sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quarta-feira Após Epifania,05/01/2022

AMOR E SE COMPENETRAM  E SE FORTALECEM EM QUALQUER SITUAÇÃO

Quarta-Feira Após A Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 4,11-18

11 Caríssimos: se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. 12 Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós. 13 A prova de que permanecemos com ele, e ele conosco, é que ele nos deu o seu Espírito. 14 E nós vimos e damos testemunho, que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. 15 Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece com ele, e ele com Deus. 16 E nós conhecemos o amor que Deus tem para conosco, e acreditamos nele. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece com Deus, e Deus permanece com ele. 17 Nisto se realiza plenamente o seu amor para conosco: em nós termos plena confiança no dia do julgamento, porque, tal como Jesus, nós somos neste mundo. 18 No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor. 

Evangelho: Mc 6,45-52

Depois de saciar os cinco mil homens, 45 Jesus obrigou os discípulos a entrarem na barca e irem na frente para Betsaida, na outra margem, enquanto ele despedia a multidão. 46 Logo depois de se despedir deles, subiu ao monte para rezar. 47 Ao anoitecer, a barca estava no meio do mar e Jesus sozinho em terra. 48 Ele viu os discípulos cansados de remar, porque o vento era contrário. Então, pelas três da madrugada, Jesus foi até eles andando sobre as águas, e queria passar na frente deles. 49 Quando os discípulos o viram andando sobre o mar, pensaram que era um fantasma e começaram a gritar. 50 Com efeito, todos o tinham visto e ficaram assustados. Mas Jesus logo falou: “Coragem, sou eu! Não tenhais medo!” 51 Então subiu com eles na barca, e o vento cessou. Mas os discípulos ficaram ainda mais espantados, 52 porque não tinham compreendido nada a respeito dos pães. O coração deles estava endurecido.

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Fé e Amor São Critérios De Nossa Comunhão Com Deus 

Depois que o autor da Primeira Carta de João nos mostrou Deus como fonte do amor (1Jo 4,7-10: Primeira Leitura do dia anterior), hoje, através da Primeira Leitura, ele insiste nos sinais da comunhão que mostram nossa comunhão com Deus.

Para o autor estes sinais são a caridade (1Jo 4,12) e a confissão de fé (1Jo 4,15). Fé e amor são critérios de nossa comunhão com Deus. São sinais de que permanecemos em Deus (tema da morada em 1Jo 4,12.15). Segundo o autor desta Carta, as duas virtudes se interpenetram e se sustentam mutuamente na pessoa do cristão. Quem crê verdadeiramente (em Deus), ama. Toda decisão de fé implica o amor, pois envolve uma conversão que é dom de si mesmo (Cf. Jo 15,13).

Estes dois sinais nos mostram que a vida cristã possui uma dupla dimensão: vertical (fé no Deus de amor) e horizontal (amor fraterno). A primeira (Fé) nos faz tomarmos consciência de que Deus é amor (1Jo 4,8.16); de que Deus nos amou “loucamente” a ponto de nos enviar seu Filho (1Jo 4,14); de que deseja estabelecer sua morada em nós (1Jo 4,15-16; Cf. Jo 1,14). Isto significa que não somente acreditamos em Deus e sim em Deus que é amor (1Jo 4,8.16). E esta fé nos impele a amarmos o próximo como nossos irmãos tal como somos amados por Deus: “Se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós”.

E o autor acrescenta que quem vive o amor fraterno não tem que ter medo do julgamento final, pois ele vive pelo amor na comunhão com o Pai e o Filho: “No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor”. A profundidade ou a densidade das palavras de João hoje tocam um ponto importante no qual pode ser bom que fixemos nossa atenção: nos referimos à relação entre o amor e o temor. Poderia ser posta esta afirmação em relação àquele outro princípio bíblico clássico: O início da sabedoria é o temor do Senhor (Pro 9,10). O temor de Deus foi um princípio tradicional da espiritualidade. O amor faz que em nossa vida já não exista o temor ou a desconfiança. Se vivermos no amor que nos comunica Deus, já não teremos medo para o dia de juízo, já que é nosso Pai e nascemos dele, e atuaremos em nossa vida como filhos que não se movem por medo e sim por amor. 

Porém, tal garantia não repousa na impecabilidade do cristão, pois seria um tipo de bilhete para entrar no céu pelos meros méritos do próprio homem (ele se torna deus para si mesmo) e sim no próprio Deus que sabe tudo (1Jo 3,20) e conhece, especialmente, a nossa fraqueza. Amamos porque Deus nos amou primeiro. Isto significa que a caridade ou o amor fraterno nos mantém no temor de Deus. 

