terça-feira, 14 de novembro de 2023

16/11/2023-Quintaf Da XXXII Semana Comum

DEUS ESTÁ EM NÓS E ENTRE NÓS NA VIVÊNCIA DO AMOR FRATERNO  E NA VIVÊNCIA DA SABEDORIA DIVINA

Quinta-Feira da XXXII Semana Comum

Primeira Leitura: Sb 7,22–8,1

7,22 Na Sabedoria há um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, perspicaz, imaculado, lúcido, invulnerável, amante do bem, penetrante, 23 desimpedido, benfazejo, amigo dos homens, constante, seguro, sem inquietação, que tudo pode, que tudo supervisiona, que penetra todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis. 24 Pois a Sabedoria é mais ágil que qualquer movimento, e atravessa e penetra tudo por causa da sua pureza. 25 Ela é um sopro do poder de Deus, uma emanação pura da glória do Todo-poderoso; por isso, nada de impuro pode introduzir-se nela: 26 ela é um reflexo da luz eterna, espelho sem mancha da atividade de Deus e imagem da sua bondade. 27 Sendo única, tudo pode; permanecendo imutável, renova tudo; e comunicando-se às almas santas de geração em geração, forma os amigos de Deus e os profetas. 28 Pois Deus ama tão-somente aquele que vive com a Sabedoria. 29 De fato, ela é mais bela que o sol e supera todas as constelações; comparada à luz, ela tem a primazia: 30 pois a luz cede lugar à noite, ao passo que, contra a Sabedoria, o mal não prevalece. 8,1 Ela se estende com vigor de uma extremidade à outra da terra e com suavidade governa todas as coisas.

Evangelho: Lc 17,20-25

Naquele tempo, 20os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. 21Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘Está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós”. 22E Jesus disse aos discípulos: “Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. 23As pessoas vos dirão: ‘Ele está ali’ ou ‘Ele está aqui’. Não deveis ir, nem correr atrás. 24Pois, como o relâmpago brilha de um lado até o outro do céu, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. 25Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”.

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A Verdadeira Sabedoria Reflete o Divino

“Na Sabedoria há um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, perspicaz, imaculado, lúcido, invulnerável, amante do bem, penetrante, 23 desimpedido, benfazejo, amigo dos homens, constante, seguro, sem inquietação, que tudo pode, que tudo supervisiona, que penetra todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis” (Sb 7,22-23)

O texto da Primeira Leitura (Sb 7,22-8,1), central em Sb 6-9, nos apresenta a mais sublime revelação sobre a sabedoria. Neste texto há  uma enumeração de vinte e uma (21) características do espírito da sabedoria. O número 21 é resultado da multiplicação do 7- sete (perfeição) vezes 3 - três (número divino). O número vinte e um (21) significa, portanto, a perfeição absoluta. O autor pretende, com este número de atributos (características), afirmar a suma perfeição da sabedoria. A perfeição absoluta só pode ser encontrada no próprio Deus. O ser humana não é perfeito, mas perfectível, isto é, ele é chamado a ser perfeito (Mt 5,48).

Queremos destacar para aspecto especial de alguns dos 21 atributos. O primeiro, inteligente. Inteligente é a designação mais frequente do atributo mais importante do espírito (pneuma). Aqui Deus é descrito como espírito inteligente e abrasador. O segundo, Santo. Santo expressa  uma noção emientemente bíblica que se atribui a Deus com frequencia  e em grau singular (cf. Is 6,3) Inteligente e Santo são duas maneiras diferentes, grega e bíblica, de expressar a transecendência. Com isso, o auto de Sabedoria quer sublinhar a suma perfeição da sabedoria. Seguem outros atributos: único e múltiplo: o esírito da sabedoria , sendo um, contém todas as perfeições e produz todos os frutos. Aqui evocam o unigênito de Jo 1,14-17 e múltiplos efeitos que iCor 12 atribui a um mesmo Espírito. Outros atributos: a sutilleza e agilidade. São qualidades que 1Cor 15,43 atribui aos corpos glorificados. Outro atributo é benévolo, é uma inclinação inata para o bem. Há outro atributo: benfeitor, pois derrama seus benefícios sobre todo o universo. Amigos dos homens a quem ama especialmente, faz amigos seus e os conduz a uma imortalidade feliz (Sb 1,6; 6,18; 7,4) é outro atributo da sabedoria. A onipotência é outro atributo: é o atributo exclusivamente divino.

