quinta-feira, 13 de outubro de 2022

XXIX Domingo Comum,16/10/2022: Perseverança Na Oração

ORAÇÃO DIRECIONA NOSSA VIDA PARA O CAMINHO DE DEUS

ORAR COM PERSEVERANÇA

XXIX Domingo Comum “C”

Primeira Leitura: Ex 17,8-13

Naqueles dias, 8os amalecitas vieram atacar Israel em Rafidim. 9Moisés disse a Josué: “Escolhe alguns homens e vai combater contra os amalecitas. Amanhã estarei, de pé, no alto da colina, com a vara de Deus na mão”. 10Josué fez o que Moisés lhe tinha mandado e combateu os amalecitas. Moisés, Aarão e Ur subiram ao topo da colina. 11E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. 12Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas. Pegando então uma pedra, colocaram-na debaixo dele para que se sentasse, e Aarão e Ur, um de cada lado, sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol, 13e Josué derrotou Amalec e sua gente a fio de espada.

Segunda Leitura: 2Tm 3,14,-4,2

Caríssimo: 14Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. 15Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras: elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. 16Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça, 17a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra. 4,1Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir a julgar os vivos e os mortos, e em virtude da sua manifestação gloriosa e do seu Reino, eu te peço com insistência: 2proclama a palavra, insiste oportuna ou importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda a paciência e doutrina.

Evangelho: Lc 18,1-8

Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: 2”Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ 4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!’” 6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. 7E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras deste Domingo 

Um dos temas principais das leituras deste Domingo é a oração. "Tudo é um dom" no mundo da fé. Como um dom, não temos direito a ele, mas devemos humildemente pedi-lo em oração. Assim, a viúva da parábola não se cansa de implorar justiça ao juiz, até receber uma resposta (Evangelho). Por sua vez, Moisés, acompanhado por Arão e Hur, não param durante todo o dia de erguer as mãos e o coração a Javé para que os israelitas saiam vitoriosos sobre os amalecitas (Primeira Leitura). Através do estudo e meditação da Escritura, "o homem de Deus encontra-se perfeito e preparado para toda boa obra" (Segunda Leitura).

Como na vida espiritual tudo é dom, nada pode ser recebido sem oração humilde e constante a Deus. Com a oração, a porta do coração de Deus se abre de forma invisível, mas real e eficaz. "Sem mim você não pode fazer nada." (Jo 15,5). "Tudo é possível para quem crê", para quem reza com fé. Deus é tão bom que, mesmo sem orar, recebemos muitas coisas d´Ele. O que certamente é infalível é que, se pedirmos a Deus o que Jesus nos ensina a pedir e da maneira que ele nos ensina, Deus nos concederá. 

A viúva da parábola sofre com a injustiça dos homens; só o juiz pode lhe fazer justiça, e é por isso que o persegue dia após dia até conseguir. Traduzindo a parábola em termos reais, Deus certamente julgará as injustiças humanas. Se elevarmos nossa oração a Deus, Ele nos ouvirá e responderá nossa oração. Se Moisés, Arão e Ur não tivessem orado ao Senhor pela vitória de Israel sobre os amalequitas, eles a teriam obtido? A oração, mais que a espada, obteve a vitória. O cristão orante foi "dotado" por Deus, como Timóteo, para desempenhar bem as suas tarefas: conhecimento das Escrituras, fidelidade à tradição recebida, anúncio do Evangelho. 

Deste modo, os textos litúrgicos deste domingo conferem um valor extraordinário à oração, como elemento constitutivo da ortopráxis e como fundamento do progresso espiritual e de toda vitória nas lutas quotidianas da fé. Devemos orar para receber, mas também para dar de acordo com o dom recebido. O dom de Deus será acompanhado pela ação do homem, baseada no próprio dom. A vitória pertence a Deus, mas não sem que o homem forneça os meios para a ação divina eficaz. Sem a espada de Josué não haveria vitória, mas a espada sozinha, sem a intervenção de Deus, teria terminado em derrota. Sem o esforço de Timóteo para ser primeiro um bom judeu e depois um bom discípulo de Paulo, Deus não poderia "equipá-lo" para cumprir a missão de líder da comunidade de Éfeso.

