quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Domingo,23/10/2022: Oração Humilde

O DEUS DE AMOR MISERICORDIOSO  EM QUEM ACREDITO ENGRANDECE

MINHA VIDA

XXX Domingo Comum C

Primeira Leitura: Eclo 35,15b-17.20-22a

15bO Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. 16Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; 17jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas. 20Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. 21A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, 22ª faça justiça aos justos e execute o julgamento. 

Segunda Leitura: 2Tm 4,6-8.16-18

Caríssimo: 6Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. 7Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. 8Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. 16Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. 17Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. 18O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.

Evangelho: Lc 18, 9-14

Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ 14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

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Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos”, disse o fariseu (Lc 18,11). 

São João Crisóstomo comentou: “Quem diz mal do próximo prejudica tanto a si mesmo quanto aos outros. Em primeiro lugar, faz mal para quem o ouve: este, se é pecador, alegra-se com o fato de descobrir em outrem a mesma culpabilidade que carrega consigo; se, porém, é justo, o caluniar só faz aumentar-lhe o orgulho, porque, tomando ciência da falta alheia, crê-se superior. Ofende também, em segundo lugar, a toda a Igreja: quem o escuta caluniar acaba por não apenas censurar o caluniador, mas também por estender seu desprezo a toda religião cristã. Em terceiro lugar, dá ocasião a que se blasfema contra Deus, porque assim como as boas obras exaltam Seu nome, assim também as más obras o blasfemam. Em quatro lugar, confunde a própria vítima da calunia, tornando-a mais petulante e hostil. Por conseguinte, fica claro que merece o maldizente ser castigado por suas palavras. ... Tendo ouvido as palavras ‘porque não sou como este publicano’, não se indignou; antes compungiu-se. Se o fariseu descobria-lhe a ferida, o publicano buscava o remédio. Portanto, que ninguém pronuncie estas palavras cheias de frieza: ‘não me atrevo’, ‘tenho vergonha’, ‘não posso dizê-lo’. Estas vexações são obra do Diabo, que deseja fechar-te as portas que levam a Deus” (Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea, Exposição Contínua Sobre Os Evangelhos, Vol. 3 Evangelho de São Lucas, Ed. Ecclesiae, Campinas,SP, 2020 pp. 531.532).

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Jesus continua seu Caminho para Jerusalém (Lc 9,58-19,28) onde será crucificado e morto. Trata-se da última viagem para Jerusalém. Nesse momento, no contexto do evangelho deste dia, ele está na etapa final de seu Caminho (Lc 17,11-19,28). Mesmo sabendo que está para chegar no destino de seu Caminho que é Jerusalém, Jesus não pára de passar suas últimas importantes lições para seus discípulos e para todos os seus seguidores de todos os tempos e lugares.       

Na passagem do evangelho deste dia Jesus continua a enfatizar sobre a importância da oração perseverante e humilde (Lc 18,1-14) que se iniciou na passagem anterior (veja o evangelho do Domingo anterior). A última frase do Evangelho do Domingo anterior, lemos: “O Filho do Homem, porém, quando vier, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18,8b). “A fé é a soleira da porta de ingresso no Reino. Os umbrais que a sustentam são a oração e a humildade. Sem a primeira, morre-se de asfixia; sem a segunda, cresce-se em presunção. Por isso, depois de ter declarado a necessidade da oração, agora se fala de sua qualidade de fundo: a humildade” (Silvano Fausti)

Para falar da oração humilde Jesus conta uma parábola na qual ele coloca em confronto dois tipos de atitude diante de Deus representados por um fariseu e um publicano, como protagonistas da parábola: o fariseu que se elogia desprezando o outro e o publicano que simplesmente pede a misericórdia de Deus sem desprezar ninguém, porque ele tem consciência de seus pecados. Desde o primeiro versículo aparece claro que se trata de uma crítica a uma determinada classe de pessoas: os auto-suficientes: “Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezam os outros” (Lc 18,9). Pela parábola aparece claro quem são estas pessoas em concreto: as pessoas religiosas dentro do povo de Deus.        

Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos” (Lc 18,10). 

O fariseu da parábola é o modelo de um homem irrepreensível diante da Lei porque ele cumpre todas as regras da Lei: jejuar até mais do que se exige de qualquer judeu praticante (a Lei prescrevia um único jejum público por ano, no dia da expiação: cf. Lv 16,29-39), dar o dízimo, não é ladrão nem desonesto nem adúltero e nem cobrador de imposto, e por isso, legalmente, ele tem uma vida íntegra. Do ponto de vista legal ninguém o pode acusar, pois ele não comete ações injustas. E ele fica contente com tudo isto, e fala com muito orgulho de suas “supostas virtudesdiante de Deus: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda” (Lc 18,11-12). “Não te gabes, nem mesmo quando és bom. Não aconteça que, gabando-te, te faças mal. Quem não quer reconhecer seus pecados ata-os às costas como uma mochila e põe em evidência os pecados dos outros”, alertou Santo Agostinho. O fariseu está todo cheio de si e centrado no próprio eu, não tem espaço nem para os outros nem para Deus. A arrogância e desprezo sempre andam juntos. Na realidade o fariseu está diante não de Deus e sim do próprio eu. É um monólogo, não um diálogo. Ele fala sempre entre si e de si, logo ora ou reza somente diante de si, e não diante de Deus. É a solidão infernal de quem faz do eu o próprio princípio e o próprio fim. A “oração” do fariseu é a de autoapreciação, pois se apropria dos dons para louvar a si mesmo em vez de louvar a Deus, fonte de todos os dons, e para desprezar os irmãos em vez de amá-los. A sua oração não pretende nem ser oração. A presunção na própria justiça não salva ninguém. Este fariseu é condenado porque, no esforço de observar as prescrições da Lei, esquece o mandamento do qual surgem: o amor a Deus e ao próximo.        

O publicano, da parábola, orava: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”. A oração do publicano é uma oração que purifica e ilumina. É uma súplica com dois polos: a misericórdia de Deus e a minha miséria. A humildade é a única qualidade apta para se lançar ao Altíssimo, faz de mim um vaso, que, esvaziado do eu, pode ser enchido de Deus. a fé e a oração se fundamentam nesta humildade confiante, fruto do novo conhecimento de si e de Deus.Essa oração do publicano será a minha, quando descobrirei o meu pecado de fariseu arrogante. A fé que justifica vem pela humildade que invoca a misericórdia de Deus. Quem perde a consciência de que todos somos pecadores e de que somente Deus justifica (Rm 3,23; 8,33), não possui tal fé. O justo não é justificado até conheça o seu grave pecado, como este publicano. 

O publicano representa qualquer pecador. Mais do que isto, ele é o modelo do pecador por tratar-se de um publicano, pois explora os pobres, pratica injustiças, trafica com a miséria, cobra mais do que devia. Em outras palavras, ele não cumpre as obras da Lei. Por esta razão diante dos olhos do sacerdote e do fariseu qualquer cobrador de imposto é um pecador público (publicano) e é considerado comoimpuro”. Por serem “impuros”, os cobradores de impostos não podiam ser juizes, nem testemunhas num processo, e muito menos pertencer a uma comunidade de fariseus. O publicano da parábola tem consciência plena da sua indignidade. Por se sentir indigno diante da santidade de Deus, ele pede apenas a compaixão de Deus: “Meu Deus tem piedade de mim que sou pecador” (Lc 18,13).  Nesta oração o publicano se apóia unicamente em Deus e no seu amor. Ele se apresenta diante de Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões.        

