quinta-feira, 30 de março de 2023

Sábado Santo,08/04/2023-Páscoa

ELE ESTÁ CONOSCO

SÁBADO SANTO Ano “A”

Mt 28,1-10

Segundo o Missal Romano, a Vigília Pascal é “mãe de todas as noites” e celebra o acontecimento fundamental, o cume da história da salvação que é a Ressurreição do Senhor. A noite pascal, em seu verdadeiro sentido, é a festa nupcial da Igreja. Todas as imagens de núpcias e bodas, cheias de promessas, que nos acompanham ao longo da liturgia anual, alcançam hoje toda a sua plenitude. A solenidade desta noite começou na sepultura. Mas agora sabemos que o sepulcro está vazio; apareceu o anjo para anunciar a ressurreição do Senhor. Por essa razão, a Semana Santa sem a celebração pascal é algo mutilado e quase sem sentido e pode conduzir a um cristianismo equivocado. Seria ficar-se apenas na dor e morte, se Jesus não ressuscitasse e quando Ele não trouxesse a vida e a renovação para a humanidade (cf. 1Cor 15,12-19).       

A Páscoa é a grande festa cristã, pois Jesus ressuscitou e nos deu a nova vida, a nova esperança de viver com sentido, e para o homem de hoje que está carente da alegria e da esperança encontra a fonte de sua vida em Jesus Ressuscitado. A partir de tudo isto, resta-nos uma coisa a fazer: obedecer ao encargo do anjo para anunciar a ressurreição aos que a buscam, aos que dela duvidam, aos que nela não creem. Para todos precisamos dizer com São Paulo: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurais as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensais nas coisas do alto, e não nas coisas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus: quando Cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então, vós também com ele sereis manifestados em glória” (Cl 3,1-4).  

A Páscoa cristã é a festa das festas, e o cristão é aquele que afirma: o Senhor ressuscitou verdadeiramente. O cristianismo nasce e progride desta proclamação fundamental: Jesus Cristo, que foi crucificado, ressuscitou verdadeiramente. Da ressurreição de Cristo deriva todo o resto da mensagem cristã. Sem a vitória de Cristo sobre a morte, toda a pregação seria inútil e a nossa fé seria vazia de conteúdo (cf. 1Cor 15,14-17). A ressurreição do Senhor é uma realidade central da fé cristã. A importância deste milagre é tão grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas da ressurreição de Jesus (cf. At 1,22;2,32;3,15). O núcleo de toda a pregação é este: Cristo vive e vive no meio de nós (cf. Jo 1,14; Mt 28,20). A páscoa da ressurreição é a grande festa cristã. Este mistério é tão importante e central é que o celebramos ao longo de todos os domingos e festas do ano litúrgico e inclusivamente na Eucaristia diária. Certamente cada eucaristia que se celebra, celebra-se e proclama-se ao mesmo tempo a ressurreição do Senhor e a nossa também. A eucaristia dominical é a páscoa semanal. A eucaristia diária é a páscoa diária.

Sem dúvida nenhuma, a Páscoa é, por isso, o próprio conteúdo da fé cristã, é o coração da vida da Igreja porque ela nos revela quem é Deus, quem é Jesus Cristo e quem somos nós. A ressurreição nos mostra que o Deus revelado por Cristo é Aquele que ama e quer a vida. A Páscoa nos revela que Jesus, morto e ressuscitado, é Aquele que converge toda a história da humanidade. E ao mesmo tempo revela que a fidelidade é o caminho certo para chegar à Páscoa eterna com Deus. A Páscoa também nos revela que somos chamados a ressuscitar com Jesus, a superar com ele o drama da morte para podermos permanecer com ele na vida que não tem fim.    

