sábado, 23 de dezembro de 2023

NATAL Do Senhor, 24/25 De Dezembro

NATAL E SUAS MENSAGENS

Obs: Coloquei aqui várias reflexões (várias opções) em torno do Natal. Cada um tire o que seja necessário para sua comunidade.

1.  Natal: Deus Veio e Continua Vindo, Pois Nos Amou e Continua Nos Amando

Deus não veio apenas a nós – à humanidade –há mais de dois mil anos, em Belém. Deus vem até nós agora. Para cada um de nós.

Que nenhum de nós se sinta excluído desta vinda de Deus. O amor de Deus, plenamente manifestado em Jesus Cristo, É AMOR PESSOAL PARA CADA PESSOA. Por mais que queiramos, nenhum de nós pode excluir-se deste amor pessoal de Deus. Contemplar Deus feito criança oxalá possa nos ajudar a acolher esta vinda tão pessoal, tão própria, tão amorosa e tão entranhável de Deus a cada um de nós. E recordemos hoje que, no caminho de Jesus, o que foi uma constante foi o seu saber olhar, compreender e amar cada pessoa, cada homem e cada mulher. Através de seu Natal, de sua Encarnação, Deus vem dizer a cada um de nós: “Eu te amo”. Principalmente para aqueles que se sentiam mais marginalizados, menos considerados, mais distantes daqueles que eram os representantes oficiais da religião.

Deus vem até nós, à caverna da nossa vida pessoal, e ESPERA SER ACOLHIDO. Ele já conhece a nossa pobreza pessoal, conhece o nosso pecado, a nossa mediocridade, os nossos defeitos, mas quer vir até nós e implora-nos que o acolhamos. Não respondamos, mesmo educadamente, que não há lugar para Ele em nossa casa, em nossa família. Peçamos hoje, na festa de Natal que é uma festa de esperança, saber acolhê-lo, saber dar-lhe lugar na nossa vida. E ousemos perguntar-nos, com verdade, mas também com confiança, o que isso significa para cada um de nós. O que significa para mim acolher a vinda de Jesus Cristo em minha vida pessoal? Talvez não encontremos a resposta de imediato, talvez seja algo que deva amadurecer em nós. Mas ousemos perguntar.

Hoje, pelos menos, PEDIMOS ESTAS DUAS COISAS NESTA MISSA DE NATAL: que todos nos sintamos, e realmente sejamos, mais irmãos uns dos outros, sem exclusões, para que cresça a qualidade do nosso amor. Porque isso é ser cristão e é assim que Deus quer. E que todos queiramos acolher na nossa vida a vinda pessoal de Deus até nós, acolher a sua Palavra, que é Jesus, para que a nossa vida seja mais cristã, para que nos sintamos verdadeiramente amados por Ele. E que o amor de Deus dê frutos em todos nós.

2. O Salvador Está Conosco No Aqui e No Agora De Nossa Vida

Todos os fiéis cristãos devem estar conscientes de que o que HOJE celebramos não é um fato passado que fica na história. O Mistério do Deus feito homem e o mistério de nossa divinização libertadora tem lugar HOJE, no AGORA da festa. Deus continua se manifestando a nós HOJE, libertando-nos, iluminando-nos o caminho, solidarizando-se com nós, com nossas lutas e com nossos sofrimentos. Em um mundo bombardeado por anúncios e com uma história cheia de preocupações, principalmente por causa da pandemia/pestes, da fome e das guerras, a Palavra de Deus nos faz ouvir uma verdadeira notícia: o Deus-Conosco HOJE. Eu posso sofrer, mas eu sei que Deus está conosco HOJE e me ama. Posso ser cercado por todos males da humanidade, mas Deus está conosco HOJE. Posso ser submetido às minhas limitações e fraquezas como criatura, mas Deus está conosco HOJE. O medo pode me ameaçar, aparentemente, mas Deus está conosco HOJE.

Eu preciso ouvir atentamente e contemplar profundamente a Boa Notícia do Natal: “HOJE nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Não nasceu qualquer pessoa. Quem nasceu é um Salvador. Ele vem como um Salvador. Eu preciso acolher esta Salvador, pois Ele vem para me resgatar.

