sexta-feira, 21 de julho de 2023

XVI Domingo Comum "A", 23/07/2023

CONFIEMOS EM DEUS, POIS ELE TEM A ÚLTIMA PALAVRA PARA NOSSA VIDA: PALAVRA QUE SALVA

XVI Domingo Comum Ano “A”

Primeira Leitura: Sb 12,13.16-19

13Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto. 16A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. 17Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento. 18No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração; pois, quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder. 19Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores.

Segunda Leitura: Rm 8,26-27

Irmãos: 26O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos

Evangelho: Mt 13,24-43

Naquele tempo, 24Jesus contou outra parábola à multidão: “O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. 26Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ 28O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ 29O dono respondeu: ‘Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! Recolhei, porém, o trigo no meu celeiro!’” 31Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”. 33Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: “O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”. 34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo”. 36Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” 37Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifeiros são os anjos. 40Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará seus anjos, e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça”.

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A parábola do joio ocupa a posição central nas parábolas lidas no texto do evangelho deste dia. O campo foi semeado com bom trigo. O Filho do homem semeou no mundo os filhos do Reino. À noite, o inimigo vem; Satanás semeia joio. E a confusão ocorre no mundo, o bem e o mal crescem juntos.

Apesar da presença do joio, o trigo continua crescendo e chega até o momento de colheita. A a explicação é complementada pelas outras duas parábolas, uma das quais expressa em que consiste o crescimento do Reino, semelhante a um grão de mostarda que é a menor das sementes e se torna uma grande árvore, e a outra mostra o Reino por comparação com o fermento que faz a massa fermentar ou crescer. 

As duas parábolas sobre o Reinado de Deus (grão de mostarda e fermento) sublinham sobretudo o lento trabalho de crescimento do Reinado de Deus. Pode-se dizer: o crescimento inexorável do Reino no qual o homem não intervém. O poder de Deus é o único que criou todas as coisas e está sustentando esse crescimento que ninguém pode impedir; enquanto isso, os homens vivem praticando a justiça ou inspirados pelo mal. Mas o Reino continua a crescer, animado pelo fermento de Deus, até atingir a maturidade. Pode-se imaginar, sob estas duas parábolas descritivas do Reino, a longa paciência criadora de Deus que se orienta para a perfeição da sua obra, o desígnio de salvação concebido desde toda a eternidade em benefício do homem.

O BEM E O MAL CONVIVEM

A parábola do trigo e do joio reflete a situação da humanidade com um critério realista e maduro: a história humana é tecida de luzes e sombras, do bem e do mal. Deus não parece ter pressa em condenar nada nem ninguém antecipadamente ou apressadamente. Nós, pecadores, estamos sempre em prontidão para condenar os outros. É evidente que existe no mundo um princípio de morte que causa ódio, guerras, imoralidade..., e outro princípio de vida, cujo fruto mais importante é o amor. Ninguém tem o direito de estar do lado dos bons, desprezando ou condenando os outros, pois ele se condena pelo mal que existe dentro de seu coração. A Igreja não é uma seita de puros; nela tem lugar para todos. O julgamento (momento de separação) pertence a Deus e que está além da história. Além disso, não somos cada um de nós uma mistura do bem e do mal, do trigo e do joio? Dentro de nós existem duas forças antagônicas (Rm 7,18-25): a do bem e a do mal, a do amor e a do ódio. Na verdade, o bem e o mal estão dentro da comunidade e estão no coração de qualquer um de nós. A história e cada ser humano em particular são um campo de batalha. Onde o Senhor e as pessoas de bondade semeiam o bem com cuidado, enquanto o inimigo com astúcia semeia o mal. A cena descrita na parábola é totalmente real. Entre o trigo e o joio há uma grande semelhança, desde que sejam ervas. Eles diferem à medida que crescem e produzem frutos.

O bem e o mal crescem juntos desde que o homem é homem. O relato de Adão e Eva nos ensina, entre outras coisas, como o mal surge com o primeiro homem, que num dado momento rompe a harmonia entre ele e Deus, deixando assim marcada a marcha da história da humanidade. Esta é uma questão complexa, porém o que não tem nada de complexo é o constatar no dia a dia que, de fato, o bem e o mal crescem juntos e convivem. A parábola do trigo e do joio conta essa realidade. 