Precisamos nos conformar com a vida de Cristo para que como ele e com ele também nós possamos ressuscitar. Jesus Cristo ressuscitou em mim quando meu coração de pedra se transforma em coração cheio de amor e de compreensão. Jesus Cristo ressuscitou em mim quando eu sou capaz de perdoar. Jesus Cristo ressuscitou em mim quando ninguém nem nada podem tirar de mim a alegria por ter encontrado o sentido da vida em Jesus Ressuscitado que abre para mim o futuro de Deus. Jesus Cristo ressuscitou em mim quando encaro a violência e todo tipo de agressão com a paz e o diálogo. Jesus Cristo ressuscitou em mim quando sinto grande amor a todos os irmãos independentemente de sua crença e ideologia. Jesus Cristo ressuscitou em mim quando vejo no pobre necessitado o rosto do meu Senhor, como dizia Madre Teresa de Calcutá: “Por não podermos ver a Cristo, não podemos exprimir-lhe o nosso amor; mas o nosso próximo, nós o vemos e podemos fazer por ele aquilo que gostaríamos de fazer por Cristo, se fosse visível”.

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Ao amanhecer do primeiro dia da semana...”, assim lemos no texto do Evangelho desta noite. Esta frase de introdução do texto do evangelho deste dia é carregada de símbolos e alusões. Esta frase nos indica que com o Senhor ressuscitado começa uma nova semana da história humana, pois encerrou-se a primeira. Hoje é o primeiro dia, o dia novo, o dia que separa o antes e o depois, os dois tempos do processo da fé. O antes é o tempo da morte e da tumba. O depois é a vida nova e renovada, a vida glorificada.

O relato do evangelista Mateus nos expressa como nos discípulos aconteceu uma profunda mudança por causa dessa novidade.

A partir da ressurreição do Senhor os discípulos descobriram que não seguiam a um morto e sim a Alguém vivente. E para nós aqui neste momento, não é a recordação de um homem bom que nos une em cada celebração ou encontro. E sim é uma Presença, a Presença divina. O Senhor está aqui agora, no meio de nós. Que cada um sinta e experimente a presença do Senhor que está no meio de nós aqui e agora, pois “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu Nome, Eu estou ai” (Mt 18,20). O Senhor que nos une e reúne aqui. E estamos unidos e reunidos em nome do Senhor. 

Acreditar no Senhor ressuscitado significa estar preparado para as novidades de Deus diariamente. As duas mulheres que foram ao túmulo de Jesus encontraram a novidade de Deus. 

A primeira novidade é o terremoto: “De repente, houve um grande tremor de terra”. O terremoto assusta e sempre tem vítimas quando for de uma escala maior. Mas os “terremotos” de Deus e de sua manifestação na nossa vida são diferentes. Eles podem nos assustar, mas atrás deles há anjos que nos anunciam a vida nova para quem se encontra enlutado ou triste pela perda de algo valioso na sua vida. Com o Senhor a vida não só vale a pena, mas também valem as penas da vida, pois elas também tem sentido para a construção de nossa vida, pois atrás delas há anjos de Deus. 

Não fujamos dos terremotos de nossa vida, pois eles anunciam uma nova vida, uma nova visão sobre a vida. Se realmente buscamos o Senhor de coração, mesmo que encontremos os terremotos da vida no caminho, mas sempre aparecem os mensageiros de Deus para nos ajudar na nossa caminhada e na nossa busca dos valores eternos. E um dia não somente os mensageiros que nos ajudam, mas o próprio Senhor vai nos inspirar através de Sua presença na nossa vida, como as duas mulheres, depois que se encontraram com o anjo do Senhor, elas se encontraram pessoalmente com o próprio Senhor Ressuscitado. Sob as sombras desta vida se encontra a Luz de Deus. Quando você está em comunhão plena com Deus, nem mesmo os maiores danos do mundo podem tirar sua alegria e paz. 