Consequentemente, a festa do nascimento de Jesus é também a festa de nosso nascimento para uma vida nova. HOJE celebramos o Natal, mas não celebramos somente o nascimento de uma criança em Belém, mas também celebramos a origem de nossa história cristã. Olhando para a vida de Jesus percebemos que nascer é belo, formoso, mas comprometido. É nascer para salvar os que se encontram perdidos e sem salvação, sem uma vida digna, sem os direitos para viver como ser humano. Nascer para uma vida nova é iniciar nosso projeto de homens para o bem de todos.

Às vezes estamos cheios de coisas, de problemas, de preocupações e de valores não transcendentes, que não temos lugar para Deus em nossa vida. Celebrar o Natal deveria significar fazer e preparar lugar para o amor de Deus que se manifestou em Jesus Cristo. Temos diante de nós exemplos estimulantes: Maria e José que acolhem ao seu Filho; os pastores que correm para adorar ao Recém-nascido e Lhe reconhecem como o Messias. Maria, em especial, é a melhor Mestra do Natal, pois ela “conservava todas as coisas, meditando-as em seu coração” (cf. Lc 2,19.51b).

Na Eucaristia que nós celebramos, o Senhor se faz presente de um modo sacramental, e o Senhor se dá a nós como alimento: Aquele que nasceu em Belém muitos séculos atrás. E o Senhor virá ao final dos tempos como Senhor Glorioso e Juiz da história. Em cada Eucaristia entramos em comunhão com Ele. Cada Eucaristia é como o Natal, a Páscoa e a Última Vinda, condensados para nós com toda a graça e a salvação que o Filho de Deus quer trazer vidas para nós.

As leituras do Natal nos convidam a ser felizes e alegres, pois “nasceu para nós um Salvador”. O Jesus do Natal é o mesmo Jesus da Páscoa: o Senhor ressuscitado. Que se fez um de nós, que compartilhou nosso nascimento até nossa morte, mas que agora está já na glória, mas continua caminhando conosco (Cf. Mt 28,20). O hino da “Glória”, tão natalino, tem uma teologia cristológica das mais profundas. O Prólogo de são João (Jo 1,1-18), como evangelho do Dia, é um hino a Deus que nos dirige sua Palavra, que nos envia sua Palavra feita homem.

3. Nasceu Para Nós Um Salvador Para Nos Humanizar E Divinizar                       

HOJE nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados (Lc 2,11.14).

Meu HOJE é feito do ontem e meu HOJE vai construindo o amanhã. O meu ontem é a base do meu hoje e por isso, não posso desprezar o meu passado por ruim que ele tenha sido. Cada dia que passou é uma pedra na construção da minha vida que se chama o meu hoje. O meu passado está no meu presente, porque sou o que sou hoje também por causa do meu passado. Dentro de mim carrego comigo milhares de acontecimentos da minha vida no passado. Todos os acontecimentos formam minha personalidade hoje. E meu futuro depende do meu hoje. É preciso ter coragem de projetar, para alguns anos para frente, aquilo que estou fazendo no momento para saber como é que vou ser futuramente, pois ninguém colhe o milho quem planta o arroz. Tudo na vida que fazemos tem suas consequências. 

Mas o meu HOJE como cristão é Kairós, pois o Senhor entrou no tempo humano para transformá-lo em eternidade. O Senhor se tornou humano para eu me tornar divino. O Senhor desce para minha humanidade para que possa subir para a divindade. O Senhor transformou meu HOJE no Céu aqui na terra. Consequentemente eu tenho que me esforçar para que o mundo onde vivo pareça um pouco a cara do céu e valorize cada segundo da minha vida.           

Todos os anos nós ouvimos esta Nova Feliz, este Evangelho em seu sentido mais genuíno da BOA NOVA: “Hoje nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Cada ano nós revivemos o gozo deste Evangelho e, como os pastores, nós acorremos a Belém para contemplar este mistério de Salvação: o Filho de Deus que se fez homem, a Palavra eterna de Deus que se fez carne e faz sua tenda entre nós.           

O mistério que celebramos no Natal é este: O Encontro Definitivo de Deus Salvador com o Homem, com cada homem: “Deus amou tento o mundo que entregou o seu Filho único para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16). Deus desceu até o mais profundo de nossa humanidade, até mesmo à morte: “Desceu à mansão dos mortos”, diz-nos o Credo. Por isso, Natal é a grande proclamação do amor de Deus e da dignidade, dos direitos do homem. Para nós cristãos não existe um motivo maior para valorizar o homem e defender seus direitos.           