A sabedoria é um sopro do poder de Deus, uma emanação pura da glória do Todo-poderoso; por isso, nada de impuro pode introduzir-se nela: ela é um reflexo da luz eterna, espelho sem mancha da atividade de Deus e imagem da sua bondade”.

O que nos chama a atenção é o autor diz que a sabedoria éum sopro do poder de Deus”, “um reflexo da luz eterna”, “espelho da atividade de Deus”.

No livro de Sabedoria a sabedoria vai se personificando cada vez mais. Esta personificação já se notava no livro dos Provérbios e do Eclesiástico. Mas aqui a sabedoria sublinha seu caráter divino. Com isso está se preparando a vinda de Jesus, a Palavra Viva de Deus. A sabedoria divina se personifica em Jesus Cristo. O Deus encarnado.

Por isso, não podemos ler este formoso louvor à sabedoria sem pensar em Jesus Cristo: Ele não é somente o Mestre que Deus nos enviou, e sim a Própria Palavra de Deus feita pessoa: “A Palvra se fez carne” (Jo 1,14). Jesus Cristo é a sabedoria em pessoa. A Basílica de Santa Sofia em Istambul, por exemplo, não está dedicada a nenhum santo ou santa e sim à “Santa Sabedoria”, que é Cristo. A sabedoria é Luz de Luz. Quem a contemplar, estará contemplando o próprio Deus.

A sabedoria é o melhor dom que podemos apetecer. É uma sabedoria que não é somente uma sensatez humana que é muito e sim também uma luz que impregna nossa visão das coisas e dos acontecimentos, vendo-os a partir de Deus. Essa sabedoria penetra tanto em nossa vida a ponto de termos facilidade de descobrir o sentido das coisas e dos acontecimentos. A sabedoria é como uma luz que ilimina a realidade que faz cada coisa se apresenta como ela é aos nossos olhos. Há pessoas simples, sem instrução acdaemica que podem ter esta sabedoria. Há pessoas instruídas sem sabedoria.

Quando escutamos ou lemos a Palavra de Deus nas nossas celebrações ou nas leituras particulares, vamos identificando nossa mentalidade com a mentalidade de Deus? Será que vemos as coisas com os olhos de Deus, no sentido de que não há nada que seja acaso para Deus. A sabedoria aumenta o conhecimento recebido na fé, outorga uma inteligência mais profunda do acontecimento da salvação, da vontade divina e das obrigações morais que dela derivam.

O Salmo Responsorial de hoje (Sl 118) quer nos trazer de volta para o caminho reto: “É eterna, ó Senhor, vossa palavra, ela é tão firme e estável quanto o céu. Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina, ela dá sabedoria aos pequeninos. Possa eu viver e para sempre vos louvar; e que me ajudem, ó Senhor, vossos conselhos”.

O Reino De Deus É o Reino De Amor e De Fraternidade

Continuamos escutando as últimas e importantes lições de Jesus para todos os cristãos dadas na sua ultima viagem para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Na passagem do evangelho deste dia Jesus quer que abramos o coração e os olhos para perceber a presença do Reino de Deus em nós e entre nós.

Os fariseus voltaram a fazer sua pergunta para Jesus, e desta vez sobre o quando da vinda do Reino de Deus (eles perguntam sobre o momento exato da vinda do Reino de Deus). Quais são seus sinais? Trata-se de uma pergunta apocalíptica. Este tipo de pergunta normalmente surge no momento de crise como no da perseguição ou no momento da ocupação estrangeira ou em outras situações semelhantes em que o povo local ou as pessoas sofrem bastante.

Era assim a experiência do povo eleito. No tempo de perseguição e de domínio estrangeiro na Palestina o povo começou a se interessar sobre a chegada do Reino de Deus para acabar com a perseguição e o domínio do poder estrangeiro que era considerado como um poder pagão (impuro). Em outras palavras, dentro desta perspectiva, para os judeus na época os sinais do Reino de Deus seriam uma força espetacular e um poder avassalador que eliminaria o poder estrangeiro (poder romano) a fim de restabelecer o reino esplendor do rei Davi.

