quarta-feira, 22 de novembro de 2023

24/11/2023-Sextaf Da XXXIII Semana Comum

HONRAR E RESPEITAR O ESPAÇO E O TEMPO SAGRADOS SÃO TRADUZIDOS NO AMOR FRATERNO

Sexta-Feira da XXXIII Semana Comum

Primeira Leitura:1Mc 4,36-37.52-59

36Naqueles dias, Judas e seus irmãos disseram: “Nossos inimigos foram esmagados. Vamos purificar o lugar santo e reconsagrá-lo”. 37Todo o exército então se reuniu e subiu ao monte Sião. 52No vigésimo quinto dia do nono mês, chamado Casleu, do ano cento e quarenta e oito, levantaram-se ao romper da aurora, 53e ofereceram um sacrifício conforme a Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que haviam construído. 54O altar foi novamente consagrado ao som de cânticos, acompanhados de cítaras, harpas e címbalos, na mesma época do ano e no mesmo dia em que os pagãos o haviam profanado. 55Todo o povo prostrou-se com o rosto em terra para adorar e louvar a Deus que lhes tinha dado um feliz triunfo. 56Durante oito dias, celebraram a dedicação do altar, oferecendo com alegria holocaustos e sacrifícios de comunhão e de louvor. 57Ornaram com coroas de ouro e pequenos escudos a fachada do templo. Reconstruíram as entradas e os alojamentos, nos quais puseram portas. 58Grande alegria tomou conta do povo, pois fora reparado o ultraje infligido pelos pagãos. 59De comum acordo com os irmãos e toda a assembleia de Israel, Judas determinou que os dias da dedicação do altar fossem celebrados anualmente com alegres festejos, no tempo exato, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu.

Evangelho: Lc 19, 45-48

Naquele tempo, 45Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores. 46E disse: “Está escrito: ‘Minha casa será casa de oração’. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões”. 47Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-lo. 48Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar.

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Consagração Do Templo De Deus e Respeito Pela Casa De Oração

O altar foi novamente consagrado ao som de cânticos, acompanhados de cítaras, harpas e címbalos, na mesma época do ano e no mesmo dia em que os pagãos o haviam profanado

A Primeira Leitura nos fala da vitória final de Judas Macabeu e suas tropas sobre as tropas de Antíoco e a festa da nova consagração do Templo no inverno do ano 164 a.C. Eles comemoraram a vitória com uma festa que durou oito dias.

Gozosos por seu triunfo e com uma clara atitude de fé, no dia em que se fez o aniversário da profanação por parte dos pagãos sob o domínio do rei Antíoco, Judas Macabeu e os seus ofereceram sacrifícios de reparação a Deus e consagraram novamente seu altar “ao som de cânticos, acompanhados de cítaras, harpas e címbalos”. E Judas Macabeu “determinou que os dias da dedicação do altar fossem celebrados anualmente com alegres festejos, no tempo exato, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu”. No tempo de Jesus esta festa era celebrada no nono mês lunar judaico (Kisleu) que caia em Novembro e Dezembro, uma festa da dedicação (Janukká) que era chamada também “Festa das luminárias” porque eram acendidas muitas lâmpadas (Cf. Jo 10,22).

A restauração do Templo, quando havia tantas coisas para sanar e repor, é um símbolo da importância que dava aquele povo para a vida de fé, para o culto e para a Aliança com Deus. O povo tira tudo que é profano de sua vida e do Templo onde se encontra com Deus.

Esta festa pode ser um estímulo para nós. A Eucaristia ou a vida sacramental ou o respeito pelo templo (igreja física) como lugar de oração, da escuta da Palavra de Deus, de meditação e não de bater papo são bons sinais de que cuidamos dos valores mais profundos da vida cristã que abrange também os valores mais humanos como o respeito pela dignidade e igualdade das pessoas, o respeito pela natureza etc. O culto e nossas celebrações devem estar unidos ao estilo de conduta e da coesão a todo o conjunto da vida pessoal e comunitária. O silêncio nas nossas celebrações é um dos gestos simbólicos menos entendidos e praticados por nós. Quem não sabe criar o silêncio, a eternidade não faz presente na sua vida. Há muita conversa e barulho nas nossas celebrações. No entanto a Igreja nos ensina que um dos meios para promover a participação ativa é o silêncio para escutar (cf. SC 30). A liturgia, na verdade, nos educa para saber escutar. Não só quando Deus, por meio dos leitores, nos transmite a mensagem de sua Palavra, mas também quando o presidente da celebração dirige a Deus sua oração em nome de todos. Somente aquele que sabe calar e escutar (silêncio) tem condição de pronunciar palavras plenas de sentido e de autoridade. Em nosso próprio interior temos que construir o Altar onde oferecemos nossa própria vida como uma contínua oferenda grata ao Senhor por tudo que temos e somos.

Templo De Deus e O Homem-Templo

Terminada a etapa das lições do caminho (Lc 9,51-19,28), Jesus se encontra, finalmente, em Jerusalém e continua dando suas ultimas lições antes de sua Paixão e Morte (Lc 19,29-21,38). 