Assim como na pessoa de Jesus o humano e o divino estão inseparavelmente unidos, mas sem se confundirem, da mesma forma na vida espiritual do cristão o divino e o humano convergem, mantendo sua identidade, em um único resultado. A remoção de um dos termos leva à mutilação mortal, a menos que uma ação extraordinária de Deus intervenha. 

A característica mais marcante nos textos é a constância na oração. Sem esse registro, nem a viúva teria conseguido justiça, nem o povo de Israel que os amalecitas foram derrotados. Uma constância que, em nossa mentalidade, pode até parecer inoportuna, mas que agrada e comove a Deus. Uma constância que pode ser exigente, até difícil, e exigir muito esforço, como no caso de Moisés, mas que Deus abençoa.

A pessoa que reza porque está muito claramente consciente de sua necessidade e de sua própria impotência e necessidade. A distância entre a pequenez da pessoa que reza e a necessidade que a impele, só Deus pode realizá-la. O povo de Israel sentiu a necessidade urgente de derrotar os amalecitas, sem os quais não conseguiria chegar à terra prometida, mas ao mesmo tempo sabia que eram poucos para tal empreitada. Eles terão que ir a Dues para extrair dele a vitória desejada. 

A pessoa que ora deve ser um homem profundamente crente. Se você não tem fé no que pede, então para que serve a oração? Ou você ora com fé ou é melhor parar de orar de uma vez por todas se tiver fé. A diminuição ou aumento da oração é correlato ao aumento ou diminuição da vida de fé. 

Um Olha Específico Para O Evangelho Deste Domingo 

Continuamos a acompanhar Jesus no seu Caminho para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e ressuscitado para salvar a humanidade (Lc 9,51-19,28). O texto do evangelho deste dia se encontra na etapa final do Caminho de Jesus para Jerusalém (Lc 17,11-19,28). Também nesta última etapa Jesus continua passando as lições importantes sobre a vida cristã para seus seguidores, como: a importância da oração perseverante e humilde (Lc 18,1-14), a necessidade de ter o desapego às riquezas em nome do seguimento de Cristo (Lc 18,15,-19,28). Jesus também fala, nesta etapa, da chegada do Reino de Deus, da vinda do Filho de Homem (Lc 17,20-37).        

A lição que Jesus nos dá através do evangelho deste dia é sobre a importância de ser perseverante na oração para qualquer seguidor de Jesus Cristo. A primeira leitura de hoje antecipa, na verdade, este tema na qual se acentua a perseverança de Moisés (e seus companheiros) na oração a fim de vencer toda a batalha (cf. Ex 17,8-13).        

Oração é um dos temas preferidos do evangelista Lucas. Lucas é o evangelista da oração. Ele é o único evangelista que inicia e termina seu evangelho com o tema da oração: no início encontramos o sacerdote Zacarias “diante de Deus”, no “Santuário do Senhor” (Lc 1,8-10); e no final encontramos os discípulos “continuamente no Templo louvando a Deus” (Lc 24,53). É ele que mais nos apresenta Jesus orando, principalmente nos momentos decisivos de sua vida: no Batismo (Lc 3,21), na escolha dos discípulos (Lc 6,12), na profissão de fé de Pedro (Lc 9,8), na transfiguração (Lc 9,28s), no Getsêmani (Lc 22,39-46) e na cruz (Lc 23,34.46). Jesus também ensina os discípulos a orar (Lc 11,1ss). No evangelho de Lucas podemos encontrar as orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o Magnificat (Lc 1,46-56); o Benedictus (Lc 1,67-79); o Glória (Lc 2,14); o Nunc Dimittis (Lc 2,29-32). Além disso, Lucas ainda conta três parábolas sobre a oração (Lc 11,5-13;18,1-8;18,9-13). E na sua segunda obra (nos Atos) Lucas nos fala novamente deste tema. Ele nos apresenta a Comunidade Primitiva como uma comunidade orante (At 1,14;2,42). A oração está presente nos momentos mais importantes da Igreja Primitiva (At 1,24;8,15;11,4;12,5;13,2;14,23).         

