segunda-feira, 24 de maio de 2021

Sábado Da VIII Semana Comum, 29/05/2021

VIVER E LIDERAR COM SABEDORIA

SÁBADO DA VIII SEMANA COMUM

Primeira Leitura: Eclo 51,17-27

17Quero dar-te graças e louvar-te, e bendirei o nome do Senhor. 18 Na minha juventude, antes de andar errante, procurei abertamente a sabedoria em minhas orações; 19 diante do santuário eu suplicava por ela, e até o fim vou procurá-la; ela floresceu, como a uva temporã. 20 Meu coração nela pôs sua alegria; meu pé andou por um caminho reto, e desde a juventude segui suas pegadas. 21 Inclinei um pouco o ouvido e a acolhi, 22 e encontrei para mim abundante instrução, e por meio dela fiz grandes progressos: 23 por isso glorifico a quem me dá a sabedoria. 24 Porque resolvi pô-la em prática, procurei o bem e não serei confundido. 25 Minha alma aprendeu com ela a ser valente e na prática da Lei procurei ser cuidadoso. 26 Levantei minhas mãos para o alto e me arrependi por tê-la ignorado. 27 Para ela orientei a minha alma e na minha purificação a encontrei.

Evangelho: Mc 11,27-33

Naquele tempo, 27 Jesus e os discípulos foram de novo a Jerusalém. Enquanto Jesus estava andando no Templo, os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos aproximaram-se dele e perguntaram: 28 “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” 29Jesus respondeu: “Vou fazer-vos uma só pergunta. Se me responderdes, eu vos direi com que autoridade faço isso. 30 O batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me”. 31Eles discutiam entre si: “Se respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ 32Devemos então dizer que vinha dos homens?” Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de profeta. 33Então eles responderam a Jesus: “Não sabemos”. E Jesus disse: “Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas”.

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Viver Na Sabedoria De Deus Até o Fim Da Vida

O texto da Primeira Leitura é tirado do último capítulo do livro de Eclesiástico. O livro termina com um cântico de louvor à sabedoria. Quero dar-te graças e louvar-te, e bendirei o nome do Senhor. Na minha juventude, antes de andar errante, procurei abertamente a sabedoria em minhas orações; diante do santuário eu suplicava por ela, e até o fim vou procurá-la; ela floresceu, como a uva temporã” (Eclo 51,17-19). 

Jesus Ben Sirac, o autor do livro, mostra uma legítima satisfação porque desde sua juventude tem seguido e gozado dos frutos da sabedoria. Desde jovem Jesus Ben Sirac somente considerou como riqueza possuir a sabedoria de Deus, ver as coisas e os acontecimentos a partir dos olhos de Deus: “Meu coração nela pôs sua alegria; meu pé andou por um caminho reto, e desde a juventude segui suas pegadas. lnclinei um pouco o ouvido e a acolhi, e encontrei para mim abundante instrução, e por meio dela fiz grandes progressos: por isso glorifico a quem me dá a sabedoria. ...  Minha alma aprendeu com ela a ser valente e na prática da Lei procurei ser cuidadoso.” (Eclo 51,20-23.25).

A partir da Bíblia a sabedoria é a arte do viver bem conforme os mandamentos de Deus. O verdadeiro sábio distingue o verdadeiro do falso, o justo do injusto. O sábio bíblico coloca como fundamento todas as grandes virtudes: prudência, moderação, trabalho, não-violência, humildade, sinceridade, justiça, solidariedade, compaixão, amor. A sabedoria bíblica é uma reflexão sobre a existência humana, mas não uma reflexão abstrata e sim concreta, a partir da própria experiência. A sabedoria é o conhecimento dos caminhos de Deus, de seu objetivo; indica ao homem a direção em que ele deve caminhar, as normas às quais deve adaptar seu viver para ser frutífero ou fecundo na vida.