A vinda do Senhor Jesus ao Templo, início (Lc 2,22) e término do evangelho da infância (Lc 2,42s) é também o término da vida pública, é o acontecer da promessa última do Antigo Testamento (Ml 3,1ss): a visita de Deus ao lugar da sua morada. A morada de Deus foi abandonada porque cheia de abominações, reduzida a um covil de ladrões (Jr 12,7; 7,1ss); o culto ao dinheiro tinha substituido aquele culto do único Senhor. Agora Jesus entra para purificá-la e enchê-la de Glória: lança fora o ídolo impuro e em seu posto coloca a si próprio e a sua Palavra. As pessoas que O escutam serão as pedras vivas do novo Templo. Assim  será cumprida a profecia que quer como casa de oração (Is 56,7) e o homem entra em comunhão com Deus, já presente em Jesus e sua Palavra. 

Na passagem do evangelho deste dia o evangelista Lucas nos apresenta Jesus expulsando os vendedores do Templo. Trata-se do primeiro gesto profético de Jesus no Templo de Jerusalém. Jesus atua como os profetas clássicos que, primeiro, faziam alguma ação simbólica e logo em seguida, pronunciavam seus oráculos. 

A ação simbólica de Jesus no texto de hoje é expulsar os vendedores do Templo. Logo em seguida Jesus pronuncia dois oráculos. O primeiro oráculo é tirado de Is 56,7 sobre o caráter do Templo como casa de oração. O segundo oráculo é tirado de Jr 7,1-15, um texto que inspira toda a ação e o pensamento de Jesus. Para Jeremias e Jesus o Templo se transforma em uma cova de bandidos porque nele encontram os assassinos e os idólatras que matam, oprimem e exploram até os mais pobres.

A intervenção de Jesus no Templo na expulsão dos vendedores é uma chamada de atenção para recolocar nossa atitude religiosa num plano de autenticidade e sinceridade. O espaço sagrado e o tempo sagrado (momento de oração e de celebração) devem adquirir seu verdadeiro sentido como forma de encontro com Deus que s traduz na vivencia do amor fraterno.  Ambos (o espaço sagrado e o tempo sagrado) têm que assumir sempre a forma da intercessão e da busca do perdão de Deus para um coração arrependido: “Minha casa será casa de oração”. 

Diante da intervenção de Jesus na expulsão dos vendedores do Templo “Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matar Jesus”.  Enquanto que o povo, na sua simplicidade, não encontrou nenhuma dificuldade para aceitar a mensagem de Jesus, como Lucas nos relatou: “o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar”.  

O valor de nossa religiosidade e o de nosso verdadeiro encontro com Deus que dão sentido para toda nossa existência dependem da escolha que fazemos entre estas duas formas de receber a mensagem de Deus. 

Nem sempre estamos prontos ou preparados diante da intervenção de Deus na nossa vida. Como os dirigentes do povo de Israel podemos também assumir atitudes contraditórias diante da intervenção de Deus na nossa vida. Deus quer expulsar de nossa cabeça ou de nosso coração todas as atitudes que querem ocupar o lugar de Deus na nossa vida. Mas por causa de nossos pensamentos pré-fabricados ou pré-estabelecidos acabamos expulsando Deus de nossa vida e permanecemos na nossa vida sem direção, pois vivemos sem escala de valores. Deus intervém na nossa vida com intuito de recolocar nossa vida no seu eixo verdadeiro ou no caminho da salvação. Mas quantas vezes eliminamos ou procuramos algum meio para eliminar o plano de Deus para nossa vida ou tentamos esquecer Sua Palavra inquietante tal como sucedeu na vida dos dirigentes do povo durante a atuação de Jesus em Jerusalém.  

Jamais podemos identificar religião com prática cultual. O culto verdadeiro e autentico tem conseqüências verticais e horizontais. Honramos Deus na medida em que passamos da comunidade cultual para a vida na prática da solidariedade com os irmãos, especialmente com os mais necessitados. Ao sair do templo ou da igreja não podemos fingir não olhar para o irmão que necessita de nossa ajuda. O verdadeiro culto é o culto da vida inteira vivida com fidelidade na vivencia da vontade de Deus e na solidariedade com os irmãos. 

A entrada de Deus e de Sua Palavra na nossa vida quer colocar em questão as nossas atitudes religiosas. Esta entrada serve para desmascarar nosso egoísmo e nosso jogo de interesse em nome de uma vida sem sentido e sem rumo e para tirar de nós um falso sentimento de segurança a fim de nos salvar. A entrada de Deus e de Sua Palavra na nossa vida exige que coloquemos em revisão a nossa religiosidade se é autentica ou falsa. Ninguém pode crer impunemente. A religião não pode nos assegurar a impunidade em nossas más ações, e a religião nunca pode ser considerada como o refugio seguro para malfeitores. Uma religião sem o compromisso de uma conduta coerente em função da vivência dos valores humanos reconhecidos universalmente é um ópio que faz adormecer a própria consciência. Precisamos questionar o questionável e perguntar o perguntável. Precisamos ficar atentos para que nossa prática religiosa não seja mais importante do que o próprio Deus e o ser humano. Onde há o amor fraterno, ali Deus está, mesmo que se trate do ateísmo. Onde não há o amor fraterno, não há o verdadeiro cristianismo, pois o amor fraterno é o mandamento do Senhor (Jo 13,34-35; 15,12).

P. Vitus Gustama,svd

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