BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA,
MÃE DA IGREJA
Segunda-feira Após Pentecostes
Memória obrigatória
Primeira Leitura: Gn 3,9-15.20
9 O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” 10 E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. 11 Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” 12 Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. 13 Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me e eu comi”. 14 Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. 20 E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes.
Evangelho: Jo 19,25-34
Naquele tempo, 25 perto da cruz de Jesus, estavam de pé a
sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26 Jesus, ao
ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher,
este é o teu filho”. 27 Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela
hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. 28 Depois disso, Jesus, sabendo
que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim,
disse: “Tenho sede”. 29 Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa
vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. 30 Ele tomou
o vinagre e disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o
espírito. 31 Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar
que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia
de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos
crucificados e os tirasse da cruz. 32 Os soldados foram e quebraram as pernas
de um e depois do outro que foram crucificados com Jesus. 33 Ao se aproximarem
de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34 mas um
soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.
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Razão Da Memória
A memória da Virgem Maria, Mãe da Igreja, foi incluída no Calendário romano pelo Papa Francisco através do Decreto: Ecclesia Mater, publicado pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, no dia 11 de Fevereiro de 2018.
Para toda a Igreja de Rito Romano, o Papa Francisco estabelece que a memória de Maria, Mãe da Igreja torne-se obrigatória nas segundas-feiras depois da solenidade de Pentecostes. Para o Papa Francisco, a Virgem Maria é Mãe de Cristo e com Cristo é Mãe da Igreja: “De certa forma, este fato, já estava presente no modo próprio do sentir eclesial a partir das palavras premonitórias de Santo Agostinho e de São Leão Magno. De fato, o primeiro diz que Maria é a mãe dos membros de Cristo porque cooperou, com a sua caridade, ao renascimento dos fiéis na Igreja. O segundo, diz que o nascimento da Cabeça é, também, o nascimento do Corpo, o que indica que Maria é, ao mesmo tempo, mãe de Cristo, Filho de Deus, e mãe dos membros do seu corpo místico, isto é, da Igreja. Estas considerações derivam da maternidade divina de Maria e da sua íntima união à obra do Redentor, que culminou na hora da cruz”, diz o Decreto.
“A Mãe, que estava junto à cruz (cf. Jo 19, 25), aceitou o testamento do amor do seu Filho e acolheu todos os homens, personificado no discípulo amado, como filhos a regenerar à vida divina, tornando-se a amorosa Mãe da Igreja, que Cristo gerou na cruz, dando o Espírito. Por sua vez, no discípulo amado, Cristo elegeu todos os discípulos como herdeiros do seu amor para com a Mãe, confiando-a a eles para que estes a acolhessem com amor filial”, continuou o Decreto.
Para o Papa Francisco, através desta Memória a vida cristã pode crescer se for enraizada no mistério da Cruz, na Eucaristia e no SIM incondicional da Virgem Maria: “Esta celebração ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério da Cruz, na oblação de Cristo no convite eucarístico e na Virgem oferente, Mãe do Redentor e dos redimidos”, finalizou o Decreto.
Quando fala sobre Maria, a Mãe da evangelização, na sua exortação apostólica Evangelii Gaiudium, o Papa Francisco escreveu: “Como Mãe de todos, (Maria) é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça. Ela é a missionária que Se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus. Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica. Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus. É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para A ver e deixar-se olhar por Ela. Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Maria oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes: ‘Não se perturbe o teu coração. (...) Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?’” (n.286).
No seu livro A Alegria De Ser Discípulo (Ed. Best Seller, Rio de Janeiro,2017 p.138), o Papa Francisco
escreveu: “Nossa
peregrinação de fé está inseparavelmente ligada a Maria desde que Jesus, ao
morrer na cruz, deu-a a nós como nossa Mãe, dizendo: ‘Eis aí tua mãe!’ (Jo 19,27). Essas palavras servem como um
testamento, legando uma mãe ao mundo. A partir desse momento, a Mãe de Deus
também se tornou nossa Mãe! Quando a fé dos discipulos foi muito testada por
dificuldades e incertezas, Jesus os confiou a Maria, que foi a primeira a
acreditar e cuja fé nunca falhou. A “mulher” se tornou nossa mãe quando ela perdeu
seu divino Filho. Seu coração sofrido se ampliou para dar espaço a todos os
homens e mulheres – todos, sejam bons ou maus -, e ela os ama como amava Jesus.
A mulher que nas bodas de Caná, na Galileia, deu sua cooperação chei de fé para
que as maravilhas de Deus pudessem ser exibidas ao mundo, manteve no Calvário,
viva, a chama da fé na ressurreição de seu Filho, e ela comunica isso a cada
pessoa, com carinho materno. Maria se torna, dessa forma, uma fonte de
esperança e de alegria verdadeira”.
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As leituras são escolhidas em função desta Memória: Gn 3,9-15.20 (Primeira Leitura) e Jo 19,25-34 (Evangelho).
O Gn 3 se refere à situação criada pelo pecado original. Deus intervém como um Juiz no quadro de um processo. Deus interroga os culpáveis, estabelece as responsabilidades e fixa as sanções.
“Onde estás?”. Esta é a primeira perguntal primordial de Deus aos homens. Por que Deus pergunta ao homem “Onde estás”, pois Deus é onisciente (além de ser onipresente e onipotente? Deus não fez essa pergunta para conhecer algo que não o e soubesse, e sim para induzir Adão a tomar consciência da situação em que se encontrava. Ao perguntar “Onde estás”, na realidade o Senhor queria dizer-lhe: “Em que estado te encontras em tua relação comigo, com tua companheira, com o mundo onde vives”?. Esta pergunta vale para qualquer um de nós na atual situação em que vivemos.