Por que a oração é tão importante?        

Porque a oração é a expressão mais viva da fé. Quem tem fé precisa orar e quem ora precisa ter fé. Através da oração Deus se revela a quem reza ou a quem medita sua palavra. Por isso, a oração é também o momento ou lugar da revelação de Deus. Somente no diálogo é que conhecemos melhor nosso parceiro de diálogo. No seguimento de Jesus a oração sustenta a caminhada cristã. Por isso, empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia. Na medida em que o cristão reza, sua vida se transforma de acordo com a vontade de Deus, pois rezar significa estar em sintonia com Deus e Sua vontade. Podemos dizer que a oração nos faz familiares de Deus. Dentro de uma família um conhece bem o outro membro por causa de uma convivência permanente.   

Para falar sobre “a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1), Jesus parte de uma situação concreta na época, que serve como comparação, isto é, a situação de uma perseverante viúva que clama pela justiça diante de um juiz iníquo, que não se preocupa com a justiça, a fim de resolver seu problema. Lucas é o evangelista que mais fala de mulheres viúvas do que os outros evangelistas, por causa de seu interesse e de sua simpatia pelos excluídos e marginalizados da sociedade (cf. 2,36-38; 4,25-26; 7,11-17; 18,1-8; 20,47; 21,1-4). Uma viúva não valia nada em Israel socialmente. Era criatura mais desprotegida. Ela não dispunha de nenhum meio de se fazer ouvir por um juiz desonesto. Não dispunha de poder nem de mecanismos de pressão. A viúva equivale à mulher casada que perdeu não somente o esposo, mas também e principalmente o apoio financeiro de algum membro masculino de sua família e, portanto, necessita da proteção legal. A viúva era a imagem mais viva de dor e de lágrimas. A exploração das viúvas, apesar de ser condenável, era freqüente(Is 1,16s;Sl 94,3-7;Mc 12,40). Na Bíblia, a viúva é uma figura típica dos mais necessitados, dos indefesos e dos maltratados(Ex 22,21-24;Is 1,17.23;Jr 7,6). A Escritura sempre defende o direito da viúva porque sendo mulher e sozinha com os filhos para criar, ela se encontra duplamente oprimida e marginalizada. Ela é objeto de uma proteção especial pela Lei(Ex 22,20-23;Dt 14,28s;24,17-22) e de Deus(Dt 10,17s) que escuta a sua lamentação(Eclo 35,14s), a defende e a vinga(Sl 94,6-10).  Além disso, Lucas é o evangelista que melhor plasmou o papel da mulher na vida da comunidade cristã primitiva e da mesma sociedade.        

A viúva da parábola não se atemoriza, e insiste para que o juiz faça justiça. Por causa da insistência e da perseverança da viúva, sem usar métodos violentos, o juiz decide fazer-lhe a justiça. A partir da perseverança da viúva e não a partir do juiz iníquo, Jesus faz a seguinte conclusão e recordação: “E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? ... Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem pressa” (Lc 18,8a). Mas será que pedimos por causa do desespero ou por causa da fé em Deus?          