Ao estar conscientes da humanização e da divinização do homem, graças ao mistério do Filho de Deus feito homem, nós, cristãos, nos comprometemos a humanizar o mundo, nossa família, nossa comunidade, nossa sociedade para que o plano de Deus para salvar o homem seja realizado. Nossa felicitação natalina é um augúrio e deve ser uma comunicação de Paz que arranco do coração do homem todo tipo de divisão, de vingança, de ódio e assim por diante.          

O nosso Salvador nasceu em Belém. “Belém” significa “casa do pão”. O menino Jesus, que hoje nasceu, nos dá seu Corpo, Pão de vida, para que todos nós participemos de sua vida, a vida dos filhos e filhas de Deus. 

4. Deus Se Fez Um De Nós

O Deus em quem acreditamos, o Deus que se manifestou a nós em Jesus de Nazaré, é um Deus humano, um Deus connosco, o Emanuel (Mt 1,23; 28,20; Jo 1,14). Ao nos depararmos com um recém-nascido, o Deus que se fez um de nós, experimentamos sentimentos de ternura. Um nascimento vivido de perto é uma verdadeira maravilha: tocamos, poderíamos dizer, as fontes da vida, as fontes da nossa própria humanidade, e nos tornamos mais “humanos” depois de tocá-Lo.  Às vezes temos ideias estranhas sobre Deus: um personagem frio, distante, implacável; um juiz rigoroso, talvez vingativo ou rancoroso. Vejamos hoje: Deus acampou entre nós, quis fazer sua a nossa condição, desde dentro!: "apareceram a bondade de Deus e o seu amor pelo homem". Porque? Bem, porque sim, porque Deus é assim: “não por causa das obras de justiça que praticamos, mas segundo a sua própria misericórdia ele nos salvou”. "Deus é amor". 

Fazer-se homem significa tornar-se homem; porque não existem homens genéricos, e sim homens e mulheres concretos. Mas através deste ponto de inserção, Deus entra em comunicação com toda a humanidade: com toda a multidão de homens e mulheres, na sua amplitude geográfica e no seu percurso histórico. Todos nós podemos dizer. “Deus se fez um de nós; em Jesus posso chamar Deus de tu; sou homem e nada do humano me é estranho: por isso também não me é estranho aquele Deus que se fez homem, Jesus”. Mais ainda: Deus entra em comunhão com toda a criação material, pois o nosso corpo nos une a todo o universo. O Natal é um hino à fraternidade humana, à família humana, que é a família de Deus. Ninguém está excluído dela: “a bondade de Deus apareceu... segundo a sua misericórdia, ele nos salvou”. Ele não se comoveu com as nossas boas obras (embora faam parte de ser filhos de Deus), nem com a cor da nossa pele, nem com o som da nossa língua, nem com o nível da nossa civilização, nem e nem... Ele nos ama, ama cada um individualmente. 

A encarnação liga Deus a um homem e – através dele – a toda a humanidade e à criação. O Natal é a demonstração palpável (e não com palavras ou raciocínios, mas com ações) do amor de Deus. 

5. Natal: Revelacão De Deus Que Nos Ama e  Proclamação Da Dignidade Humana. 

Este é o mistério que celebramos no Natal: O ENCONTRO DEFINITIVO DE DEUS SALVADOR COM O HOMEM. “Deus amou o mundo de tal maneira que nos enviou o seu próprio Filho” (Jo 3,16), a Palavra pela qual todas as coisas foram criadas, reflexo da glória do Pai e marca do seu Ser, Luz e Vida verdadeira: Ele compartilhou a nossa carne e o nosso sangue, tornou-se nosso irmão, um homem como nós em tudo, menos no pecado. Ele desceu às profundezas da nossa humanidade, até à própria morte. Por isso o Natal é A GRANDE PROCLAMAÇÃO DO AMOR DE DEUS E DA DIGNIDADE, DOS DIREITOS DO HOMEM. Para os crentes não há maior razão para valorizar o homem e defender os seus direitos. 