No final da parábola Jesus faz esta conclusão: “Eu vos digo: este último (o publicano) voltou para casa justificado, o outro (o fariseu) não” (Lc 18,14a). O publicano voltou para casa justificado porque reconciliou-se com Deus através do seu arrependimento. O fariseu não foi justificado porque ele é um praticante sem amor: “Eu não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos”. É um observador da Lei e das regras em geral, mas sem observar o essencial (ele omite o essencial): o amor fraterno. Ele esquece esta verdade: o homem vale mais do que a lei. A lei existe por causa do homem. Amamos a Deus não na medida do cumprimento das leis ou das regras, mas na medida do amor que temos ao próximo (cf. 1Cor 13,1-3). Com efeito, a atitude de orgulho e de auto-suficiência, a certeza de possuir qualidades e méritos em abundância, geralmente acaba por gerar o desprezo pelos irmãos. “Sonho com o dia em que os homens levantar-se-ão e compreenderão finalmente que são feitos para viverem como irmãos” (Martin Luther King).        

Estendamos um pouco mais nossa meditação sobre a passagem do evangelho deste dia confrontando-a com nossa maneira de viver como cristãos. 

1. Somos Alertados Sobre O Perigo Do Arrogância e Da Autossuficiência Religiosas

        Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezam os outros” (Lc 18,9).        

Com a palavraalguns” sublinha-se a mensagem para qualquer um, seja para mim, seja para você, pois sentir-se superior aos outros não é exclusivo para o fariseu da parábola. Ser orgulhoso é uma tentação diária para quem cumpre as normas ou regras religiosas. Sabe-se que um orgulhoso não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro e a norma para os demais. Livre de qualquer subordinação, ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio. O orgulhoso possui todos os vícios: ser egoísta, injusto, ingrato, imoral, e está sempre falando de si, atribuindo a si mesmo elogios por façanhas jamais realizadas. Tudo isto se encontra no fariseu da parábola que serve de alerta para todos.         

Na “oração” do fariseu, Deus ficou esquecido e somente o EU predomina: Eu não sou como os demais, eu jejuo, eu pago o dízimo. A arrogante consciência de ter feito alguma coisa, o faz acreditar que Deus se tornou seu Devedor, mas é inútil. Ele abusava da oração para demonstrar sua própria grandeza a fim de se colocar em destaque diante dos demais. É um verdadeiro exibicionista. O exibicionismo é a linguagem que demonstra a ausência de um valor. Quando um valor cresce na experiência espiritual de uma pessoa, ela ama discrição, que é a linguagem do tesouro escondido, e se comunica pelo caminho da simplicidade e da discrição.          

Até mesmo a palavra agradecerque o fariseu usa perde o seu significado, porque é dita apenas em função de si mesmo. Essa palavra mais sagrada e mais expressiva da gratuidade do amor é profanada pela arrogância do “eu” (egolatria). Deus é apenas uma oportunidade para ele falar de si mesmo. Em qualquer egolatria esconde-se a arrogância e a presunção e, se manifesta no desprezo pelos demais. Ao falar mal do outro, na sua subconsciência alguém está querendo dizer: “Eu sou melhor que ele”. Ao dizer queeu sou melhor que eleele está sendo contaminado pela arrogância. E toda a arrogância é contra ao amor fraterno que é essencial para uma convivência fraterna. A arrogância é uma maneira de não admitir os próprios defeitos e fraquezas.        

Este farisaísmo pode estar, para não dizer que também está presente em nosso mundo cristão tanto a nível individual, o que é grave, como a nível comunitário, o que é infinitamente pior. De vez em quando viramos fariseus da parábola toda vez que julgarmos como pecadores aqueles que não cumprem as leis religiosas ou aqueles que não freqüentam fielmente a igreja. Por isso, a figura do fariseu da parábola podemos encontrá-la com certa freqüência nos círculos cristãos: pessoas cumpridoras, seguras de si mesmas, mas que desprezam os que não são como elas e que os condenam. Todos temos em nossa vida o complexo farisaico que nos leva a acreditarmos bons, melhores que os outros para desprezar os demais. Precisamos entender que Deus se compadece muito mais num pecador que ama, confia e se arrepende do que num justo com muitos méritos, mas vive sem amor fraterno.  Cristo nos pede que tenhamos alma do publicano, consciência de sua pobreza de méritos e de sua incapacidade de apresentar nada diante de Deus a não ser o pedido de perdão, de misericórdia e de justificação.        