Adão e Eva, os primeiros pais, pensaram que comendo o fruto daquela árvore proibida seriam como deuses, isto é, creram e escolheram e desejaram ser eles mesmos os donos de tudo, o critério último de tudo.
Quando o Gênesis nos narra que Deus proibiu comer da árvore da ciência do bem e do mal, nos quer dizer que Deus não queria que os homens se considerassem os proprietários particulares do bem e do mal; não queria que este ou aquele homem chegasse a dizer: “Isso é bom, e isso é mau, porque eu o digo, porque eu quero, porque isso vai ser bom para mim e os demais que me compreendam e me aguentem!”. O plano de Deus, o projeto de Deus, era outro, e não abandonava pelos caminhos da autossuficiência e da insolidariedade e sim pelos caminhos do amor, da partilha, da paz e da harmonia.
E os homens, desde o princípio, romperam este projeto de Deus, e assim estraga ou deforma toda a história humana, pois sem amor, sem paz e sem ordem não haverá a harmonia. “A paz é a tranquilidade da ordem”, dizia Santo Agostinho. E esta ruptura, esta marca que desde o princípio os homens puseram na história, chegou até nós. É isso que chamamos “pecado original” e origina outros pecados. Somos também marcados, de muitas formas, por essa ruptura, esse mal, esse pecado: queremos ser dono de nossa vida, esquecendo-nos que a vida é um dom maior recebido de Deus. O ser humano é um ser vincular. O vínculo é a medula de sua existência. Para tornar-nos aptos, competentes, necessitamos, imprescindivelmente, de colaboração e de ajuda dos outros. O vínculo nos leva a termos o sentimento de pertença. Através da vivência desse sentimento de pertença aprendemos a receber algo de bom dos outros e a dar aos outros o que temos de bom.
Porém, não se trata agora de ficarmos assim, lamentando por estar marcados desse modo, pois precisamente nossa fé nos diz que Deus não quis para sempre esta marca, esta ruptura. Deus não permitiu que os homens fossem condenados para sempre a não poder nos levantar do mal que desde o princípio nos ata. E por isso, ao final da mesma leitura que nos fala da condenação dos primeiros pais, escutamos o anúncio que Deus diz: da estirpe da mulher, ia surgir alguém capaz de destruir o mal e a morte, e de refazer a vida dos homens. Alguém, um homem como nós, Jesus Cristo. Com Cristo será criado novamente o caminho do amor, da paz e da unidade entre os homens. Ele, Jesus Cristo, um homem como nós, um homem que é o Filho de Deus, reconstrói esse caminho: amando totalmente até o fim (Jo 13,1) a ponto de dar a vida pela nossa salvação.
Fomos salvos por Jesus Cristo, que é o Filho de Maria. Por Jesus Cristo, que se fez presente neste mundo graças ao amor, à fidelidade, à generosidade daquela Virgem de Nazaré que se chamava MARIA, e que hoje recordamos nesta Memória, como Mãe da Igreja, de todos, e portanto, Mãe de cada um de nós em particular. Sua atitude de disponibilidade, de colaboração na obra redentora, de confiança incondicional em Deus e de esperança ativa torna Maria um modelo que merece ser seguido pelos cristãos, por todos nós.
“Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”. Junto à Cruz do Cristo Jesus o evangelista João não somente pretende uma mãe que sofre pelo filho, de ponto de vista humana, mas uma discípula disposto a sofrer com o seu Mestre, pois Maria, a Mãe de Jesus, é a primeira discípula do Mestre Jesus que com seu Fiat ela se entrega totalmente à vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
No Evangelho de João, Maria aparece somente duas vezes. Primeiro, Maria atua na realização do primeiro sinal de Jesus (transformou a água em vinho), em Caná, ao inaugurar a missão pública de Jesus (Jo 2,1-11). Segundo, Maria permanece ao pé da cruz, no momento da morte de Jesus, no final de sua missão nesse mundo (Jo 19,25-27). Ao colocar Maria no início e no final da missão de Jesus, João está dizendo que ela tem um lugar especial na vida de Jesus, pois se faz presente nos momentos mais importantes da vida de Jesus. Aqui Maria se apresenta como uma verdadeira discípula de Jesus: fiel até o fim, não se entrega às dificuldades e aos sofrimentos, não se desanima diante dos desafios. Ela é uma mulher muito valente porque ela tem muito fé e amor no coração. Quando se tem fé e amor no coração tudo se encara com serenidade, pois “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós O entregou, como não nos dará também com Ele todas as coisas?... Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,31-32.35).
Quando na fé se dá espaço ao absoluto primado de Deus, a consequência lógica de ser habitado, de ser amado por Deus é sair de si, viver o êxodo sem regresso, que é o amor. O acolhimento da gratuidade do amor eterno torna-se a doação gratuita de tudo que se recebeu. Quem crê e vive da fé, tem capacidade de olhar para fora, aprecia o dom e o comunica. Certamente, respeitamos o dom de Deus quando nos tornamos arca irradiante e quando o restituímos a Deus, que nos estende a mão nos nossos irmãos. Nisto tudo, Maria é nosso grande espelho.
“Virgem e Mãe Maria,
Vós que, movida pelo Espírito,
Acolhestes o Verbo da vida
Na profundidade da vossa fé humilde,
Totalmente entregue ao Eterno,
Ajudai-nos a dizer o nosso ‘sim’
Perante a urgência, mais imperiosa do que
nunca,
De fazer ressoar a Boa Nova de Jesus”
(Papa
Francisco: Evangelii Gaudium).
P.
Vitus Gustama,SVD
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