O Natal é uma REVELAÇÃO DO DEUS INVISÍVEL, que tantas vezes acreditamos estar distante, porque “o Filho único, que está no seio do Pai, no-lo deu a conhecer”. É por isso que a encarnação do Filho de Deus e a divinização do homem se unem nesta festa natalina, início da nossa salvação.

6. Jesus É Nossa “Shekiná”        

A Palavra se fez carne e acampou entre nós. Isto quer nos dizer que Deus se fez homem, como um de nós, que Jesus Cristo é o rosto de Deus, o lugar de Deus para o homem. Jesus Cristo é agora nossa “Shekiná”, a morada de Deus entre nós, sua presença em cada um de nós, na Igreja e no mundo. Em Jesus e por Jesus Deus sai ao encontro do homem. Em Jesus e por Jesus Deus não é um ser abstrato e distante, mas é Deus-Conosco, em meio de nosso mundo, inserto em nosso mundo que já não podemos distorcer. No nascimento de Jesus Deus põe sua tenda no acampamento da humanidade fazendo-se solidário do empenho de construir a fraternidade universal. O nascimento de Jesus significa o encontro de Deus com os homens, mas significa também o encontro do homem, de todos os homens com Deus. Ao vir Deus em Jesus Cristo a este mundo abre-se definitivamente o caminho dos homens a Deus. Desta sorte nos é dada a possibilidade de alcançar a suprema aspiração do homem: ser divino. Por isso, por muito angustiados que estejamos, por preocupados que nos tenham a mil dificuldades da vida, seremos vencedores, pois Deus vem morar conosco: Deus se fez carne e habitou entre nós.        

Crer ou não crer em Deus, se é de verdade, é algo que marca uma vida. Mas também é algo que marca nosso modo de ser, o ter uma idéia ou outra de Deus. Em Jesus e por Jesus, nós, os homens, filhos todos de Deus, devemos aprender a viver como em uma família, como uma grande família. Não é o mesmo crer em um Deus onipotente, distante, autoritário e justiceiro, que em um Deus pai, amor, próximo e misericordioso. Deus é um mistério de amor. Deus é amor, um amor que se entrega até a morte pela salvação do homem. Tudo o que Jesus diz e faz tem este sentido. É um amor que perdoa. O perdão é, por isso, um sinal de Deus. 

7. Deus Que Se Aproxima De Nós Nos Faz Nos Aproximarmos Uns Dos Outros Conseqüentemente       

Deus se fez homem e habita entre nós. Jesus é um Deus que aposta no homem, que está do lado do homem e luta com ele contra as forças do mal. É um Deus comprometido pelo homem, especialmente pelos inocentes e pobres. É um Deus solidário com as nossas dores. Hoje será Natal se escutarmos a Palavra de Deus. Hoje será Natal se acolhermos os irmãos. Hoje será Natal se nos tornarmos próximos para com os demais. Hoje será Natal se formarmos uma família de Deus nesta terra. A comunhão com Deus em Jesus Cristo nos adverte que devemos configurar nossas relações humanas segundo o modelo de nossas relações com Deus. Natal é o Advento de Deus que se aproxima dos homens como seu dom e sua Palavra. Por isso, devemos nos aproximar uns dos outros e converter as relações mercantis e de simples justiça em relações pessoais e de amor fraterno. Se quisermos humanizar a convivência, temos que descobrir de novo a Palavra Encarnada e a importância do dom de Deus.  Se Jesus é um dom de Deus para nós, então temos que aprender a ser generosos para dar e receber acima da justiça, pois isto é um modo de ser generoso para si mesmo e com Ele que nos dá o que não podemos merecer.   

8. Natal: Deus Dirige-Nos Sua Palavra        

A Palavra estava com Deus, a Palavra era Deus, e a Palavra se fez carne e acampou entre nós”.        

A Palavra é Deus. A palavra de uma pessoa é a expressão de sua intimidade, de seu pensar, de seu sentir, de seu querer, de seu interior, de seu mistério pessoal e de sua vida. É a manifestação ativa de um eu para deixar-se conhecer e ser aceito ou recusado. A pessoa que fala com sinceridade, compromete a escutar. Quando a palavra sincera, que expressa a vida de quem fala, é escutada como igual sinceridade, há comunicação. A palavra vazia, vã é a mais contrária à Palavra de Deus.         