Certamente a justificação por meio de reconhecimento do próprio pecado e pela plena no amor de Deus é o tema de fundo da parábola do evangelho deste dia. Reconhecer nossa pequenez, nossa impotência, nosso nada que somente fica plena precisamente por esse amor de Deus. Cristo destaca a humildade, o arrependimento e a ausência de julgar no coração do publicano que lhe justifica. Cristo não condena o fariseu por ser um religioso, por levar uma vida moral digna ou por praticar o jejum e o dízimo. O que Cristo critica nele é o seu espírito de juízo, de julgamento que é a manifestação de sua arrogância espiritual.      

Cristo quer, por isso, nos libertar do juízo ou do julgamento sobre nossos irmãos na Igreja e fora dela. Cristo está de melhor agrado com os humildes, com os que se arrependem, com os que amam e não julgam jamais os outros. Cristo nos dá a paz, nos justifica não em razão de nossas opções humanas, mas na medida da que nos compromete na humildade, uma humildade que é a abstenção de julgar os demais. A cristã não deve ser confundida com uma atitude religiosa.          

Precisamos, por isso, pedir a Deus que nos ilumine para que possamos nos ver tal como somos e nos reconhecer pecadores. Com este reconhecimento correremos sempre ao encontro do Senhor para que ele nos perdoe e nos fortaleça dia após dia até o nosso encontro definitivo com ele na vida eterna. 

2. Os Que Ficam Próximos De Deus Se Consideram Pecadores, Mas Os Que Se Acham Santos E Perfeitos É Porque Estão Distantes De Deus

         O cobrador de impostos ficou à distância, e batia no peito dizendo:Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador” é a oração do publicano (Lc 18,13).        

É curioso comprovar que os santos, os que estão de verdade mais perto de Deus, se consideram sempre uns grandes pecadores, pois eles compreendem verdadeiramente o que o pecado significa. Somente à luz de Deus é possível reconhecer a própria miséria. Fora desta Luz não se conhece nem reconhece o pecado, porém ai está a máxima gravidade do assunto: em ignorar a própria enfermidade, o qual é o perigo supremo, pois tudo isto impossibilita toda cura (sanação). Ao contrário, a consciência do pecado e não da nossa santidade, é o que paradoxalmente nos aproxima de Deus. O aproximar-se de Deus consiste em perder ou em abandonar nosso egoísmo e auto-suficiência para encontrar a felicidade de Deus. Quando se toma consciência do pecado, em toda sua terrível amargura, aparece a esperança de salvação.        

O fariseu da parábola se apresenta rico em méritos diante de Deus, enquanto que o publicano, o cobrador de impostos, como pobre. Esta última atitude é que ganha o coração de Deus, pois confia no amor de Deus e tem consciência da sua própria fragilidade, do seu nada. O único credencial válido para se apresentar diante de Deus é reconhecer nossa condição de pecadores. O publicano se sente pequeno, não se atreve a levantar os olhos ao céu, e por isso, sai do templo engrandecido. Reconhece-se pobre e por isso, sai enriquecido. Reconhece-se pecador e por isso, sai justificado. Com razão o Livro de Eclesiástico afirma: “Quem serve a Deus como Ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens” (Eclo 35,20-21).        