Na mente dos fariseus estava viva a memória da libertação da escravidão do Egito que despertava a esperança de acontecer a mesma libertação, que desta vez, do poder estrangeiro (romano) instalado na Palestina.

A memória nos ajuda a encurtarmos a distância e o tempo. A memória nos leva, mentalmente, para os acontecimentos passados. A memória, se for usada corretamente, nos ajuda a renovarmos as forças para continuar nossa luta ou para melhorar a qualidade de nossa vida. Dizia o filósofo Sören Kiekergaard: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. Muitas vezes começamos a entender o sentido de uma experiência depois que nos distanciamos do seu acontecimento e depois que criamos um momento de silêncio e de reflexão. Para quem acredita em Deus não há coincidência, e sim a providência. Por incrível que pareça, Deus nos fala sobre muitas coisas de nossa vida em todos os momentos. A vida e o universo são o livro divino em que Deus escreveu algo sobre nós e obviamente sobre Ele próprio. Basta termos tempo para reler nossas experiências na tranqüilidade de nossa meditação a fim de encontrar seu sentido. Cada dia é uma página onde Deus escreve sua mensagem para nós e sobre nós. Nenhum dia pode nos atrapalhar na leitura da mensagem de Deus. Cada dia é uma página nova de nossa vida.

Jesus respondeu aos fariseus com as seguintes palavras: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘Está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós”.

As palavras de Jesus são muito profundas. O Reino de Deus é o Reino de amor, de corações, de sentimentos fraternos, de fé, de fidelidade, de igualdade, de mútuo respeito, de comunhão como irmãos, de entrega pelo bem de todos a exemplo do próprio Jesus e por isso, está ao alcance de todos. Em Jesus se realiza o Reino de Deus: “O Reino de Deus está entre vós”. Jesus é o Rei de amor, de fraternidade, de dignidade, de igualdade, de compaixão, de reconciliação, de esperança e assim por diante. Vivendo como Jesus viveu será cumprido em nós o que o Senhor nos disse hoje: “O Reino de Deus está entre vós”. Se não vivermos como Jesus viveu, o Senhor e os outros vão nos dizer: “O Reino de Deus não está entre vós”, pois “Não existem sinais premonitórios extraordinários, externos à historia humana, que possam dispensar o homem da liberdade e da responsabilidade pessoal.  O Reino de Deus diz respeito à história humana confrontada com a ação e a presença de Deus, como revelado naquilo que Jesus faz e diz [cf. Lc 11,20]” (Rinaldo Fabris). O Reino de Deus está dentro daqueles que vivem segundo a vontade de Deus que se resume no amor fraterno como concretização do amor a Deus. Eles são sinais da presença de Deus neste mundo.

Além disso, através de Sua Palavra de hoje Jesus nos faz um apelo à responsabilidade humana de nos prepararmos, com toda a liberdade e seriedade para o encontro com o Senhor diariamente, pois “O Reino de Deus está entre vós”. A consciência da presença do Reino de Deus entre nós muda nossa maneira de viver e conviver, nos coloca na ordem das coisas e da escala de valores e de prioridades, nos serena apesar de tudo, nos tira de qualquer desespero. Essa consciência não nos faz corrermos, de cá para lá, em busca de fatos extraordinários ou milagres. Observando as palavras de Jesus e sua maneira de viver teremos capacidade de perceber o senhorio absoluto de Deus na história humana. Quem deixar Deus como Senhor de sua vida, será transformado em manifestação de Deus neste mundo e todos vão perceber e dizer: “O reino de Deus está nele”. Se o Reino de Deus está entre nós, não devemos ficar desesperados quando aparecer alguma dificuldade, pois quando se fala do Reino inclui o próprio Rei que é Deus. “O Reino de Deus está entre vós” equivale a nos dizer “Deus está entre vós. Deus está convosco” (cf. Mt 28,20).

P. Vitus Gustama, svd

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