O que chamamos Palavra de Deus é a expressão de sua intimidade, de seu pensamento e de sua vontade, de seu ser pessoa, de seu mistério e de sua vida. Expressão total, plena e perfeita. Deus cria por Sua Palavra, recria por Sua Palavra e se fez Palavra em Jesus Cristo. Quando Deus nos fala, nós, homens, ficamos existencialmente envoltos. A Palavra de Deus é criável porque é criadora: fala e nasce o mundo, fala e são curados os enfermos, fala e os pecados são perdoados, fala e os mortos voltam a viver. Jesus, Palavra do Pai, nos revela a vida íntima de Deus, que é a luz dos homens.        

A Palavra é Deus. Deus não é um ser alienado. É um Deus que fala e Sua Palavra é entranhadamente perto: fez-se um menino e nasceu em Belém. Nosso Deus não é um Deus mudo; não é um Deus distante, displicente e ameaçador. É um Deus que nos fala, e Sua Palavra se chama de uma vez por todas, Jesus Cristo. Desde então sempre é Natal, porque sempre está essa Palavra de Deus dirigida vitalmente a nós em sinal de amizade e de aliança. Este é o mistério que hoje celebramos e que nos plenifica de alegria e entusiasmo para viver intensamente.        

Por este Salvador, a Palavra Divina feita pessoa que nasceu para nós, celebrando a Eucaristia de Natal é que sabemos apreciar o gesto de Deus cheio de graça e de verdade. Por este Salvador que nasceu para nós é que o mundo tem esperança. Por causa do Salvador o futuro se apresenta como uma grande promessa, pois ele é para sempre, Deus-Conosco.

        

Por isso, não estamos celebrando uma data ou um aniversário ou uma doutrina. Estamos celebrando uma Pessoa que vive, que está presente na nossa vida permanentemente: O Filho de Deus, o Irmão, o Salvador. Ele é o Deus que se fez homem para nos fazer partícipes da vida de Deus. É o Filho de Deus que se fez homem para nos dar a alegria de saber que nos aceita como filhos. Somos filhos no Filho encarnado. Ser filhos de Deus não é somente motivo de grande alegria, mas também a possibilidade e a exigência de uma vida para todos os homens. Ser filho de Deus é imitar Cristo, primogênito entre muitos irmãos, e, portanto, viver para os demais. Com o Natal de Jesus alcançamos a máxima dignidade de pessoas humanas chegando a ser filhos de Deus. E isto se alcança mediante uma só atividade: a prática do amor fraterno. Este é o único caminho para conhecer Deus de verdade: conhecer Jesus de Nazaré, reconhecê-lo como a Luz que ilumina este mundo (Jo 8,12). Em Jesus Deus nos propõe: saber-se irmão dos outros homens com a força do amor de Deus que nos amou primeiro (1Jo 4,10). Através dos irmãos chegamos a Deus.        

Se Jesus é a Palavra Divina, então, nós devemos ajustar nossas vidas à esta Palavra Primordial, devemos escutá-la para ter vida. Se Jesus é a Palavra Divina dirigida ao homem, então façamos da palavra algo mais que um código para armazenar e expandir informações úteis, façamos dela comunhão e encontro pessoal. 

9. Na Palavra Está A Vida E A Vida É A Luz Dos Homens        

A finalidade de Deus ao criar o mundo é a comunicação de vida. E esta é a missão de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham abundantemente” (Jo 10,10). Jesus nos revela a vida plena que já está no interior do homem. A plenitude de vida está contida no projeto de Deus segundo o qual o homem foi criado. Nós percebemos que estamos destinados à plenitude e que tal deve ser o objetivo de nossa existência e atividade.        

Temos que entender a vida como atividade encaminhada a conseguir a plenitude, a perfeição, a felicidade, a justiça e o amor para todos. Atividade que nos leva a descobrir que somente a vida eterna pode contentar e saciar nosso pobre coração. O segredo da vida e de sua fecundidade está na amplitude no olhar e na força que pomos em realizá-las. A vida é uma atividade criadora e entrega de si mesma. A vida precede à doutrina e à verdade. A verdade nunca é teórica e sim explicação ou defesa de um fato de vida já existente.        