A sabedoria é o melhor dom que podemos apetecer. É uma sabedoria que não é somente uma sensatez humana que é muito, e sim também uma luz que impregna nossa visão das coisas e dos acontecimentos, vendo-os a partir de Deus. Essa sabedoria penetra tanto em nossa vida a ponto de termos facilidade de descobrir o sentido das coisas e dos acontecimentos. A sabedoria é como uma luz que ilumina a realidade que faz cada coisa se apresenta como ela é aos nossos olhos. 

A sabedoria é refinar o gosto pela vida. Com a sabedoria a existência se torna mais saborosa, pois a sabedoria se alimenta pelos valores. Com a sabedoria o homem é capaz de dar respostas adequadas e magníficas para as questões de cada dia. Segundo Confúcio, o sábio chinês que viveu quinhentos anos antes de Cristo, o comportamento do sábio é como a água: é destituído de sabor, mas a todos agrada; carece de forma, mas se adapta com simplicidade e ordem às mais variadas figuras.

Oxalá possamos também afirmar ao final de uma jornada ou de uma semana, de um mês ou de um ano ou da vida que temos deixado guiar pela verdadeira sabedoria de Deus.

Temos escutado ou lido ou meditado a Palavra de Deus. A Palavra de Deus não somente doutrina (aquilo que contém ensinamentos para viver) e sim Palavra viva dita para nós hoje e aqui. Deus sempre tem alguma palavra para nossa vida e suas problemáticas quando a escutarmos atentamente. Trata-se de uma palavra e de uma sabedoria que tem força para iluminar e transformar todos os possíveis de nossa vida. 

Como cristãos, seguimos a Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Portanto, temos mias motivos do que Jesus Ben Sirac para nos alegrar de ter a sabedoria de Deus muito perto. Jesus já nos deixou muitos ensinamentos para vivermos e convivermos como irmãos no amor fraterno. Viver com amor e por amor e no amor é viver com sabedoria de Deus. 

Alguma Mensagem Do Evangelho 

O texto do Evangelho de hoje se encontra na seção onde se fala de Jesus e do poder constituído (Mc 11,27-12,37). Em Mc 11,18 o evangelista Marcos nos informou que “Os chefes dos sacerdotes e os escribas procuravam como matariam Jesus”. Na seção de hoje os vemos em ação. O que vem em seguida é a continuação do choque frontal entre eles e Jesus e será cumprido o que Jesus disse no primeiro anúncio da paixão: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas” (Mc 8,31). Agora eles estão intentando surpreender Jesus em algum erro para acabar com ele. Podem ser lidas cinco controvérsias  como o ponto de ataque contra Jesus em Mc 2,1-3,6. 

Os que formam o poder constituído são em primeiro lugar, os sumos sacerdotes, os mais afetados (medo de perder seus bens através da arrecadação no Templo) pelo que Jesus fez no templo (cf. Mc 11,15-18) e os que podem, facilmente, acusar Jesus de ter atuado contra o lugar santo (Templo). Entre os sacerdotes predominam os saduceus, grupo político-religioso de tendência conservadora.  Em segundo lugar, os escribas ou doutores da lei, pessoas especializadas nos problemas jurídicos e religiosos e, portanto, únicos e verdadeiros interpretes e defensores da Lei. Para eles, o homem é feito para a lei, enquanto que para Jesus, a lei é feita para o homem (Mc 2,27). Sua oposição já começou no inicio do evangelho de Marcos (Cf. Mc 2,6.16; 3,22; 7,1). Em terceiro lugar, os anciãos, os membros laicos do Sinédrio, a suprema corte judia legislativa e judicial de Jerusalém, os representantes civis e religiosos do povo. Entre os escribas e os anciãos predominam os fariseus, verdadeiros representantes da piedade popular. Finalmente, o partido de Herodes, o braço civil do poder romano em Palestina. 