O mundo é um campo de semeaduras opostas. E o Reino de Deus cresce ali, na densidade daquela vida às vezes tão ambígua e complexa. E ai está Deus salvando o homem. Naqueles comportamentos coletivos da humanidade ora animados por grandes ideais, ora por obscuros egoísmos e maldades; naqueles mil gestos que os homens fazem todos os dias e onde a generosidade se mistura com a mais indizível mesquinhez.

UMA COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO DEUS PAI

O ensinamento claro e fundamental é este: não é competência humana determinar quem é boa semente e quem é joio; quem é cidadão do Reino e quem não o é; isso somente compete a Deus para determinar quem é realmente trigo e quem é verdadeiramente o joio, e somente Deus pode fazer no fim dos tempos em que Deus está em tudo e em todos. 

O texto da Primeira Leitura nos ajuda a meditar sobre a justiça de Deus. A justiça de Deus ao longo da história mostra-se totalmente diferente da justiça dos homens, muito diferente da justiça da lei. Deus cuida de todas as coisas e isso já é uma forma de demonstrar que ele estabelece seus julgamentos com conhecimento dos fatos. Porque na origem da sua justiça está o seu poder misericordioso; mas seu domínio sobre todas as coisas o torna paciente com todas elas: “A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. ... Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano ” (Sb 12,16.19).  Deus tem tempo para todos e para tudo. Por isso, Jesus, a encarnação do Deus misericordioso, não exclui os pecadores, mas os procura; corre atrás deles e solícito, os acolhe. Jesus, com amor, persegue os desanimados e lhes dá tempo para uma converesão sincera. Deus quer salvar todos. Só Deus, que tudo criou e de quem ninguém pode escapar, é capaz de um julgamento paciente e indulgente. O tema da onipotência e da paciência de Deus aparece com muita clareza na liturgia deste domingo. 

Os homens, ao contrário, por ter um poder limitado, reprimem aqueles que se opõem a eles. Os que se acham piedosos e puros constroem e reconstroem barreiras, em vez de construir e reconstruir pontes entre Deus e a humanidade. Trata-se do farisaísmo que é sempre atual. A palavra “fariseu” significa o separado. Fariseu é todo aquele que, achanado-se justo, piedoso, puro, separa-se de todos os outros que para ele são “impuros”. Quem julga os outros “impuros” e “irrecuperáveis de tão inveterados”, já se faz a si mesmo um “separado”, um autêntico fariseu.

Todos os batizados são Igreja. E a Igreja é sempre uma Igreja de pecadores, mas de pecadores em conversão. Cada um na Igreja, como também toda a Igreja, deve condenar em si mesmo o pecado e deve sofrer a incapacidade que ainda existe de evitar todo pecado e deve dar testemunho de Deus não tanto por sua santidade e sim por sua declarada vontade de vencer as trevas que ainda operam dentro de seu coração e em nós com a luminosa graça de Deus. esta confiança na graça da misericórdia de Deus é mais importante do que a perigosa demonstração da nossa perfeição. 

Trata-se, portanto, de um ensinamento com referência escatológica, mas que tem muito a nos dizer para a nossa vida presente: implica uma total desqualificação de muitas posições que, no entanto, são corriqueiras entre nós: autossuficiência, exclusão, condenação, presunção de conhecer toda a verdade e assim por diante.

O BEM E A VERDADEIRA BONDADE VENCERÃO 

É bom ser bom, mas quando o homem bom se coloca como juiz do irmão, liquida toda a sua bondade, trai o Pai e torna-se o carrasco do próximo; o verdadeiro "bom" costuma ser compreensivo, não julga, mas ajuda, perdoa e não condena. No Reino dos Céus, portanto, a justiça (em todos os sentidos que podemos dar a esta palavra) está nas mãos de Deus: Ele nos torna justos, Ele discerne verdadeiramente o coração dos homens, Ele sabe de que lado cada um está. O triunfo do bem acontecerá somente no final, e por obra de Deus. O mal existe para exaltação do bem. O mal não prejudica o bem, mas colabora para o seu plano de triunfo. Verdadeiramente, tudo coopera para o bem (Rm 8,28). E onde abunda o pecado, aí superabunda a graça (Rm 8,20).