Em Jesus está a vida, pois ele é a Palavra Divina. Por isso, aceitar Jesus é aceitar a vida tal e como se manifesta em sua pessoa e se expressa em suas obras. Uma vida que é norma de toda atividade verdadeiramente humana, oferecimento de plenitude e que está dentro de cada homem esperando ser desenvolvida.        

O evangelista João identifica a vida com a luz porque é visível e reconhecível. A vida de Jesus de Nazaré, experimentada e aceita, se revela como verdade. O brilho da verdadeira vida é a verdade que se impõe por sua evidência. Para o homem a única luz-verdade é o esplendor da vida. 

10. A Encarnação É O Mistério Do Amor Apaixonado De Deus Por Nós         

A encarnação do Filho de Deus desafia a lógica humana ou do mundo porque ela só poderá ser aceita a partir da fé no amor de um Deus que ama os homens até o extremo de se tornar igual a eles para que cada ser humano se torne um filho ou uma filha de Deus: “Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único, para que quem crer não pereça, mas tenha vida eterna”(Jo 3,16). Fora do amor deste Deus apaixonado pela humanidade não entenderíamos nada da encarnação. A encarnação é uma mensagem forte do amor de Deus por nós todos. E Jesus levará seriamente este amor até aceitará ser crucificado na cruz. O mistério da encarnação é o mistério do amor de Deus que assume a condição humana para salvá-la e divinizá-la. O amor sempre fascina e atrai qualquer ser vivo e o transforma em criatura amigável e amável. O amor dá a segurança, facilita o crescimento humano e cria a harmonia entre as pessoas ou entre os seres vivos. 

11. Na Encarnação Deus Se Humaniza          

No Natal celebramos a humanização de Deus. Na encarnação Deus introduziu o germe divino em nossa natureza mortal para que não ficássemos entregues à efemeridade e debilidade da natureza humana. Ao se encarnar Deus quer ensinar o ser humano a descobrir sua dignidade divina, pois Deus se torna um deles. O Papa Leão no seu sermão de Natal dizia: “Cristão, reconhece tua dignidade! Tomaste parte na natureza divina, não regresses à velha indigência, e não vivas abaixo de tua dignidade!” Isto nos desafia a viver de acordo com nossa dignidade divina.          

A encarnação de Deus também nos ensina a sermos mais humanos. Para podermos servir bem os outros, para podermos trabalhar com muito ardor devemos ser muito humanos. A encarnação nos mostra como podemos nos tornar verdadeiramente humanos. Cristo desceu do céu até o nível da humanidade. Por isso, para sermos muito humanos o primeiro passo consiste em ter coragem para descer à nossa humanidade e terrenidade. Nós fomos tirados da terra. Cristo desceu até nós para que, por ele, como por uma escada, possamos subir até Deus. A meta desta descida é a nossa elevação pelo Espírito de Deus. Apenas quem aceita a sua humanidade é pode subir ao céu. Se Deus não nascer em nós, permaneceremos alienados de nós mesmos e dos outros. Cristo pode nascer até mil vezes em Belém, mas se nenhuma vez em nós, em nosso coração, em nosso lar, permaneceremos eternamente perdidos e seremos muito desumanos para com os outros. Mas se Cristo nascer em nós, entraremos em contato com o nosso próprio ser, com a imagem intocada e genuína de Deus. Conseqüentemente, nossa vida ficará verdadeiramente nova, sã, iluminada e mais humana.

12. Deus Se Manifesta Como Uma Criança             

No Natal Deus vem ao nosso mundo como uma criança e não como um adulto. Ninguém resiste diante de uma criança. A criança é uma criatura frágil, desamparada, indefesa e dependente totalmente dos pais ou dos adultos. Por ser frágil não podemos agarrá-la com força. Ao contrário precisamos nos aproximar dela com carinho e mansidão. Para uma criança não fazemos discursos inteligentes, mas usamos somente palavras que vêm do coração ou alguns gestos carinhosos. A criança quer sempre aprender. Ela confia nos outros e se envolve. Vive o momento presente sem se preocupar o que vem a ser porque confia nos pais. Está sempre aberta ao novo. Quando duas crianças se brigam, em poucos minutos elas voltam a brincar juntas novamente como se nada acontecesse anteriormente.         