No Antigo Testamento, a expressão “temor de Deus” deve ser procurado e entendido no pavor por certas manifestações de Deus, nas quais o ser humano experimenta a santidade, a transcendência. Nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, o temor dos beneficiários ou das testemunhas de aparições (Lc 1,12; 24,37), milagres (Mc 4,41; 5,15; Lc 7,16; At 2,43) e sinais da ressurreição (Mc 9,6; 16,8) deve refletir uma mesma experiência de distanciamento respeitoso e admirativo diante dos sinais do Reino. O temor de Deus causa respeito diante da manifestação de Deus. Deus se encarnou para manifestar seu amor incondicional para o ser humano; o amor levado até as últimas consequências: a morte na cruz.

Jesus, o Deus Que Salva, Não Nos Abandona Nas Tempestades Desta Vida

A cena relatada no Evangelho de hoje nos apresenta de maneira simbólica a situação em que se encontra a comunidade cristã primitiva depois da ressurreição de Jesus. A comunidade se encontra no meio de dificuldades (tempestade) e sente a ausência de Jesus Cristo. As ondas e o mar representam no AT as forças do mal que Deus vence com seu poder (Sl 77; Jó 9,8;38,16). Mas agora é Jesus quem vence a esta força maligna, pois Jesus é o Deus-Conosco, o Emanuel (Cf. Mt 1,23;18,20;28,20). Sua manifestação aos discípulos neste episódio tem todas as marcas dos relatos de aparições: a cena tem lugar de noite, o mesmo que a ressurreição do Senhor; Jesus vem ao encontro dos seus (cf. Jo 20,19); os discípulos creem ver um fantasma (cf. Lc 24,37s); finalmente, Jesus se apresenta afirmando sua identidade: “Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”. 

Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”.  E são João, na Primeira Leitura, nos diz: No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor”. 

No amor não há temor”. Amor e temor são duas atitudes fundamentais de nossa psicologia. O homem é radicalmente temeroso, falta-lhe segurança no mundo que se levanta contra ele. Alguns homens se comportam como adversários e por isso, roubam a alegria dos outros. Alguns homens se tornam ameaças para os outros, pois estes não querem saber dos direitos dos outros: roubam, sequestram, maltratam e matam. No nível espiritual, sobretudo, diante do mundo das divindades e do misterioso sagrado, o homem também tem seu temor. O homem pagão trata de libertar-se desse temor inventando ritos; o homem ateu se assegura a base de seus próprios meios transformando seu eu e sua técnica em meios de autodivinização; o homem judeu opta por outro caminho muito distinto eliminando o temor às forças superiores anônimas para descobrir em cada acontecimento, bom ou mau, a presença do amor e da misericórdia de Javé (Deus). A partir desse momento, o temor ao Sagrado deixa de ser um temor cego para ser uma exigência de conhecimento de Deus e de correspondência ao Seu amor.

Jesus levou mais longe ainda a descoberta dos judeus. Jesus descobre que o homem, que é Ele próprio, é coparticipante ativo de Deus na realização de Seu desígnio salvífico, pois ele acredita no Deus de amor que salva a humanidade por amor (Jo 3,16). Consequentemente, o cristão se assemelha ao “ateu” na confiança que põe nos meios humanos para responder aos desafios da fome, da guerra, da injustiça social e internacional. Mas ao fazer assim, o cristão dá testemunho da verdade do homem realizado em Jesus Cristo que ama os seus até o fim (cf. Jo 13,1). 

Com isso, são João nos mostra que amor e fé (ideias prediletas de são João), são duas virtudes que se compenetram e se apoderam juntas na pessoa do cristão. Toda decisão de fé implica o amor, pois o Deus em quem o cristão acredita é amor (1Jo 4,8.16). “Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”.No amor não há temor”.  O cristão é sempre lembrado para tomar qualquer decisão sobre o amor. Toda decisão tomada sobre o amor leva o homem a estar próximo de Deus e dos homens. O amor dá segurança, faz crescer na direção de Deus e do próximo. O amor torna o homem muito humano a ponto de ser muito divino. “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós” (1Jo 4,12b). 

Marcos também nos relata que Jesus “subiu ao monte para rezar”. Em geral, oração solitária de Jesus precede ou segue a algum acontecimento muito importante. Aqui, sua oração precede a sua manifestação como Filho de Deus.     