A segunda novidade do Senhor é esta: se realmente acreditamos no Senhor, podemos ter certeza de que para onde formos em nome dele, Ele sempre nos precede, como o Senhor falou para as mulheres: “Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”. Primeiro, “que se dirijam para Galileia”. Segundo, “Lá eles me verão”. 

a. “Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. É um convite para caminhar. A vida é uma viagem e cada um pode decidir o seu destino. Deus tem seu destino: Galileia. Galileia é o lugar onde se encontram os necessitados.

Podemos dirigir a vida para o vértice ou para o abismo, para a paz ou para o desespero, para a felicidade ou para o sofrimento. Todos somos habitados por forças positivas e por forças negativas, podemos fazer o bem ou o mal, reforçamos com nosso comportamento a cultura da morte ou fazemos brotar a vida.  Dentro de nós está o céu ou o inferno. Dentro de nós há santo e traidor. Temos dias em que a vida pesa, nos atira para baixo. Porém, todos nós contamos com um poço de possibilidades criadoras, de onde mana uma água fresca na qual podemos lavar nossos cansaços, curar nossas feridas e aliviar as feridas dos outros no espirito do Senhor Ressuscitado.  

A mistura dessas duas realidade faz com que cada pessoa seja ela mesma. O interagir da parte vulnerada e o potencial de possibilidades dão identidade à pessoa e permitem-lhe descobrir qual é o sentido de sua vida e qual é sua tarefa ou missão na história. A vida nada vale se não for uma ininterrupta superação de problemas. Cada problema que aguarda solução em suas mãos é um dever religioso que a vida lhe impõe. Nossa experiências dolorosas não foram feitas para nos destruir, mas para incinerar nossas impurezas e nos apressar na nossa volta para Deus, o nosso verdadeiro lar. Ninguém está mais “ansioso” pela nossa libertação do que o próprio Deus. Quem não tem dificuldade não cresce. Por isso, viver não é copiar nem imitar nem deixar-se levar pela corrente ou moda nem se deixar levar pelos outros que se interessam em nos explorar e em nos usar para a própria vantagem.

“Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. A vida é um caminho. A herança ou nascimento biológico nos dá o ser, mas não nos dá o modo de ser. Moldar o próprio futuro supõe coragem, superação, perseverança como as duas mulheres do evangelho de hoje que com coragem foram ao túmulo sozinhas. 

Para vencer deve-se persistir. Como diz um ditado velho: “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Deve-se amar a vida, pois o Senhor ama nossa vida e ressuscitou para continuar a nos amar. Por isso, deve-se viver a vida com ânimo e com expectativa para ser capaz de enfrentar todos os problemas e dificuldades como o Senhor ressuscitado encarou a cruz e a morte. Viver é amar tudo o que somos e tudo o que nos acontece, pois Deus está conosco (Mt 28,20). É amar inclusive a parte sombria, negativa do nosso coração. Com o Senhor Ressuscitado, podemos derrotar nossas inclinações e tendências negativas e escolher a vida. Mas para viver profundamente tem que estar livre. Quem é livre não teme. O livre respeita, se responsabiliza por seus atos, cumpre com seus deveres e obrigações. Liberdade é superação da violência. Liberdade é pertencer à vida. Viver verdadeiramente no Senhor é se colocar no caminho para chegar a ser alguém, para que floresçamos em plenitude.

b. Lá, na Galileia, eles me verão”. Para onde você for, diga para você mesmo: “O Senhor já está lá, me esperando!”. Se você acreditar profundamente que o Senhor está esperando por você para onde você for, não há nenhum obstáculo capaz de impedi-lo de ter o encontro com o Senhor, de ter uma alegria de um encontro profundo, de uma novidade de um encontro inspirador para onde você for. Quando acredita que o Senhor está onde você for, você se renova. 

Normalmente os renovadores são otimistas: vivem profundamente no presente, pensando no futuro para o qual olham com confiança convencidos de que sempre haverá novas oportunidades, pois acreditam que o Senhor está presente na vida deles. 