O bem e o mal ocorrem simultaneamente em cada homem, e é tarefa de cada um ser capaz de arrancar o joio já aqui e agora, mas o joio do seu coração; nisto podemos reformular calmamente a parábola, para estar em sintonia com a verdadeira vontade de Jesus. Aqui as outras duas parábolas do texto evangélico de hoje ajudam-nos perfeitamente: temos de ser boa semente e fermento transformador; mas sempre com carinho e respeito ao irmão, senão automaticamente deixaríamos de ser boa semente ou fermento eficaz. Em todo caso, o mais importante para o cristão não é “ser bom”, mas ter uma conduta madura e autônoma que traduza em ação a nossa convicção de ser a força transformadora do meio em que vivemos. 

Todos nós temos experiência do bem e do mal. Saber viver bem com o bem, apesar do mal, é sabedoria de vida. A resistência ao mal e a perseverança no bem se chama paciência. Através da parábola do Trigo e do joio Jesus dá a seus discípulos uma lição de paciência. Deus sabe que existe o mal, mas tem paciência e deixa tempo para que as pessoas mudem. Deus não é cego. Vê o mal e vê os maus. Mas tem paciência. Para Deus tudo tem seu tempo. O relógio de Deus é diferente de nosso relógio. 

Vivemos em uma época em que, através da mídia, temos conhecimento imediato do mal no mundo. Não é raro que esse conhecimento oprima o coração. Às vezes não queremos mais ver as notícias na televisão ou ler o jornal porque todos os dias uma nova série de mortes e injustiças nos espera. O que fazer sobre esta situação? A tentação é ignorar o mal ou deixar-se aprisionar por ele, caindo na depressão e no desespero. A mensagem cristã é diversa: quanto maiores as sombras que cobrem o mundo, maior deve ser a presença dos cidadãos do Reino, da boa semente que embeleza os campos mundiais. O mundo inteiro espera pela plena manifestação dos filhos de Deus. Portanto, não nos deixemos prender pelas correntes do mal, mas derrotemos o mal com o bem. Saibamos opor-nos ao mal com uma ação concreta a favor do bem. Se cada cristão levar a sério a sua missão de bom semeador, se perceber que a semente da Palavra de Deus tem o seu próprio poder de se tornar uma árvore frondosa, se compreender que a graça de Deus é um fermento capaz de fermentar toda a massa, não ficará ausente na construção deste mundo, mas fará tudo o que estiver ao seu alcance para abrir a porta de esperança para as novas gerações. 

Com estas parábolas o Senhor quer, então, difundir esperança e ânimo a seus discípulos e todos os seus seguidores. Os seguidores não devem admitir nunca o desalento nem o pessimismo derrotista. O Reino de Deus chega indefectivelmente, graças a Cristo ressuscitado e ao seu Espírito. Esta é o fundamento de nossa esperança. É importante que ninguém segure eternamente a semente na mão, deve plantá-la para torná-la uma árvore; como também o fermento, deve misturá-lo com a massa, para torná-lo junto com a massa em pão saboroso.           

Por outro lado, Jesus justifica seu modo de evangelizar que não correspondia às expectativas de triunfalismo e espetacularidade com que os judeus imaginavam a irrupção do Reino de Deus na era messiânica. O crescimento do Reino de Deus segue um processo desconcertante para a nossa impaciência e intolerância. Ele não permite o derrotismo pessimista nem o desespero, porque o êxito final é de Deus, que tem nas suas mãos as chaves da história humana. A Palavra de Deus sempre tem força a fazer com os obstáculos que arriscam impedir o desenvolvimento. Não cabe ao cristão ficar decepcionado porque o resultado não aparece logo. Não é o jardineiro que faz crescer a árvore e as flores: ele rega, aduba e protege, mas a força vem de dentro, da própria semente. O jardineiro não pode parar de plantar, regar, adubar e proteger. Todos nós somos jardineiros da semente do Reino de Deus neste mundo em que habitamos. 

A Palavra de Deus hoje nos chama a revisarmos nossa maneira de viver: Será que estou consciente de que sou semente de Deus neste mundo? Será que sou um semeador da bondade ou da maldade, do bem ou do mal? Meus atos são diabólicos, atos que desunem ou são simbólicos, atos que criam união? Aquilo que tem algo divino em mim é que me levará para estar com o próprio Deus. Aquilo que não tem algo divino em mim pode me levar para outra direção, menos para Deus.  

P. Vitus Gustama,SVD

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