Devemos lembrar que Lucas vivia numa época da existência cristã que não era a de Jesus, numa época em que as provações(Lc 17,22;21,12), o medo(Lc 21,26), as preocupações, as riquezas, os prazeres da vida(Lc 8,14;17,26ss) afogavam a lucidez(Lc 12,35-40) e matavam a esperança(Lc 12,45). No atual contexto de Lucas, então, a parábola está relacionada com a situação dos discípulos que vivem numa condição de perseguição e outras situações, enquanto se faz esperar a intervenção libertadora de Deus. Eles se sentem como se fossem filhos abandonados por Deus Pai. Surge, então, a pergunta: “Por que o Senhor demora em nos socorrer? Por que fica calado diante dos nossos gritos? Por que Deus não intervém para salvar a Sua Igreja?” É a pergunta que também atormentava os justos oprimidos na história do povo de Deus(cf. Sl 44,23-25;89,47;Hab 1,2-4). Na Igreja de Lucas, esta interrogação sobre o silêncio e a demora de Deus se torna pergunta acerca da vinda do Filho do Homem. Perante esta espera, capaz de se tornar uma decepção, Lucas lembra a promessa de Deus: com certeza Deus intervirá para libertar os que o invocam(v.7). Lucas encontra, então, nesta parábola de Jesus uma boa resposta a essa situação de incerteza e de aparente silêncio de Deus. A demora não é devida ao descuido, como no caso do juiz iníquo, mas à paciência de Deus, que com a espera quer deixar espaço para a conversão e salvação (cf. 2Pd 3,9;Ap 6,9-11). Exatamente por causa disso vem uma pergunta, como conclusão desta parábola que se torna um motivo para refletir e exame de consciência: “Mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (v.8b). Será que Jesus vai encontrar sempre a fé em mim? Será que Jesus vai me encontrar vivendo a minha fé e da minha fé? Será que sou perseverante na minha oração independentemente da resposta de Deus e da situação aparentemente não solucionável?        

Vamos estender um pouco mais nossa meditação sobre alguns pequenos temas a partir da passagem do evangelho deste dia. 

1. Quando O Ser Humano Se Coloca Seriamente Perante O Problema Da Verdade Do Seu Ser A Oração Torna-Se Uma Necessidade Vital Para Ele        

Consciente ou inconscientemente a história da oração começou a partir do momento em que o homem apareceu na terra.  A história de nossa vida é a história de nossa oração. Somos aquilo que rezamos. Conversamos com o Criador (Deus) aquilo que vivemos diariamente e voltamos a viver nosso cotidiano a partir de nossa conversa com Ele e partir da Palavra divina meditada e confrontada com a nossa vida.        

A oração sai espontaneamente do coração humano, que se transforma em louvor, agradecimento, pedido etc, quando o homem vive seriamente a verdade do ser como criatura e passageiro nesta terra. Mesmo fazendo parte da criação o ser humano é coroa de toda criação e é a imagem de Deus (cf. Gn 1,26; 2,6-7). Por causa do homem Deus foi capaz de se tornar um entre os seres humanos: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Ao viver seriamente sua condição como criatura, o homem tem necessidade de Deus que sacia seus anseios mais profundos. O homem pode até saciar seus desejos, mas quem pode satisfazer seus anseios mais profundos, anseios pelo sentido da vida é somente Deus, porque o homem pertence a Deus pelo hálito divino que nele foi insuflado por Deus (Gn 2,6-7). Por isso, o salmista afirma que somente em Deus encontra-se a salvação: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação” (Sl 27,1), “com Tua luz nós vemos a luz!” (Sl 36, 10b), e por isso, “Envia Tua luz e Tua verdade: elas me guiarão, levando-me à Tua montanha sagrada, às Tuas Moradias” (Sl 43,3), pois “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 119,105).        

Portanto, a oração é imprescindível na vida de cada cristão quando ele vive seriamente a verdade do seu ser como cristão. A oração é indispensável e necessária, porque é o clima em que nasce e madura a fé e a vida. A oração fortalece a esperança cristã que não podemos confundir com a simples espera de algo que se realize. A esperança cristã consiste na certeza de conseguir um dia o anseio mais íntimo e verdadeiro de nosso coração apesar de todas as situações e contradições que façam difícil manter esta atitude. É uma esperança que respeita o “tempo de Deus”, mas que nos leva a trabalharmos para adiantá-lo.  Se a oração é a forma habitual de alimentar nossa comunhão com Deus e com os homens, deixar de orar significa deixar de ter o “sentido de Deus” nos acontecimentos e deixar-nos alienados d’Ele. Se um cristão não rezar, vai errar muito o caminho.        

Mas a oração não se esgota na fórmula recitada ou nas expressões verbais (cf. Mt 7,21). Para que nossa oração seja autêntica, ela tem que ser a expressão oral ou mental de nossa maneira real de ser cristãos. E esta maneira real de ser é uma existência em dependência de Deus. 