Nós somos seres históricos, nascemos como projeto de existência; a vida nos é oferecida como a tarefa apaixonante de chegar a ser pessoas, que para nós cristãos de chegar a ser outro Cristo para os demais. Todo ser humano é dotado da capacidade de se transformar interiormente, de modificar sua maneira de pensar e de viver. A vida é uma viagem e cada um pode decidir o seu destino.

Mas se deixarmos de acreditar na Presença divina em qualquer lugar e em qualquer encontro, voltaremos para a vida antes: dia de silêncio do túmulo, de passividade esmagados pelo peso dos acontecimentos, temerosos e medrosos do futuro, e viveremos o cristianismo do costume, da falta de criatividades e iniciativas, sem renovação. 

Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito!” é a voz de Deus para as duas mulheres através do anjo. É a terceira novidade para as duas mulheres. 

Esta voz de Deus quer dizer às duas mulheres: “Vocês são chamadas a viver. Não precisam caminhar ao túmulo, não escolham o caminho da morte e sim o da vida, pois aquele que vocês estão buscando está vivo e por isso, Ele está com vocês. Vocês tem que voltar a viver sua vida para encontra o Vivente. Não é por acaso que mais adiante, as duas mulheres vão se encontrar pessoalmente com o Senhor Ressuscitado.

Somente vive quem olha para frente, quem pensa e cria, quem transforma e quem se encarna em sua comunidade, em sua família, em seu grupo para dar soluções concretas para seus problemas a partir das condições que se tem. Embora fracasse, o homem que continua se empenhando, que não se deixa derrotar interiormente é uma pessoa verdadeiramente vitoriosa. 

A ressurreição de Jesus nos revela que Deus ama a vida vivida no amor de Deus. Por isso, Crer na ressurreição implica defender a vida, especialmente a dos mais indefesos; implica respeitar a vida alheia como a própria; implica lutar pelo que é certo, honesto e justo, pois estes predicados como outros semelhantes é que garantem a verdadeira vida. Os nossos verdadeiros patrimônios não são os nossos bens materiais, pois um dia eles podem ser roubados por outras pessoas e passarão para outras mãos assim que partirmos desta vida. Os nossos verdadeiros patrimônios são a honestidade, a justiça, o bem que praticamos, a caridade vivida, a verdade que defendemos, pois ninguém poderá roubá-los de nós. São estes valores que nos fazem mais humanos e nos dignificam plenamente como seres humanos. Além disso, crer na ressurreição implica estender a mão para levantar quem se encontra sob o peso dos problemas desta vida e estender mão para quem espera nossa ajuda. Não tenha medo de gastar a vida, pois a vida dada é a vida recebida. Procurar o Senhor ressuscitado implica comprometer-se com aqueles que vêem o seu direito à vida permanentemente violentado e violado. Acreditar na ressurreição significa afirmar a vida contra a morte. Crer na ressurreição implica termos a esperança de um destino humano aberto para o futuro novo. Quando este futuro novo for negado, a pessoa se fecha a si mesma e chega às margens do desespero. A ressurreição nos leva a certeza de que a vida jamais acabará e de que o triunfo da vida não é mais ameaçado pela morte. Quem crê na ressurreição não é permitido viver triste. Somos destinados e chamados a viver plenamente com Deus, alegres na esperança com os irmãos da mesma peregrinação.

Páscoa é sempre passagem, é dar o passo, é o passo sempre para frente. Na Páscoa contemplamos e celebramos o passo de um Deus torturado e executado numa cruz a um Deus ressuscitado e vivo entre nós. Não há outro caminho à maturidade e à realização como seres humanos sem aprendermos a suportar os golpes da vida. O êxito é aprender a ir de fracasso em fracasso sem se desesperar, pois Deus está conosco. O êxito na vida vem do saber afrontar as inevitáveis faltas de êxito do viver de cada dia com o Senhor que venceu a morte. Isto se chama Páscoa. FELIZ PÁSCOA para você. Assim seja!

P. Vitus Gustama,svd

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