Se Deus vem ao nosso encontro como uma criança é porque Ele quer nos libertar de nossa megalomania e de querermos ser sempre fortes e independentes. A nossa força tem limites, por isso nenhum ser humano pode ter pretensão de se sentir forte, dispensando a ajuda dos outros. O Natal pretende nos lembrar a criança divina em cada um de nós. No fundo do coração cada um carrega uma criança divina. Quando cada um entrar em contato com a criança dentro de si, sua vida ganha um pouco de leveza e se torna autêntica. O Natal, pela encarnação do Filho de Deus através de uma criança, nos ensina a olhar para dentro de nós. Dentro de nós não encontramos apenas problemas, divisão, confusão, desejos, ilusões frustradas, feridas e mágoas. Dentro de nóstambém Cristo(cf. 1Cor 3,16s). Por isso, o que celebramos hoje não é um fato passado que dorme na história. O mistério do Deus-feito-homem tem lugar hoje, no agora da festa. Em cada Eucaristia entramos em comunhão com Ele e ao terminar a missa nós não vamos sair sozinhos, e sim vamos sair com ele, pois ele é o Deus-Conosco. 

13. Pela Encarnação Aprendemos A Encontrar Deus Nas Pequenas Coisas        

O nascimento de Jesus é atestado por Lucas quando escreve que Maria “envolveu seu filho em faixas”(v.7). Esse detalhe é tão realístico a ponto de o anjo do Natal divulgá-lo entre os pastores como sinal para poder reconhecer o filho de Maria(v.12). Graças a esse sinal que “os pastores, às pressas, vão vê-lo”, reconhecem e encontram o menino Jesus. O nascimento de Jesus, então, é descrito com a maior simplicidade.        

Tudo isso é o mistério da nossa que proclamamos como cristãos: nas coisas pequenas revelam-se as grandes; no pequeno pão está presente o Filho de Deus. No cálice está presente o sangue de Jesus; na comunhão eucarística que recebemos, Deus nos abraça e vem ao nosso encontro; na doença que nos faz sofrer e na morte que nos impõe medo, há a presença misericordiosa do Filho de Deus que nos convida a entrarmos com ele em seu Reino. Em todas as circunstâncias da vida do dia-a-dia, mesmo as mais infelizes, mediante as incompreensões, as doenças, e a monotonia da vida, está sempre presente o lado amoroso, o lado da alegria, do Espírito Santo, da abertura do coração.  O fascínio do Natal, mais forte que todas as luzes multicoloridas acesas pelo consumismo, está aqui: encontra-se o sentido da vida, do homem, das coisas simples, sentido do qual ninguém deveria afastar-se, porque nele reside o verdadeiro, o autêntico. Quem souber olhar bem longe com os olhos do coração e com a inteligência da , ali encontrará um germe da Presença divina que situa o homem na plena verdade de si mesmo.        

O Natal nos ensina a buscarmos e a vermos o inefável mistério divino não em coisas incomuns e maravilhosas, mas naquilo que tem aspecto cotidiano, simples e terreno. Isto quer dizer que, a partir do Natal, tudo que é humano simplesmente pode ser como que manifestação divina, sinal visível da presença de Deus. Minha relação com o aspecto cotidiano desta vida será o critério para saber se eu descobri ou não o sentido do Natal. 

14. O Natal É Uma Mensagem Da Paz       

“De repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar Deus dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama’ “(vv.13-14). A distância entre o Criador e a criatura, simbolizada pela menção do “céu” e da “terra”, é superada pela nova e definitiva Aliança de Deus com os homens: o Deus “nas alturas” inclina-se sobre a “terra” dos “homens que são objeto de sua benevolência. Deus nos salvou por sua misericórdia(Tt 3,4-5). Pode-se dizer que a encarnação é uma lágrima da compaixão divina para o homem que se encontra na miséria do pecado. O essencial da encarnação, portanto, é o amor. Deus ama o homem para torná-lo bom e feliz. Deus renuncia a si mesmo por amor. Deus veio para participar dos nossos sofrimentos e indicar o caminho de amor para não sofrermos sem sentido. Se soubermos renunciar a nós mesmos por amor, seremos felizes e seremos capazes de fazer os outros felizes.        