2. Para O Cristão Rezar É Exigência Da Própria Fé        

O problema decisivo que está em perigo para o cristão não é propriamente o problema da oração e sim o problema da fé: “Mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18,8b). A oração depende da fé. A autenticidade da oração depende da vivacidade da fé. A oração tem que nascer da fé, da confiança absoluta no Pai que ama e fará justiça aos seus eleitos. Em outras palavras, a oração é uma exigência da própria fé. Uma vida de oração somente é possível quando há fé. Sem fé não se entende a oração. Uma fé vivida sempre implicará a oração. Com sua pergunta aberta, Jesus nos alerta para que mantenhamos a fé até o último dia de nossa vida. Então, no dia do Senhor, compreenderemos que Deus não é um surdo-mudo diante dos gritos dos justos que pedem a justiça, compreenderemos que se agora Deus “fica calado” é tão somente porque nos escuta e espera dar-nos, no final, a resposta definitiva.  O crente vive da fé e viver da fé é viver próximo de Deus para o qual é necessária a oração. A oração é o ato de fé por excelência. Sem a fé a oração não tem sentido. Não basta falar de Deus, pois isto um ateu pode fazer. É preciso falar com Deus. Quem evangeliza sem rezar termina por não evangelizar.        

Por isso, a grande pergunta de Jesus para todos os cristãos é saber se haverá fé sobre a terra: fé para que os homens sigam o caminho de Jesus; fé para que superem a divisão como antagonismo de classes sociais (como viúva desamparada e o juiz poderoso e iníquo); fé para que o sofrimento converta o poder em serviço para o bem dos excluídos, dos marginalizados e dos desamparados representados pela viúva na parábola; fé para mostrar-se abertos sem cessar diante da voz de amor do Pai celeste. Através da fé, a história inteira pode se converter, com Jesus, em chamada que invoca a justiça salvadora de Deus. Quem sonha com um mundo melhor e lutar por ele, tem de viver num diálogo permanente e contínuo e profundo com Deus. é nesse diálogo que se percebe o projeto de Deus para o mundo e se recebe de Deus a força para vencer tudo o que oprime e escraviza o homem.        

Portanto, trata-se do problema da fé ligada ao da vida. Amar ao outro é o único caminho possível para encontrar na oração o outro. Descobrir de verdade o outro, e Deus no outro, é a tarefa fundamental de toda aprendizagem ou da educação da verdadeira oração. Através da oração percebemos quem Deus é, percebemos o seu amor e sua misericórdia, descobrimos a sua bondade e a sua justiça. A oração é o caminho para encontrarmos o amor de Deus. 

3. Para manter nosso ser como cristãos necessitamos rezar sempre          

O texto começa com um versículo introdutório que serve para explicar o sentido da parábola seguida. Quase sempre a interpretação vem depois da parábola, mas neste caso Lucas quer informar antes seus leitores, porque a parábola não é inteiramente transparente: ”Jesus contou aos discípulos uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir...”(v.1).        

O advérbio “sempre” confere à oração um duplo significado. O rezar “sempre” é o programa de quem crê, chamado a aceitar, a cada dia, o desafio da história: convoca ao compromisso de colocar a “prece na vida” e “vida na prece”. Oração e vida fundem-se em uma recíproca imanência. Em simbiose. Uma é a vida da outra. O diálogo com Deus não é relegável aos raros momentos fortes do caminho espiritual, porém cresce junto com a fé e é como o respirar do dia-a-dia. A prece transforma em unidade os fragmentos da existência quotidiana diante de Deus. Se a prece tem lugar na existência quotidiana do cristão, a própria vida está na prece. Por isso, a prece não é apenas um barco salva-vidas para quem estiver afundando. A oração é a respiração de nossa vida como cristãos e criaturas. Por isso, podemos dizer que quem sabe viver bem, sabe também rezar bem, e vive-versa. Em outras palavras, orar sempre é viver com sentido, levar a vida à presença de Deus, sair ao encontro do Filho do Homem. É permanecer na fé e na esperança, transcender nossas razões e nossos egoísmos. É responder à chamada de Deus que nos convoca para entrar em Seu reino de paz, de justiça, de verdade, de liberdade e de fraternidade.        