Ao olhar para o modo de viver de Jesus, percebemos a dupla dimensão de seu ministério: a oração e a ação, a solidão e a solidariedade, a intimidade mais profunda com o Pai e o engajamento mais radical no serviço dos necessitados. Em Jesus as duas dimensões são vividas não só como complementares, mas como necessariamente referidas uma à outra. A vida se põe na oração e a oração se traduz na vida. A vida antes de ser vivida, é rezada. A oração, além do amor, mantém o homem unido a Deus. A oração é a expressão viva da fé. Quando rezarmos, manifestaremos que nossa fé está viva. A fé nos leva a orarmos e orarmos porque somos movidos pela fé.          

Enquanto Jesus está se retirando para orar, os discípulos se encontram no meio da noite lutando contra a tempestade. Evidentemente eles estão atormentados. O barco agitado pelas ondas representa a Igreja sacudida pelas forças opostas e que por isso, a Igreja se sente impotente, frágil e abandonada e que luta para encontrar um rumo certo.          

Muitas vezes, no meio das dificuldades, pensamos que somos nós os que temos que fazer triunfar a Igreja com a nossa luta. Esquecemo-nos de que o único que pode salvar a Igreja é Jesus Cristo. E por isso, precisamos manter nossa união com Cristo na fé, na oração e no amor ao próximo. Não podemos nos esquecer que somos apenas missionários do Senhor e não salvadores. O único Salvador é Jesus Cristo. Em tudo que fizermos na Igreja do Senhor temos que saber contar com Jesus. A Igreja é de Cristo (cf. Mt 16,18). O rebanho é do Senhor (cf. Jo 21,15-17). Somos encarregados de cuidar de nossos irmãos, ovelhas do Senhor. Fazemos parte do mesmo rebanho. Somos ovelhas entre as outras ovelhas. Ninguém pode se achar superior às demais ovelhas. O verdadeiro Pastor do rebanho é Jesus Cristo (cf. Jo 10,11-18). Quem não sabe contar com Jesus, em vão vai trabalhar na Igreja do Senhor. Quem salva a Igreja é o próprio Senhor com a colaboração de cada membro dessa Igreja. Que sejamos membros comprometidos e ovelhas comportadas. Cada compromisso supõe sempre o sacrifício. E o sacrifício é fazer algo sagrado, isto é, toda vez que fizermos qualquer coisa para os irmãos devemos fazê-lo para consagrá-los (torná-los sagrados).          

Quando Jesus vem ao encontro dos discípulos, o medo se torna maior, pois acham que é um fantasma, pois eles não reconhecem Jesus. E quando eles não reconhecem Jesus, acabam tendo medo dos fantasmas que eles mesmos criam. Nessa altura Jesus se dá conhecer: “Coragem! Sou Eu”. Esta frase é suficiente para acalmar os discípulos.         

Deixemos que esta frase “Coragem! Sou Eu! Não tenhais medo!” penetre em nós, nos momentos mais difíceis de nossa vida. Quando ouvirmos a voz do Senhor, a paz estará presente no nosso coração, ainda que estejamos rodeados pelas provações ou dificuldades.          

A mensagem do texto é nitidamente eclesiológica. A cena simboliza a relação de Cristo com todos nós como a Igreja. A barca no meio da tempestade e no meio da noite representa a Igreja. E Jesus se revela como “Eu sou”, o Deus-Conosco (Mt 1,23;28,20). Jesus está sempre unido à sua Igreja. Quando estamos longe dele ou nos afastamos dele, como os discípulos, nós sentimos o medo e o pavor. Mas estes desaparecem no fim da noite, quando Jesus vai ao nosso encontro. Aparentemente, Jesus está ausente quando nos encontramos no meio da tempestade desta vida ou em perigo de morte. Mas, na realidade, Jesus está sempre unido a cada um de nós, como sua Igreja, orando por nós, pois ele é o nosso Emanuel (Mt 1,23;18,20;28,20). E na hora certa ele vai manifestar o seu poder, libertando-nos do medo e infundindo-nos ânimo: “Coragem! Sou Eu! Não tenhais medo!”, assim ele nos diz, como disse aos discípulos.          

Por isso, temos que perseverar na fé, mesmo quando agitados e açoitados pelas ondas e pelos ventos de provações e de perseguições, quaisquer que sejam as dificuldades e os obstáculos no caminho que temos que percorrer para ir ao encontro com Jesus e para obedecer à missão recebida dele. Amar a Cristo e aos irmãos é o segredo para edificar e firmar a Igreja do Senhor que somos nós todos. “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado em nós”. Por amor, Deus nos chama à vida. Por amor Deus nos enviou Seu Filho, o que para Ele é mais caro, e morreu na cruz em nosso favor. Por amor Deus anda em nossa busca pelos caminhos do mundo. E só por amor é que podemos alcançar a eternidade.

P. Vitus Gustama,svd

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