Para que as pessoas tenham um Feliz Natal, não necessariamente os problemas e sofrimentos devem estar longe, ausentes. Eles podem até estar presentes e sendo vividos por elas. Para que as pessoas tenham um Feliz Natal, os cartões e presentes não são tão importantes. E podem até nada significar. Para que as pessoas tenham um Feliz Natal, o dinheiro não deve ser prioridade; muito menos significado primeiro das comemorações. Para se ter um Feliz Natal, o importante é: Estar em PAZ com Deus. Estar em PAZ com o irmão. Estar em PAZ consigo(a) mesmo(a). O que se celebra no Natal é o nascimento do Deus- Criança , autor e senhor da Paz. Ele não nasce em berço de ouro. Nem mesmo pode gozar do calor de uma simples hospedaria.  Naquela noite fria de Belém, o Filho de Deus, o Deus- Criança, nasceu numa estrebaria, aquecida não pelo acolhimento dos hoteleiros, mas pelo carinho de alguns animais e pelo afeto de Maria e José, que, apesar dos trabalhos pelos quais passaram para acolher bem o recém-nascido, estavam em Paz. Natal é a Festa da Paz. Os problemas e sofrimentos podem até tirar um pouco do brilho e da alegria, enquanto sentimento humano. Jamais, porém, o silêncio interior, perfume da Paz, enquanto fruto do Deus que se faz CRIANÇA e habita entre nós.        

Jesus Cristo, Verbo de Deus está a caminho em busca de uma nova Belém. Ele quer nascer também num coração egoísta e fechado para torná-lo mais altruísta e compassivo. Para isso, o coração terá que estar aberto para deixar o Senhor entrar: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo”(Ap 3,20). Ele quer continuar a nascer nos corações aquecidos pelo amor. Ele quer nascer em seu lar, em suas conversas, num aperto de mão, pedindo e oferecendo o perdão. Ele quer nascer naquela amizade quetempo você rompeu violentamente por um gesto insignificante e irracional. Ele quer nascer naquela pessoa que morreu no seu coração por uma briga de ponto de vista, esquecendo que cada ponto de vista é apenas vista de um ponto. Ele quer nascer na mulher que você iludiu e enganou e no homem que você explorou sem remorso. Desde que você seja capaz de escutar a Palavra de Deus e pô-la em prática, você também será a mãe de Jesus que faz nascer o Cristo no mundo e na convivência com os outros, e será irmão e irmã de todos com quem convive e trabalha. Se você abrir seu coração para Jesus que está em busca da nova Belém, você será um eterno Natal para todos. 

Palavras De Santo Agostinho Sobre O Deus Que Se Fez Homem

1.   Aquele que fez todas as coisas se fez uma entre tantas coisas. Filho de Deus Pai, mas sem mãe, fez-se Filho do Homem por uma Mãe, mas sem pai. A Palavra, que era Deus antes do tempo, fez-se carne ao chegar o tempo. O Criador do sol colocou-se sob o sol. Quem enche o mundo repousa num presépio. Grande na forma de Deus; pequena na forma de homem. Mas de tal modo que nem sua grandeza é diminuída por sua pequenez, nem sua pequenez absorvida por sua grandes. (Serm. 187,1,1). 

2.   Repousa em um presépio, mas contém o mundo; nutre-se de peitos humanos, mas é alimento dos anjos; está envolto em fraldas, mas veste os homens de imortalidade; não encontra lugar na hospedaria, mas faz sua morada no coração dos que creem. Para que a fragilidade se fizesse força, a própria Força se faz fragilidade. (Serm. 190,3,4)

3.   Cristo se fez temporal para que tu sejas eterno. Tu te fizeste temporal pelo pecado. Ele se fez temporal para perdoar-te o pecado. (In Epist. Joan. 2,10)

4.   Veio passar fome e dar fartura, ter sede e dar de beber, vestir-se de morte e revestir-se de imortalidade. Veio pobre para fazer rico. (In ps. 49,19)

5.   Pela caridade Ele está conosco na terra e nós com Ele no céu. Ele está conosco na terra por seu amor compassivo. Nós estamos com Ele no céu pela esperança do mesmo amor. (In ps. 122,1)

Feliz Natal.....

Pe. Vitus Gustama,SVD

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