Por esta razão, orar pedindo a Deus não significa tratar de convencer Deus e sim remotivar nossa visão da história e entrar em comunhão com Ele. A oração nos ajuda, conseqüentemente, a não sermos auto-suficientes e a manter, diante de Deus e dos demais, uma postura de humildade e confiança. Esta postura nos faz perseverantes mesmo que, aparentemente, Deus não nos “escute”, respeitando Seu tempo e ritmo. Lucas nos pede, que apesar do aparente silêncio de Deus, não deixemos de dialogar com Ele, pois nesse diálogo é que podemos entender os projetos e os ritmos de Deus. É nesse diálogo que Deus pode transformar os nossos corações. É nesse diálogo permanente que aprendemos a entregar-nos nas mãos de Deus e a confiar nele. Sobretudo, que nada, nem o desânimo, nem a desconfiança perante o “silêncio” de Deus nos leve a desistir de uma verdadeira comunhão e de um profundo diálogo com Deus.         

O modelo da perseverança na oração se encontra na primeira leitura deste dia: Moisés (Ex 17,8-13). Ele era o grande líder e ativo condutor do povo, mas dava à oração uma importância decisiva em sua vida. Moisés orava a Deus pedindo-lhe Sua ajuda. Enquanto ele mantinha seus braços erguidos, os israelitas levavam a vantagem na batalha contra os inimigos. Mas quando seus braços caíam, os inimigos ganhavam a batalha. Não é um gesto mágico. É um símbolo de que a história do povo eleito não se pode entender sem a ajuda de Deus.       

 São três as razões porque devemos ser perseverantes nas nossas orações: A bondade e a misericórdia de Deus; O amor de Deus por cada um de nós, como se cada um fosse único para Deus; e o interesse que nos mostramos perseverantes na oração. Apesar do aparente “silêncio de Deus um cristão vai continuar a rezar porque ele acredita na bondade de Deus. A bondade de Deus o faz perseverante na oração apesar de tudo. Podemos dizer que a oração não vive da miséria do homem, mas da promessa de Deus. Por isso, o modo como a pessoa reza depende da imagem de Deus que traz no seu coração. Quanto mais correta for esta imagem, mais disposição terá para a oração e mais confiante e perseverante esta será. O que Jesus quer nos recordar hoje é que a atitude de um cristão deve ser claramente de abertura a Deus e não de confiança somente em suas próprias forças. E ele nos avisa que aquele que não edifica sua vida sobre a rocha de Deus, está edificando em falso (cf. Mt 7,24-26), pois “sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Orar é reconhecer a grandeza de Deus e nossa debilidade, e orientar a vida e o trabalho segundo Deus.        

A perseverança na oração, a exemplo da viúva que conseguiu tudo que desejava de um juiz, quer nos ensinar que, para atingir objetivos superiores às nossas forças, precisamos orar sem cessar, pois há objetivos que não podem ser alcançados sem a oração. Por exemplo: onde conseguir a força para perdoar quem nos prejudicou, a não ser na oração? Ou, onde conseguir a força para não fraquejar diante dos maus desejos da ambição, da inveja, da cobiça, do ódio, do rancor, a não ser na oração? Se por um instante sequer deixarmos cair os braços, isto é, se pararmos de rezar, imediatamente as forças do mal prevalecerão, seremos derrotados e os desastres que sofremos serão assustadores. Como Moisés (na primeira leitura: Ex 17,8-13) devemos, portanto, manter os braços sempre erguidos, até a noite, isto é, até o fim da nossa vida, sem nos deixarmos vencer pelo cansaço.          

Quando uma comunidade ou uma família vive verdadeiramente em oração, com certeza segue o caminho de Jesus, e ouve a sua voz e não a voz do mundo, e a vida estará sempre iluminada, pois Deus é a Luz(Jo 8,12).

P. Vitus Gustama,SVD

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