Eles são necessários, mas apenas como meios para facilitar nosso trabalho. O ser humano tem que gostar do ser humano e usar os bens, e não pode usar o ser humano porque gosta dos bens materiais. É preciso que o cristão esteja despojado. Despojamento é todo um empenho para dar lugar à riqueza do poder da graça de Deus. Despojamento nos torna imunes contra as ciladas da prepotência. Deus só oferecerá a riqueza da Sua graça ao que saiba despojar-se de si mesmo e das coisas materiais. Despojamento é o ponto de encontro com Deus. 

Na sua instrução, Jesus pede aos discípulos para que vivam despojados: não levar nem ouro, nem prata, nem sandálias, nem bastão. Estas exigências parecem estar tomadas das normas estabelecidas para participar do culto a Deus no templo: “que ninguém entre no templo com bastão, sapatos nem com a bolsa de dinheiro”. Partindo desta norma judaica se diria simplesmente que os discípulos, na realização de sua tarefa evangelizadora devem fazer a mesma coisa diante de Deus e devem viver como estando na presença de Deus, sabendo que o êxito da missão depende de Deus. 

A expressão “Estar desarmados e despojados” é usada para enfatizar que a obra é de Deus e não de um ser humano. Este estilo é chamado de “pobreza evangélica” que não se apóia unicamente nos meios materiais e nas técnicas, e sim na ajuda de Deus e na força de Sua palavra. Nós devemos confiar mais na força de Deus do que em nossas qualidades ou meios técnicos. O homem que se deixa conquistar pelo despojamento, deixa de estar alienado ou agarrado a qualquer coisa. O despojamento se torna um encontro libertador consigo próprio. ”Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”, dizia Santo Agostinho (Serm. 23,3). 

Recebestes de graça, de graça dai!”. Além de ter uma vida despojada, o cristão deve ser generoso e viver na gratuidade. O cristão-missionário deve atuar com desinteresse econômico, não buscando seu próprio proveito. Todos sabem que quanto mais se tem, mais se quer. A felicidade ficará cada vez mais distante quando o ser humano começar a criar mais necessidades. O espírito materialista é como beber a água salgada: quanto mais você beber, mais sede você terá. Aquele que sabe reduzir ao mínimo suas necessidades encontra uma alegria e uma liberdade maior. Possuído ou dominado pelas coisas o homem perde sua liberdade. “Onde só o amor serve e não a necessidade, a escravidão se torna liberdade” (Santo Agostinho. In ps. 99,8). 

“Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós”.  O cristão jamais pode ser uma pessoa agressiva verbal e fisicamente. A serenidade produz outra serenidade. Cada sorriso gera outro sorriso. O cristão deve propor a Boa Nova e não se pode impor: os homens ficam livres. A tarefa do cristão-missionário é oferecer a paz e a alegria. Dar alento. O cristão deve saber que o trabalho não é forçar de qualquer maneira, nem Jesus fez isso. A tarefa do cristão-missionário é formular a proposta clara e convincente e logo deixa para a liberdade do homem. 

A missão está marcada pela constante ameaça dos anti-valores da sociedade e pela oposição dos filhos das trevas. Estes são verdadeiros lobos que sacrificam seus irmãos para obter benefícios pessoais. Os evangelizadores não podem ser ingênuos diante deles. Os cristãos devem manter sua simplicidade, mas acompanhada pela prudência para agir sabiamente e eficazmente: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas”. 

Em resumo: o cristão deve ser despojado, simples, pacífico, prudente e desarmado. Só com estas qualidades ele convence qualquer um para ser parceiro do bem e para ganhar novos evangelizadores. “A verdadeira felicidade não consiste em possuir o que se ama, mas em amar o que se deve possuir” (Santo Agostinho: In ps. 26,2,7).                         

P. Vitus Gustama, SVD

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