O temor da santidade de Deus revela a transparência e a verdade de uma consciência frágil ou de ser pecador. A ausência do temor a Deus (como aconteceu com o fariseu) dá margem à indiferença diante d’Ele, ao risco de desprezá-Lo. A proximidade da santidade de Deus faz perceber entre sua luz e a sombra do pecado entre os meandros do coração. Este é o indício do verdadeiro encontro com Deus numa verdadeira oração. A única riqueza do cobrador de impostos é uma consciência verdadeira, que se torna espaço vital para acolher a dádiva de Deus com sua misericórdia e sua justiça. O cobrador de impostos descobre imediatamente a presença libertadora do amor e se abre à confiança e ao poder renovador da prece. Quem confessa seu nada ou sua pecaminosidade, a exemplo do publicano arrependido, confiando ilimitadamente no amor e na ação salvífica de Deus obtém a vida nova em Deus. Nele Deus se glorifica.        

Somos fariseus quando vamos à igreja não para escutar Deus e suas exigências, mas para convidá-Lo a  nos admirar pelo bom que somos. Somos fariseus quando esquecemos a grandeza de Deus e nosso nada, e cremos que as virtudes próprias exigem o desprezo dos demais. Somos fariseus quando nos separamos dos demais e nos cremos mais justos, menos egoístas e mais puros/limpos que os outros. Somos fariseus quando entendemos que nossas relações com Deus têm de ser quantitativas e medimos somente nossa religiosidade pelas missas das quais participamos e não pelo amor que vivenciamos com os demais.          

A lição final da parábola é introduzida por Jesus com força e autoridade(Eu vos digo....): “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não” (Lc 18,14). O segredo da justificativa interior é a humildade. A humildade gera a verdade. O orgulho, no entanto, é a raiz de toda falsidade. Quando a pessoa não aceita a si própria e a seus limites, termina por aceitar qualquer compromisso para alcançar as próprias intenções: o seu coração torna-se uma central desordenada de pensamentos e de palavras distorcidas e enganadoras. A humildade do cobrador de impostos torna possível um grande desejo de autenticidade, que faz surgir uma visão verdadeira de si e o torna disponível ao perdão de Deus, ao dom de sua graça. A humildade abre o coração à luz que vem de Deus e é fonte de paz. A humildade é a pureza na oração: Deus é Deus e o ser humano é apenas um pobre mendicante de misericórdia. A humildade na oração e na vida é o terreno livre para acolher a semente da justiça. O terreno fértil da santidade.

A nossa vida de cada dia, com certeza, facilmente nos desgasta, se não pomos amor em todos os nossos atos, mesmo nos mais simples e humildes. O egoísmo nos fecha os olhos e os abrimos para ver o que nos interessa. A vaidade nos faz perder tempo em coisas fúteis e sem valor. O exagerado cuidado das coisas terrenas pode levar-nos a esquecer os valores espirituais. O farisaísmo, infelizmente, continua vivo. Ele é uma atitude religiosa que nos impede ver-nos como somos e que deturpa nossa relação com Deus e com os irmãos. Uma falsa humildade é a forma mais refinada de orgulho.        

Sempre que nós rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz não porque modificamos Deus, mas porque nos modificamos, assim saímos diferentes do que entramos. O mais difícil da oração não é tanto saber se Deus nos escuta, mas conseguir que nós O escutemos. Não peçamos a Deus que governe a nossa vida e o mundo através de milagres; peçamos-Lhe o milagre de amar e nós veremos que nosso amor transforma as pessoas e o mundo. Por isso, se a nossa oração nos afasta dos homens, isto significa que não nos encontramos ainda com Deus dos homens, mas com a nossa fantasia. Rezemos diante de Deus como uma criança, mas logo voltemos à nossa vida com nossa responsabilidade de adultos.        

Reflita:

·      Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc 18,13). “O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém(2Tm 4,18). 

·      Verdade é que a minha consciência de nada me acusa, mas nem por isto estou justificado; meu juiz é o Senhor” (1Cor 4,4).

·      O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas” (Eclo 35,15-19).

·      A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento“ (Eclo 35,21-22ª ).

P. Vitus Gustama,SVD

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