O evangelho lido neste dia nos relata que Jesus e seus discípulos se encontram em Jerusalém. Por isso, a cena do evangelho de hoje tem como local Jerusalém. O texto está carregado de tensão. É o confronto direito entre Jesus e os dirigentes do povo. A fama de Jesus pela sua preocupação em lutar pela igualdade, pela convivência na fraternidade universal, pela verdadeira vivência da religião, pelo bem de todos, provoca o desconforto para os dirigentes que querem manter seus privilégios e seu domínio. Os dirigentes queriam desmoralizar Jesus e suas atividades em favor do povo através das seguintes perguntas:Com que autoridade tu fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?”. Essa pergunta só pode sair da boca de quem adora ao poder e a desigualdade. Ama menos quem se preocupa demasiadamente com a regra e o poder na convivência em vez de se preocupar com o bem que deve ser feito. Para fazer o bem em favor do povo necessitado não precisa de nenhum poder; basta ter amor no coração e sentir na pele o sofrimento dos outros para se compadecer e oferecer a ajuda naquilo que se pode para aliviar uma parte do sofrimento. Precisamente só aquele que é capaz de ser solidário com os necessitados é que tem mais autoridade. Esse tipo de pessoa quando fala desperta qualquer coração, pois fala a partir da vida vivida na solidariedade e na compaixão, como por exemplo, Madre Teresa de Calcutá.

Quem te deu autoridade para fazer isso?”. O que os dirigentes querem dizer é o poder. “Quem te deu esse poder?”. A autoridade não é dada para ninguém, pois ela vem de dentro da pessoa. A autoridade é a capacidade de fazer o outro crescer. A palavra “autoridade” provem do latim “augere” que significa “crescer”. Toda palavra, toda atividade, toda ajuda, todo conselho que faz o outro crescer é uma autoridade. A autoridade é respeitada e é amada. O poder é temido, mas não é amado. Para ser chefe você precisa de um cargo. Mas para ser líder você não precisa de cargo. Ninguém precisa mais de autoridade formal para liderar. Todos nós temos um poder natural de liderar que nada tem a ver com cargos, idade ou com o lugar em que moramos. Liderar tem muito mais a ver com a maneira brilhante como cada um de nós trabalha e a destreza de nosso comportamento. Cada um de nós tem o reservatório interno de potencial para liderança. E cada um de nós tem o poder de se mostrar líder no que faz. Somente precisamos nos conscientizar de tudo isso e assumi-lo. Um líder que ama é um líder que é respeitado. Um líder que adora o poder é temido, mas não é amado e por isso, não é respeitado. Etimologicamente a palavra “respeitar” (em latim) significa tomar em consideração. “Respeito” é sentimento que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência; consideração, reverência.

Em vez de desqualificarem Jesus, os dirigentes são desqualificados a partir da pergunta de Jesus: “O batismo de João vinha do céu ou dos homens?”. Eles mesmos sabem do peso da pergunta: “Se respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ Devemos então dizer que vinha dos homens?”  O evangelista Marcos comenta: “Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de profeta”.  Diante da pergunta pesada, pois toca e desmascara profundamente sua maneira de viver, eles fingem não saber respondê-la: “Não sabemos”. Temos lido em jornais, revistas, entrevistas e temos ouvido nas rádios e televisão este tipo de resposta que saiu da boca daqueles que têm poder: “Eu não sabia!”, “Não sabíamos”, mesmo que as provas sejam contundentes e evidentes. Fingir não saber sobre aquilo que é óbvio e praticado é uma forma discreta de confessar aquilo que sabe. Ninguém se engana. Ninguém tem poder de eliminar a verdade do coração. “Deus faz o diário de nossa vida: a mão divina escreve o que fizemos e o que omitimos, história que um dia será apresentada a todo o universo. Procuremos, pois, fazê-la bela!” (Bossuet; cf. Mt 25,31-46). E “o homem que nunca se entregou a uma causa superior não atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).

P. Vitus Gustama,svd


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